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01-a. MAZOYER & ROUDART. História das Agriculturas - cap.2

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SuMÁRIO
PREFÁCIO 25
APRESENTAÇÃO 37
INTRODUÇÃO 41
A herança agrária da humanidade 42
Transformações históricas e diferenciação geográfica
dos sistemas agrários 43
Crise agrária e crise geral 46
Plano desta obra 48
CAPíTULO 1 - EVOLUÇÃO, AGRICULTURA,
HISTÓRIA 51
1 A VIDA, A EVOLUÇÃO E A AGRICULTURA 53
Fator limitante e valência ecológica 53
Competição, exploração, simbiose 54
Trabalho, artificialização do meio, agricultura
e criação 55
Formigas cultivadoras 55
As formigas criadoras 56
A agricultura e a criação: uma exploração reforçada das
espécies domésticas 57
2 HOMINIZAÇÃO E AGRICULTURA 57
Os Australopitecos (de 6,5 a 1,5 milhão de anos antes de
nossa Era) 60
Homo habilis e Homo erectus (de 3 milhões a 200.000
anos antes de nossa Era) 60
Homo sapiens (de 200.000 ou 100.000 anos antes de nossa
Era até nossos dias) 62
Homo sapiens neandertalensis 62
Homo sapiens sapiens 63
W.~t,,
~
M,l!u'l M.,/oYI', ·loIIIII"HI'I{11I1I
Nos sistemas de cultivlom tração leve e alqucrvi-, (11111LISO do alildll
escarificador e transporte .r animais de carga (albai da), li superfície ~H'
meada por ativo pode atin de três a quatro hectares, mas como o moch 1
de renovação da fertilida, é pouco eficaz, os rendimentos e, assim, .1
produtividade continuam uito fracos (Capítulo 6). Em contrapartida, l'1I1
sistemas de cultivo com tr~o pesada, com carroça e carreta, a superfú li
por ativo pode atingir quata cinco hectares enquanto que, graças às pos
sibilidades de produzir, demsportar e de distribuir grandes quantidade
de estrume, os rendimentlse estabelecem em nível notadamente m.u
elevado (ver Capítulo 7). o desenvolvimento dos sistemas de cultivo
com tração pesada e alquve, a partir do ano 1000, que condicionou 1I
impulso demográfico, arteólal, industrial, comercial, urbano e cultural clll
Ocidente medieval. Um imllso que se reforçou dos séculos XVII ao XIX,
graças ao desenvolvimentcfos sistemas de cultivo com tração pesada I
sem alqueive (Capítulo 8).
A partir do fim do sécuXIX, no Ocidente, a mecanização da traçnn
animal (arado "Brabant", se.eadeira, ceifadeira.) permitiu dobrar a SUrt'!
fície por trabalhador e a Proltividade (Capítulo 9). Enfim, no século XX, "
motorização associada à graie mecanização permitiu aumentar a superfío
por trabalhador em cereais '1mais de cem hectares. Isso, combinado com
rendimentos que podem ir.té 10.000 kg por hectare, proporciona UI1I,1
produtividade bruta de 1.0C.000 kg por trabalhador, ou seja, 1.000 vezr:
mais que a produtividade ( um sistema de cultura manual sem adubo:
(Capítulo 10). Hoje em dia,ls tratores e os equipamentos mais potente
permitem ultrapassar 200,hpor trabalhador. É assim que na América dll
Norte e no Oeste Europeu, ma população agrícola reduzida a menos dI
5% da população total é sufiente para alimentar a população total. Enfim.
é necessário saber que as máuinas teleguiadas ou automáticas, que petll1 I
tiram multiplicar em muita~ezes esta produtividade, já estão adaptad:u
e começam a ser utilizadas <nalguns setores limitados da agricultura di I~
países desenvolvidos, enquato que a grande maioria dos camponeses di I
países em desenvolvimentoltiliza ainda uma aparelhagem estritarncnu
manual...
Mas voltemos à revoluçã agrícola neolítica.
I,
(:APíTULO 2
A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA
NEOLíTICA
I ,1'1~II~OS DE ORIGEM DA AGRICULTURA NEOLÍTICA
, AIU'.AS I)E EXTENSÃO
\ I II )MI\SIICAÇÃO E DOMESTICABILIDADE
( ) "1111,,(/'iIO,l?ar mais antigo que possa ser; é de uma surpreendente estrutura;
lIIt,i, compleu: que o grego, mais rica que o latim por seu refinamento notável
,I/I'I'/('essas duas línguas ao mesmo tempo que tem, com elas, seja nas raizes
,/,/'0 l'II/('III'f1S corno nas formas gramaticais, uma afinidade muito forte para que
1'1"'" ,('/' o flrodlllo do acaso. Tão forte que, na verdade, nenhum filólogo poderia
I Idlll/lIl,r ('~I(/S linguas sem adquirir a convicção de que elas brotam de uma fonte
"'11/111111I11e, talvez, não exista mais. Há, de resto, uma razão similar; ainda que
11.111 1(lI/lltllet/le limitante, para supor que o gótico e o céltico, mesmo que tenham
"'/11 iuistumdos em um falar diferente, podem assim ter a mesma origem que o
,,111" li/o, IIlél/1 do mais poderíamos acrescentar a esta família o persa antigo se
11'11/11'''''/'IlIw,r aqui para debater de alguma forma sobre as antiguidades persas.
Sir William [ones
Troisieme discours d' anniversaire
Société asiatique du Bengale (1786)
nI) rim cio paleolítico - idade da pedra lascada - há 12.000
1!I!~j I I 1III'IHlSelc milhares de anos de evolução biológica e cultural,
11\[1,I I11I11111 I1í\Shaviam chegado a fabricar utensílios cada vez mais
11"dI I~()íld()se especializados, graças aos quais tinham desen-
1111.111'1di' 1'1cdação (caça, pesca, coleta) diferenciados, adaptados
III 1I111~dIV(·lsos. t.ssa especialização foi acentuada no neolítico-
Ii~'111111'"llda e foi ao longo desse último período da Pré-história,
Ir lI) 11tH) IIIH)Sdepois, que várias dessas sociedades, entre as mais
11\1.1"1\IIIIIII'I1((),iniciaram a transição da predação à agricultura.
IHi1.I_·I,11dl'lHHImudnuçn, as 1'1iI1iC irns práticas de cultura e de cria-
1'11' 11(1{II\III.I1'1\1dilu\I!' l ItIU\II\II'"l1):l/'tcll(lIll/llIr/1,'/'rolocr;r,çr;o, eram
q
..
Centro Sul amencona (- 6 000 antes da
presente Era)
-- Mavimenta de expansão da agricultura
limite atingida pela agricultura e dotação
Figura 2.1. Centros de origem e áreas de extensão da revolução agrícola neolítica
Centra-americana.
(- 9000/4000 antes da
presente Ero). Pimenta, tomate,
abacote, milho, obéboro, feijão,
algodão, peru, pato.
rCentro M&dIO-anental (- 10000/- 9 ()()()cnasda presente Era) Tngo, cevoda, ervrlha, linho, arroz
~o ";~~::""' ~,:, j
llaiíiiliJ
Área secundária de
domesticaçãoarricana.
Sorgo, milhetaafricano,
____ erroz ehkono, ervilha
bambara, inhame.
----~--~-
Centro Sul-americono (- 6.000 antes da
presente Era). Batata, oca (Oxalis ruberasa),
quinoa (Chenapadium quinaa), lremaça.
Parca-do-índia, lhama, alpaca.
Cenlro Nea-guineense.
(- 10.000 antes da
presente Era). Tara. Parca (?)
~
~ Figura 2.1. (continuação) Centros de origem e áreas de extensão da revolução agrícola neolítica e áreas secundárias de domesticação
djllll ndllll ,I jI()/ltllaç()l's ele plal1l'1111í' ;lId11llliflljlll' IltiOlill11l1111pndido 11<'111.
lllllll.tl'lt'S selvagens. Mas de tanto 1;1'11'111wlllvilc.las e criadas, essas po
pulnçü<.:sadquiriram caracteres novos, upicos c.leespécies douusticas que
.stáo na origem da maior parte das espécies ainda cultivadas ou criadas
atualmente.
As regiões do mundo nas quais os grupos humanos, vivendo exclusiva
mente da predação de espécies selvagens, transformaram-se em sociedades
vivendo principalmente de exploração de espécies domésticas, são final-
mente pouco numerosas, não muito difundidas e bastante afastadas umas
das outras. Elas constituíam o que chamamos centros de origem da revolução
tgricola neolítica, entendendo que o termo "centro" designa uma área, e não
um ponto de origem. A partir de alguns desses centros, que nomearemos
centros irradiantes, a agricultura, em seguida, se estendeu para a maior parte
das regiões do mundo. Cada centro irra diante corresponde, assim, a uma
área de extensão particular, que compreende todas as regiões ganhas pela
élgricultura oriundas desse centro. No entanto, certos centros não deram
rigem a uma área de extensão tão importante. Esses centros pouco ou
uada irradiantes foram, a seguir, englobados numa ou noutra das áreas de
extensão precedentes.
Nas áreas de extensão, novas esoécies de plantas e de animais foram
domesticadas, e certas zonas que forneceram um grande número dessas
novas espécies domésticas constituem, a partir dos centros de origem,
verdadeiras áreas secundárias de domesticação. As sociedades de cultivadores
e de criadores oriundas dos centros ce origem geralmente propagaramseu
novo modo de vida colonizando p,1SS0a passo os diferentes territórios
exploráveis do planeta. Agindo dessa forma, elas também encontraram
sociedades de caçadores-coletores prcexistentes, mais ou menos evoluídas,
praticando às vezes, elas próprias, a Jrotoagricultura e entre elas, algumas
que, por meio desse contato, se converteram à agricultura.
Tanto nos centros de origem como nas áreas de extensão, as primeiras
sociedades de agricultores se encontraram principalmente confrontadas a
dois grandes tipos de ecossistemas originais: os ecossistemas arborizados mais
ou menos fechados, nos quais elas puderam praticar diversas formas de
cultivos de derrubada-queimada e acessoriamente a criação de animais. E os
ecossistemas herbáceos e abertos, onde, ao contrário, elas desenvolveram
amplamente criações pastoris variadas, associadas ou não a alguns culti-
vos. Essas sociedades também encontraram diversos meios inexploráveis
peloss cultivos ou criações, que con:inuaram virgens ou ocupados pelos
caçadores-coletores.
Onde, quando e como a agricultura neolítica apareceu? Como se ex-
pandiu pelo mundo? Ou ais são os mecanismos da domesticação? Tais são,
resumidamente, as questões que nos propomos responder neste capítulo.
100
I, I C!iL'ílcln .uun] das pesquisas, seis centros de origem da revolução agrícola
lIi l!lil ÍGlI- mais ou menos bem-confirmados - são normalmente citados.
/lI 111111'1111'<':eles foram centros amplamente irradiantes, como veremos
.ulinntc de maneira detalhada:
1i centro do oriente-próximo, que se constituiu na Síria-Palestina, e talvez
Ill1lÍSamplamente no conjunto do Crescente fértil, entre 10.000 e 9.000
.mos antes do presente;
li centro centro-americano, que se estabeleceu no sul do México entre
1),000 e 4.000 anos antes da presente Era;
tJ centro chinês, que se construiu, em princípio, há 8.500 anos, no norte
ela China, nos terraços de solos siltosos (loess) do médio rio Amarelo,
e depois completou-se estendendo-se para nordeste e sudeste, entre
8.000 e 6.000 anos antes da presente Era;
o centro neo-guineense, que provavelmente teria emergido no coração
da Papuásia-Nova Guiné há 10.000 anos antes da presente Era.
I)ois outros centros de origem, pouco ou nada irradiantes, teriam se
1', II mado igualmente na mesma época. São eles:
- o centro sul-americano, que deve ter se desenvolvido nos Andes peruanos
ou equatorianos há mais de 6.000 anos antes da presente Era.
- o centro norte-americano, que se instalou na bacia do médio Mississipi
entre 4.000 e 1.800 anos antes da presente Era.
Por muito tempo reduziu-se a emergência da agricultura neolítica a um
tipo de invenção e de generalização rápidas de uma nova técnica produtiva
Iornada necessária devido à insuficiência dos recursos selvagens. Essa insu-
liciência era resultante de um grande ressecamento do clima - teoria dos
oásis - ou da rarefação da grande caça superexplorada por uma população
humana já demasiado numerosa. Estudos arqueológicos mais recentes sobre
os diferentes centros de origem da agricultura neolítica a. R. Harlan, 1987)
mostram não ser bem isso. A transformação de uma sociedade que vivia
da predação simples e dispunha de instrumentos, de organização social e
do savoir-faire necessários para uma sociedade que vivia principalmente dos
produtos das cultivos e das criações - e contava com os meios materiais,
de organização social e de conhecimentos correspondentes - aparece
como um encadeamento complexo de mudanças materiais, sociais e cul-
turais que se condicionam umas às outras e que se organizam por várias
centenas de anos.
101
Os grandes
Vejamos, para começar, as circunstâncias nas quais se formaram os [.;f'lIIII/'
C(,l1tros irradiantes conhecidos, os centros do oriente-próximo, CClll",
·al11cricano, chinês e neo-guineense.
o Centro do Oriente Próximo
No Oriente Próximo, onde se formou um dos mais antigos e melhor ('()
nhecídos centros de origem da agricultura neolítica, essa lenta transiçli"
ia predação à agricultura durou mais de 1.000 anos a. Chauvin, 1994) ,.
rcvolucionou todos os aspectos técnicos, econômicos e culturais do moel, J
/c vida dos homens. Nessa região do mundo, há aproximadamente 12.0()()
i1.l10Santes da presente Era, o aquecimento pós-glaciário do clima fez COIlI
rue a estepe fria de artemísia fosse substituída progressivamente pela
savana de faias e de pistacheiras, rica em cereais selvagens (cevada, trigo
.ínkorn - Triticum monococcum, trigo amidoreiro - Triticum dicoccum etc.) c:
rue proporcionavam também outras fontes vegetais exploráveis (lentilhas,
:rvilha, ervilhaca e outras leguminosas), assim como caças variadas (javalis,
ccrvos, gazelas, aurochsI, asnos e cabras selvagens, coelhos, lebres, pássaros
.tc.) e peixes em certos locais.
Abundância de recursos e sedentarização
Abandonando a caça à rena e outras caças da tundra, expulsas para o norte
/evido ao aquecimento do clima, os habitantes das cavernas adotaram
progressivamente novos sistemas de predação centrados na exploração de
'creais selvagens muito abundantes, capazes, por si só, de suprir grande
parte das necessidades calóricas da população. O complemento proteico
Ia ração alimentar provinha dos produtos da caça, da pesca, da coleta de
/cguminosas. Esse regime amplamente vegetariano baseava-se na explo-
ração de recursos abundantes - como jamais existira, a ponto de permitir
a subsistência de uma população numerosa e sedentária. A população
iresceu, saiu das cavernas e passou a se estabelecer em novos habitats
artificiais, agrupados em vilarejos de pequena dimensão (de 0,2 a 0,3 ha),
ompostos de casas redondas, separadas umas das outras, alicerçadas em
madeira, estabelecidas sobre fossos e suspensas por arrimos de pedra. Em
seguida a população expandiu-se progressivamente sobre o conjunto desse
'cossistema privilegiado.
, Boi da Europa, próximo do zebu da Ásia, já extinto (Dictionnaire LePetit Robert de Ia languefrançaise, 2006). (N.T.)
102
I1 "IVIIII('lll() (!vSHC 11()VOmoclo de: vida sedentário foi condicionad
1,1111,01IH'Iiv ele inovações que permitiram explorar e utilizar mais in-
" Il'l" I' ":; 110VOSrecursos. As foices formadas por uma lâmina de pedra
I" I Iljo no característico atestou que foram utilizadas como lâmina
1'(1 (' as Foices dentadas, compostas por uma serra de micrólitos
i I[/[Hl 1:111li 111suporte em madeira arcada, permitiam colher em poucas
j',I,I":1suficientes para alimentar uma família inteira G. R. Harlan, op.
I 1111unda, cavada na própria rocha ou em uma grande pedra, sobre a
, nu nnm punhados de grãos com a ajuda de uma mó (tipo de pedra
.1111 I, .tI hntada), permitia produzir farinha, da qual se obtinha uma massa
/1;1''N /,OUCO espessos e arredondados que podiam ser cozidos sobre as
111111sobre grandes pedras aquecidas dentro de amplos fornos. Outros
1IIIIIII'Ill0Sde moer grãos (almofariz e pilões) eram eficazes, e os silos
illllllllll1 estocar, na entressafra, os grãos colhidos no verão.
I J 11111)de fornos instalados em uma espécie de cova revestida de argila
,,1.11ia, por mero acaso, a invenção da cerâmica, enquanto que a "desce-
11,,"(Ia pedra polida estaria ligada ao uso das moendas e das mós. Aliás,
!fI 1"lllleiros objetos de terracota (figurinhas e pequenos receptáculos) e de
I!I11,01polida (pendentes e bastões) não parecem ter sido de grande utilida-
1, Mns, a seguir, grandes potes de terracota, impermeáveis e resistentes
I" 1,'I',(),permitiram o cozimento de cereais e sopas de ervilhas e lentilhas
1'lIwn produzidos em grande quantidade. Também os machados e as
I 11)(1IS (instrumentos com o cabo curvo para cortar e cavar a madeira) de
I)'" Iil polida, que permitiam desmatar, cortar e modelar eficientemente a
lilillleira tiveram um papel muito importante na construção das moradias
i, mais tarde, no desmatamento de terras para cultivo.
l'oices, moendas, mós, pilões, secadores, machados e enxós, enfim, todos
II~Imateriais queconstituíram durante milênios, as ferramentas dos culti-
v.ulores neolíticos preexistiam na sua maioria quando do desenvolvimento
IIIi agricultura. Eles foram elaborados ao longo dos séculos precedentes,
11IIScondições bem particulares da sedentariedade e da exploração cada
V('Z mais intensa de novos recursos, em particular dos cereais selvagens.
Protoagricultura e domesticação
No Oriente Médio, os primeiros surgimentos de trigo einkorn (Triticum
tuonococumi e de trigo amidoreiro (Triticum dicoccum), completamente do-
mesticados, datam de 9.500 anos antes da presente Era. A domesticação
da cevada, da ervilha, da lentilha, do grão-de-bico, da ervilhaca, do cizirão
(ervilha-de-cheiro) e do linho parece ter sido conseguida há cerca de 9.000
anos. No que se refere aos animais, a domesticação do cachorro remonta
há 16.000 antes da presente Era, sendo a cabra 9.500 anos, o porco 9.200
103
,~
Foca de micrólitos
3
Foice de micrólitos Machado de pedra polida
rgura 2.2 .Esboços de ferramentas neolíticas, de plantas e de animais selvagens e domesticados
104
Trigo amidoreira domesticado (o direita e
seu ancestral selvagem à esquerda)----------------1"- --_.~ ~ - .
Pés e espigas de milho (à direita) e seu ancestral selvagem, o teosinto o esquerda
Moendo e mó destinados à trituração de grãos
4
Enxó de pedra polido
Caldeirão em terracata
Javali e porco primitivos domesticados
I 'Ivl'ill.l I) ()()() dll()H, 1111 IlClvl!1(IH H.,I()() ,\l1()i! (' 11 .l~lI1() !l,!1()() '\I\():JTA.
li! 1!'I.1 I III)()), I'!lm qllt' t jV('HSl'lllt:id() clomcsticndos IlI.:SSI.:S PC) rodos, rvi
i~O ll'll'" proiocultura e n protoci iaçao de formas ainda selvagens dessas
IIlll.l' dl'sses animais tivessem começado anteriormente, há dezenas ou
IÚ,''4I1I() muitas centenas de anos.
111111'."1111admite-se que as primeiras semeaduras aconteceram de for-
ILitll'lltal, próximas às moradias, em lugares de debulha e de preparo
idillÚll1ldos cereais nativos. A protocultura teria se desenvolvido nesses
li1['111nU:1tcrrcnos, já desmatados, enriquecidos de dejetos domésticos, e
,,,jl'i~ 11'1 rcnos regularmente inundados pelas cheias dos rios por sedimen-
l!lij ck .iluvião, que não exigiam nem desmatamento nem preparo do solo.
1\" ('111,como esses terrenos favoráveis eram limitados, os cultivos foram
I, 11I~,\l1doos terrenos arborizados, que os machados de pedra polida per-
Ij I111Idll1 desmatar facilmente pela derrubada seguida de queimadas antes
Il' /I,;: em disponibilizados para cultivo. A prática da derrubada, seguida de
'1111i I I inda, parece ter sido testada muito cedo no centro irra diante próximo-
',111'111ill(G. O. Rollefson, 1994), no centro irra diante norte-americano
(I) I I. Thomas, 1994), e sem dúvida também no centro chinês a.R. Harlan,
111".1 citada). Assim, mede-se a importância do polimento da pedra para
U~I 1'1irneiros desenvolvimentos da agricultura. Com efeito, a derrubada
ClI! grande escala dos bosques teria sido muito difícil com os machados
,11'pedra lascada, que se lascariam, se desgastariam rapidamente, além de
I I r-rn de difícil fabricação. Já os machados de pedra polida, ao contrário,
I 1'11111menos frágeis, podiam ser confeccionados com todos os tipos de
I/I'c! ras duras, inclusive com pedras não talháveis, além de poderem ser
.diados sempre que necessário.
Outras transformações do modo de vida
l.ntre 9.500 e 9.000 anos antes da presente Era observava-se também a
evolução das vilas de pequena dimensão (de 0,2 a 0,3 ha) compostas de
casas redondas a vilas de grande dimensão (de 2 a 3 ha), frequentemente
compostas por casas quadrangulares, justapostas umas às outras. Tais
mudanças testemunham um crescimento da população das vilas e de uma
Lransformação da organização social. Essa época coincide ainda com o de-
senvolvimento da cerâmica cozida utilitária, com o progresso da produção
de machados e enxós de pedra polida, com a multiplicação de estatuetas e
de figuras femininas, simbolizando sem dúvida a fecundidade, e também
a conservação de crânios preenchidos com argila e com a face modelada.
É difícil estabelecer relações de causa e efeito entre todas estas novidades,
pois elas não aparecem em uma ordem cronológica constante nos diversos
sítios escavados. No entanto, pode-se constatar que elas estão presentes
em todo o foco próximo-oriental a partir de 9.000 anos antes da presente
105
',101,'111'\,\(I!, ('IIIRo as pI1l1111l:;(! 111,0I11111101!t1d!llllcsLicac.los fOIIIl:I:I:IIIII\ fi
IIIIIIH'I\\ () essencial para sua alinu-ntnçáo. Acrescentamos ainda qu« ('111•• ,
1l'ílllSI'Olmações do modo de vida nào foram fruto de uma evolução lincru d
\1111ou mais vilarejos precisamente localizados, de onde um novo sisl('III.\
econômico teria surgido bem-estruturado. Elas são certamente o produto
comum de um espaço social mais amplo, coincidindo com a área til' II
partição próximo-oriental dos cereais selvagens, e mais particularmente d,l
cevada. Falamos de uma área comportando suficientes caracteres COnlLllIl11
também variações e defasagens para que as trocas de múltiplas experiên: 101
fossem ao mesmo tempo possíveis e enriquecedoras.
o aumento do tempo de predação e a transição rumo à agricultura
Se as condições de emergência da agricultura neolítica no centro irradianu
do oriente-próximo são cada vez melhor conhecidas, resta no entanto Si!
bcr por que, em meados do décimo milênio antes de nossa era, as vilas d •.
caçadores-coletores sedentários praticando ocasionalmente a protocultur.i
, a protocriação, saltaram de uma economia essencialmente baseada 1101
predação a uma economia que se apoiava numa prática de cultura e d •.
riação bem amplas e bastante sustentáveis, para estimular a domesticaca: I
Ic toda uma série de espécies vegetais e animais.
Para tentar responder a essa questão, lembremos primeiramente que
nesta região, o tamanho dos vilarejos de cultivadores-criadores do fim do
décimo milênio era aproximadamente dez vezes superior ao dos vilarejos
le caçadores-coletores do princípio desse mesmo milênio, e que os pro
lutos da coleta e da caça conservavam um papel reduzido nos vilarejos
maiores. Parece lógico pensar que - sendo os recursos naturais exploráveis
por simples predação no território próprio e limitado de cada vilarejo - ti
população desses vilarejos tenha cada vez mais intensamente lançado mão
íos produtos da agricultura e da criação, quando os produtos da predação
se tomaram insuficientes para alimentá-Ia. Porém, ao encontro dessa tese, J.
auvin (1994) ressalta que não existe prova de uma crise da predação nesta
época. Autores como M. Sallins (1976) e em seguida J. Cauvin (1978) e J. R,
Harlan (1972) cada vez mais chamam a atenção para o fato de que as socie-
dades de caçadores-coletores não conheciam a penúria, e que estes últimos
passavam geralmente menos tempo obtendo alimento que os agricultores.
Pode-se, todavia, objetar a ideia desses autores; se tal fato é verdadeiro
para os grupos de caçadores-coletores pouco numerosos e móveis, operando
em territórios extensos, ele não pode ser verdadeiro para os caçadores-
-coletores sedentários, agrupados em grandes vilarejos, dispondo cada um
de um território limitado pelos territórios dos vilarejos vizinhos ou pelo
raio de ação máximo dos caçadores-coletores de cada vilarejo. Sem dúvida,
conforme relatam esses autores, em algumas horas um indivíduo isolado
106
11IIHllvoI)',!'I\l1111'11':HI,III!lii'1"!llldlnlllllll(:IIII: pal,1 \1111[1lílllltllll,
IHt1l11l11111I11Vld\1111\('(('s:dlíll ia (\(' 11I\li10111.Ii:llC\l1pOse ele Livesse
,,\I !I fi! "illl\dl.lIH'flIIH'I1IC, l:lll\\ 1111H\ccntena de outros coletores, um
de 11111viLII('in lil\1iL<H.lO.L:. ele não podcria sirnplesmente "encher
in' ilLI.llllln v:llivl'SSC em concorrência com várias centenas de in-
"lllidll\l'l\l(' os co\.ctores de cogumelos fazem, aos domingos, a
1\' i I Ikll:.,\ rlurn lei da ecologia. No entanto, como aquestão do papel
1'11.11111doi população na passagem da predação à agricultura é algo
I ",11'1111'!110Sser um pouco mais precisos. Está claro que o volume
." 111.111111':1(' pode extrair sustentavelmente por simples predação de
,,11,111,11111vi [arejo delimitado é necessariamente restrito. Dito de outra
I, " " I1 I111ório de um vilarejo, qualquer que seja, tem uma explora-
1-111, 111,!llnela por simples predação. Trata-se de uma explorabilidade
'1,,111Ii 1111\a densidade máxima da população de caçadores-coletores
~ 111111()Iio pode suportar. Nessas condições, quando a população
111'vil'III'I! I de caçadores-coletores sedentários aumenta, a quantidade
I!li~111Idisponíveis para cada indivíduo, caçador ou coletor, diminui.
"II;IIÇflíl ele recursos por uns traduz-se forçosamente pela rarefação dos
'1\:.1 IHdltlp()níveis para os outros. E se o número de caçadores-coletores
ilil:IIII':; continuar a aumentar, chegará inevitavelmente um momen-
lil '_11
11
'() tempo em que deve passar qualquer um deles para procurar
IIIII! 11111'1para si e para seus dependentes aumentará. Enfim, quando a
\!ldlll.,III se expande ao máximo (máximo aqui quer dizer o limite da
Ilhli'f1htll(\nde por simples predação do território considerado), então o
ijll 1'\1' pl'edação necessário por indivíduo, caçador ou coleto r, cresce de
li!' i Ili vv Itiginosa (exponencial).
,,1,'1II (lesse limiar, começa a superexploração do meio, que tende a reduzir
11\ I 'I !'Il idade de produção e que conduz linearmente à fome a população
I I y[IIII'IO considerado. A menos que essa população encontre um meio
11Iljl·1i1'1seu crescimento (limitação de nascimentos etc.), ou um meio de
I ,I [li 111.vos recursos, pelo deslocamento total ou parcial dos habitantes
I'.I".1,\ Ierritórios desocupados ou subexplorados, ou pela conquista e a
1']111ação de territórios já ocupados. A menos ainda que essa população
It'i;1 1'1\1 condições de desenvolver um novo modo de exploração do meio,
ti!!i~ plOdutivo que a simples predação.
\'IHirn, quando a população de um vilarejo de caçadores-coletores
,li 111ririos cresce, o tempo de predação aumenta e, além de certo limite,
" "11.1se superior ao tempo de trabalho necessário para satisfazer as neces-
i,l,IIII's dessa população por meio de cultivos e da criação. Mas não basta
1
111
11tempo de predação se torne superior ao tempo necessário ao cultivo
,I I Iiação para que uma sociedade de caçadores-coletores se transforme
, 1/1tlociedade de agricultores: é preciso, ainda, que hajam muitas outras
. , I11ti ições ecológicas e sociais igualmente necessárias.
107
I'hl ()III'IIII' 1',,'1'1(111111,Iltlll,dlll.lIlll', .1,1',l,il.l', 11'1"1.1111111111,,1"1dl'l;1I1'1I
1,111,'111'cll'l 1)11('1do dv, IIII(II"dl'lIll1 011111••dI' 1111:;:::\,'1':\ SI' (111\111l1ll.1I,'1111
''I 11I IX il11í\dClIl\1'11ll'na 1l1l'wdv (/1'::11'1111111111I, lil'lll duvida alguma, ill'SH\' 1II
dI' conjunturn. Corno eles já c.IiSjl\1I111í\111dl'l()dus os utensílios ncccssnuu
I~I omo já praticavam episodicamcntc ti protocultura c a protoci ii\(.:'i 1 I
!'1I1lhcs possível desenvolver essas práticas quando elas se tornaram 111.11
vantajosas que a predação. Desse modo, reunidas há tempos as condic.«
t,', nicas (utensílios, savoir-faire), bem como as condições demogrãfi: ,I'
(densidade da população) e econômicas (tempo de trabalho), a passagl'llI
dói prcdação à agricultura pôde ser operada rapidamente, Do nosso ponto
dv vista, é o que explicaria haver nesse lugar e nessa época, a ausência dI'
, I isc acentuada da predação, como o demonstra precisamente J. Cauvin
(IlP' cit.).
Dito isso, constata-se que uma mudança técnica e econômica de tal
nmplitude não pôde realizar-se sem profundas transformações sociais "
culturais.
As condições sociais e culturais
l'ara uma sociedade, o difícil não era semear os grãos preferidos em um
solo já preparado para esse fim, nem capturar e aprisionar, para finalmente
criar, entre as caças preferidas, as mais fáceis de manejar. Isso até mesmo
os caçadores-coletores sabiam fazer. Difícil era dispor de uma organização
c de regras sociais que permitissem às unidades ou grupos de produtores-
consumidores retirarem do consumo imediato uma parte importante da
colheita anual, para reservá-Ia como semente. Igualmente difícil era excluir
cio abate os animais reprodutores e jovens, em crescimento, para permitir
Ilue o rebanho se renovasse. Difícil era também preservar os campos se-
meados por um grupo com direito de "coleta" até então reconhecido pelos
outros grupos, e preservar os animais de criação de seu direito de "caça".
l.ra, enfim, difícil garantir a repartição dos frutos do trabalho agrícola entre
os produtores-consumidores de cada grupo, não somente no quotidiano,
mas, sobretudo, e ainda mais difícil, quando do desaparecimento dos anciãos
e também no momento da subdivisão de um grupo, que se tornara muito
grande, em vários grupos menores.
As mudanças introduzidas na moradia - dimensões, subdivisões, dispo-
sição etc. -, o mobiliário, as sepulturas e a arte testemunham a importância
das transformações que ocorreram na organização social e na cultura dessas
sociedades, na época de sua passagem da predação à agricultura. Tudo pa-
rece indicar que se constituíram grupos domésticos de produção-consumo,
capazes de gerenciar e de perpetuar a atividade agrícola, e de repartir seus
Frutos. Esses grupos familiares possuíam um teto próprio, um forno, um silo
108
I ['!!I,II.,\lI, l'IIIIl'IIII'f\ l:t:1Cl(:ilc\:lfl11111111t\U\iI,' Idtiv(lIl 111:GI!\I::II.
WtÍl" '1\1 .I11111r111,11)l'.nlllidu:l, 1)('111,()IIIO IlI111ll:U:L
!!II!tl:tr111ll:lIllt1lilll'H haslí\lIle <.:xLl'l1sas,a divis<lo do Lrabalho "
'il:~tlltlid"dl'll I'II"I()I me () sexo e a idade, a repartição dos produtos,
I'" 11di fltll\ll dos rapazes, das moças e de certos bens em caso
InlIC.lt
l
,I' .1111(\:\a transmissão de responsabilidades e bens quando
111111111dll!; I\nci50S, ou ainda no momento da segmentação do
\11.I, I 1,111\Il<.:cessariamente a um mínimo de regras sociais. Estas
1\ \I" 111p"lduçao proporcional do grupo e das linhagens de plantas
Ili!!I di ,IIIilnuis domésticos dos quais dependia sua sobrevivência,
1/'."111111que as proibições, a moral e as obrigações impostas pela
1t1IiJI,' rnlllÍliar ou pela autoridade do vilarejo se reduzissem a essa
I;; It.:!)ltlal1lentação econômica. Isso não significa também que es-
I I. I \,\1I It'nham sofrido nenhuma contradição, nenhuma disposição
'"11111111\ou nenhuma derrogação. Isso significa simplesmente que
l i u 1,,1'1,lil Iegras que regiam a vida do grupo, existia um subconjunto
111I. 1111111\111permitir a esse grupo reproduzir-se e renovar seus novos
,11 I )(Itll~ncia. Além do mais, pode-se pensar que a religião emergente
iilll IIo'lll'l na instauração dessas novas regras de vida a·Cauvin, op. cit.).
linl}WII'I maternas neolíticas
\ 111"1111I\IV, é preciso dizer que nada do novo modo de vida teria sido com-
l!' I 11111I1II, transmitido de um indivíduo a outro, conservado de geração em
I I', 111" t\perfeiçoado sem a ajuda da linguagem. Esta deveria estar apta
111I-usa r as novas condições materiais, as novas práticas produtivas, a
1111)',anização e as novas regras sociais, assim como as ideias, as repre-
111",I )I'S e as crenças correspondentes. No começo do novo modo de vida,
1I'!\I\l1 11ecessariamente o verbo, ou seja, uma nova língua.
~:'T,\lndo G. Mendel (1977), as primeiras linguagens articuladas teriam
i' IlIlInado no paleolítico, no âmbito da caça organizada aos grandes ani-
!,will, Segundo certos linguistas, todas as línguas do mundo derivariam de
LlIII,Iuó língua ancestral comum a toda humanidade. Mas as línguas atuais
1(1)',vralmente oriundas de algumas línguas-mãe muito mais recentes. A
I!Í 1
11
Ilcse segundo a qual essas línguas-mãe teriam sido formadas nos cen-
1IIItlele origem da revolução agrícda neolítica, e que teriam se dispersado,dikrenciando-se ao mesmo tempo que as primeiras sociedades agrárias,
I~1lida vez mais aceita (P. Bellwood, 1994). Segundo essa hipótese, a agri-
I I" Iura e a língua oriundas de cada um dos centros irradiantes teriam se
I'xpandido simultaneamente, percorrendo os continentes, para formar
,"gum
as
grandes áreas de extensão agrária e linguística: uma área indo-
.rfro-asiática oriunda do centro irra diante do Oriente Próximo, urna área
,lInericana oriunda do foco irradiante centro-americano, uma área asiática
109
1"IIVI'IIIC'IIII'do 1~1:11I11I111111I'.. 1
"1111'1I( :1I111(' 111)11(:'11111('1i(1111"
Foi 1"('listll11(.:nL<.:CSS<':g('I1('I() c/I' 111/1111('/,,'(l'I(' HlISI('lll()l! C. I\CI1III'\V
(I1'1/;,~II/(' ittrlo eI/I'OfJéeJ/lle) a resp<.:il() c/WI /1111\111111illdo eLlropeitls, l'ora iHflll,
I., Iljclrnslev (1966) induz a pensar qllC IIHIlllgUi1S árabes, hebraicas c 111
1111icits são aparentadas às línguas indo-europcias, como seriam, segLI/1C11I
(;, Â. L)iop (1979), as línguas dos cultivadores africanos. Ainda scgund..
('ssn hipótese, as línguas dos povos agricultores das Américas seria/li
IIpn
r
entadas a uma ou outra das línguas-mãe centro americanas, andil1d
(lI I l1orte-americana, enquanto que as dos povos agricultores do Extremo
O/ icnte seriam aparentadas entre elas.
I:ntretanto, se temos a certeza que as línguas dos caçadores-coletores
10m uma estrutura diferente das línguas dos povos agricultores, podemos
I.un bérn nos indagar se alguns grupos linguísticos isolados não seriam
1(nguas de povos caçadores-coletores convertidos à agricultura por contar
(OJ)1 uma vaga de colonização agrária, sem serem, para tanto, inteiramente
iIItcgrados linguisticamente.
Em resumo, a revolução agrícola neolítica, como as outras revoluções
i1grícolas da história, não foi somente uma vasta mudança de sistema eco-
/lômico preparado por toda uma série de mudanças técnicas. Ela também foi
/lccessariamente condicionada por uma profunda revolução social e cultural.
o foco irradiante chinês
Os primeiros assentamentos de vilas de cultivadores neolíticos sedentários
Ia China pertenciam à civilização dita de Yang Shao, caracterizada por suas
cerâmicas coloridas. Esses assentamentos estavam localizados no coração
do dispositivo mesolítico chinês, sobre altos terraços de solos siltosos (loess)
pouco irrigados do médio rio Amarelo (Huanghe). Os mais antigos dentre
.sses assentamentos remontam há 8.500 anos e se encontram no Henan,
onde poderia, então, situar-se o centro irra diante original do norte da Chí-
na. Segundo J. R. Harlan (op. cit.), este teria em seguida se expandido ao
noroeste, no Shanxi (sítios Yang Shao que datam de 7.000 anos antes da
presente Era à oeste, no Gansu (6.500 anos) e ao sudoeste, no Hebei (6.000
tinos). O milheto (italiano ou de pássaros), alguns legumes (couve, nabo), o
ramí (próximo à urtiga, cujas longas fibras fornecem matéria têxtil), assim
como a amoreira para a criação do bicho da seda participam do complexo
cultural bem-limitado dessas regiões de origem. A presença de ossos de
animais domésticos nos sítios neolíticos chineses antigos testemunham o
desenvolvimento da criação. Mas pode-se pensar que alguns desses animais
(galinha, porco, boi) foram domesticados ali mesmo (A. Gautier, 1990), fato
que parece improvável em relação a outros (carneiro, cavalo etc.).
110
1IIldu r.1~:111':111',11.11111'1',11)('1111111I11III1I',ne/ll:!(I 11IIVI11111H)I', :!CI!lIl'111l1(1,
/);11)«(1[1e/IHIlI/H, Âl1lillVl1l (' Azul (Yangzi), esse complexo cultural
(111'.1 111LI JlI('S('l1çn de duas plantas cultivadas muito importantes,
'i 1 '11111111d/) nordeste e o arroz vindo do sudeste. É nessa zona de
11 rlll IIlId('III(' que emergiu, no sétimo milênio antes de nossa era, a
d'll di' 1,')I1I~Shan, caracterizada por suas cerâmicas negras e pela
iindllll 101d() cultivo do arroz. Notemos, entretanto, que a hipótese
"I i 11,I,rI11!lIroz teria sido domesticado de maneira independente em
1'1111"1do sudeste asiático atrai igualmente a atenção de numerosos
11/1111'11U, I\. Harlan, op. cit.).
;,,I it ntrlinnte centro-americano
I' I/1111'Ii'il área de origem da agricultura neolítica americana teria se
,'11111111111progressivamente no sul do México entre 9.000 e 4.000 anos
li 11011n cscnte Era. Conforme J. R. Harlan, no começo desse período,
1111111111/',1upos de caçadores-coletores nômades teriam começado a se
,i,,11 11.1«stação úmida para praticar a colheita e, sem dúvida, de modo
IIIId, 1Il('l1tar, a cultura da pimenta e do abacate. Muito mais tarde, há
/'1'1 111111c/amente7.000 anos, esses vilarejos temporários de cultivadores
.111.1111jlí eram muito mais importantes. Aí, os cultivos primaveris e esti-
li ,11mil ho precoce, de abóbora e de abobrinha eram igualmente pratica-
I, I' 1"'11\como, mais tarde, há aproximadamente 5.000 anos, o cultivo do
li 11"1 Iodavia, essas populações continuavam nômades na baixa estação
11_1111nvnlnobter, pela caça e pela coleta, urna parte ainda importante de
11(1rllIl,sistência. Há 3.500 anos, o algodão começou a ser cultivado e, de
""11 111menos importante, o sapotizeiro e o amaranto.
A partir dessa época, os cultivadores americanos dispuseram de um
I' "I, o milho, e de uma leguminosa alimentar, o feijão, que lhes permitiu
"1"" suas necessidades calóricas e proteicas e de uma planta têxtil, o algo-
,I "I l'oi tão somente nesse momento que a agricultura se tornou o modo
li, rxploração do meio, que sem ser exclusiva, foi pelo menos nitidamente
1111dominante. As populações se tomaram então sedentárias nos vilarejos,
1IliIIHrormando-se em permanentes, no vale de Tehuacan e de vários outros
IIIIIS (Tamaulipas, Oaxaca etc.). Notemos, ainda, que os únicos animais
rlnmcsticados no México foram o peru e o pato da Barbaria, e que esta
ilnmcsticação interveio muito tardiamente, há cerca de 2.000 anos.
Pode-se notar que em cada um desses três grandes centros irradiantes
os centros do oriente-próximo, chinês e centro americano -, foi do-
uusticado um grupo de plantas ao mesmo tempo suficiente para cobrir as
'I(-cessidades essenciais de uma população e adaptável a territórios extensos.
I\Hse complexo cultural compreendia, em todo caso, pelo menos um cereal
111
11I11\t'l;llclllldI' ~',ltlddj(H" 1111I:tII
1'1.11\1,11)1()wdlll.l dI: ItlllolNl~XIí'1
() (oco irradiante neo-guineeuse
O cultivo do taro e de outras plantas originárias do sudeste asiático (! d
ccania parece ter começado nas montanhas da Papua-Nova Guine h
nproximadamente 10.000 anos. Porém essa datação é muito aproximativa,
pois essas plantas não deixaram praticamente nenhum traço arqueológico
I:m um primeiro momento, elas teriam sido protegidas e talvez mesnu 1
plantadas em seus lugares de crescimento natural, espalhadas nessa regir« 1
densamente arborizada.
Depois, há mais ou menos 9.000 anos, essas culturas teriam sido reil
grupadas em hortas previamente desmatadas e cercadas. Talvez, corno
argumentam alguns estudiosos, para protegê-Ias dos porcos domesticados
localmente, mas sem nenhuma dúvida, para defendê-Ias dos javalis que
não precisavam ser domesticados para atacarem um campo de tubérculos.
Segundo A. Gautier (op. cit.), o porco doméstico proveniente do continen
te asiático somente teria chegado à Nova-Guiné por volta de 5.000 anos
antes da presente Era e teria cruzado com os javalis selvagens ou em vias
de domesticação. Há 7.000 anos antes da presente Era, as hortas de taro
teriam se estendido às zonas pantanosas, instalando-se sobre as plataformas
previamente desmatadas e drenadas 0. P.White, 1994).
Centros de pouca ou nula irradiação
,
O centro irradiante sul-americano
Na América do Sul, as pesquisas arqueológicas não permitiram localizar
claramente um centro de origem da agricultura. Todavia, a domesticação
de certas plantas, feijões de Lima, batata, oca (um pequeno tubérculo),
quinoa (uma espécie da família das chenopodiáceas), trernoço,assim
como a da cobaia, ou porco-da-Índia, da lhama e da alpaca, no norte dos
Andes, datam de 6.000 anos. Nessas paragens, então, a domesticação teria
começado antes que a agricultura de origem centro-americana pudesse ter
chegado lá e, portanto, certamente de maneira independente. É possivel-
mente verdade que esta agricultura sul-americana tenha se irradiado por
um espaço andino significativo quando foi englobada (aproximadamente
há 3.500 anos) pela onda de agricultura à base de milho vinda do centro
irra diante centro-americano.
112
I IlIllÚ/IIlc' //(II/c' (/I/Ic'/ i< (/1//1
",I 11,,11011(',P(,IHIl1iH(\~lleCl'nleSrevelararn a exisLt:l1ciade um ccn-
1/,,'111'.111I.ldo l'nln,: os Apalaches e a grande pradaria continental (D.
111I1" II}I)I), \\l1ll(; 1\.000 e 3.000 anos antes do presente, o sabugueiro
I1
1
11111'1,11,dH')bora, o girassol e a anserina (falso morangueiro) [oram ali
11."" 1'4 \ Ilc1avia,nessa época, esses cultivos sazonais, praticados nas
li dU'11.1)',IlHe dos rios regularmente limpos pelas cheias de primavera,
ti" IIllo1Vdll1somente um papel complementar para populações que
1111tlllllllltaneamente os importantes recursos do meio aquático
ilIM\! I ('ll<lunômades, praticavam a caça e a colheita no resto do ano.
'11i ( Iti:I() dessas sociedades ainda predadoras, mas que praticavam
I \!Iil ,,11\('I1[ea agricultura, em sociedades de cultiva dores sedentários
1\'11111111,,\ais tarde, entre 250 anos a.c. e no ano 200 de nossa Era,
tlupH'i11tcaçãc de três plantas de grão capazes de garantir o essencial
Ifl ldll\H,:ntar: o sempre-noiva, a cevadilha e um tipo de milheto. Ao
ILIIUIoiI01\ga transição, a agricultura norte-americana dispunha de sete
1'11Idiivüclas, que rorneciam rnaisou menos dois terços da alimentação
, IIIIIV.I(loressedentários, que dispunham de machados, [oices, moenclas,
111111.\tl t' silos. Mais tarde, o milho oriundo do centro irra diante centro-
",1
'
,111.mo chegou naquela região do mundo, e, alguns séculos mais tarde,
\1IIII!.'111I) primeiro lugar dentre as plantas cultivadas na América do norte.
! liII /l/Cl'rto centro írradíante iailandês
11[1Indt\ndia foram identificados indícios pouco provados de cultivos com
IrllI11li\da-queimada datados do sétimo milênio antes de nossa era. Houve
\111.'Iil (Iuisesse ver nessa região um possível centro de origem da agricultura
1I!'ulilll a. Mas parece que os primeiros traços indiscutíveis de agricultura
1011/, suínos, bovinos e aves) nessa região datam de menos de 5.000
11111~1antes da presente Era, e que eles eram provenientes simplesmente da
If\111ulrura que se estendeu nesta época por todo o leste asiático vindos do
111illV C do centro da China (P.Bellv.:ood, 1994).
Mas se não faltam anúncios malfundamentados de descobertas de no-
1111centros de origem, é também necessário notar que certos centros de
Iill)'PU da agricultura neolítica, atualmente bem-confirmados, eles foram
I1velados por descobertas recentes. O centro norte-americano, por exemplo,
1111ainda desconhecido há uma dezena de anos. Não é portanto impossível
,!11l:se descubra um dia algum outro centro de origem, no oeste africano
11\1 no sudeste asiático, por exemplo. É provável que as regiões do globo
uns quais os grupOS humanos co~çaram, na época neolítica, a praticar a
I)rotoagricultura sejam mais numerosos que pareçam hoje. Podemos supor
113
que esses atrativos da revolução 1\('()IrIÍt'tI, considerados npl'l'H~lIldnIIWIH
e submersos pela maré agrícola proveniente de um dos grandes l ('111li'
irradiantes, não tivessem tido tempo de vingar.
Seja como for, os grupos humanos isolados que adotaram. esse Ili IVI'
modo de subsistência não parecem, até o momento, ser muito nurnci 1li!I'
ou extensos.
2 ÁREAS DE EXTENSÃO
Nos centros de origem, além das hortas e das zonas de inundação PCIIll,
cheias - certamente as primeiras terras cultivadas -, os cultivos neolíti« 111
de derrubada-queimada se estenderam até os terrenos arborizados. O deu
matamento que seguiu, embora tenha podido em certos casos favorecer I)
desenvolvimento de criações de animais herbívoros, mais fácil em terrcn: I
descoberto, parece ter conduzido a uma regressão tão importante dos culti
vos que as populações dessas zonas tiveram que deslocar o desflorestamenn I
para novas áreas. (G. O. Rollefson, 1994).
Fora dos centros de origem, os cultivadores migrantes encontraram
então dois grandes tipos de formações vegetais mais ou menos virgens:
de um lado as formações herbáceas, por vezes arborizadas ou arbustivas,
mas em todo caso abertas (do norte ao sul: tundra, estepes de altitude,
planícies continentais, estepes áridas, savanas tropicais); de outro lado for-
mações arborizadas fechadas, mais ou menos densas (do norte ao sul: taiga,
florestas mistas de coníferas e de folhosas, florestas folhosas temperadas
e mediterrâneas, florestas tropicais caducifólias de estação seca, florestas
equatoriais perenifólias).
Munidos de seus machados de .pedra polida, os cultivadores estavam
aptos a estender às florestas mais fáceis de desmatar e os cultivos mais
férteis de derrubada-queimada que sabiam praticar. Porém, enquanto esses
meios se mantivessem arborizados e fechados, a criação ocuparia apenas
um espaço reduzido. Os sistemas de cultivo de derrubada-queimada, que
estudaremos no capítulo seguinte, se estenderam então amplamente pelas
florestas temperadas e tropicais, deixando de lado a taiga pouco fértil e a
floresta equatorial, demasiado difícil de desmatar para os meios da época.
Ao contrário, nas formações herbáceas abertas, facilmente penetráveis
e imediatamente exploráveis pelos herbívoros domésticos, as criações pas-
toris nômades ou serninômades podiam facilmente estender-se de área em
área. Como os agricultores neolíticos não dispunham de instrumentos de
trabalho do solo que lhes permitisse dominar facilmente o tapete herbáceo
denso de uma pradaria ou de uma savana e, como as estepes descontínuas
eram pouco férteis, os cultivos só podiam representar nesses sistemas um
papel secundário. Nessas circunstâncias se constituíram as sociedades de
114
k I" N itll'l-nl ti, \11:IItV, U I.lh ti, (\I, \11.(111\:1 lU ItI'fidi' :I(11\dI ':lI'1IliIldt.,\11- -,
!!id,,~di' (1loIdllll'H til' ynul di\H t'Slt'Jll'S ,\(O nllillldl' da Ásia ccnuul,
11,1, ,111I 110It.1\11dl' l avnlos das 1)1adai ias e das estepes curo-asiáticas,
,11111" 111'I I in(\ores de renas da tundra, os criadores de cabras e de
,I, "I I .11li P()~;e das formações herbáceas com presença de arbustos
IHillLklllll1'tlilcrrflneas e próximo-orientais, as sociedades de criadores
I1li i il1lj I' Ik :d piicas dos Andes etc.
I,i 1'11I1,()lílko operou-se uma primeira grande diferenciação geo-
111lI: tH1t'it:eJades de cultivadores e sociedades de criadores. Isso,
lil(I, 1101()significou uma separação absoluta entre culturas e criação.
1111,11ill, Ii\IOS foram os sistemas de cultivo que não comportavam
111ill." I IloI~(lt'Sc raras [oram as sociedades pastoris que não praticavam
11'1'1IIIIvtI~i.Aliás, veremos que os sistemas agrários posteriores frequen-
111,1lHltlllt'iaram culturas e criações, e isso cada vez mais estreitamente.
\!HU:(I grandes áreas de extensão
Iglllltl milênios, quatro grandes áreas de extensão de agricultura neo-
i. 111111111instaladas a partir de quatro principais centros irradiantes. A
1IIdi 1111\neolítica de origem próximo-oriental se estendeu passo a passo
111 I' Jllrlil as direções, a contar de 9.000 anos antes da presente Era. No
IIII.V!Ir.ulênio, ela alcançou o conjunto do Oriente Próximo e as margens
11I!'i11,I1i1do Mediterrâneo. Nos quarto e quinto milênios, ela propagou-se
líllll 1I1i1lgcns ocidentais do Mediterrâneo e, através do vale do Danúbio,
IIi i"lllli I na Europa central e, em seguida, no noroeste europeu. Ao mes-
1111I1mpo, estendeu-se à leste, até a India, e ao sul até a Africa central,
1I\111111andoa grande floresta equatorial. Nos quarto e terceiro milênios11111,ti t Ir nossa Era, ela progrediu ainda à leste, ao longo da estreita banda
I, 11111,'sLa rechada que bordeja o sul da taiga, até o Extremo Oriente, onde
1110111cntrou em contato com a agricultura de origem chinesa. Na África,
'li u ruuou a se propagar para o sul até uma época recente.
I It) IX milênio antes de nossa era, a agricultura de origem chinesa, à base
1I Illliheto, não ocupava mais que o médio e o baixo vales do rio Amarelo.
11,I VIII milênio, após ter adotado o cultivo do arroz, ela se estendeu até
I 111I Azul (P. Bellwood, op. cit., 1994) e, há 6.000 anos, tinha alcançado
1~'~:illchúria, a Coreia, o Japão, a Ásia central, o sudeste da Ásia onde se
, I11IIbinou com a agricultura de origem neo-guineense, e a Ásia do Sul (Índia),
'\l1I1c ela encontrou a agricultura de origem próximo-oriental.
A agricultura de origem centro-americana, à base de milho, só começou a
I 'lll'nder-se fora de seu centro de origem apenas no sexto milênio antes da
1\lI'sente Era, para alcançar os continentes sul-americano e norte-americano.
I'I'19redindo rumo ao sul, ela atingiu os Andes e a costa peruana há 3.500
,1111IS, e o Chile há 2.000 anos aproximadamente. Nesse ínterim, ela fundiu-se
115
111111" "1\llt Idlllril CllltlllCl.ldi, 11'1111"h"lllm,~! iL'õlnu,l'fl~:lI'11/"111('1111',l'li~l{i
dl',l/( \/11tlI'a 11e()111iC:\ (11l1eI;( ali; t ,111111.11111'I;II:d i" 11/15II~:pI;Illl' iIos s('lul w: cI (
nossa l' liI para o leste e o SUdeSIL',WI111III101/H'lu,1 ~pilllcl('Ilorcsta i1n1i1ZÔI1;((I
sem ati ngir a extremidade sul do COIII"1('111(', 1'1()1\' cdi nelo para o norte, cln
ntingiu o sul da Califórnia e o médio MisHissipi 110princípio de nossa ErH,I
rundiu-se com a agricultura oriunda do centro norte-americano. A partir de-
.ntão, ela continuou a se estender rumo ao norte subindo o vale do Ohío, ('
chegando mais ou menos no ano 1000 às margens dos Grandes Lagos e d('
Saint-Laurent, deixando de lado as grandes pradarias do centro e do oeste,
assim como as Montanhas Rochosas e o Grande Norte.
Ouanto à agricultura de origem neo-guineense à base de taro, ela se dis
persou pouco a pouco pelas ilhas indonésias e pacíficas até o princípio de
nossa Era. No curso dessa rota, enriqueceu-se com plantas (milheto, inha
me, banana) e animais domésticos originários da Ásia. Muito mais tarde,
a batata doce, vinda da América do Sul, substituiu amplamente o taro e O
inhame em muitas dessas ilhas a. Barrau, 1965).
A expansão da agricultura neolítica fora dos centros de origem aparece,
portanto, como um fenômeno lento, que se prolongou durante milênios.
Assim, a agricultura de origem próximo-oriental levou mais ou menos 4.000
anos para chegar às margens do Atlântico e do Báltico, e mais de 6.000 anos
para chegar ao Extremo Oriente e ao sul da África. Sua velocidade média
de progressão foi da ordem de 1krn por ano.
Todavia, vastas regiões do globo não foram atingidas por essa primeira
leva de expansão da agricultura. No século xv, na época dos Grandes Des-
cobrimentos, regiões como a Austrália, o sul da África e da América do Sul,
o noroeste da América do Norte e o Grande Norte da América e da Eurásia
não estavam ainda incluídas nesta expansão. No entanto, as grandes florestas
equatoriais, amazônica, centro africana e asiática e as grandes pradarias dos
dois continentes americanos também ficaram à parte desse vasto movi-
mento. Em seguida, as colônias de povoamento branco e as economias de
plantation ocuparam amplas frações dessas terras virgens. Mas, ainda hoje,
a agricultura não é universal: os meJOSdificilmente penetráveis ou pouco
férteis como os desertos áridos, os desertos frios polares ou de altitude,
a taiga e uma parte das florestas equatoriais ainda permanecem incultas,
e algumas vezes exploradas por povos caçadores-coletores (boshimans do
Kalahan, esquimós da Groelândia, pigmeus das florestas da África central,
negritos das florestas do sudeste asiático, e índios da Amazônia etc.).
Modalidades de propagação da agricultura neolÍtica
Podemos considerar duas modalidades de propagação da agricultura neo-
lítica. Na primeira, essa propagação resultaria da colonização progressiva,
116
1111,"IIH,1/',1"11":'11"IV('lli('111('~:tI():l«'Illl()ii 11I'lldiilll!l'H,til' lCllitol ;OS
Il,ill1111'V"ilOH ou O(lIpatllls pOI caçadores-coletores. Na segunda,
Iri! /11101ri" tJ;tIISll1issao progressiva das ferramentas, das espécies do-
i, I"·,, tlll:1saberes e do savotr-iaire agrícola à sociedades de caçadores-
11/11"1·('xisu.:ntes,que teriam, desse modo, se convertido à agricultura.
lilllill 1!llllt' das observações arqueológicas mostra que as áreas de
ItI:ú'I 1111'11111geralmente colonizadas passo a passo por sociedades agrá-
jlílílll 11.1:1previamente constituídas. Por exemplo, os agricultores ditos
li tÍ 11111:1Ixnctrararn no leste e oeste europeus, servindo-se dos principais
i, ,li dl',ut\, em particular o Danúbio e seus afluentes. Equipados com
11li 1/1til' pedra polida e com espécies domésticas de origem próximo-
/11'111id, 1,lt'Scolonizaram primeiro as margens desses cursos d'água antes
I\11'111I1rarern a penetrar nas planícies e planaltos menos acessíveis.
I I 1I'I',i()cs,como na maior parte das áreas de extensão, não se encon-
Ii I11,1I,IIilele uma transformação progressiva das sociedades de caçadores-
IIl' 111'11prccxistentes. Frequentemente, todos os traços arqueológicos de
"i"] '''_li udade neolítica agrária plenamente constituída se superpõem sem
1";i';~11110Sníveis paleolíticos ou mesolíticos anteriores. Com apoio dessa
Ik Iolonização, podemos observar que os Pigmeus, que cotejavam há
Il"lillll os cultivadores e os criadores não se converteram à agricultura
1I'I",lIlt()dispuseram de territórios bastante vastos para alimentar-se dos
lil!" li IIIIS da caça e da coleta. Ao contrário, quando seus territórios se redu-
11,1111I'clo fato do avanço dos cultivadores desmatadores, eles adotaram
jI;111111il pouco o modo de vida agrícola. Em Ruanda e em Burundi, por
~1I11'1(),os pigmeus batwas, quando não dispuseram de mais nenhum
illllll ;0 de caça, converteram-se à agricultura e ao artesanato.
1\101realidade, a colonização agrária não é a antinomia da conversão por
«uuuo, pelo contrário. Com efeito, durante séculos, os agricultores imi-
t'{llll(·t;não ocuparam a totalidade dos territórios que eles colonizaram e por
1')1'11t otcjaram povos de caçadores-coletores com os quais inevitavelmente
d, u-nvolveram trocas técnicas e culturais. Conforme o caso, os caçadores-
, Itll'lores pouco numerosos foram assimilados biológica e culturalmente
"11rntão, ao longo do processo, converteram-se à agricultura. Esta coope-
i '11;:\1)poderia, aliás, explicar em parte as modificações dos instrumentos,
0111hribitat e da cerâmica, na medida que a agricultura progredia em novos
1I111tórios (P.Rolley-Conwy, 1994).
De qualquer maneira, o processo de conversão progressiva por contato
1-,cio ponto de vista arqueológico, difícil de apreender. No caso do Japão,
Illtlavia, parece que os povos de caçadores-coletores se puseram a cultivar
I.lnntas domesticadas em outros sítios. Assim, segundo G. Barnes (1994),
11/1[ornons da costa oeste do Japão, sedentarizados há 12.000 anos antes da
1I1rscnte Era, que dispunham de instrumentos neolíticos diversificados e da
I«râmica, explorando por predação uma larga gama de recursos florestais
117
,'IIIiUlld\():l, ICI!iU\l começado, 11" :qlll1Xilll,lil.llllI 1111'!I,!I()O illl():1 illlll'tI ti
111l':Wll1C I;ru, a eu ltivar diversos tipos clt-:11'11\('1111'/1(11111h cio, trigo !1101l11lilI)
silllaceno), cucurbitáceas (abóbora, mclao, pl'pillO, melancia ... ) c civilh.t
domésticas provenientes da China, Só muito mais tarde, há 2,500 anos lIlll,
da presente Era, os cultivadores vindos da China teriam colonizado as i1IliI
japonesas promovendo ali a rizicultura. Mas o caso do Japão é certamcnn
muito particular: a existência de uma sociedade neolíti.ca muito avançad.i,
semdúvida favoreceu muito seu começo de conversão à agricultura e, 1"11
utro lado, sua situação insular certamente retardou a chegada da onda d,
colonização agrária vinda da China, deixando, assim, as populações loc.u«
tiveram tempo para adotar espécies domesticadas no continente.
Absorção dos centros pouco irradiantes
Como vimos, as ondas de colonização agrária oriundas dos grandes centros
irradiantes encontraram e absorveram em sua passagem outros centros,
Não se sabe muito sobre a maneira pela qual os centros neo-guineense ('
sul-americano foram englobados nas áreas de extensão das agriculturas
neolíticas chinesa e centro-americana. Contrariamente, trabalhos recentes
mostram como o centro norte-americano foi absorvido pela agricultura à
base de milho oriunda da América Central. Próximo do ano 200 de nossa
era, uma variedade de milho de doze fileiras, oriunda do centro centro-
-americano, foi introduzida na região do médio Mississipi, onde já se
cultivava outras sete plantas domesticadas. Enquanto que o cultivo dessas
plantas de origem local se desenvolvia cada vez mais rapidamente, o cultivo
dessa variedade de milho de origem meridional teve, até o ano 800, um
sucesso muito limitado, pois ela era pouco adaptada à região. Depois do
ano 800, em contrapartida, uma variedade de milho de oito fileiras, de ciclo
vegetativo curto, adaptada ao clima local mais frio, fez sua aparição. Sua
cultura se impôs então rapidamente e se estendeu ao norte até os Grandes
Lagos. Por volta do ano 1.000, o milho, mais adaptado e mais produtivo,
tinha amplamente suplantado as espécies domesticadas na América do
Norte (D. H. Thomas, 1994), No século XVI, quando da chegada dos eu-
ropeus, as espécies domésticas de origem centro-americana (milho, tabaco,
feijão, abóbora) eram cultivadas até o Saint-Laurent.
Áreas secundárias de domesticação
Durante sua progressão, as sociedades agrárias neolíticas encontraram
também novas espécies selvagens exploráveis, podendo por sua vez serem
domesticadas, Enquanto que certas regiões do mundo forneceram muito
118
I'" li', tllllllI'nli"i\H (11(\\:111(1\1.111)1)1I'X(:lllplll, :\lIll\('llll' li ('(\Ido
" li ,1111til 111\(':11tl'ildn:i), I)tlt rns n.:gim's, ao conLrário, rOIncccram
\'i!!(I') (I(~ (oml\iLuir, a partir dos centros de origem, verdadeiras
",h1I1d!' ;/1' '/o/l/csliwç?lo. Trata-se principalmente:
\,! 1'\11111',til I Oeste e cio centro-oeste do continente sul-americano,
ti,11 1'11101111cI()l1lcsticaclos o amendoim, a mandioca, o algodão de
liI 'I I 1IIIIp,:t(( ;ClssYfJilll11 barbadense), o pimentão, o feijão de Lima, a
1.:1111I til 11I', () abacaxi etc.;
I1 Áltlt.ol \I()pical ao Norte do Equador, de onde provieram o sorgo,
litlllll:1111o arroz africano, o voandzu (ervilha bambara), o quiabo,
ii\llilllll' arricano, o dendê etc.;
11i Iwtlenll! ela Asia, são provenientes a fava, o taro, o ínhame chinês,
!lJIl
ll
, li lichia, a bananeira, a cana-de-açúcar, as cítricas etc. Q. R.
\ "111,111,1\)72). No que diz respeito aos animais, muitas espécies Io-
! !l11tltlllll'sticadas muito precocemente nos centros de origem: boi,
I!\ 111101,(libra, porco, pombo no Oriente Próximo; galinha, porco, boi
l tive' também o cachorro na China; o peru, o pato da Barbaria na
1\1111111'1\Central, alhama, a alpaca e as cobaias na América do Sul. Mas
\li! Itl1I'1\1outras espécies foram domesticadas nas áreas de extensão:
ij ,'011\1110Baluquistão e, há mais de 8.000 anos, o cavalo nas grandes
11!{ldi\lIí\Scontinentais da Europa oriental e o asno no Egito (há 5.500
111
1
111nntcs da presente Era), o dromedário na Arábia (5.000 anos), o
'.lII'II'I() no Irã (4.500 anos), o búfalo na Índia (2.750 anos), a galinha de
1\11)',1111\ no Mediterrâneo (2.500 anos), o iaque no Tibete, o gaur (búfalo
I IVi\)',l'm) na Indochina e a rena na Sibéria (2.000 anos). Quanto ao
I 111'1110,sua domesticação na Europa ocidental teria ocorrido na Idade
t Il'diíl (A. Gautier, op. cit.).
I)()MESTICAÇÃO E DOMESTICABILIDADE
,iI)',I'I\\ da agricultura, e mais particularmente a das plantas e animais
\.I!! 111"\\I(os, por muito tempo fez parte desses fenômenos misteriosos que
111\i '1
1
,\lIHam o entendimento humano. Daí recorrer-se, para explicá-Ios, à
111",\11"transcendentes, de ordem mágica, miraculosa ou divina, abundan-
Ii"I 110:1t\1 itos fundadores das sociedades de cultivadores e de criadores, cujos
Iltl!/.Il
t
nlnda encontramos no pensamento científico moderno Q. Cauvin,
iIJVd), Ora, as pesquisas arqueológicas e biológicas das últimas décadas
1111I li I11m claramente que a domesticação é um processo de transformação
I ,I, tlll)',ica, que resulta de maneira quase automática das atividades de pro-
l, I\J til \Ira e de protocriação, quando aplicadas a certas espécies selvagens
r 11
111
' HC explica por mecanismos genéticos perfeitamente compreensíveis.
119
011 HillollH011'1111'11/111:11111,cllI"/llIrtlilldilJ/l do culLivo c da cliw;fw :lIllIdi
11'1/1c/v Illl:H'1Viii (' il1l('1PII'!.II, 1I"1~(j lI~cessário tempo antes que as phlll
'1'11' :1(' ()ll1('Çi\ n CUIUVil!'e ()I; :11I11110I1/!que se começa a criar percam SII
I ill'ítt'ICI ísLicilS selvagens origillais I' Ildquiram características dOmtHll1
1IIIlIlif'csLilS.Para identificar os inícios do cultivo de uma espécie v('!:"1111
lIillcli1 selvagem, somos limitados a medir o aumento do número de nl'lI
w:\Os nos locais de habitação, a concentração de seu pólen em certos sol"
Clllc!e supúnhamos que estivessem cultivados, ou ainda a procurar a /lI!
IWIlÇt1dos grãos e do pólen dessa espécie fora de sua área de origem O, IIlnrlt1n, 1987).
Quanto aos animais, pode-se medir de maneira análoga o aumento dI I
II'HtoS de ossadas próximos aos locais de moradia, mas esse aumento podr
IlIl11bém provir de uma intensificação da caça. Uma distribuição dos OSSIl
por idade e por sexo conforme a exploração de um rebanho criado pam .\
fllOdução de carne já é mais convincente, embora possa também testernu
nhar uma caça mais seletiva. As mudanças morfológicas como a reduçao
elo tamanho e o aumento de sua variabilidade, certas manifestações patolo
gicas.(anomalias da dentição, fraturas) e presença de esqueletos inteiros dI'
ill1imais (enquanto os esqueletos de animais de caça estão frequentementl'
incompletos: algumas partes eram amputadas no local do abate) são outros
indícios de uma provável domesticação. Finalmente, a presença de material
de criação (pedras para auxiliar na ferradura dos animais), traços de curral
de gado etc., a presença de animais fora de sua área de origem e a forma
nitidamente domesticada dos restos de ossadas (redução do tamanho, de-
Formações dos ossos ...) são os únicos sinais verdadeiramente indubitáveis,
sobretudo quando eles estão combinados com a domesticação animal (A.
~autier, obra citada).
Escolher, cultivar e criar
Para compreender bem como foram constituídas as espécies domésticas,
Icmbremos que, por milhões de anos, os hominídeos se contentaram em
.xpíorar pela predação, as populações vegetais e os animais selvagens,
pertencentes a espécies escolhidas entre milhares de outras por sua utili-
dade e facilidade de exploração. No neolítico, grupos humanos sedentários
começaram a mudar essa maneira de agir. Eles selecionavam pequenas
coleções de indivíduos que pertenciam aJuma ou outra dessas espécies para
submetê-Ias a condições de crescimento e de reprodução novas, artificiais,
resultantes de práticas da protoagriculttura. Desde que foram cultivadas
ou criadas, assim, essas frações de população particularmente escolhidas
e particularmente exploradas, e as linhagens que lhes sucederam, levaram
uma existência separada, diferentes daq1Uela de seus congêneres selvagens.
120
I.IÇLII~R,.u. Ijllll:lí',I~III;dI' .dF,IIII101hd,':H"IH1':11"'11"11niiTilliT-II(I,u
i II Idlllfol 1'1,/(1,'1[1111algll/11as dl' suns Ulllll lI'l ísllcllH gl'11ClicilS,
hllll C I 1I1l11)(lltnI11l'lllnis selvagens originais, poucocompatíveis
i jllIV(1 lI!lldo de vida. Ao mesmo tempo elas adquiriam outros
qlll, 1'lIlholi1 pouco vantajosos e transmissíveis, foram desde
'l'iOiv.ulo». A partir desse momento, mesmo se elas continuassem
.r 11111/'li' dI' mil maneiras a seus ancestrais e às populações selvagens
I! IILl:H,.1Mnovas formas "domésticas" assim obtidas se distinguiam
i I" I jlII'IIClnúmero de caracteres, formando o que se convencionou
I" ti, "/lIII(/rome de domesticação". Mas vejamos mais precisamente
1'1'11.. 1I11'II1I1ismos essa transformação pôde ocorrer.
íY!r:!ul icação dos cereais
j!CII"d/lI,iIO de uma espécie de cereal selvagem é heterogênea. Por
"1./11, I l'llos grãos caídos no solo germinam desde a primeira estação
li!!! 11111111:1e muito quente, enquanto que outras começam a vingar duas
I1~ I'Hlllt.OCSmais tarde. Esse atraso em germinar (dormência) é condi-
II"HI'I111li substâncias inibidoras da germinação, geralmente contidas nas
p!~!Id~ Inl has (glumas e glumelas) que envolvem as sementes. Enquanto
LIIII.t população se reproduz espontaneamente, essas disposições,
IlfI 1Irl de uma planta a outra, contribuem para repartir a germinação
I 1I1('I1Lespor várias estações consecutivas mais ou menos favoráveis,
• I \I III.mdo assim as chances de reprodução e de multiplicação da espécie.
1111111ririo, desde que são cultivadas, quer dizer, semeadas em conjunto
, I 1"11111'ira estação das chuvas e colhidas em conjunto durante a colheita
L11111I', somente os grãos sem dormência podem ser colhidos e semeados
li I Ili 1de novamente. A semeadura e a colheita de maneira agrupadas de
1III 11Iipulação de cereal inicialmente selvagem tendem assim a eliminar as
1\1" I 1F,I'11Sde grãos com dormência cobertos por glumas e glumelas espessas.
AII'I11disso, os primeiros grãos que germinam e produzem as plântulas
lid~ vigorosas ganham na competição acirrada entre as plantas congêneres
I.}1111111mesma parcela semeada, e obtêm, por essa razão, uma descendência
111.1iI~nUmerosa que as outras. Ora, as plântulas mais precocemente vigorosas
1"IIVI';n geralmente das sementes maiores cuja albumina, rica em açúcares
I I1I1Ilamente mobilizáveis, é relativamente mais desenvolvida que o germe,
11101111ricas em proteínas e em ácidos graxos. A semeadura agrupada tende,
1".lllnnto, a selecionar linhagens de germinação rápida, de grandes grãos
1II(IS em açúcares e relativamente pobres em proteínas e em gorduras.
Assim sendo, a colheita, quando realizada de uma só vez, no momento
í I" maturidade do maior número de grãos, tende a eliminar as linhagens de
1II111uridade tardia, cuj os grãos colhidos demasiadamente cedo são infecun-
121
IOfj \--;-CIIIIII'II'I!'III,"liI;II[I_',,I', /""111"1 I/li' /111'11111(;1111/1111.:/':111<1,.111/1111'/11
/ldlllll':lI I'II( ;n:1 11111I1111111irl"dl1I11i/lu l"h .dllll"r/,I 11'1Ic1e111il Sei ('11111111011
AI('/ll c/o ll1ais, i\ colhel("1I "1:' 11/l0I1/.1lellrl,' 011·ll/lIl/lílr as formas cujas eSjll
ou espiguetas são SUportaclilS /lI/I I {lldl·tj I'lIiWis c cujos grãos, muito (111"
111Cntedestacáveis, caem precocemcl1Le no solo e escapam, assim, à colh,'II
Dessa forma, toda uma série de características _ dormência, invól LI( In
espessos, grãos pequenos, inflorescências numerosas e pequenas, caul,
frágeis, debulhagem fácil etc. - que favorecem a reprodução e a difwloIlJ
:spontânea das populações selvagens tornam-se antiperformantes 1101
condições de reprodução impostas pelas práticas de cultivo humanali I
lendem, por essa razão, a ser eliminada, As características inversas _ 11111'
clormência, invólucros reduzidos, grãos grandes e ricos em açúcares e pu
brcs em proteínas e em gordura, espigas ou inflorescências únicas ou pOU(I1
numerosas, de grande porte e ricas em grãos, caules e caules embrionário:,
resistentes, debulhagem difícil etc. - multiplicam as chances de desenvol
vimento das linhagens cultivadas, suas chances de colheita na maturidadec de reprodução por semeadura.
Esse conjunto de características genéticas, morfológicas e comporta
mentais vantajosas - que constitui a sÍndrome de domesticação típica da
maior parte das populações de cereais cultivados _ é, assim, o produto de
um mecanismo quase automático da seleção que se opera em linhagens de
cereais originalmente selvagens, desde que sejam cultivadas durante váriasgerações sucessivas.
Genes pouco numerosos e transmissíveis em bloco
Segundo J. Pernes (1983), a aptidão de um cereal para ser domesticado,
que denominamos domesticabilidade,. resulta de disposições genéticas e de
reprodução particulares. Para o milho e para o milheto africano, os genes que
comandam a sÍndrome de domesticação são pouco numerosos, agrupados
em um mesmo cromos soma, logo, transmissÍveis "em bloco", facilitando
muito a passagem da forma selvagem à forma doméstica. Entretanto,
como o milho, o sorgo, o milheto, o trigo, a cevada e o arroz se reprodu-
zem preferencialmente por auto fecundação (fecundação de cada planta
pelo seu próprio pólen), os riscos de hibridação com as formas selvagens
se reduzem, enquanto que o isolamento e a conservação dos caracteres
domésticos adquiridos são facilitados.
Porém, mesmo se a seleção dos caracteres domésticos for automática,
a observação, a escolha e a ação conscientes do cultivador podem ser
exercidas de maneira útil para preservar e difundir as vantagens manifes-
tas adquiridas pela seleção. Na verdade, quando uma população vegetal
submetida à Protocultura leva, em algumas gerações, ao aparecimento de
122
lilJl-llI~de t:!ullle:ll'iloll,:lI), n c ult rv.u lru (':iIt', 1'111.11)oIJ111111 r'/lcullil'i'ill;
iVI~IIIII~!lII:1/1111:1vIIIII'ajl)/,IIH,pillll l()1I1.1I(\ scmcu-la» prcfcrcn-
I lu niruu, ilssil11, seus congêncrcs selvagens e os híbridos. Se a
1111'iIIICIII)111Cde domcsticação for involuntária, muda-se comple-
ir' ri 1"11111141,a preservação e a difusão das espécies e das linhagens
UI'fIVI,I,II('nte afetadas por esta síndrome. Ainda hoje, nas regiões
I LI/li11'() sorgo foi domesticado e onde coexistem sorgos selvagens
,t!UIi, I)fleu Itivadores continuam a buscar as jovens plantas híbridas.
11,11'11'1 t Il,jOSO o fato de que os agrônomos indianos de um centro de
l,il~ill11111/regados de "conservar os recursos genéticos" do sorgo culti-
in" 1011\I simplesmente "esquecido" de eliminar os híbridos presentes
I1111I I!lVÇÓCSe desta maneira presenciado sua rápida degradação. (].
ir-li ,11111',0citado).
i I, ~íI .uuilise pode-se deduzir que a domesticação não pôde ocorrer
II 111I1I IlS sementes semeadas provinham em sua grande maioria da
I! I I 11.111\que a domesticação acontecesse, seria preciso que as sementes
I i'"I(111IIela protocultura se tornassem dominantes e fossem semeadas
muntc por várias gerações seguidas. É, portanto, improvável que a
"11111'1111nção tenha podido se produzir nos centros de origem, enquanto
, I /I'oIis selvagens, facilmente coletáveis, fossem superabundantes em
111I}1iI às necessidades da população,
clomesticação das outras plantas
I JIIII'lIS plantas de sementes
1/,1'1plantas com grãos distintas dos cereais, a forma geral do processo de
1I1uncsticaçâo é bastante semelhante. Por exemplo, enquanto as populações
1I1 h-guminosas selvagens dispõem geralmente de vagens que se abrem
/111"mente quando maduras para facilitar a disseminação das sementes, e
1/1'sementes com dormência de germinação diferida, as populações domes-
I11nelas perderam essas características, Podemos constatar também que com
01Ilomesticação surge uma tendência à constituição de inflorescências menos
111rmerosas, maiores, com sementes numerosas e com maturação uniforme.
Plantas de multiplicação vegetativa
Nas plantas de multiplicação vegetativa que os cultiva dores reproduzem por
.staquia de um fragmento do caule (mandioca) ou enterrando um fragmen-
to de tubérculo (batata, inhame), por plantio de um pedaço de rizoma ou
rebento lateral (bananeira), cada planta cultivada herda de formaidêntica
123
11111011011Il"~I\(,I1('lllllll d" 1'1.111101111.11'1)('lill'l1i1neiUI '1
t1
('l' (llIllIIIII IHII
C/'ll'IIS qllalidade::; apéllCIlI('li dI' 11111.1plil11Lél-mãe selvagem, l,;scolhic/II 1'"/
dado bons e belos tubérculos, 1, utos ou raízes, as transmitam integrnlllll'lI
aos seus descendentes cultivados.
Ora, não é tão simples assim. Certas plantas proporcionam bO;II: 1(
Iheitas devido as suas características genéticas próprias, e essa qualill.lIl
é, desde então, transmissÍvel. No entanto, outras plantas que não POSHIII'III
essas características genéticas vantajosas dão resultados tão bons ou <lill"
melhores quando se desenvolvem em condições microlocais muito fav('1
veis de solo, de exposição à luz, de umidade ou ausência de conCOrrêJ11 /1'
Ao contrário, plantas geneticamente vantajosas podem encontrar-se ('111
condições desfavoráveis que as impedem de manifestar suas qualid"dr
intrínsecas. Foi, portanto, preciso tempo e atenção para separar as planlil
geneticamente vantajosas das plantas simplesmente favorecidas por SUól
condições de desenvolvimento.
Plantas favoreci das não domesticadas
Pode-se também favorecer uma espécie sem necessariamente cultivá-I".
Certas espécies úteis em muitos aspectos são apenas preservadas. A pai
meira para extração de óleo, por exemplo, de nascimento espontâneo nas
bordas da floresta equatorial, é poupada no momento dos desmatamentos,
O baobá, cujos frutos e folhas são consumidos e a casca fornece fibras, o
karité, cujo fruto fornece a manteiga do mesmo nome são protegidas da
superexploração. Outras espécies, como a Acácia alb/da, árvore forrageira
de entressafra e que contribui amplamente à reprodução da fertilidade de
muitos solos agrícolas do Sahel, não são apenas protegidas, mas propaga-
das fora de suas áreas naturais. Entretanto, todas as espécies favorecidas
de uma maneira ou de outra pelo homem não adquirem necessariamente
características domesticadas particulares.
A domesticação dos animais
o princípio da protocriação dos animais consiste em subtrair uma população
animal selvagem de seu modo de vida natural para Poupá-Ia, protegê-Ia e
propagá-Ia visando explorá-Ia mais cômoda e intensamente. A cada geração,
essa população se encontrará submetida a condições de vida e de reprodução
distintas das populações que permaneceram selvagens. Essas novas condi-
ções tendem a eliminar certas características genéticas, comportamentais e
morfológicas e a selecionar outras, sejam elas as características preexistentes
nas populações selvagens de origem, ou surgidas por mutação durante o
124
1,1dOIIIl'mll ,II;~(I 0'/1111:1:11111111111111'1111'I 1\i'Ii:"iii7T:iiiil~l"dI'V(IIIH.,
11111101/1/1'11'/',('111.IH 1,I:lIilllli, l\jn l:lllillllo, l~pll'llSO (lJllilicl('I:t1 qu«
!ll,til lI.íllll(' d('Hl Cl!lli" /1111conjunto de gel1l,;s ligados, sclccionávcis
! '1"1 tI('I('IIl1iI1HSSem urna "síndrornc de dornesticação". Isso não
I'" 1 }11111\,t.unbérn, na maior parte dos animais primitivamente
1I IIIII~I,1/111conjunto de características típicas que os distinguem de
111',1111lI'i! 11('lvagcns.
11111"0111r ondiçõcs da protocriação, os animais mais temerosos que
,ii dil,wlltilrsc ou reproduzir-se em cativeiro ficam sem descendên-
1111111111/1agressivos, violentos, perigosos são geralmente eliminados
i ti 1I1111('Sque abatem também, de preferência para consumi-los,
Itlltlllll:lltl', os animais de maior porte. O manejo em grandes reba-
i1['11111[1'li sobrevivência dos animais mais vulneráveis que são, assim,
j,~ ill 1'lIllegidos, ao passo que teriam sido eliminados caso vivessem
Iliqlll 1111/1grupos em estado selvagem. Castrando, ou mantendo uma
I,: dll~1mnchos afastados das fêmeas no período do cio, os criadores
li li Ii1,1111;IOS animais pouco vigorosos e pouco ativos de participar da
Ili. ,,1111,,111,l.nfim, os animais de criação sofrem com frequência escassez
'li "I Idtl tis quais os animais de pequeno porte resistem melhor do que
',I 111111'11.l'inalmente, de geração em geração, a protocriação, tende, por-
11 li I, HI'I.ilmente, a selecionar animais pouco sensíveis, pouco nervosos,
'I -vll',(Jrosos e de pequeno porte, isto é, todos os caracteres típicos das
l!'edeM IlIlimais domésticas primitivas. (A. Gautier, op. cit.).
'j~' 1:",:10 as plantas domésticas aparecem logo de início, como "me-
111- 'I 111.111"em relação às suas ancestrais selvagens (grãos mais numerosos
"111111('S ctc.), os animais domésticos primitivos, por sua vez, aparecem
,11111"degradados". Mas, quer pareçam "melhoradas" ou "degradadas",
,111111'\ics domesticadas são bem mais adaptadas às novas condições de
liI ( 11((l' lhes foi criada do que suas ancestrais selvagens. Assim, são mais
illl''IIISUS para o cultivador e para o criador. Sejam quais forem essas van-
1:11'1IIH,ocorre que, no conjunto, elas foram obtidas involuntariamente. Uma
111I 1('domesticada é, de fato, o produto final, desconhecido e inconcebível
(i!l' r.ilmente, de um processo de seleção comandado por toda uma série de
1'1'111(,cultivo e de criação, em que cada um visava, a muito curto prazo,
dL!,11completamente diferente desse resultado distante e absolutamente
1111111r-visivel.
Acrescentemos, para terminar, que se muitas espécies vegetais foram
1)1'1iocultivadas sem jamais terem sido domesticadas, muitas espécies ani-
11)011:;foram capturadas e submetidas a diversas práticas de criação sem, no
Clllolnto, terem sido domesticadas. Essas práticas não deixaram vestígios,
1')(1cto em registros históricos. Assim, no antigo Egito, por exemplo, por
1IIIIito tempo cevaram pelicanos, garças reais e mantiveram em cativeiro as
lurnas, as gazelas e os oryx (antílope dos desertos com chifres muito longos e
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1l()llllld()s ~;('IIll'lhill1le li UIII.!1',.11'\'1):lVIIIque isso Cht'g1\HH\':lc!OIIlt'slll ,I 111
1\m-ccssái io dizer que nem todas as espécies animais eram clomcst« IIVI'I
As espécies que não se reproduzem em cativeiro, as pouco precoces, I 11\"
filhotes exigem longos anos de cuidados, e as espécies frágeis, bizau 11111111
violentas não se prestam à domesticação. As espécies pouco sociáveis, 11'11
vivem em famílias restritas e que marcam o seu território também nao :1.1"
ele fácil manejo.
CONCLUSÃO
'orno escreveu J. R. Harlan (1972), "a agricultura nunca foi descoberta ou iu
ventada". No estado atual dos conhecimentos, ela aparece como o resultado
de um longo processo de evolução que afetou muitas sociedades de Hotuv
sapiens sapiens no fim da Pré-história, na época neolítica. As sociedades cll'
predadores que se transformaram em sociedades de agricultores estavam
dentre as mais avançadas da época. Elas dispunham de instrumentos sofisti
cados de pedra, exploravam os recursos vegetais bastante abundantes par:!
lhes permitir viver de forma sedentária agrupadas em vilarejos, praticando,
sem dúvida, o culto a seus ancestrais. Enfim, considerando J. Cauvin (1994),
elas já veneravam também algumas divindades.
As condições técnicas, ecológicas e culturais bem particulares nas quais
emergiram as primeiras sociedades agrárias da história só foram reunidas há
muito pouco tempo, e somente em algumas regiões privilegiadas do planeta.
Compreende-se então porque a revolução agrícola neolítica não poderia ter
acontecido no tempo do Homo erectus, ou dos primeiros Homo sapiens, ou
em todas as regiões do mundo ao mesmo tempo. A agricultura neolítica
expandiu-se a seguir num mundo em vias de neolítízação desenvolvido de
modo muito desigual, frequentemente por colonização agrária direta, ou
pela conversão, passo a passo, de sociedades de caçadores-coletores. Estas
sociedades, diga-se de passagem, eram muito avançadas.
Essa expansão agrícola neolítica permitiu, com certeza, um forte cresci-
mento da população mundial, mas, ao contrário, ela não foi, em geral, uma
resposta à crise da predação nas sociedades de caçadores-coletores nômades
já existentes. Ao contrário, nos centros de origem

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