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Harold Bloom sobre Harry Potter

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Índice: 
1 Artigo de Harold Bloom no Wall Street Journal (7/11/2000) ............................................ 1 
2 Entrevista de Harold Bloom à revista Época (3/2/2003) .................................................... 3 
Artigo de Harold Bloom no Wall Street Journal (7/11/2000) 
35 Milhões de Compradores de Livros Podem estar errados? Sim. 
 
Por Harold Bloom 
 
Wall Street Journal, 7-11-2000 
 
Armar-se contra Harry Potter, neste momento, é emular Hamlet armando-se contra um 
mar de aborrecimentos. Opondo-se ao mar, não se irá exterminá-lo. O epifenômeno Harry 
Potter continuará, sem dúvida por algum tempo, como fez J. R. R. Tolkien, e então 
esvanecerá. 
O jornal oficial de nossa contra-cultura dominante, The New York Times, 
surpreendido pelos livros Potter, estabeleceu uma nova diretriz para sua crítica a livros não 
muito literários. Ao invés de impedir a entrada, em sua lista de best-sellers de ficção, dos 
livros de Grisham, Clancy, Crichton, King, e outra prosa de ficção vastamente popular, os 
volumes do Potter liderarão uma lista infantil separada. J. K. Rowling, a cronista de Harry 
Potter, tem, deste modo, uma não usual distinção: Ela modificou a diretriz dos fazedores de 
diretrizes. 
 
Visão imaginativa 
Leio a nova literatura infantil, quando consigo encontrar alguma de algum valor, mas 
não havia tentado Rowling até agora. Acabei de concluir as 300 páginas do primeiro livro da 
série, "Harry Potter e a Pedra Filosofal", que se passa pelo melhor de todos. Apesar do livro 
não ser bem escrito, esta não é, por si só, a deficiência crucial. É muito melhor ver o filme "O 
Mágico de Oz", do que ler o livro no qual ele foi baseado, mas até mesmo o livro possuía uma 
visão imaginativa autêntica. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" não, então deve-se procurar em 
outra parte pelo notável sucesso do livro (e de suas seqüências). Tal especulação deve seguir 
um balanço sobre como e porque Harry Potter é pedido para ser lido. 
O modelo fundamental de Harry Potter é "Tom Brown's School Days", de Thomas 
Hughes, publicado em 1857. O livro descreve a escola de Rugby presidida pelo formidável 
Thomas Arnold, relembrado agora primordialmente como o pai de Matthew Arnold, o crítico-
poeta vitoriano. Mas o livro de Hughes, ainda que totalmente legível, era realismo, não 
fantasia. Rowling pegou "Tom Brown's School Days" e reviu-o no espelho mágico de 
Tolkien. A resultante mistura de um ethos de estudante com uma liberação dos confinamentos 
dos testes realistas pode parecer estranha para mim, mas é exatamente o que milhões de 
crianças e seus pais esperam e dão as boas vindas no momento. 
No que segue, poderei agora indicar algumas das inadequações de "Harry Potter". Mas 
terei em mente que uma multidão que o está lendo simplesmente não lerá coisa superior, 
como "The Wind in the Willows", de Kenneth Grahame, ou os livros de "Alice", de Lewis 
Carroll. É melhor que eles leiam Rowling do que que eles não leiam? Eles avançarão de 
Rowling para prazeres mais difíceis? 
Rowling apresenta duas Inglaterras, mundana e mágica, dividida não por classes 
sociais, mas pela distinção entre os "perfeitamente normais" (malvados e egoístas) e os 
adeptos da feitiçaria. Os feiticeiros realmente parecem tão classe-média quanto os Trouxas, 
nome que as bruxas e bruxos dão aos comuns, já que os afeitos à magia mandam seus filhos e 
filhas à Hogwarts, uma escola de Rugby onde apenas feitiçaria e magia são ensinadas. 
Hogwarts é presidida pelo diretor Albus Dumbledore, a versão de Rowling do Gandalf de 
Tolkien. Os jovens futuros feiticeiros são exatamente como quaisquer outros Bretões em 
crescimento, apenas algo mais, sendo esporte e comida suas principais ocupações. (Sexo mal 
entra no universo de Rowling, ao menos no primeiro volume). 
Harry Potter, agora o herói de tantos milhões de crianças e adultos, é criado por 
terríveis parentes Trouxas depois que seus pais feiticeiros são mortos pelo perverso 
Voldemort, um bruxo que foi possuído, e, finalmente, tornou-se sobre-humano
1
. Precisamente 
porque o pobre Harry é legado pelos velhos feiticeiros para sua tia e tio pedantes nunca é 
explicado por Rowling, mas é um toque sutil, que sugere novamente quanto a Bretanha 
alternativa é convencional. Eles consignam seu bruxo-herói em potencial para a desagradável 
família sangüínea do mesmo, ao invés de deixá-lo ser educado por bruxos e bruxas bondosos, 
que o tomariam como um dos seus. 
A criança Harry, sofre, deste modo, o odioso tratamento dos Dursleys, os Trouxas 
mais dignos de serem chamados de "Trouxas", e do filho sádico dos mesmos, seu primo 
Dudley. Durante algumas páginas iniciais nós podemos nos sentir no filme "Tommy", de Ken 
Russell, a ópera-rock de The Who, exceto pelo fato do prematuramente sábio Harry ser muito 
mais saudável que Tommy. Um sobrevivente nato, Harry agüenta até que os feiticeiros 
resgatam-no e enviam-no a Hogwarts, para a glória de seus dias escolares. 
Hogwarts encanta muitos dos fãs de Harry, talvez porque é muito mais viva que as 
escolas que eles freqüentam, mas ela parece para mim uma academia mais enfadonha que 
grotesca. Quando as futuras bruxas e bruxos da Grã Bretanha não estão estudando como fazer 
um feitiço, eles se preocupam com bizarros esportes intra-murais. É antes um alívio quando 
Harry heroicamente sofre a provação de um confronto com Voldemort, ao qual os jovens 
admiram. 
Pode-se razoavelmente duvidar que "Harry Potter e a Pedra Filosofal" vai se provar 
um clássico na literatura infantil, mas Rowling, apesar da fraqueza estética de seu trabalho, é, 
ao menos, um índice milenar para a nossa cultura popular. Uma imensa platéia atribui-lhe 
importância semelhante àquela atribuída a estrelas do rock, ídolos de cinema, âncoras de TV e 
políticos bem sucedidos. O estilo de sua prosa, carregado de clichês, não faz exigências aos 
seus leitores. Numa única página arbitrariamente escolhida - página 4 - do primeiro livro 
Harry Potter, contei sete clichês, todos do tipo "estique as pernas". 
Como ler "Harry Potter e a Pedra Filosofal"? Porque, rapidamente, para começar, 
talvez também para finalizar. Por que lê-lo? 
Presumivelmente, se você não pode ser persuadido a ler nada melhor, Rowling terá 
que servir. Há algum redentor uso educacional para Rowling? Há para Stephen King? Por 
que ler, se o que você lê não enriquecerá mente ou espírito ou personalidade? Por tudo o que 
sei, os atuais bruxos e bruxas da Bretanha, ou América, podem oferecer uma cultura 
alternativa para mais pessoas do que comumente se imagina. 
Talvez Rowling interesse a milhões de leitores não-leitores porque eles sentem sua 
sinceridade melancólica, e querem se unir ao mundo dela, imaginário ou não. Ela alimenta 
uma vasta fome de irrealidade; isso pode ser mal? Ao menos seus fãs estão momentaneamente 
emancipados das telas, e então talvez não esqueçam completamente a sensação de virar as 
páginas de um livro, qualquer livro. 
 
 
 
1
 "a wizard gone trollish and, finally, post-human". 
Crianças Inteligentes 
E ainda assim sinto um desconforto com a mania Harry Potter, e espero que meu 
descontentamento não seja meramente um esnobismo intelectual, ou uma nostalgia de que 
uma fantasia mais literária encante (podemos dizer) crianças inteligentes de todas as idades. 
Mais de 35 milhões de compradores de livros, e sua descendência, podem estar errados? sim, 
eles estiveram, e continuarão estando enquanto persistirem com Potter. 
Uma vasta afluência de trabalhos inadequados, para adultos e para crianças, abarrotam 
as latas de lixo das eras. Num momento no qual o julgamento público não é melhor nem pior 
do que o que é proclamado pelas líderes de torcida ideológicas que destruíram o estudo 
humanístico, qualquer coisa serve. A crítica cultural irá, brevemente, introduzir Harry Potter 
em seu currículo universitário, e The New York Times continuarácelebrando outra 
confirmação do emburrecimento que ele conduz e exemplifica. 
___________________________________________________________________________ 
Harold Bloom é professor de Yale. Seu livro mais recente é "How to Read and Why" 
(Scribner 2000). 
Tradução de Danielle Crepaldi Carvalho, do artigo Can 35 Million Book Buyers Be Wrong? 
Yes., http://wrt-brooke.syr.edu/courses/205.03/bloom.html 
http://wrt-brooke.syr.edu/courses/205.03/bloom.html 
 
1 Entrevista de Harold Bloom à revista Época (3/2/2003) 
 
Edição 246 - 03/02/2003 
 
HAROLD BLOOM 
 
“Elas não são idiotas”. O crítico americano diz que as crianças devem ser apresentadas à boa 
literatura, como os adultos. 
 
LUÍS ANTÔNIO GIRON 
PERFIL 
 Dados pessoais: 
Nasceu em Nova York em 11 de julho de1930. Formou-se em Cornell (1951) e fez Ph.D. 
em Yale (1955), onde dá aulas desde 1955 
 A trajetória: 
Autor de ensaios que renovaram os estudos literários, o principal deles é Angústia da 
Influência, de 1973. 
 Livros: 
27, o primeiro publicado em 1959 
 
Harold Bloom é o crítico literário mais popular do mundo. Em 2000, fez furor ao publicar, no 
The Wall Street Journal, um ensaio em que condenava os livros com o personagem Harry 
Potter, da inglesa J.K. Rowling. No Brasil, acaba de sair a primeira parte da coletânea Contos 
e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes (Objetiva, 142 páginas, R$ 21,90). Nela, 
Bloom coleciona um elenco de textos que considera fundamentais. Seu novo livro, Gênio – 
Um Mosaico de Cem Mentes Exemplares e Criativas, lançado em 2001, terá edição brasileira 
em maio. Em quase 1.000 páginas, a obra busca nomes de gênios literários. Bloom falou 
a ÉPOCA por telefone, de New Haven, Connecticut, onde se recupera de uma operação e 
prepara dois livros: um sobre o personagem Hamlet e outro sobre o cânone da crítica – do 
qual ele já faz parte, mas não se inclui. 
ÉPOCA – Como o senhor analisa o sucesso da literatura infantil atual? 
Harold Bloom – É um fenômeno de mercado. A maior parte dos livros para crianças à venda 
nas livrarias é idiota, não serve para nada, muito menos para suprir a necessidade de leitura de 
uma criança ou do leitor de qualquer faixa etária. Livros estão sendo confeccionados para 
vender e se tornar sucessos no cinema e na televisão. Isso nada mais é que uma máscara que 
oculta o rosto cada vez mais estúpido da era da informação. Os tais livros infantis ajudam a 
destruir a cultura literária. 
ÉPOCA – Sua opinião mudou em relação à série Harry Potter? 
Bloom – Odeio Harry Potter. É bruxaria barata reduzida a aventura. É prejudicial ao leitor. 
Não tem densidade. A escrita é horrível. Lancei a polêmica, sabendo que eu atuaria como 
Hamlet, que defronta com um oceano de aborrecimentos. Continuo me incomodando com os 
fãs do pequeno feiticeiro. 
ÉPOCA – Existe solução para incentivar a leitura entre os jovens? 
Bloom – Não vejo diferença entre literatura adulta e infantil. Existe, sim, uma diferença 
essencial entre boa e má literatura. A solução está na boa leitura, em todas as idades. A 
primeira idéia da coletânea que organizei era criar um compêndio de boa leitura, que se 
intitularia O Leitor Solitário. Aos poucos, me dei conta de que estava fazendo um livro para 
jovens, com poemas e histórias simples, sem prejuízo da qualidade. Percebi então que poetas 
como John Keats e John Donne poderiam servir para alimentar a imaginação da juventude, 
assim como os contos de C.K. Chesterton e Robert Louis Stevenson. 
ÉPOCA – Mas por que existe essa separação entre literatura para pequenos e grandes? 
Bloom – Diferenciar livros para crianças e para adultos foi útil na divisão do mercado do 
século passado, mas hoje encobre um fato muito grave: o de que a estupidez está acabando 
com a cultura literária. As crianças de hoje não são mais burras que as de antigamente. O 
problema está em vencer modismos e chamar a atenção para bons exemplos literários. Talvez 
a queda dos índices de leitura se deva aos maus exemplos que os pais estão dando a seus 
filhos. 
ÉPOCA – Há uma continuidade entre seus três trabalhos – Angústia da Influência 
(1973), O Cânone Ocidental (1994) e o recente Gênio? 
Bloom – Tenho escrito um só livro, que continua no próximo volume. Talvez por isso eu 
desagrade aos colegas de universidade. Nunca termino e eles ficam irritados. Minha obra 
começou com a preocupação de distinguir os poetas fortes dos fracos. Os fortes fundam uma 
série e brigam entre si. Os fracos são descartados pela história. A literatura não passa de uma 
luta entre fracos e fortes. A crítica, como gênero literário, envolve batalhas entre bons e maus. 
Tracei em Angústia da Influência uma genealogia de poetas fortes. A cultura politicamente 
correta e as feministas detestaram o livro, alegando que eu privilegiava autores mortos, 
brancos e ocidentais. Dos anos 70 para cá, os valores da cultura literária estão se diluindo e 
maus autores passam a virar importantes quando não são. Por isso resolvi estabelecer um 
cânone, uma lista de obras fundamentais. Gênio consiste em um mosaico de referências 
pessoais. Para mim, a leitura é um gesto particular. Minha função como crítico literário é 
oferecer um conhecimento menos teórico do que prático da literatura. Meu objetivo é levar as 
pessoas a ler. 
ÉPOCA – Como recuperar o conceito de genialidade em tempos tão céticos como os de 
hoje? 
Bloom – A noção de gênio está fora de moda há muito tempo na universidade, desde meados 
do século XIX. Os intelectuais a desprezam, por ser um resquício do espiritualismo 
romântico. Estou tentando restaurar uma idéia arraigada na história do Ocidente há milênios. 
No livro, tratei de buscar a genealogia dos gênios em todos os tempos e todos os lugares. 
Resultou no maior volume que já produzi em minha vida, com cerca de 1.000 páginas. E foi 
mal recebido nos Estados Unidos. Há um preconceito dos intelectuais americanos em relação 
à genialidade. O que vale aqui é a cultura 'do homem comum'. Genialidade é algo antipático 
para a cidadania americana. Gênio é uma palavra com duplo sentido e vem dos gregos, 
fundamentando nossa tradição cultural. Tanto designa uma família de escritores talentosos ao 
longo da História, ligados por características semelhantes, como indica o daemon, a entidade 
divina da inspiração que todos carregamos dentro de nós. É um conteúdo sagrado que não 
podemos ignorar de forma alguma, mesmo que os acadêmicos insistam que ele não existe. 
ÉPOCA – Quem são os grandes gênios da literatura? 
Bloom – Escritores como Shakespeare, Dante, Cervantes e Milton não têm rival na história 
literária. São escritores tão fortes que suas obras e personagens alteraram os rumos da história 
literária futura. Continuamos vivendo sob seu impacto. Eles são dotados de poderes literários 
extraordinários. Chamá-los de gênios, portanto, é fazer-lhes justiça. 
ÉPOCA – O senhor costuma dizer: 'Shakespeare lê você de um modo muito mais 
completo do que você pode lê-lo'. Isso não é subestimar a capacidade do leitor? 
Bloom – Não. O que quero dizer é que a leitura de um gênio como Shakespeare proporciona 
diversos registros. O iluminista Samuel Johnson, um de meus críticos favoritos, dizia que o 
leitor comum pode aproveitar Shakespeare a seu modo, no estágio intelectual em que se 
encontra. A leitura que ele fizer de uma peça como Hamlet terá sido válida se ele tirar 
proveito dela. Os grandes gênios são espelhos nos quais os leitores se miram e acabam 
encontrando a si próprios. 
ÉPOCA – O que define um gênio? 
Bloom – É o autor capaz de mudar a História. Aliás, não acredito em História. Para mim, só 
existem biografias. As obras literárias não podem ser consideradas apenas como meras 
manchas nas páginas do tempo. Em tal corrente de biografias estendidas através da linha 
cronológica, existe uma família de iluminados que compartilham características como 
naturalidade, intensidade, exuberância e loucura. Gênios são aqueles que nãose submetem às 
leis de seus predecessores. 
ÉPOCA – O senhor inclui autores orientais em Gênio? 
Bloom – Tentei ampliar o cânone incluindo agora também Oriente, Norte e Sul. Selecionei 
100 autores geniais contra os 26 que havia escolhido para O Cânone Ocidental. Na nova lista 
está, por exemplo, a escritora japonesa Murasaki Shikibu (973-1025). Ela guarda um ar de 
família com Jane Austen quando escreve histórias sobre o desprezo amoroso. Também incluí 
a Bíblia e o Alcorão. Nestes tempos em que as religiões orientais são satanizadas, acho 
fundamental chamar a atenção para a qualidade literária de Maomé. O Alcorão é um dos mais 
belos poemas que conheço. As tradições se mesclam. A Bíblia, que foi escrita por muitos 
autores, e o Alcorão fazem parte de uma tradição comum, o cânone mundial. 
 ÉPOCA – O senhor cita Fernando Pessoa entre os grandes escritores no Cânone 
Ocidental. Agora inclui Machado de Assis. Por que ele é gênio? 
Bloom – Leio em português com certa fluência. Gosto muito de José Saramago, somos bons 
amigos, embora eu não concorde com a posição dele em relação à guerra contra o terrorismo. 
Ele é comunista, respeito as idéias dele, mas não concordo. É um bom escritor. Em poesia, a 
língua portuguesa legou Camões e Fernando Pessoa. Na ficção, adoro Eça de Queirós e 
Machado de Assis. Considero Machado o maior gênio da literatura brasileira do século XIX. 
Ele reúne os pré-requisitos da genialidade: exuberância, concisão e uma visão irônica ímpar 
do mundo. Procuro um grande poeta brasileiro vivo. Ainda não o encontrei. Conheço Carlos 
Drummond de Andrade e ouvi falar de Guimarães Rosa, que adoraria ler. Não sei se terei 
tempo. 
 
www.secrel.com.br/jpoesia/hbloom.html

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