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lfm-apn02.pdf APÊNDICE B – ANALOGIA DA VIGA CONJUGADA Este apêndice apresenta a Analogia da Viga Conjugada como forma alternativa para deduzir soluções fundamentais de vigas. Essa metodologia para análise de vigas está baseada em uma comparação entre as equações diferenciais de equilíbrio e de compatibilidade que regem o comportamento de barras à flexão. Essas equações foram deduzidas no capítulo 3 e estão mostradas na tabela B.1 de forma compara- tiva. A analogia entre as equações diferenciais foi observada inicialmente por Mohr (1835-1918), e por isso esse método é conhecido como Processo de Mohr (Süssekind 1977-2). Tabela B.1 – Comparação entre equações diferenciais de equilíbrio e compatibilidade para flexão de vigas (vide capítulo 3). Equações de Equilíbrio Equações de Compatibilidade )(xQ dx dM = Eq. (3.9) )(x dx dv θ= Eq. (3.1) )(2 2 xq dx Md = Eq. (3.10) EI xM dx vd )( 2 2 = Eq. (3.20) Nota-se na tabela B.1 que o papel que M(x) faz nas equações de equilíbrio é o mesmo que o papel que v(x) exerce nas equações de compatibilidade, isto é, M(x) é análogo a v(x). Observa-se também que Q(x) é análogo a θ(x) e q(x) a M(x)/EI. A idéia original de Mohr em explorar essa analogia está em utilizar as equações de compatibilidade da viga real como se fossem “equações de equilíbrio” de uma viga fictícia, chamada de viga conjugada, com carregamento qC(x) = M(x)/EI, esforço cor- tante QC(x) = θ(x) e momento fletor MC(x) = v(x), tal como indica a tabela B.2. Com base nessa analogia, a resolução do problema do equilíbrio da viga conjugada é equivalente à resolução do problema da compatibilidade da viga real. Como a imposição de condições de equilíbrio é, em geral, mais simples e intuitiva do que a imposição de condições de compatibilidade, a analogia da viga conjugada se apre- senta como uma alternativa para a imposição de condições de compatibilidade em vigas. 314 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha Tabela B.2 – Analogia da viga conjugada. VIGA REAL VIGA CONJUGADA Carregamento q(x) qC(x) = M(x)/EI Esforço cortante Q(x) QC(x) = θ(x) Momento fletor M(x) MC(x) = v(x) Rotação θ(x) Deslocamento transversal v(x) A analogia da viga conjugada tem diversas aplicações na análise de vigas. As principais são: • Cálculo de deslocamentos em vigas. • Análise de vigas hiperestáticas. • Determinação de reações de engastamento de vigas para carregamentos ar- bitrários. • Dedução de coeficientes de rigidez de barras isoladas. Todas essas aplicações podem ser analisadas utilizando o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV), tal como foi mostrado no capítulo 4. Entretanto, a analogia da viga conjugada é uma alternativa mais simples de ser utilizada em muitos casos, e tam- bém muito útil quando a viga tem uma rigidez à flexão variável, isto é, quando EI não é constante. Nota-se que em todos os exemplos tratados no corpo deste livro só são considera- das barras prismáticas, isto é, barras com seção transversal que não variam ao lon- go do seu comprimento. Este apêndice fornece uma metodologia para dedução de soluções fundamentais de barras com inércia variável. Como visto nos capítulos 6, 7 e 9, o Método dos Deslocamentos se baseia em soluções fundamentais de barras isoladas (reações de engastamento de barras e coeficientes de rigidez de barras). Portanto, este apêndice estende a aplicação do Método dos Deslocamentos e do Método da Rigidez Direta para barras com inércia variável. B.1. Conversão de condições de apoio A aplicação da analogia da viga conjugada requer a conversão das restrições de apoio da viga real para a viga conjugada. As restrições de apoio, que são condi- ções de compatibilidade da viga real, são expressas em termos de deslocamentos transversais v e de rotações θ. Na viga conjugada, as restrições relativas a deslo- camentos transversais devem ser convertidas para restrições com respeito a mo- Luiz Fernando Martha – Analogia da Viga Conjugada – 315 mentos fletores MC, assim como as restrições que se referem a rotações são tradu- zidas para restrições impostas a esforços cortantes QC. A tabela B.3 mostra a con- versão das possíveis restrições de apoio em vigas (reais) para as correspondentes restrições de apoio na viga conjugada em termos de momentos fletores e esforços cortantes. Tabela B.3 – Conversão de restrições da apoio para a viga conjugada. apoio simples com momento aplicado MC = ρ apoio simples interno apoio simples engaste extremidade livre apoio simples com recalque vertical engaste com recalque vertical engaste com recalque rotação rótula interna v = ρ v = ρ rótula interna QC = ρ apoio simples extremidade livre engaste extremidade livre com momento aplicado extremidade livre com força aplicada apoio simples interno MC = ρ QC = ρ MC = ρ MC = ρ θesq = θdir v = 0 QCesq = QCdir MC = 0 θesq ≠ θdir v ≠ 0 QCesq ≠ QCdir MC ≠ 0 VIGA CONJUGADA VIGA REAL v = ρ v = ρ θ = ρ θ = ρ v = 0 θ ≠ 0 v = 0 θ = 0 v ≠ 0 θ ≠ 0 MC = 0 QC ≠ 0 MC = 0 QC = 0 MC ≠ 0 QC ≠ 0 apoio simples interno com recalque vertical rótula interna com momento aplicado θesq = θdir QCesq = QCdir MC = ρ v = ρ MC = ρ engaste deslizante v ≠ 0 θ = 0 engaste deslizante MC ≠ 0 QC = 0 316 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha Na tabela B.3, os recalques de apoio impostos na viga real têm o sentido positivo, de acordo com a convenção de sinais adotada: deslocamento transversal v é positi- vo de baixo para cima e rotação θ é positiva no sentido anti-horário. Os corres- pondentes momentos fletores MC e esforços cortantes QC também são positivos na viga conjugada. Dessa forma, quando um recalque vertical positivo é imposto na viga real, o momento que é aplicado na viga conjugada faz com que as fibras infe- riores fiquem tracionadas na seção de aplicação (isso corresponde a um momento fletor positivo). Analogamente, quando uma rotação positiva é imposta como re- calque de apoio na viga real, a força aplicada na viga conjugada provoca um esfor- ço cortante positivo na seção de aplicação. B.2. Roteiro do processo de Mohr Para se analisar uma viga pelo processo de Mohr, deve-se adotar a seguinte se- qüência de procedimentos: 1° Conversão de restrições de apoio da viga real para a viga conjugada confor- me indicado na tabela B.3. 2° Determinação do aspecto do diagrama de momentos fletores da viga real. No caso de vigas isostáticas, o diagrama é determinado utilizando apenas condições de equilíbrio. Para vigas hiperestáticas, o traçado do aspecto cor- reto do diagrama de momentos fletores é muito importante. Para tanto, de- ve-se identificar que fibras são tracionadas pelos momentos fletores nas ex- tremidades de todas as barras. O traçado da elástica (configuração deforma- da) pode auxiliar nessa identificação. Dessa forma, o diagrama dos momen- tos fletores fica parametrizado pelos valores dos momentos fletores nas ex- tremidades das barras. 3° Determinação do carregamento na viga conjugada, qC = M/EI. A considera- ção de barras com rigidez à flexão EI variável (inércia variável) ao longo do comprimento da viga é considerada no carregamento da viga conjugada. 4° Imposição de condições de equilíbrio da viga conjugada. Isso equivale a im- por condições de compatibilidade da viga real. B.3. Cálculo de deslocamentos em vigas isostáticas O tipo de aplicação mais simples da analogia da viga conjugada é a determinação de deslocamentos (ou rotações) em vigas. Isso pode ser aplicado a qualquer tipo de viga, isostática ou hiperestática. Entretanto, a definição do carregamento na viga conjugada depende do conhecimento do diagrama de momentos fletores da viga real. No caso de uma viga isostática, esse diagrama é determinado diretamen- te. Para uma viga hiperestática, a determinação do diagrama de momentos fletores Luiz Fernando Martha – Analogia da Viga Conjugada – 317 requer uma análise anterior. Essa análise pode ser feita por qualquer método, in- clusive pela analogia da viga conjugada, conforme mostrado na próxima seção. Nesta seção dois exemplos isostáticos são analisados. O primeiro exemplo, mostrado na figura B.1, é o de uma viga engastada e em ba- lanço com uma força vertical aplicada na extremidade livre. O objetivo desse e- xemplo é calcular o deslocamento transversal vB e a rotação θB da seção na extre- midade livre. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA x M(x) MA = –Pl – MA = 0 QA = 0 MB ≠ 0 QB ≠ 0 C C C C Pl/EI MB = –(Pl2/2EI)⋅(2l/3) = –Pl3/3EI C vB = –Pl3/3EI ∴∴∴∴ A B P vA = 0 θA = 0 vB ≠ 0 θB ≠ 0 Pl/2EI l A B l 2l/3 MB VB C C QB = –Pl2/2EI C θB = –Pl2/2EI ∴∴∴∴ vB θB Pl3/3EI Pl2/2EI Figura B.1 – Cálculo de deslocamento e rotação em extremidade livre de balanço. O diagrama de momentos fletores da viga real da figura B.1 é triangular, tracio- nando as fibras superiores (negativo pela convenção adotada). Isso acarreta em um carregamento negativo (de cima para baixo) que varia linearmente na viga con- jugada. As conversões das condições de apoio também estão indicadas na figura B.1. Vê-se que a viga conjugada também é isostática. Isso vai sempre acontecer: uma viga real isostática acarreta em uma viga conjugada isostática. Como a viga conjugada é estati- camente determinada e, portanto, tem somente uma solução para as equações de equilíbrio, pode-se concluir que a viga real isostática tem uma única solução que satisfaz as condições de compatibilidade (assim como tem uma única solução que satisfaz as condições de equilíbrio). O deslocamento transversal e a rotação da seção na extremidade livre do balanço são calculados determinando-se, por equilíbrio, o momento fletor e o esforço cor- tante na seção correspondente da viga conjugada. O momento fletor é negativo pois traciona as fibras superiores nessa seção. Portanto, vB é negativo, isto é, de cima para baixo (o que era de se esperar). O esforço cortante nessa seção também negativo, acarretando um uma rotação θB no sentido horário. 318 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha O segundo exemplo isostático é a viga biapoiada mostrada na figura B.2. O objeti- vo é calcular o deslocamento transversal vB no centro da viga e a rotação θC na ex- tremidade direita. Nesse exemplo, os momentos fletores na viga real tracionam as fibras inferiores da viga, resultando em um carregamento positivo (de baixo para cima) na viga conjugada. O deslocamento vB é determinado pelo cálculo do mo- mento fletor no ponto B da viga conjugada, e a rotação θC é determinada pelo cál- culo do esforço cortante em C. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA x M(x) MB = +Pl/4 + MA = 0 QA ≠ 0 MC = 0 QC ≠ 0 C C C C Pl/4EI MB = –(Pl2/16EI)⋅(l/2) + (Pl2/16EI)⋅(l/6) C vB = –Pl3/48EI ∴∴∴∴ A B P vA = 0 θA ≠ 0 vC = 0 θC ≠ 0 Pl2/16EI l/2 l/3 QC = +Pl2/16EI C θC = +Pl2/16EI ∴∴∴∴ vB θC l/2 l/2 l/2 C A B l/2 l/2 C l/3l/3 Pl2/16EI Pl2/16EI Pl2/16EI l/2 l/2 MB = –Pl3/48EI C l/6 l/6 Figura B.2 – Cálculo de deslocamento no centro de viga biapoiada e de rotação na extremidade. B.4. Análise de vigas hiperestáticas Duas vigas hiperestáticas são analisadas nesta seção. A primeira é uma viga com dois vãos mostrada na figura B.3, submetida a uma carga uniformemente distribu- ída. O objetivo é determinar o diagrama de momentos fletores. Conforme comentado na seção B.2, a solução de uma viga hiperestática pela analo- gia da viga conjugada fica facilitada se o aspecto do diagrama de momentos fleto- res da viga real for determinado a priori. No caso da viga da figura B.3, os momen- tos fletores nas extremidades são nulos, e o momento fletor MB na seção do apoio central é imaginado tracionando as fibras superiores. Isto é, é feita uma suposição que o momento em B é negativo. Se a análise resultar em um valor para MB nega- tivo, isso significa que o momento fletor em B traciona as fibras inferiores. No e- xemplo isso não ocorre, confirmando que em B as fibras superiores estão traciona- das. O restante do diagrama de momentos fletores da viga da figura B.3 fica determi- nado em função do momento fletor MB. Nos dois vãos as parábolas do segundo Luiz Fernando Martha – Analogia da Viga Conjugada – 319 grau, correspondentes à carga uniformemente distribuída, são “penduradas” a partir das linhas retas que unem os valores nulos em A e C com o valor negativo em B. Dessa forma, o diagrama de momentos fletores fica parametrizado por MB. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA –MB – MB/EI MA = 0 QA ≠ 0 MB = 0 QB = QB diresq MC = 0 QC ≠ 0 C C C C C C C MB = 0 ⇒ – (MB/EI)·(6/2)·2 + (36/EI)·6·(2/3)·3 + VC·6 = 0 C MB = 27 kNm ∴∴∴∴ (MB/EI)·(3/2) A B C vA = 0 θA ≠ 0 vB = 0 θB = θB dir esq vC = 0 θC ≠ 0 MA = 0 ⇒ – (MB/EI)·(3/2)·2 – (MB/EI)·(6/2)·5 + C 9 36 A B C MB/EI 36/EI 9/EI A B C (MB/EI)·(6/2) (9/EI)·3·(2/3) VC C C (9/EI)·3·(2/3)·1.5 + (36/EI)·6·(2/3)·6 + VC·9 = 0 C 1,5 2 1 2 + 1,5 3 3 (36/EI)·6·(2/3) A B C 3 m 6 m 8 kN/m Figura B.3 – Solução de viga countínua de dois vãos com carregamento uniformemente distribuído. Uma observação importante é que a viga conjugada é hipostática. É sempre assim: uma viga real hiperestática acarreta em uma viga conjugada hipostática. Isso indica que a viga real hiperestática tem infinitas soluções que satisfazem as condições de com- patibilidade isoladamente, assim como tem infinitas soluções que satisfazem as condições de equilíbrio isoladamente (existem infinitos possíveis valores de MB que satisfazem as equações de equilíbrio da viga real). A solução correta é aquela que satisfaz simultaneamente as condições de equilíbrio e de compatibilidade. Com base na analogia da viga conjugada, a solução correta é aquela que satisfaz as condições de equilíbrio na viga conjugada pois estas substituem as condições de compatibilidade na viga real. Como a viga conjugada é hipostática, o carregamen- to da viga conjugada tem que ser auto-equilibrado pois não existem vínculos ex- ternos suficientes para garantir o equilíbrio em uma estrutura hipostática. Dessa forma, a determinação do valor do momento fletor MB é feita por equilíbrio na viga conjugada, tal como indica a figura B.3. Para tanto, um macete adotado consiste em decompor o carregamento da viga conjugada em parcelas triangulares 320 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha e parabólicas. Isso facilita muito os cálculos, evitando que se determine o ponto no vão onde o carregamento muda de sentido. As resultantes das parcelas triangula- res e parabólicas do carregamento estão indicadas na figura, assim como suas posi- ções. Observa-se que a área de uma parábola simétrica (como as da figura B.3) é igual a 2/3 do produto de sua base pela sua altura. Duas equações de equilíbrio na viga conjugada são consideradas para o cálculo de MB. Essas equações impõem momento fletor nulo nos pontos B e A. As duas in- cógnitas são MB e a reação do apoio da direita (cujo valor final não está indicado). O segundo exemplo de análise de uma viga hiperestática pelo processo de Mohr é a viga com dois vãos mostrada na figura B.4, que sofre um recalque para baixo no apoio da esquerda. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA MC VA vA = –ρ VB θA ≠ 0 vB = 0 θB = θB dir esq vC = 0 θC = 0 x M(x) –MB +MC – + – MC/EI MB/EI MA =-ρ QA ≠ 0 MB = 0 QB = QBdir esq MC = 0 QC = 0 C C C C C C C MC/EI MB/EI MB = 0 ⇒ MC = MB / 2 C MB = 80 kNm MC = 40 kNm ∴∴∴∴ MC⋅b/2EI MBb/2EI 2b/3 b/3 VCρ = 0,04 m ρ ρ ΣMA = 0 ⇒ C MBa/2EI 2a/3 a = 6 m b = 4 m 0 3 2 2323 2 2 = +⋅+ +⋅−⋅− ba EI bMba EI bMa EI aM CBBρ EI = 3,6x104 kNm2 ρ = 0,04 m a = 6 m b = 4 m a A B C A B C EI = 3,6x104 kNm2 Figura B.4 – Solução de viga contínua de dois vãos com recalque de apoio. O traçado do aspecto do diagrama de momentos fletores da viga real da figura B.4 é feito com base na elástica (configuração deformada) da viga. Vê-se na figura que a elástica tem um valor negativo em A (que corresponde ao recalque de apoio im- posto), passa por zero em B e chega em zero em C com uma tangente horizontal (engaste). A forma mais natural da viga se deformar é a mostrada na figura, com uma concavidade voltada para baixo no primeiro trecho e uma concavidade volta- da para cima no trecho final próximo ao engaste. No ponto onde há a mudança de concavidade o momento fletor é nulo (d2v/dx2 = M/EI). O momento fletor no pri- meiro trecho traciona as fibras superiores e no trecho final traciona as fibras inferi- ores. Portanto, conclui-se que o momento fletor em A é nulo, em B é negativo, e Luiz Fernando Martha – Analogia da Viga Conjugada – 321 em C é positivo, resultando no aspecto do diagrama de momentos fletores mostra- do na figura B.4. O diagrama é formado por trechos retos pois não existem cargas distribuídas (d2M/dx2 = q = 0). Assim, o diagrama fica parametrizado pelos valores de MB e MC. A determinação desses valores é feita com base nas equações de equi- líbrio mostradas na figura B.4. B.5. Determinação de reações de engastamento de vigas Uma aplicação importante da analogia da viga conjugada é a determinação de rea- ções de engastamento perfeito de barras submetidas a cargas arbitrárias. Para e- xemplificar isso, considere a viga da figura B.5 que é engastada na esquerda e arti- culada na direita. Esta viga tem solução determinada no capítulo 4 (vide figura 4.41), sendo que a articulação aqui está sendo considerada como um apoio do se- gundo gênero, mas que é equivalente a ter o nó engastado e a barra com rótula na direita. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA –MA – MA/EI MA = 0 QA ≠ 0 MB = 0 QB ≠ 0 C C C C MB = 0 ⇒ + (MA·l/2EI)·(2l/3) C MA = ql2/8 ∴∴∴∴ vA = 0 θA = 0 vB = 0 θB ≠ 0 ql2/8 A B MA/EI ql2/8EI MAl/2EI + A B l q 2l/3 l/2 l/2 (ql2/8EI)·(2l/3) – (ql2/8EI)·(2l/3)·(l/2) = 0 MA VA VB MB = 0 ⇒ VA = (MA/l) + (ql2/2) ΣFy = 0 ⇒ VB = ql – VA VA = 5ql/8 VB = 3ql/8 Figura B.5 – Cálculo de reações de apoio de viga engastada e simplesmente apoiada. A solução da viga da figura B.5 é semelhante à solução da viga da figura B.3. O momento fletor em A é considerado tracionando as fibras superiores. O equilíbrio 322 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha da viga conjugada mostra que isso tem que ser assim mesmo pois o carregamento na viga conjugada tem que ser auto-equilibrado. O segundo exemplo de determinação de reações de engastamento de barra consi- dera o caso de rigidez à flexão (inércia) variável, tal como mostrado na figura B.6. A viga real dessa figura é engastada na esquerda, articulada na direita e está sub- metida a uma força concentrada no meio do vão. Além disso, a seção transversal da metade esquerda da viga tem momento de inércia igual a 2I, e a seção transver- sal da outra metade tem momento de inércia igual a I. Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA x M(x) MB + MA = 0 QA = 0 MC = 0 QC ≠ 0 C C C C MB/EI MA = 2Pl/9∴∴∴∴ A B P vA = 0 θA = 0 vC = 0 θC ≠ 0 l/2 l/3 l/2 l/2 l/2 C A B l/2 l/2 C l/3l/3 MBl/8EI MBl/4EI l/6 l/6 MA VA VB 2I I Pl/4 –MA MB/2EI MA/2EI – MB/EI A B l/2 l/2 C MB/2EI MA/2EI l/3 MAl/8EI MC = 0 ⇒ C 0 34628328 =⋅+ +⋅− +⋅ l EI lMll EI lMll EI lM BBA MB = Pl/4 – MA/2 MB = 5Pl/36 Figura B.6 – Cálculo de reações de apoio de viga engastada e simplesmente apoiada com inércia variável. A solução da viga da figura B.6 é semelhante à solução da viga anterior. A princi- pal diferença é que o carregamento na primeira metade da viga conjugada é igual ao diagrama de momentos fletores da viga real dividido por 2EI. Isso provoca uma descontinuidade na taxa de carregamento distribuído no ponto B. A figura B.6 também mostra a decomposição do carregamento na viga conjugada e a solu- ção por equilíbrio nessa viga. Luiz Fernando Martha – Analogia da Viga Conjugada – 323 B.6. Dedução de coeficientes de rigidez de barras Finalmente, esta seção exemplifica a utilidade da analogia da viga conjugada para determinação de coeficientes de rigidez de barra. A figura B.7 ilustra a determina- ção de coeficientes de rigidez à rotação de uma barra sem articulação. Essa solução foi obtida pelo Princípio dos Deslocamentos Virtuais no capítulo 4 (vide figura 4.30). Diagrama de momentos fletores: VIGA REAL VIGA CONJUGADA MB x M(x) –MA +MB – + MB/EI MA/EI MA = 0 QA = 0 MB = 0 QB = +ρ C C C C MB/EI MA/EI MB = 0 ⇒ MA = MB/2 C MB = (4EI/l)·ρ A B vA = 0 θA = 0 vB = 0 θB = +ρ ρ MAl/2EI ΣFy = 0 ⇒ C l VB MA VA θB = ρ ρ MBl/2EI l 2l/3 l/3 MA = (2EI/l)·ρ ΣM = 0 ⇒ VA = VB = (MA+MB)/l ΣFy = 0 ⇒ VB = VA VA = VB = (6EI/l2)·ρ Figura B.7 – Cálculo de coeficientes de rigidez à rotação de viga biengastada. lfm-cap01.pdf 1. INTRODUÇÃO O projeto e a construção de estruturas é uma área da Engenharia Civil na qual mui- tos engenheiros civis se especializam. Estes são os chamados engenheiros estrutu- rais. A Engenharia Estrutural trata do planejamento, projeto, construção e manu- tenção de sistemas estruturais para transporte, moradia, trabalho e lazer. Uma estrutura pode ser concebida como um empreendimento por si próprio, como no caso de pontes e estádios de esporte, ou pode ser utilizada como o esqueleto de outro empreendimento, como no caso de edifícios e teatros. Uma estrutura pode ainda ser projetada e construída em aço, concreto, madeira, pedra, materiais não convencionais (materiais que utilizam fibras vegetais, por exemplo), ou novos ma- teriais sintéticos (plásticos, por exemplo). Ela deve resistir a ventos fortes, a solici- tações que são impostas durante a sua vida útil e, em muitas partes do mundo, a terremotos. O projeto estrutural tem como objetivo a concepção de uma estrutura que atenda a todas as necessidades para as quais ela será construída, satisfazendo questões de segurança, condições de utilização, condições econômicas, estética, questões ambi- entais, condições construtivas e restrições legais. O resultado final do projeto es- trutural é a especificação de uma estrutura de forma completa, isto é, abrangendo todos os seus aspectos gerais, tais como locação, e todos os detalhes necessários para a sua construção. Portanto, o projeto estrutural parte de uma concepção geral da estrutura e termina com a documentação que possibilita a sua construção. São inúmeras e muito com- plexas as etapas de um projeto estrutural. Entre elas está a previsão do comporta- mento da estrutura de tal forma que ela possa atender satisfatoriamente às condi- ções de segurança e de utilização para as quais ela foi concebida. A análise estrutural é a fase do projeto estrutural em que é feita a idealização do comportamento da estrutura. Esse comportamento pode ser expresso por diversos parâmetros, tais como pelos campos de tensões, deformações e deslocamentos na estrutura. De uma maneira geral, a análise estrutural tem como objetivo a deter- minação de esforços internos e externos (cargas e reações de apoio), e das corres- pondentes tensões, bem como a determinação dos deslocamentos e corresponden- tes deformações da estrutura que está sendo projetada. Essa análise deve ser feita para os possíveis estágios de carregamentos e solicitações que devem ser previa- mente determinados. O desenvolvimento das teorias que descrevem o comportamento de estruturas se deu inicialmente para estruturas reticuladas, isto é, para estruturas formadas por 2 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha barras (elementos estruturais que têm um eixo claramente definido). Estes são os tipos mais comuns de estruturas, tais como a estrutura de uma cobertura ou o es- queleto de um edifício metálico. Mesmo em casos de estruturas nas quais nem to- dos os elementos estruturais podem ser considerados como barras (como é o caso de edifícios de concreto armado), é comum analisar o comportamento global ou parcial da estrutura utilizando-se um modelo de barras. Este livro está direcionado para a análise de estruturas reticuladas estaticamente indeterminadas, isto é, para a análise de estruturas hiperestáticas. Isso inclui as treli- ças (estrutura com todas as barras articuladas em suas extremidades), os pórticos ou quadros (planos e espaciais) e as grelhas (estruturas planas com cargas fora do plano). Nele são tratados principalmente os métodos clássicos da análise de estru- turas hiperestáticas: o Método das Forças e o Método dos Deslocamentos. Nesse con- texto, a análise considera apenas cargas estáticas e admite-se um comportamento linear para a estrutura (análise para pequenos deslocamentos e materiais elástico- lineares). Considera-se como pré-requisito para a leitura deste livro conhecimentos de Mecâ- nica Geral (Estática), Análise de Estruturas Isostáticas (estruturas estaticamente determinadas) e Resistência dos Materiais. Parte-se do princípio de que o leitor entende os conceitos básicos de equilíbrio estático, esforços internos, tensões e de- formações. Diversos livros-texto abordam esses assuntos. Como sugestão para leitura, recomenda-se na área de Estática os livros de Hibbeler (1999) ou Meriam e Kraige (1999), na área de Análise de Estruturas Isostáticas os livros de Campanari (1985) ou Süssekind (1977-1), e na área de Resistência dos Materiais os livros de Beer e Johnston (1996), Féodosiev (1977), Hibbeler (2000) ou Timoshenko e Gere (1994). 1.1. Breve histórico sobre a Engenharia Estrutural Timoshenko (1878-1972), um dos pais da Engenharia Estrutural moderna, descreve em seu livro História da Resistência dos Materiais (Timoshenko 1983) um histórico do desenvolvimento teórico sobre o comportamento de estruturas. A Engenharia Es- trutural vai encontrar raízes, se bem que de uma forma empírica, nos grandes mo- numentos e pirâmides do antigo Egito e nos templos, estradas, pontes e fortifica- ções da Grécia e da Roma antigas. O início da formalização teórica da Engenharia Estrutural é atribuído à publicação do livro Duas Ciências, de Galileu, em 1638, que deu origem a todo o desenvolvimento da ciência desde o século 17 até os dias de hoje. Antes disso, Leonardo da Vinci (1452-1519) já havia escrito algumas notas sobre Estática e Resistência dos Materiais. Durante esses séculos, vários matemáti- cos e cientistas ilustres deram suas contribuições para formalizar a Engenharia Es- trutural tal como se entende hoje. Até o início do século 20 pode-se citar, dentre outros, Jacob Bernoulli (1654-1705), Euler (1707-1783), Lagrange (1736-1813), Cou- lomb (1736-1806), Navier (1785-1836), Thomas Young (1773-1829), Saint-Venant Luiz Fernando Martha – Introdução – 3 (1797-1886), Kirchhoff (1824-1887), Kelvin (1824-1907), Maxwell (1831-1879) e Mohr (1835-1918). A formalização da Engenharia Estrutural através de teorias científicas permite que os engenheiros estabeleçam as forças e solicitações que podem atuar com seguran- ça nas estruturas ou em seus componentes. Também permite que os engenheiros determinem os materiais adequados e as dimensões necessárias da estrutura e seus componentes, sem que estes sofram efeitos prejudicais para o seu bom funciona- mento. A Engenharia Estrutural sofreu um grande avanço no final do século 19, com a Re- volução Industrial. Novos materiais passaram a ser empregados nas construções, tais como concreto armado, ferro fundido e aço. Também é nessa época que a En- genharia Estrutural teve um grande desenvolvimento no Brasil. Em seu livro His- tória da Engenharia no Brasil (Telles 1994-1, Telles 1984-2), Pedro Carlos da Silva Tel- les descreve, com uma impressionante quantidade de informações históricas, esse desenvolvimento. Durante o século 20, os principais desenvolvimentos se deram nos processos construtivos e nos procedimentos de cálculo. A Engenharia Civil brasileira é detentora de vários recordes mundiais, notadamente na construção de pontes. 1.2. Análise estrutural Como dito, a análise estrutural é a etapa do projeto estrutural na qual é feita uma previsão do comportamento da estrutura. Todas as teorias físicas e matemáticas resultantes da formalização da Engenharia Estrutural como ciência são utilizadas na análise estrutural. A análise estrutural moderna trabalha com quatro níveis de abstração1 para a es- trutura que está sendo analisada, tal como indicado na Figura 1.1. O primeiro ní- vel de abstração é o do mundo físico, isto é, esse nível representa a estrutura real tal como é construída. Essa visão de caráter mais geral sobre a análise de estrutu- ras tem por objetivo definir claramente o escopo deste livro. Modelo Discreto Estrutura Real Modelo Estrutural Modelo Computacional Figura 1.1 – Quatro níveis de abstração para uma estrutura na análise estrutural. 1 Baseado na concepção do paradigma dos quatro universos da modelagem em Computa- ção Gráfica idealizado por Gomes e Velho (1998) e no conceito de análise estrutural de Felippa (2001). 4 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha 1.2.1. Modelo estrutural O segundo nível de abstração da análise estrutural é o modelo analítico que é utili- zado para representar matematicamente a estrutura que está sendo analisada. Esse modelo é chamado de modelo estrutural ou modelo matemático e incorpora todas as teorias e hipóteses feitas para descrever o comportamento da estrutura para as di- versas solicitações. Essas hipóteses são baseadas em leis físicas, tais como o equilí- brio entre forças e entre tensões, as relações de compatibilidade entre deslocamen- tos e deformações, e as leis constitutivas dos materiais que compõem a estrutura. A criação do modelo estrutural de uma estrutura real é uma das tarefas mais im- portantes da análise estrutural. Essa tarefa pode ser bastante complexa, depen- dendo do tipo de estrutura e da sua importância. Por exemplo, o modelo estrutu- ral de um prédio residencial de pequeno porte é concebido de uma forma corri- queira. Em geral, o modelo deste tipo de estrutura é formado por um conjunto de linhas que representam as vigas e colunas do prédio e pelas superfícies que repre- sentam as lajes de seus pavimentos. Por outro lado, a concepção do modelo estru- tural de um prédio que abriga o reator de uma usina atômica é muito mais com- plexa e pode envolver diversos tipos de elementos estruturais, das mais variadas formas (por exemplo, superfícies para representar paredes estruturais com furos ou a superfície para representar a casca de concreto armado que cobre o prédio). Na concepção do modelo estrutural é feita uma idealização do comportamento da estrutura real em que se adota uma série de hipóteses simplificadoras. Estas estão baseadas em teorias físicas e em resultados experimentais e estatísticos, e podem ser divididas nos seguintes tipos: • hipóteses sobre a geometria do modelo; • hipóteses sobre as condições de suporte (ligação com o meio externo, por e- xemplo, com o solo); • hipóteses sobre o comportamento dos materiais; • hipóteses sobre as solicitações que agem sobre a estrutura (cargas de ocupa- ção ou pressão de vento, por exemplo). No caso de estruturas reticuladas, o modelo estrutural tem características que são bastante específicas. O modelo matemático deste tipo de estrutura usa o fato de os elementos estruturais terem um eixo bem definido e está embasado na Teoria de Vigas de Navier, que rege o comportamento de membros estruturais que traba- lham à flexão, acrescida de efeitos axiais e de torção. A Figura 1.2 mostra um e- xemplo de um modelo estrutural bidimensional para o pórtico de um galpão in- dustrial. Luiz Fernando Martha – Introdução – 5 Estrutura Real Modelo Estrutural Figura 1.2 – Estrutura real e o seu modelo estrutural. Observa-se na Figura 1.2 que os elementos estruturais do galpão (vigas e colunas) aparecem representados por linhas. A informação tridimensional das barras fica representada por propriedades globais de suas seções transversais, tais como área e momento de inércia. Portanto, no caso de estruturas reticuladas, a consideração da geometria do modelo é uma tarefa simples: os eixos das barras definem os ele- mentos do modelo estrutural. Entretanto, a consideração das outras hipóteses simplificadoras que entram na ide- alização do comportamento da estrutura real pode ser bastante complexa. Por e- xemplo, a representação das solicitações (cargas permanentes, cargas acidentais, etc.) pode envolver um alto grau de simplificação ou pode ser muito próxima da realidade. O mesmo pode ser dito com respeito à consideração do comportamento dos materiais ou do comportamento das fundações (condições de apoio). No e- xemplo da Figura 1.2, a ligação da estrutura com o solo foi modelada por apoios que impedem os deslocamentos horizontal e vertical, mas que permitem o giro da base das colunas. Outro tipo de hipótese poderia ter sido feito para os apoios: por que não considerá-los como engastes perfeitos (que impedem também o giro da base)? Nesse mesmo modelo, as cargas verticais representam o peso próprio da estrutura e as cargas horizontais representam o efeito do vento. De quantas manei- ras se pode considerar os efeitos do vento ou de outras solicitações? Questões como essas mostram que existem diversas possibilidades para a concep- ção do modelo estrutural de uma estrutura. Nessa concepção diversos fatores en- tram em cena, tais como a experiência do analista estrutural e a complexidade da estrutura e de suas solicitações. Apesar da importância da concepção do modelo estrutural dentro da análise estru- tural, não é o objetivo deste livro abordar esse assunto. Os modelos matemáticos adotados para a idealização do comportamento de estruturas usuais já estão de certa forma consagrados, principalmente no caso de estruturas reticuladas. Esses modelos são descritos em livros de Resistência dos Materiais (Féodosiev 1977; Ti- moshen-ko & Gere 1994; Beer & Johnston 1996) e Teoria da Elasticidade (Timo- 6 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha shenko & Goodier 1980, Malvern 1969, Little 1973, Boresi & Chong 1987, Villaça & Taborda 1998), entre outros. Também não são tratadas aqui questões que se referem à representação das solici- tações reais no modelo estrutural, bem como questões relativas às leis constitutivas dos materiais que compõem a estrutura. Esses assuntos, em geral, são abordados em disciplinas que tratam das etapas de dimensionamento e detalhamento dentro do projeto estrutural, tais como Estruturas de Aço, Estruturas de Concreto ou Es- truturas de Madeira. O foco principal deste livro são as metodologias de análise de estruturas hiperestá- ticas. No corpo deste volume, o modelo estrutural completo (com materiais, solici- tações e apoios definidos) vai ser sempre fornecido como ponto de partida para a análise. Entretanto, para entender os métodos de análise estrutural, é necessário conhecer os modelos matemáticos adotados para estruturas reticuladas. Portanto, os Capítulos 2, 3 e 4 deste livro resumem todas as teorias físicas e matemáticas que são necessárias para descrever os métodos de análise estrutural que são tratados neste volume. 1.2.2. Modelo discreto O terceiro nível de abstração utilizado na análise estrutural é o do modelo discreto (veja a Figura 1.1). Esse modelo é concebido dentro das metodologias de cálculo dos métodos de análise. Portanto, a concepção do modelo discreto de estruturas reticuladas é um dos principais assuntos tratados neste livro. De uma forma geral, os métodos de análise utilizam um conjunto de variáveis ou parâmetros para representar o comportamento de uma estrutura. Nesse nível de abstração, o comportamento analítico do modelo estrutural é substituído por um comportamento discreto, em que soluções analíticas contínuas são representadas pelos valores discretos dos parâmetros adotados. A passagem do modelo matemá- tico para o modelo discreto é denominada discretização. Os tipos de parâmetros adotados no modelo discreto dependem do método utili- zado. No Método das Forças os parâmetros adotados são forças ou momentos e no Método dos Deslocamentos os parâmetros são deslocamentos ou rotações. Por exemplo, a Figura 1.3 mostra a discretização utilizada na solução de um pórtico plano pelo Método das Forças. Nesse método, os parâmetros adotados para discre- tizar a solução são forças ou momentos redundantes para garantir o equilíbrio está- tico da estrutura. Isto é, são forças e momentos associados a vínculos excedentes de uma estrutura hiperestática. Esses parâmetros são denominados hiperestáticos. Luiz Fernando Martha – Introdução – 7 HA MA VA HB VB (0) (1) (2)MA HB Figura 1.3 – Superposição de soluções básicas no Método das Forças. No exemplo da Figura 1.3, os hiperestáticos adotados são as reações de apoio MA (reação momento no apoio da esquerda) e HB (reação horizontal no apoio da direi- ta). A configuração deformada do pórtico, denominada elástica (indicada pela li- nha tracejada na figura e mostrada em escala ampliada), é obtida pela superposi- ção de soluções básicas dos casos (0), (1) e (2) mostrados na figura. A estrutura utilizada nas soluções básicas é uma estrutura isostática obtida da estrutura origi- nal pela eliminação dos vínculos excedentes associados aos hiperestáticos. Cada solução básica isola um determinado efeito ou parâmetro: o efeito da solicitação externa (carregamento) é isolado no caso (0), o efeito do hiperestático MA é isolado no caso (1) e o efeito do hiperestático HB é isolado no caso (2). A metodologia de cálculo do Método das Forças determina os valores que os hiperestáticos devem ter para recompor os vínculos eliminados (restrição à rotação no apoio da esquerda e restrição ao deslocamento horizontal do apoio da direita). Dessa forma, a solução do problema fica parametrizada (discretizada) pelos hiperestáticos MA e HB. Essa metodologia será apresentada em detalhes no Capítulo 5 deste livro. Na solução pelo Método dos Deslocamentos para estruturas reticuladas, a solução discreta é representada por valores de deslocamentos e rotações nos nós (pontos de encontro das barras), tal como indicado na Figura 1.4. Esses parâmetros são de- nominados deslocabilidades. No exemplo dessa figura, as deslocabilidades são os deslocamentos horizontais dos nós superiores, xC∆ e xD∆ , os deslocamentos verti- cais desses nós, yC∆ e y D∆ , e as rotações dos nós livres ao giro, θB, θC e θD. 8 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha θC θD θB θC θD θB x C∆ xD∆ y C∆ y D∆ xC∆ xD∆ y C∆ yD∆ X Y Figura 1.4 – Parâmetros nodais utilizados na discretização pelo Método dos Deslocamentos. Na Figura 1.4, a configuração deformada da estrutura (elástica mostrada em escala ampliada) representa a solução contínua do modelo matemático. Os valores das deslocabilidades nodais representam a solução discreta do problema. Nesse tipo de metodologia baseada em deslocamentos, a solução contínua pode ser obtida por interpolação dos valores discretos dos deslocamentos e rotações nodais, conside- rando também o efeito da carga distribuída na barra horizontal. Em geral, para estruturas reticuladas com barras prismáticas, a solução obtida por interpolação é igual à solução analítica do modelo estrutural. Isto ocorre porque as funções de interpolação que definem a configuração deformada contínua são compatíveis com a idealização matemática do comportamento das barras feita pela Resistência dos Materiais. A metodologia de cálculo do Método dos Deslocamentos vai ser deta- lhada no Capítulo 6. No caso de estruturas contínuas (que não são compostas por barras), o método comumente utilizado na análise estrutural é uma formulação em deslocamentos do Método dos Elementos Finitos2 (Zienkiewicz & Taylor 2000, Felippa 2001). Nesse mé- todo, o modelo discreto é obtido pela subdivisão do domínio da estrutura em sub- domínios, chamados de elementos finitos, de formas simples (em modelos planos, usualmente triângulos ou quadriláteros), tal como exemplificado na Figura 1.5 pa- ra o modelo bidimensional de uma estrutura contínua com um furo. Essa subdivi- são é denominada malha de elementos finitos e os parâmetros que representam a so- lução discreta são valores de deslocamentos nos nós (vértices) da malha. Pode-se observar por esse exemplo que a obtenção do modelo discreto para estru- turas contínuas é muito mais complexa do que no caso de modelos de estruturas reticuladas (pórticos, treliças ou grelhas). Para estruturas formadas por barras, os nós (pontos onde valores discretos são definidos) são identificados naturalmente no encontro das barras, enquanto que para modelos contínuos os nós são obtidos pela discretização do domínio da estrutura em uma malha. 2 Muitos outros métodos são utilizados, tais como o Método dos Elementos de Contor- no. As notas de aula de Felippa (2001) apresentam uma excelente introdução aos mé- todos de análise de estruturas contínuas. Luiz Fernando Martha – Introdução – 9 Figura 1.5 – Discretização pelo Método dos Elementos Finitos para uma estrutura contínua. Uma importante diferença entre os modelos discretos de estruturas reticuladas e de estruturas contínuas é que a discretização de uma malha de elementos finitos introduz simplificações em relação à idealização matemática feita para o compor- tamento da estrutura. Isto ocorre porque as funções de interpolação que definem a configuração deformada de uma malha de elementos finitos não são, em geral, compatíveis com a idealização matemática do comportamento do meio contínuo feita pela Teoria da Elasticidade. Dessa forma, a solução do modelo discreto de elementos finitos é uma aproximação para a solução analítica da Teoria da Elasti- 10 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha cidade, ao passo que a solução do modelo discreto de uma estrutura com barras prismáticas é igual à solução analítica da Resistência dos Materiais. Conforme comentado, este livro trata apenas de modelos de estruturas reticuladas. Existem diversas referências para o tratamento de estruturas contínuas através do Método dos Elementos Finitos. Pode-se citar os livros de Cook et al. (1989), Felippa (2001), Zienkiewicz e Taylor (2000), Assan (1999), e Soriano (2003). Este último se constitui em uma referência em português recente e completa (dentro do contexto da análise de estruturas) sobre o Método dos Elementos Finitos. 1.2.3. Modelo computacional Desde a década de 1960 o computador tem sido utilizado na análise estrutural, embora inicialmente somente nos institutos de pesquisa e universidades. Nos anos setenta essa utilização passou a ser corriqueira, e nos anos oitenta e noventa, com a criação de programas gráficos interativos, a análise estrutural passou a ser feita com uso de computador em praticamente todos os escritórios de cálculo estrutural e empresas de consultoria. A análise de estruturas pode ser vista atualmente como uma simulação computa- cional do comportamento de estruturas. Embora este livro não esteja direcionado diretamente ao desenvolvimento de programas para prever o comportamento de estruturas, é importante ter em mente que não se concebe atualmente executar as tarefas de análise estrutural, mesmo para o caso de estruturas reticuladas, sem o uso de computador e de Computação Gráfica. Portanto, este livro pode ser considerado como introdutório para a análise de es- truturas. As soluções apresentadas para os modelos discretos das formulações do Método das Forças e do Método dos Deslocamentos são obtidas através de resolu- ção manual. O enfoque dado aqui é para o entendimento do comportamento de estruturas reticuladas hiperestáticas e dos fundamentos dos métodos básicos da análise estrutural. Livros-texto sobre o Método dos Elementos Finitos, como os que são citados acima, abordam de uma certa maneira a implementação computacional do Método da Rigidez Direta (que é uma formalização do Método dos Deslocamentos direciona- da para uma implementação computacional) e do Método dos Elementos Finitos. O Método das Forças tem uma metodologia que não é conveniente para ser im- plementada computacionalmente e, por isso, é pouco utilizado em programas de computador. Entretanto, diversos outros aspectos estão envolvidos no desenvolvimento de um programa de computador para executar uma análise estrutural. Questões como estruturas de dados e procedimentos de criação do modelo geométrico, geração do modelo discretizado, aplicação de atributos de análise (propriedades de materiais, Luiz Fernando Martha – Introdução – 11 carregamentos, condições de suporte, etc.) e visualização dos resultados são fun- damentais nesse contexto. Essas questões não são tratadas nos livros de elementos finitos, mas são da área de Modelagem Geométrica e Computação Gráfica. 1.3. Organização dos capítulos Este capítulo procurou posicionar o leitor dentro da atividade de análise estrutural e direciona para os principais tópicos que são abordados neste livro. No Capítulo 2 são introduzidos conceitos básicos sobre a análise de estruturas. O capítulo trata principalmente das condições básicas que têm que ser atendidas pelo modelo estrutural, tais como relações de equilíbrio entre forças e entre tensões, as relações de compatibilidade entre deslocamentos e deformações, e as leis constitu- tivas dos materiais que compõem a estrutura. É feita uma introdução aos métodos clássicos da análise estrutural: Método das Forças e Método dos Deslocamentos. O comportamento linear de estruturas, condição para aplicar superposição de efeitos, também é discutido. Também é feita uma abordagem conceitual entre as diferen- ças de comportamento de estruturas isostáticas e estruturas hiperestáticas. Final- mente, é apresentado um procedimento geral para determinação do grau de hipe- restaticidade de pórticos planos e grelhas. O Capítulo 3 resume a formalização matemática feita na idealização do comporta- mento de barras. A Teoria de Vigas de Navier para o comportamento à flexão de barras é apresentada com todas as suas hipóteses e simplificações. As principais relações diferenciais da Resistência dos Materiais que regem o comportamento de barras para efeitos axiais, cisalhantes, de flexão e de torção são apresentadas com vistas à sua utilização no desenvolvimento dos métodos de análise apresentados nos capítulos subseqüentes. O Capítulo 4 apresenta soluções fundamentais que são utilizadas nas metodologias dos Métodos das Forças e dos Deslocamentos. Tais soluções são obtidas com base no Princípio dos Trabalhos Virtuais. Esse princípio, através de suas duas formula- ções – Princípio das Forças Virtuais e Princípio dos Deslocamentos Virtuais –, é necessário para deduzir as expressões utilizadas no cálculo de coeficientes dos sis- temas de equações resultantes da discretização do problema pelos Métodos das Forças e dos Deslocamentos. O Método das Forças é apresentado em detalhes no Capítulo 5. O capítulo trata principalmente de aplicações do método para pórticos planos, mas também são considerados exemplos de treliças planas e grelhas. Embora, atualmente, na práti- ca esse método seja pouco utilizado (tem difícil implementação computacional), o método tem o mérito de ser intuitivo e, por isso, em geral é o primeiro método a ser apresentado em livros-texto. 12 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha O Capítulo 6 apresenta uma introdução ao Método dos Deslocamentos. O objetivo é descrever os fundamentos do método aplicado a pórticos planos. Nesse capítulo só são tratados pórticos com barras horizontais e verticais, pois a resolução de pór- ticos com barras inclinadas pela formulação geral do Método dos Deslocamentos é muito trabalhosa para ser feita manualmente. No Capítulo 7 são introduzidas restrições que são comumente adotadas para as deformações de barras com o objetivo de reduzir o número de parâmetros discre- tos e, assim, facilitar a resolução manual pelo Método dos Deslocamentos. A apre- sentação do método com essas restrições pode ser considerada como a forma clás- sica de apresentação em livros-texto, como por exemplo no de Süssekind (1977-3), que estavam voltados para uma resolução manual. Na verdade, o principal objeti- vo ao considerar essas restrições a deformações de barras é caracterizar o compor- tamento de pórticos com respeito aos efeitos de deformações axiais e de deforma- ções transversais por flexão. Por exemplo, a consideração de barras sem deforma- ção axial (chamadas de barras inextensíveis.) é uma aproximação razoável para o comportamento de um pórtico. A hipótese de barras inextensíveis possibilita o entendimento do conceito de contra-ventamento de pórticos com barras inclinadas, que é muito importante no projeto de estruturas. O Capítulo 8 descreve um processo de solução iterativa de pórticos pelo Método dos Deslocamentos. Esse processo é denominado Método da Distribuição de Mo- mentos (White et al. 1976) ou Processo de Cross (Süssekind 1977-3). Apesar deste processo ter caído em desuso nos últimos anos, ele tem a vantagem de propiciar um entendimento intuitivo do comportamento de vigas e quadros que trabalham fundamentalmente à flexão, além de permitir uma rápida resolução manual. O Método da Rigidez Direta, que é uma formalização do Método dos Deslocamen- tos voltada para sua implementação computacional, é apresentado no Capítulo 9. Essa formulação geral do Método dos Deslocamentos é feita para pórticos planos, com barras com qualquer inclinação, com ou sem articulação, e para grelhas. Finalmente, o Capítulo 10 descreve o procedimento de análise estrutural para car- gas acidentais e móveis, isto é, para cargas que não têm atuação constante ou posi- ção fixa sobre a estrutura. Os conceitos de Linhas de Influência e Envoltórias de Esforços são introduzidos. É deduzido o método cinemático para o traçado de li- nhas de influência, também chamado de Princípio de Müller-Breslau (White et al. 1976, Süssekind 1977-1). As soluções de engastamento perfeito deste princípio pa- ra barras isoladas são apresentadas. Essas soluções facilitam a determinação de linhas de influência por programas de computador que implementam o Método da Rigidez Direta. Dois apêndices complementam os capítulos descritos. O primeiro mostra a con- venção de sinais adotada para esforços internos em estruturas reticuladas. O se- gundo apresenta a Analogia da Viga Conjugada como forma alternativa para de- duzir as soluções fundamentais de barras introduzidas no Capítulo 4. lfm-cap02.pdf 2. CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE ESTRUTURAL Este capítulo resume alguns conceitos básicos de análise estrutural para estruturas que são compostas por barras. Esses conceitos foram selecionados de forma a permitir a compreensão dos demais capítulos deste livro, e essa seleção foi baseada em consultas a trabalhos de diversos autores que certamente descrevem esses con- ceitos em maior profundidade. Os principais livros que serviram como referência para este capítulo foram os de White, Gergely e Sexsmith (1976), Rubinstein (1970), Candreva (1981), Timoshenko e Gere (1994), Tauchert (1974) e West (1989). São considerados como pré-requisitos para os assuntos tratados neste capítulo a definição de tensões, deformações e esforços internos (esforços normais e cortantes e momentos fletores e torçores) em barras e a análise de estruturas estaticamente determinadas (estruturas isostáticas). Como referências para esses assuntos pode- se citar, além das referências anteriores, os livros dos seguintes autores: Beaufait (1977), Beer e Johnston (1996), Campanari (1985), Felton e Nelson (1997), Fleming (1997), Süssekind (1977-1), Gorfin e Oliveira (1975), Hibbeler (1998) e Meriam (1994). 2.1. Classificação de modelos de estruturas reticuladas Conforme mencionado no Capítulo 1, este livro está direcionado para a análise de estruturas reticuladas, isto é, de estruturas formadas por barras. Esta seção faz uma classificação dos tipos de modelos de estruturas reticuladas de acordo com o seu arranjo espacial e de suas cargas. Também são definidos sistemas de eixos globais da estrutura e de eixos locais das barras. Para cada tipo de estrutura são caracterizados os tipos de esforços internos e as direções dos seus deslocamentos e rotações. A Figura 2.1 mostra um exemplo de um quadro ou pórtico plano. Um quadro plano é um modelo estrutural plano de uma estrutura tridimensional. Este modelo pode corresponder a uma “fatia” da estrutura, ou pode representar uma simplificação para o comportamento tridimensional. Estruturas deste tipo estão contidas em um plano (neste livro é adotado o plano formado pelos eixos X e Y, como mostra a Fi- gura 2.1) e as cargas também estão contidas no mesmo plano. Isso inclui forças com componentes nas direções dos eixos X e Y e momentos em torno do eixo Z (que sai do plano). 14 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha O quadro plano da Figura 2.1 tem um solicitação externa (carregamento) composta por uma força horizontal P (na direção de X) e uma carga uniformemente distribu- ída vertical q (na direção de Y). Também estão indicados na figura as reações de apoio, que são compostas de forças horizontais e verticais, e por um momento em torno do eixo Z. X Y HA MA VA HB VB P q x C∆ xD∆ y C∆ yD∆ X Y z Cθ z Dθ z Bθ Figura 2.1 – Eixos globais, cargas, reações, deslocamentos e rotações de um quadro plano. A Figura 2.1 também indica a configuração deformada da estrutura (amplificada de forma exagerada) com as componentes de deslocamentos e rotações do nós (pontos extremos das barras). A simplificação adotada para modelos estruturais de quadros planos é que não existem deslocamentos na direção transversal ao pla- no (direção Z) e rotações em torno de eixos do plano da estrutura. Portanto, um quadro plano apresenta somente as seguintes componentes de deslocamentos e rotação: →x∆ deslocamento na direção do eixo global X; →y∆ deslocamento na direção do eixo global Y; →zθ rotação em torno do eixo global Z. As ligações entre as barras de um pórtico plano são consideradas perfeitas (ligações rígidas), a menos que algum tipo de liberação, tal como uma articulação, seja indi- cado. Isto significa que duas barras que se ligam em um nó tem deslocamentos e rotação compatíveis na ligação. Ligações rígidas caracterizam o comportamento de pórticos e provocam a deformação por flexão de suas barras. Os esforços internos de um quadro plano também estão associados ao comporta- mento plano da estrutura. Neste tipo de estrutura, existem apenas três esforços internos em um barra de um pórtico plano, definidos nas direções dos eixos locais da barra, tal como indicado na Figura 2.2: →N esforço normal (esforço interno axial) na direção do eixo local x; Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 15 →= yQQ esforço cortante (esforço interno transversal) na direção do eixo local y; →= zMM momento fletor (esforço interno de flexão) em torno do eixo local z. Q Q N N M M x y Figura 2.2 – Eixos locais e esforços internos de uma barra de quadro plano. Esforços internos em uma estrutura caracterizam as ligações internas de tensões, isto é, esforços internos são integrais de tensões ao longo de uma seção transversal de uma barra. Esforços internos representam o efeito de forças e momentos entre duas porções de uma estrutura reticulada resultantes de um corte em uma seção transversal. Os esforços internos correspondentes de cada lado da seção secciona- da são iguais e contrários, pois correspondem uma ação e a reação correspondente. A relação entre tensões e esforços internos vai ser discutida no Capítulo 3. Uma treliça é uma estrutura reticulada que tem todas as ligações entre barras arti- culadas (as barras podem girar independentemente nas ligações). A Figura 2.3 mostra uma treliça plana com suas cargas e reações. Na análise de uma treliça as cargas atuantes são transferidas para os seus nós. A conseqüência disso, em con- junto com a hipótese de ligações articuladas, é que uma treliça apresenta apenas esforços internos axiais (esforços normais de tração ou compressão). X Y N N Figura 2.3 – Eixos globais, cargas, reações e esforço interno normal de uma treliça plana. Muitas vezes, a hipótese de ligações articuladas é uma simplificação para o compor- tamento de uma treliça, pois muitas vezes não existem articulações nos nós. Esta 16 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha simplificação se justifica, principalmente, quando os eixos das barras concorrem praticamente em um único ponto em cada ligação. Nesse caso, o comportamento da estrutura de dá fundamentalmente a esforços internos axiais (esforços cortantes e momentos fletores são pequenos na presença de esforços normais). Um outro tipo de estrutura reticulada é a grelha. Grelhas são estruturas planas com cargas na direção perpendicular ao plano, incluindo momentos em torno de eixos do plano. A Figura 2.4 mostra uma grelha com uma carga uniformemente distri- buída transversal ao seu plano. Neste livro é adotado que o plano da grelha é for- mado pelos eixos X e Y. Os apoios de uma grelha apresentam apenas uma compo- nente de força, que é na direção vertical Z, e duas componentes de momento. VA VB q z∆ XY Z x AM y AM xθ yθ Figura 2.4 – Eixos globais, cargas, reações, deslocamentos e rotações de uma grelha. Por hipótese, uma grelha não apresenta deslocamentos dentro do seu plano. A Figura 2.4 indica a configuração deformada da grelha (de forma exagerada), que apresenta as seguintes componentes de deslocamento e rotações: →z∆ deslocamento na direção do eixo global Z; →xθ rotação em torno do eixo global X; →yθ rotação em torno do eixo global Y. Em geral, as ligações entre as barras de uma grelha são rígidas, mas é possível que ocorram articulações. Uma ligação articulada de barras de grelha pode liberar a- penas uma componente de rotação, ou pode liberar as duas componentes. Os esforços internos de uma barra de grelha estão mostrados na Figura 2.5, junta- mente com a convenção adotada para os eixos locais de uma barra de grelha. São três os esforços internos: →= zQQ esforço cortante (esforço interno transversal) na direção do eixo local z; →= yMM momento fletor (esforço interno de flexão) em torno do eixo local y; →= xTT momento torçor (esforço interno de torção) em torno do eixo local x. Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 17 Q Q T T M M x y z Figura 2.5 – Eixos locais e esforços internos de uma barra de grelha. É interessante fazer uma comparação entre as componentes de deslocamentos e rotações de quadros planos e grelhas, bem como entre os tipos de esforços internos. A Tabela 2.1 indica as componentes de deslocamentos e rotações que são nulas pa- ra quadros planos e grelhas. Observe que quando uma componente é nula para um quadro plano ela não é nula para uma grelha, e vice-versa. A tabela também mostra as diferenças entre os esforços internos de quadros planos e grelhas. Vê-se que os esforços normais são nulos para grelhas. Por outro lado, os quadros planos não apresentam momentos torçores. As barras de um quadro plano e de uma gre- lha apresentam esforços cortantes, mas eles têm direções distintas em relação aos eixos locais. O mesmo ocorre para momentos fletores. Tabela 2.1 – Comparação entre quadro plano e grelha. Quadro Plano Grelha Deslocamento em X x∆ 0=x∆ Deslocamento em Y y∆ 0=y∆ Deslocamento em Z 0=z∆ z∆ Rotação em torno de X 0=xθ xθ Rotação em torno de Y 0=yθ yθ Rotação em torno de Z zθ 0=zθ Esforço normal xNN = (x local) 0=N Esforço cortante yQQ = (y local) zQQ = (z local) Momento fletor zMM = (z local) yMM = (y local) Momento torçor 0=T xTT = (x local) 18 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha Finalmente, o caso mais geral de estruturas reticuladas é o de quadros ou pórticos espaciais. Um exemplo é mostrado na Figura 2.6. Cada ponto de um quadro espa- cial pode ter três componentes de deslocamento )e,,( zyx ∆∆∆ e três componentes de rotação )e,,( zyx θθθ . Existem seis esforços internos em uma barra de pórtico espacial: esforço normal xNN = (x local), esforço cortante yQ (y local), esforço cor- tante zQ (z local), momento fletor yM (y local), momento fletor zM (z local), e momento torçor xTT = (x local). XY Z zP xP yP zq Figura 2.6 – Eixos globais e cargas de um quadro espacial. 2.2. Condições básicas da análise estrutural No contexto da análise estrutural, o cálculo corresponde à determinação dos esfor- ços internos na estrutura, das reações de apoios, dos deslocamentos e rotações, e das tensões e deformações. As metodologias de cálculo são procedimentos mate- máticos que resultam das hipóteses adotadas na concepção do modelo estrutural. Dessa forma, uma vez concebido o modelo de análise para uma estrutura, as me- todologias de cálculo podem ser expressas por um conjunto de equações matemá- ticas que garantem a satisfação às hipóteses adotadas. Dito de outra maneira, uma vez feitas considerações sobre a geometria da estrutura, sobre as cargas e solicita- ções, sobre as condições de suporte ou ligação com outros sistemas e sobre as leis constitutivas dos materiais, a análise estrutural passa a ser um procedimento ma- temático de cálculo que só se altera se as hipóteses e simplificações adotadas forem revistas ou reformuladas. As condições matemáticas que o modelo estrutural tem que satisfazer para repre- sentar adequadamente o comportamento da estrutura real podem ser dividas nos seguintes grupos: • condições de equilíbrio; • condições de compatibilidade entre deslocamentos e deformações; Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 19 • condições sobre o comportamento dos materiais que compõem a estrutura (leis constitutivas dos materiais). A imposição destas condições é a base dos métodos da análise estrutural, isto é, as formas como essas condições são impostas definem as metodologias dos chamados Métodos Básicos da Análise de Estruturas, foco principal deste livro. Esta seção exemplifica as condições básicas que o modelo estrutural tem que aten- der através de um exemplo simples de três barras articuladas (Timoshenko & Gere 1994), mostrado na Figura 2.7. Existe uma força externa P aplicada no nó da estru- tura que conecta as três barras. As barras são feitas com um material com módulo de elasticidade E e têm seções transversais com área A. θ θ l P N1 N2 N2 X Y Figura 2.7 – Estrutura com três barras articuladas. 2.2.1. Condições de equilíbrio No contexto deste livro, no qual não são considerados problemas de vibrações ou de dinâmica de estruturas, condições de equilíbrio são condições que garantem o e- quilíbrio estático de qualquer porção isolada da estrutura ou da estrutura como um todo. No exemplo da Figura 2.7, o equilíbrio tem que ser garantido globalmente, isto é, para a estrutura como um todo, em cada barra isolada e em cada nó isolado. Nesse exemplo simples, em que só existem esforços internos axiais nas barras (for- ças normais), as três reações de apoio nos nós superiores convergem em um ponto: o nó inferior. Na verdade, essas reações são os próprios esforços normais nas bar- ras, tal como indicado na Figura 2.7. Além disso, a simetria da estrutura impõe que os esforços normais nas barras inclinadas sejam iguais (isto é, na verdade, uma 20 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha imposição de equilíbrio de forças na direção horizontal X). Dessa forma, o equilí- brio do nó inferior na direção vertical Y garante o equilíbrio global da estrutura: ∑ =⋅⋅+→= PNNFY θcos20 21 . (2.1) Nessa equação, tem-se: →1N esforço normal na barra vertical; →2N esforço normal nas barras inclinadas. Na Equação (2.1), a condição de equilíbrio na direção vertical do nó inferior da es- trutura foi escrita considerando a geometria original (indeformada) da estrutura. Isto só é válido quando os deslocamentos que a estrutura vai sofrer são muito pe- quenos em relação às dimensões da estrutura. Essa hipótese, denominada de hipó- tese de pequenos deslocamentos (White et al. 1976, West 1989), será adotada neste livro. A análise de estruturas com essa consideração denomina-se análise de primeira or- dem. Nem sempre é possível adotar a hipótese de pequenos deslocamentos. Por exemplo, no projeto moderno de estruturas metálicas exige-se que se faça uma aná- lise de segunda ordem (deslocamentos não desprezíveis na imposição das condi- ções de equilíbrio), pelo menos de uma maneira aproximada. Apesar disso, neste livro só serão consideradas análises com pequenos desloca- mentos, e as condições de equilíbrio sempre serão escritas para a configuração (ge- ometria) indeformada da estrutura. Esse ponto será justificado na Seção 2.4 deste capítulo, onde a hipótese de pequenos deslocamentos é abordada em maior pro- fundidade. Observa-se pela Equação (2.1) que não é possível determinar os valores dos esfor- ços normais N1 e N2. Isto é, existem duas incógnitas em termos de esforços e ape- nas uma equação de equilíbrio (considerando que a equação de equilíbrio na dire- ção horizontal já foi utilizada). As estruturas que não podem ter seus esforços de- terminados apenas pelas equações de equilíbrio são chamadas de estruturas hiperes- táticas, como a estrutura do exemplo da Figura 2.7. Existe um caso especial de es- truturas que podem ter seus esforços internos e externos (reações de apoio) deter- minados apenas pelas condições de equilíbrio – são as chamadas estruturas isostáti- cas. Em geral, as equações de equilíbrio fornecem condições necessárias, mas não sufi- cientes, para a determinação dos esforços no modelo estrutural. Para a determina- ção dos esforços em estruturas hiperestáticas, é necessário fazer uso das outras condições, que são tratadas nas seções a seguir. Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 21 2.2.2. Condições de compatibilidade entre deslocamentos e deformações As condições de compatibilidade entre deslocamentos e deformações são condições geo- métricas que devem ser satisfeitas para garantir que a estrutura, ao se deformar, permaneça contínua (sem vazios ou sobreposição de pontos) e compatível com seus vínculos externos. Deve-se ressaltar que as condições de compatibilidade não têm relação alguma com as propriedades de resistência dos materiais da estrutura (consideradas nas leis constitutivas dos materiais, tratadas na seção a seguir). As condições de com- patibilidade são expressas por relações geométricas impostas no modelo estrutural para garantir a continuidade no domínio da estrutura real. Essas relações conside- ram as hipóteses geométricas adotadas na concepção do modelo. As condições de compatibilidade podem ser divididas em dois grupos: • Condições de compatibilidade externa: referem-se aos vínculos externos da es- trutura e garantem que os deslocamentos e deformações sejam compatíveis com as hipóteses adotadas com respeito aos suportes ou ligações com outras estruturas. • Condições de compatibilidade interna: garantem que a estrutura permaneça, ao se deformar, contínua no interior dos elementos estruturais (barras) e nas fronteiras entres os elementos estruturais, isto é, que as barras permaneçam ligadas pelos nós que as conectam (incluindo ligação por rotação no caso de não haver articulação entre barras). No exemplo da Figura 2.7, as condições de compatibilidade externa são garantidas automaticamente quando só se admite uma configuração deformada para a estru- tura que tenha deslocamentos nulos nos nós superiores, tal como mostra a Figura 2.8. A configuração deformada está indicada, com deslocamentos ampliados de forma exagerada, pelas linhas tracejadas mostradas nessa figura. As condições de compatibilidade interna devem garantir que as três barras perma- neçam ligadas pelo nó inferior na configuração deformada. Mantendo-se a hipóte- se de pequenos deslocamentos, pode-se considerar que o ângulo entre as barras após a deformação da estrutura não se altera, tal como indicado na Figura 2.8. 22 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha θ θ D1 θ θ d1 = D1 d2 Figura 2.8 – Configuração deformada da estrutura com três barras articuladas. Com base na Figura 2.8 e considerando a simetria da estrutura, pode-se então esta- belecer relações de compatibilidade entre os alongamentos das barras da estrutura e o deslocamento vertical do nó inferior: 11 Dd = ; θcos12 ⋅= Dd . Sendo: →1D deslocamento vertical do nó inferior; →1d alongamento da barra vertical; →2d alongamento das barras inclinadas. Isto resulta na seguinte equação de compatibilidade entre os alongamentos das barras: θcos12 ⋅= dd . (2.2) A introdução da equação de compatibilidade acrescentou duas novas incógnitas ao problema, d1 e d2, sem relacioná-las às incógnitas anteriores, N1 e N2. Entretanto, essas quatro incógnitas vão ficar relacionadas através da consideração do compor- tamento do material que compõe a estrutura, sem que isso introduza novas incóg- nitas. 2.2.3. Leis constitutivas dos materiais O modelo matemático do comportamento dos materiais, em um nível macroscópi- co, é expresso por um conjunto de relações matemáticas entre tensões e deforma- Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 23 ções, chamadas de leis constitutivas (Féodosiev 1977). Essas relações contêm parâ- metros que definem o comportamento dos materiais. A Teoria da Elasticidade (Timoshenko & Goodier 1980) estabelece que as relações da lei constitutiva são e- quações lineares com parâmetros constantes. Nesse caso, é dito que o material tra- balha em regime elástico-linear, em que tensões e deformações são proporcionais. Entretanto, nem sempre é possível adotar um comportamento tão simplificado pa- ra os materiais. Por exemplo, procedimentos modernos de projeto de estruturas metálicas ou de concreto armado são baseados no estado de limite último, quando o material não tem mais um comportamento elástico-linear. Apesar disso, no contexto deste livro só serão considerados materiais idealizados com comportamento elástico-linear e sem limite de resistência. Isto é justificado pelos seguintes motivos: • De uma maneira geral, as estruturas civis trabalham em regime elástico- linear. Por isso, a maioria das estruturas é analisada adotando-se essa apro- ximação. • Mesmo para projetos baseados em regime último, a determinação da distri- buição de esforços internos é, em geral, feita a partir de uma análise linear. Isto é, faz-se o dimensionamento local no estado último de resistência, com o uso de coeficientes de majoração de carga e de minoração de resistência, mas com esforços calculados através de uma análise global linear. Esta é uma aproximação razoável na maioria dos casos, mas o correto seria fazer uma análise global considerando o material em regime não linear (que é relati- vamente complexa quando comparada com uma análise linear). • Na prática, uma análise não linear é executada computacionalmente de for- ma incremental, sendo que em cada passo do processo incremental é feita uma análise linear. Como este livro é introdutório para a análise de estrutu- ras, a consideração de um comportamento linear se justifica. • O foco principal deste livro são os métodos básicos da análise estrutural. A consideração em si de leis constitutivas não lineares é um tema bastante am- plo que foge do escopo deste livro. Portanto, no exemplo da Figura 2.7, o material considerado tem um comportamen- to elástico-linear. As barras desta estrutura estão submetidas apenas a esforços axiais de tração. As tensões σx e deformações εx que aparecem nesse caso são nor- mais às seções transversais das barras (na direção do eixo local x, na direção axial da barra). A lei constitutiva que relaciona tensões normais e deformações normais é a conhecida Lei de Hooke (Beer & Johnston 1996, Féodosiev 1977) e é dada por xx Eεσ = , (2.3) sendo: →E módulo de elasticidade (propriedade do material); 24 – Métodos Básicos da Análise de Estruturas – Luiz Fernando Martha →xσ tensões normais na direção axial da barra; →xε deformações normais na direção axial da barra. No contexto de uma análise com pequenos deslocamentos, a tensão normal devida a um esforço axial é dada pela razão entre o valor do esforço e a área da seção transversal, e a deformação normal é a razão entre o alongamento da barra e o seu comprimento original. Assim, para a barra vertical da Figura 2.7 tem-se: l dE A N 11 = , (2.4) e para as barras inclinadas tem-se: θcos 22 l dE A N = . (2.5) Observa-se que as Equações (2.4) e (2.5) introduziram novas relações entre as in- cógnitas do problema sem que aparecessem novas variáveis. Dessa maneira, as Equações (2.1), (2.2), (2.4) e (2.5) formam um sistema de quatro equações a quatro incógnitas, N1, N2, d1 e d2, resultando na solução única do problema. Vê-se que só foi possível resolver a estrutura hiperestática desse exemplo utilizan- do todos os três tipos de condições: equilíbrio, compatibilidade e leis constitutivas. A próxima seção discute esse ponto em mais detalhe. Há casos em que o material é também solicitado ao efeito de cisalhamento. Para materiais trabalhando em regime elástico-linear, a lei constitutiva que relaciona tensões cisalhantes com distorções de cisalhamento é dada por: γτ G= , (2.6) sendo: →G módulo de cisalhamento (propriedade do material); →τ tensão de cisalhamento; →γ distorção de cisalhamento. 2.3. Métodos básicos da análise estrutural O exemplo simples mostrado na seção anterior ilustra bem a problemática para a análise de uma estrutura hiperestática. Para se resolver (calcular esforços, deslo- camentos, etc.) uma estrutura hiperestática é sempre necessário considerar os três grupos de condições básicas da análise estrutural: condições de equilíbrio, condi- ções de compatibilidade entre deslocamentos e deformações e condições sobre o comportamento dos materiais (White et al. 1976). Luiz Fernando Martha – Conceitos Básicos de Análise Estrutural – 25 No exemplo, existem infinitos valores de N1 e N2 que satisfazem a equação de equi- líbrio (2.1). Também existem infinitos valores de d1 e d2 que satisfazem a equação de compatibilidade (2.2). Entretanto, existe uma única solução para essas entida- des: é aquela que satisfaz simultaneamente equilíbrio, compatibilidade e leis cons- titutivas. Observa-se que para esse exemplo a solução da estrutura hiperestática requer a resolução de um sistema de quatro equações a quatro incógnitas. Para estruturas usuais (bem maiores), a formulação do problema dessa maneira acarreta uma complexidade de tal ordem que a solução pode ficar comprometida. Assim, é ne- cessário definir metodologias para a solução de estruturas hiperestáticas. Isto vai resultar nos dois métodos básicos
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