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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UNIVERDIDADE ABERTA DO BRASIL 
DISCIPLINA LINGÜÍSTICA: FORMALISMO 
PROFESSOR PAULO DUARTE 
Como vocês viram, o PRICÍPIO DA NEUTRALIZAÇÃO é adotado mormente 
por lingüistas europeus como Martinet ( 1973) e Coseriu ( 1980). No Brasil, Camara 
Jr. (1981) o adota, assim como Bechara (1999). 
Em Fonologia, se temos R/ê/cife e R/é/cife, não há oposição entre os timbres 
fechado e aberto. Representamos o arquifonema por um símbolo maiúsculo R/E/cife. 
Valem os traços distintivos comuns: anterior, média. Excluímos o traço não-distintivo. 
Pais (1981) usa a teoria dos conjuntos: vale a interseção dos traços. 
Temos reserva quanto à neutralização. Suponhamos agora a tríade R/é/cife, 
R/ê/ cife, R/i/ -cife, a interseção será apenas anterioridade, já que as duas primeiras 
assumem como traços comuns: anteriores e médias . A terceira assume o traço: 
anterior e alta. Qual será a representação adequada do arquifonema? Não sei se é 
equívoco meu, mas sempre me assaltou uma dúvida no que diz respeito à oposição 
entre a realização ou não de um fone, e a exemplo de do fone final no verbo casar, em 
que pode realizar-se um fone ou não. Creio que caberia falar de fonema zero. Qual 
seria o arquifonema? Seriam todos os traços realizados? Isto acaba gerando uma 
confusão entre fonema e arquifonema. 
Em morfologia, o conceito de arquifonema é sério. Se tomarmos um exemplo 
como amamos, sabemos que a forma verbal tem duas leituras: presente do indicativo 
e pretérito perfeito do indicativo. Considerando o traço comum, teremos apenas modo 
indicativo. O traço diferencial relativo ao tempo deveria ser o tempo, muito diferentes, 
embora representados por zero. Quer dizer: a única saída seria apelar para o discurso 
ou para a pragmática. O conceito de língua por oposição ao discurso ou fala precisaria 
ser reformulado. Ou então dispensaríamos o critério da interseção de traços para criar 
outro ad hoc. Ficaríamos apenas na oposição paradigmática num dado tempo verbal, 
deixando claro que a distinção temporal é discursiva. 
Os autores ficam empenhados em distinguir os alonones de um arquifonema, o 
que é muito comum no caso do /N/. Porém, não se dão conta de que o arquifonema 
resulta da ausência de oposição entre fonemas em dados contextos. Ou seja: o 
arquifonema é manifestado por fonemas, e estes, por fones. Não vemos sentidos em 
procurar fones de um arquifonema, mas em identificar os fonemas que manifestam 
arquifonemas. Em assim sendo, o arquifonema não é distintivo. Pior: manifesta-se por 
unidades não-distintivas. Nem arquifonemas nem fonemas apresentam 
distinguiblidade. 
Em arguta discussão sobre o arquifonema, mais exatamente sobre o 
arquifonema /N/ e a questão das vogais nasais, Callou e Leite (1990: 85-90), 
apresentando versões gerativa e estruturalista, concluem que: 
Nenhuma das propostas apresentadas até agora apresentadas dá 
conta integralmente de fatos comuns em falantes do português. Há 
alguns que nasalizam a vogal pretônica em palavras como caminha 
(verbo) e caminha (substantivo), mas não a nasalizam em Flamengo, 
lamento, paramento, elemento etc. Por outro lado há falantes que 
nasalizam os ditongos em Jaime e Roraima, mas não os de fauna e 
trauma. (1990:90). 
Talvez, afirmam as ilustres fonólogas, fenômenos deste jaez só serão 
explicados com base em Fonética experimental, pois “o que se verifica é a 
possibilidade de uma nasalização quando a assilábica é {y} e sua impossibilidade 
quando é o [w]” (1990: 90). 
Fica a seguinte sugestão a ser objeto de futuras investigações: 
a) caberia extrapolar o nível do sistema para delimitar os fenômenos da 
neutralização? 
b) em transcendendo o nível do sistema, não deveríamos abraçar um corpus 
delimitado, um língua funcional , com definição das variedades diatópicas ( 
geográficas), diastráticas ( sociais) e diafásicas ( registros)? 
c) repensar o conceito de neutralização em termos de variação livre( nem 
condicionada nem significativa ( embora este conceito seja questionável), de 
variação pertinente, externamente condicionada e de variação significativa ( 
que reflete uma escolha funcional por parte do falante para fins de propósitos 
comunicativos). 
Nós particularmente não temos simpatia pelo conceito de neutralização. Em 
Fonologia, adotamos Macambira (1978) e em Morfologia, Pontes (1973). 
BIBLIOGRAFIA 
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. 
CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 
1981. 
CALLOU, Dinah e LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 1990. 
COSERIU, Eugeniu. Lições de lingüística geral. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1980. 
MACAMBIRA, José Rebouças. Fonologia portuguesa. Fortaleza: EDUFC, 1978. 
MARTINET, André. Elementos de lingüística geral. Lisboa: Sá da Costa, 1973. 
PAIS. Cidmar Teodoro. Introdução à fonologia. São Paulo: Global, 1981. 
PONTES, Eunice. Estrutura do verbo em português. Petrópolis: Vozes, 1973.

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