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Síntese do Tocqueville

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Apresentação ao autor e seu escopo de estudo
Tocqueville não figura entre os inspiradores do pensamento sociológico, mas ao analisar seu pensamento ele difere de Comte e de Marx. Ele não destaca o fato industrial como Comte e nem o fato capitalista como Marx na sua análise da sociedade, ele atribui preponderância a democracia. 
A partir disso ele concebe sua obra pautado na determinação de certos traços estruturais nas sociedades modernas que serviriam de modelo para comparação com diversas modalidades dessas sociedades. Comte parte da análise da sociedade industrial e acentuava as características comuns a todas as sociedades industriais, partindo da premissa que definida o que ela é podemos classificar qualquer outra sociedade industrial. Marx se debruça sobre o capitalismo como fator comum, que apresenta fenômenos encontrados em todas as sociedades que abraçaram esse sistema. Marx e Comte insistem que a sociedade pode ser estudada/classificada a partir de traços genéricos, subestimando qualquer variação. Tocqueville, ao contrário, constata certas características comuns a essência de todas as sociedades modernas, mas a partir dessa igualdade nasceria toda uma pluralidade de regimes políticos possíveis. As sociedades poderiam ser liberais ou despóticas; podem assumir características distintas nos arredores do globo. Tocqueville é um sociólogo comparativista por excelência, ele identifica os pontos mais importantes e confronta tipo de sociedades diferentes.
Democracia e liberdade
2 livros principais: “A democracia na América” e “O antigo regime e a Revolução”
O primeiro livro se trata a estudar a sociedade estadunidense e procura responder a seguinte pergunta: por que nos EUA a sociedade democrática é liberal? (Tomou Montesquieu como modelo)
O segundo livro direciona seu foco para a França e pergunta: por que a França encontra tanta dificuldade, no curso de sua evolução rumo à democracia, para manter um regime político de liberdade?
Vemos aqui um claro embate entre sociedade, já mensurado como uma das características do estudo de Tocqueville.
Precisamos, antes de tudo, definir a noção de democracia presente nessas obras: aos seus olhos a democracia deve assentar-se na igualdade de condições (assim como para Montesquieu e Rousseau). Não subsistiriam distinções de ordens e classes e todos os indivíduos que compõem a coletividade são socialmente iguais (OBS: isso não quer dizer que eles sejam intelectualmente iguais ou economicamente iguais, para o autor tais ideias são absurdas). Essa igualdade social é a inexistência de diferenças hereditárias de condições onde todas as profissões são acessíveis a todos. Dada essa sociedade igualitária, o governo democrático estaria nas mãos desse povo. Além disso, uma sociedade na qual a igualdade é lei social e o Estado é democrático, seu objetivo prioritário é o bem-estar do maior número possível.
A tese de Tocqueville é que a liberdade não pode se fundamentar na desigualdade, deve se assentar na sociedade democrática pautada na igualdade de condições, salvaguardada por instituição que para ele existem nos EUA.
Então, o que é Liberdade para Tocqueville? Ele não deixou uma definição por critérios, mas sua concepção de aproxima muito da de Montesquieu. Em primeiro lugar, a liberdade significa a ausência de arbitrariedade, na qual o povo governe a si próprio e que o poder seja limitado por ele mesmo através de uma pluralidade de centros de decisão buscando um equilíbrio.
A problemática de Tocqueville pode ser resumida assim: em que condições uma sociedade em que o destino dos indivíduos tende a ser uniforme pode evitar o despotismo? Como compatibilizar a igualdade e a liberdade? Esse pensamento o aproxima da sociologia e da filosofia clássica por intermédio de Montesquieu. Ele remonta ao estudo da sociedade, para compreender as instituições da política.
Mas, em sua visão sociológica, acredita que as desigualdades de riqueza, por maiores que sejam não contradizem a igualdade fundamental das condições, característica das sociedades modernas. Para ele a sociedade democrática se tornará uma aristocracia por meio dos líderes industriais. As desigualdades de riquezas irão se atenuar a medida que a sociedade moderna se torne mais democrática, em contraposição à visão apocalíptica de Marx sobre o capitalismo.
A experiência democrática americana
Causas da democracia americana liberal:
- A situação acidental e particular em que se encontra a sociedade americana
- As leis
- Os hábitos e costumes
Expliquemos cada um:
É atribuída uma ordem de importância para essas 3 causas: a situação geográfica e histórica pesou menos do que as leis, que pesaram menos que os hábitos, os costumes e a religião. As verdadeiras causas da liberdade de que goza a democracia americana são as boas leis e, mais ainda, os hábitos, os costumes e as crenças, sem as quais a liberdade não é assegurada.
A situação acidental e particular inclui tanto o espaço geográfico em que se estabeleceram os imigrantes vindos da Europa que se estabeleceram em um espaço livre de Estados vizinhos que inspirassem temor (tinham um mínimo de obrigações democráticas e militares). Ao mesmo tempo, essa sociedade foi instituída já com o instrumental tecnológico de uma sociedade desenvolvida, ocupando um espaço muito amplo. Não há situação equivalente na Europa e constitui umas das explicações para a inexistência da aristocracia e o primado da atividade industrial.
De acordo com a sociologia moderna, a aristocracia ligada a terra nasce da escassez da mesma e na América o espaço era tão amplo que não havia a possibilidade dela se constituir.
Com efeito, os valores puritanos dos imigrantes, seu duplo sentido da igualdade e liberdade se perpetua na sociedade estadunidense. A sociedade conservou o sistema moral dos seus fundadores. A liberdade é salvaguardada numa sociedade democrática.
Tocqueville insiste nos benefícios que proporciona aos EUA o caráter federativo de sua constituição (Montesquieu defende essas vantagens constitucionais). Porém ele demonstra certo pessimismo quando fala de nações pequenas que não tem a força necessária para se defender. Ele exige que o Estado seja suficientemente extenso para dispor da força necessária à sua segurança e pequeno o bastante para que a sua legislação se adapte a diversidade das circunstâncias e dos meios. Portanto, tal combinação só poderia ser alcançada através de uma confederação ou Constituição federativa, a qual seria o maior mérito das leis americanas.
O princípio federativo garantia a livre circulação de pessoa, bens e capitais, evitando a formação de barreiras alfandegárias internas e a consequente desarticulação da unidade econômica americana.
Em último lugar, de acordo com Tocqueville existem 2 perigos que ameaçam a existência das democracias: a subordinação do poder legislativo à vontade do corpo eleitoral e a concentração no poder legislativo de todos os outros poderes do governo (centralização do poder). Para ele e Montesquieu um governo democrático não deve ser tal que o povo possa se abandonar a todos os impulsos passionais e determinar as decisões do governo. Todo regime democrático tenderia a centralização do poder no corpo legislativo.
Tocqueville reúne em uma terceira categoria de causas os costumes e as crenças. Esse tema fundamental é o que em última análise a liberdade tem como condição os costumes e as crenças dos homens, sendo que o fator decisivo dos costumes é a religião. Para Tocqueville, a sociedade americana soube unir o espírito da religião com o espírito da liberdade. Entretanto, esse ponto é contraposto quando compara a manutenção da liberdade nos EUA e o precário futuro da liberdade na França, já que a sociedade americana une esses espíritos enquanto a francesa está dilacerada pela oposição entre igreja e democracia, entre religião e liberdade. Na França, o conflito entre o espírito moderno e a Igreja constitui a causa última das dificuldades encontradas pela democracia que pretende ser liberal; pelo contrário, a proximidadede inspiração entre o espírito religioso e o espírito de liberdade é que constitui o fundamento último da sociedade norte-americana. O conflito entre Igreja católica e o espírito moderno decorre, na França de uma longa tradição, como acontece com a afinidade entre religião e democracia na civilização anglo-americana.
Para ele a democracia se justifica por favorecer o bem-estar de muitos, mas não deixa de apresentar perigos políticos e morais. Como ela tende a centralização, traz o perigo de haver uma espécie de despotismo, uma tirania da maioria, na qual a maioria portadora da “razão” facilmente poderia oprimir a minoria.
Contudo, Tocqueville tinha grande consciência dos dois grandes problemas enfrentados pela sociedade americana: as relações entre brancos e índios e entre brancos e negros. Um problema para a união era, sem dúvida, a escravidão no Sul. Ele era sombriamente pessimista a esse respeito; acreditava que quando a escravidão acabasse a igualdade jurídica se estabelecesse entre brancos e negros, se elevariam as barreiras que os costumes criaram entre as duas etnias. Haveriam duas soluções: mistura de raças ou a separação. Como a mistura de raças seria rejeitada pela maioria branca a separação seria quase inevitável, prevendo conflitos terríveis.
O Drama político francês
Tocqueville estuda a França pensando, em certo ponto, na América procurando compreender porque a França tem tantas dificuldades em ser uma sociedade politicamente livre, embora seja ou pareça democrática. No caso dos EUA ele procurava entender as causas do movimento inverso, isto é, a persistência da liberdade política por causa ou a despeito do caráter democrático da sociedade.
“O antigo regime e a Revolução” é uma interpretação sociológica de uma crise histórica que vem de um simples e puro acidente. Afirma que as instituições do Antigo Regime ficaram em ruínas depois que a tempestade revolucionária as arrastou. Acrescenta que a crise revolucionária teve características específicas porque se desenvolveu tal qual uma revolução religiosa.
Para esclarecer seu método, Tocqueville divide a sociedade francesa (isso me lembra Marx) em classes: a nobreza, a burguesia, os camponeses e secundariamente os operários. Não os define, nem apresenta suas características, apenas os apresenta.
Em seguida, ele se pergunta: se o conjunto das instituições do Antigo Regime está em ruínas em toda a Europa, por que a revolução ocorreu na França? Quais os fenômenos principais que explicam esse acontecimento?
O primeiro deles já foi estudado indiretamente em “A democracia na América”: é a centralização e a uniformidade administrativas. Sem dúvida a França do Antigo Regime apresentava extraordinária diversidade provincial e local, em matéria de legislação e regulamentação; contudo, a administração real dos intendentes tornava-se, cada vez mais a única força eficaz. A França era administrada do centro e de maneira uniforme, bem antes da tempestade revolucionária.
Em segundo lugar, nessa França administrada do centro e na qual os mesmos regulamentos se aplicavam cada vez mais ao seu território, a sociedade estava esfacelada. Os franceses não tinham condições de discutir seus assuntos, porque lhes faltava liberdade.
Tocqueville faz uma descrição puramente sociológica do que Durkheim teria chamado de desintegração da sociedade francesa. Não havia unidade entre as classes privilegiadas e as diversas classes da nação devido à falta de liberdade política. Subsistia uma separação entre os grupos privilegiados do passado, que tinham perdido sua função histórica mas conservavam seus privilégios e os grupos da nova sociedade, que desempenhavam um papel decisivo mas permaneciam separadas da antiga nobreza.
Esse é o centro da análise sociológica da França por Tocqueville. Os diferentes grupos privilegiados da nação francesa tendiam ao mesmo tempo a uniformidade e a separação. Eram semelhantes, mas estavam separados por privilégios, maneiras e tradições.
Como já explicitado aqui, também há na sociedade francesa os embates entre o espírito religioso e o espírito de liberdade.

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