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Locke e Hume

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3.3. Locke e Hume: da fundação à radicalização do empirismo. 
No século XVII, Descartes fundou o racionalismo, difundido pelo continente europeu, representado por Spinoza na Holanda e Leibniz na Alemanha.
Seguindo então o modelo das exatas, principalmente da matemática, defendendo ideias abstratas e o inatismo como ponto de sustentação da ciência e garantia da possibilidade concreta da construção do conhecimento.
Conceitos que, inclusive, forjaram uma ética que procederia do ser, seria inata, estando na essência do sujeito.
No mesmo período, em oposição, surgiu na Grã-Bretanha, sobretudo na Inglaterra, O EMPIRISMO, representado por John Locke, Thomas Hobbes, George Berkeley e David Hume.
O EMPIRISMO defendia a ideia de que o conhecimento só podia ser construído através dos sentidos, de experiências concretas, particularizadas.
Seria, portanto, impossível alcançar leis universais, como pretendiam os racionalistas.
Um embate que dominou a Idade Moderna, passando necessariamente pela Teoria do Conhecimento.
CONCEPÇÕES EMPIRISTAS.
O modelo empirista de construção do conhecimento estava baseado nas chamadas Ciências Experimentais, tal como botânica, química, astronomia e mecânica.
Eram ciências contrárias ao inatismo e que negavam conceitos clássicos da filosofia, a exemplo de “essência” e “ser”, considerados puro nominalismo (este termo se refere a conceitos que não passam de nomes, estariam esvaziados, pois refletiriam sensações e não concepções racionais).
Neste sentido, os empiristas tencionavam alcançar a verdade tentando antecipar experiências, sobretudo, através da descoberta das leis da natureza.
O que fundou uma ética utilitarista e hedonista*, baseada nos costumes úteis para tornar a convivência social possível e a vida mais feliz e prazerosa.
* É uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.  Surgiu na Grécia. O hedonismo filosófico moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas. O significado do termo em linguagem comum, bastante diverso do significado original, surgiu no iluminismo e designa uma atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres momentâneos. Com esse sentido, "hedonismo" é usado de maneira pejorativa, visto normalmente como sinal de decadência.
John Locke e o empirismo.
John Locke (1632-1704) nasceu na Inglaterra, em uma família burguesa abastada, conduzindo seus estudos para se preparar para a vida religiosa.
É considerado um dos fundadores do liberalismo inglês e grande defensor da liberdade, tendo sido nomeado membro da Real Sociedade de Londres em 1668.
A partir de 1689, publicou suas principais obras filosóficas, morrendo em 1704, aos 72 anos, sendo considerado o autor do texto que sintetiza o empirismo: “Ensaio acerca do entendimento humano” (1690).
Além desta obra, cabe destacar:
1. “Dois tratados sobre o governo civil” (1689).
2. “Alguns pensamentos referentes à educação” (1693).
3. “Racionalismo do cristianismo” (1695).
4. “Cartas acerca da tolerância” (1690).
No “Ensaio acerca do entendimento humano”, Locke demonstrou sua intenção de fixar a gênese, a natureza e o valor do conhecimento, estabelecendo seus limites e suas possibilidades.
Ele chegou à conclusão que a experiência é o limite, sendo os sentidos a origem de todos os tipos de ideias.
O Método de Hume
David Hume nasceu na Escócia, em Edimburgo em 1711
(Leia: http://www.mundodosfilosofos.com.br/hume.htm#ixzz3chHJfgiQ)
Hume quis ser o Newton da psicologia. 
O subtítulo de seu Tratado da Natureza Humana é, nesse sentido, bastante esclarecedor: "Uma tentativa de introdução do método de raciocínio experimental nas ciências morais”.
A análise psicológica do entendimento operada por Hume parece, à primeira vista, muito próxima da de Locke. Ele parte do princípio de que todas as nossas "ideias" são cópias das nossas "impressões", isto é, dos dados empíricos: impressões de sensação, mas, também, impressões de reflexão (emoções e paixões). 
Não é este o ponto de vista tradicional do empirismo que vê na experiência a fonte de todo saber?
Teoria do Conhecimento.
Para Locke é impossível conhecer as substâncias, a essência das coisas, pois seria algo indistinto, impreciso e incognoscível.
A substância não poderia ser distinguida, precisada, assimilada, estando fora do alcance da experiência humana e, portanto, não poderia ser conhecida.
O que não significa que o conhecimento é inviável como um todo, mas sim que as ideias inatas não existem.
O que significaria dizer que a pretensão racionalista da construção de um conhecimento universal é impossível.
Locke pergunta como é possível existirem ideias inatas, já que conceitos morais e gostos são relativos. Caso existissem ideias inatas, nascendo o homem com estes conceitos, todos deveríamos ter os mesmos costumes, independente da cultura e experiências individuais. O que não acontece!!!!
Assim, a origem do conhecimento estaria nos sentidos e na experiência.
Como Aristóteles, Locke defendeu a ideia de que o conhecimento da realidade depende da junção de graus. No entanto, enxergava a mente humana como uma “tábula rasa”, um papel em branco que, só à medida que é preenchido pelos dados dos sentidos e da experiência, permite organizar o conjunto de páginas escritas, uma a uma, para tentar entender o mundo.
A realidade seria percebida pelos sentidos, produzindo:
1. Sensação: ideias externas que vem a partir dos sentidos, como cor, sabor, frio, quente, etc.
2. Reflexão: ideias internas, percebidas pela mente, como impressões, experiências internas.
Neste sentido, as ideias produzidas por estímulos externos e internos, pelo simples fato de terem sido produzidas pelos sentidos e a experiência, fornecem um indício de que a realidade existe. Entretanto, estas ideias não permitem obter certezas, apenas ajudam arriscar possibilidades, uma probabilidade de entendimento da realidade.
Alcançar a verdade, portanto, não é entender a realidade, mas estabelecer uma coerência entre as ideias possíveis, produzindo o que chamamos de ciência, a busca por verdades provisórias.
CONCLUINDO.
Segundo Locke, as ideias seriam representações mentais da realidade e o conhecimento apenas a combinação das ideias pela mente. O filosofo entendia ideias como a realidade percebida pelos sentidos, enquanto o conhecimento seria aquilo que percebemos combinado com outras percepções, representadas na mente pelas ditas ideias, produzindo algo novo.
Portanto, o conhecimento nada mais seria que a junção do que já conhecemos, o já percebido, com  novas percepções. A exemplo do que ocorre com as figuras de gestalt (teoria da forma ou da configuração), perceber o objeto dependeria da associação que fazemos com o já conhecido.
Ao realizar esta operação, a mente humana produz dois tipos de ideais:
1. Simples: derivadas de sensações ou reflexões simples, onde o intelecto seria passivo, refletindo pura e simplesmente a realidade percebida ou vivenciada pela experiência, comum a todo ser humano.
2. Complexas: derivadas da combinação das ideias simples, refletindo qualidades subjetivas, pois depende da combinação que cada sujeito estabelece.
Empirismo e Teoria do Conhecimento.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume ago., Série 01/08, 2011, p.01-05.
Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em História Social pela FFLCH/USP.
Bacharel e Licenciado em Filosofia pela USP.

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