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Alta Floresta/MT 1 1. INTRODUÇÃO Epidemiologia: é o "estudo das epidemias e dos fatores que as influenciam“. Em uma conceituação mais complexa: “estudo do progresso da doença em dada população de plantas susceptíveis, dos fatores que afetam o seu desenvolvimento e a evolução do patógeno.” 2 O que é uma epidemia e endemia? Epidemia: refere-se ao "aumento da doença numa população de plantas em intensidade e/ou extensão, isto é, um aumento na incidência-severidade e/ou um aumento na área geográfica ocupada pela doença”. Endemia: é a presença permanente da doença em uma dada região geográfica (país, estado, cidade), porém sem estar em expansão (patógeno e hospedeiro estão em constante interação e equilíbrio). Uma doença endêmica pode se tornar epidêmica (favorecimento da multiplicação e dispersão do patógeno) 3 Os principais objetivos da epidemiologia: a) estudar a evolução das doenças em populações do hospedeiro; b) avaliar os prejuízos absolutos e relativos causados pelas doenças nas culturas; c) avaliar os efeitos simples e as interações entre resistência do hospedeiro, medidas sanitárias, uso de fungicidas e outras medidas de controle das doenças; d) avaliar a eficiência técnica e econômica das medidas de controle em cada etapa sobre os agroecossistemas; e) estabelecer estratégias de controle das doenças e aperfeiçoá-las para a proteção das culturas. 4 2. ELEMENTOS DE UMA EPIDEMIA Para uma doença de planta se desenvolver em proporções epidêmicas, é necessário que ocorra uma perfeita interação entre uma população de plantas suscetíveis, uma população de patógenos virulentos e agressivos, sob condições ambientais favoráveis. Qualquer modificação em um desses fatores provocará uma redução na intensidade da doença ou de sua taxa de desenvolvimento. O homem pode auxiliar no início e no desenvolvimento de epidemias através de suas atividades. A interferência humana pode paralisar ou retardar o início e desenvolvimento de epidemias pelo uso de medidas apropriadas de controle. 5 O triângulo da doença, que descreve a interação de componentes da doença, necessita ser expandido para incluir a influência do tempo e do homem. A quantidade de cada um dos 3 componentes da doença e suas interações no desenvolvimento da doença são influenciados por um quarto componente: o tempo. O efeito do tempo no progresso da doença evidencia-se quando se considera a importância da época do ano (condições climáticas e o estádio de crescimento quando o hospedeiro e o patógeno podem coexistir), a duração e a frequência de temperatura e pluviosidade favorável, o tempo de aparecimento dos vetores, a duração do ciclo de infecção de uma doença particular, entre outras. INTERAÇÃO DOS COMPONENTES DE EPIDEMIAS DE DOENÇAS DE PLANTAS 6 O desenvolvimento de doenças em plantas cultivadas é também grandemente afetado por um quinto componente: o homem. Pelas práticas silviculturais, de controle químico e biológico utilizadas, o homem afeta a quantidade de inóculo primário e secundário disponível para atacar plantas. Pode atuar na disseminação da doença, por meio de tratos silviculturais e alterações no ambiente que pode criar condições favoraveis para desenvolvimento do patógeno. 7 Hospedeiro, patógeno e ambiente são representados por cada lado de um triângulo, o tempo é representado por uma linha perpendicular partindo do centro do triângulo e o homem como o pico do tetraedro, no qual a base é o triângulo e a altura é o comprimento de tempo. Neste sentido, o homem interage bem como é influenciado por cada um dos outros quatro componentes de uma epidemia e, portanto, incrementa ou decresce a magnitude da epidemia. Interação dos fatores envolvidos em epidemias de doenças de plantas 8 2.2 TIPOS DE EPIDEMIAS • Explosiva – Ocorre um aumento rápido na intensidade da doença • Tardívoga – A intensidade do aumento da doença é lento • Progressiva – A epidemia tem um crescimento em extensão • Pandemia - refere-se a epidemia progressiva que ocupa uma área extremamente grande 9 Doenças monocíclicas Doenças policíclicas Plantas infectadas durante o ciclo da cultura não servem de fonte de inóculo para novas infecções no mesmo ciclo Plantas infectadas durante o ciclo da cultura servem de fonte de inóculo para novas infecções no mesmo ciclo 10 3. CONDIÇÕES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DE EPIDEMIAS 3.1 Fatores do Hospedeiro 3.2 Fatores do Patógeno 3.3 Fatores do Ambiente 3.4 Outros fatores 11 3.1 Fatores do Hospedeiro Vários fatores internos e externos de plantas hospedeiras exercem importantes funções no desenvolvimento de epidemias, dentre os quais se destacam: Níveis de resistência genética ou suscetibilidade do hospedeiro, O grau de uniformidade genética das plantas hospedeiras, O tipo de cultura e a idade da planta hospedeira. 12 Níveis de resistência genética ou suscetibilidade do hospedeiro Quanto maior a suscetibilidade do hospedeiro, maior a possibilidade da ocorrência de epidemias em presença de patógeno virulento e condições ambientais favoráveis. Grau de uniformidade genética das plantas hospedeiras Quanto maior a uniformidade genética do hospedeiro, maior a possibilidade da ocorrência de epidemias. Quando plantas hospedeiras geneticamente uniformes, principalmente em relação a genes associados com a resistência a doenças, são cultivadas em grandes áreas, existe uma grande probabilidade de uma nova raça do patógeno aparecer e infectar seu genoma, resultando numa epidemia. 13 Tipo de cultura Em culturas anuais, como feijão, arroz, milho, algodão e hortaliças, as epidemias desenvolvem muito mais rapidamente (normalmente em poucas semanas) que em cultivos perenes, como as de essências florestais. Idade da planta hospedeira Plantas mudam em sua suscetibilidade às doenças com a idade. Em algumas combinações patógeno-hospedeiro, por exemplo, tombamentos de plântulas causadas por Rhizoctonia solani, os hospedeiros (ou suas partes) são suscetíveis somente durante o estádio inicial de crescimento, tornando-se resistentes no estádio adulto (resistência adulta). Com várias doenças, como ferrugens e infecções virais, partes de plantas são resistentes à infecção enquanto são muito jovens, tornando-se mais suscetíveis posteriormente em seu crescimento, e depois tornam-se novamente resistentes quando atingem o estádio adulto. 14 3.2. Fatores do Patógeno Os principais fatores do patógeno que influenciam no desenvolvimento de epidemias incluem: nível de virulência e agressividade, quantidade de inóculo próximo ao hospedeiro, tipo de reprodução, ecologia e modo de disseminação. 15 Nível de virulência e agressividade A virulência de um isolado de determinado patógeno também está associada à quantidade de doença induzida no hospedeiro, ou seja, quanto maior a intensidade da doença, mais virulento o isolado. A agressividade está associada à velocidade no aparecimento dos sintomas da doença, ou seja, quanto mais agressivo for determinado isolado, mais rápido será o aparecimento dos sintomas. 16 Quantidade de inóculo próximo ao hospedeiro Quanto maior a quantidade de propágulos do patógeno(células bacterianas, esporos ou esclerócios fúngicos, ovos de nematóides, plantas infectadas por vírus, etc.) dentro ou próximo das áreas cultivadas com as plantas hospedeiras, maior quantidade de inóculo chegará ao hospedeiro e com maior rapidez, aumentando muito as chances de uma epidemia. 17 Tipo de reprodução Patógenos que possuem alta capacidade de reprodução, incluindo alta produção de inóculo e ciclos de vida curto, mas sucessivos, características de patógenos policíclicos (ex.: fungos causadores de ferrugens, míldios e manchas foliares), têm capacidade de causar grandes e freqüentes epidemias. O que normalmente não acontece com patógenos que não formam ciclos de vida sucessivos, característica de patógenos monocíclicos (ex: fungos causadores de murchas vasculares e carvões). 18 Ecologia e modo de disseminação do inóculo Patógenos que produzem seu inóculo na superfície de partes aéreas de hospedeiros (ex: fungos causadores de ferrugens, míldios e manchas foliares), têm capacidade de dispersar esse inóculo facilmente e a várias distâncias. Resultado: epidemias mais frequentes e sérias do que aqueles que se reproduzem dentro da planta (ex: fungos e bactérias que infectam o sistema vascular, fitoplasmas, vírus e protozoários) ou que necessitam de vetores para a sua disseminação. 19 3.3. Fatores do Ambiente A presença numa mesma área de plantas suscetíveis e patógenos virulentos nem sempre garantem numerosas infecções e, muito menos, o desenvolvimento de uma epidemia. Afeta a disponibilidade, estádio de crescimento e suscetibilidade do hospedeiro. Pode afetar a sobrevivência, a taxa de multiplicação, a esporulação, a distância de disseminação do patógeno, a taxa de germinação dos esporos e a penetração. Pode afetar o número e a atividade de vetores do patógeno. As variáveis ambientais que mais afetam o desenvolvimento de epidemias de doenças de plantas são: a umidade temperatura. 20 Umidade Umidade abundante, prolongada ou frequente, é fator predominante no desenvolvimento da maioria das epidemias causadas por fungos, bactérias e nematóides, pois facilita a reprodução e a disseminação da maioria dos patógenos. Em alguns casos, no entanto, fitopatógenos habitantes do solo, como Fusarium e Streptomyces, são mais severos em climas secos. Doenças causadas por esses patógenos raramente se transformam em grandes epidemias. Alta umidade do solo é importante para certos fungos como Phytophthora e Pythium. 21 Temperatura Epidemias são em geral favorecidas por temperaturas mais altas ou mais baixas que a faixa ótima de temperatura para a planta, pois reduzem o nível de resistência do hospedeiro. Estas plantas tornam-se fracas e predispostas à doença, uma vez que o patógeno permanece vigoroso e mais forte que o hospedeiro. Temperaturas também reduzem a quantidade de inóculo de fungos, bactérias e nematóides que sobrevivem a invernos rigorosos, ou de vírus e fitoplasmas que sobrevivem a verões muitos quentes. 22 O efeito mais comum da temperatura em epidemias, no entanto, é sobre o patógeno durante as fases: de germinação de esporos, eclosão de nematóides, penetração no hospedeiro, crescimento ou reprodução, colonização e esporulação. 23 Fertilidade do solo A nutrição mineral das plantas, governada pela disponibilidade de nutrientes no solo, tem sido um dos fatores mais estudados com relação à suscetibilidade e resistência de plantas a doenças. Certos patógenos infectam mais severamente plantas subnutridas e outros preferem plantas vigorosas. 3.2. Outros fatores 24 Luminosidade A qualidade e quantidade de luz disponível ao hospedeiro afeta a fotossíntese e, consequentemente, as reservas nutritivas, afetando também a sua reação a uma determinada doença. pH O pH influencia tanto as plantas como os patógenos. Se um pH desfavorecer a planta, poderá favorecer o patógeno. Em geral, os fungos desenvolvem-se bem numa faixa de pH entre 4.5 a 6.5, enquanto bactérias preferem de 6.0 a 8.0. 25 Seleção e preparo do local de plantio Seleção do material de propagação Atividade humana Práticas silviculturais Introdução de novos patógenos 26 4. QUANTIFICAÇÃO DE DOENÇAS 27 4.1. Importância A quantificação de doenças de plantas, também denominada fitopatometria, visa avaliar os sintomas causados pelos agentes patogênicos nas plantas e seus sinais (estruturas do patógeno associadas aos tecidos doentes). 28 4.2. Principais objetivos a) Estudar a prevalência e importância das doenças na cultura b) Determinar danos ou perdas de rendimento c) Comparar a eficiência de fungicidas d) Determinar a época de aplicação de fungicidas e) Avaliar a resistência de genótipos aos patógenos no melhoramento f) Estudar o progresso da doença ou de epidemias (primeiros sintomas, curvas de desenvolvimento ou evolução da doença) g) Elaborar modelos de previsão de doenças. 29 4.3. Métodos de quantificação de doenças As doenças podem ser quantificadas por: Métodos diretos de avaliação dos sintomas e sinais, como: incidência, severidade, intensidade; Métodos indiretos, como a determinação da população do patógeno, sua distribuição espacial, seus efeitos na produção (danos e/ou perdas). 30 4.3. Métodos de quantificação de doenças 4.3.1. Métodos diretos A quantificação das doenças é baseada na avaliação dos sintomas e sinais, através da proporção de tecido doente, sendo realizada pelos seguintes parâmetros: :: Incidência :: Severidade :: Intensidade 31 A – Incidência: é o método quantitativo mais comum de medição de doença por ser fácil e rápido, sendo obtido pela da contagem de plantas doentes ou órgãos doentes, através do número e/ou porcentagem (frequência) de folhas, folíolos, frutos, ramos infectados, sem levar em consideração a quantidade de doença em cada planta ou órgão individualmente. As avaliações de incidência podem ser feitas de diferentes formas, como nos exemplos a seguir: - Tombamento de plântulas – "stand" de plântuls sobreviventes; - Plantas com e sem podridão do colo de A. niger patogênicos em testes de patologia de sementes; 32 B - Severidade: é um método quantitativo e qualitativo, que procura determinar a porcentagem da área de tecido doente (sintomas e/ou sinais visíveis), através da medição direta da área afetada, com medidores de área em computador ou não, chaves descritivas, diagramáticas, medição automática e sensores remotos. 33 C – Intensidade: Significa o quanto intensa é a doença ou quão doente está a planta. É um parâmetro satisfatório para avaliar a intensidade de doenças, pois a correlação é alta entre incidência e severidade, pelo fato da doença afetar a planta toda. Numa epidemia de doenças foliares deve-se levar em consideração que, quando a incidência é elevada (maioria das plantas com sintomas), a evolução da doença dá-se quase que exclusivamente pelo aumento do número e tamanho das lesões (severidade). 34 As avaliações de intensidade/severidade podem ser feitas de diferentes formas: I - Medição direta dos sintomas da doença, através da contagem do número de lesões, medição de seu diâmetro, cálculoda área infectada por folíolo [Si= No médio de lesões/ folíolo x (diâmetro médio das lesões/2) x 3,1416] e índice de infecção (I%=Si x 100 / S total). II - Medição visual dos sintomas da doença - os patologistas usam a fotocélula humana (olho) para estimar as intensidades através da medição de áreas doentes e valores de infecção. 35 Mancha foliar causada por de Hainesia lythri 36 % D o e n ç a Tempo Curva de progresso 37 Usando esses princípios, as medições visuais da intensidade das doenças podem ser feitas através do uso de chaves descritivas, classes de intensidade, diagramas padrões (James, 1971) ou escalas diagramáticas. a) Chaves descritivas ou classes de severidade da doença – são escalas arbitrárias com certo número de graus ou notas para quantificar as doenças. 38 Ex.: manchas nos tecidos foliares 39 Para a determinação da nota média e o índice de doença (variando de 0 a 100%) das doenças da parte aérea (segundo as escalas de notas apresentadas anteriormente, podem ser utilizadas as equações abaixo: Nota média = n1 x 1 + n2 x 2 + n3 x 3 + n4 x 4) / N. Índice de doença (%) = (n1 x 0 + n2 x 25 + n3 x 50 + n4 x 100) / N, onde: n1, n2, n3 e n4 = número de folíolos da amostra com as notas 1, 2, 3 e 4; N = total de folíolos da amostra 40 4.3.2. Métodos indiretos de avaliação de doenças A quantificação de determinadas doenças onde os sintomas observados nas plantas são de redução de vigor, enfezamento ou diminuição da produção torna-se difícil através de métodos diretos. Nestes casos são empregados métodos indiretos, como a determinação da população do patógeno, sua distribuição espacial, seus efeitos na produção (danos e/ou perdas), a desfolha causada. 41 4.3.2. Métodos indiretos de avaliação de doenças a) Indexação e técnicas sorológicas - para muitas viroses, a presença do agente causal não está relacionada com a presença de sintomas visíveis. Para a avaliação dessas doenças são utilizadas técnicas como: - Indexação, procedimento utilizado para a detecção de vírus com o auxílio de plantas indicadoras. - Técnicas sorológicas, como o teste imuno-enzimático de alta sensibilidade, conhecido por ELISA, usadas para quantificar as partículas virais presentes no hospedeiro. 42 b) A contagem de indivíduos, para o caso de nematóides, por métodos específicos, envolvendo amostragem de solo e raízes, serve para orientar as medidas de controle a serem empregadas ou estimar os danos causados por esses organismos. c) A distribuição espacial das doenças causadas por fungos disseminados pelo ar é também um método indireto, que visa medir a quantidade de esporos presentes na atmosfera capaz de causar infecção, com o auxílio de diferentes armadilhas caça- esporos. 43 d) A desfolha é outro método indireto de medir as consequências das doenças de plantas. Pode ser estimada pela contagem direta nas plantas (folhas que caíram e remanescentes na planta) ou por estimativas visuais de porcentagem de desfolha nas plantas ou na área de plantio. 44
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