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ESPAÇO GEOGRÁFICO 
MUNDIAL 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Wiviany Mattozo de Araujo 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 Esta aula tem por base a construção do conhecimento possibilitada pelas 
aulas anteriores, com o objetivo de entender dinâmicas do espaço geográfico 
mundial. Para isso, serão utilizados autores de perspectivas de áreas do 
conhecimento próximas à geografia, como a história, assim como foi feito antes. 
O intuito é entender como esses fatos históricos refletem até hoje na realidade 
de todo o globo. Para a reta final desta disciplina, será necessário também 
considerar os temas abordados antes, como desenvolvimentos, blocos 
econômicos, as ideias de região e regionalização, e também, as condições 
físicas, paisagísticas e socioeconômicas de cada continente. 
 Considerando todos os conteúdos abordados até agora, é possível 
avançar também para aspectos históricos fundamentais para a compreensão da 
geopolítica internacional, tema muito importante quando se trata de espaço 
geográfico mundial, já que é também a geopolítica que condiciona estruturas, 
desigualdades, conflitos e relações diplomáticas. O objetivo desta aula é 
entender a segunda metade do século XX e o século XXI, através de fatos 
históricos, aplicando esses conhecimentos às condições do espaço geográfico 
atual, bem como às relações imperialistas tão presentes durante o período. 
Dessa forma, a aula está organizada da seguinte maneira: Guerra Fria, com o 
intuito de entender esse período histórico; o Mundo Pós-Guerra Fria, para 
analisar os impactos da guerra; seguido de uma análise da Nova Ordem Mundial, 
resultado da vitória dos Estados Unidos sobre a União Soviética na Guerra Fria; 
os estudos do Meio Técnico-Científico-Informacional, detalhados ao longo de 
várias obras de Milton Santos (autor já utilizado anteriormente); e uma análise a 
respeito da globalização, fenômeno presente no cotidiano e que pauta o 
desenvolvimento e o consumo no mundo. 
 Com esta estrutura, é possível entender os últimos setenta anos do 
mundo de maneira mais aprofundada, considerando a complexidade das 
relações internacionais, suas relações de capital e os fenômenos históricos 
pertinentes. 
TEMA 1 – A GUERRA FRIA 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a Guerra Fria, 
protagonizada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e pelos 
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Estados Unidos da América (EUA). Eric Hobsbawn (2007) a entende como 
confronto entre as duas superpotências, já que a URSS e os EUA iniciaram 
corridas pela hegemonia de poder no cenário mundial. A Guerra Fria também 
era um meio de competir pela presença de um modelo econômico: o socialismo 
e a economia planificada de um lado, e o capitalismo do outro. Como já é sabido, 
e como o nome sugere, não existiram conflitos armados de fato durante o 
período (1945-1989), e sim corridas espaciais e armamentistas, que criaram o 
que Jayme Brener (1994) chamou de “perturbação do sono de todo o mundo”. 
Brener (1994) também destaca a Guerra Fria através do Leste Europeu, que 
utilizava o modelo soviético, com a economia estatizada e serviços de saúde, 
educação e transporte gratuitos, ao passo que os Estados Unidos, após o fim da 
segunda Guerra Mundial, passa a desenvolver o Plano Marshall para a 
reconstrução da Europa Ocidental, destruída por Hitler durante a Guerra. 
Neste momento, é fundamental compreender também o surgimento da 
Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em 1949, que serviu como 
incentivo para a criação do Pacto de Varsóvia, em 1955. Além disso, destaca-se 
os conflitos civis durante o período da Guerra Fria em outras partes do mundo, 
como África e América Latina. 
Provavelmente, os pontos que mais se destacam durante o período aqui 
analisado são as corridas entre as duas grandes potências e a eminência da 
possibilidade de uma guerra nuclear entre a URSS e os EUA. Durante as 
corridas armamentistas e espaciais houve um grande desenvolvimento 
tecnológico no século XX, como a construção de satélites e o envio de seres 
vivos para o espaço, como é o caso da cadela Laika, enviada pela URSS, 
seguida de Yuri Gagarim, o primeiro humano a orbitar a Terra; do outro lado, Neil 
Armstrong foi enviado para a lua pela National Aeronautics and Space 
Adminstration (Nasa). O desenvolvimento tecnológico científico é uma área 
fundamental do desenvolvimento tanto da União Soviética como dos Estados 
Unidos, principalmente por indicar realizações possíveis, através da economia 
planificada e dos serviços públicos da URSS, e através da economia liberal 
desenvolvida pelos Estados Unidos. 
Quanto à corrida armamentista, é um dos aspectos da Guerra Fria que 
pesam sobre as ameaças existentes da eminente guerra nuclear – que, como já 
sabido, não ocorreu. A busca por dominância bélica por parte de ambas as 
potências foi também um recurso para garantir dominância política e alianças 
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importantes entre os países socialistas e os países liderados pelos Estados 
Unidos, já que a corrida armamentista possibilitou também as revoluções 
armadas socialistas em países como Cuba, por exemplo, que teve a revolução 
de 1964 liderada por Che Guevara e financiada pela URSS (Ayerbe, 2004). 
Essas características da corrida armamentista são fundamentais também para 
entender movimentos políticos estratégicos da época, e que impactam 
condições políticas da atualidade, como o embargo econômico aplicado à Cuba 
pelos Estados Unidos, que explica o desenvolvimento tecnológico limitado da 
ilha caribenha. 
O encerramento da URSS foi marcado pela queda do Muro de Berlim. O 
processo foi resultado de fatores econômicos mundiais que encaminharam uma 
crise no fim dos anos 1980. Antes disso, nos anos 1960 e 1970, a economia da 
potência socialista se encontrava em boas condições, mesmo com a indústria de 
bens pouco desenvolvida, em detrimento da indústria de peso. Em grande parte, 
por conta da crise do petróleo dos anos 1970, o desenvolvimento soviético ficou 
dificultado, pois se utilizava de economia planificada; além disso, a própria 
corrida armamentista ficou difícil de ser sustentada, principalmente com a 
aproximação chinesa dos Estados Unidos. Porém, foi a indústria que 
definitivamente dificultou a perpetuação do socialismo na região. (Brener, 1994) 
Assim, nos anos 80, durante uma crise econômica, Mikhail Gorbachov 
assumiu a liderança da União Soviética, com dois principais planos de abertura 
política, a Perestroika e a Glasnot, cujo intuito era, respectivamente, reconstruir 
a economia e tornar a política mais transparente. Porém, mesmo com os planos 
de Gorbachov, a crise econômica perpetuou e a política se agravou, já que ele 
sofreu uma tentativa de golpe, que desestabilizou, também politicamente, o país 
(Marshall, 2015). Após comissões e processos econômicos e políticos, a União 
Soviética acabou dissolvida em 1991. Esse momento foi marcado anteriormente 
pela queda do Muro de Berlim, que dividia a Alemanha Oriental e a Alemanha 
Socialista em 1989. 
TEMA 2 – O MUNDO PÓS GUERRA FRIA 
 Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o fim oficial da URSS em 
1991, e por consequência o fim da Guerra Fria, ocorreram diversas mudanças 
no cenário mundial, principalmente no Leste Europeu e na Ásia, onde se 
localizava a maior parte da União Soviética. Diversas regiões queriam ver seus 
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territórios delimitados; assim, surgiram conflitos pela conquista dessas áreas. 
Jayme Brener (1994) destaca a mudança rápida e brusca no mapa mundi, por 
exemplo, e explica que cada conflito exigia adaptações nos territórios dos países, 
principalmente no leste europeu. 
 Brener (1994) propõe uma discussão menos convencional a respeito do 
pós-Guerra Fria, para além da queda do muro e dos impactos na Europa 
Oriental. Com isto, anuncia a “solidão do poder estadunidense”, cita a antiga 
ordem predominante no período anterior à SegundaGuerra Mundial, e como os 
Estados Unidos e a União Soviética acabaram por dividir seus poderes no 
espaço mundial. Posteriormente, com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos 
assumiam diante do cenário mundial a liderança global. O autor destaca como, 
mesmo com a vitória na Guerra Fria, o país ainda tinha dificuldades sociais 
graves, já que o desenvolvimento apontado pelos indicadores econômicos não 
acompanhava, por exemplo a capacidade bélica que o país acumulou. 
 Com desemprego e outros problemas econômicos, os Estados Unidos 
“perdia a corrida para a Europa Ocidental e para o Japão”, o que dificultaria. Por 
exemplo, assumir esse papel de liderança e potência mundial. Mas como os 
Estados Unidos passam a enfrentar essas dificuldades e se tornam a maior 
economia do mundo? É justamente o fim da Guerra Fria que possibilita isso, já 
que os investimentos em poderio bélico puderam ser reduzidos, com cortes na 
área militar, além de relações internacionais que favoreceram os Estados 
Unidos. Porém, foram as mudanças na dinâmica econômica e os investimentos 
em infraestrutura que garantiram empregos, aquecendo assim a economia. 
 Por outro lado, Hobsbawn (2007) destaca a dissolução da URSS e o seu 
significado no histórico das grandes potências. Segundo o autor, a União 
Soviética comandou as relações internacionais por quase dois séculos e, com 
as devidas exceções, exerceu controle até sobre conflitos internacionais, 
deixando de existir; com isso, remove-se um forte entrave às guerras entre 
países e às intervenções armadas de uns países nos assuntos de outros. Isso 
porque Hobsbawn aponta como, durante a Guerra Fria, as fronteiras 
internacionais eram pouco alteradas – ou, como o autor afirma, “invioladas”. 
 Dessa forma, Hobsbawm (2007, p. 32) aponta como o fim da Guerra Fria 
trouxe à tona instabilidade nessas fronteiras. Outro fator destacado é como o fim 
da Guerra Fria não só alterou as fronteiras e os mapas, mas também as decisões 
sobre a guerra e a paz, que se tornaram improvisadas, característica muito 
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importante no entendimento da geografia política, por exemplo, pois nos leva a 
um debate a respeito da flexibilização de ideias e conceitos, bem como dos 
limites do sistema econômico e seus impactos, como a exploração da natureza 
e de trabalhadores, por exemplo. 
 A situação dos Estados Unidos e da União Soviética (já dissolvida) ainda 
não explica a situação da Europa Oriental, a Unificação da Alemanha, ou até 
mesmo a recente guerra pela Criméia ou a situação de Kosovo, na antiga 
Iugoslávia, e que apresentam papel de importância nos debates a respeito do 
período pós-Guerra Fria, mas também na última década. 
TEMA 3 – A NOVA ORDEM MUNDIAL 
 Com o fim da Guerra Fria, o mundo mudou drasticamente, não só pela 
velocidade com que o mapa-múndi passou a ser alterado, com os pequenos 
países da União Soviética se transformando, como Brener (1994) apontava, mas 
também em relação a dinâmicas econômicas, relações internacionais e 
diplomáticas, novas ordens e principalmente lideranças globais, que passam a 
se destacar através da economia capitalista predominante no mundo atual. Mas, 
afinal de contas, como essas relações acabam influenciando na Nova Ordem 
Mundial? Do que se trata a Nova Ordem Mundial? Noam Chomsky (1996) 
destaca a história da demanda por uma Nova Ordem Mundial, através de 
planejadores, economistas e líderes religiosos, como um apelo que se deve 
principalmente ao que na época era chamado de Terceiro Mundo (atualmente 
correspondente aos países subdesenvolvidos) e suas condições de 
desigualdades (resultantes inclusive, dos processos coloniais). 
Chomsky e Coutinho (1996, p. 16) apontam como a Comissão Sul (não 
governamental), que construía uma demanda pela Nova Ordem, visava 
corresponder “à demanda de justiça, equidade e democracia do Sul na 
sociedade global” – isso porque, como é sabido, são os países do Sul que 
apresentam os índices de desigualdade mais alarmantes. O autor também 
destaca como esse apelo pelo envolvimento nas políticas de desenvolvimento 
dos países do Sul foram enfraquecendo à medida que o tempo passou. 
Posteriormente, após uma ampla análise em torno da Segunda Guerra Mundial, 
da Guerra Fria, e de uma análise política e econômica do globo, o autor se 
debruça sobre o que chama de “os contornos da Nova Ordem Mundial”, com a 
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intenção de apontar as estruturas governamentais que dinamizam padrões que 
reforçam políticas e valores de desigualdade social e econômica. 
Compreendendo as ideias de Noam Chomsky para indicar o que seria a 
Nova Ordem Mundial através da demanda existente no início da década de 1990, 
em conjunto com a análise da Guerra Fria, das questões Pós-Guerra Fria e de 
conhecimentos básicos a respeito da Segunda Guerra Mundial, é possível 
compreender os atores dessa Nova Ordem, as lideranças e a dinâmica 
econômica, que é determinante para entender os aspectos atuais de todo o 
mundo, principalmente as características de cada continente. O papel dos 
Estados Unidos e da União Europeia como lideranças globais é indiscutível, 
principalmente considerando os aspectos eurocêntricos da maioria das 
pesquisas e textos disponíveis. Esses dois protagonistas da economia global são 
fundamentais, pois explicam também os fenômenos de subdesenvolvimento em 
países do continente africano e de países emergentes da América Latina e Ásia, 
a respeito da colonização dos continentes citados e seus impactos que 
perpetuam até hoje. 
Os Estados Unidos se destacam pela economia e ainda pelo poderio 
bélico e pela capacidade de seus exércitos, o que acaba por impulsionar o país 
muito à frente ao competir em conflitos, e também economicamente. Há ainda a 
União Europeia, o Japão e a China, se destacando economicamente, já que 
atualmente, e com o fim da Guerra Fria, não é apenas a capacidade bélica que 
determina a liderança global. Além disso, existe uma outra necessidade, que é 
resultado do fim da Guerra Fria: ordenar os países de acordo com condições 
atuais, construindo então uma análise que considere países desenvolvidos e 
subdesenvolvidos, retornando assim ao ponto central do tema: a classificação 
anteriormente existente e utilizada por Chomsky, que diferia países de primeiro, 
segundo e terceiro mundos, passando a serem compreendidos como países 
desenvolvidos os países capitalistas com índices socioeconômicos mais altos, 
enquanto os países subdesenvolvidos eram os países da África, América Latina 
e Ásia (como citado anteriormente), o que indica também as áreas de influência 
política de cada país. Além disso, pode ser considerada a interpretação de 
países do Norte e países do Sul (apontada anteriormente por Chomsky, quando 
cita “a Comissão Sul”). Importante destacar aqui como a linha que divide os 
países entre norte e sul não corresponde à linha do Equador – apesar de que, 
em alguns locais do mundo, ela é bastante próxima. 
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Acompanhar os acontecimentos mundiais através da geopolítica e 
construir análises de conjuntura também é importante, para que possamos 
entender a questão da perpetuação das dinâmicas globais excludentes. Afinal, 
essa é uma das maneiras de se compreender as relações internacionais e os 
interesses dessas relações para cada país. Essa análise e pode ser construída 
também com bibliografias complementares e textos de apoio. 
TEMA 4 – O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL 
Com os entendimentos a respeito de alguns acontecimentos da Guerra 
Fria, das últimas três décadas e de como o mundo tem se desenvolvido, é 
possível reunir noções de aspectos políticos e geopolíticos da atualidade. 
Porém, esta análise também demanda a compreensão do tempo e do meio em 
que se vive, relacionando indústrias, transportes e conexões, resultados das 
revoluções tecnológicas e científicas. Como destaca Milton Santos (2007, p. 47): 
a “ideologia de racionalidade e modernizaçãoa qualquer preço ultrapassa o 
domínio industrial, impõe-se ao setor público e invade áreas até então não 
tocadas ou alcançadas só indiretamente, como a mídia e organização do 
ensino”. É importante destacar também como o meio técnico científico 
informacional está ligado diretamente ao espaço e principalmente ao capital, isso 
porque é resultado de processos ligados ao capitalismo, sistema econômico em 
que vivemos, e que também nos determina. 
Santos constrói uma análise a respeito do meio técnico-científico que 
constitui cada etapa. O autor explica como o meio técnico se torna técnico-
científico, quais fenômenos transformam os meios e como isso ocorre. Santos 
(2007, p. 48) defende a ideia de que, “desde que a produção se tornou social, 
pode-se falar em meio técnico”. Assim, refere-se de fato às técnicas de 
transformação da natureza, o que por sua vez explica que em regiões onde 
existem técnicas mais avançadas, o meio técnico se torna mais complexo. 
Considerando também uma análise histórica, Santos (2007) destaca como o 
capitalismo possibilita a junção de técnicas, ainda que apenas mais 
recentemente é possível falar de um meio técnico-científico que coincide com o 
desenvolvimento das ciências técnicas, que por sua vez é o que possibilita 
aplicar os conhecimentos científicos aos processos produtivos, mais próximos 
ao que hoje conhecemos. 
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O meio técnico-científico informacional, por sua vez, é constituído das 
técnicas desenvolvidas ao longo da história, da aplicação dos conhecimentos 
científicos à produção, e também resultado do desenvolvimento das tecnologias 
da informação – ou seja, como a informação passa a transformar o meio. Essa 
análise diz respeito aos estudos de Milton Santos para compreender o 
capitalismo, e torna esta construção um instrumento de análise do sistema 
econômico. É importante destacar também que a evolução do entendimento do 
meio ocorreu para o autor entre os anos 1980 e 1990, principalmente porque é 
na última década que os debates a respeito da globalização passam a se 
aprofundar (Maia, 2012). Essa característica também nos leva a pensar como o 
fim da guerra fria também pode fazer parte da difusão do conceito de 
globalização, por exemplo. 
Considerando este apanhado de informações a respeito do conceito 
desenvolvido por Milton Santos, se compreende como, de fato, a informação 
transforma o meio, que já passou por transformações dadas por aplicações de 
técnicas e de conhecimentos científicos. A questão passa a ser como as técnicas 
e a ciência estão impregnadas de informação (no sentido de acumulá-la e 
transmiti-la), o que faz com que o espaço atenda demandas de atores da 
economia, da cultura e da política (Santos, 1997). Esta parte final sugere então 
uma reflexão a respeito dos interesses que têm sido atendidos ao longo da 
história, principalmente no século XX. 
A questão a respeito do meio técnico-científico informacional em que 
vivemos é fundamental, não só para entender processos básicos do capitalismo, 
mas também para entender como a globalização se consolidou, já que Milton 
Santos destaca o meio a partir da técnica, da ciência e das tecnologias 
informacionais, para que o processo de globalização atinja o que hoje 
conhecemos, e para que continue se desenvolvendo. 
TEMA 5 – GLOBALIZAÇÃO 
Um processo com nome amplamente difundido na mídia, na política e, 
claro, no ensino, esse último é atingido diretamente pelos conhecimentos 
geográficos dentro das escolas. A geografia, a sociologia e as ciências 
econômicas se dedicam (cada uma ao seu modo) a estudar o fenômeno da 
globalização e seus diferentes impactos em cada área do conhecimento e do 
planeta. Para Milton Santos (2007), como vimos anteriormente, ela é resultado 
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direto do meio-técnico-científico informacional; para Eric Hobsbwan (2007), é um 
fenômeno que avança na tecnologia, na economia, na cultura e até na língua, 
mas não se mostra política e militarmente. Na discussão aberta por Hobsbawn, 
a diferença entre força e poder dos países no cenário mundial é o que comprova 
o não alcance da globalização no que diz respeito ao militarismo. 
Milton Santos, que dedicou pesquisas ao entendimento e compreensão 
do espaço, da economia, das cidades e da desigualdade, passa a dedicar-se 
também a entender a globalização como efeito do meio técnico-científico-
informacional, como visto nesta aula. Mas, afinal de contas, como Santos vê a 
globalização – e mais, que soluções aponta para as questões resultantes desse 
fenômeno? Santos (2013) descreve o mundo através da globalização em três 
perspectivas: a globalização como fábula, a globalização como perversidade e, 
por fim, uma outra globalização, como solução para os problemas apontados. 
O primeiro aborda um tema conhecido até de outras etapas de nossa 
formação escolar: “a aldeia global”, que, para o autor é um instrumento que nos 
leva a crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas 
(abordando aqui o informacional do meio técnico-científico) e encurta distância, 
por conta da noção de tempo e espaço contraídos. Porém, Milton Santos, 
durante a explicação de globalização como fábula, entende que “um mercado 
avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta 
quando na verdade, as diferenças locais são aprofundadas” (Santos, 2013, p. 
24). Com isto, quer dizer como as dinâmicas econômicas globais na verdade 
acentuam diferenças sociais sem ao menos passar por soluções para problemas 
reais e regionais, por exemplo. 
Posteriormente, Santos explora o tema da globalização através da 
perversidade. Para isso, aponta no início do século XXI problemas que perduram 
desde o século XX, como o desemprego crescente que se torna crônico. “A 
pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário 
médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os 
continentes” (Santos, 2013, p. 26). Assim, destaca como a perversidade é 
“sistêmica e está na raiz da evolução negativa da humanidade e tem relação com 
a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente 
caracterizam as ações hegemônicas” (Santos, 2013, p. 26). Com isso, o autor 
indica como os processos econômicos que sustentam o sistema capitalista são 
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um catalisador para a repetição das desigualdades ao longo da história e em 
todo o mundo, além de reforçarem as relações imperialistas e de exploração. 
Florestan Fernandes e Caio Prado Junior, em sua obra Clássicos da 
Revolução Brasileira (2000), organizada por Plínio de Arruda Sampaio Junior, 
relatam que não é possível, dentro do pensamento marxista (caso de Milton 
Santos e de diversos outros autores contemporâneos), apontar problemas 
sociais, sem apontar também as suas respectivas soluções; por isto, nesta 
lógica, Santos propõe uma nova globalização, que dá o título a uma de suas 
obras mais conhecidas, e já citada aqui. 
Por uma nova globalização, Santos propõe uma discussão mais 
elaborada a respeito de uma “globalização mais humana”, que envolva outras 
relações entre técnicas e conhecimento, já que as atuais são utilizadas como 
instrumentos para o grande capital construir a globalização perversa citada 
anteriormente. Para tanto, o autor aponta algumas questões pertinentes para o 
desenvolvimento de outra globalização, já que o fenômeno da miscigenação, em 
todos os continentes, a grande possibilidade de mudanças, e a produção de uma 
população em áreas cada vez menores, indica de forma teórica a construção de 
um novo discurso que conta com a relevância da percepção de uma 
universalidade empírica. Segundo ele, disso resulta a experiência de cada 
homem como transformadora; através desse modelo seria possível mudar a 
lógica de globalização estabelecida pelo capitalismo. 
NA PRÁTICA 
 Os conteúdos vistos nesta aula dizem respeito essencialmente aos 
últimos 70 anos, passandopela Guerra Fria, seus impactos em todo o globo, 
durante e depois de seu fim, além de concepções muito importantes, 
principalmente para a geografia brasileira. Assim em como outros momentos da 
disciplina, sugerimos a leitura de Milton Santos, que se destaca 
internacionalmente na ciência geográfica, principalmente nos temas aqui 
abordados. 
 Além disso, a bibliografia e as discussões que trouxemos oferecem um 
alicerce de conhecimento para os demais temas que ainda serão tratados nesta 
disciplina, orientando novas análises e até mesmo revisões dos conteúdos 
vistos. Entender as relações globais e seus impactos é papel do geógrafo e do 
professor de geografia, como já dito em diversos momentos desta disciplina; 
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assim, é fundamental destacar a relevância das discussões existentes a respeito 
da globalização e do meio técnico-cientifico-informacional, também porque são 
fenômenos e conceitos que nos ajudam na compreensão de atores e agentes do 
espaço geográfico, da economia, e também dos resultados dos sistemas 
predominantes. 
 Os estudos e citações referentes à Guerra Fria e à queda do muro de 
Berlim, simbolizando o fim da guerra, bem como da URSS, também são 
primordiais para sustentar conhecimentos e interpretações referentes às atuais 
relações existentes entre países dominantes no mundo, como Rússia, China, 
Estados Unidos, bem como regiões de conflitos, como Oriente Médio e mais 
recentemente Venezuela, tensionando a América Latina, por exemplo. Além 
disso, entender o processo de globalização exige leitura de diversos autores. 
Nesta aula exploramos dois escritores muito importantes para a história e para 
a geografia, mas esse assunto é tema de estudo de diversos pesquisadores, dos 
mais variados lugares do mundo. A partir dele, podemos também entender as 
relações comerciais e diplomáticas, além das relações e dos processos que 
refletem em diferentes manifestações de desigualdade social, as quais, além de 
resultado do sistema econômico vigente, também são produto de processos e 
fatos históricos que favoreceram certas regiões em detrimento de outras. 
 Faz parte também da construção do conhecimento identificar aspectos 
que podem afetar as conjunturas políticas e geopolíticas, e que fazem parte da 
realidade, mesmo que nem sempre sejam percebidos desta forma. 
FINALIZANDO 
 Por fim, após a revisão de fenômenos, fatos e análises históricas e 
geográficas diferentes, aplicados aos contextos em que vivemos, fica mais fácil 
pensar em transposição de conteúdos, análises conjunturais, construção de 
instrumentos para o conhecimento geográfico e pesquisas científicas. Além 
disso, os autores utilizados, bem como seus conceitos e correntes de 
pensamento, devem servir como base para a estruturação de linhas de raciocínio 
mais autônomas para os profissionais que se formam. Por isso, é importante 
também buscar leituras e autores em outras fontes além das disponibilizadas 
pela disciplina. Afinal, a leitura de livros, artigos e mesmo conceitos auxilia na 
dinamização do conhecimento. 
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 Relembrar fatos históricos e entendê-los como fatos, no sentido de não 
consolidar os conhecimentos sobre o alicerce de discussões rasas sobre o que 
não é mais necessário ser contestado, e utilizar disto nas análises geográficas, 
é fundamental para entender como esses fatos históricos ocorreram no espaço, 
mas também como impactaram esse espaço, lugar e principalmente território. 
 Buscar referências para entender os processos, fenômenos e fatos 
históricos aqui assinalados é fundamental na complementação de 
conhecimentos primordiais e também na construção de novas teorias e 
aplicação das relações existentes entre as ciências humanas e a necessidade 
da interdisciplinaridade, assim como foi realizado nessa aula, que utilizou de 
historiadores, sociólogos, jornalistas e geógrafos para apontar fenômenos e 
construir um estudo. 
 
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REFERÊNCIAS 
AYERBE, L. F. A Revolução cubana. São Paulo: Ed. Unesp, 2004. (Coleção 
Revoluções do Século XX). 
BRENER, J. O mundo pós-guerra fria. São Paulo: Scipione, 1994. 
CHOMSKY, N.; COUTINHO, P. R. Novas e velhas ordens mundiais. São 
Paulo: Scritta, 1996. 
HOBSBAWM, E. J. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2007. 
MAIA, L. O conceito de meio técnico-científico-informacional em Milton Santos e 
a não-visão da luta de classes. Ateliê Geográfico, v. 6, n. 4, p. 175-196, 2012. 
MARSHALL, T. Prisioneiros da geografia: 10 mapas que explicam tudo o que 
você precisa saber sobre política global. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. 
SAMPAIO JUNIOR, P. A. (Org.). Clássicos sobre a revolução brasileira. São 
Paulo: Editora Expressão Popular, 2000. 
SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 1997. 
_____. Espaço e método. São Paulo: Edusp, 2007. 
_____. Por uma economia política da cidade. São Paulo: Edusp, 2012. 
_____. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-
informacional. São Paulo: Edusp, 2013.