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Capítulo | | 0 behayiorismo: uma pÍoposÍa de eÍudo do compoilamenÍo Carlos Renalo lavier Cançado Paulo Ouera Soares Sfugio Dias Cirino Nos Estados unidos do final do século XrX, dois pontos de üsta s(: mostravam fortes na psicologia: o funcionalismo de williamJames (y' t'apítulo 7) e o estruturalismo de Edward ritchener (gf capítulo 5). As Principais universidades de psicologia dos Estados Unidos nessa época eram(.iornell e Harvard, onde ensinavani, respectivamente, Titchener e Jpmes. Apesar de as propostas de ambos serem conceitualmente diferentes, elas se irproximavam em um aspecto: consideravam a conscihüìn como o objeto de t:studo da psicologia. Nesse período, os estudos de psicologia nos Estados unidos se conso- lidavam cadavez mais.Jerrans MARK Ber.ownq e \{ïniamJames pubücaram cliversos artigos importantes. E os avanços não se restringiram apenas a Publicações. Em lBBB,James McKeen cattell, da univenidade da peniilvania. tornou-se o primeiro professor a lecionar lìrrmalmente a disciplina de psicologia t:m território estadunidense. Em 1892, l'oi criada a American Psychological Association (APA) e dois anos mais tarde, foi fundado o Pgclulngiral Rnizw, um dos principais periódicos sobre llsicologia do mundo, que continua sendo publicado até os .lias atuais. Um dos estudiosos mais desta- <:ados da época era Eoweno Les 'fHonmoxn, da Escola Funcionalista de Columbia (e;f capítulo 7), um dos lt9 primeiros psicólogos a ter sua formação inteira realizada nos Estados Unidos. Ele foi um dos pioneiros na reahzaçáo de experimentos controlados com descriÉo detalhada das atiüdades dos animais sem se deter na introspecção como abordagem. Por meio desses experimentos, Thorndike formuÌa a "Lei do Efeito". Tal proposi$o afirma que das várias respostas emitidas para a mesma situação, aquelas que forem concomitantes ou acompanhadas por satisfação para o animal irão, mantidas as mesmas condições, se tornar mais firmemente conectadas a esta situação, dessa forma, quando essa ocorrer novamente, [as respostas] terão mais chance de ocorrer novamente; aquelas que são concomitantes ou acompanhadas por desconforto para o animal irão, mantidas as mesmas condições, ter as suas conexões com esta situação enÊaquecida, dessa forma, quando ela ocorrer novamente, [as respostqs] terão menos chances de ocorrer novamente ffhorndike, l9Il 244). os estudos de Thorndikeforam de grande influênciapara os pensadores dapsicologia, principalmente os estadunidenses, na área de educação. segundo o autor, "assim como a ciência e a agricultura dependem da química e da botânica, a educação depende da psicologia e da filosofia" (Thorndike, I 910: 6). Dessa forma, a psicologia buscaria auxiliar os processos educacionais atuando em quatro tópicos principais: objetivos, materiais, meios e métodos. Para investigar tais tópicos, seriam propostas duas linhas de trabalho: descobrir e implementar maneiras de se mensurar as funções intelectuais; e estudar diversas etnias, ambos os sexos, idadg diferenças indiüduais e oütros elementos que facilitassem a compreensão do indiúduo. Apesar de fazer uso de experimentos controlados e de trabalhar com dados empíricos, Thorndike foi criticado, posteriormente, por utilizar termos ainda mentalistas como "satisfação" e "desconforto,' em suas explicações. Tais explicações, contudo, eram cada vez menos aceitas por um determinado grupo de autores que buscavam alternativas aos modelos mentalistas e introspeccionistas na psicologia. Essa busca crescente culminou no surgimento de uma nova maneira de se pensar e se trabalhar a psicologia: O BEHAVTORISMO. tm 0 "maniÍeÍo hharioÍhÍa'.G os pdmórdios de uma ciência do compodamenlo O que precisamos fazer é começar a trabalhar na psicologia fazendo do comportaÍnento, e não da consciência, o ponto objetivo do nosso ataque. Watson.l9l3 A frase acima, proferida pelo psicólogo estadunidenseJorw Broaous WnrsoNI em seu manifesto de 1913, 'A psicologia como o behaviorista a vê" (Psyclwlngy as tlu bchatin*tuizws dt), exemplifica a forma t:omo esse autorpensa apsicologia. O interesse de Watson era o estudo do comportamento. Ele prop& que a psicologra seja uma ciência t:mpírica e que leve a generalizações amplas sobre o comportâmento huma- no, mantendo-se a uniformidade do procedimento experimental, para que os experimentos dos psicólogos possam, assim como os dos fisicos e químicos,-ser replicados em qualquer laboratórioJ Os experimentos desenvolúdos nos tradicionais laboratórios de psicologia tinham como função detectarprocessos e conteúdos mentais que estivessem envolvidos na percepSq na memória etc., e não verificar o modo como o ser humano responde a situações em um ambiente complexo. Para Watson, conceitos como imaginaSo, julgamento e raciocínio não deveriam ser tomados como objetos de estudo pela ciência da psicologia. Da'mesma forma, tais conceitosjá vinham servindo de base explicativa por cientistas das tradicionais abondagens de psicologia até então. Aprimeirafase do trabalho deWatson é ma"rcadaporum grande interesse na psicologia animal. Defendendo o uso de sujeitos animais no estudo do comportamento, ele enfatrzawa as vantagens de sua ufiliz2Se em detrimento do uso de sujeitos humanos. O trabalho com animú visa responder a perguntas ftipoteses) que poderiam ser cENERÂLzADÂs ao comportaJÍrento humano. Neste aspecto, apsicologia animal (y'capítulo 6)se torna o modelo para os estudos do comportamento. Porém, preocupado em dar ao behaviorismo um valor Itl prático, que ultrapassÍuise as barreiras dos laboratórios acadêmicos, Watson estende seus estudos aos sujeitos humanos, apresentando no liwo A psbntngin dn pontn fu aistn dz wn belaúnrista,talvez o mais importante de sua carreira, sua proposta de psicologia como uma ciência natural independente. Mais tarde, na década de 1920, o interesse do autor muda para o estudo de crianças. Watson propôs que, ao nascer, a criança conta com apenas três reações básicas: amor, raiva e medo.[Por meio dessas reações, o ambiente seria responsável pela formação dos hábitos. Segundo o autor, as pessoas, ao entrarem em contato com o ambiente que as cerca - tanto o ambiente interno (músculos, glândulas etc.) quanto o externo (os objetos do mundo exterior) -, aprendem a responder aos estímulos particulares do mesmo. Q;rando exposta à mesma situação novamente, a pessoa realiza as mesmas ações de forma mais rapida e com a necessidade de menos movimentos diz-se que a pessoa formou um hábito para lidar.com essa situaçãoy(Watson, 1924: 200). Em Os cuidadns psitológìcos com a nimçt,'de 1928 - um liwo de estrondoso sucesso --, Watson apresentava um sistema p ara a ciação de filhos baseado no comportarnentalismo. Ele aconselha os pú a incentivarem os filhos desde cedo a superarem as pequenas dificuldades do ambiente sem a ajuda de adultos. De acordo com o método de criação apresentado por Watson, os pais deveriam dispensar aos filhos apenas poucas demonstrações de afeto, no sentido de controlar o comportamento da criança. Essa postura, segundo Skinner (1959), levou a que Watson se arrependesse pubÌicamente do liwo, pois "ele alertava os pais sobre a demonstração incondicional de afeto". Durante 71sqlìzaçío de suas pesquisas com bebês, envolveu-se com sua assistente, Rosalie Ralmer, o que causou um grande escândalo, pois Wátson, cÍÌsado, teve que s'e divorciar de sua esposa. Pela grande repercussão do caso, foi afastado daJohns Hopkins University, onde então lecionava. ; Watson destacou-se também na ârea de publicidade. Após seu afastamento da universidade, foi contratado por uma grande empresa de propaganda, e seus estudos na área de predição e controÌe do comportamento foram bem recebidos no mundo dos negócios. Para ele, o trabalho da propaganda era simplesmente atingir o medo, a raiva ou o amor e influencia4 dessa forma, uma necessidade psicológica. Valendo-se disso, o autoriniciou os processos de pesquisa na área da pubücidade, afirmando que a melhor maneira de alcançar um comprador é conhecê-lo, e a única maneira de fazer isso é pesquisando. Watson torna-se, mais tarde, üce-presidente da empresa quc () contratou, trabalhando na área até sua aposentadoria. rt2 Mesmo dedicando a maior parte de seu tempo ao estudo da propagan- da, watson não deixou de escrever sobre psicologra. Em seu liwo de 1924, khaimisnn,oautorcontextualizae defuie o behaüorismo não como um sistema de psicologia, mzìs como uma aproximação metodológica aos problemas da mesma. watson considerava o comportamento como um czìmpo de estudo muito novo, e gue concepções como "mente" e t'consciência" ainda não haüam sido aboüdas de outros c:tmpos do saber, como a fiIosofia, por exemplo. Além disso, apresenta conceitos como ,.estímulo,, e ,.resposta,,, mostrando como umareqpostapode sercondicionada a um estímulo específico, que tipos de reqposta podemos apresenta! e dedica algumas páginas p arauat:,r dos reflexos condicionados, estudados por Ivan P Pavlóv (y'capítulo l0), que foi um dos maiores influenciadores de seu trabalho ? partir de 1916. Em 1957, foi homenageado pela AssociaSo Americana de psicologia (APA) como um dos autores mais importantes da história da psicologia moderna. No ano seguinte Watson Íàlece, aos 80 anos. Uma abordagem Íuncional do comporlamenlo: o conceiÍo de operanle Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por suzr vez, são modificados pelas conseqüências de suas ações. Skinner, 1957: l5 A presente citação, reúada do üwo O comportamentn unbal, de Bur_nrrus Fhnnrruc Sxn.lnBR, faz referência a um ponto central no sistema de pensarnento proposto por esse autor: o comportamento operante. Até o início da década de 1930, em parte da psicologia estadunidense, a ênfase explicativa dada ao comportamento dos organismos ora era feita com base na concepção *sntrlista da psicologia - ou seja, fazendo-se referência àquilo que estaria ocorrendo em sua mente -, ora u 'lizando-se a noção de reflexos, esta última proposta por Pavlov e apropriada pela psicologia rt3 behaúorista de watson. Da mesma forma, a ki do Efeito elaborada por Thorndike inflúanacompreensão dos atos do indiúduo, embora talproposta teórica tenha sido criticada por watson por referir-se a sentimentos e estados mentais quando da orplicação do comportamento. -. o contexto acadêmico da época foi marcado por Ìrma fase conhecida como a "crise da fisica clássica", que alterou a maneira de pensar a ciência em todas as suas formas. o sistema determinista, que atribuía relações estritas entre ÍN causÍìs e os efeitos nos fenômenos naturais, sofria vrárias críticas desde múto antes da cúe. Ernst Mach ( I B3B- t g t 6), fisico austríaco, defendia o abandono das explicações de causalidade mecânica utilizadas pela flsica newtoniana, em favor da adoção de nruçÕes FuNcroNArs entre os fatos. Dessa forma. atribúções mecanicistas de causa e efeito foram gTadativamente perdendo espaço para as descrições funcionais entre fatos. Um exemplo disso é a teoria da relatiúdade geral de Albert F.instein (l 879- I 955), que, em 1915, formula uma teoria da gravitação mais abrangente que a de Newton. hlluencrado por essa concepção funcional de Maú, skinner propõe um sistema no qqal as explicações dadas para o comportamento do organismo em termos de causa e efeito são substituídas por descrições de relações funcionais entre as alterações ambientais e o compbrtamento.- Esse sistema englobava dois tipos de condicionamento: o que chamou tipo s, ou condicionamento reflexo já estudado por pavlov e watrin, e o que chamou ap -R, no qual se torna uma conseqüência contingente a ìüna resposta, o que já haüa sido trabalhado por Thornilike, como vimos acima. os resultados de skinner em suzrs pesquisas sobre o comportâmento reordenavam as considerações feitas sobre esse objeto de estudo até então. o comportamento dos organismos não seria influenciado apenas por alterações ambientais antecedentes, como proposto pela psicologia estímulo- . resposta, baseada no paradigma reflexo. Grande parte do comportamento seria influenciada por suas conseqüências. IJm organismo, ao comportar-se, produz modificações no ambiênie gue, por sua vez, arterama forma'como o indiüduo se comporta. É neste sentido que, na perspectiva skinneriana, pode- se dizer que o organismo produz o meio que o determina. Influenciado por essa It1 Proposto formalmente no ano de 1937, quando Skinner publi,ca o artigo "Dois tipos de reflexo condicionado: uma resposta.a Konorski e Miller", o conceito de opnnalrrs marca a distinSo em face de uma psicologia proponente de teorias estímulo-resposta diretamente ligadas à no@o de causalidade mecanicista. Considerando o significado, dado às ações do organismo pelo operante, sobretudo ao fazer do organismo huma- no, esse conceito proporciona uma ampliação do comportamento como objeto de estudo até então não atingida no âmbito da análise do comportamento reflexo. A nofao de comportamento operante descreve aaso do organisrno sobre o meio do qual emergem ÍÌs conseqüências ultimas de seu comportamento. No entanto, quando se trata de sujeitos humanos, dwe-se considerar uma forma de comportamento operante distintiva, que age indiretamente sobre o meio, ou seja, que age inicialmente sobre outros seres humanos. Denomina-se esse tipo de operante coMpoRTAMENTo vERBAL. O organismo humano, portanto, quando se comportaverbalmente, tem as conseqüências de suas ações proúdas por outros seres humanos, e não imediatamente pelo ambiente fisico que o c.r.u- À medida que o comportamento verbal começa a ser estudado, aproximadamente a partir de 1934, abre-se a possibilidade de uma aniilise funcional dos diversos níveis da ação humana: a h'nguagem, o iensamento, a moral, a alienação, os propósitos, dentre outros. A complexidade característica a esse tipo de cornportâÍnento não justifica uma ntx/a forma de il1ílisg, ou seja, os operantes verbais são analisados em termos de sua relação com o ambiente, sobretudo sua rela$o com o ambiente humano, social. Desde a proposta watsoniana, que relacionava a linguagem a complexas cadeias de respondentes, os psicólogos behavioristas vêm tentando abordar o fenômeno lingiiístico, cada qual baseando-se em concepções eqpecíficas do que seria o comportaÍnento e, portaÍrto, a linguagem e outros fenômenos relacionados (.o*o o pensrìmento). Ressalta-se que, para Skinner, a linguagem é um comportamento operante e, portânto,'é selecionada e mantida pelo contato do organismo com contingências de reforçamento específicas. It5 rrura'rc a oecada de ly/u e início dos anos lgg0, skinner esboça mais claramente seu interesse nas influências biorógicas que atuzim sobreb comportzìmento. A obra oigan das e$écizs,de charlesDàrwin (y'capítulo 6), é'' Ìrtiliz.d2 por ele para traçar um paralelo entre os princípios da seleção natural , e o comportamento dos organismos. skinner amplia, assim, a üsão de Maêh sobre as relações funcionais entre fatos tomando como modelo de causaridade a proposta darwiniana de seleção por conseqüênciai. o fenômeno d"..1;;t; natural, desenvolüdo por Darwin para a e*picação da evolu$o das espécies, aplica-se também i apálise do comportamento do indiúduã, bem como ao estudo do processo de evolução das cultúras Assim como características genéticas levam a mutações fisiológicasque podem ser selecionadas conforme suz* conseqüências, isto é, se.gundoproporcionem maior adaptação do organismo a determinado ambiente, os comportamentos são selecionados pelo processo de R-EFORçAMENTO, ou seja, são determinados pelas conseqüências que.forem contingentes às respostas dadas pelo organismo. Segundo Skinneq o comportamentohumaná é selecionado não apenas para atender a necessidades de sobreúvência imediàta - sendo esta apenas um adaptarasituações.j".:l'i:ffiï::ii::::'iï;::i:#:,ï:iï::depararnos ao longo da üda exigiriam qrr. ,rorro comportamento também esteja em corìstante mutação, fazendo com que cada pessoa, entrando em contato com coNTINcÊNcres específicas, se torne única, comportando_se de forma distinta das outras pessoas. Duas pessoas, mesmo que possuarn idêntico dote genético, não teriam a mesma história de relação com o ambiente, simplesmente pelo fato de ocuparem diferentes no EspAço. Skinner define, dessa forma, três níveis de atuação das contingências: o filogenético, o ontogenético e o cultural. O comportamento humano é fruto da ação integrada e inseparável destes três níveis. O primeiro refere-se à seleção de comportamentos característicos da espécie ao longo do processo evolutivo da mesma. locais o segundo diz respeito à história de reforçamento, ou seja, é rerativo aos colportamentos selecionados ao rongo da vida de uih indiúduq considerando_ rtó se a interação deste com seu a'mbiente. o terceiro, o nível cultural, é relativo aos comportamentos selecionados pela interação do organismo humano com seu'ambiente social específico, caracte nzadopor determinadas práticas sociais (skinner, l98l). Algo de extrema importância a ser ressaltado é que a susceptibiüdade do organismo às conseqüências do comportamento - ou seja, a capacidade de ser influenciaCo pelas conseqüências de suas ações -, é uma caracteútica que foi selecionada f logeneticamente. Segundo Skinner, a humanidade deu um grande passo em termos sociais quando a musculatura vocal passou a ficar sob controle operante, isto é, quando as emissões vocais passaram a ser inflqenciadas por suas conseqüências. A emergência do comportamento verbal teria permitido que a cooperação entre os seres humanos fosse mais bem-sucedida. Da mesma forma, as pessoas passaram a aprender a partir daquilo que outros haüam aprendido, por exemplo, seguindo REcR.{s socialmente estabelecidas e conselhos dados por outrerrì- O alfabeto e a escrita desempenham um ' papel preponderante nesse aspecto, uÌna vez que possibilitam a disseminação de determinados avanços obtidos por uma comunidade humana por diversos locais e, sobretudo, ao longo do tempo. . Para o behaüorismo de Skinneq comportar-se verbalmente, por sua vez, permite outro passo importante, que é o processo de evolução cultural. Uma maneira diferente de resolver determinado problema, como, por exemplo, cultivar grãos, desenvolver um novo método de navegação ou mesmo escrever um'poema, é selecionada por suas conseqüências: o cultivo de determinado tipo de grãos, um melhor barco e um poema escrito. Tais processos surgiriam em níveii individuú e poderiam ser passados a outros feres humanos. Conribúrão parz- 4 evolução da cuÌtura aqueles desenvolvimentos de determinacio grupo que se mostrarem úteis na solução de quesrôrs socIAIS. A análise do comportamento, denominação dada à forma de ciência proposta por Skinner, considera o comportamento dos organismos como sendo fruto desses três níveis de atuação das contingências gu€, , pbr sua vez, sáo indissociáveis. Os seres humanos são parte de uma espécie e possuem uma relação única com seu ambiente, que é social e também histórica. Filogeneticamente t87 sena selecionado um organismo da upécit humana enquanto a ontogenia e a cultura selecionariam, respectivamente, vma pessla e vm eu. Os conceitos de "pessoa" e "eu" não descrevem o indiúduo como portador ou possuidor de uma personalidade, enquanto conceito explicativo ou estrutura determinante de seus comportamentos. IJm organismo, uma pessoa ou um eu são denominações que descrevem os comportamentos do organismo procurando fazer referência, respectivamente, às contingências filogenéticas, ontogenéticas ou culturais nas quais a explicação deve ser buscada. ÂspecÍos ÍilosóÍicol da análise do comporÍamenÍo O behaüorismo, segundo Skinner, não é a ciência do comportamento humano, mas sua filosofia. Diferentemente do behaüorismo watsoniano, o BEHAVroRrsMo RADrcer rejeita o critério de consenso público - isto é, consenso entre dois ou mais observadores acerca de um fenômeno - como central na definição de um objeto de estudo. Da mesma forma, não ignora a capacidade de auto-observação, mas questiota a natureza daquilo que é observado, em suma, daquilo que é conhecido. Segundo Skinner, a introspecção proposta pelas tradicionais escolas de pensamento psicológico enfatiza apenas o interno, o mental. Ao contrário, o behaüorismo metodológico, rejeitando o estudo dos eventos mentais - pois não haveria sobre eles consenso entre observadores -, enfaúa a aíiilise dos eventos externos determinantes do comportamento. O behaviorismo radical estabeleceria um equilíbrio, na medida em que admite a cApAcTDADE DE AUTO-OBSERVAÇÃo e que foca também os determinantes ambientais do comportamento. Aqueles comportamentos emitidos de maneira inobservável não são tomados como especiais apenas porque ocorrem . no interior do organismo. observáveis,oseventosprivados,fr iffi"rï'.::ï:iffi i:ï,*'ffi:ï; interação de um organismo com seu ambiente. o fato de ocorrerem no interior Itt Renata e Alessandro Highlight Renata e Alessandro Highlight do organismo não lhes atribú uma natureza especial (seja uma natureza não fisica, seja uma natureza explicativa de comportamentos públicos). Como ressaltado por Skinner, o que observamos é nosso próprio organismo, nosso comportamento. A proposta behaüorista radical parte do estudo do comportamento tomando-se como objeto o próprio comportzÌmento, isto é, sem buscar referências explicativas de outra natlJÍeza, sejam elas mentais ou frsiológicas. As conseqüências da aplicação dos princípios da anáIise do comporra- mento aos assuntos humanos aproximaram Skinner de reflexões morais e filosóficas. O critério de cientificidade adotado pelo behavioúmo radical passa a ser o de utilidade do conhecimento produzido. Dessa maneira, proposições aceÍca do comportamento humano seriam relevantes na medida em que se mostrassem úteis na solução de problemas enfrentados pela comunidade humana. Nas obras do final de sua carreira, Skinner enfatiza a discussão de aspectos filosóficos de sua posição. Pent u-Êu ot UBERDADE E DA DICJ,IDADE, de I 97 1, e Sobre o b ehmtinri.sma,de I 974, são exemplos de liwos que buscam esclarecer dúüdas sobre as questões filosóficas apresentadas pelo behaüorista. Em relação ao primeiro, o autoi elabora uma discussão sobre os avanços do estudo do comportamento humano, desde a época da Grécia Antiga, e faz uma reflexão comportamental sobre temas como dignidade, liberdade e responsabilidade, aproximando seu ponto de üsta de temas cotidianos. De acordo com sua üsão, a liberdade sena "uma qwstÌio fu conünghrcins fu ,tforçq 9 nõo d" serúimmtos que as continghtcias guam" (Skinner, 1977:34). Em Sobre o belwinri.vno, tÍata de elucidar a.s princrpais dúúdas e erros teóricos oriundos da má interpretação de suas idéias, mostrando as interpretações behavioútas radicais sobre diversos temas, em oposição a cxplicações mentalistas acerca desses temas. Contingências especiais de reforçamento Proporcionaram a evolução dessa forma específica de conhecimento, assim como de vários tipos de conhecimentos existentes sobre o comportarnento hurnano. Deve-se procurar cntender o behaüoripmo, bem como gualquer outra forma de saber, como um processo que evolúu em um meio histórico-cultural específico e que está sujeito a ser selecionado pela cultura, na medida em que se mostre útil para a compreensão dos seres humanos. 1t9 Dofohmdos da aúlhe do conpqlamenlo no Brasil o surgimento dos primeiros cursos de psicologia no Brasil, nos anos 1950, aponta para a necessidade de atualização exigida por parte de profrssionais deinstituições de ensino, sobretudo de ensino superioq o quelwou os docentes desses novos cursos a enmr em contâto com tendências recentes do pensamento psicológico, bem como a büscar, com outrosprofrssionais da área, seja em contexto brasileiro ou internacional, apoio para o ensino e pÍÌra o desenrrolvimento da psicologia em âmbito nacional. Assim, no início da década de 1960, mais precisamente no primeiro semestre de 1961, a convite do direpor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Ietras da USB professor Paulo Sawaya, chega ao Brasil, como professor visitante, o psicólogo estadunidense Fhno SnnaOlqs lfuu,m Dar-se ia, nesse contexto, o primeiro contato efetivo de profissionais e estudantes em uma instituição de ensino brasileira com a análise do comportamento. Antes de realizar sua primeira üagem ao Brasil, Keller trabalhava como professor na Universidade de Columbia, nos EUA Suas pesquisas, bem como sua atuação profissionalrcolaboraramPara o estahlecimento epaÍa a divulgação da anâise do comportamento. Inicialmentg as contingencias de ensino estabelecidas por Keller- duas disciplinas optativas - atraíram alguns poucos alunos e taÍnffim professores. Dentfe esses destacam-se Carolina Martuscelli Bori, Rodolpho lvzi, ambos docentes daUSB e MariaAmétiaMatos, nessaépocaestudante de graduaSo .do curso de tlsicologia. As aulas tèóricas e os exercícios púticos, esses últiÌnos realizados num laboratório recém-coúttt iao por Keller e ROdolpho Azzi, procuravam instrúr bs alunos aceÍca das bases conceituais'da análise comportamental para que, em curso posterior, fossem tratados autores como Pavlov, Watson e Skinner. Em 1962, Keller retorna aos EUA. Seus alunos da Universidade de São Paulo estabeleceriam novas contingências a partir daquelas anteriormente t90 propostas, direcionadas ao ensino e à pesquisa em solo brasileiro. Novos projetos de pesquisa e propostas de ensino baseados nos preceitos e metodologia comportarnentais começaram a ser elaborados nesse período. A Íalta de uma sólidaprepara@o teórica, bem como de materiú necessários ao andamento dos pirojetos propostos foram barreiras dificeis de serem transpostas, mas não impossíveis. Em reta$o a esse aspecto, é múto cara a contribui$o não só | analiss do comportamentq mas àpsicologia como um todo daprofessora Çaror,nn M. Bont. Ao elaborar projetgs para o financiamento de pesquisa junto a órgãos governamentais ligados :ì educaçãor para a construção de materiais para o ensino e também paÍa a. pesquisa em laboratórios, e para o estabelecimento de um acervo lribliográfico consistente, ela dáL subsídios para o estabelecimento desse (:zÌmpo de saber específico, assim como l)ara a psicologia de uma forma geraÍ. Posteriormente, à frente de irnportântes initituições científicas como a CAPES (Coordena@o de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso <la Ciência), Carolina Bori colabora p:ìra a fundação de diversos cursos de gradua$o em psicologira e também cursos de pós-graduação relacionados à ;rnálise do comportamento. Apartir da década de 1970, pzlss:ìm a ser estabelecidos diversos cursos rlc pós-graduação no país, com forte ênfase em análise do comportamento, ;xrr e:remplo, na US! na Universidade de Brasília, na Universidade Rderal rkr Pará, na Universidade Federat de São Carlos e, mais recentemente, na I'UC-SP Analistas do comportamento passarn a se organizar em sociedades cicntíficas e a produzir publicações dirig,td^ tanto à iírea quanto ao público ,'rn geral. Teqnas de pesquisa inicialmente tratados, como esquemas de n:fiorçamèhto e controle âversivo, abrem caminho para estudos acerca rk: toxicologia, bem como a respeito de educação, tema desenvolvido por Skinner em Tccnalngin do ensino. O Snrnue hnsoueuzeoo nn ENsmo (PSI, .l:r sigla original em inglês) idsaìiz2d6 por Keller toma no Brasil uma nova l9l direção, proposta por Carolina M. Bori: A Anrálise de Contingências em Programação de Ensino. Segundo essa visão, deveriam ,.1 alalisados os conhecimentos e habilidades necissários pÍìra o exercício de determinada atividade e o conseqüente planejamento de contingências de ensino que proporcionÍìssem a aquisição dos mesmos. TaI vertente de pesquisa influenciou diversos analistas do comporLamento, bem como profissionais voltados para o ensino de diversas áreas, como a matemática, a química, a engenhariu e u urq,rit turu, em várias capitais do país. Aolongo do tempo, iáreas como o comportamentorrerbal, avarirabilidade comportamental, a equivalência de estímulos, dentre outras, pass:rram a ser estudadas no Brasil. As atividades de ensino e de atuação "líoi"u também crescerain ett6.65 alaristas do comportamento Atuarmente, grande parte dos analistas do comportamento brasileiros reúne-se todo ano nos encontros da ABPMC (Associa@o Brasileira de psicoterapia e Medicina comportamental) e nas reuniões da sPB (sociedade Brasileira de psicologia). Artigos sobre a an:álise do comportamento são pubücados nas mais diversas reüstas científicas do país e profusionais brasileiros vêm colaborando para reüstas internacionais especializadas em análise do comportamento. lndicações eslélicat e bibliográÍicas Draroing lunds litogravura (28,5 x 34 cm) de M. c. Escheq 1948. Raciocinar sobre a relação organismo-ambiente, tomando um desses pontos em separado consiste, de maneira geral, em uma abstração. Essa interação ocorre como num fluxo, e a abstração é feita no sentido de simplificar uma situação, com o intuito de descrevê-la. uma alteração feita Por um organismo em seu ambiente leva a uma modificação ìlessa ação, prìocesso que é contínuo e apenas interrompido com a morte do organismo que se comporta. A litogravura de Escher apresenta duas mãos que se desenham simulta- neamente em uma folha de papel, presa a uma pranchetâ por quatro tachas. O produto da ação de uma das mãos - isto é, o desenho da o,rt a mão -pode vir a repercutir nessa a$,o, uma vez que a mão arterada desenhará aquela que a produziu. É interessante também notar que os desenhos estão, de certa t92 maneirq inacabados. seguindo por este caminhq @er-se-ia perÌsuìr que ess*s duas mãos continuariam a se desenhar iúnitamente o,, q,r., subitamentc paraÍiam, como quando o resultado se mostrasse ideal. Em umaanalogi4 o comportar-se de umoqganismo dá-se infinitamente no curso de uma vida- o comportamento é matéria não acabada, estando sempre trDr ser trabalhada - no sentido de que se modifica, evolui, nessa interaÉo organi$no-arnbiente. o desenho pronto, acabado, coincidiria com a sitna$o na qual o organismo jârãomais se aomportaria, situação esta emque deixaria de ürrcr. Ban1r, I{._ ìÁ (lgw) hp^rdã o bdtoiminu - ciâuü, @rnpsttona.b c arhna.porto Alçgre:Artes ìrí&licas. c.hni4 A c- 0gsJ).qprdrdi4,Ë.^- cúwtúrrãrt4 liaguagdn c cwnição porto Alegrc Âruned. Skinneq, B. 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