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TEXTO 6: Hobsbawm - Capítulo 7 – A Grã-Bretanha Na Economia Mundial 
 Hobsbawm acreditava que no sentido literal talvez a Grã-Bretanha nunca tenha 
sido a “oficina mecânica do mundo”, porém, seu predomínio industrial era tão 
grande que acabou legitimando a expressão. 
 Já na década de 1840, o maior rival da Grã-Bretanha era os EUA, seguido pela 
França, Alemanha e Bélgica. Esses e outros países, exceto a Bélgica, 
achavam-se retardatários no que se referia à industrialização, mas se 
continuassem se industrializando, a vantagem britânica diminuiria 
inevitavelmente. O que de fato ocorreu. 
 1880 o declínio relativo da Inglaterra era visível, inclusive nos setores antes 
dominantes. 
 1890 No início desta década tanto os EUA quanto a Alemanha 
ultrapassaram a Inglaterra na produção do aço (mercadoria essencial para a 
industrialização) 
 A partir do momento que demais países se industrializavam e ultrapassavam a 
Inglaterra, esse país passou a integrar um grupo de potências industriais, 
deixando de ser líder e também de ter o “monopólio” desse processo. 
 A primitiva economia britânica dependia, para sua expansão, principalmente do 
comércio internacional. Com exceção do carvão, seus suprimentos internos de 
matérias-primas não eram suficientes e era necessário importar. 
 Crescente necessidade de importar alimentos, visto que a partir de meados do 
século XIX o país não tinha mais condições de alimentar sua população 
somente com sua produção interna. Por mais que a população inglesa 
estivesse crescendo, sua grande maioria (classes trabalhadoras) era pobre 
para prover um mercado interno intensivo para quaisquer produtos que não 
fossem de primeira necessidade. 
 A economia britânica criou um padrão característico e peculiar de relações 
internacionais. Dependia em alto grau do comércio exterior, ou seja, trocava 
suas manufaturas e outros bens e serviços (capital, operações bancárias, e 
etc), característicos de sua economia desenvolvida, por produtos primários 
estrangeiros. 
 A aspiração britânica era transformar o mundo em um conjunto de economias 
dependentes, e a ela complementares; cada uma trocaria os produtos 
primários correspondentes à sua situação geográfica pelas manufaturas 
inglesas. Entretanto, várias dessas economias complementares se 
desenvolveram, sobretudo com base em alguns produtos especializados locais 
cujos principais compradores eram os britânicos. 
 Após a década de 1870, o crescimento de um amplo comércio internacional de 
alimentos acrescentou vários outros países ao grupo de economias 
industrializadas. 
 Como a Grã-Bretanha já não era a única economia desenvolvida ou em 
industrialização, os demais países industrializados, eram, naturalmente, 
parceiros comerciais da Inglaterra, e na realidade, clientes potencialmente mais 
importantes para seus produtos que o mundo subdesenvolvido, por serem mais 
ricos e mais dependentes da compra de manufaturas. 
 Um país em processo de industrialização, de início necessitava da 
Inglaterra, uma vez que esta era muitas vezes a única fonte de capital, 
maquinaria e técnica. 
 As primeiras estradas de ferro foram construídas por empreiteiros britânicos, 
usando locomotivas, trilhos, pessoal técnico e capital proveniente da Grã-
Bretanha. 
 Era inevitável que uma economia em industrialização procurasse proteger suas 
indústrias contra os britânicos, pois se não o fizesse era improvável que tais 
indústrias conseguissem se desenvolver ao ponto de serem capazes de 
competir com as indústrias britânicas. 
 Assim que terminavam de utilizar a Grã-Bretanha como pudessem, 
esses países tendiam inevitavelmente a adotar a protecionismo. 
 Esse protecionismo começou a se tornar óbvio a partir de meados do século 
XIX, quando as exportações britânicas para os países de industrialização 
retardatária, apesar de continuarem grandes, começaram a dar mostras de 
estacionar ou declinar. 
 Devido a esse mesmo protecionismo executado por esses países atrasados 
industrialmente, que se tornavam competidores da Inglaterra, ocorreu um 
estímulo a uma maior relação com os países subdesenvolvidos, que 
representavam economias complementares à britânica. 
 Segundo Hobsbawm, em termos amplos, só houve um momento histórico em 
que tanto o setor desenvolvido quanto o subdesenvolvido do mundo mostraram 
interesse em cooperar com a economia inglesa ao invés de hostilizá-la: entre 
1846 (abolição das Leis do Trigo) e a eclosão da Grande Depressão em 1873. 
 Nesse período, as áreas subdesenvolvidas não tinham praticamente 
outro país para venderem suas mercadorias; e os países desenvolvidos, que 
estavam entrando em processo de rápida industrialização, necessitavam 
importar capital e bens de capital. 
 Antes da década de 1840 (antes da era das estradas de ferro)  a economia 
mundial possuía dimensões modestas; modesta também era a influência da 
Grã-Bretanha. 
 Após 1873  a situação “avançada” do mundo foi de rivalidade entre os 
países desenvolvidos; aos quais somente a Grã-Bretanha tinha interesse no 
livre comércio; 
 O livre fluxo de mercadorias foi o primeiro a ser inibido pelas barreiras 
alfandegárias e outras medidas discriminatórias que passaram a ser levantadas 
com freqüência e intensidade cada vez maiores depois de 1880. 
 Principal indicador da economia com o resto do mundo é o balanço de 
pagamentos, isto é, o saldo das receitas e do capital que um país recebe do 
exterior e dos seus desembolsos para países estrangeiros. 
O balanço consiste de itens visíveis e invisíveis. Os quais podem ser de credito 
ou debito. 
Ex: Visíveis de credito: exportação de mercadorias e venda de ouro. 
Invisíveis de debito: lucro do comercio exterior ( como firmas de um pais no 
outro), ganhos de frete, de seguro; despesas pessoais dos imigrantes , ganhos 
de contrabandistas. 
Visíveis de debito: custos de importação de mercadorias, transportadores 
estrangeiros, remessas de dividendos e juros a outro país 
Os dois lados deveriam se igualar (déficit e credito), porém nunca ocorre 
 O Balanço de pagamento com o mundo implica em um sistema de 
compensações e liquidações (compensações com uns países, liquidações com 
outros); dessa forma sempre ocorrem déficit e superávit nos negócios entre 
países. 
 Balanço implica nos preços das mercadorias (termos de troca): se os países 
“melhorarem” comprarão mais produtos importados e se “piorarem” comprarão 
menos. (assim que o autor coloca mesmo). 
 Para a Inglaterra esta análise é principalmente importante para a relação de 
seus produtos industriais e matérias-primas. 
 Porem é importante perceber que mesmo parecendo uma vantagem para 
Inglaterra que o preço das matérias primas diminuam em relação aos produtos 
industriais; este pode se tornar um inconveniente porque os países de bens 
primários comprariam menos e estes (países de bens primários) são os 
mercados inglês. . 
 Já o oposto (países primários hipoteticamente com produtos mais caros), não 
afetara tanto o fluxo de compra inglês, por este ser totalmente dependente de 
matérias-primas e alimentos (principalmente) internacionais. 
 Com a contínua revolução industrial os produtos sofreram barateamento, 
enquanto os bens primários sofrem maior procura - > assim, termos de trocas 
abaixam para os industriais. 
 Crescimento do mercado interno (motivos)-> aumento de nível de vida, 
importação de alimentos mais baratos e queda da importância do algodão 
(menos importação na Inglaterra ). 
 Crescimento de economia satélite, (semi) coloniais, produtores de bens 
primários -> colocaram seus termos de comercio sob o controleeconomias 
industriais dominantes (principalmente a Grã-Bretanha). 
 1860 – déficit cada vez maior das importações sobre as exportações. 
 Estranheza (pelo autor)- mesmo voltada ao mercado externo e tendo o 
monopólio industrial por tanto tempo, a Grã-Bretanha nunca teve superávit. 
 Justificativas para tal (porém duvidosa de acordo com Hobsbawn): há analistas 
que culpavam as Leis de Trigo as quais impediram que os clientes dos ingleses 
ganhassem também com suas exportações. 
 Compradores dos produtos britânicos refletem os limites do mercado da 
exportação inglesa. Consistiam de países (os compradores) ou que não 
desejavam adquirir grande quantidade ou países que eram pobres demais 
 Tradicional inclinação da economia britânica para o mundo ‘’subdesenvolvido’’. 
 Input do texto: Na verdade, no sec. XIX ninguém se preocupava com déficit ou 
superávit (não sabiam que existiam) 
 Transações invisíveis proporcionavam um grande excedente para a Inglaterra-
> principalmente providos pela frota mercante inglesa. De modo geral, as 
rendas invisíveis cobriam o déficit comercial inglês no primeiro quartel do 
século. 
 1875 – Renda gerada por capitais previamente exportados pela Inglaterra já 
produzia modesto excedente. A posição internacional da economia britânica 
passou a depender cada vez mais da propensão britânica para investir ou 
emprestar seus excedentes acumulados no exterior. 
 Esse excedente e o comercio de aspectos visíveis, cada vez mais, dependente 
do mundo subdesenvolvido. Era mais fácil (após 1820) que o comercio 
britânico conquiste mercados dos países subdesenvolvidos do que entrar nos 
mercados desenvolvidos (mais competitivos). 
 Após 1820 fora mais fácil para o comércio de mercadorias britânico conquistar 
cada vez mais mercados no mundo subdesenvolvido do que penetrar nos 
mercados desenvolvidos, mais lucrativos, porém, mais resistentes e rivais. 
 Nesse sentido, duas áreas do mundo eram de especial importância 
para a Grã-Bretanha: América Latina e Índias Orientais. 
 As exportações de capital da Inglaterra, inclusive para o mundo 
subdesenvolvido, antes de década de 1840, consistiam essencialmente em 
empréstimos oficiais. Depois, a maior parte passou a compor-se de 
empréstimos oficiais, estradas de ferro e empresas de serviços públicos. 
 Por volta de 1850 a Europa e os Estados Unidos ainda recebiam cerca de 
metade dessas exportações de capital, mas entre 1860 e 1890, a proporção 
destinada para a Europa caiu sensivelmente, e a dos EUA passou a declinar 
lentamente, até que sofreu uma queda brusca durante a Primeira Guerra 
Mundial. A América Latina e a Índia vieram cobrir essa brecha. 
 A Índia tornava-se um mercado cada vez mais importante para o principal 
produto de exportação da Grã-Bretanha, o algodão. Isso ocorreu porque na 
primeira metade do século XIX a política inglesa fora destruir a atividade têxtil 
local, para que não competisse com a sua. 
 Antes da Primeira Guerra Mundial, a “chave” de todo o sistema de pagamentos 
da Grã-Bretanha estava na Índia, uma vez que ela provavelmente financiava 
mais de dois quintos dos déficits totais da Inglaterra. 
 Assim, a Índia proporcionava não só os recursos para 
investimentos em seu próprio país, como também grande parte do total de 
rendimentos de investimentos oriundas do exterior. 
 A partir da década de 1880 tornou-se popular entre as grandes potências o 
“imperialismo”, divisão do mundo em colônias formais e em “esferas de 
influência”. 
 Para a Inglaterra isso foi um passo atrás, pois trocou o império 
informal, que correspondia a maior parte do mundo subdesenvolvido, por um 
império formal, que era equivalente a um quarto daquele. 
 O sentido de anexar todas as áreas possíveis era ganhar o controle das 
matérias-primas, vitais para o desenvolvimento econômico moderno, que esses 
países possuíam. 
 No entre - guerras, após a derrocada da estrutura das relações econômicas 
internacionais inglesa, anterior a 1914, havia os impérios para amortecer os 
choques causados por uma situação mundial cada vez mais dura. 
 O colapso do comércio após a Primeira Guerra deu-se tanto à crise geral da 
economia mundial, que fez diminuir o âmbito das transações econômicas 
internacionais, como também à retardada, porém inevitável revelação de que a 
indústria britânica havia se tornado obsoleta e ineficiente. 
 Depois da guerra, o comércio mundial só recuperou o nível de 1913 durante 
um período breve, que vai de 1926 a 1929. 
 Não foi modernizando sua economia que a Grã-Bretanha “escapou” da Grande 
Depressão (1973-1896). Primeiramente, o país havia exportado mais para as 
economias atrasadas e retardatárias, e utilizara ao máximo sua última grande 
inovação técnica, o navio de ferro a vapor. 
 Enquanto a indústria inglesa era ultrapassada, suas finanças se tornavam cada 
vez mais essenciais. 
 Paradoxalmente, o mesmo processo que debilitava a produção britânica – o 
surgimento de novas potências industriais – fortalecia suas finanças. 
 As economias retardatárias aumentavam suas importações de produtos 
primários do mundo subdesenvolvido, mas não possuíam com este as relações 
intensas e tradicionais que a Inglaterra possuía. 
 Com a Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha deixou de ser a maior nação 
credora do mundo, sobretudo por ter sido obrigada a liquidar parte de seus 
investimentos nos Estados Unidos, tornando-se grande devedora desse país, 
que ao fim da guerra se transformou no maior credor. 
 Depois de 1919, a Grã-Bretanha pareceu recuperar-se, e seus governantes 
fizeram de tudo para tentar restabelecer os padrões de 1913, entretanto, isto 
não passou de uma grande ilusão.

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