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108 LIANA MARIA AURELIANO É verdade que tenta a alternativa possível, ou seja, a de realizar seus projetos vinculando-os ao capitalismo internacional, a única fonte viável de financiamento e tecnologia. Entretanto, o grande capital internacional, que apenas inicia a recuperação da Grande Depressão, defronta-se com o espectro de rivalidades crescentes, que irão culminar na deflagração da II Guerra Mundial. Neste contexto, seria de resto impossível contar com o investimento ex- terno em setores básicos, especialmente no siderúrgico, face à necessidade imperiosa de que se mobilizem as forças produtivas para o esforço bélico. Além da falta de interesse político espontâ- neo, também não se conta, nesse período, com uma pletora de excedentes de capital financeiro. Isso explica porque, do conjunto de projetos básicos definidos em 1939, apenas se viabilizará a indústria siderúrgica, permitida fundamentalmente pela habilidosa manipulação do jogo político in ernacional C>. stabelecido durante a II Guerra Mundial. É assim, portant& pfecisamente quando o Estado toma a si a tar (a (de empree-11âer, ele mesmo, a instalação da siderurgia, ue cumpre as nç<5~ essenciais da transição. Neste <"" ~ 1 ' ;J 1" ft.., -caso, avançapdo tanto em "'relaçã0 às classe e sua~ raçoes, quan- to em reláção à fo r.m~ esta6élecida da aivisfo i térnacional do trabalho. O~-o \'ô\,.'& ~v 0 0 é" o'S o-:> çv 00..., \<; \\'ó ~\'\o';)· "\O~ 11>º ç ó..\).'(j.. c,,O'ô' e" o o"' <" o\'" . o...0 Recupe - l't' e. . e . ,?J.,c; raçao e po 1 1ca econom1ca o..v ' ,::; ~ ó o0 ~ _, ><..e;,,.., e-j"" ;,,_ cff;) . Quando Yargas assum~ o poder, a questão cafeeira era de ex- trema gravidade: preços internacionais em queda, estoques de mais de 20 milhões de sacas e perspectivas futuras nada alvissa- reiras, quer devido ao prossegui~ento da Grande Depressão, quer por causa das safras volumosas que certamente viriam. Já em dezembro de 1930, João Alberto, o interventor federal em São Paulo, e seu secretário da Fazenda, Marcos de Souza Dantas, encaminham ao Governo Provisório duas propostas para enfrentar a situação, uma de compra da safra de 1931-1932, nesta NO LIMIAR DA !NDUSTRTALIZAÇÃO 109 época apenas em formação nos cafezais, outra de aquisição pelo Estado do estoque acumulado nos cemitérios do café. 20 A primeira medida era advogada pela Sociedade Rural Brasi- leira e pela Associação Comercial de Santos. Ponderavam que quase todo o estoque já estava financiado e seu custo havia se elevado em muito, pelos juros, pelas despesas de retenção, por comissões, etc. Portanto, mesmo que o Governo adquirisse a saca a 70 ou 80 mil-réis, o que exigiria a apreciável soma de mais de 1 milhão de contos, grande parte da lavoura acabaria arcando com enormes prejuízos, porque receberia apenas a diferença entre o preço pago e os 40 mil-réis que pesavam sobre cada saca. Argu- mentavam, ainda, que a safra de 1931-1932 tinha um custo 50 ou 60% mais baixo que o do estoque, o que permitia ser com- prada por um preço também mais baixo, deixando ainda uma compensadora margem de lucro à lavoura. A safra de 1931 era estimada em torno de 20 milhões de sacas. Proibido o embarque de cafés inferiores ao tipo 7, restari~m 16 milhõ~s~ que compra- dos a 50 mil-réis corresponderiam a 800 mil' contos, recebidos integralmente pela lavou a.J1 ~ A f ) CL. avor da compra do estoque pronunciaram-se entre outros, o Ministro Whitaker, Numa ai Oliveira e João Aberto, gue, se-( e . gundo relata Souza Dantas,\§e dirigiu a Getúlio pedindo-a provi- dência sob pena -de o .?'estoque retido desabar sobre nossas cabeças, esmagando-nos ª todos". Natura rpente, os .. maio~es b_ene- ficiários da proposta eram ros bancos, que pensavam realizar ime- diatamente seus capi áis e,mpregados em, caução dos conhecimentos de depósitos.22 Ademais, era interessante ao Tesouro, exatamente porque boa parte do ;st@qu"~ já estava financiado por bancos ofi- ciais, o Banco do Estado jde São Paulo e o Banco do Brasil, o que significava, pelo menos, maior flexibilidade financeira na execução do programa. ~o Cf. A. de E. Taunay. História . .. , op. cit., v. XIV, t. 11 , p. 10 e ll. 21 Cf. A. de E. Taunay. História ... , op . cit., v. XIV, t. 11 , p. 5 e segs. ~~ Cf. A. de E. Taunay. História ... , op . cit., v. XIV, t. II, p. 7; e R. }ar· dim. A Aventura de outubro e a invasão de São Paulo. Rio de Janeiro, Civ. Brasileira. 1932 . p . 208 . 110 LIANA MARIA AURELIANO A solução adotada, como sabemos, foi a compra dos estoques, que exigiu do Governo Provisório resolver ex vi a longa pendên- cia que se estabelecera sobre sua propriedade. Durante o período da política de defesa permanente, o lavra- dor, depois de reter o café nos reguladores, dirigia-se ao comissário a quem entregava o respectivo conhecimento de despacho, rece- bendo certa quantia a título de adiantamento por conta da venda futura. O comissário, por sua vez, dirigia-se ao sistema bancário, onde contraía empréstimo com a garantia do café retido, endos- sando o conhecimento de despacho. Pois bem, o Tribunal de Jus- tiça do Estado de São Paulo decidira que o conhecimento de despacho "não constituía prova de penhor da mercadoria'', não dispondo, assim, os bancos de qualquer garantia real para o finan- ciamento que haviam realizado. A essa decisão veio reformar o Decreto 19.473, de 10 de dezembro de 1930, determinando que os portadores do conhecimento de depósito, os bancos, fossem consi- derados os donos da mercadoria. 2a Os lavradores, naturalmente, não ficaram nada satisfeitos. Mes- mo que o go~erI)o adquirisse , a sa a a 60 mil-réis, despendendo um milhão é duzentos ·1 contQs, à lavoura d beriam} apenas 400 mil, exatamente a metade que receberia s~ a safra diouvesse sido " comprada a 50 mil;réis por saca. E havia ai da, uma outra grave ~- ~ ' conseqüência: agravada a debilidade financeir~ dos fazendeiros, \., • • ) (, \... ...J l 1· - os bancos se mteressanam ainoa ê}lenos por qua quer ap icaçao '> no setor. ~l 0 .., Sentindo-se "espoliada a; seu produto" a lavoura esoerneou o ~ ' . quanto pôde, "acus~ndo Wnitaker de proteger os interesses dos bancos envolvidçs no financiamento ao café, inclusive de seu pró- prio. Whitaker, mais tarde, no balanço que deu da sua gestão à frente do Ministério da Fazenda, procurou esclarecer sua posição: O segundo p~ojeto consistia na compra da safra pendente, a um preço umforme, estimado em 50$ por saca, liberando-se e exportando-se em seu lugar o estoque retido. A solução apre- ·R Jardim. A Aventura .. ., op. cit., p. 246 e segs. 23 Cf. · NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 111 sentava, a par de várias vantagens, dois· inconvenientes causado- res de ~ua rejeição:. u_m, a valorização dn estoque, comissário e banqueiros, em pre1mzo da lavoura, outro, forçar a liquidação prematura do empréstimo de 20 milhões de esterlinas, em vir- tude da exportação, em ano e meio, do estoque que o garantia.24 A nova política cafeeira foi definitivamente estabelecida em 11 de fevereiro de 1931. Comprometia-se o governo a comprar o estoque existente até 30 de junho, com exceção dos cafés de pro- priedade do Estado de São Paulo, adquiridos para respaldar o Empréstimo de Realização de 1930, obrigando-se ademais a man- ter o café nos armazéns reguladores, sem outro ônus além da con- servação e seguros. O preço máximo por saca seria de 60 mil-réis, 20 dos quais fornecidos pelo EstadG de São Paulo, que abriu um crédito de 350 mil contos para atender a estas despesas. Já pre- vendo os efeitos sobre os preços da grande safra de 1931-1932, fixou-se um imposto em espécie de 0% sobre as exportações a partir de 1 de julho. Finalmente, tax~u-se no pe íodo de 5 anos as novas plantações em 1 mp-r&is por pé, par desestimular o novo plantio.2 ll ")O Em abril, o panorama cafeeirÓ é1extremame t .. grave. Estava patente que a safra de 1931- 932 ultrapassar~â> os 25 milhões de .:-0 s sacas. Supondo exportaçõe de 15 milhões e""'admitindo um estoque de 20 milhões, ,delineava-se um monstruoso ex~edertte de produção de 30 milhões de sacas! O ~ tadb '. de ão Paulo declara situação de emergência e convoca uma · co~fe ência d representantes dos Estados produtores.') CX 0 ' \.. .J" Não há dúVida'Q d ~ :cque g. reu iao atendia antes aos interesses do governo federal ~quf? a _ quaisquer outros. Tanto é assim que não se anunciou nenhuma medida adicional para mitigar a crise, senão que a decisão mais importante consistiu na conversão do imposto em espécie de 20% noutro, de 10 shillings por saca, com 24 Cf. J. M. Whitaker. Relatório da Administração Financeira do Governo Provisório, apresentado ao Ministro da Fazenda em 4 de fevereiro de 1933, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1937. 25 Decreto 19.688, assinado pelo Presidente e pelo Ministro da Fazenda. Cf. A. de E. Taunay. História ... , op. cit ., v. XIII , t. I, p. 415 e segs. 112 LIANA MARIA AURELIANO o que a pressão financeira sobre a União ficava consideravelmente aliviada. A lavoura recebeu a medida com resignação: Sugerida a criação de um novo imposto de exportação, formu- lara como objeção inicial (o delegado de Minas) que teria de fatalmente incidir sobre o produtor. Para o evitar seria preciso que os Estados dispusessem de recursos assegurando ao lavra- dor um preço mínimo, de modo a obstar a incidência do im- posto sobre ele. Não lhe fora difícil compreender que os diversos delegados sustentavam o mesmo ponto de vista. Mas esbarra- vam todos em um obstáculo insuperável; a intransigência das leis econômicas não permitia fixar preços por decreto. 26 A conferência, por outro lado, deu mais um passo na direção do controle da política cafeeira pelo governo federal, convidando um seu representante para ter nele assento permanente. Passo cujo significado fica claro adiante, em maio de 1931 , quando o Go- verno Provisório, acolhendo suas esoluções e aceitando o convite, constitui o Conselho Nacional -Ob Café, sob presidência de dele-,_, gado especial por ele indicado. O Instituto do Café do Estado de São Paulo, que viera perdendo~~buco a pouco suas atribuições, acaba ficando res rito apenas à publicidade, assistência técnica e v 1 pesquisa, a partir de 24 de julho.27 Estamos já bem perto da cen- tralização total da política cafeeira, 9,ue viria em fey_ereiro de 1933 com a criaçã,g-do Departamento acional do Café. · :b i discutível que a aplica ão d~ polífica cafeeira foi cautelosa C V • durante a gestão Whitaker. ~Buscou.'.'se, em suma, restringir ao mí- nimo o dispêndio do governo federal se recorreu, para isto, a dois expedientes: 1) Ç'.,Ocessão d~ monopólio das vendas do estoque de propriedade 80 governo âi' São Paulo, que garantia o Emprés- timo de Realiza{ão de 1930, à Hard, Rand & Co., em troca de ~n Declaração do Dr. Mario Roquete Pinto, transcrito por A. de E. Taunay . História .. ., op. cit. , v. XIII, t. I, p. 415 e segs. 27 O Inst ituto do Café de São Paulo é completamente esvaziado, quando, depois de 1932, os seus diretores são acusados de haverem incentivado a revolução e desviado d in heiro para fins bélicos . Cf. A. de E. Taunay. His- tória ... , op. cit ., v. XIII, t. 1, p. 413; v. XIV, t. II , >'· 59; Carone, A Re· pública nova, 1930-1937 , Difel, 1975, p. 129. NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 113 adiantamento de 290 mil contos; 2) troca de 1 275 000 sacas de café por 26 milhões de bushels de trigo, que alienados renderiam 189 mil contos, à medida que fossem vendidos no mercado inter- no, a partir de outubro. Até novembro de 1931, foram adquiridas 6 075 000 sacas, que exigiram créditos do Banco do Brasil no montante de 150 mil contos, necessários à complementação dos recursos obtidos com as operações da Hard, Rand & Co. e com o Farm Board.28 • Os cafeicultores não se conformaram nem com a progressiva passagem da política cafeeira ao governo federal, nem com o que consideravam medidas por demais tímidas para fazer face às suas vicissitudes. A oposição a Whitaker, engrossada pelo interventor João Alberto, ganha a cada dia maior violência, e acusações sobre acusações vêm à baila.29 Ao Ministro da Fazenda nada restou se- não demitir-se: ç~..... '"'~ Não desejando entrar em luta, 'Cbm uma fra_ção embora da la- voura de minha terra, à,,- uai só queria <esforçadamente servir, obtive, afinal, a minha..,.exoneraçãosdà pasta da Fazenda, con- vencido de que não me era lícito llaba Clonar o ponto tle vista, que sempre su~tebtara, de res0Iver1 o caso do ca~ s~m sacrifício do país e .em sacrifíc· o aa :ilav_ou'ia. Isto é, \çeHí emiSsões e sem aumento de tributação.3 Z e\ :.l e <\\ 0c, \cP ' C" 'Õ 'V -Ç': e Õ r:: o~ e 0e. r.,.c ~.0 e Com a áída de Whitake..[0 éf possLvel upor q e as compras ganharam até o fim do ano n'raior ve o · dJde, alkndo-se de novos 1 J- ~ • créditos do Banco çi,o Bras·i.c:,e r:>\0 v- ':l É indiscutível qJei::,QS ~feitos d acpolítica cafeeira em 1931 não d '°"(\. 1· d 0 ( ~ d l' ·d · · po em ser apenas 'ava ia os em termos os recursos 1qm os inje- tados na economia, á iás cdt9~ão pequena monta, digamos em torno de 540 mil contos, seja ~través de créditos do Banco do Brasil, seja das operações com Hard, Rand & Co. e com o Farm Board. Na verdade, não se pode esquecer, como o fazem alguns, que a 2s A. de E. Taunay. História .. . , op. cit., v. XIII, t. 1, p. 453 e segs. 20 R. Jardim. A Aventura ... , op. cit., p. 250; e A. de E. Taunay. HistÓ· ria . . . , op. eit., v. XIII, t. I, p. 455 e segs. 3_o A. tle E. Taunay. História .. ., op. cit., v. XIII, t . I, p . 456. 114 LI ANA MARIA · AURELIANO decis.ão de comprar o estoque do governo federal significou sua retid da definitiva do mercado, impedindo que pudesse derrubar ~ais.'i violentamente os preços internacionais, que caíram para 10,l'(cents a libra-peso, com exportações inéditas de 17,9 milhões de sapas, numa situação em que a safra de 1931-1932 atingiu nada menqs que 28,5 milhões ·de sacas. Nestas circunstâncias, a desva- lorii~ção da taxa cambial pôde continuar operando como meca- nism~ de defesa, e os preços internas subiram para 131 ,5 mil-réis a saca.3 1 , .:.1 . i:r claro que a . sustentação poderia ter tomado outros rumos, se ·,.a burguesia cafeeira continuasse hegemônica e pudesse curvar tóda nação a seus interesses. f: claro também que o Governo Pro- visório encarava com profundas suspeitas, as acumuladas dur:ante a década de 1920, toda e qualquer medida de valorização: mas como não levar ,e:n conta a necessidade de abrigar os interesses cafeeiros, arrastando tudo à ruína, a" indústrill, a agricultura de alimentos e matérias-primas e as próprias ina~ças públicas? · A política econômica de 1931 conteg plou os interesses cafeei- ros, ainda que diferent ialmente: { -lavoura foi mantida num certo patamar, mesmo que baixo; ' os oancos receberiak )melhor trata- " '> mento, evitándo-se conseqüêricias desastrosas para t~dos . Não os contemplou integralme té, nem poEerf~ fazê-lo. GJ Reconheç mos que o Estado usaído ºda Revolu ão de 30 teria : ) . - I de levar em consideração . tan o os ,interesses~ industriais e qa agri- cultura de mercado interno, quanto O.§ p roblemas -orçamentários ~~ 1 ( e de nossa1> . co tas externas. ".:1 · · ' ., As finanças rpublicaSJ encóntravam-se numa situação extrema- ) . . mente delicada, provocada pelo déficit de 1930, que montara a 836 mil contos. Com o enfraquecimento da receita, conseqüência da érise, as opções no limite eram claras: ou enveredar por uma política de equilíbrio orçamentário a qualquer custo, que prejudi- caria a indústria, a agricultura de alimentos, o sistema bancário e rnesmo a burguesia cafeeira, enfima todos menos nossos credo- ' a1 Para o volume da safra, da exportação e preços internos e externos, Cf. e. M. Pelaez. " Análise . . .," op. cit., p. 207. ' NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 115 res externos; ou continuar a expandir a, µespesa, digamos mesmo mant.ê-la, o que sigfiificaria ampliar ou repetir o déficit do ano anterior. No último caso, o crescimento da economia seria estimulado, beneficiando os interesses ligados ao mercado interno, o que traria insuportáveis pressões sobre o balanço de pagamentos, abalado pela queda das exportaçÇ)es. Então de duas uma: ou se desvalo- rizarfa contínua e profundamente a taxa cambial, repondo e acen- tuando o problema orçamentário, por causa da subida da dívida externa em .mil-réis, ou se estab~lecia algum tipo de controle de .câmbio, mantendo fixo o valor do mil-réis. ~A primeira solução, . se bem que favorável à burguesia ca- feeira e à industrial, com o aumento do grau de proteção, teria fôlego curto, pois acabaria ameaçando de bancarrota interna e externa o próprio Estado, ao mesmo teinpo em que contava com a decidida oposição de nossos credores, pront~s a pressionarem seus governos para tomar meqida~ de repr{s'ália. Essa oposição . fica patente ao examinarmo's as r~corfiendações da Missão Nie- meyer. 32 Em 10 de janeiro de 1Q,3i~ çruando já e.stava suficiente- mente ~laro às meirles mais avis,adas e perspica~eS"'de · que o Brasil teria de renegociar a dívida externa, anuncia-sé-> a vis· ta de uni dos diretores do Banco 7da Inglaterra, Oto 6Nie eyer, para exa- minar a situação ..,econoinico-financeira do Raís. Em1. 25 de julho, /. r ,, ,,... ) o relatório da missão fo~ pU'blicaqo. Como . ão poderia deixar ~e ser, seus conselhos undameri'tai foram a manutenção do equi- líbrio orçamentál'io'ôe a estabilizaÇão da moeda, com o q11e, natu- ralmente, nossos cre ores veriam assegurados seus interesses, evi- tando-se a moratórj a ~u~ 'arrepiava o ilustre visitante . .. ~ A segunda solução, a manutenção da taxa de câmbio acom- panhada por : controle cambial, prejudicava severamente a Iavoura cafeeira, retirando-lhe a proteção das desvalorizações, ao mesmo tempo em qu'e, certamente, provocaria de parte de nossos impor- tadores reações imprevisíveis, naquele momento dramático atra- . 32 Cf. O. Niemeyer. The Niemeyer Reprt to the Brasilian Government. · Londres , 1931. 116 LIANA MARIA AURELIANO vessado pela economia mundial capitalista. Ora, nessas circuns- tâncias, passava a ser desinteressante também para nossos credo- res, receosos de que a quebra das exportações, causada pelas pos- síveis represálias comerciais, impedisse o pagamento da dívida externa. Penso que estas considerações ajudam a compreender por que é posto em prática um corte da despesa em termos correntes em cerca de 20%, mas, ao mesmo tempo, se admite um déficit orça- mentário de nada menos que 294 mil contos: nem bancarrota interna· e externa do Estado, nem conflito com credores externos, ma~, também, nada de equilíbrio orçamentário a todo custo. Torna-se mais clara, também, a política cambial. De início, remoção de todas as restrições, mercado cambial praticamente livre e desvalorizações cambiais; mais adiante, em 1 de setembro, suspensão dos pagamentos relativos à amortização de todos os· empréstimos externos à exceção:\dos undings /o.ans, controle cam- bial e, finalmente, renegoci çã da dív.dá ~xterna, ao invés de acentuar a depressão,.Jc inào fundo o j nteresse de tantos, de quase todos.33 " e~ ~· o·,,,, ~ Oi . ) Fica patente; ademais,. §o 'que" b Estado tratd~ de')i plementar wma política monetárii' f ancamente expan~ionista, c..que servia a < . \.J todos, à indústria: à' comércio à ag'ffoultura de mercado interno :-:> ' 'ú ~ ÇI .,. e aos bancos.:M oi?, ainda, Rorque9áom~n~1' o gr..a'u de proteção à 'indústr'ia, com a revi ãÓ~ ayifária "e ; pr9íb;' a importação de equl"pam t ' ,.,. o e '"' d - " 35 en os para 0,ertos ramo m "superpro uçao . o ºº Ui (".. \.0 ~ o J . . v <;'l':J ~ef0'Õ , G '11J Apenas em 2 ~de màfço d assinado o f unding. Seu contrato . Ç\ ' • d prevm o pagamento comp eto dos serviços relativos à amortização os f undjng loans, o pagamento dos atrasados franceses, e suspendia as amor· tizações relativas a todos os demais empréstimos brasileiros. Cf. Relatório do Min istério da Fazenda, 1933, p. 46 e segs.; e M. Abreu. "A Dívida pú- blica externa cio Brasil , 193 1-1943." Pesquisa e Planejamento, Rio de Janeiro, jun. 1975 . Em setembro de 1931 foi estabelecido o monopólio c.ambial do Banco do Br~si l. Cf. A Villela e W. Suzigan, Política . . ., op., cit., p. 324. 1J ·1 Em 19.31 a oferta de moeda aumentou em 16,1%. Cf. P. Neuhaus. His- tória . . ., op. cit., p . 11 2. a~ Ao' contrário do que afirma W. Dean, a tarifa introduzida em setembro de 193 1 resultou em proteção à indústria nacional. "A tarifa ( . . . ) era NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 117 Tudo, enfim,· se esclarece quando não perdemos de vista que a política econômica é elaborada e executada numa situação de crise de hegemonia aberta, quando o Estado tem de levar em conta todos os interesses legítimos em jogo, mas o faz de modo contraditório, como que respondendo concomitantemente aos inte- resses dos distintos grupos, sem poder satisfázer plenamente a ne- nhum. E é exatamente esta política econômica que foi capaz de impedir o aprofundamento intolerável da crise. A recuperação só viria em 1932. Vejamos como. A situação cafeeira agravou-se, em muito, já nos finais de 1931, quando. estava patenteada a dimensão extraordinária da safra. Logo após a saída de Whitaker, é convocada nova reunião dos Estados cafeeiros. De prático, apenas duas resoluções: 1) elevar de 10 para 15 shillings o imposto à exportação, destinando-se os 5 shillings suplementares ao resgate do, empréstimo de 1930. e 2) eliminar dentro de um ano 12 milhoes de sacas. No ar, sem en- contrar eco, ficou uma aspiração, que expre~ava claramente tanto a insatisfação, quanto a raqueza da a".:.Óura cafeeira: "O Conse- lho deve recuperar? mesmo por me'os 'ndiretos, a primitiva auto- nomia, ficando porém sujeito à mais ampla e rigorosa -fi~calização , ' ~ o":> o-da governo federal" .sa · ,.,. · O · · O_, ,'õ. f ' · ~d v,J. ·d-. os prossegmmento da ·sustentação ca eeira epenuta\ e recurs V ~ < do governo federal, que ,resolveu eleyar (para 400 mil contos o limite da Carteira de .Redescontas: , e - ~'-' o ô,,\)V' ':> :V -"=' e~ "' ,..0 ~ ~ \J aproximadamente 25% superior à tarifa geral anterior. A pauta mínima ~ J . • • seria aplicada a produtos provenientes de países com os quais o Brasil hou- vesse assinado 'acordo, incluindo a cláusula de nação mais favorecida, e era aproximadamente equivalente à tarifa em vigor até setembro de 1931". Cf. M. Abreu. "A Dívida . . . ," op. cit., p. 22. Pelo Decreto 19.739, de 7 de março de 19~1, foi limitada a importação de máquinas, para várias indústrias consideradas com capacidade ociosa. A indústria mais atingida foi a têxtil. Cf. Ministério da Fazenda, Secretaria da Receita Federal. A Legislação tributária no Brasil a partir de 1930. Rio de Janeiro, Plangef, 1971. · ª6 Cf. A. de E. Taunay. História . .' ., op. cit., v. XIII, t. I, p. 485 e segs. 118 LIANA MAR,IA AURELIANO A fim de opinar sobre a forma de fornecer os recursos neces- sários, convocou o governo uma reunião de banqueiros que, depois de estudar o assunto, resolveu aconselhar que se auto- rizasse o Banco do Brasil a descontar ou redescontar os títulos que fossem emitidos pelo Conselho Nacional do Café, de acor- do com condições e garantias consideradas necessárias. E~tre essas seria a principal o penhor da taxa de 10 .shillings sobre cada saca de café exportado, a · qual seria arrecadada pelo Con- selho e depositada no Banco do Brasil. Para atender às possí-veis necessidades de numerário por parte do Banco, decorrentes dessas operações, sugeriram os banqueiros fosse elevado o li- . mite dá Carteira de Redescontas de cem para quatrocentos mil-réis, ficando expressamente estipulado que o aumento de trezentos mil contos somente poderia ser utilizado em redes- contos dos títulos do Conselho.3 7 A política de sustentação do setor cafeeiro pôde, então, pros- seguir. As compras ganharam ritmo mais intenso, quer utilizando recursos do imposto de 1 O shillings, quer créditos do Tesouro N . . ) l acional e do Banco do Brasil, que totalizaram, no fim do ano, 500 mil contos. A dest ição de ca(és também foi acelerada, che- gan~o· a 9 329 63 \ saéas.3 8 r e Estas providências foram' fundamentais, indiscutivelmente, para I' ' ,., ,, ~ que . os 11,9 milhões ~ sacas ' exportadas alcançassem ,9S 9, 1 cents por libra-peso. ão devemos nos esqu~cer ainda de mencionar 'I . ' , os efeitos t_ontraditórios da Revoluçã~ ')de 32 sobre o mercado cafeeiro: de um lado, a receita:J de exportações foi prejudicada pela par~lisação dos· emb~r,ques p r Santos; mas, de outro, os preços nao receberam a <pressão adidional dos 2 000 000 de sacas . b ~ que senam exportados. . e> ;;J v A compra de càfés e sua subseqüente destruição ganham mais relevância ainda, " quando nos lembramos ·de que a cafeicultura se valeu de uma forma extrema~ente limitada do alívio da desvalo- rização cambial. Vejamos esta questão com cuidado. Como já se disse, em setembro de 1931 foi estabelecido o sis- tema de controle cambial: ;11 Relatório do Banco do Brasil de 1932, p. 1 e 8. 3 8 Cf. I;. Regray. O Café , , ,, op. cit,, p, 24 e 34. NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO l t9 ( ... ) foi dado ao Banco do Brasil o monopólio da compra e venda de cambiais, que seria exercido pelo Banco durante os três anos seguintes. Pelo sistema então introduzido, as expor- tações só eram permitidas quando as cambiais resultantes fos- sem previamente vendidas ao Banco. De posse destas, o Banco passaria a atender às necessidades do mercado à taxa oficial e segundo a seguinte ordem de prioridades: compras do governo e dívida externa, importações essenciais e procura de cambiais para outros fin s, inclusive a remessa de rendimentos de capi- tais particulares para o exterior.~rn · A suspensão dos pagamentos da dívida externa e, em seguida, ) o funding trouxeram, certamente, um certo desafogo no mercado , cambial. Talvez por isso o governo tenha se animado a promover a valorização do mil-réis. A situação cambial no princ1p10 do ano findo permitiu que se promovesse, de fins de março a fins de junho, uma pequena / valorização do mil-réis, .cujo poder aquisitivo interno cumpre observar, a bem dos interesses s iperiores d Náção. O dólar, de 15$900, passou a valer 3$300:10 O ~ e . A partir de julho, JlO entanto~ "ª tax:a'Coficial soqe novamente por causa da queda das receitas de exportação acarretada pela ' J revolução de 32 e dos gastos militares em divisas.e. e,~ ' p v , A taxa de câ gio média\..do ano chegou aos 14! 140 por dolar, o que equivale-' a uma desvalorização ~de quase 5 % , em relaçã.o aos 13$660 de 1931 , e a u~a valorização de 10% · em relação aos 15$900 do começo de 32. De,,qua quer forma, a taxa cam- bial oficial situou-se num n[vel 'hastalil.te inferi ... ir à que se estabe- - ~ . leceria no mercado hvrt}. :E>a' as reclamações da lavoura cafeeira contra o confisco: · ~<;\ ~ ... ol..f, A taxa de câmbio era inferior à aparente, como se verificava pela cotação do mil-réis nos mercados estrangeiros, constituindo a diferença um imposto a mais na já muito sobrecarregada ex~ portação nacional . . . Entretanto, apesar destas sensatas pon- derações · e dos constantes esforços despendidos pelas associa- an A. ·Ville1a e W. Suzigan. Política ... , op. cit. , p. 323 e 324. 40 Relatório do Banco do Brasil de 1932, p . to e 11. 120 LIANA MARIA AURELIANO ções de classe, notadamente a Associação Comercial de Santos e Sociedade Rural Brasileira, nesta capital, secundando cam- panha tenaz que na imprensa daquela praça vínhamos man- tendo, diariamente, contra a valorização arbitrária e prejudicial da nossa moeda, ainda assim, perdurou ela de janeiro de 1932 a dezembro de 1933 .. . 41 Aranha responde a todas estas reclamações, declarando que a desvalorização do câmbio não teria nenhum efeito sobre as ex- portações: A crítica umca feita à nossa política cambial, tem sido a de que o nível do valor do mil-réis tem impedido maiores expor- tações. Não procede esta articulação, salvo em casos excepcio- nais, ·para os quais sempre fez o governo facilidades. Como . regra, essa asserção contrasta com a realidade. As exportações só cre~cem, em volume e valor, em épocas de prosperidade e, conseqüentemente, de moeda estável a preços firmes. Fora dessas épocas, como no período atual, os fatores são tais e tantos que seria aventuroso pretender fixar regras e normas, determinar causas e efeitos. 42 0 '- e., Em suma, a inGrvenção do 'Estado beneficiou, ainda que de .J . forma restrita, à lavoura cafeeira evitando apenas ~sua derrocada. ""' (.,, ...,. ) r A sustentação do café foi fundamental para ac economia em . ( ' 1932, mas n~o~ pôdeõi oladamente explicar a ifecuperação. Para isto, é ng:essário levar em ,conta, desde logo, ... º~xtraordinário au- . menta a despesa federal, cerca de "4Q% em termos correntes, gerando um déficitó orçamentário ' e oaôa menos de 1.164 mil contos. O déficit e. deveu-se não somente aos gastos com a revo- lução de 32 e com ~ combate às secas, mas, na mesma proporção, à realização de outros d(spêndios inadiáveis: ~ r~volução em São Paulo exigiu do governo federal a impor- tancia de 451.997: 546$ ( ... ) A seca do Nordeste, sem pre- 4 1 Cf. A. de E. Taunay. 'História . . . , op. cit., v. XIII, t. 1, p. 537. Para a sobrevalorização da taxa de câmbio, entre março e junho de 1932, ver Repari on the Economic and Financial Condicion in Brazil. Londres, His Majesty's Stationery Office, 1932. p. 7 e 9. 42 Relatório do Ministério da Fazenda de 1933, p. 85. NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 121 cedentes em sua história, impôs ao governo socorrer as popula- ções flageladas. Dispendeu o governo 13 8 .469: 302$, por forma sábia e construtora, conciliando o dever de pre~tar socorro ime- diato com o de atender às necessidades permanentes .dessa tão tiéa região do país, mas perseguida por constantes provações.43 Naturalmente, o financiamento do déficit feito com emissões ( 400 mil contos) e com créditos do Banco do Brasil ( 600 mil contos) teve um efeito estimulante sobre a expansão de meios de pagamento. Por outro lado, merecem menção duas outras medidas gover- namentais: a criação da Caixa de Mobilização Bancária e a am- pliação . do âmbito d.a Carteira · de Redescontos do Banco do Brasil. A Caixa de Mobilização Bancária, estabelecida a 9 de junho, visava tão-somente colocar o sistema bancário ao abrigo de qual-0 o::> quer desconfiança: \)"\ ~g~ .... () ç<.º As autoridades ha\lianf.-percebido (ÇJU~ a capacidade (de emprés- timo do sistema(9ancário h viâ'sidoj coinprome_}iQ.a pela grande proporção de reservas mantida contra a '):exigibilidades em depósitos, e" que er m.<::::>atri6uídas, tanto.J:â'. incertez resultante da Depressão mrinClial, q\:Íanto ao grand volume áe depósitos ociosos de mpr esas q e aguardàvam -a 'r'emessa0 para o exterior. Decidiuc§e? então, formar , um1 poof7de reservas .. :peia imposição aos Bancos comerciais 1 da rigâtor· edÍ<{e._ de rdepositarem, junto ao Banco do Brasi~, toda Ca mo da "m'anual que excedesse a 20% de seus d_ypó~itos; pehr-primeira vez, impuseram-se reser- vas compulsórias .-:. ínimas , aoS,c:Bancps comerciais, correspon-· dentes a 10% dos 'élepo~tos a prazo e 15% dos depósitosa curto prazo (depósitos <à vista e de aviso prévio até 90 dias). O propósito ostensivo do pool · de reservas era o de restituir fundos para alguns Bancos que possuíam uma grande percen- tagem de sua Carteira em ativos a longo prazo e baixa liquidez, e cujos encaixes pudessem cair abaixo das reservas mínimas recém-estabelecidas (a CAMOB receberia parte de seus ativos congelados como garantia para empréstimos a longo prazo). Se o total de créditos concedidos pela CAMOB excedesse, a 43 Relatório do Ministério da Fazenda de 1933, p. 16 e 17. 122 LIANA MARIA AURELIANO qualquer momento, os recursos do Banco do Brasil, ela po- deria requisitar a emissão necessária ao Tesouro. 44 A Carteira de Redescontos, finalmente, foi autorizada a aco- lher, além dos "títulos comerciais", os destinados ao · financia- mento da produção industrial, agrícola e pecuária. 45 A política econômica continua a dar guarida, em 1932, a todos os interesses em jogo, ainda que o faça diferencialmente. Intensificam-se as compras de café, mobilizando - não per- camos isto de vista - recursos públicos no montante extraordi- nário de 500 mil contos, o equivalente a 20% da despesa federàl do ano. Não era possível ir além deste esforço gigantesco, aten- dendo aos reclamos pela desvalorização do mil-réis, simplesmente porque havia outros interesses a levar em conta, os do próprio Estado, referentes às suas compras e aos seus compromissos ex- ternos, mas, também, os da indús ria, de modo \.a~não paralisá-Ia por falta de matérias-primas indispensáveis. ç- _, o Por outro lado, não poderia o Governo Provisório, sob pena de sua liquidação pura ~ simples, deixar de efetuar as despesas decorrentes do c'dnflito armado e 1932. Nem, muíto menos, abster-se de socorrer os interesses nordestinos <"iibalaaos <Yelas secas, ou ir de encontro ãf? demais pressões pai'a expans'ão do gasto, 1 Gd E o~< . O (.. - . -provave mente os stados mais pobres e dependentes da Umao. e h t b , ,~ ! J 1 ,... , O . . , 1 onven amos, am em, qu«? a , argueza monetana era mev1tave , não prejudicava a ni,eguém0 favorecia a todos, indústria, comércio, bancos, agricultura de mercado internoc e cafeicultura, respaldando a recuperação e, c-J~ isto, fortalecendo as próprias finanças públicas. " 0 f: hora de concluir. A rápida recuperação da econoipia brasi- leira deve-se, indiscutivelmente, a um conjunto de medidas de política econômica. 46 Não há dúvidas de que a defesa do café 44 Cf. P. Neuh'aus . História .. ., op. cit., p. 119 e 120. Para Caixa de Mobi- lização Bancária ver também o Relatório do Banco do Brasil de 1932, p . 5 e segs . e Repor/ ou the Economic and Financial Conditions in. Brazil, p. 17 e 18. 45 Relatório do Banco do Brasil de 1932, p. 5. NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 123 desempenhou papel fundamental, nem de que foram também cru- ciais especialmente os déficits fiscais de 1930 e 1932. O que quase todos, não compreenderam toi a natureza da política eco- 1 nômica: porque amparasse a cafeicultura, houve quem visse os resultados como simples conseqüência de sua defesa inevitável; porque acabasse objetivamente favorecendo mais os interesses por- tadores do futuro, os do capital industrial, e menos os que enca- navam o passado, os do capital mercantil exportador, alguns trataram de enxergá-la industrializante; porque entendessem que não perseguiu "intencionalmente" a recuperação, outros a viram como o produto da ação de policy-makers "ortodoxos" surpreen- didos por " fatores exógenos". Pois, bem, esperamos ter deixado claro que só é inteligível se a tomarmos elaborada e executada pelo exercício contraditório dos interesses, num.a situação de crise aberta de hegemonia. \>-\,. Industrialização e política econômica -< )<(-. r\.\OoS ç>,'::) <C Conhecemos, entre 1933 e 19 37, um e~t~aordinário crescimento da produção industr· qj): o\).z; e'º~ íO «" 6 ..... s c,Cs' PRODUÇÃO., INDUJTRIAL DO BRASIL - 193~-1937 ...., . ';,o (1939 = 100) ~ Ano lndice Suzigan 1932 ~v..- o 46 ,0 56 ·~V 1933 ~· "" s~ ~'õ ~~2.8J 61 1934 'f..'Õ°" ~'f..e; 59,6 68 1935 e~ \o'-º~l 68.0 77 1936 77,8 91 1937 83,3 93 Fonte: A . Vil le ia e W Suzigan. Política . ., op. cit .• p. 431 ; e A . Fi shlow . "Or igens . op cit., p. 64. 46 Cf. C. Furtado. Formação econom1ca do Brasil. Rio de janeiro, Fundo de Cultura, 1959. caps. XXX e segs .; A. Fishlow. "Origens .. .," op. ~it ., p. 27 e segs.; e J. M. Cardoso de Mello. O Capitalismo . . ., op. cit ., p . 184 e segs. / / -- ( 124 LIANA MARIA AURELIANO Não é difícil explicar de que modo se desencadeia e avança a expansão. Com a recuperação da economia, as margens de ca- pacidade ociosa provocadas pela crise ou, mesmo, trazidas de anies dela, foram preenchidas, recompondo ou aumentando a lu- cratividade corrente das empresas. Por outro lado, com a modificação dos preços relativos trazi- . da pela crise, a lucratividade esperada da indústria leve de ben~ ' de produção foi favorecida. O diferencial de rentabilidade em seu favor estimula inversões no setor, que passa a crescer acele- radamente, apoiado .basicamente na própria demanda, na medida em que o aumento da produção industrial, pressionando a capa- cidade para importar, encarrega-se de manter continuamente o diferencial de rentabilidade a seu favor. A indústria de bens de consumo assa lariado, ao invés de ligar-se primordialmente ao com- plexo exportador cafeeiro, passa a ligar-se à reprodução da força de trabalho industrial. r J Em suma, há uma nova dinâmica daCacumulação, em que as tax~s de acumulação 'de /capital e de e~prego são inequivocamente mais altas no departamento ~ de bens de produção: 'v I )~ V" . º"::' v ..J .., ')'-> .~ ~R9DUÇAO DE ALGUNS RAMOS INDUSTRIAIS s "\O (1929 = 1b Ol r I r ~o,\)'~ o 1\ _, 1935 1936 193V 1,:,_=!3 1934 1937 ~ ~ 1 . Minerais não-metá licos~ 145.4 208,9 282,5 332,0 426,5 498,6 2. Metalurgia 90,2 130,5 155,3 172,2 202,0 225,3 3. Papel e papelão · d 102,2 238,8 2go,9 424,1 459,7 546,9 4 . Ouímica e Farmacêu ica 73.4 82,7 79,2 105,0 113,2 133,6 5. Têxtil 127.4 131,0 145,7 165,4 195,8 207,5 6. Ve~tuários, ca lçados e 7. artigos tecidos 67,3 71,2 74,6 94,7 110,9 121,0 Produtos alimentares 99,3 111,6 116,9 128,9 132,4 120,9 8. Bebidas 76,3 79,3 79,8 81,7 107,7 110,4 Fonte: A. Villeia e W. Suz igan. Politlca . .. , op. clt., p. 433 . No entanto, o departamento de meios de produção cresce, mes- mo nos setores já instalados, à reboque da demanda: BRASIL - PRODUÇÃO E CONSUMO DE FERRO GUSA, AÇO EM LINGOTES E LAMINADOS - 1932-1937 (toneladas) ~ r~ ~ '-à ç~ Ferro g~a / Aço em lingotes 1 Laminados ~ lrrodyçã1l.Q Consumo v Produção Consumo 1 Produção 1 Consumo ' ~ ...... ( l Ano n '\ 29' 786~. .... t J4 192 56 469 29 547 165 650 1932 1 ~ - ... 1933 5,3 567 65 904 42 369 277 028 ' 1934 58 559 ;..,1 Y'"" 59 282 ;.... rn- s1 Js 1 69 390 1 48 699 1 343 590 ') .<; "002 <> · '\' "" '" ' I ~ ... ,..64 2~1 ' 1 80 426 1 52 358 1 345 389 li u (') ...... ~ o 1 85 746 1 62 946 1 386 689 78 419 e. ~79No-:-, 1 n667 0 " '"". °c 98101 1 ~ ~9313 ~ 76 430 1 101 433 1 71 419 1 505 352 r (, ·o 'ó ('t .: ~ 1935 1936 1937 Fonte: W. Baer . Siderurgia .. . , op. cit. , p. 86 e 87 . ~ EVOLUÇÃO DO CONSUMO DO CIMENTO NO BRASIL .Consumo Cimento Cimento Ano aparente nacional importado 1932 309 987 149 4"53 160 534 1933 339 450 225 580 113 870 1934 449 611 323 909 125 702 1935 480 415 366 261 114 154 ' 1936 563 262 485 064 78 198 1937 650 732 571 452 79 280 Fonte: Cimento ... , op . cit., p 10 · Naturalmente, a industria lização foi estimulada por condições ~~tremamente favoráveis de acumulação. Contou-se, em primeiro lugar,Q om força dé 'trabalho em abun- [dância; entre J 931 e 1940, entram em São Paulo cerca de 185 000 imigrantes estrangeüôs e nada menos de 450 000 migrantes nacio- nais, nordesti nos em sua esmagadora maioria, vítimas da crise da i economia de subsistênciá provocada especi)ilm~nte pelas · secas.47 Além disto, · o poder de barganha do opefa rJad12,l industrial há de ter sido pequeno, seja por rcausa do controle s_ind,ica l gradati- vamente exercido pelo Estado; seja por pt1ra e imples repressão. í O desempenho da agricultura mercantil dê alimentos parece ter sido bem .mais fa orávél do qu~ os índices agregados levam a crer, simplesmente porque, mais- uma vez, a agricultura paulista e, em menor medida) a mineira, crescem a taxa nada desprezív~is: r'\ Em suma, ao qué tudo indica, não se reg~straram pressões para a subida dos salários, que, aliás, teriam sido absorvidas com certa facilidade, dado o câráter oligopólico do sistema industrial brasile iro . Problemas, isto sim, poderiam sobrevir .da_ ex1güidade da ca- pacidade para importar. Examinemos a questão detalhadamente, começando pela situação cafeeira, n Cf. O. Nogueira. Desenvolvimento . . . , op . cit .. p. 28: NO LIMIAR DA INDUSTRIAUZAÇAO 127 No início de 1933, as perspectivas eram indiscutivelmente de- sanimadoras, pois estava claro que a safra ultrapassaria 25 milhões de sacas. Neste contexto, culmina o progressivo controle do governo federal sobre a política cafeeira, com a criação do Departamento Nacional do Café, em 10 de fevereiro. A questão cafeeira trans- forma-se, definitivamente, em questão nacional. Nos considerando do decreto-lei 22.452, diz-se claramente porque o DNC foi es- tabelecido: Considerando que a defesa do café repousa precipuamente sobre providências que incidem na órbita dos poderes federais; considerando que dentre essas sobrelevam, pela influência que exercem na vida econômica e financeira do país, as que dizem respeito ao apoio monetário e à regulamentação do comércio; e considerando, em conseqüência, que (10 governo federal cum- pre, para salvaguarda do interesse nacional, maior e mais efe- tiva ingerência na direção deste ser..viço, até hoje confiado sem resultado a instituições particulat.íes. 48 ,0o ,e Para enfrentar a derrocada iminente)'"' o DNC intervém no mer- cado, estabelecendo q otas para (.,esc~n,?ento da sa.fra: quarenta · ~ J 1 · r ' ':1 d.d D"TC · t r por cento senam compu sottamente ven 1 os ao ' 1'1 ,) trm a po cento armazenados e ti;jnta or cento poderg m, prosseguir livre- mente até os po t_os de0 embarques. O ))NC pag~ria ~ua quota a 30 mil-réis pof saca de 60 kg, não inférior ao tigo 8, devendo o cafeicultor )custear · a saca, o transporte e os i~postos estaduais. Como este preço cob ia qua e ?que some e aqueles custos, a quota do DNC corre;pon~~ praticaffi'ente 'a um imposto em espécie.49 Não devemos esquecer, por 'outro lado, .de outra medida de defesa da economia ca~eetra, a Lei do Reajustamente Econômico, promulgada por Vargas a 1 de dezembro de 1933. Decretou o Presidente do Governo Provisório a redução em 50% das dívidas de agricultores contraídas até 30 de junho de 1933, sendo credor Banco ou Casa Bancária, estando insolvente o devedor. Para 4s Cf. A. de E. Taunay. História . . . , op. cit., v .. XIV, t. II, p. 20. 49 Cf. A. de E. Taunay. História .. . , op. cit., v. XIV, t. II, p. 27. ( 128 LIANA MARIA AURELIANO indenizar os credores, ficava o Ministério da Fazenda autorizado a emitir até o limite de 500 mil contos de réis em apólices do governo, aos juros de 6% anuais. As apólices seriam resgatáveis dentro do prazo de trinta anos, com juros pagos semestralmente, em junho e dezembro de cada ano. Os credores atingidos pelo decreto e por sua vez devedores a Bancos tinham o direito de usar em pagamento do débito 50% das referidas apólices, pelo seu valor ao par. A Caixa de Mobilização Bancária incluiu as apólices do Rea- justamento Econômico entre suas operações, tomando-as como garantia de empréstimo a longo prazo aos bancos. Como sublinha o Relatório do Banco do Brasil de 1933, o efeito líquido foi o de nacionalizar as dívidas agrícolas, com verdadeira criação de moeda.50 O volume de recursos envolvidos no Reajustamento foi bas- tante elevado, cerca de 500 mil contQs entre 193~e 1936, e mais 400 mil até 1939. 51 Sua importârt&"?a foi jusJame9ite apontada por Fishlow, que calcula, mesmo, que suas 9eceitas aumentaram a renda dos produtore de ~afé em ão fuenos de 20 % . 53 Grandes b t· · ' · f , 'Õ ~ ~o b 0 d' ·d ene ICJaflOS oram.tambem gs.?.'bancos, que rece eram 0 . IV! as que . . . (; \) º\) ~ Jamais senaru, pagas. . o'-> Oi\, :(O s (\' r s Em 1934, a situaçã~ cafeeira aliivio~ e tRuito Cligeiramente, com a safra de, m".enore~ propor_ções;' li tjra eleva'Ção ido · pre~o ex- terno e desva orização cambfa' . )Além do-fü ais ,., e@'l.;junho de 1934 r V o DNC comunicou ~ ,s'art eà safra l ae ,01:934-1935 não haveria quota de sacrifíci~'õmas\ap"é as.'.) as uótas direta (30%) e retida (70%). Em \'W 5, 'àpesarf da p,erspectiva de safra elevada, não houve quota de sacrifícl~ ."' ara~ safra de 1936-1937, entretanto, a quota direta corr~s~on euJ a 40%, a retida a 30% e a de sa- crifício outros 30%. A intervenção do Estado no mercado cafeeiro fez-se com cré- ditos abertos pelo Banco do Brasil ao DNC, que chegaram em :!O Relatório do Banco do Brasil de 1933, p . 6 e segs. 51 Cf. C. M. Pelaez. "Análise econômico .. .," op cit., p. 137. 52 Cf. A. Físhlow. "Origens ... ," op. cit ., p . 30. NO LIMIAR DA INDUSTRI ALIZAÇÃO 129 L934 aos 737,3 mil contos, demonstrando uma tendência ao de- clínio daí em diante : DiVIDA DO DNC COM O BANCO DO BRASIL Ano Mil contos 1933 551,8 1934 737,3 1935 599,8 1936 634,7 A orientação de reduzir ao m1n1mo a sustentação do café che??u a seu auge em 1937, quando se estabeleceu a chamada · politica de concorrência. A idéia era deixar o café chegar nor- malmente aos portos de embarque livre de impostos, o que aten- deri a a d · · · de . ois Objetivos: abolir gradualmente o progra ma ajuda e forçar um aco rdo internacional de preços com os países concorrentes. v ô..._ S Não cabe dúvida de que, entre 1933 e 193'7, a política cafeeira continuou representando um important& papel na sust: ntação do setor, seja ret irant.1 0 el cedente . clo m,ercado, seja at ·aves do Rea- justamento Econômico. nrre an (\? hou ve P r Pª~b J~ .Es t <~do um esforço in equívoco rc1ra limitar ao máx imO o' Ua pa ·trcrpaçao, como de . . '? "' . · · ·~ blítica de con- • . ~1 o n st 1~ l!D ~as cifras de f1na1 cramentp e "~· "l , , correnc1a ' . 0 Em res umo, nã q s e icé'd n enhL~n es t1,mulo ao seto r cafeeiro além do imlisp~ r · s úvel impedir , ua rurna e de- fender a capacidade ~p ara importar. . Apesar da reti r~d a:,Uo merc~d e est ruição de muitos milhares de sacas · · 1 · . 1 fe; 11 :-10 reagiram per ma- . , os preços 1nternac1ona1s uo ca · '· . ' nece ndo entre 1933 e 19 37 em torno de 8 cents por l1br ~1-peso , 60% abaixo dos de 1929. As sempre desa nim adoras rece,1tas de export·· .. ;- d ., . . .. b· a1·s· que enfrentavamos aç<10 o ca f·e e as d1f1 culd ades cdm 1 · . . _ 1 1 ·to a divers1f1caçao evara m o gove rn o brasil ei ro a te ntar a to( o cus de exportações e de mercados. O , . AI 11 anh a interessada em comercio de compensação com a ei ' . . . , .. troC' , · . . 1 r produ tos 111dustn <11s, ar matenas-p rrrn as que não d1spun ia po .. foi a altern ativa exp lo rad a ao máxi mo, enfrentando a f11 me º!)O- sição d .. E . d . . i· e ite E pudemos faze- lo os sta os U n rdos, nosso maior c 1 1 · -- 130 ·uANA MARIA AURELIANO valendo-nos, basicamente, do algodão, cuja expansão vertiginosa só se tornou possível porque mantivemos relativamente a capa- cidade de acumulação daagricultura, que se diversificou, não apenas respondendo ao estímulo externo, mas, também, ao au- mento do consumo interno promovido pela industrialização."ª Apesar de tudo, dos esforços para elevar os preços internacio- nais do café e para explorar, ao máximo, as brechas comerciais criadas pela concorrência entre os capitalismos nacionais hegemô- nicos, o panorama externo manteve-se grave entre 1933 e 1937, com o poder de compra das exportações praticamente estagnado. Já em 1934 conseguíramos, com o Esquema Aranha, reduzir os pagamentos da dívida externa a cerca de 7,5 milhões de libras anuais, que absorveram quase integralmente os saldos da balança comercial, e ganhamos com isto cerca de 25,5 milhões de libras. 5 '1 Em 1937, seja em razão do baixíssimo saldo comercial, seja por- que o governo internamente se ( ~eritiu com orças para fazê-lo, como quer Marcelo Abreu, fomos mais longe e decidimos suspen-() der todo e qualquer pagamento da dívida. 55 f: indiscutível, portanto, que o Estado brasileiro defendeu o quanto pôde fl capacidade para' importar da eco o~ia, sem o que, certamente, a expansão inctus'trial teria esbarrado ~m dificuldades talvez insuperáveis. B ~ra isto foram ded~~as ' nã~-somente a 0.> e ... nova estrutura de poélcr que se es~be ece a '"depois c:.de 1930 e o raio de (ru>anobra trazido p-ela luta inte onopolista, mas, também, as características de nosso comé cio exterior e de nossa dívida ..... o , externa: <'. <-. v ~<' V-' V .... ~ e; O fato de que al pai:ticipação britânica tenha correspondido, em 1930, a mais do dobro da participação norte-americana na dívida em circulação do Brasil é de importância fundamen- tal para a compreensão da rivalidade anglo-americana no Bra- si l durante a década de 1930. Os norte-americanos tendiam a adotar uma posição relativamente conciliatória no tocante às :i:i Veja-se, por exemplo, J. Wirth . A política de desenvolvimento na era de Vargas, São Paulo, Fundação Getú lio Vargas, 1973 . ·' 1 Cf. M. Abreu. "A Dívida .. . ," op. cit., p. 78. "'' Cf. M. Abreu. "A Dívida . . .. " op. cit ., p. 84 . NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 131 negociações financeiras, concentrando seus esforços na tentativa de manter sua posição de maior parceiro comercial do Brasil. Os britânicos, relativamente resignados com o declínio de sua . importância comercial no Brasil - especialmente após a Con- ferência de Otawa em 1932, quàndo os acordos de preferência pouco favoreciam concessõ~s ~s exportações brasileiras para a Inglaterra - tentavam maximizar os pagamentos financeiros. 56 f: certo que uma outra medida de política econômica veio de- si:ifogar e bastante a capacidade para importar, "reservando" boa parte dela para a compra de meios de produção no exterior: desde 1931, até 1937, foram proibidas as importações de máquinas e equipamentos para as principais indústrias de bens de consumo assalariado, atendendo, inclusive, aos reclamos dqs empresários. Apesar disto, aquelas indústrias puderam crescer significativamente: ( ... ) o crescimento da produção, em alguns setores indus- triais, foi · feito sem o ne~essário aperfeiçoamento técnico e à custa de sobreutilização da capacidade instalada. A indústria têxtil, em particular, passou a operar em dois e três turnos diá-' rios, chegando a produzir em 1936, 914,5 milhões de metros de algodão, ou seja, um acréscimo de cercall de 54% em rela- ção a 1927, com o mestpo número de teares e fusos existentes nesse ano. Daí ter a indústria têxtil ei:hegado a 1939 tecnica- mente atrasada (a importação &e modernos teares auJomáticos era proibida, e./ a indústliia nacional produzia'Y~m escala redu- zida, apenas os teares"' tradicionais semi-automáticos) -e, o que é mais grave, co'in a maior parte do seu equi amento bastante d c;- ILJ \... ' )'=> esgastada. ~7 z (' r J Vejamos, agora, de que m~do ~ria se comportado o grau de proteção concedido à indústria. r Ninguém melhor que Roberto Simonsen pará avaliar os efeito'sJ da reforma de 1934: \ V ) e.. A última reform~ tarif~ria, em 1934, foi elaborada com tais diretrizes (com caráter nitidamente protecionista) em relação às principais indústrias estabelecidas no país. Adotou-se a pauta de máxima e mínima para facilitar os tratados de comércio. Infelizmente, porém, as tarifas foram fixadas em mil-réis, 56 Cf. M. Abreu. "A Dívida . . . ," op cit., p. 41. 57 Cf. A. Villela e W. Suzigan. Política ... , op. cit., p. 213. / 132 LIANA MARIA AURELIANO moeda que é reconhecidamente instável, diminuindo, portanto, continuadamente, a proporção entre o valor dos direitos e o valor da mercadoria em seu país de origem. Várias das pautas tarifárias foram ainda consolidadas em tratados de comércio, desaparecendo, pois, o caráter flexível previsto na elaboração das tarifas. r.H Ainda que não houvesse qualquer propósito claramente prote- cionista, é de se convir, portanto, que a Reforma de 1934 não terá rebaixado o grau de proteção concedido pelas tarifas, ainda que abrisse, ao fixar tetos e pisos, margem para negociações in- ternacionais. E foi justamente o que se deu, com a assinatura com os Es- tados Unidos do Tratado de Comércio Recíproco, em 1935. Quase cem artigos importados tiveram suas tarifas reduzidas, algumas substancialmente, sendo pelo menos 20 deles já fabricados em São Paulo. A oposição dos industriai s de nada valeu. E Simonsen recordaria, em 1937, que em trotf tiá fal ência de algumas em- presas industriais não aumentamÕs nossas eiq~ortaçxes de café em nenhuma saca. A isto se restringiram as m<Jdidas antiprotecionistas. É necessário recerflleêe r o efeito ã as. desvalorizaç0es cambiais, como o faz Simon ·tn,:·!1 entre 19J 3 e 1936: J>.:~0.i'ºº .) \.- " e_ .e.~ .) j 0v ,..r..e ""' u-;.> o e"\ s''. os' "e' e o .. \G 0'=,'~ e\ TAXAS DE ~Ã~BIQ P.. ~e?>.'{'\ Ano 1932 '2' O,' o ~8.5 1933~c:., e ~ 0 0 53 . .i, 1934,.. 0 '\:'-s eC'IJ v.11 1935 '\ ~'()'\ ~'\3 85,1 1936 e o\º 86,2 1937 78,8 Fonte: P. Neuhaus . História Monetária do Brasil, 1900-45, p . 184. 14,1 12,7 14,7 17,4 17,2 16,0 '"' Cf. R. C. S imon sen. Ei!olução industria/ do Brasil e outros Estudos. São Paulo, Ed ito ra Nacional, 1969. p. 24. (Brasiliana, v. 349). '"B "As baixas contínuas das taxas cambiais têm. porém, de alguma forma. co mpen sado os perniciosos efei tos que poderiam advir da ausência de uma política geral francamente protec ionista." Cf. R. C. Simonsen. E Polução . . op. cit., p. 24. 1 l NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO 133 finalmente, não há sombra de dúvida de que tanto a política monetária, quanto a fiscal foram expansionistas. Tanto a base monetária, quanto os meios de pagamento cresceram a altas taxas, de 1934 em diante : PRINCIPAIS COEFICIENTES MONETÁRIOS 1932-1937 Final Moeda do lndice de do Encaixe/ púb lico/Meios Mu ltipiicador ve locidade ano Depósitos de pagamento monetário (1939 =" 100) 1932 0,239 0,339 2,015 87.1 1933 0,197 0,355 2,077 95,3 1934 0 ,160 0,329 2,290 96,5 1935 0,159 0 ,374 2,110 99 ,3 1936 0,146 0,387 2,100 101,9 1937 0, 178 0,368 t:->E .083 104,2 Q - V v~ Fonte: P. Neuhaus. História Monetar ia do Brasil ;'\900.45, p. 129v::,r)d ,,. ,o <v(,,º ~--ç, - e r- Q\ 1?>00 o.Ü\'O 1 . :>.. a i?~ a ano; Por outro lado. r ()j sJ déficits iscais ·e--:1acumu ara u "' . , e r 0 ) base iscai do o que somente foi poss1ve cornco alargamentq ª s \ s, E t do t ·d 1 ., · · · 1· - <~ .A'\ 0 cP s a raz1 o pe a ,)iro r 't m ustna 1ze_çao · e',· 'iz>0 o" 0 e õ.'<.J \O ec 0c;,· .Av'=' Cio i\'b '<'0 0.-...S '\Ov 00" c>,.'V • c,o'õ• (,,o Q 0 Ô-('0 r :(\'\ e>,\)\) . e) ~(,, \~ EXECUÇAOOORÇ~ME TÁR A -;::;;v 932-1937 \' .r{ . , o oV. ~~ ,\' .-..,'::> ) 'Õ0(' rS cc,mentes •(,, ·,;:__y' · ..... ,6'. \c;I ,('\\. Saldo Ano ReceitasDespesas 2.859 - 1.164 1932 1.695 296 - 1933 2.096 2.392 532 - 1934 2.518 3.050 149 - 1935 2.723 2.872 99 - 1936 3.127 3.226 681 - 1937 3.462 4.143 Fonte: A. Villela e W. Suzigan. Politica .. • op . cit .. P· / r 134 LIANA MARIA AURELIANO Espero ter deixado claro, mais uma vez, que a política eco- nômica contempla todos os interesses em jogo, mas nenhum deles é plenamente acolhido, o que não quer dizer que todos objetiva- mente tenham sido igualmente beneficiados. Os vaivéns da po- lítica econômica - permitam-me insistir - refletem exatamente a crise de hegemonia aberta, num contexto internacional tumul- tuado pela luta intermonopolista, que culminaria na II Guerra Mundial. O ano de 1937 haveria de significar um novo momento. Não porque marcasse a desaceleração do crescimento industrial, que exprimia os limites da industrialização que trilhamos. A crise da hegemonia resolveu-se na emergência de uma nova forma de Es- tado. A industrialização pesada, perseguida a qualquer custo, teria que esperar, no Estado, quase duas décadas. BIBLIOGRAFIA ,ABREU, ~· "A dívida pública externa do Brasil, 193J-1943". Pesquisa e Plane1arnento, Rio de Janeiro, jun. 1975. --------: · " A Missão Niemeyer". 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