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Anos 1990

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HISTÓRIA DA MODA NO BRASIL
ANOS 1990
A partir dos anos 80 e início dos anos 90, a instabilidade econômica do país, a inflação crescente e os diversos planos econômicos sacudiram o universo da moda, deixando empresários, confeccionistas, estilistas e até o mercado editorial num estado de perplexidade e inércia. Empresas faliram, estilistas de moda mudaram de profissão, revistas de moda fizeram inúmeros cortes em seus quadros de empregados e o mercado, ficou, de certa forma, engessado. (SABINO, 2007, p.252)
Em 15 de março de 1990, Fernando Collor de Melo assumiu a Presidência da República e, no dia seguinte, um pacote econômico bloqueou todo o dinheiro nos bancos que ultrapassassem NCZ$ 50 mil (cruzados novos). Os bancos então informavam a poupadores sobre rendimentos dos valores bloqueados. Milhares foram levados à ruína pelo Plano Collor.
No que se refere ao Brasil pode-se afirmar que a moda (nos anos 90) esteve entre dois polos distintos: o das importações (que destruíram indústrias têxteis e confecções em massa, resultado das políticas econômicas neoliberais dos presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso) e o da moda vista pela primeira vez como business, emergindo novos talentos do design de moda que deram a contrapartida na questão dos importados e mostraram suas criações no exterior. (CHATAIGNIER, 2010, p. 165)
A contrapartida econômica positiva da década foi, sem dúvida , a estabilização da moeda. Com efeito, o lançamento do plano Real, em 1994, conseguiu o que parecia impossível: acabar com quase duas décadas de intensa inflação. (CHATAIGNIER, 2010, p.166)
Respectivamente em 1994 e 1996 foram criados dois eventos de moda em São Paulo – encabeçados por Paulo Borges: a Phytoervas Fashion, lançando novos talentos e mostrando a força da turma jovem, ainda não conhecedora das escolas de moda, e a Morumbi Fashion Week, além dos eventos cariocas, como Semana Leslie que mais tarde se tornou Fashion Rio. (CHATAIGNIER, 2010, p. 166)
Propaganda do Morumbi Fashion Brasil em 1997.
Surge um calendário de moda, especificamente as datas para os lançamentos das coleções nacionais –duas vezes por ano – por meio de desfiles para a mídia, compradores nacionais e internacionais e clientes das grifes. (CHATAIGNIER, 2010, p.167)
Houve uma aceleração da tecnologia que acabou beneficiando a indústria têxtil a qual estava muito defasada.
Foi nessa época surgiram a Babilônia Feira Hype (1996) , criada no Rio de Janeiro por Robert Guimarães e Fernando Molinari e o Mercado Mundo Mix (1994), idealizado por Beto Lago e Jair Mercancini em São Paulo e depois percorrendo várias cidades brasileiras, como uma caravana fashion e inovadora. (CHATAIGNIER, 2010, p.169)
O Senai-Cetiqt (1985) foi a instituição que primeiro acolheu um curso técnico para o ensino da criação de moda, antes de se tornar uma faculdade nos anos 2000.
Na década de 1990, surgiram os primeiros cursos de moda em universidades.
Faculdade Santa Marcelina, FASM, (1988); 
Universidade Anhembi Morumbi, UAM, (1990); 
Centro de Educação em Moda, Senac-Moda, (1999).
Em 1995 , nasceu o Curso Superior de Moda da UVA, o primeiro superior de moda do Rio de Janeiro. 
A moda dos anos 1990 buscou não estar submissa aos guias de tendências, pelo contrário acentuou os contrastes a partir da busca de diversidade. A própria ideia de sociedade de consumo foi revista:
“Assim é que, no começo dos anos 1990, observadores assinalam mudanças significativas nas regiões democráticas da abundância em crise: perda do apetite de consumir, desinteresse pelas marcas, maior atenção aos preços, recuo das compras por impulso”. (LIPOVETSKY, 2007, p. 23) 
A ecologia entrou na cena da moda, a partir da Rio 92 houve uma conscientização ainda que um tanto desprovida de informações especializadas. 
Durante a década de 1990, com o desenvolvimento das semanas de moda e o crescimento da indústria editorial, a profissão de produtor de moda evolui para o profissional conhecido como Stylist.
Primeira capa da Gisele Bündchen na Marie Claire, em 1998, ela estava com 18 anos.
Uma tendência na fotografia de moda ficou conhecido como Lesbian-Chic. Expressão que faz referência à atitude aparentemente homossexual adotadas pelas modelos em editoriais. Fotografias que gerassem polêmicas eram muito eficazes, marcas tradicionais como Dior, Gucci, Louis Vuitton, e muitas outras investiram no tema. 
No Brasil, a Du Loren fez uma campanha em 1995 com duas mulheres se beijando, que causou muita polêmica.
A fotografia de moda seguiu um caminho mais desglamourizado e naturalista. 
Kate Moss, com 16 anos, fotografia de Corine Day.
Heroin-chic foi o nome dado ao visual de modelos pálidas, com olhar perdido e cabelos descuidados, em editoriais de moda sugerindo pessoas drogadas. O estilo aparece na Vogue britânica em março de 1993 no trabalho da fotógrafa Corinne Day, precursora deste estilo na revista The Face.
A modelo brasileira Marina Dias na revista Dazed & Confused, janeiro de 1998, fotos de Ranki.
Desde 1997, a modelo Marina Dias, então com cerca de 20 anos de idade, acumulou desfiles para grandes marcas nacionais e internacionais, como Marcelo Sommer, Alexandre Herchcovitch, Versace, Versus, Chanel, Kenzo e Dior. Nos anos 1990 virou ícone da moda nacional. 
Dazed & Confused, janeiro de 1998, fotos de Ranki.
A morte por overdose do fotógrafo Davide Sorrenti e a reprimenda do presidente Bill Clinton em 1997 foram fatores para a mudança desse tipo de foto. Num discurso contundente, Clinton afirmou que não era preciso glamourizar o vício para vender roupas, e acusou a indústria da moda de fazer heroína parecem ''glamourosa, sexy e cool'‘. 
Em 1997, Gisele Bündchen desfila para Alexander McQueen que a chama de “the body” , o elogio impulsiona sua carreira, que logo em seguida faz Dolce & Gabana e Versace. Em 1998, faz a capa da Vogue francesa, e a revista i-D Magazine também a coloca em sua capa, com a chamada “Uma garota chamada Gisele."
Gisele Bündchen desfilando para Alexander McQueen, 1997.
i-D Magazine, dezembro de 1998.
Em 1999 a Vogue America coloca a supermodelo brasileira Gisele Bündchen na capa como "O retorno da modelo sexy", anunciando o início de uma nova era.
Vogue, julho de 1999.
Houve uma mudança de ênfase em relação ao visual dos anos 1980 rumo a um estilo de roupas mais simples e confortável.
Formas amplas em todas a peças: vestidos, blusas, casacos, macacões, bermudas e shorts. 
Na praia, os biquínis favoritos das cariocas eram das grifes Blue Man (David Azulay) e Salinas (Jaqueline de Biasse). Já os maiôs tinham a assinatura chique de Lenny Niemeyer. 
Blue Man, Salinas e Lenny Niemeyer. 
Cintura deslocada para os quadris
Drew Barrymore, 1994.
Blusas segunda-pele
Lingerie aparente
Cores
O preto foi decretado mundialmente como a cor da moda e da elegância; branco, tons derivados do cáqui, marfim, verde musgo, azuis diversos, vermelho, rubi, fúcsia, laranja. 
Tendência à modelos clássicos e um tanto senhoriais, traduzidos em mangas , calças com pregas, tubos soltos no corpo. O conservadorismo colocou em pauta a palavra recentrage, que significa revisão de conceitos tradicionais. (CHATAIGNIER, 2010, p. 168)
Recentrage: Foco de ação, a ser reorientado.
Estratégia de uma empresa que diversificou suas atividades para se concentrar no trabalho que faz melhor para lhe permitir ocupar uma posição dominante. 
Fonte: http://www.larousse.fr/dictionnaires/francais/recentrage/66953 Tradução nossa.
Twin-sets
Minimalismo = Clean
O termo Minimalismo como substantivo define o estilo na moda que aposta numa naturalidade purista e simples como forma de oposição à ostentação maximalista dos anos 1980. O conceito minimalista foi sintetizado na expressão do arquiteto alemão Van der Rohe “Menos é Mais”.
A roupa minimalista é muitas vezes extremamente cara, ao demonstrar refinamento porque não é notada à primeira vista, revelando-se apenas aos olhos dos iniciados.
Mara Mac.
Em 1994 aconteceu em São Paulo um fórum de moda orquestrado pela francesa Marie Ruckie, proprietária e professora do Studio Berçot, renomada escola onde se aprende moda e seu entorno cultural. (...) alguns nomes da moda paulista, como Gloria Cloelho, Reinaldo Lourenço e Lorenzo Merlino, tornaram-se seus discípulos assíduos. (...) Ruckie se tornou uma aficionada do jeito de ser nacional. E conclamava: “Seja você mesmo”, ainda que o mote estivesse ligado ao minimalismo japonês e também à simplicidade. (CHATAIGNIER, 2010, p. 169)
Grunge
Jeans sujo e rasgado. Calças caídas e camisas de flanela listrada.
O último disco do Nirvana começou a ser gravado num estúdio no Rio de Janeiro em 1993.
O jornalismo de moda se concentrou em São Paulo, a partir do início dos anos 90, e o momento, sem grandes ousadias por parte dos estabelecidos, foi perfeito para as novidades sobre o mundo clubber e sua moda, contados por Erika Palomino em sua coluna Noite Ilustrada que teve início em 1992. Seu texto trazia gírias, peculiaridades e referências da nova tribo urbana que procurava se expressar com personalidade e gostava de música e frequentar a noite. (SABINO, 2007, p.252)
Erika Palomino 
A drag queen Marcelona e Johnny Luxo.
Drag queen Marcia Pantera.
Clubber
Gosto por música eletrônica, roupas e cabelos coloridos, assessórios fluorescentes e calças de nylon. O visual misturava quadrinhos japoneses, seriados antigos de TV, cultura sadomasoquista, cultura cyber,.
Vestidos que misturavam chique com pop. Apropriação de elementos infantis, como acessórios de plástico, chuquinha no cabelo, t-shirts com estampa de super-heróis, etc. Mistura de heterossexuais como a cultura gay, de onde surgiu a gíria ‘montar’, ou seja, vestir-se com estilo para as festas, boates e raves. 
Tatuagens e piercing. Óculos escuros. 
Alexandre Herchcovitch
Estilista de moda feminina e masculina nascido em SP. Educado num colégio judaico ortodoxo, desde a adolescência frequentou o circuito alternativo da noite paulistana. Um dos maiores nomes da moda brasileira contemporânea. Herchcovitch formou-se na Faculdade Santa Marcelina em 1993. Começou produzindo camisetas alternativas e roupas para shows de drags-queens. Ainda em 1990 lançou seu logotipo de caveira. O universo do estilista reúne referências que vão da alta-costura ao underground. 
Ronaldo Fraga
Estilista mineiro, nasceu, vive e trabalha em Belo Horizonte. Em 1993, venceu um concurso da faculdade Federal de Minas Gerais que o levou para estudar Londres. De volta ao Brasil, criou sua própria marca de moda feminina e masculina, quando lançou sua marca no extinto Phytoervas Fashion em 1996. É conhecido pela coleções de forte conotação social, que são desenvolvidas com enredo e elementos regionais. 
Primeira coleção: "Eu Amo Coração de Galinha"
Coleção “Álbum de Família”, verão 196/97.
Walter Rodrigues
Nascido em SP, trabalhou para várias marcas, entre ela a Hui Clos. Em 1992, criou sua própria marca, desde então produziu roupas sofisticadas, de influência japonesa. Participou na primeira edição do evento Phytoervas fashion em  1994. 
Márcia Ganem
De Salvador, desde 1998 cria suas peças no ateliê no Pelourinho, faz mágicas com rendas, modela em moulage. Trabalha com fio de poliamida, que apesar ds sintético, possui toque sedoso e natural. Sua técnica, denominada trama de nó, pode incluir pedras brasileiras e é inspirada no instrumento africano chamado xequeré. 
Ocimar Versolato 
Nascido em São Bernardo do Campo, em 1987, mudou-se para Paris, onde cursou estilismo no Studio Berçot, com Marie Rucki. Atuou na equipe de criação de marcas de prestígio como Gianni Versace e Hervé Léger. Foi diretor de criação da maison Lanvin até 1998, quando abriu sua própria maison de alta-costura em Paris. Foi o único estilista brasileiro membro da Chambre Syndicale de La Haute Couture.
Foi o responsável pelo figurino de Sônia Braga no filme Tieta do Agreste (Carlos Diegues) 1996
Tieta do Agreste
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BAUDOT, François. Moda do Século. São Paulo, Cosac & Naify, 2000.
BRAGA, João, e PRADO, Luís André do. História da Moda no Brasil: das influências às autorreferências. São Paulo: Pyxis Editorial, 2011.
CALLAN, Georgina O´Hara. Enciclopédia da Moda, de 1840 a década de 90. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 
CALDEIRA, Jorge, e outros. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Editora Schwarcz, 1997.
CHATAIGNIER, Gilda. História da Moda no Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
HOLZMEISTER, Silvana. O estranho e a moda: a imagem nos anos 1990. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
PALOMINO, Erika. A moda. São Paulo: Publifolha, 2002.
SABINO, Marco. Dicionário da Moda. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007
Prof. Flávio Bragança

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