Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Estresse no Curso de Medicina Bruno Eduardo Vendrametto1 Resumo: Este trabalho tem como tema principal o estresse nos estudantes de medicina. É visto que os “medicineiros” vivem em constante estresse durante o curso o que prejudica seu próprio desenvolvimento levando a repercussões negativas no futuro profissional. Será abordado o que é o estresse, seu causador, suas fases, os agentes estressores do curso, as peculiaridades do aluno, as drogas como uma via de escape e quais os períodos letivos mais estressantes Introdução O que é o estresse? A palavra estresse vem do latim e ficou popular no século XVII com significado de fadiga. O estresse pode ser interpretado como um conjunto de reações físicas, hormonais e psicológicas do organismo, que decorrem das alterações psicofisiológicas quando há uma situação que ultrapasse a capacidade de luta de cada organismo. Essas reações do corpo tem por objetivo adaptar o sujeito a essa nova situação de vida. De acordo com Pereira (2002) o termo estresse também se difundiu como sinônimo de qualquer alteração negativa, vivida pelo indivíduo O estresse se mostra como um processo e não uma reação única, sendo sua manifestação inicial muito semelhante entre os indivíduos. As características iniciais são: taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de alerta. Sendo sua evolução diferenciada por predisposições genéticas e caraterísticas psicológicas de cada um. Vale ressaltar que o estresse excessivo induz o processo de envelhecimento e tem repercussões na área psíquica e no sono. Além disso Fontana (1991) afirma que o estresse age no processo ensino-aprendizagem. De acordo com ele o estresse excessivo gera uma queda da concentração e atenção. Há também danos nas memórias de curto e longo prazo. Há uma queda da autoestima, forte sensação de depressão e desamparo. O que causa? Além de saber o que configura o estresse, é muito importante conhecer o que o causa. O estressor, é o que gera o estresse, sendo caracterizado como tudo aquilo que interfira na homeostase interna do indivíduo, e que demande dele uma adaptação o que inclui o gasto de energia. 1 Acadêmico do primeiro semestre do curso de medicina da UNEMAT. Trabalho desenvolvido na disciplina de Produção de Texto. Os estressores podem ser divididos em duas categorias de acordo com Lipp (1995): • Fontes internas: que estão relacionadas com o modo de ser de cada indivíduo, com a sua personalidade, se é tímida, ansiosa, nervosa. Esse tipo de fator é muito subjetivo e o motivo de estresse de um pode significar nada para o outro. • Fontes externas: são eventos que independem da pessoa, são resultados de alterações inesperadas do cotidiano relacionadas ao trabalho, família, mortes, escola e entre outros. Já Pereira (2002) caracteriza os estressores em: • Estressores físicos: são de origem externa, como ruídos, frio, calor, fome, dor e acidente. Estes fatores interferem diretamente no corpo da pessoa. • Estressores cognitivos: são caracterizados como sendo de risco à integridade do indivíduo ou do seu patrimônio, como provas, concursos, assaltos e discussões. • Estressores emocionais: são fatores relacionados a emoções, sentimentos de perda, medo, ira, acontecimentos como casamento, divórcio, mudanças onde o componente afetivo predomina. Fases O endocrinologista Seyle em 1956 conceituou o estresse em 3 fases: 1. Fase de alerta: é o momento inicial de confronto com o agente estressor. Nele o organismo se prepara para lidar com a adversidade que está interferindo na homeostase do indivíduo. Se o agente estressor tem curta duração o indivíduo sai dessa fase sem nenhum prejuízo e restaura facilmente sua homeostase. 2. Fase de resistência: ocorre com o estressor dura por um grande período de tempo, com é o caso do curso de medicina. O organismo tenta reparar sua homeostase. Caso a “energia adaptativa” reservada seja o suficiente ele sai dessa fase e volta ao normal. Caso não seja o corpo se enfraquece e fica mais suscetivo a doenças. Nesta fase é notada o aumento de cortisol. 3. Fase de exaustão: caso a pessoa não consiga lidar com o agente estressor ou outros apareçam, o resultado é a exaustão psicológica, normalmente em forma de depressão, e a exaustão física, com consequente aparecimento de doenças. Há uma nova fase do estresse identificada por Lipp (2000) que se encontra entre a resistência e a exaustão chamada de quase-exaustão. Essa fase ocorre quando a “tensão ultrapassa o limite gerenciável, diminuem as resistências físicas e emocionais, exigindo grande esforço no desempenho das atividades diárias, intercalando momentos de produtividade normal e desconforto; o que gera ansiedade.” Todas essas fases podem ser avaliadas pelo “Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos”, elaborado por Lipp (2000). Como resistir? Campbell (1976) diz que uma vida satisfatória estaria no espaço entre expectativa e realizações. É preciso que o indivíduo adapte momentos de sua vida com aumento de suas realizações e diminuições das expectativas. Sendo a primeira vista como sucesso e a segunda como fracasso. De acordo com Capra (1988), a percepção dos estressores é diferente para cada um, desse modo o grau de resistência a eles também é variante. Essa resistência individual é chamada Resiliência. A resiliência é a habilidade de superar crises ou situações de estresse, o que não quer dizer sair sem nenhuma sequela da crise. Tavares (2002) diz que o bom humor, a ética, a catividade, a resistência e o não julgamento dos agressores são traços de pessoas resilientes e que podem ser encontrados em um terço da população. O Curso de Medicina O curso de medicina é um dos mais concorridos do vestibular. Sendo assim o estresse se inicia logo na escolha e nas privações que o vestibulando terá de fazer para conseguir entrar no tão sonhado curso. Essas privações estão divididas em diversas categorias, iniciando-se pelo sono, momento de diversão, atividade física, tempo com a família, entre outras. O curso em si é muito exigente. Grande quantidade de matérias, várias provas, carga horária extensa, e a pressão ao lidar com a vida humana. São todos fatores que influenciam no desenvolvimento do estresse no estudante de medicina. Wolf (1994) afirma que o curso de medicina não faz bem a saúde do aluno, uma vez que gera uma grande carga de estresse. Vale ressaltar os estressores dos recém-formados descritos por Pereira (2002). O que torna possível observar que a Medicina é um grande agente estressor, desde o seu aprendizado até sua prática propriamente dita. Os fatores são: • Demanda de atendimento • Pouco reconhecimento • Reduzida participação nas decisões organizacionais • Plantões • Longa jornada de trabalho • Dificuldade de Promoção • Equipe despreparada • Absenteísmo na equipe • Necessidade de atualização contínua • Exposição constante a risco • Pressão do tempo e urgências • Burocracia na prática diária • Convivência com o sofrimento e morte • Responsabilidade civil e pessoal da prática médica • Exigências na qualidade do atendimento • Pacientes difíceis e problemáticos • Problemas de comunicação e competição laboral • Relacionamento com superiores • Ambiente de trabalho inadequado • Ausência de local privado para descanso nos intervalos • Salário insuficiente O Aluno de Medicina e o Estresse Os motivos que levam a escolha do curso se dividem em dois níveis: consciente e inconsciente. Os conscientes são: desejo de compreender, de ver, desejo de contato, status, dar alívio ao sofrimento, dinheiro, ser útil, seguranças, responsabilidade. Entre as razões inconscientes se sobressaem desejo de ver e saber sobre a morte e sexo, identificação com o pais, expiação de impulsos agressivos, negação da morte, curiosidade inconsciente de conhecer o corpo da mãe, verno ato de curar reparação para agressividade, reparo da própria ferida narcisista de inferioridade e desejo de onipotência. (Cerqueira e Lima, 2002, Bellodi, 2001). Hipócrates (460-377 a.C), pai da medicina definiu o perfil do estudante da arte médica. ”AQUELE QUE DESEJA ADQUIRIR UM BOM CONHECIMENTO DE MEDICINA DEVE TER AS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS: APTIDÃO NATURAL, CULTURA, DISPOSIÇÃO PARA ESTUDAR, INSTRUÇÃO DESDE CEDO, PERSEVERANÇA, AMOR AO TRABALHO E TEMPO DISPONÍVEL. ANTES DE MAIS NADA, É PRECISO TALENTO NATURAL, POIS QUANDO A NATUREZA SE OPÕE, TUDO É EM VÃO. QUANDO, PORÉM ELA INDICA O CAMINHO E A DIREÇÃO DO QUE É MELHOR, O APRENDIZADO DA ARTE SE FAZ DE MANEIRA PRAZEROSA. O ESTUDANTE DEVE TENTAR, POR SEU LADO, ASSIMILAR ESSE APRENDIZADO ATRAVÉS DA REFLEXÃO, TORNANDO-SE LOGO DE INÍCIO UM ALUNO EM UM LOCAL APROPRIADO À INSTRUÇÃO, DE MODO QUE OS CONHECIMENTOS QUE ESTÃO SE ENRAIZANDO PRODUZAM FRUTOS APROPRIADOS E ABUNDANTES.” É visto que desde de Hipócrates, a cobrança sobre o estudante de medicina é grande. Espera-se dele o amadurecimento precoce, a abdicação do tempo de lazer e o estudo incessante. Espera-se que o médico seja um profissional, paciente, simpático e atencioso com seus pacientes, porém é constatado que o curso faz o contrário ao indivíduo. Sendo assim a própria metodologia se contradiz ao tentar criar um perfil de profissional mais humano, uma vez que o curso exige uma dedicação quase “inumana”. Estressores do curso A literatura afirma que a taxa de suicídios entres os futuros médicos é de 4 a 5 vezes maior que a média da população na mesma faixa etária. Estudos feitos em diversas universidades de medicina apontam vários fatores de estresse nos estudantes do curso. Foi possível perante análise dos artigos observar que esses fatores são muito semelhantes entre si, sendo então possível inferir que o local em que se estuda possui mínima relevância no desenvolvimento da patologia. Dentre os vários fatores os mais citados são: • Excesso de provas • Enorme quantidade de matéria • A falta de tempo para o lazer e para familiares e amigos • Contato com a morte • A difícil tarefa de se aprender a lidar com o paciente • Professores injustos • Pouco tempo de sono Características do aluno que influenciam Os estudos mostraram que existem diversas caraterísticas individuais que influenciarão os alunos quanto a intensidade de estresse que cada um sofrerá durante o curso. Essas características dependeram da personalidade de cada ser, como por exemplos alunos perfeccionista ou obsessivos-compulsivos tendem a ser mais suscetíveis a doença. Embora esses traços o tenha ajudado a entrar na medicina, o curso se torna muito exigente e mantê-los pode ser difícil. Assim o aluno que está acostumado a ser o melhor nos mais diversos quesitos não consegue manter o “nível” durante a faculdade o que pode gerar frustração levando ao estresse. De acordo com trabalho de Millan, De Marco e Rossi (1990; 1992), os alunos tops de suas salas estão mais sujeitos ao estresse e configuram um grupo de alto risco de suicídio. Tal fator se da devido ao fato de serem mais exigentes consigo mesmo o que faz com que a pressão sobre si aumente tornando qualquer falha uma grande catástrofe. Ainda quanto as características Glasse (2001) afirma que as urgências básicas de cada pessoa se diferencia em cinco categorias e que cada indivíduo se liga mais com uma do que com outra sendo assim o estresse surtirá mais ou menos efeito dependendo da área que afete. As categorias são: 1. Sobrevivência: que se relaciona as necessidades fisiológicas como sono, ambiente etc. 2. Amor e pertencer: se refere a necessidade de se ter relacionamentos. 3. Poder: a necessidade de controle 4. Liberdade: poder de escolha 5. Diversão: ter lazer. Assim se um indivíduo encontra-se ligado mais a sobrevivência, qualquer fator que altere, por exemplo, seu sono pode gerar grande estresse porém um fator que limite seu lazer pode não ser tão prejudicial. Outro fator agravante é a questão de sexo. Diversos estudos compravam que as mulheres estão mais suscetíveis a ficarem estressadas. Isto se dá devido as peculiaridades do sexo feminino como as mudanças hormonais mais constantes. Outrossim, o fato delas serem mais sensíveis faz com que sejam mais suscetíveis aos agentes estressores. Diferentemente do sexo oposto que normalmente é mais pragmático e objetivo sendo menos rígido consigo mesmo o que diminui a carga de estresse. Drogas A análise dos estudos revelou o alto índice de uso de diversos tipos de entorpecentes por alunos do curso de medicina. Um deles feito nas escolas médicas de São paulo com 3725 alunos verificou em ordem crescente de frequência o uso de: cocaína, tranquilizantes, maconha, solventes, tabaco e álcool. Para o estudante recorrer as drogas, em muitos casos, torna-se a única alternativa para aliviar o estresse. O problema é ainda maior quando se observa que o vício não sessa com o fim da faculdade, criando então, profissionais instáveis. Períodos Foi possível observar que o primeiro, quarto e sexto ano são os momentos de maior estresse do estudante de medicina. O primeiro por ser um período de transição na metodologia de estudo. O aluno se encontra perdido e desacostumado ao ritmo de estudo. O quarto por anteceder o internato. Este é o momento em que o aluno se autoavalia e vê se realmente aprendeu e possui o conhecimento suficiente para a prática clínica. No sexto, surge a questão da especialização e então o estudante vê a sua frente um novo vestibular que é a prova de residência. Conclusão É visto que características individuais, físicas e psicológicas influenciam no surgimento do estresse, porém o maior agente estressor no estudante de medicina é o curso. A carga horária é extensa, as matérias são diversas e complicadas, não deixando tempo para o descanso e lazer. Sendo assim o estudante termina por viver durante todo o período do curso em um constante estado de estresse, que afeta seu desempenho durante o curso, e também pode levar ao desenvolvimento de patologias. Em casos extremos quando o indivíduo não consegue lidar com seu estresse há duas vias escolhidas, o uso de drogas e o suicídio. Referencias Bruna Ayumi Harada, Carlos Fernando Faxina , Carolina de Marchi Capeletto, João Carlos Simões2 - Perfil psicológico do estudante de Medicina . Eliane de Sousa Furtado, Eliane Mary de Oliveira Falcone, Cynthia Clar - Avaliação do estresse e das habilidades sociais na experiência acadêmica de estudantes de medicina de uma universidade do Rio de Janeiro. Samia Mustafa Aguiar, Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira, Karine Magalhaes Fernandes Vieira, Sabrine Mustafa Aguiar, Joana Oliveira Nobrega - Prevalência de sintomas de estresse nos estudantes de medicina. Ana Margareth Siqueira Bassols – Estresse, ansiedade, depressão, mecanismo de defesa e copping dos estudantes no início e término do curso de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Patricia Tempeski Fiedler - Avaliação da qualidade de vida do estudante de medicina e da influência exercida pela formação acadêmica. Luciano Souza – Prevalência de sintomas depressivos, ansiosos e estresse em acadêmicos de medicna
Compartilhar