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Pensamento Ecológico
Vilmar Sidnei Demamam Berna
DISPONIVEL EM: http://www.escritorvilmarberna.com.br/artigos/pensamento-ecologico.html
	A Percepção da Ecologia 
Não basta termos clareza do que precisa ser mudado a fim de conseguirmos uma relação mais harmônica da espécie humana com as outras espécies e o próprio planeta. É preciso sensibilizar e mobilizar a sociedade em direção a esse mundo melhor, por isso, aqueles que se comunicam com o público precisam falar uma linguagem que seja percebida por todos. 
Muitas vezes, de tão conscientes da importância da mensagem que pretendem transmitir, os multiplicadores de opinião não se dão conta que suas palavras, apesar da atenção da platéia, não estão sendo compreendidas como imaginam. Para a maioria, meio ambiente é cuidar das plantas e dos bichos, como se a espécie humana não fizesse parte do planeta, assim, as pessoas nem sempre percebem as questões ambientais como o outro lado da questão social, não se dão conta que as mesmas forças e mecanismos que superexploram o meio ambiente são também as mesmas forças e mecanismos que superexploram o ser humano e produzem a concentração de renda, a miséria, a fome, as guerras. 
Por outro lado, a população, por mais carente que seja, possui consciência ecológica, só que essa percepção é bastante romântica, associando-se mais à proteção das plantas e dos animais e menos à qualidade de vida da espécie humana, como se não fizéssemos parte da natureza. Para a maioria, lutar pelo fim das valas de esgotos e condições insalubres de trabalho nas fábricas não é fazer luta ecológica. 
Os ecologistas, educadores ambientais, jornalistas especializados em meio ambiente, políticos e administradores públicos e privados precisam ganhar as ruas, conquistar o povo, mas antes devem rever sua linguagem e seus conceitos. Se queremos a compreensão e a mobilização da sociedade para os temas ecológicos, devemos adaptar o ecologês às carências da nossa sociedade, partindo dos temas que a sociedade j domina e conhece para os que precisa conhecer a fim de construir uma melhor relação, mais harmônica, menos poluidora com seu meio ambiente e os outros seres vivos do planeta. 
  
Sustentável sim, mas para quem? 
Algumas pessoas podem rir de mim porque eu tentei 
e não consegui, mas com certeza eu rirei muito mais 
porque elas nunca tentaram" - Darcy Ribeiro
O planeta não é um enorme armazém de recursos infinitos, por um lado, e uma enorme lixeira capaz de absorver indefinidamente os nossos restos, por outro. O atual modelo de desenvolvimento tem usado o planeta além de sua capacidade de suporte, e o colapso dos sistemas vivos e os seus sinais já são visíveis por todo o lado, como o aquecimento global, a perda maciça de florestas e biodiversidade, etc. Como um lado diferente da mesma moeda, milhões de nossos semelhantes estão condenados a uma vida de sofrimento, fome e miséria. O que se percebe é que a mesma lógica que superexplora o planeta produz também a miséria e a fome. Não basta defender um desenvolvimento ambientalmente sustentável sem perguntar: sustentável para quem? Para os ricos? É fundamental que além de ambientalmente sustentável, esse novo modelo de desenvolvimento seja também justo na distribuição da renda e qualidade de vida para todos.
Por trás deste modelo insustentável não está a falta de informação ou de conhecimento científico, muito menos a exigência de atender as necessidades básicas da humanidade. Só o que se gasta em armamentos hoje no mundo seria mais do que suficiente para dar casa, comida e uma vida digna a todo ser humano neste planeta. Por trás dessa forma de vida existem valores egoístas, materialistas, mesquinhos onde o que importa é acumular mais e mais poder e lucros crescentes. E pouco adiantará exibir números sobre os impactos negativos e as conseqüências dessa ação humana sobre o planeta, pois, ao contrário de estimular uma revisão de valores, só servirá para tornar os materialistas e egoístas ainda mais afoitos em sua corrida por acumular mais bens e poder antes que os recursos que restam se esgotem ou o meio ambiente se contamine demais. Para esse tipo de gente o mundo se divide entre vencedores por um lado e perdedores por outro, uma espécie de seleção natural da espécie, onde vencem os mais aptos. É mais ou menos como aquele sujeito que, ao ser informado sobre a necessidade de economizar água pois ela pode acabar, trata logo de beber e estocar o máximo que puder antes dos outros.
Seria muito cômodo acreditar que só os donos do poder econômico e político são egoístas, materialistas e hipócritas. Na verdade, cada um de nós que coloca sua idéia de felicidade, sucesso, prestígio ou reconhecimento social no acúmulo de bens e dinheiro reforça esse modelo. Quantas vezes ouvimos pessoas medindo o sucesso e a felicidade de alguém pelo novo carro ou iate, a viagem ao exterior, a construção de uma piscina, o tamanho dos lucros num determinado período, a operação plástica, etc. 
Basta passarmos alguns minutos diante da televisão para ver defeitos humanos que deveríamos estar nos esforçando para combater, como inveja, orgulho, cobiça, avareza, luxúria, gula, preguiça, serem elevados à estatura de virtudes a serem alcançadas. Estas são as bases de uma sociedade materialista, consumista e individualista que gera esgotamento dos recursos naturais e poluição do planeta, por um lado, e injustiça social e concentração de renda, por outro. 
Por trás de nossos problemas ambientais, não estão apenas a ação de poluidores, o desmantelamento dos órgãos públicos de controle ambiental, ou a falta de consciência ambiental, mas também um tipo de atitudes e valores, que julga natural explorar ao meio ambiente e ao nossos semelhantes só para acumular lucros crescentes, só se importante a nível do discurso com as agressões ambientais e problemas sociais que gera. Logo, não basta exigir mudança de comportamento de empresas e governos. Precisamos ser capazes de enfrentar a nós próprios, pois não haverá planeta suficiente capaz de suprir as necessidades de quem acha que a felicidade e o sucesso está na posse de cada vez mais bens materiais. 
Também reforçamos esse modelo insustentável quando aprovamos a idéia de que o mercado será capaz de prover o bem estar e a qualidade de vida para todos e, conseqüentemente, o ideal é um tipo de governo mínimo, que interfira o mínimo possível e, melhor ainda, que esteja ao lado do mercado auxiliando no seu avanço sobre o que é de todos, transformando a água, a biodiversidade, os genes de nosso próprio corpo e dos alimentos, em mercadorias. 
Para a grande maioria dos pobres e miseráveis que sonharam com o mundo de maravilhas e riquezas prometidas pelos donos do poder e do dinheiro nos países chamados desenvolvidos é muito duro descobrir que o sonho é só um sonho, que jamais será realidade, pois seriam precisos uns três Planetas Terra de recursos.
Como última esperança precisamos confiar no forte instinto de sobrevivência de nossa espécie. Antes, só quem sofria eram os que não tinham acesso ao poder e à riqueza. Agora, com a destruição crescente dos sistemas vitais a nível global, os poderosos também começam a ver ameaçados as suas conquistas. Afinal, de que adiantará acumular um tesouro em bens e dinheiro, mas não ter um ar ou uma água limpa para respirar. Cada vez mais as pessoas esto percebendo que, ao contrário do planeta parecer uma laranja que podemos jogar o bagaço fora depois de chupada, o planeta é um barco, onde uns poucos privilegiados podem estar viajando na primeira classe, mas estamos todos juntos no mesmo destino.
Tem gente que acha mais fácil ficar reclamando que ninguém ajuda, mas não se pergunta se está fazendo a sua parte em defesa do Planeta. Para conseguir convencer os outros a modificarem seus hábitos, precisamos modificar os nossos primeiro. Se queremos um planeta preservado, de verdade, não basta apenas lutar contra poluidores e depredadores. É preciso também nos esforçarmos para mudar nossos valores consumistas,hábitos e comportamentos que provocam poluição, atitudes predatórias com os animais, as plantas e o meio ambiente. 
Mas só isso não basta, pois não há coerência em quem ama os animais e as plantas mas explora, humilha, discrimina, odeia seus semelhantes. Por isso, precisamos, além de agirmos corretamente com o meio ambiente, nos esforçarmos para sermos mais fraternos, democráticos, justos e pacíficos com os nossos semelhantes. 
Confúcio disse, há mais de 5 mil anos, que se alguém quisesse mudar o mundo, teria de começar por si próprio, pois mudando a si próprio, sua casa mudaria. Mudando sua casa, a rua mudaria. Mudando a rua, o bairro mudaria. Mudando o bairro, mudaria o município e assim por diante, até mudar o mundo. 
O atual modelo predatório e injusto sobreviverá enquanto nossa idéia de felicidade for baseada na posse de bens materiais e na acumulação de riquezas, enquanto ter for mais importante que ser. Então, se pretendemos que os poderosos do mundo mudem, precisamos também saber se estamos mudando a nós próprios, para não continuarmos a criar poderosos com nossos falsos sonhos e perspectivas de felicidade.
  
Gente Demais ou Crescimento Injusto? 
Ricos e pobres devem fazer a sua parte a fim de evitar o esgotamento do planeta. Não basta só exigir dos pobres controle populacional e maior responsabilidade na ocupação de novas áreas ambientais. É preciso exigir também dos ricos melhor distribuição de renda e um modelo de desenvolvimento menos predatório. O problema é que são os ricos quem fazem as regras, sustentam os organismos financeiros internacionais, dominam os grandes meios de comunicação mundiais. 
Não que o problema do crescimento populacional mundial não seja grave. Em 1.990, 51,5% da população mundial tinha menos de 25 anos, segundo a ONU. Ou seja, somos um planeta com 2,7 bilhões de jovens, todos querendo emprego, melhor qualidade de vida e, naturalmente, filhos. Até quando o planeta conseguirá suportar a demanda? O problema não está só na quantidade de indivíduos, mas na forma como esses indivíduos vêm tratando o planeta. Por exemplo, uma única pessoa vivendo em 20 mil hectares no meio da floresta amazônica, ou no Pantanal, pode causar mais danos com uso do fogo e motoserra, que 2.000 pessoas com consciência ambiental num edifício no centro de São Paulo.
Ainda, segundo a ONU, existem no planeta cerca de 1,1 bilhão de pessoas vivendo em absoluta pobreza, 1 bilhão de analfabetos e cerca de 13,5 milhões de crianças com menos de cinco anos que morrem de fome a cada ano. Dados como esses levaram a Conferência Mundial Sobre População e Desenvolvimento, realizada em setembro de 1994, no Cairo, Egito, a definir um programa para o controle da população mundial nos próximos 20 anos, como se o maior perigo para o planeta fosse a explosão demográfica nos países pobres. Mas e os países ricos? Quando serão obrigados a rever seu modelo predatório e socialmente injusto de desenvolvimento, baseado em lucros crescentes, que coloca um fardo ecológico excessivo sobre países pobres e em desenvolvimento, reduzidos à condição de meros exportadores de matérias primas e em lixeira do ‘primeiro mundo’ desenvolvido? 
  
Crescimento com Limites 
A visão ecológica é relativamente nova. Há pouco menos de três décadas poluição era sinônimo de progresso. Hoje, a opinião pública está mais consciente e crítica. Continua querendo progresso e crescimento, mas já não aceita a falta de responsabilidade ambiental, a poluição, a destruição e desperdício de recursos naturais. Um dos problemas é definir quais os limites do crescimento. Até onde uma comunidade pode usar os recursos naturais e a biodiversidade sem comprometer a sua própria qualidade de vida ou a de seus filhos e netos?
Não há respostas prontas. Percebemos que os limites devem ser colocados caso a caso, em função das características de cada lugar. Isso pressupõe embate de idéias, possível apenas num ambiente democrático, principalmente com uma imprensa livre. Nossa geração tem um papel muito importante na história da humanidade. É a geração da transição entre duas visões distintas de mundo. Não temos todas as respostas, muito menos a solução de todos os problemas, mas já somos capazes de dizer não ao progresso sem limites e dizer sim ao progresso com responsabilidade ambiental, ainda que, às vezes, não saibamos direito que caminhos são os melhores para nos levar a esse novo desafio.
Apesar das diferentes visões de mundo, sempre acreditamos na possibilidade do diálogo, pois, no fundo, parece haver um objetivo comum: viver num mundo melhor, mais preservado, com maior qualidade de vida para todos. Mas não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que, só por que seria o melhor para todos, o sentimento do bem comum é que move os povos e os indivíduos. Pode até ser que a nível da promessa, do discurso, das intenções isso ocorra, mas nem sempre se concretizam em gestos. É preciso estar atento a discursos mentirosos e falsos que usam a linguagem da responsabilidade social e ambiental como biombo para esconder as verdadeiras intenções de lucros crescentes e a qualquer custo.
  
Desenvolvimento Insustentável 
É natural que aqueles que defendem o meio ambiente fiquem satisfeitos ao verem dirigentes de países desenvolvidos, ditos de ‘primeiro’ mundo, levantarem a bandeira ambiental. É como se víssemos reconhecidas nossas lutas. Mas é preciso ver o que há por trás dessa ‘conversão’ à causa ambiental. Claro, que uma parte disso é devido à pressão da opinião pública, cada vez mais consciente dos problemas ambientais, mas não é só isso. É muito conveniente para as lideranças dos países do ‘primeiro’ mundo exigirem dos países de ‘segundo’ e ‘ terceiro’ mundo que cuidem do meio ambiente. E é conveniente por diversos motivos. Passam a imagem de que estão avançados no cuidado ambiental enquanto aumentam seus lucros com a exportação de produtos para despoluição, controle e monitoramento ambiental, usam a questão ambiental como barreira comercial para sobretaxar produtos industrializados do ‘segundo’ e ‘terceiro’ mundo e, ainda lucram ao desviar a atenção da humanidade da base principal do problema: um modelo de desenvolvimento ‘vendido’ como o único possível, baseado na exploração ilimitada de recursos naturais e na super-exploração da mão de obra humana.
O próprio conceito de países de primeiro, segundo e terceiro mundo já revela uma falsa ideologia, quando sugere uma corrida pelo desenvolvimento, onde os melhores chegaram primeiro e cabe aos demais seguir os mesmos passos. Essa visão é irreal pois pressupõe que o planeta e a ciência serão capazes de fornecer matérias primas, absorver resíduos e encontrar soluções para os problemas do crescimento indefinidamente. Esconde o fato de que, na hipótese de todos alcançarem um mesmo padrão de consumo dos países chamados de ‘primeiro’ mundo serão precisos diversos planetas Terra de recursos naturais. 
As conseqüências dessa corrida’ por um tipo de progresso insustentável não vai acabar com o planeta no futuro. Já está fazendo isso no presente. Um exemplo disso está na maciça extinção de espécies e ecossistema, efeito estufa, ‘buraco’ na camada de ozônio, mortes prematuras nas cidades devido às poluições do ar, água, solo, etc. O planeta está acabando em cada um desses lugares, onde este tipo de progresso deixa desertos atrás de si e muita miséria, fome e mortes prematuras.
Aos países pobres ou em desenvolvimento não são oferecidas alternativas de desenvolvimento, muito pelo contrário. A atual corrida só legitima um processo que já os exclui pela impossibilidade de haver recursos naturais para todos no futuro, enquanto acena com uma promessa que não pode ser realizada. 
Concentrar o discurso na crise ambiental é uma boa estratégia para países do primeiro mundo, grandes beneficiários e divulgadores do atual modelo predatório de desenvolvimento. É como se o discurso ambiental fosse uma espécie de cortina de fumaça para despistar a atençãoda opinião pública para a insustentabilidade do modelo, evitando serem acusados como vilões da humanidade.
Neste cenário, está claro que os líderes, do chamado ‘primeiro’ mundo, não são os melhores porta-vozes de um novo modelo de desenvolvimento, que leve em conta não só os problemas ambientais mais também os sócio-econômicos. Neste aspecto, o papel das lideranças governamentais e não-governamentais em países pobres e em desenvolvimento assume uma dimensão desafiadora, para que não se repitam os erros cometidos até aqui.
  
O Planeta Sobreviverá, a Questão É se Sobreviveremos com Ele 
“Não é a terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. 
A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. 
Nada do que fazemos destruirá a natureza. 
Mas podemos facilmente nos destruir.”
- James Lovelok 
Não resta a menor dúvida que nosso estilo de vida sobre o Planeta é insustentável e está avançando sobre os estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atuais e futuras. De acordo com Relatório Planeta Vivo 2002, elaborado pelo WWF, o ser humano usa 20% a mais do que a terra pode repor. 
Além disso, é preciso considerar que este avanço sobre os recursos do Planeta não se dá de maneira igual para todos. Existe um enorme desequilíbrio entre África e Ásia, que usam os recursos do Planeta em torno de 1,4 hectares por pessoa, enquanto na Europa Ocidental este uso chega a 5,0 hectares e a dos norte-americanos, a 9,6 hectares. Os brasileiros usam em média 2,3 hectares.
O grito de alerta já foi dado há algum tempo e, durante a RIO 92, no Rio de Janeiro, quando estabeleceu-se uma espécie de novo pacto social que passou a incluir com real seriedade a componente ambiental. Dez anos depois, os governantes reuniram-se novamente em Johannesburgo, na África do Sul, para avaliar o que foi realmente realizado nos 10 anos e tentarem reverter algumas das tendências negativas e colocar a humanidade no caminho do desenvolvimento sustentável. 
O que está em discussão é um novo modelo de valores e princípios que deverá nortear nossa ação no mundo. A grosso modo existem duas grandes visões em confronto. Uma visão economicista não solidária, que transforma tudo em mercadoria, incluindo a força de trabalho e a inteligência humana e todo o planeta junto, para o fortalecimento e enriquecimento de um pequeno grupo de nações e grandes empresas. Esta é a visão dominante, que nos trouxe até aqui. E outra visão, de uma economia solidária não só com as pessoas, exigindo melhor justiça social e distribuição de riquezas, mas também mais respeito ao Planeta e todas as suas formas de vida. 
Entretanto, não devemos apostar muito no triunfo de uma visão contra a outra, pois os privilegiados de sempre tenderão a fazer como os monarcas do passado: liberar alguns anéis para não perder os dedos. E isso já começou se observamos os discursos dos poderosos que incluem sempre que podem a necessidade de combate à pobreza e a preservação ambiental. Não deixa de ser irônico ver os representantes das superpotências defendendo o fim da pobreza quando são eles os representantes de uma situação de exploração dos estados-nações em desenvolvimento, via juros impagáveis de dívidas externas e apoio a administrações corruptas que contraem tais dívidas para o enriquecimento de uma minoria, além de darem abrigo a mega empresas multinacionais, que se colocam acima das nações, das pessoas e do meio ambiente em suas metas de lucros crescentes. 
Soa falso, diante de exemplos como o dos EUA que sozinho gasta cerca de 1 bilhão de dólares por dia em armamentos ou quando se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto para não reduzir seus enormes índices de poluição para todo o Planeta, mostrando ao mundo que coloca seus interesses econômicos acima dos interesses coletivos de toda a Humanidade. 
Quando pensamos em mudanças, precisamos enfrentar um fato objetivo: de onde vem o poder dos poderosos? Da força das armas e de seus exércitos? Claro que não. Vem do povo. É o povo quem dá força aos poderosos. É o povo quem elege e deselege políticos e é quem compra ou deixa de comprar produtos e serviços que criam ou destróem as mega empresas. Só que o povo não tem a consciência dessa sua força, como um enorme elefante que permanece prisioneiro numa corrente que agora é fraquinha, mas não era quando ele era pequeno e tentava se libertar. 
Será que o povo deseja mesmo uma economia solidária, como se fôssemos uma enorme colméia de abelhas onde cada um faz a sua parte para o bem de todos, ou no fundo no fundo, que vença o melhor e o mais forte? O que está em discussão, é o grau de civilidade que a Humanidade como um todo está disposta a adotar. Precisamos nos olhar diante do espelho para saber se nossas palavras, pensamentos, valores, desejos, não contradizem nossos atos. Como agimos no nosso dia a dia? Quais são os valores e princípios que nos movem em nosso cotidiano? O que sonhamos para os nossos filhos no futuro e que futuro é esse que estamos construindo para nossos filhos e netos? Enfim, qual é a nossa idéia de felicidade, para nós e para os que dependem de nossos atos aqui e agora para ter qualidade de vida no futuro?
Galileu provou que a Terra não era o centro do Universo – e sofreu por pensar diferente. A ecologia veio mostrar que nossa espécie não é a mais importante da Criação, pois dependemos tanto da natureza quanto a mais comum das bactérias. Tão simples assim. Sem planeta, não há espécie humana, justiça social, riqueza, democracia.
Nossa rota sobre o planeta será insustentável, enquanto nossa idéia de felicidade for baseada na posse de bens materiais e na acumulação de riquezas, enquanto ter for mais importante que ser. Então, se pretendemos que os poderosos do mundo mudem, precisamos também saber se estamos mudando a nós próprios, para não continuarmos a criar poderosos com nossos falsos sonhos e perspectivas de felicidade.

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