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Resenha - Fundamentos de Direitos Humanos nas Nações Unidas

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GHISLENI, A. P. Direitos humanos e segurança internacional: o tratamento dos temas de direitos humanos no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. Capítulos 1 e 2.
	Desde a década de 1990, e em especial após a Guerra do Golfo, verifica-se uma autoexpansão competencial do Conselho de Segurança da ONU no sentido do exercício de uma competência prescritiva na área de Direitos Humanos. Partindo desta constatação, Ghisleni passa a analisar, nos capítulos 1° e 2° de seu livro, as seguintes questões: a) como e por que razões se deu essa expansão competencial; e b) que conjunto de direitos e obrigações, dentre toda a produção normativa das Nações Unidas no âmbito de direitos humanos, integrar-se-ia ao instrumental de trabalho do CSNU?
	Antes de chegar ao âmago da primeira questão, Ghisleni faz uma análise da pertinência jurídica e política da autoexpansão do âmbito de competência do CSNU para englobar também temas de direitos humanos.
	Neste sentido, o autor verificou que a aplicação do princípio da não intervenção na área dos direitos humanos, inicialmente, apresentava-se como uma constante fonte de tensão no sistema das Nações Unidas. No entanto, gradualmente, foi-se estabelecendo mecanismos institucionais de acomodação dos interesses conflitantes no sistema onusiano, fosse a partir do prévio consentimento do Estado em submeter questões de seu âmbito interno à consideração multilateral, fosse mediante a observação não autorizada das ações internas de um Estado nessa área temática. Finalmente, com o advento da Segunda Conferência Mundial sobre Direitos Humanos em Viena, em 1993, restou-se reconhecida a legitimidade da preocupação internacional com os direitos humanos, o que levou a uma reinterpretação do art. 2°, parágrafo 7° da Carta de São Francisco, segundo o qual já não caberia mais invocar o princípio da não intervenção para impedir a consideração internacional da situação humanitária em um determinado país.
	Uma vez superado esse obstáculo, restava verificar se a Carta da ONU não estabelecia limites à atuação do Conselho na área de direitos humanos. De fato, sabe-se que a Carta limitou a competência do Conselho às temáticas da paz e da segurança internacionais. Nada obstante, a ausência de uma definição jurídica de expressões tais como “ameaça à paz”, resultou na brecha hermenêutica necessária para o CSNU atuar discricionariamente na construção desses conceitos, o que leva Ghisleni a concluir que “ não há margem razoável de dúvida de que seja legal perante a Carta o tratamento de temas de direitos humanos pelo Conselho, quando ele determinar que os casos que lhes servem de ensejo constituem ameaças à paz”. (GHISLENI, 2011, p. 52)
	Mais premente do que o questionamento sobre a pertinência jurídica, contudo, é a ponderação a respeito da legitimidade política do Conselho na expansão autoconcedida de sua competência, isto é, até que ponto a comunidade internacional apoiará uma intervenção do CSNU em casos que tenham como foco principal a violação de direitos humanos. Ghisleni deixa a questão em aberto, porém não é difícil concluir que o apoio ou não dos Estados membros dependerá sempre da correspondência ou não aos seus interesses, assim como do modo com que o CSNU efetuará a intervenção. Verifica-se, portanto, que a problemática tem caráter eminentemente político, e não jurídico, como se poderia pensar.
	Chegando finalmente à questão do modo e das razões por que o Conselho passou a tratar do tema de direitos humanos, o autor destaca o papel das demandas externas, isto é, das solicitações feitas ao CSNU neste sentido, seja por parte da sociedade civil, seja da parte mesma de outros órgãos da ONU. 
	Assim, a Secretaria das Nações Unidas viria atuando desde o início da década de 1990 no sentido de ampliar a abrangência dos conceitos de “ameaça à paz” e de “segurança internacional”, a fim de abarcar questões não necessariamente ligadas ao choque de interesses entre Estados (Boutros-Ghali, “Uma Agenda para a Paz: diplomacia preventiva, estabelecimento da paz e manutençao da paz”), assim como de consolidar o princípio da responsabilidade de proteger (Kofi Anan e Ban Ki-moon).
	Por sua vez, esses apelos seriam uma decorrência direta da constatação das mudanças que ocorreram (e vem ocorrendo) no mundo Pós-Guerra Fria: da diminuição dos conflitos militares em contraste com a eclosão de diversos conflitos civis; das elevadas taxas de mortalidade devido à inanição e a doenças; do crescente número de refugiados de guerras e de catástrofes naturais; dentre outros problemas que, não obstante tendam a originar-se no interior dos Estados, tem potencial para expandir-se e ameaçar a paz e a segurança internacionais.
	Pode-se interpretar essa mudança temática, inclusive, como uma mudança paradigmática, consequência da relativização das raízes realistas do Conselho. 
	Quanto à segunda questão, o problema dá-se na medida em que a ONU não é parte signatária dos instrumentos normativos internacionais que ela aprova. Neste diapasão, como definir os direitos e obrigações aplicáveis pelo Conselho de Segurança?
	Ghisleni defende aqui a tese de Thomas Meron quanto ao caráter de obrigação erga omnes que algumas normas de direitos humanos possuiriam (isto é, contra todos; todos os Estados teriam um interesse jurídico na sua proteção), especialmente no caso da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a qual, não obstante a ausência de caráter vinculante, dada a sua própria condição de declaração, goza da aceitação universal de seus Estados-membros.
	A análise das resoluções mais recentes do Conselho de Segurança, contudo, demonstra que este órgão tem se utilizado também da referência normativa ao Direito Internacional Humanitário, associado aos direitos humanos, como se se tratassem de uma coisa só. Essa tendência, apesar de conceitualmente incorreta, segundo Ghisleni, é considerada bem-vinda tanto pela ONU quanto pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, originalmente responsável pela aplicação do DIH, isso porque garante uma intervenção quando da violação de direitos fundamentais qualquer que seja o contexto de sua ocorrência.
	É de se reconhecer a importância da temática dos direitos humanos em relação às questões de paz e de segurança internacionais. Contudo, não deixa de ser pertinente a cautela demonstrada por Ghisleni na escolha do Conselho de Segurança como executor dessa competência internacional, uma vez que a composição pouco democrática deste órgão, além da sua falta de representatividade regional e da ausência de mecanismos de pesquisa e de observação, podem levar a atuações contrárias à vontade da maioria dos Estados-membros e, consequentemente, à perda da legitimidade política deste órgão na comunidade internacional.

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