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ANOS 1970 HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL Os militares que se diziam patriotas trataram muitos símbolos pátrios com a costumeira truculência. Graças a isso, o Brasil de 1970 tinha poetas e cantores no exílio, professores banidos e políticos cassados. Além de desfiles militares e propaganda ufanista, a ditadura pouco tinha a apresentar ao país. Para louvar a pátria restava o futebol. Como a seleção brasileira iria disputar a Copa do Mundo de 1970 no México, os generais aproveitaram para transformar o evento numa vitrine do país com que sonhavam (...) A comissão técnica era só de militares. O governos não mediu gastos para transmitir o torneio à toda a população, investindo muito para inaugurar as transmissões de televisão em cores e via satélite – símbolos de progresso que se prometia em troca de tanta violência. (CALDEIRA, 1997, p. 327) O Sonho Acabou Começou-se a perceber que o projeto dos jovens de mudar o mundo não era inteiramente viável, pois entrava em choque com um “sistema” extremamente poderoso e dotado de uma incrível capacidade de absorver as críticas que lhe eram dirigidas, transformando-as em práticas aceitáveis para todos. Assim, as energias jovens que antes eram encaminhadas exclusivamente para o campo da transformação política, após uma profunda frustação pela perda do sonho utópico, sofrem uma inflexão e começam a se dirigir a alvos mais sensíveis, como o autoconhecimento, o misticismo, os costumes orientais, a busca do prazer, enfim, todos os temas que compunham o ideário “paz e amor” dos hippies. (CHATAIGNIER, 2010, p. 147) A estética anticonvencional desenhou os setenta, tornando-os uma fonte inigualável de criatividade em moda. Camponeses, ciganas, marinheiras, odaliscas e japonesas, entre outras, ilustram a década na qual o novo brotava a todo momento fazendo com que fantasia e realidade caminhassem juntas (...) No Brasil (...) esse novo caminho funcionou como catarse, apagando da memória a ditadura militar. (CHATAIGNIER, 2010, p. 148) Frenéticas No inicio da década de 70, os designers inspiraram-se em várias fontes: feminismo, movimento hippie e luta pelos direitos civis. Algumas tendências dos anos 60 continuavam populares: padrões psicodélicos, composições em patchwork, etc. Elke Maravilha em micro vestido de Zuzu Angel Comercial do cigarro CHARM, de 1971, filme chamativo e que marcou na TV, reunindo um grupo das mulheres top da época, sinônimo de glamour e sucesso - que o cigarro queria se identificar - capitaneadas por Elke Maravilha, então modelo de passarela. A frase o importante é ter Charm - um dos slogans consagrados na história da propaganda brasileira - era acompanhada de um gesto semi circular com a mão e todas paravam com o pulso na mesma posição. No grupo Ilka Soares, Danuza Leão, Scarlet Moon, Clementina de Jesus, Leila Diniz dentre outras. Fonte: http://rioquemoranomar.blogspot.com.br/2010/01/recordacoes-de-domingo.html A partir da segunda metade da década de 1960 começa uma forte influência da indumentária oriental, principalmente a indiana, esta tendência convivia com elementos da cultura americana, como franjas de origem Western e calças jeans. Dos brechós emergem roupas velhas, xales, blusas rendadas e uniformes militares. Estas peças, que continham em si próprias uma atitude étnica ou retrô, fizeram parte do estilo dos hippies que provocaram uma estrondosa revolução cultural. Surge a moda unissex, roupas criadas para ambos os sexos, calças coloridas e estampas florais para homens, e calças, jaquetas e coletes para as mulheres Os anos 1960 instituíram um novo paradigma na criação da moda ocidental. E os 1970 promovem uma reorganização das múltiplas ideias desenvolvidas na década anterior. As manifestações de rua refletiam atitudes libertárias e alternativas, que serviram de inspiração para a criação dos estilistas. Os trajes passaram a exprimir um caráter político e uma atitude excêntrica diante da moda convencional. Conjunto com motivo indiano Cabelos longos e cacheados afro. Maquiagem indiana com khöl, sombras e delineadores azuis ou verdes. Perfume patchuli e alfazema. A volta do artesanato, herança dos hippies. O estilo também se industrializou e foi alvo das barracas da Feira Hippie, em Ipanema. A Feira Hippie de Ipanema teve seu começo oficial em 1968, mas alguns anos antes vários artesões e artistas já moravam e vendiam as suas peças na praça General Osório. Os jovens à época eram artistas que resolveram expor seus desenhos para conseguir faturar algum dinheiro. Fonte: http://www.feiradeipanema.com.br É um período de grande diversificação devido a determinação de inúmeros criadores de moda que impõem seus respectivos estilos, e a fragmentação de grupos sociais, cada qual com sua maneira de vestir, que assumem maior visibilidade nas ruas. Jeans branco e camiseta Biba, o típico cabeludo da Zona Sul Convivem gêneros totalmente distintos, como o uso de roupas antigas, o retrô look; o sportswear que acompanha o formato do corpo trabalhado na ginástica ou no Cooper, fabricados em moletons e malhas; os alternativos com tecidos rústicos e artesanais; as mulheres executivas de aparência séria em saias e calças com blazers; a camisa Cacharel de gola rolê; e a tradicional camisa pólo da marca Lacoste. Desenho de Antonio Pereira da Silva (Tonhão). Etnia A questão racial virou tema e lema e foi imensamente debatida. Os negros começaram a ter mais reconhecimento social e seus estilos ancestrais entraram na moda: penteados afro, colares de conta enroscados nos pescoços, estampas tribais, cores fortes e estampas em tie-dye. Em suma: o exotismo aparece. (CHATAIGNIER, 2010, p. 150) Tony Tornado. As modelos brasileiras negras tiveram seus lugares nas passarelas, principalmente no Rio de Janeiro, o oposto do que acontece hoje. Entre as belas, todas altíssimas, destacam-se Luana, Veluma, Maria Rosa, Yuruá, Mira, Mary Help, Nixon, Josefa e outra mais. (CHATAIGNIER, 2010, p. 150) Veluma Feminino X Masculino Na pérgula do Copacabana Palace, os paletós femininos e o terno branco de Luiz Dale. Da Movie, gravata e camisa social, em Denise Carvalho. Praia de Ipanema Maxi-camisão e biquíni florido A tanga, o biquíni criado por Zilda Costa, ajustado em qualquer medida. Meia-taça com calça franzida. MINI MIDI MAXI Saias longas florais Maxi-saia mostrando as pernas Sandália plástica MAXI-SAIA Sônia Braga como Júlia Matos usa jogging na novela Dancin’ Days, 1978. Camisas de poliéster coloridas e golas pontiagudas, as nik nik shirts. Jumpers, macacões e macaquinhos. Abba O collant de lycra entrou na moda, independentemente das temperaturas tropicais. Sandra Brea. Jeans Do intelectual ao operário, da dondoca à cocota - garotas adolescentes da Zona Sul carioca, que usavam jeans justo e abaixo da cintura e caprichavam na produção do visual. Esta calça deu o que falar e tornou-se a peça de vestuário da contestação e da alienação. (CHATAIGNIER, 2010, p.150) Gloria Kalil trouxe a Fiorucci para o Brasil em 1977 Criada em 1972 a Ellus se tornou líder no mercado jeanswear, comandada pelo casal Nelson Alvarenga, presidente e fundador e Adriana Bozon, diretora de criação. O empresário Nelson Alvarenga investiu no mercado jeanswear quando ainda não se falava em jeans no Brasil. Era a década de 70, época em que a geração jovem lutava pela liberdade de expressão e, com esse espírito, a Ellus nascia em 1972. Cinco anos mais tarde, o five pockets da marca se tornava objeto de desejo. Depois vieram outros hits, como o jeans Kanvas, colorido e o stone-washed, “o jeans lavado à pedra”, novidade trazida ao país com exclusividade pela Ellus. Ellus Comercial publicitário que a Ellus fez em 1978, exibe dois modelos tirando a roupa dentro da piscina com a trilha sonora de Mania de Você da Rita Lee. Blu-Blu Estilo casa-grande e senzala, sempre de algodão branco e adornado de babadinhos, nervuras, pregas, rendas e bordado inglês. Marília Valls, da Blu-Blu, foi a criadora dessa linha afro usada no dia a dia e nas festas. Seus desfiles eram apoteóticos, no meio da Rua Montenegro (hoje Vinicius de Moraes). Fechada pela prefeitura e com direito à banda de música e temas originais. (CHATAIGNIER, 2010) Tecidos Laise, algodão fino ou cru, jérsei, chita estampada, linho, cambraia, crepe indiano, bandagem, juta, chiffon, musselina, lurex e inserção de fios dourados em tecidos. Lurex Cores Preto, vinho, roxo, rubi, marrom, açafrão, curry, henna, verde louro, cinza, marinho e branco. Metálicos para a noite. Estampas Flores pequenas e médias, listras bayadères, puás médios e brancos sobre fundo colorido, motivos orientais, como o cashemere, florias havaianos, reprodução de louças antigas. listras bayadères cashemere Acessórios Bolsas grandes ou pequenas indianas, bandanas, tornozeleiras e chapéus ou similares na cabeça. Botas. Sandálias de couro rasteiras, como as famosas do Figueiredo, no Leblon, e as novas plataformas de madeira e cortiça. Óculos escuros grandes. Butiques e estilistas Blu-Blu Mary Zaide Shop 126 Alice Tapajós Company Simão Azulay Markito Zuzu Angel “No Brasil de meados da década de 1970, quando as iniciativas institucionais e associativas na área de moda ainda eram pífias, a saída encontrada pelos jovens criadores que surgiram em várias capitais do país foi a reunião em grupos informais para a realização de eventos conjuntos. Pioneiro dessa fase, o Grupo Moda-Rio apareceu em fins de 1978, congregando estilistas de pequenas confecções sediadas na capital fluminense”. (BRAGA, 2011, p.429) Grupo Moda Rio (1978-1983) Iniciativa de onze estilistas do Rio de Janeiro, extremamente criativos, que se uniram para restaurar a moda carioca, um tanto esquecida, e trazer de volta para a cidade os grandes desfiles. Segundo José Augusto Bicalho, um dos idealizadores do grupo, na verdade seu líder, a intenção era de exibir no Rio um tipo de evento um tanto europeu com looks de impacto e beleza pura aliados a um jeito carioca que se traduzia em eterna festa (...) Nessa época o que se usava no Rio era chamado de “modinha do Rio”, expressão que não era um deboche, mas sim um jeito simpático de rotular a moda que tinha influência da descontração londrina. (CHATAIGNIER, 210, p. 153) As coleções do grupo eram de vanguarda, tanto nos estilos como nos tecidos, mas não passavam dos limites – nada muito caro nem muito extravagante, ditado que rege o prêt-à-porter de Paris. A novidade motivou a vinda de compradores de norte a sul do pais. Grandes desfiles temáticos foram apresentados nos hotéis de luxo do Rio de Janeiro, como o Copacabana Palace, o Méridien e outros. A mídia espocava em flashes para revistas e jornais, os estilistas davam entrevistas sem parar e os compradores voltavam felizes para seus estados. (CHATAIGNIER, 2010, p. 153) Grupo Moda Rio Quem? Sônia Gallota: Groovy, o hippie chique e carioca, com humor londrino. José Augusto Bicalho: JoEtCo, feminino inventivo. Marília Vals: Blu-Blu, silks em estampas audaciosas. Sonia Mureb: La Bagagerie, de biquinis em malha de algodão a paletós impecáveis. Marco Rica: Snoppy, perfeição de alta-costura nos vestidoe e paletós de prêt-à-porter. Beth Brício e Lúcia Costa: Persona, truques de design e mistura de cores e tecidos ousados. Suely Sampaio: saias e vestidos bordados de linho. Luiz de Freitas: vanguarda masculina e feminina e desfiles performáticos. Gregório Faganello: bordados, peças estruturadas e soltas. Ana Gasparini: Movie, jaquetas bordadas com lantejoulas e cetins. Tereza Gureg: sapatos e bolsas clássicos e modernos. José Augusto Bicalho. Luiz de Freitas Calças de vinil, muitas estrelas na estampa no desfile do grupo Moda-Rio Yuruá, Veluma e Betty Lago em desfile de Beth Brício Da Groovy, de Sônia Gallota, vestidos longos vestem Betty Lago e Claudia Tavares. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: BAUDOT, François. Moda do Século. São Paulo, Cosac & Naify, 2000. BRAGA, João, e PRADO, Luís André do. História da Moda no Brasil: das influências às autorreferências. São Paulo: Pyxis Editorial, 2011. CALLAN, Georgina O´Hara. Enciclopédia da Moda, de 1840 a década de 90. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. CALDEIRA, Jorge, e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Editora Schwarcz, 1997. CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010. RODRIGUES, Iesa. O Rio que virou moda. Rio de Janeiro: Memória Brasil, 1994. Prof. Flávio Bragança
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