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HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Cap. 09 – O Começo do Declínio 
A partir da Revolução Industrial a economia transformou-se continuamente. Às vezes os resultados 
dessas mudanças são tão intensos que se fala até mesmo em uma “segunda” Revolução Industrial. 
Uma das principais diferenças entre as fases da Revolução Industrial é que a primeira foi invulgar e 
arcaica e porque a Grã-Bretanha, a pioneira, permanecia presa a esse padrão arcaico, o que não 
acontecia com as novas economias industriais. 
QUATRO PRINCIPAIS MUDANÇAS: 
1ª) Papel da ciência na tecnologia 
Na primeira fase essa influência foi pequena e de importância secundária. As invenções eram 
simples e, na maior parte das vezes, eram fruto da habilidade, da experiência prática e da disposição 
para experimentar coisas novas para ver se dava certo. As fontes básicas de energia (carvão e água) 
eram antigas e familiares e as matérias-primas fundamentais não eram diferentes das utilizadas 
imemorialmente. Existiam novidades revolucionárias do ponto de vista tecnológico, como na 
indústria química, por exemplo, que às vezes também atraíam atenção pela sua popularidade (como 
a iluminação a gás). Entretanto, sua importância para a produção era secundária. Na fase arcaica da 
industrialização os maiores triunfos tecnológicos foram a estrada de ferro e o barco a vapor, mas 
estes eram pré-científicos ou, pelo menos, semi-científicos. 
Contudo, a própria escala colossal da ferrovia e a revolução que ela proporcionou nos 
transportes fizeram com que a tecnologia científica se tornasse ainda mais necessária, como por 
exemplo, a utilização da borracha e do petróleo, bem como a Física clássica e a Química Inorgânica. 
Nas décadas de 1830 e 1840, surgiram dois novos instrumentos à disposição da indústria: o 
Eletromagnetismo e a Química Orgânica. 
Sendo assim, os principais progressos técnicos da segunda metade do século XIX foram 
essencialmente científicos. Duas das mais importantes indústrias da nova fase da industrialização, a 
elétrica e a química se baseavam no conhecimento científico. O aperfeiçoamento do motor de 
combustão interna, embora não consistisse em um problema científico novo, envolvia dois ramos da 
indústria química (refinação e processamento do material do petróleo e da borracha). 
Ao fim do século XIX já estava claro, principalmente em decorrência da experiência da 
avançada indústria química alemã, que o avanço do progresso tecnológico era função do insumo de 
mão-de-obra com qualificação científica, equipamento e dinheiro em projetos de pesquisa 
sistemática. 
2ª) Expansão sistemática do sistema fabril a áreas até então intocadas pelo sistema 
A longo prazo, a mais importante dessas áreas foi a própria fabricação de máquinas, ou, nos 
tempos modernos, de “bens de consumo duráveis”, que consistem basicamente em máquinas de uso 
pessoal, e não para uso produtivo (máquinas para fazer máquinas). É a essa evolução – parte técnica, 
parte organização – que chamamos “produção em massa”, e que, quando a aplicação do trabalho 
humano ao processo real de produção é reduzida ao ponto de imperceptibilidade, damos o nome de 
“automação”. 
A mecanização da fabricação de máquinas dependia de uma procura vasta e padronizada do 
mesmo tipo de máquina. Por isso, o campo pioneiro foi a produção de armamentos. Os primeiros 
produtos dessa fase foram produzidos nos EUA. Ex.: máquina de costura de Elias Howe, adaptada por 
Isaac Singer; máquina de escrever; fechadura Yale; revólver Colt e metralhadora. Os norteamericanos 
também foram os primeiros a adotar a produção em massa de automóveis. Além disso, substâncias 
como tungstênio, manganês, cromo, níquel e outros elementos que antes eram curiosidades para 
geólogos e químicos, passam a ser componentes essenciais da metalurgia após 1870. 
Outro aspecto desse desenvolvimento foi a organização sistemática da produção em massa 
através do fluxo planejado dos processos e da “administração científica” do trabalho, ou seja, a 
análise e a decomposição das tarefas, tanto humanas quanto mecânicas. EUA foram pioneiros nessa 
área também, principalmente pela falta de mão-de-obra qualificada que eles enfrentavam. As 
experiências de linhas de produção contínuas remetiam aos ianques técnicos como Oliver Evans, que 
inventou um moinho de trigo totalmente automático e a correia transportadora; ideias que só foram 
desenvolvidas na década de 1890. Tais experiências só foram seriamente desenvolvidas e passaram a 
ter maturidade nas fábricas de veículos de Henry Ford (1800). Nos anos 80 do século XIX a 
“administração científica” passou a ser realidade principalmente por influência de F. W. Taylor. Em 
1900 estavam lançados os alicerces da moderna indústria em grande escala. 
3ª) Descoberta de que o maior mercado potencial estaria nos crescentes rendimentos da massa de 
trabalhadores nos países desenvolvidos 
EUA também foram os precursores, talvez pelo tamanho potencial de seu mercado interno, 
talvez pelas rendas relativamente altas de seu povo. 
Exemplo: A indústria de motores de automóveis foi edificada com base no pressuposto de 
que um carro suficientemente barato, por dispendioso que fosse, encontraria um mercado de massa. 
Na era arcaica da industrialização isso seria inconcebível. 
O mercado para a produção em massa era extensivo, e não intensivo, e ainda assim se 
limitava aos artigos mais simples e padronizados. Em outras palavras, era preferível produzir mais 
produtos baratos e vender uma quantidade maior deles do que produzir mercadorias de preço 
elevado e não vender em grande quantidade. 
Produtos mais baratos  Vendem mais  Maiores lucros 
4ª) Aumento na escala da empresa econômica, a concentração da produção e da propriedade, 
surgimento de trustes, monopólios e oligopólios 
Muitas pessoas já suspeitavam que a concentração fosse o resultado lógico da concorrência. 
Vários economistas defendiam que uma economia empresarial em regime de livre concorrência era 
forçoso, socialmente inconveniente e economicamente retrógrado. Acreditava-se que as “grandes 
empresas” fossem melhores do que as pequenas, pelo menos a longo prazo: mais dinâmicas, mais 
eficientes, mais aptas a enfrentar as tarefas do desenvolvimento, cada vez mais complexas e 
dispendiosas. O verdadeiro problema não estava no fato de serem grandes, mas de serem anti-
sociais (porque beneficiavam o rico em relação ao pobre). 
Nesse contexto o estado vitoriano (abstinência deliberada de orientação e interferência 
econômica) foi praticamente abandonado, depois de 1873, ou seja, o papel do governo se tornava 
cada vez mais decisivo. 
*** 
Em todos esses quatro aspectos, a Grã-Bretanha atrasou-se em relação a seus rivais. Em vários ramos 
em que ela havia sido a primeira a trilhar, agora havia sido deixada para trás. Essa transformação 
súbita da economia industrial mais dinâmica na mais retardada e conservadora em trinta ou 
quarenta anos (1860-90/1900) constitui a questão crucial da história econômica britânica. 
O contraste entre a Grã-Bretanha e os Estados industriais mais modernos é particularmente visível 
nas novas “indústrias de base”, e se torna ainda mais marcante quando comparamos seu fraco 
desempenho com as realizações da indústria britânica nos setores em que a estrutura e a técnica 
arcaica ainda podiam produzir os melhores resultados. 
Exemplo: setor de construção naval. Os construtores britânicos haviam sido beneficiados no passado 
pelo enorme peso da Grã-Bretanha como potência mercantil e pela preferência que os armadores 
britânicos davam a navios de sua própria bandeira. Triunfo dos estaleiros britânicos veio com o navio 
de ferro e aço; enquanto as demais indústrias britânicas ficavam para trás, os estaleiros progrediam.Contudo, nenhuma das vantagens da moderna técnica e organização produtivas se aplicava a navios, 
pois eram construídos em gigantescas unidades isoladas. Por outro lado, as vantagens da 
especialização em pequenas unidades eram imensas. 
Já nas indústrias do tipo científico-tecnológico, e nos casos em que a integração e a produção em 
grande escala compensavam, a história britânica foi diferente. 
Exemplos: 
 A Grã-Bretanha foi a pioneira da indústria química e na invenção das anilinas, na década de 
1840 já se baseava em pesquisas acadêmicas alemãs e em 1913 cabiam-lhe apenas 11% da 
produção mundial e o que restava de sua indústria química pertencia a estrangeiros 
imigrantes, como a firma Brunner-Mond, posterior núcleo das Imperial Chemical Industries. 
 A eletrotécnica foi na teoria e na prática uma realização dos britânicos (fundações científicas 
de Clerk Maxwell; telégrafo elétrico de Wheatstone). No entanto, em 1913, a produção da 
indústria elétrica britânica era pouco superior a um terço da alemã, e suas exportações 
pouco superiores a metade. E mais uma vez foram os estrangeiros que invadiram a Grã-
Bretanha (Ex.: Westinghouse e capital para construção do metrô londrino – 
norteamericanos) 
 Indústria de máquinas e máquinas-ferramentas também teve origem britânica (Manchester). 
Entretanto, foi este o campo em que os países estrangeiros, principalmente os EUA, 
ganharam dianteira mais significativa. Na década de 1890 foi dos EUA que veio o impulso 
para adoção de máquinas-ferramentas automáticas e foi uma companhia americana que 
teve o monopólio da maquinaria utilizada na fabricação dos produtos da primeira indústria 
completamente mecanizada – a de botas e sapatos. 
 O caso mais triste talvez tenha sido o da indústria de ferro e aço, pois ela perdeu sua 
preeminência no próprio momento em que maior era seu papel na economia britânica e 
mais inconteste era seu domínio na economia mundial. Todas as inovações importantes na 
produção do aço nasceram na Grã-Bretanha ou ali foram aperfeiçoadas: conversor Bessemer 
(produção em massa de aço); fornalha Siemes-Martin (expansão da produtividade); processo 
básico Gilchrist-Thomas (utilização de uma nova faixa de minérios para a fabricação do aço). 
Com exceção do conversor, a indústria britânica tardou em utilizar os novos métodos e 
deixou inteiramente de acompanhar os aperfeiçoamentos posteriores. Não só a produção 
britânica se via atrás da alemã e da norteamericana no início da década de 1890, mas sua 
produtividade também era menor. 
*** 
Qual a razão de tudo isso? Evidentemente os britânicos não se adaptaram a circunstâncias novas, 
mas poderiam tê-lo feito. Não há nenhum motivo para que a educação técnica e científica na Grã-
Bretanha permanecesse relegada ao desdém, nada justificava seu atraso educacional em relação à 
Alemanha ou aos EUA. 
Era inevitável que as indústrias britânicas pioneiras perdessem terreno com relação ao resto do 
mundo industrializado, e que declinassem suas taxas de expansão; no entanto, esse fenômeno não 
teria necessariamente de ser acompanhado por uma perda de impulso e de eficiência, 
principalmente no que diz respeito aos ramos em que suas indústrias começaram praticamente ao 
mesmo tempo em que as demais nações. Então, a Grã-Bretanha não conseguiu se adaptar a novas 
condições porque não pudesse, mas porque não quis. A pergunta que se coloca é: não quis por quê? 
Hobsbawn nos apresenta duas possíveis respostas: uma sociológica e uma econômica. 
RESPOSTA SOCIOLÓGICA 
Aponta a falta (ou o declínio) de iniciativa por parte dos empresários, ou o conservadorismo da 
sociedade britânica, ou ambas as coisas. O capitalista britânico tendia a ser absorvido na camada dos 
gentlemen ou mesmo dos aristocratas, superior e mais respeitada socialmente, e quando conseguia 
alcançar esse objetivo, deixava de esforçar. A pequena firma familiar, que constituía o tipo 
característico de empresa, estava imunizada com bastante eficiência contra o crescimento excessivo, 
que trazia o risco de perda de controle por parte da família. Assim, cada geração tornava-se menos 
empreendedora que a anterior e, abrigada por trás das fortalezas dos lucros pioneiros, tinha menos 
de sê-lo. 
Um homem talvez tivesse de trabalhar muito para ascender à classe média, mas depois de 
estabelecido com um ramo de negócio moderadamente florescente podia levar a vida com bastante 
tranquilidade. De acordo co a teoria econômica, a bancarrota era o castigo do homem de negócios 
ineficiente; contudo, o nível de bancarrotas na Grã-Bretanha era muito baixo. Sendo assim, o 
empresário britânico não precisava trabalhar muito. Há um alto nível de comodismo entre eles. 
Faltava também à economia britânica alguns incentivos não-econômicos, uma vez que é natural que 
uma nação que já chegou ao topo, política e economicamente, tenda a tratar o resto do mundo com 
soberba e um certo grau de desprezo. 
Do ponto de vista sociológico, o incentivo para ganhar dinheiro depressa não era totalmente fraco na 
Grã-Bretanha vitoriana, nem a atração exercida pela pequena nobreza e pela aristocracia era 
dominante. 
No início do século XIX não faltara à Grã-Bretanha aquele prazer profundo até irracional, no 
progresso técnico em si mesmo. Mas é evidente que havia setores na economia britânica aos quais 
se aplicavam algumas das acusações de torpor e conservadorismo 
RESPOSTA ECONÔMICA 
Numa economia capitalista (pelo menos em suas versões oitocentistas) os empresários só serão 
dinâmicos na medida em que o dinamismo for racional segundo o critério da firma individual, que 
consiste em maximizar os ganhos, minimizar as perdas, ou possivelmente apenas manter aquilo que 
se considera ser uma satisfatória taxa de lucro a longo prazo. Mas a racionalidade da firma individual 
é inadequada, porque os interesses da firma e o da economia podem ser divergentes. Uma economia 
capitalista não é planejada, ela emerge de inumeráveis decisões individuais tomadas na busca do 
interesse pessoal. 
A explicação econômica mais comum (e provavelmente a melhor) para a perda de dinamismo da 
indústria britânica é que ela resultou “em última análise da dianteira longamente mantida como 
potência industrial”. O pioneirismo industrial britânico ocorreu naturalmente e em condições 
especiais que não poderiam ser mantidas. No entanto, passar de um padrão velho e obsolescente 
para um novo padrão era caro e difícil. Era caro porque implicava tanto a renúncia a velhos 
investimentos, ainda capazes de render bons lucros, como a investimentos novos, de custo inicial 
ainda maior. Era difícil porque exigiria um acordo para a racionalização de grande número de firmas 
e indústrias individuais, nenhuma das quais poderia com segurança o caminho que tomaria o 
benefício dessa racionalização. Enquanto se pudesse lucrar satisfatoriamente com o sistema antigo, 
o incentivo para a mudança seria pequeno. 
Exemplos: 
 Indústria de ferro e aço – os britânicos tardaram em adotar o processo “básico” de Gilchrist-
Thomas porque podiam importar minérios não-fosfóricos com facilidade e a preços baixos. O 
forte investimento em usinas e em áreas industriais obsoletas amarrou a indústria britânica a 
uma tecnologia obsoleta 
 Ferrovias e minas de carvão – em 1893, Sir George Elliot sugeriu a formação de um truste 
para racionalizar a indústria, uma vez que o funcionamento independente de várias minas 
estava produzindo ineficiências na exploração de cada jazida. A reação dos industriais foi 
negativa, pois as minas ineficientes não desejavam que a sua parcela do fundo fosse avaliada 
segundo critérios racionais. As estradas de ferro britânicas eram arcaicas: os vagões eram 
muito pequenos e eram de propriedade das minas e não dasempresas ferroviárias. 
A pura catástrofe pode, às vezes, vir em socorro do capitalismo, como no caso das duas guerras 
mundiais, em que fábricas alemãs foram destruídas e se fez necessário a instalação de novas 
fábricas. A ameaça de catástrofe econômica pode também gerar um incentivo forte para se gastar 
em modernização. Durante a Grande Depressão (principalmente décadas de 1880 e 1890) a ameaça 
que pairava sobre a indústria britânica e o estado em que ela se encontrava fizeram com que se 
falasse muito em modernização e que pressões fossem feitas por parte de várias indústrias. 
Exemplos: plano de racionalização das minas de carvão; indústria do gás (obrigada, por pressão 
sindical, a ser a que se mecanizava mais rapidamente); ferrovias (para reduzirem seus custos 
operacionais – Great Western instalou novas linhas em 1892); mudança técnica em engenharia 
acelerou-se, principalmente por pressão militar (impulsionada pela indústria de armamentos, em 
rápido processo de expansão e modernização, principalmente pela Marinha) 
Nesse período da Grande Depressão também se discutiu bastante a combinação econômica – 
formação de cartéis, trustes, etc. – e na verdade ocorreu um certo grau de concentração desse tipo. 
Entretanto, se comparados aos padrões norteamericanos e alemães dessa época, tais mudanças 
foram relativamente modestas e o impulso para realizá-las logo enfraqueceu. A Grande Depressão 
não foi, infelizmente, bastante grande para assustar a indústria britânica e obrigá-la a mudanças 
realmente fundamentais. 
A razão disso é que os métodos tradicionais para obtenção de lucros ainda não estavam esgotados, 
proporcionando uma alternativa mais barata e mais conveniente do que a modernização – por algum 
tempo. Recuar para seu sistema de colônias formais ou informais, confiar em as força crescente 
como eixo do crédito internacional, do comércio e de acordos parecia ser uma solução tanto mais 
óbvia quanto, por assim dizer, se oferecia gratuitamente. 
OPÇÕES DA GRÃ-BRETANHA: 
 Exportação de algodão para a Ásia (indústria algodoeira, ao enfrentar dificuldades fugia da 
Europa e da América do Norte e se refugiava na Ásia e na África) 
 Exportação de carvão para os navios de todo o mundo 
 Minas de ouro de Johannesburgo 
 Bondes argentinos 
 Lucros dos bancos mercantis da City 
Quando enfrentava um desafio era mais fácil e mais barato para a Grã-Bretanha recuar para uma 
parte ainda não explorada dessas zonas favorecidas do que enfrentar a concorrência face a face. De 
maneira geral, o conjunto da economia britânica tendeu a fugir da indústria e buscar abrigo no 
comércio e nas operações financeiras, setores que, embora fortalecessem ainda mais seus 
concorrentes reais e futuros, ainda proporcionavam lucros polpudos para os britânicos. 
A Grã-Bretanha estava se tornando uma economia mais parasitária que competitiva, vivendo do que 
sobrava do monopólio mundial, do mundo subdesenvolvido, de suas acumulações de riquezas no 
passado e do progresso de seus rivais. Principalmente durante o breve e feliz período eduardiano, o 
contraste entre a necessidade de modernização e a complacência cada vez mais próspera dos ricos 
tornou-se gritante. 
Nessa época em que a Grã-Bretanha se encontrava, visivelmente atrasada, havia uma atmosfera de 
intranquilidade, de desorientação e de tensão. Foram nestes anos que o Partido Trabalhista surgiu 
como força eleitoral, houve uma racionalização da esquerda socialista, ocorreram eclosões da 
“agitação” dos trabalhadores e houve o colapso político. Foram os anos em que os Lordes desafiaram 
os Comuns, em que uma extrema direita parecia sair em campo aberto, em que escândalos de 
corrupção financeira abalavam os Gabinetes e em que oficiais do Exército, com apoio do Partido 
Conservador, amotinavam-se contra leis aprovadas pelo Parlamento. Quanto rebentou a guerra, em 
1914, ela veio como um alívio da crise, uma coisa nova, talvez até mesmo como uma espécie de 
solução.

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