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SOCIOLOGIA 3º ANO OS MOVIMENTOS SOCIAIS Os indivíduos buscam transformar as condições sociais, econômicas, políticas e culturais por meio dos movimentos sociais, assim, tiveram um papel importante, tanto contestando os Estados autoritários em diversas partes do mundo como reagindo às formas de exclusão social no contexto da globalização. Com base na discussão sobre classes sociais, analisaremos como elas dão origem aos movimentos sociais contemporâneos, que buscam propor alternativas para uma sociedade mais igualitária. Os movimentos sociais são como um mundo em erupção, pois assim como vulcões ativos, os movimentos sociais podem agir e interferir a qualquer momento. Essa comparação é ilustrativa, pois esses movimentos são fenômenos que envolvem forças sociais e se formam no interior da estrutura social. Os movimentos sociais foram inicialmente explicados pelos comportamentos coletivos, ou seja, pelo conjunto de ações espontâneas de muitos indivíduos e grupos. Estudos sociológicos mais recentes, no entanto, reconheceram nesses movimentos uma forma de luta política organizada para construir os direitos dos cidadãos. Um movimento social pode começar de modo espontâneo, mas à medida que vai se instituindo e se consolidando com pautas de reivindicação que levam a avanços sociais ele se constitui como movimento social no sentido dado pelas Ciências Sociais. Eles precisam de certa institucionalização e reconhecimento social. Além disso, muitas vezes estão ligados às classes subalternas, aos grupos menos favorecidos, em situação de desvantagem social. Um movimento social afirma-se por mobilizar grupos ou uma coletividade em uma luta contra um adversário e pelo controle da mudança, explica o sociólogo francês Alain Touraine (1925-). Essas mobilizações são provocadas por uma grande variedade de motivos sociais. Será que toda ação coletiva é um movimento social? Qualquer ação de um grupo – como os lobistas que atuam junto ao Parlamento, defendendo interesses de grupos como fazendeiros, industriais ou banqueiros – constitui um movimento social? A ação desenvolvida pela torcida organizada de um time de futebol, por ser coletiva, pode ser considerada um movimento social? Gangues de rua, por agirem coletivamente, podem ser consideradas movimentos sociais? A resposta a essas questões é não. Nem toda ação coletiva se transforma em movimento social. Uma ação coletiva caracteriza-se, sim, por um conjunto de ações empreendidas por grupos ou categorias sociais em circunstâncias adversas ou não. Porém, para que uma ação coletiva seja considerada um movimento social é indispensável outro elemento: o objetivo de alcançar um fim específico com intenção de transformar a realidade social. É preciso que essa ação seja organizada por indivíduos ou grupos que visem a uma finalidade especificamente social, como, por exemplo, combater as desigualdades e a discriminação relacionadas às diferenças de renda, gênero, etnia ou país de origem. Dessa forma, a consciência dos problemas sociais adquirida coletivamente e em contínua difusão entre os indivíduos é uma das principais características de um movimento social. ACÃO COLETIVA MOVIMENTO SOCIAL AMBIENTALISTA Movimentos conjunturais: são formados por grupos de pessoas que têm uma demanda pontual e de curto prazo, por isso nem sempre são tão organizados. Geralmente as reivindicações estão atreladas aos fatores socioeconômicos, a exemplo dos pedidos de redução do preço de combustíveis, passagens de ônibus, dentre outros itens. Movimentos estruturais: são aqueles representados por grupos que têm demandas e objetivos a longo prazo. Costumam abordar questões que muitas vezes exigem uma reestruturação social. São os casos dos movimentos contra o racismo, movimento dos sem terra, movimento feminista, movimento trabalhista, movimento ambientalista, movimento LGBTQIA+, etc. Manifestação dos 20 centavos em 2013. O movimento social LGBTQIA+ KARL MARX E OS MOVIMENTOS SOCIAIS Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo, sociólogo, economista, jornalista e revolucionário alemão. É considerado o fundador do socialismo científico e da teoria comunista. Marx criticava a acumulação típica do capitalismo, que criava um abismo entre as classes sociais cada vez maior. O teórico refletiu nas suas obras sobre as diferenças sociais e o embate entre as camadas mais ricas e mais pobres da sociedade ao longo da história. A história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes As revoluções são a locomotiva da história Sua teoria social, de base econômica, centra-se nas relações de produção – aquelas estabelecidas no processo produtivo entre os donos dos meios de produção (fábricas, bancos, terras, entre outros) e os trabalhadores. BURGUESIA: Classe economicamente dominante através da posse dos meios de produção e do controle da vida social. Grandes empresários, banqueiros, industriais, latifundiários, etc. PROLETARIADO: Classe trabalhadora, dona apenas de sua força de trabalho, também compreendida como classe oprimida ou dominada. Trabalhadores assalariados, operários, prestadores de serviço, servidores do Estado, pequenos comerciantes, etc. Para Marx, essas relações são marcadas por uma tensão latente em decorrência de interesses distintos das diferentes classes sociais, seja em relação aos privilégios, seja em relação à participação no poder. A teoria marxista considera a luta de classes como ação coletiva, uma vez que a consciência de pertencer a uma classe social aparece quando os antagonismos da sociedade são percebidos, o que pode levar ao conflito. A luta de classes é considerada a própria práxis coletiva capaz de levar a transformações. Desse modo, as grandes mudanças não dependem exclusivamente da vontade dos indivíduos; há a força do social, além de fatores políticos, culturais, econômicos que envolvem toda a sociedade. práxis: palavra de origem grega que significa ‘ação prática’. Para Marx, significa o próprio movimento da história, as ações reais dos indivíduos que procuram vencer as contradições da sociedade capitalista. O que são classes sociais? Classes sociais são agrupamentos que se relacionam cotidianamente, produzindo e reproduzindo a estrutura social. As classes referem-se a grupos sociais que se diferenciam conforme: a posição econômica que ocupam na produção; a posse de riquezas; a escolha da profissão; os estilos de vida; o acesso ao consumo. Vale ressaltar que as classes sociais são complementares, no sentido de que uma não existe sem a outra. No âmbito de cada uma das classes existe a noção de pertencimento, a defesa de interesses comuns na sociedade. A CONSCIÊNCIA DE CLASSE Edward Thompson (1924-1993) vai nos dizer que a classe não se define apenas em termos econômicos. Ela é construída na experiência entre homens e mulheres, ou seja, na História. É uma formação social e cultural que não pode ser definida de modo abstrato, mas em termos das relações entre as classes. Só na sociedade capitalista as diferenciações sociais assumem a “forma” de classe, pelo fato de que o pertencimento a uma classe é determinado pela propriedade (ou controle) dos meios de produção ou pela exclusão dessa propriedade ou controle. Essa condição concreta e subjetiva, ao mesmo tempo, de estar e perceber a sua posição na estrutura social gera o fenômeno da consciência de classe, quando há identidade e defesa dos interesses comuns. Desse modo, congregando interesses na forma de reivindicações, os movimentos se estruturam para enfrentar os problemas comuns a determinadas classes sociais e promover a ação política. Contextos de vulnerabilidade reúnem os ingredientes básicos para a eclosão de movimentos que visam à transformação social. Os movimentos sociais não apenas combatem insuficiências e problemas que atingem amplos segmentos populacionais, como a falta de condições para garantir a subsistência ou a discriminação. Eles também se voltam às novas questões que se apresentam: a precarização do trabalho e a perda de direitos conquistados,a redução de amparo social do Estado, a falta de moradia digna, entre outros fatores que conduzem a diversas formas de exclusão social, provocada pelas disparidades presentes na sociedade capitalista. QUEM TEM FOME TEM PRESSA Herbert José de Sousa, mais conhecido como Betinho, foi um sociólogo, ativista e protagonista na luta contra a fome e as desigualdades no Brasil. Em 1993, Betinho fundou e liderou a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, movimento que o transformou em símbolo da cidadania no Brasil. A iniciativa surgiu a partir da “Carta de Ação da Cidadania”, um documento que convoca a sociedade a se unir para erradicar a miséria e a fome. O movimento funcionava de forma descentralizada, permitindo que grupos e indivíduos organizassem campanhas locais para arrecadação e distribuição de alimentos. Entre 1993 e 1994, mais de 25 milhões de pessoas doaram para a campanha e mais de 4 mil comitês surgiram em todo o Brasil. PAUSA PARA REFLETIR Quem tem fome tem pressa Imortalizada por Betinho, a frase “Quem tem fome tem pressa” é o slogan que acompanha décadas de atuação da Ação Cidadania. A afirmação resume a visão do sociólogo e de sua campanha de que quem tem fome não pode esperar por soluções demoradas. No Programa Roda Viva, em 1996, Betinho esclarece que se o movimento não oferecesse comida a quem está morrendo de fome, não adiantaria pensar em reformas estruturais daqui a 10 anos, pois não haveria população para viver a reforma. Conforme o sociólogo alemão Axel Honneth (1949-), as lutas sociais vão além da defesa de interesses e necessidades, tendo como alvo também o reconhecimento individual e social. Quando um indivíduo se engaja em um movimento social, procura fazer que suas experiências com os sentimentos de desrespeito, vergonha e injustiça inspirem outros indivíduos, de modo que sua luta se transforme numa ação coletiva, de reconhecimento pessoal e social. Honneth afirma: VOLTANDO AO CONTEÚDO […] uma luta só pode ser caracterizada de “social” na medida em que seus objetivos se deixam generalizar para além dos horizontes das intenções individuais, chegando a um ponto em que eles podem se tornar a base de um movimento coletivo. Os movimentos sociais também não podem ser confundidos com movimentos messiânicos, religiosos ou político-partidários, embora esses formulem e apresentem publicamente reivindicações de mudanças políticas e sociais. Isso não significa que os participantes de um determinado movimento social não professem uma fé ou não estejam ligados a um partido político. De modo geral, os movimentos sociais se definem como não partidários ou não religiosos e buscam somar forças com aqueles que vivenciam uma mesma condição, independentemente das suas filiações partidárias ou religiosas. GUERRA DOS CANUDOS Em 1893, quatro anos após a proclamação do Brasil como República, um dos conflitos mais emblemáticos da história nacional ocorreu no sertão da Bahia. Liderada por um líder religioso, apelidado de Antônio Conselheiro, a Guerra de Canudos foi uma revolta de uma comunidade autônoma contra a exploração e a miséria, que durou quatro anos. Canudos é considerado um movimento messiânico, uma vez que seu líder, Antônio Conselheiro, se considerava um enviado de Deus para salvar o povo nordestino. Foi também um movimento social e popular, já que o líder foi seguido por inúmeros integrantes das camadas populares da região, que lutaram pela posse da terra, contra o poderio dos coronéis na região e por melhores condições de vida. "O sertanejo é, antes de tudo, um forte.“ EUCLIDES DA CUNHA, OS SERTÕES Principais características dos movimentos sociais • Voltam-se para as transformações das condições econômicas, sociais e políticas da sociedade, visando principalmente situações de necessidade social. • São capazes de ação coletiva, ou seja, desencadeiam grandes mobilizações por necessidades sociais comuns, como moradias, escolas, centros hospitalares, postos de saúde, estradas, saneamento, entre outras coisas. • Dispõem de componentes ideológicos, visões de mundo que os inspiram e se desenvolvem por meio deles. Baseiam-se em valores, na consciência social sobre determinadas situações e na crença de serpossível modificá-las. • São capazes de somar forças sociais, como a opinião pública, os meios de comunicação, instituições locais e internacionais. • Dependem de uma organização para sua formação e desenvolvimento • Embora não pretendam conquistar o poder do Estado, procuram tornar públicas suas reivindicações em manifestações. Esse aspecto político pode levar a um confronto com as autoridades de Estado e também com forças de segurança privada, dependendo dos objetivos e métodos de manifestação. • Em geral, declaram-se apartidários e laicos, evitando sua utilização para fins político-partidários ou religiosos. • Muitas vezes, dão destaque à figura de suas lideranças. Um exemplo é o movimento negro nos Estados Unidos durante a década de 1960, sob a liderança de Martin Luther King (1929-1968), responsável por mobilizar comunidades negras no sul do país na luta pelos direitos civis. • Agem por meio de redes de movimentos. Essas redes articulam vários atores sociais e podem se caracterizar: pelo pluralismo organizacional e ideológico, como no caso dos movimentos pacificistas; por componentes de transnacionalidade, como os de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente; pela atuação em diferentes campos, como os movimentos de combate à síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), que acionam as dimensões de saúde pública, cultural e política da sociedade. • Estabelecem novos canais de comunicação dos indivíduos com a sociedade e o Estado. • São históricos e sujeitos a mudanças; por isso, as mudanças sociais também os transformam. • Implicam a formação de uma identidade cultural, ou seja, de algo comum a todos os seus integrantes. A QUESTÃO DA IDENTIDADE Os estudos sociológicos vêm encontrando nos movimentos sociais o papel de formar identidades dos atores na sociedade. Quando falamos em identidade, nesse contexto, nos referimos ao processo no qual um ator social se reconhece e constrói uma referência de ação com base em algum atributo cultural ou conjunto de valores. Identidades resultam de situações de confronto e comparações com o outro, pois, na maioria das vezes, não é possível integrar ou articular visando à ação sem antes diferenciar e distinguir. Nós também, enquanto indivíduos, firmamos nossa identidade em comparação com o(s) outro(s). Autores da Sociologia, da Antropologia e da Ciência Política caracterizaram os movimentos sociais como sujeitos coletivos por sua capacidade de elaborar uma identidade com a causa que defendem, criando interesse por parte dos indivíduos que a ela se dedicam. Na luta e confronto constantes, eles organizam práticas coletivas. O sociólogo francês Alain Touraine explica os movimentos sociais como uma combinação de princípios de identidade, oposição e totalidade em relação à luta que desencadeiam. Vejamos sua explanação no quadro a seguir, usando como exemplo o movimento argentino das mães e avós da Praça de Maio e os movimentos operários do início do século XX. BREVE HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Entre os movimentos sociais que tiveram origem na luta de classes, o movimento operário foi o que obteve maior reconhecimento como tal. Ele formou-se a partir do século XVIII, época em que aumentava a concentração de trabalhadores nas fábricas europeias. Submetidos a extensas jornadas de trabalho, à falta de direitos trabalhistas e ao despotismo de seus patrões, os operários organizaram-se para reivindicar mudanças nas condições de trabalho. Movimento pioneiro na esfera operária, o ludismo, no início do século XIX, posicionava-se contra as máquinas na Inglaterra, sabotando-as como uma de suas formas de ação. Somava-se às reivindicações por melhores condições de trabalho outra preocupação: o aumento do desemprego em razão da mecanização da indústria. A dura repressão ao ludismo foi acompanhada pela acusação aos trabalhadoresde que estariam dificultando a modernização da produção. Ainda assim, novas formas de luta emergiram ao longo do século XIX, mediadas pelos sindicatos. O LUDISMO O termo "ludismo" vem de Ned Ludd, um operário que destruiu a máquina do seu patrão. Os ludistas acreditavam que as máquinas roubavam empregos e reduziam salários. Os proprietários das máquinas enfrentaram os ataques a tiros. O governo mobilizou 12 mil soldados para reprimir o movimento. Em 1812, a lei Frame-Breaking Act tornou a destruição intencional de máquinas em crime capital. A repressão do governo enfraqueceu o movimento a partir de 1816. Existem muitos movimentos operários, com singularidades em cada país, mas, de modo geral, todos buscam a melhoria das condições de trabalho por meio de uma ação política. Um dos instrumentos mais recorrentemente utilizados pelos movimentos operários em todo o mundo é a greve. Desde os primeiros tempos da industrialização, as paralisações dos trabalhadores constituíram uma forma de exigir condições mais dignas de trabalho, remuneração e assistência social. Com a consolidação da organização da classe operária no início do século XX, as greves passaram a criticar as próprias condições da sociedade, reivindicando transformações para além do ambiente de trabalho. Desde o século XIX, o socialismo – sistema político que visa a uma sociedade igualitária e cooperativa – destacou-se por favorecer ações coletivas de indivíduos e grupos organizados. No entanto, após o fim da União Soviética e a queda de muitos regimes ligados a ela, o socialismo declinou como utopia social. Somado ao enfraquecimento de teorias como o anarquismo e o mutualismo, em fins do século passado, esse declínio trouxe o desafio de construir novas formas de contestação das desigualdades próprias do sistema capitalista. image1.jpeg image2.png image3.png image4.jpg image5.jpg image6.png image7.jpg image8.png image9.jpeg image10.jpg image11.jpg image12.png image13.png image14.png image15.png image16.jpeg image17.jpeg image18.png