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1 Como aumentar a produtividade de seus estudos Gabriel Pereira 2 SUMÁRIO 1. A REALIDADE DO CONCURSEIRO. ...........................................03 2. DICAS BÁSICAS DE PREPARAÇÃO. .........................................18 3. TÉCNICAS DE ESTUDO. .............................................................35 4. MÉTODO DE ESTUDO INTEGRADO. .........................................60 5. APRENDENDO A FAZER PROVA. .............................................69 3 1. A REALIDADE DO CONCURSEIRO A carreira pública é o sonho profissional de um número cada vez maior de brasileiros. A quantidade crescente de candidatos e o tamanho do setor de preparação para concurso é uma realidade incontestável. Atualmente, todo mundo conhece alguém que passou num concurso público ou que está se preparando para tal. Contudo, nem sempre foi assim. Se voltarmos uma década ou mais no tempo, o mercado de trabalho brasileiro colocava a carreira pública, geralmente, como uma alternativa para profissionais que não encontravam oportunidades nas empresas privadas. Assim, na hora de planejar a carreira profissional, o concurso público era apenas um “plano B”. As pessoas se capacitavam para construir carreiras na iniciativa privada. Somente quando não encontravam oportunidades ou perdiam o emprego é que elas procuravam o concurso público como alternativa. Lembro-me como se fosse hoje de uma palestra a que assisti em 2003, logo depois que entrei na faculdade de Relações Internacionais em Belo Horizonte. Num evento organizado pela faculdade, colegas egressos do curso foram convidados a contar suas experiências para os alunos calouros. Dentre os palestrantes, havia duas colegas formadas em Relações Internacionais que tinham sido aprovadas no concurso de Analista de Comércio Exterior (ACE) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O cenário da carreira pública descrito por elas era mediano: um bom salário inicial, mas com pouca perspectiva de melhora. Ou seja, no médio e longo prazo, a carreira empresarial parecia mais atraente. 4 A história contada por aquelas colegas que tinham ingressado há pouco tempo no serviço público causou um burburinho tímido entre os alunos calouros. A remuneração revelada era bastante para nós estudantes, mas não chegava a ser um grande atrativo para nosso futuro profissional. Portanto, um cargo público era uma boa opção, mas não estava entre as melhores. Todavia, aquele momento já indicava o início de uma mudança na realidade do mercado de trabalho brasileiro. Que mudança foi essa? Acredito que são dois os principais fatores que explicam a valorização do serviço público como opção de carreira no Brasil e o consequente boom dos concursos públicos: o aumento da remuneração dos cargos públicos e as perspectivas de trabalho dos servidores. No passado, quando o profissional colocava na balança as vantagens e desvantagens da carreira pública, de um lado ele tinha a estabilidade e um ambiente de trabalho menos estressante como pontos positivos e, de outro, o ambiente desmotivador e a falta de perspectiva de progressão na carreira como pontos negativos. Hoje, não só a remuneração, em regra, é superior à da iniciativa privada, como também o serviço público proporciona desafios e perspectivas de trabalho muito semelhantes aos do ambiente empresarial. Aquela imagem de funcionário público preguiçoso, que só carimba documentos, está sendo enterrada no passado. A implantação de técnicas de gestão próprias do mundo empresarial nas instituições públicas e a valorização constante dos servidores fizeram a balança pender fortemente para o serviço público. Assim, menos de uma década depois daquela palestra na faculdade, a remuneração daquele cargo de ACE do Mdic teve seu valor praticamente multiplicado por dois e os servidores que preenchem esses cargos estão envolvidos nas negociações comerciais do Brasil com vários países do mundo. 5 Tais servidores contribuem ativamente para o processo de integração econômica do País e têm possibilidades de ocupar posições-chave na gestão do comércio exterior brasileiro. Esse é só um exemplo da transformação ocorrida recentemente e dos atrativos das carreiras públicas. O mais interessante nesse cenário é que, embora não seja consensual, acredito que o mercado de trabalho na iniciativa privada tenha melhorado sensivelmente nos últimos anos, de uma maneira geral. Porém, certamente a carreira pública melhorou muito mais. Assim, se compararmos cargos medianos do setor público e do setor privado, que tenham atribuições similares, na média o setor público oferecerá ao trabalhador um pacote de vantagens e benefícios bastante superior ao da iniciativa privada. Por que estou divagando sobre as transformações no mercado de trabalho brasileiro? Porque, naturalmente, a valorização dos cargos públicos acirrou a disputa pelas vagas dos concursos e o aumento da competição demanda dos candidatos uma preparação mais consistente. Foi-se o tempo em que as pessoas conseguiam ser aprovadas em alguns concursos estudando apenas nas vésperas. A melhoria da remuneração e das condições de trabalho do setor público tem sido responsável pela atração de muitos talentos e resultou no acirramento da disputa pelos cargos públicos. Hoje alguns cargos públicos se transformaram no sonho profissional de muitas pessoas e a competição por eles acompanha essa transformação. Não são poucos os alunos que escolhem seu curso de faculdade já pensando no concurso para o qual pretende se preparar. Também são muitos os alunos de faculdade que conciliam, nos últimos períodos de seu curso, suas aulas regulares com aulas de cursinhos preparatórios para concurso público. A preparação para concursos está começando cada vez mais cedo. 6 Outro desdobramento dessas transformações no mundo dos concursos foi a proliferação de cursinhos preparatórios para concurso e de materiais específicos para esse público, nos mais variados formatos. Agora existem vários livros de praticamente todas as matérias cobradas em concursos públicos, voltados exclusivamente para esse público-alvo. Na internet, há um amplo leque de materiais oferecidos e de fontes de informação. Logo, a oferta de material para estudo deixou de ser um problema. Talvez a dificuldade agora seja escolher os melhores materiais e evitar o desperdício de tempo com materiais de baixa qualidade. O motivo de todos os argumentos apresentados acima é um só: serviço público hoje em dia é uma excelente escolha profissional e somente as pessoas bem preparadas alcançarão o tão sonhado cargo público. Ninguém mais passa em concurso por pura sorte e não há espaço para quem quer passar estudando só um pouquinho. Aquelas transformações profissionalizaram o processo de seleção dos servidores públicos e, consequentemente, o de preparação dos candidatos. Além de criar o hábito de estudar muito, o grande problema dos candidatos a concurso público, nesse contexto, é encontrar uma fórmula para alcançar a preparação eficaz. Nessa realidade de muita competição e oferta abundante de cursinhos e materiais, muitos alunos ficam perdidos nesse mar de informações e alternativas. Todavia, não há motivo para desânimo. Se você está lendo esse texto, já está no caminho certo. Para se destacar nesse ambiente complexo e alcançar um bom nível de preparação, o grande diferencial dos alunos bem sucedidos é um planejamento sólido para atravessar essa jornada até a aprovação, adotando técnicas de estudo eficientes e com organização capaz de transformar as horas de dedicaçãoaos estudos em aprendizado permanente. 7 A boa notícia é que uma preparação eficaz depende de métodos e técnicas que estão ao alcance de todos os alunos. Esse movimento de profissionalização dos estudos, num certo sentido, democratizou o concurso público. Agora não são apenas os gênios ou os mais inteligentes que são aprovados. Os fatores que fazem a diferença são a dedicação aos estudos, a disciplina de seguir um método com rigor, a persistência de tentar até passar e de fazer mudanças quando não estiver no caminho certo. Eu particularmente gosto da ideia do concurseiro profissional. Existem aquelas pessoas que estão “tentando concurso” como se estivessem fazendo aposta, como se concurso fosse uma Mega Sena. Estudam um pouco e fazem prova uma vez por mês, esperando que estejam com sorte naquela vez. Ao contrário, o concurseiro profissional tem um objetivo claro e traça um planejamento para alcançá-lo. Embora exista a ansiedade de ser aprovado, esse tipo de concurseiro tem consciência que é preciso ter paciência para construir um aprendizado sólido e que sua aprovação é apenas uma questão de tempo. A essa altura já deve ter ficado claro para todos que, embora vários candidatos estudem para os mesmos concursos, o estudo de cada um é bastante diferente dos demais. O que define os mais bem preparados? A qualidade da preparação não está apenas na quantidade de horas que você fica sentado lendo um livro, mas na maximização do aprendizado que você constrói num dia de estudo. Existem vários alunos que lêem e relêem uma matéria sem apreender aquele conteúdo de forma permanente. Esse texto traz técnicas de estudo para que você aumente a produtividade dos seus estudos e não desperdice o tempo dedicado a sua preparação para concursos. Seguindo esse caminho, você rapidamente estará entre a turma de candidatos que realmente brigam pelas vagas. 8 Minha experiência Minha história é parecida com a de vários concurseiros do País. Completei minha graduação de Relações Internacionais em julho de 2007 e fui me aventurar no mercado de trabalho. No início, cheio de dúvidas, me candidatei a vários mestrados e também corri atrás de uma oportunidade em grandes empresas, distribuindo currículos, fazendo contatos e participando de processos seletivos. Logo desisti dos mestrados e vi que queria construir uma carreira na iniciativa privada, quem sabe virar um executivo. Com o insucesso nas seleções e sem encontrar oportunidades, fui trabalhar onde encontrei uma porta aberta: uma pequena empresa familiar de comércio varejista em Petrópolis/RJ. Persisti no meu objetivo, fiz um MBA em Gestão Empresarial e ainda assim não encontrei boas perspectivas de trabalho. Resultado? Depois de um tempo, resolvi estudar para concurso. Embora minha história seja semelhante à de muitos candidatos de concurso público, ela já não é a regra absoluta. Eu certamente poderia ser enquadrado naquele perfil que enxergava a carreira pública como “plano B”, como se a frustração na iniciativa privada fosse um pré-requisito para a opção pela carreira pública. Depois de ter percorrido esse caminho, fico me perguntando por que não decidi estudar para concurso há mais tempo. Em maio de 2009, decidi me preparar para concursos. Depois de uns dois meses sem um norte definido, resolvi focar na área fiscal. Felizmente fui aprovado no concurso de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil de 2009/2010, um cargo que estava muito além de minhas expectativas iniciais. Meu tempo de preparação foi bem menor do que eu esperava: do dia em que decidi estudar para concurso até a data da prova objetiva, foram sete meses de estudo intenso. Se contarmos até a data da última prova, as discursivas, foram 9 oito meses de preparação. Nessa trajetória adotei várias técnicas que aumentaram a produtividade dos meus estudos, me garantindo uma preparação eficaz em pouco tempo. Espero que meu método ajude alguns alunos a alcançarem seus objetivos também. A decisão inicial Se você está lendo esse texto é porque está decidido pela carreira pública. Contudo, essa não é uma decisão simples e é preciso que o candidato esteja atento às implicações dessa escolha. A preparação eficaz para um concurso público exige um grande investimento de tempo e dinheiro. Portanto, a pessoa que decide investir uma parcela de sua vida num desejo de alcançar um futuro profissional seguro e consistente precisa ter muita firmeza de propósito para percorrer a jornada de preparação. Se você não estiver convicto de sua decisão, é provável que os primeiros fracassos sejam golpes duros em sua motivação e podem fazer com que você desista dessa jornada. Lembre-se das palavras do William Douglas: “concurso não se faz para passar, mas até passar.” Logo, recomendo a toda pessoa que deseja se preparar para concursos públicos que reflita profundamente e amadureça essa decisão para que seja uma escolha consciente e consistente. Uma vez tomada a decisão inicial, é preciso ter foco em relação aos objetivos da preparação. Muitas pessoas decidem fazer concurso e querem um cargo público, mas não sabem qual cargo. As opções de carreiras públicas são vastas e cada cargo tem atribuições distintas. Na hora de decidir pela carreira, a maioria das pessoas tenta equilibrar o interesse pelas atividades do trabalho 10 e os benefícios do cargo com a dificuldade de competição no concurso e o esforço necessário para a aprovação. Embora essas considerações sejam muito importantes, acredito que o fator primordial que deve orientar a escolha de cada um é o interesse e a afinidade pelas atividades do futuro cargo. É perfeitamente aceitável que um aluno opte por ingressar num cargo público no qual não tenha muito interesse, para que tenha condições de se preparar para o seu objetivo maior, um cargo que demande uma preparação mais sólida. Contudo, no final das contas, é preciso escolher um cargo que nos dê prazer de trabalhar. Por incrível que pareça, existem várias pessoas que desistem de ótimos cargos públicos porque ficam insatisfeitas com a rotina do trabalho. Diante desse quadro, é muito comum vermos pessoas atirando para todos os lados, concurseiros que fazem qualquer prova que aparece, totalmente sem FOCO. Num mês, a pessoa estuda para a prova do concurso do Tribunal Regional do Trabalho. No mês seguinte, ela se prepara para a prova do Corpo de Bombeiros. Depois, emenda com a prova de fiscal de ICMS de algum estado. Daí, tenta um concurso da área de Tecnologia da Informação na Petrobrás. Se não dá certo, estuda mais um ou dois meses para a prova da Polícia Federal... Não adianta tentar todos os concursos e não conseguir se preparar adequadamente para nenhum. Às vezes o edital para o cargo que queremos não sai e temos que fazer adaptações na nossa trajetória. Isso é normal. Contudo, não podemos guiar nossa preparação de acordo com a publicação de editais, sem um norte definido. Os editais desses concursos de áreas tão distintas cobram conteúdos muito diferentes, de tal forma que o aproveitamento das matérias estudadas para uma prova é muito baixo na preparação para o outro concurso. Assim, o candidato estuda várias disciplinas, mas não 11 consegue aprofundar seu estudo em nenhuma, não alcançando uma preparação sólida para nenhum concurso específico. Ao mesmo tempo, entendo que é muito angustiante depositar todas as suas fichas em só um cargo determinado e focar sua preparação em um só concurso, pois geralmente não sabemos sequer quando haverá uma nova seleção para aquele cargo. Portanto, acredito que a melhor recomendaçãoé optar por uma área e se preparar para aquele tipo de prova. E quais seriam essas áreas? Acho que podemos definir algumas áreas que incluem algumas carreiras semelhantes que, geralmente, cobram disciplinas similares em seus concursos. Quem se prepara para a área fiscal, pode fazer os concursos de AFRFB, ATRFB, fiscos estaduais (ICMS) e municipais (ISS), podendo tentar até o AFT. Já aqueles que almejam as carreiras dos Tribunais, podem focar as seleções dos TRTs, TREs, TJs e até MPU, por exemplo. Se o desejo é a área policial, foque nos concursos da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, podendo expandir para as polícias estaduais. Outra área importante é a de gestão pública, que envolve os concursos do MPOG (APO e EPPGG), do TCU, da CGU e até do Banco Central. Há também as carreiras bancárias, que incluem os concursos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, basicamente. Podemos ainda definir uma área administrativa, que inclui os cargos de Analista Administrativo das Agências Reguladoras e de outros órgãos. Isso sem falar nas carreiras de magistratura e da diplomacia. Bom, as opções são muitas e é claro que esses caminhos podem ser adaptados e até combinados em algumas situações. Nada impede que uma pessoa que se prepara para a área fiscal tente um concurso da área de gestão, como o cargo de Analista de Planejamento e Orçamento (APO) do MPOG, por exemplo. Em alguns casos, existe uma grande coincidência de disciplinas, o 12 que favorece o candidato. Não existem limites fixos, o que não dá é para o aluno querer se preparar para todo e qualquer concurso. Aquele que tem foco sempre levará vantagem. Como disse o filósofo, “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”. Decidida a área para a qual o candidato deseja se preparar, como organizar a preparação? Minha recomendação é para que seus estudos sejam planejados em cima do seu concurso preferido, principalmente se esse for o certame mais abrangente. Por exemplo, se a opção é pela área fiscal, paute seus estudos no edital do concurso de AFRFB, que exige um grande número de matérias. Assim, você poderá guiar seus estudos para um concurso específico, mas terá uma ótima base para fazer adaptações necessárias quando aparecer uma boa oportunidade de um concurso similar, como uma prova para um fisco estadual, por exemplo. Existem alguns concursos que cobram conteúdos muito específicos e fica difícil conciliar uma preparação focada nesses cargos com outras seleções. Se uma pessoa deseja se preparar para a carreira diplomática, não há muitas outras oportunidades com conteúdos semelhantes ao do IRBr, talvez só o concurso da Abin. Esse também é o caso de alguns cargos específicos das Agências Reguladoras, que demandam conhecimentos específicos de aviação civil (ANAC) ou de engenharia elétrica (ANEEL). Ou seja, existem concursos tipicamente sui generis, que não se encaixam em nenhuma área. Esses geralmente exigem uma preparação muito específica voltada só para eles e, portanto, fogem da regra aqui proposta. Ok, tomada a decisão inicial, o candidato poderá começar a planejar seus estudos. Essa é a hora de recolher o máximo de informações possível sobre o cargo(s) almejado(s), escolher a bibliografia a ser utilizada e começar os estudos pra valer, de forma organizada e seguindo um método. 13 Mudanças de rota Mesmo os candidatos que conseguem estabelecer um foco para seus estudos, mirando sua preparação em um cargo específico, muitas vezes enfrentam decisões difíceis sobre possíveis revisões de rotas. Por exemplo, digamos que um aluno esteja se preparando para o cargo de Agente da Polícia Federal e é publicado o edital de Oficial de Inteligência da Abin, sendo que não há previsão para publicação do edital da PF. Se o candidato também tem interesse nesse cargo, ele deve pausar os estudos para o cargo de Agente da PF e dedicar dois ou três meses para se preparar para a prova da Abin? Essa é uma decisão difícil, individual. São muitos os fatores que devem ser considerados. Muitas vezes essas mudanças de rota são bem-vindas, até porque a proximidade do concurso aumenta a motivação do candidato. Contudo, faço a seguinte recomendação: o primeiro objetivo na preparação deve ser construir uma base sólida das matérias básicas. Acredito que o aluno deve ter paciência e determinar um tempo suficiente no início dentro do qual ele não se desviará de sua rota, até construir uma base consistente que lhe permita alçar novos voos. Logo, para tomar sua decisão, o candidato deve levar em consideração seu estágio de preparação e seus objetivos globais. De nada adianta focar num concurso para o qual você não está preparado e que vai atrapalhar sua preparação para seu objetivo maior. Trabalhar e estudar ou só estudar? 14 Muitas pessoas, quando começam a pensar em se preparar para uma carreira pública, ficam se questionando se é possível conciliar uma rotina desgastante de trabalho com o estudo para concurso ou se a única maneira eficaz é se dedicar exclusivamente aos estudos. Essa é sempre uma questão muito difícil envolvida na decisão de preparação para a carreira pública. Sinceramente, penso que não existem muitas regras a esse respeito. Acredito que a oportunidade de se dedicar exclusivamente aos estudos para concurso é um grande privilégio. Em minha opinião, as pessoas que conseguem o apoio familiar nessa jornada de preparação têm uma grande vantagem. Poder contar com seus familiares para ajudar a bancar seus investimentos nos estudos é uma grande tranquilidade que ajuda no equilíbrio emocional. Ao mesmo tempo, há que se ter cuidado para que essa situação não gere um comodismo no concurseiro, senão a pessoa pode virar um eterno estudante. É interessante observar que não são apenas aquelas pessoas que têm pais ou familiares com boas condições financeiras que podem alcançar o privilégio de dedicar alguns anos de sua vida exclusivamente aos estudos. Conheci muitas pessoas que atingiram essa situação por outros meios. Algumas pessoas passam um tempo trabalhando e juntando dinheiro para depois poderem parar de trabalhar e ficar só estudando. Outras pessoas conseguem planejar suas carreiras em conjunto com seus cônjuges: durante um tempo, um trabalha e o outro só estuda; depois que o outro passa no concurso, o primeiro larga o trabalho e passa a estudar para conquistar o cargo que deseja. Se você não está entre as pessoas que têm o privilégio de se dedicar exclusivamente aos estudos, não fique desmotivado. Existem inúmeros casos de pessoas que conciliam o trabalho com os estudos e conseguem a 15 aprovação almejada. É perfeitamente possível encarar esse desafio. Certamente você terá menos horas para se dedicar aos estudos, mas ainda assim é possível aproveitar as horas disponíveis para estudar com o máximo de produtividade. Nesses casos, as estratégias serão ainda mais importantes. Uma ótima opção é deixar para tirar férias nos meses que antecedem a prova do concurso, para conseguir estudar mais na reta final. Se não existe regra nessa área, há, pelo menos, uma orientação básica. Organize sua vida para conseguir as melhores condições de preparação possível. Se não dá pra fazer mais nada para melhorar essas condições, encare as adversidades como fonte de motivação para fazer suas horas de estudo renderem o máximo. Percebemos com bastante frequência que pessoas que fazem grandes sacrifícios para poder estudar têm um comprometimento maior com o estudo. Essas pessoas têm uma grande aliada: a necessidade! É impressionante como várias pessoas que enfrentam grandesadversidades conseguem transformar as pedras no caminho em um trampolim para o sucesso. Concluindo, a experiência dos concursos públicos nos mostra que essas condições de estudo, inclusive a necessidade de trabalhar, influem na trajetória dos candidatos, mas não são determinantes. Digo mais, às vezes as adversidades influem até de maneira positiva. Logo, se você está convicto de seu objetivo, faça tudo o que estiver a seu alcance para aumentar suas condições de alcançá-lo. A partir daí, o resto é motivação... Cursinho presencial, telepresencial, virtual ou estudar por conta própria? 16 Outra dúvida muito frequente entre as pessoas que decidem estudar para concurso está relacionada à necessidade de frequentar um cursinho preparatório para concurso público. Mesmo aquelas que decidem se matricular num cursinho têm dúvidas sobre o melhor tipo de aula, se presencial, telepresencial ou até virtual. Como disse no início, existe um movimento de profissionalização do mercado de preparação para concurso e as fontes de preparação são variadas. Para o candidato, a alternativa é diversificar as fontes de aprendizado e filtrar os melhores materiais e professores. Se você está focado num bom concurso nacional, dificilmente você conseguirá uma preparação eficaz através de uma única fonte de estudo. É preciso somar aulas de bons professores com livros de qualidade e materiais complementares. Mais do que o meio (ou a mídia) de transmissão do conhecimento, o que vale é o conteúdo transmitido e a qualidade do aprendizado. Portanto, busque pelos melhores professores e pelos melhores materiais, independentemente de onde eles estejam e da forma pela qual você terá acesso a eles. Agora, em relação à necessidade de procurar um cursinho preparatório, acredito que esse tipo de aula é indicado, sobretudo, para o aluno iniciante. Quando a pessoa está começando a se preparar para concurso, vendo matérias que nunca havia estudado antes, é importante ter um professor para explicar os assuntos e que possa esclarecer as dúvidas. Dessa maneira, se você não tem nenhuma familiaridade com os conteúdos das matérias, provavelmente sentirá mais segurança tendo um professor para te auxiliar pessoalmente. Se já tiver algum domínio das matérias, pode se adaptar melhor às aulas telepresenciais, que têm a vantagem de não serem interrompidas por dúvidas de outros alunos e por isso rendem mais. 17 Assim, quanto mais avançado o estágio de preparação do aluno, maior a autonomia para conduzir seus estudos. É bastante comum vermos candidatos com vários meses ou anos de experiência que estudam exclusivamente em casa através de bons livros. Portanto, não existe uma regra única que vale para todos. O ideal é escolher alternativas que te deem mais segurança e complementar as aulas com materiais de qualidade, pois o conteúdo das aulas precisa ser aprofundado e fixado em casa. 18 2. DICAS BÁSICAS DE PREPARAÇÃO Em minha experiência de concurseiro, tive muita sorte de encontrar um bom material sobre técnicas de estudo logo nos primeiros meses de minha preparação: as dicas do Alexandre Meirelles (recomendo a leitura). O método e o planejamento do estudo são tão importantes que, quando vejo a forma que eu estudava antes de conhecer essas técnicas, tenho a sensação de que os meus primeiros dois meses de estudo foram inúteis, totalmente desperdiçados. As técnicas de preparação são importantíssimas para organizar o tempo dedicado aos estudos e melhorar o aprendizado. Contudo, o importante não é seguir à risca o que um ou outro professor diz, o objetivo é aprender os princípios contidos nas técnicas e aplicá-los a seu estudo, fazendo adaptações ao seu estilo de aprendizagem e à sua necessidade. Portanto, repassarei nesse capítulo algumas técnicas de estudo básicas que aprendi com outros professores em minha jornada e farei alguns acréscimos baseados em minha experiência pessoal. Depois apresentarei mais detalhadamente, no terceiro capítulo, um novo método de estudo baseado em minha experiência. Essa é a lógica do processo: adote o máximo de técnicas à sua rotina de estudos. Quando perceber que elas não estão maximizando seu rendimento e sua aprendizagem, faça adaptações que melhorem seu desempenho. Ambiente de estudo 19 O local em que você estuda é muito importante para uma aprendizagem adequada. Encontre um lugar tranquilo, silencioso e no qual você não seja incomodado e interrompido com frequência. Evite ao máximo atender ligações e interromper suas sessões de estudo. Outra recomendação muito legal do Alexandre Meirelles é o suporte para a leitura. Quando você lê um livro com ele deitado na mesa, você tem que fazer um esforço com sua coluna e seu pescoço que gera desconforto. Portanto, adquira um suporte para leitura que deixe o livro num ângulo que lhe permita lê-lo numa postura ereta, que será menos cansativa. Hoje em dia você encontra alguns modelos em papelarias especializadas. No meu caso, eu mesmo fiz um suporte com caixas de papelão e fita adesiva. Recortei o papelão no formato que eu queria com estilete e passei fita adesiva para colar. Veja abaixo o resultado nas fotos do meu suporte: 20 Profissão: Concurseiro! Independente se você trabalha e estuda ou só estuda, é importante que seu estudo seja uma ocupação séria, um verdadeiro trabalho. Não é porque você não tem um patrão naquele momento que você não precisa ser responsável com suas atribuições e atividades. Aliás, agora que o resultado do seu trabalho (estudo) vai trazer grandes resultados para você, e não para seu chefe, é que você deve estar mais comprometido com suas atividades diárias. O desdobramento mais importante de encarar o estudo como uma verdadeira profissão é a dedicação a ele nas horas determinadas. Quando você está no trabalho, você pode fazer um intervalo de duas horas para ir ao shopping fazer umas comprinhas? Se vai passar, excepcionalmente, um amistoso da seleção brasileira na TV à tarde, você deixa de trabalhar para assistir ao jogo? E parar de trabalhar para atender telefonemas pessoais de meia hora, é normal? Se você não faz isso no trabalho, por que vai fazer essas coisas quando estiver estudando? 21 É importante também conversar com as pessoas a sua volta para que elas entendam sua necessidade de não ser interrompido desnecessariamente durante seu tempo de estudo. Digo isso porque, nos primeiros meses que comecei a estudar, as pessoas na minha casa achavam que eu era o office boy da família e pediam para eu fazer um monte de coisas que sempre atrapalhavam meus estudos. Registro das horas de estudo e horas líquidas Primeiramente, é muito importante registrar suas horas de estudo para você ter controle do seu tempo dedicado aos estudos. Estudar significa sentar na cadeira e ficar horas lendo a matéria, resolvendo exercícios, fazendo resumos e revisando o conteúdo. Portanto, conseguir ficar longos períodos estudando é uma questão de hábito. No início você não conseguirá estudar mais do que duas horas num dia. Com o tempo, você acostuma seu corpo e sua mente para essa tarefa e aumentará esse período para várias horas por dia. Contudo, você só consegue controlar sua evolução se registrar suas horas de estudo. Existe uma máxima da Administração de Empresas que vale para essa situação: “Quem não mede, não controla. Quem não controla, não gerencia”. Se você não gerenciar seu tempo de estudo, estará sempre em dúvida em relação a sua dedicação aos estudos e nunca terá a tranquilidade do dever cumprido. Sem o devido controle, pode acontecer de vocêchegar ao final da semana com a sensação de que estudou o suficiente, quando não estudou o que havia planejado, ou achando que não estudou como devia, quando na verdade estudou todas as horas programadas. Nada melhor para um bom 22 concurseiro do que chegar no final da semana e fazer o somatório das horas estudadas e confirmar que estudou fielmente a quantidade de horas que havia planejado. A dúvida e a incerteza são grandes inimigas da serenidade de um candidato a concurso público. Além de ser importantíssima para o gerenciamento de seus estudos, a anotação de seu tempo de estudo serve como estímulo para que você consiga estudar o tempo que você planejou. Quando você vê nas anotações que não estudou o tempo devido durante um ou dois dias, você sente a necessidade de não deixar que isso se repita e acaba tirando o atraso nos próximos dias. Portanto, essa é uma dica que te dará mais controle e mais gana de persistir em seu objetivo. Contudo, é preciso fazer esse registro das horas com critério. Primeiramente, como diz o Alexandre Meirelles, o que conta são as horas líquidas de estudo, e não o tempo bruto que você ficou estudando. Isso quer dizer que, em seus registros, você só deve considerar o tempo em que ficou efetivamente estudando, sentadinho na cadeira! Aquelas pausas feitas para ir ao banheiro, atender a um telefonema, fazer um lanche ou tomar banho devem ser deduzidas do tempo de estudo, para que o registro seja fiel à realidade. Logo, se você começou estudar às 19h e parou às 22h, isso não quer dizer que você estudou necessariamente 3h. É preciso abater todos os intervalos em que você não estava efetivamente estudando, senão o registro perde o sentido e você estará se enganando. Portanto, registre suas horas de estudo e considere sempre as horas líquidas. Ao estabelecer metas diárias e semanais de estudo, você deve pensar sempre em horas líquidas de estudo. 23 Outra questão é que, em minha opinião, você deve separar as horas de cursinho das horas de estudo em casa. No meu tempo de estudo, eu registrava minhas horas desconsiderando as três horas diárias do cursinho que eu frequentava, pois vale aquela máxima do concurseiro: no cursinho você entende, em casa você aprende! No final da semana, quando eu fechava minha contabilidade das horas de estudo, eu até anotava as horas totais de cursinho para ter a sensação de que eu estava estudando muito, mas minha meta de estudo estava focada nas horas de estudo em casa, independente do cursinho. Não estude mais que duas horas consecutivas Uma dica de estudo fundamental para maximizar o seu aprendizado é dividir seu estudo em sessões de, no máximo, duas horas de estudo. Ou seja, programe-se para fazer intervalos de, no mínimo, quinze minutos a cada duas horas. Nós estamos acostumados a assistir programas de televisão em que há um intervalo a cada dez minutos. Nas escolas e faculdades, as aulas têm duração de cinquenta minutos ou, no máximo, uma hora e quarenta. Portanto, é natural que tenhamos dificuldade de manter a concentração durante um período muito prolongado. Será preciso se esforçar para conseguir ficar concentrado durante duas horas. Esse é um esforço necessário. Todavia, não prolongue seu estudo além disso, pois seu rendimento cairá drasticamente e sua concentração na matéria ficará comprometida. Desse modo, programe-se para fazer intervalos de pelo menos 15 minutos a cada duas horas de estudo. 24 Estude matérias alternadas Além de estudar fazendo sessões de no máximo duas horas, uma dica importante para aumentar a produtividade do tempo de estudo é alternar as matérias. Alguns alunos elegem uma única matéria para estudar durante um dia todo ou até uma semana toda. Fazem isso no intuito de estudar aquela disciplina até o fim ou então para acabar um capítulo inteiro do livro, por exemplo. Esse tipo de estudo era válido na época da escola, quando o estudante tinha uma prova de uma única matéria na sexta-feira e passava a semana toda estudando para aquela avaliação. Na prova de concurso, que exige o aprendizado permanente de várias disciplinas distintas, o tipo de estudo tem que ser diferente. Estudar uma mesma matéria durante várias horas prejudica o rendimento do aluno, porque não conseguimos manter um alto nível de concentração e interesse estudando um mesmo assunto durante tanto tempo. Portanto, entendo que o método mais eficaz é intercalar as matérias em sessões de estudo. Por exemplo, você estuda uma matéria durante 2 horas e depois faz um intervalo de 15 minutos. Na volta, estuda outra matéria por mais 1h30’, digamos. Depois, um intervalo maior para lanchar, de 30’, e outra sessão de 2 horas. Esse método de estudo permite que você mantenha sua concentração e interesse por mais tempo, aumentado a fixação do aprendizado e a qualidade de seu estudo. Além disso, é ainda mais eficiente fazer um rodízio de matérias bem diferentes. Ou seja, alterne matérias que exigem tipos de inteligência e atividades distintas. Procure intercalar sessões de estudo de disciplinas de Direito, que exigem concentração na leitura e memorização, com outras disciplinas que exigem um raciocínio lógico-matemático, como Economia ou Contabilidade, por exemplo. Esse tipo de rodízio vai fazer com que você esteja 25 sempre estudando matérias distintas, que exigem esforço de partes diferentes do seu cérebro, o que facilita a manutenção de um elevado nível de atenção e concentração e diminui seu cansaço. Isso ajuda a aumentar a produtividade de seus estudos e melhora seu aprendizado. Material de estudo Uma questão importante que todo candidato a concurso público tem de enfrentar no início de seus estudos é a decisão sobre os melhores materiais de estudo a serem adquiridos. Primeiramente, a orientação número 1 nesse tema é fugir das apostilas de banca, que reúnem várias matérias de um determinado concurso numa só apostila. No início, como os alunos não estão familiarizados com o mundo dos concursos e não conhecem os melhores materiais, muitos acabam recorrendo a essa alternativa mais fácil que parece resolver todos os problemas num só material. Eu fui um desses. Comprei logo duas apostilas, uma para “Técnico do Bacen” e outra para “Analista do Bacen”. Logo nas primeiras leituras percebi um monte de erros no material e contradições entre respostas dos exercícios e o texto da teoria. Resultado: nunca mais abri aquelas apostilas. Acho que até pode ser que existam exceções, mas eu não indico esse tipo de material para ninguém. Outra recomendação importante: prefira sempre materiais específicos para concurso. Já foi a época em que, para se preparar para uma prova de concurso, o candidato tinha que recorrer a vários livros acadêmicos que abordavam partes de cada matéria. Hoje em dia a riqueza de material voltado para o mercado de concurso é muito grande e existem bons materiais 26 praticamente para todas as matérias cobradas em seleções públicas. Os materiais voltados para concurso são melhores porque abordam a matéria que cai nas provas, sem fazer você perder tempo com divagações teóricas que não são objeto de questões de concurso. Além disso, esses materiais costumam indicar a forma como as bancas cobram as matérias nas provas e geralmente trazem exercícios de provas anteriores que ajudam a consolidar o aprendizado. Mais uma dica importante: evite fazer “economia porca” na hora de adquirir seus materiais e oriente suas escolhas pela qualidade do material. O material de estudo é ferramenta fundamental para o aprendizado e devemos fazer bons investimentosem livros e apostilas que garantam nossa aprovação. Imagine que, ao escolher materiais mais baratos para economizar um dinheiro, você pode estar colocando em risco o salário dos seus sonhos. Mesmo que você consiga economizar muito em material, esse valor não é nada quando comparado ao rendimento que você terá no serviço público. Portanto, desculpem-me pela expressão, mas comprar material de estudo só pelo preço é uma economia porca. Eu mesmo, apesar se ter comprado vários livros caros e ter gastado muito com material, carrego até hoje a raiva de ter comprado aquelas apostilas do Bacen por R$ 49,00! Comprar materiais de má qualidade é um péssimo investimento. “E então, é preciso comprar um livro para cada matéria?” A princípio, eu diria que não. Ao analisar qual material adquirir, acredito que, quanto mais importante a matéria para seu concurso, maior o investimento de tempo e dinheiro que você deve fazer. Eu particularmente gosto muito de um bom livro de referência nas matérias mais importantes, o que dá mais segurança para o candidato. Em matérias como Direito Administrativo e Constitucional, que são fundamentais, encarei as centenas de páginas dos livros de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino sem medo. Esse material me deu uma base excelente e colaborou muito para meus resultados. 27 Desse modo, acredito que é importante ter um bom material de referência para cada matéria, mas não precisa ser necessariamente um livro. As aulas do Ponto dos Concursos muitas vezes substituem um livro, pois são abrangentes e feitas por ótimos professores, ao mesmo tempo em que são mais objetivas por serem direcionadas a um concurso específico, na maioria das vezes. Na realidade, atualmente precisamos aprimorar nossos estudos constantemente e muitas vezes usamos mais de um material para cada disciplina. Frequentemente usamos um bom livro de uma matéria e na reta final adotamos apostilas para complementar o estudo. Em outras situações, é importante complementar os estudos mais teóricos com materiais de questões comentadas. Portanto, a diversidade de material é grande e o importante é considerar o peso das matérias no concurso e seu estágio de estudo para adquirir os materiais mais adequados. No início, é sempre melhor optar por materiais mais abrangentes e detalhados, para formar uma base consistente. Depois, quando faltar menos tempo para a prova, é mais importante focar em materiais mais objetivos para revisão e concentrar esforços na resolução de questões de provas anteriores. Além disso, é preciso levar em conta que em algumas situações simplesmente não dá para construir um aprendizado tão completo e abrangente quanto gostaríamos. Em meu concurso de AFRFB 2009/2010, o edital trouxe como novidade a cobrança de 15 questões de Direito Comercial, Direito Penal e Direito Civil; ou seja, cinco questões de cada. Eram tão poucos pontos em jogo nessas matérias que não valia a pena investir muito tempo nesse conteúdo. Assim, estudei só por umas apostilas rasteiras de um cursinho e mais o Bizu do Ponto dos Concursos. Foi o suficiente para eu conseguir um pouco mais que o mínimo e garantir minha aprovação, o que foi uma ótima relação custo-benefício. 28 Em relação aos autores indicados para ter um bom material de referência, seja livro ou apostila, é difícil indicar apenas alguns nomes, pois hoje em dia existem várias opções. Em algumas matérias, não há duvidas – os livros de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino são indiscutíveis em Direito Administrativo e Constitucional. Em outras, recomendo que os alunos conversem entre si, para saber os autores preferidos dos demais concurseiros, e que pesquisem referências em fóruns na internet, por exemplo. Vendendo nosso peixe, não posso deixar de dizer que os materiais dos professores do Ponto dos Concursos são sempre ótimas opções! É claro que isso é uma propaganda. Mas também é uma garantia atestada por anos de experiência e sucesso no mercado. Concluindo, o aluno deve escolher os materiais sempre com foco na qualidade. Leve em consideração o peso da disciplina no concurso e seu estágio de preparação na hora de escolher. No início é melhor optar por materiais mais abrangentes e depois refinar os estudos com outros mais objetivos e focados em exercícios. Quanto mais importante a matéria, maior o investimento de tempo e dinheiro nos materiais. Por fim, escolha materiais que lhe dê confiança e segurança e avalie a qualidade de seu aprendizado através de seu desempenho nos exercícios e nas próprias provas. Se você não vê que seus estudos estão progredindo, talvez seja a hora de substituir o material de estudo. Exercícios: nunca faça sem ter o gabarito Resolver questões de provas anteriores é um excelente exercício para fixar a matéria, avaliar sua assimilação do conteúdo e aprender como a banca costuma cobrar os assuntos nas provas. As bancas organizadoras de concursos públicos elaboram centenas de provas que cobram disciplinas 29 semelhantes. Assim, fica difícil criar questões sempre diferentes, que abordem pontos novos da matéria. Portanto, o candidato que consegue incluir a resolução de muitos exercícios em sua preparação, principalmente nos últimos meses ou semanas antes da prova, ganha familiaridade com o tipo de pergunta da banca e pode até encontrar uma questão já cobrada em provas anteriores no dia do seu concurso, o que não é raro. Desse modo, não resta dúvidas sobre a eficiência da resolução de questões de provas anteriores na preparação para concurso. Contudo, uma dica importante que ouvi do Alexandre Meirelles (se não me engano) é sobre o risco de fazer exercícios sem gabarito. O momento de resolução de exercícios é quando você fixa a matéria e cria seu arsenal de respostas para usar na hora da prova. Se você resolve questões sem ter o gabarito, você corre o risco de errar questões pensando que está certo e repetir esses erros na hora da prova. Além disso, com frequência nos deparamos com questões dúbias, em que não há uma resposta inequívoca. Nesses casos, se você não tiver o gabarito, você vai acabar carregando essas dúvidas durante toda sua jornada e ficará inseguro sobre aquele conteúdo. Portanto, jamais resolva exercícios sem ter o gabarito. Não odiar a matéria Todo concurseiro que se dedica de verdade aos estudos, que passa muitos meses estudando várias matérias, acaba tendo uma preferência por uma ou por outra matéria. Certamente essas paixões variam muito: alguns adoram Direito Constitucional ou Direito Administrativo, outros podem passar horas resolvendo exercícios de Raciocínio Lógico. Há, ainda, os que se apaixonam por Direito Previdenciário, que foi o meu caso. Por mais incrível que possa parecer, existem também alunos que se encantam pelas regrinhas de 30 pontuação do Português ou pelos cálculos da Estatística! Essa diversidade é algo sensacional, uma verdadeira dádiva da vida. Essas preferências se desenvolvem por várias razões: a empatia por um professor, que explica a matéria de um jeito estimulante; às vezes, é um interesse trazido desde os primeiros anos de escola, como a paixão pela matemática; e outras vezes o aluno tem afinidade com certo conteúdo decorrente de outras vivências, como sua experiência profissional. Como todos os concurseiros mais experientes já sabem, é muito mais gostoso estudar essas disciplinas que gostamos. Podemos passar horas lendo aquelas matérias com as quais temos mais afinidade. Nessa hora, o estudo rende, as horas correm e o aprendizado flui muito mais facilmente. Não é à toa que aprendemos mais facilmente as matérias que gostamos.Nossa inteligência emocional está conectada à nossa inteligência cognitiva, ou seja, nossa capacidade de compreensão e assimilação de um conteúdo é influenciada por nossas sensações e emoções envolvidas no momento do aprendizado. Quando detestamos matemática por causa daquele professor carrasco que tivemos no primário, esse sentimento negativo nos deixa desinteressados na matéria e nosso cérebro se fecha para o aprendizado. Daí, quanto maior a dificuldade de compreensão, menos interesse e mais ódio pela matéria. Esse é um círculo vicioso do qual precisamos sair. O candidato a concurso público que está completamente voltado para seu objetivo não pode se dar ao luxo de odiar uma matéria que será cobrada em seu concurso. Isso vai tornar seus estudos um verdadeiro martírio. Alternativamente, quando gostamos da matéria, temos prazer em estudá-la e sua assimilação se torna muito mais fácil, pois a alegria de adquirir 31 novos conhecimentos deixa nosso cérebro aberto para o aprendizado. Daí, a facilidade de compreensão aumenta o interesse pela disciplina e estimula ainda mais o aprendizado. Assim, damos um grande passo quando saímos daquele círculo vicioso e entramos nesse círculo virtuoso. E como fazer para gostar de uma matéria que eu já odeio? Uma estratégia muito importante para superar resistências a certas matérias e desenvolver o interesse por elas é a aproximação dos conteúdos da disciplina à sua realidade cotidiana. Quando você consegue construir pontes entre a teoria da matéria e a sua vida, certamente você terá mais interesse pela disciplina e começará a se abrir para aquele conhecimento. Portanto, busque fazer links entre os conteúdos estudados e sua experiência pessoal ou profissional. Vejamos o exemplo do Direito Previdenciário. A Previdência Social é um sistema para o qual você contribui quando está trabalhando e gozando de boas condições de saúde, para que tenha direito a benefícios quando as adversidades da vida impedirem que você tenha condições de prover a própria subsistência. O Direito Previdenciário surge como o conjunto de regras que organiza e disciplina esse sistema. E por que o Direito Previdenciário é importante em nossas vidas? Quando somos jovens, vivendo a plenitude de nossas capacidades, não costumamos dar a devida atenção à necessidade de nos preparar para quando não tivermos condições de trabalhar. Muitas pessoas não planejam sua velhice e acabam dependendo da família para ser sustentado. Não raro essas pessoas acabam se tornando um peso para os parentes. Essa é uma situação terrível pela qual ninguém quer passar. Quando paramos para pensar nessas questões, certamente surge o desejo de planejar um futuro tranquilo, 32 independente financeiramente e no qual possamos enfrentar as adversidades da vida com dignidade. Essa é uma função essencial da Previdência Social: prover a subsistência de seus beneficiários quando eles enfrentam riscos sociais que os impedem de trabalhar. Contudo, todos sabemos que nossa Previdência Social garante só o básico. Assim, podemos expandir esse raciocínio para desenvolvermos hábitos mais consistentes para conquistar a verdadeira independência financeira, que nos permita viver uma velhice ainda cheia de realizações e prazeres. Quem sabe possamos pensar numa plano de previdência privada para reforçar nossos rendimentos no futuro? E então, não é gostoso nos imaginar como aqueles velhinhos que curtem a terceira idade viajando e ainda aproveitando coisas boas da vida? O Direito Previdenciário nos alerta sobre a necessidade de pensarmos nessas questões. Vou dar outro exemplo com Contabilidade. Antes de começar a estudar para o concurso de AFRFB, meu único contato com Contabilidade havia sido através de uma matéria do curso de pós-graduação chamada “Contabilidade para Executivos”. Quando fiz essa matéria, achei a coisa mais chata do mundo, com regrinhas bobas que não faziam o menor sentido. Por que o Ativo tem sinal negativo se é uma coisa boa? Quando comecei a estudar Contabilidade para concurso, logo percebi que eu tinha que mudar minha relação com a matéria. Primeiramente, ignorei tudo o que eu já havia visto sobre aquilo e parti do zero, como se eu fosse uma página em branco. Isso foi importante para diminuir minha resistência à matéria. Depois, comecei a tentar aproximar o conteúdo da disciplina da minha realidade. Fiz isso pensando na aplicação da teoria às minhas finanças pessoais. Logo percebi que a Contabilidade é uma ferramenta muito útil para o controle das finanças de um modo geral. 33 Primeiramente, é importante saber se você gasta mais do que recebe no mês. A Contabilidade faz esse controle na “Demonstração do Resultado do Exercício”. Se você consegue gastar menos do que recebe, dá para poupar e fazer investimentos, construindo um patrimônio. Do contrário, aparecem as dívidas. Para controlar essa situação patrimonial é que existe o “Balanço Patrimonial”. Quando você passa no concurso e começa a ganhar bem, o gerente do banco logo te oferece vários cartões de crédito com vários benefícios. Daí, quando você começa a usar, percebe que o dia que você faz compras não coincide com o dia do efetivo pagamento, pois o cartão só vence no mês seguinte. Essa não coincidência de datas vai atrapalhar seu controle do dinheiro e será preciso pensar numa “Demonstração dos Fluxos de Caixa” para controlar essa situação. Fazendo essa aplicação do conhecimento teórico na sua vida e aproximando o conteúdo de sua realidade, ainda que só na imaginação, fica tudo mais fácil e seu cérebro se abre para o aprendizado. É preciso deixar de lado as resistências que trazemos de experiências passadas e ser criativo para se aproximar das matérias e desenvolver sentimentos positivos em relação a elas. Os benefícios desse exercício são enormes! A última dica é a mais óbvia: se depois de todos esses argumentos você ainda não se convenceu que Direito Previdenciário ou Contabilidade são matérias interessantíssimas, estude bastante nem que seja só para passar no concurso. Em algumas das matérias que normalmente as pessoas têm mais dificuldade, como Contabilidade ou Raciocínio Lógico, eu adorava imaginar que meu estudo daquela matéria faria a diferença para a minha aprovação. Quando os candidatos em geral têm resistência a uma matéria e dificuldade de aprendê-la, é aí que você tem as maiores oportunidades de fazer a diferença e dar um passo na frente dos demais. Desse modo, quando os demais disserem “eu não consigo aprender essa matéria”, pense “eu adoro essa matéria, é ela 34 que vai garantir minha vaga”! Ainda que você não seja apaixonado pela matéria, você acaba desenvolvendo sentimentos positivos e facilitando seu aprendizado. 3. TÉCNICAS DE ESTUDO Pedro Highlight 35 Calendário Dinâmico de Estudos Quando comecei a me preparar para concurso, eu não tinha nenhuma técnica ou método para gerenciar meus estudos. Inicialmente, meu jeito de estudar era escolher uma disciplina aleatória e estudar aquela matéria o máximo possível, para “matar” um assunto e poder passar para o próximo. Acontece que, estudando dessa maneira, à medida que as horas iam passando, meu interesse por aquela matéria ia diminuindo, acompanhado pelo meu nível de concentração. É muito cansativo e maçante pensar no mesmo assunto durante várias horas, às vezes por vários dias. Se nos deparamos com alguma dificuldade de assimilação nesse processo, aí a tarefa torna-se ainda mais difícil: nosso cérebro se fecha para qualquer aprendizado e ficamos desestimulados a prosseguir. Diante desse cenário, percebique meus estudos não estavam rendendo bem nas primeiras semanas e eu não estava aprendendo praticamente nada. Foi quando decidi procurar dicas de estudo. Já que existiam tantas pessoas focadas em concurso público, devia ter alguém que sabia um jeito melhor ou mais fácil de estudar, pois da forma como eu estava fazendo ficaria complicado seguir em frente. Foi aí que descobri o Alexandre Meirelles. Quando vi ele dizendo que o estudo para concurso era diferente do estudo de colégio ou de faculdade, logo me interessei. Como minha experiência maior de estudo havia sido no colégio e na faculdade, eu estava encarando o novo desafio dos concursos como eu havia feito naquela época. No entanto, notei que eu estudava a matéria toda sobre um assunto, mas logo depois já tinha esquecido tudo, assim como acontecia depois da data da prova, no tempo de colégio. Para melhorar minha rotina de estudo, a ideia inicial foi a técnica de Ciclos de Estudo do Alexandre Meirelles. Montei um primeiro ciclo com as 36 matérias principais do concurso de AFRFB, intercalando as várias disciplinas, e comecei a estudá-las. Esse foi o primeiro ciclo de 29 horas que eu montei: A adoção dessa técnica já foi um enorme ganho, pois no método de Ciclos as sessões de estudo de cada matéria são mais curtas, então num mesmo dia eu estudava duas ou três disciplinas diferentes. Assim, minha motivação era maior, pois eu tinha a sensação de que estava aprendendo mais. Naturalmente, a ideia era ir acrescentando outras matérias à medida que eu avançasse nessas mais importantes. Entretanto, depois de duas semanas seguindo esse método, logo vi que eu tinha uma grande dificuldade. Como eu ainda estava na fase inicial de preparação, meu maior desafio era criar o hábito de estudar, pois meu corpo ainda não estava acostumado a ficar longos períodos estudando. Nesse 37 estágio, ficar duas horas sentado era praticamente impossível: eu não tinha posição na cadeira, ficava inquieto pensando em outras coisas e sempre me levantava para me distrair por uns minutos. No transcorrer do dia, o cansaço sempre chegava antes do programado e eu acabava estudando menos do que o planejado. A técnica dos Ciclos tem o propósito de aumentar a produtividade dos estudos, motivando o aluno a estudar mais. O objetivo é que o aluno persiga a meta de “girar” o ciclo cada vez mais rápido. Logo, quanto mais horas de estudo por dia, menos dias para concluir o ciclo. Contudo, essa lógica simplesmente não estava funcionando para mim. Ao invés de me estimular a estudar cada dia mais, eu sempre pensava que poderia continuar o ciclo no dia seguinte e postergava meus estudos. Resultado: ao final do dia, eu nunca conseguia estudar a quantidade de horas que eu havia planejado. Da mesma forma, eu não gostava de chegar ao fim da semana no meio de um ciclo, ficava com a sensação de que estava deixando um serviço inacabado. Além disso, eu logo senti a necessidade de ter um pouco mais de flexibilidade no meu cronograma. Quando você faz sessões curtas de estudo, frequentemente acontece de você precisar passar um pouco do tempo programado para terminar um trecho do livro ou fazer mais um exercício. Não há nenhum problema em estudar 2h15’ ao invés das 2 horas programadas, por exemplo. O que não deve haver é uma obrigação de estudar um capítulo até o final. Por que não interromper a leitura numa subseção e continuar depois? Na maioria das vezes, isso não compromete o aprendizado. Também na técnica de Ciclos você pode ultrapassar o tempo estabelecido para uma matéria e descontar depois. A técnica te permite esse tipo de ajuste. Contudo, meu problema é que eu não conseguia manter o controle disso e acabava não completando o ciclo redondinho. 38 O que quero dizer é que não é a técnica do Ciclo de Estudos que tenha problema. O problema é que eu não consegui me adaptar bem a ela e logo percebi que eu podia melhorar ainda mais meu desempenho. Esse tipo de técnica de estudo tem essa dinâmica, os resultados não são os mesmos para todo mundo. Alguns se adaptam melhor estudando de um jeito, outros têm fórmulas distintas. O importante é perseguir mais produtividade nos estudos, para que você não desperdice seu tempo. Caso contrário, corremos o risco de ficar pra trás na busca por um cargo público. Percebendo minhas dificuldades, fiz algumas alterações naquele método e criei uma técnica de estudo que funcionou melhor para mim. Dei o nome a esse método de “Calendário Dinâmico de Estudo”. O objetivo principal do Calendário Dinâmico de Estudo é melhorar o processo de aprendizagem do candidato, permitindo maximizar a produtividade do tempo dedicado à sua preparação para concurso. Como fazer isso? Definindo as matérias a serem estudadas Para começar a estudar seguindo seu Calendário de Estudos, primeiro você tem que preparar o terreno. Inicialmente, é preciso que você já tenha definido, dentro do serviço público, uma área de seu interesse (cap. 1). Uma vez definido seu concurso ou área de interesse, faça uma lista de todas as disciplinas que você terá de estudar para estar bem preparado para as provas que enfrentará. De preferência, tome como base o conteúdo programático do edital de seu concurso preferido. Para ficar mais claro o funcionamento do método, vou usar como exemplo minha preparação para o AFRFB. Foquei meus estudos nesse 39 concurso, que abrange muitas disciplinas, e estava disposto a fazer adaptações para enfrentar outras provas que me interessassem. Assim, fiz a seguinte lista de disciplinas baseado no edital do concurso: - Português - Inglês - Raciocínio Lógico - Direito Civil, Penal e Comercial - Direito Administrativo - Direito Constitucional - Direito Previdenciário - Direito Tributário - Comércio Internacional - Contabilidade - Auditoria - Administração Pública - Economia e Finanças Públicas Considerando que Direito Civil, Penal e Comercial são matérias diferentes, assim como Economia e Finanças Públicas, temos um total de 16 disciplinas. É uma quantidade enorme de matérias para aprender! Independentemente de sua área e de seu concurso, certamente sua lista também será grande. Contudo, não entre em pânico! Nessa primeira tarefa, o importante é você ter uma lista completa para visualizar todas as disciplinas que precisará estudar para estar bem preparado para o concurso que almeja. Quando chegar perto da data da prova, o ideal é que você tenha conseguido estudar todos os conteúdos de todas as disciplinas dessa lista. A partir dessa lista enorme, faça outra lista mais enxuta das matérias mais importantes pelas quais você deseja começar e deixe as demais para um momento posterior. É contraproducente iniciar encarando quase duas dezenas de matérias diferentes de uma só vez. Portanto, faça outra lista menor e vá incluindo as matérias menos importantes à medida que for avançando nas principais. Para escolher as mais importantes, leve em consideração aquelas 40 que são mais cobradas nos concursos e que têm mais peso nos certames para os quais você deseja se preparar. É fundamental levar em conta seu estágio de preparação na hora de escolher a quantidade de matérias que irá estudar. No nosso exemplo, minha lista inicial de estudos continha as seguintes matérias: - Português - Raciocínio Lógico - Direito Administrativo - Direito Constitucional - Direito Previdenciário - Direito Tributário - Comércio Internacional - Contabilidade - Auditoria Nessa lista menor, a quantidade de matérias diminuiu para “apenas” 9. Embora ainda sejam várias matérias,é uma quantidade mais razoável para começar os estudos. Quando você ainda não tem um bom domínio da matéria, fica difícil conciliar o aprendizado do conteúdo de mais de uma dezena de disciplinas novas. Por isso, se você tentar começar seus estudos encarando todas as matérias do concurso de uma só vez, provavelmente terá mais dificuldade. Uma vez que você tenha definido quais são as disciplinas a serem estudadas, por qual conteúdo começar? O conteúdo programático contido no edital do seu concurso (pode ser o edital do último concurso do cargo almejado) deve orientar seu estudo de cada matéria. Portanto, quando você for estudar Direito Administrativo, veja quais são os assuntos cobrados no edital e siga aquela ordem. Assim, vá marcando os conteúdos já estudados no edital para você controlar seu progresso em cada disciplina. 41 Esse controle do estudo das matérias através do conteúdo programático do edital é que vai te permitir avaliar a hora adequada de incluir novas disciplinas em seu Calendário de Estudo. Digamos que, no nosso exemplo, você já tenha estudado mais de 50% dos pontos do conteúdo de Direito Administrativo, Constitucional, Tributário e Previdenciário. Ora, nesse momento você já terá uma boa base e pode diminuir um pouco o tempo dedicado a essas disciplinas para se dedicar a estudar outras matérias, como Direito Civil, Penal e Comercial, por exemplo. O objetivo desse processo é incluir novas matérias à medida que for avançando nas demais, para chegar na data da prova tendo estudado todo o conteúdo de todas as matérias. Algumas pessoas gostam de estudar uma matéria toda e só depois passar para a próxima, eliminando as disciplinas já estudadas de sua lista. Como diz o Alexandre Meirelles, é muito melhor gerenciar os estudos para avançar em todas as disciplinas de forma equilibrada, pois se você terminar uma disciplina e parar de estuda-la, você acaba esquecendo aquela matéria e perdendo desempenho. No nosso método, a ideia é criar uma base sólida inicialmente, concentrando nas disciplinas mais importantes, e ir avançando nas outras matérias, de forma a chegar na época da prova terminando de estudar o conteúdo de todas as matérias. Naturalmente, se você tiver tempo para terminar o estudo de todo o conteúdo antes da prova, depois você terá tempo para fazer revisões das matérias, o que é ainda melhor. Administre as revisões de todas as matérias de forma equilibrada, a fim de manter um alto nível em todas elas. Metas de estudo 42 Uma questão importantíssima no planejamento de estudo é a disciplina para sentar na cadeira e conseguir estudar o tempo programado. Não dá para estudar só quando a gente tem vontade, pois as fontes de distração são intermináveis. Por isso, é fundamental traçar metas de estudo, para que você tenha motivação para persegui-las e para que elas sirvam de parâmetro de controle da sua rotina. Sem metas de estudo, você sempre está olhando para trás, focando no passado. Digamos que depois de um dia de estudo, você contabiliza e vê que estudou 5 horas líquidas. Se você não tinha uma meta para aquele dia, o registro de 5 horas de estudo é apenas uma constatação, resultando numa atitude passiva. O tempo de 5 horas é suficiente? Depende de várias coisas. O problema é que sem a meta você fica sem referência e não assume uma atitude proativa necessária para alcançar seu objetivo. Provavelmente você poderia ter estudado mais e ficará angustiado com a sensação de ter desperdiçado um tempo precioso. Sua meta de estudo deve ser um compromisso pessoal diário. Ela serve para te alertar que você deve voltar aos estudos quando o intervalo começa a se esticar demais ou quando bate aquela preguiça depois do almoço. A meta não batida num dia é o puxão de orelha e um alerta de que você terá que compensar no dia seguinte. Desse modo, o acompanhamento de seu tempo de estudo te auxilia a balizar sua rotina para ir ao encontro de seu objetivo maior, maximizando sua dedicação aos estudos. A razão de ser número 1 das metas de estudo é algo essencial para os concurseiros: tranquilidade! Todos nós sabemos que a pressão é grande durante o período de preparação para concurso. É pressão do cônjuge, dos pais, das contas para pagar, dos filhos, da sociedade... As metas de estudo 43 contribuem para afastar a angústia dos alunos, que também se cobram constantemente. Se você estabelecer suas metas e conseguir cumpri-las, terá a gostosa sensação de dever cumprido e afastará essa angústia. Tendo em mente seu tempo disponível para estudar, trace metas de estudo diárias e semanais. Eu considero a meta de estudo semanal especialmente importante, pois ela serve de parâmetro final. Se você trabalha durante o dia e traça uma meta de 3 horas diárias de estudo, com alguma frequência você não conseguirá atingir as 3 horas. Contudo, o importante é chegar ao final da sexta-feira completando as 15 horas semanais, compensando os dias em que não conseguiu bater a meta diária. Ao estabelecer uma quantidade de horas líquidas de estudo, tanto para um dia quanto para uma semana, seja realista sem ser preguiçoso. As metas de estudo têm que ser, simultaneamente, desafiadoras e realistas. Se você estabelecer uma meta muito baixa, ela não servirá de estímulo para que você consiga estudar o máximo possível e você estará desperdiçando parte de seu tempo. Por outro lado, se a meta for muito alta, você não conseguirá alcança-la e vai ficar desmotivado com seu insucesso. No meu caso, minha meta de estudo diária era de 7 horas líquidas, enquanto a semanal era de 35 horas. Com o tempo, acabei fixando meu piso semanal em 32 horas, pois nem sempre eu conseguia estudar 7 horas líquidas. Assim, meu tempo de estudo oscilava entre 32 e 35 horas por semana, o que garantia mais de 6 horas líquidas por dia e me dava a certeza de estar fazendo um bom trabalho. Essa é a ideia da meta, um parâmetro para o qual você converge seus esforços. É importante não forçar muito a meta para cima, se não você acaba comprometendo seu estudo no médio prazo e gera desmotivação. 44 No início, minha meta de estudo era de 5 horas líquidas diárias e fui aumentando um pouquinho a cada semana, até chegar nessa meta de 35 horas semanais nos meses que antecederam a prova de AFRFB. Essa evolução gradual é importante, pois nosso corpo e nossa mente precisa se habituar ao estudo prolongado. Jamais extrapole seus limites a ponto de prejudicar sua saúde. Dormir bem é fundamental para um bom aprendizado. Às vezes eu tentava bater recorde de estudo num dia e simplesmente não conseguia estudar nada no dia seguinte. Uma vez, fiquei estudando até meia-noite e completei 9h15’ líquidas de estudo. Esse foi meu recorde! Achei o máximo. O problema é que no dia seguinte mal consegui estudar 3h. Resultado: teria sido melhor estudar 7h em cada dia. Portanto, para uma preparação sólida, é mais importante ter constância e equilíbrio. Cada um de nós tem uma realidade diferente. Independentemente dos seus outros compromissos, estabeleça metas adequadas para sua rotina, mas que maximizem sua dedicação. O mais importante é estabelecer uma meta realista que exija seu empenho sem ultrapassar seus limites. Esse processo exigirá uma sintonia fina ao longo das semanas para que você aumente seu tempo de estudo na medida do possível, até encontrar seu nível máximo de estudo. Não seja preguiçoso nem ultrapasse seus limites. Montando seu Calendário de Estudo Quando eu comecei a organizar meus estudos seguindo um método, percebi que era preciso conciliar duas necessidades: disciplina e flexibilidade.Eu precisava de disciplina para estudar mais, pois se dependesse só de minha 45 vontade de estudar, eu estudaria muito pouco e desperdiçaria um tempo precioso. Ao mesmo tempo, eu também precisava de uma certa flexibilidade. Era simplesmente impossível estudar lendo regrinhas de pontuação (Português) depois do almoço, pois o sono não permitia. Nessas ocasiões, era melhor adaptar o planejamento para fazer uma atividade mais adequada, como resolver questões de Raciocínio Lógico, por exemplo. A partir dessas constatações, desenvolvi duas ferramentas básicas para planejar e gerenciar meus estudos: o Calendário de Estudo e a Agenda de Estudo. O Calendário de Estudo é a ferramenta que controla as metas de estudo e garante a disciplina necessária na preparação. Já a Agenda de Estudo organiza a seleção e a ordem das matérias a serem estudadas, permitindo as flexibilidades necessárias para aumentar a produtividade do estudo. Explico, primeiramente, como funciona a Agenda de Estudo. No início de cada semana, preferencialmente no domingo, faça uma programação de estudo para a semana toda, começando a partir de segunda. Estabeleça suas metas de estudo e liste as matérias que você estudará cada dia da semana, lembrando-se de separá-las em sessões com tempo máximo de 2 horas. Use uma agenda de verdade e faça sua programação a lápis, de tal forma que seja possível apagar e fazer as adaptações necessárias. Segue um exemplo para um candidato hipotético ao concurso de AFRFB que trabalha e traçou como meta estudar 3 horas por dia, durante a semana, e mais 7 horas por dia nos finais-de-semana. O exemplo se baseia naquela lista de disciplinas mais restrita para um aluno iniciante, só com as matérias mais importantes, apresentada na seção anterior: 46 Agenda de Estudo (exemplo) SEG → 19:00h às 20:45h – Dir. Adm. (1h45’); + 21:00h às 22:15h – Port. (1h15’) TER → 19:00h às 20:45h – Dir. Trib. (1h45’); + 21:00h às 22:15h – RL (1h15’) QUA →19:00h às 20:45h – Dir. Const. (1h45’); +21:00h às 22:15h – Contab (1h15’) QUI → 19:00h às 20:45h – Com. Int. (1h45’); + 21:00h às 22:15h – Audit. (1h15’) SEX →19:00h às 20:45h – Dir. Prev. (1h45’); + 21:00h às 22:15h – Contab (1h15’) SAB → 9:00h às 10:30h – Dir. Adm. (1h30’); + 10:45h às 12:15h – Port. (1h30’) → 14:00h às 16:00h – Dir. Trib. (2h); + 16:15h às 18:15h – Audit. (2h) DOM → 9:00h às 10:30h – Dir. Const. (1h30’); + 10:45h às 12:15h – RL (1h30’) → 14:00h às 15:30h – Com. Int. (1h30’); + 15:45h às 16:45h – Contab. (1h’); + 17:00h às 18:30h – Dir. Prev. (1h30’) Percebam que, nessa Agenda de Estudo, o aluno estudou cada disciplina pelo menos duas vezes durante a semana e as sessões de estudo são de, no máximo, 2 horas. Além disso, essa programação é para uma meta de 29 horas semanais, o que é um volume de estudo significativo, sobretudo para quem concilia os estudos com trabalho. Uma rotina tão rigorosa assim seria recomendável somente para os meses que antecedem a prova. 47 Bom, essa programação inicial da Agenda de Estudo é a primeira etapa. Contudo, um planejamento não deve engessar os estudos do aluno e é perfeitamente possível fazer ajustes, quando necessários. Se durante uma sessão de estudo, você sente a necessidade de prolongar o estudo daquela matéria por mais 15 minutos para concluir a seção do livro, não há problema. Prossiga por mais 15 minutos e anote o horário correto na agenda. Se em decorrência desse prolongamento, você reduz o tempo da próxima sessão, tudo bem. Anote na agenda as alterações que ocorreram na concretização da programação. Essa diferença entre o estudo planejado e o realizado é natural. Vejamos como ficaria no nosso exemplo anterior: SEG → 19:00h às 20:45h 21:00h– Dir. Adm. (1h45’ 2h); + 21:00h 21:15h às 22:15h – Port. (1h15’) Perceba que, apesar da mudança, o aluno manteve o estudo das 3 horas no dia, que era sua meta traçada. Como dito anteriormente, esse deve ser o foco da disciplina necessária para não desperdiçar o tempo de estudo. Mesmo que aconteçam imprevistos que te impeça de cumprir sua meta num dia, tente compensar nos outros dias para alcançar sua meta de estudo semanal. O Calendário de Estudo é uma outra ferramenta que serve para consolidar os registros e fazer sua contabilidade dos estudos. Como visto anteriormente, a programação feita na Agenda é bastante flexível e ao final da semana você terá feito várias alterações dos registros, refletindo os ajustes entre aquilo que foi planejado e o que foi concretamente executado. O Calendário de Estudo serve para passar a limpo todo o registro dos estudos semanais e fechar a contabilização das horas de estudo, para que você faça o acompanhamento das metas de estudo. 48 Como fazer seu Calendário de Estudo? Para fazer meu Calendário, eu usava uma folha de papel ofício A4, na horizontal. Para tanto, criava linhas para 4 ou 5 semanas (que era o que cabia numa folha A4) e colunas para todos os dias da semana e mais uma para totalizar os estudos. Fica mais fácil visualizar através de ilustração. Considerando as informações do exemplo da Agenda, o Calendário daquela semana ficaria assim: SEG TER QUA QUI SEX SAB DOM Total da Semana 18/10/2010 Dir Adm ‐ 2h Port ‐ 1h TOTAL = 3h 19/10/2010 Dir Trib‐ 1h45' RL ‐ 1h15' TOTAL = 3h 20/10/2010 Dir Cons 1h45' Contab ‐ 1h15' TOTAL = 3h 21/10/2010 Com Int‐ 1h45' Audit ‐ 1h15' TOTAL = 3h 22/10/2010 Dir Prev‐ 1h45' Contab ‐ 1h15' TOTAL = 3h 23/10/2010 Dir Adm‐ 1h30' Port ‐ 1h30' Dir Trib‐ 2h Audit ‐ 2h TOTAL = 7h 24/10/2010 Dir Cons 1h30' RL ‐ 1h30' Com Int‐ 1h30' Contab ‐ 1h Dir Prev‐ 1h30' TOTAL = 7h Meta ‐ 29hs ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Total da Semana = 29hs √ 25/out 26/out 27/out 28/out 29/out 30/out 31/out Meta ‐ 29hs ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Total da Semana = 01/nov 02/nov 03/nov 04/nov 05/nov 06/nov 07/nov Meta ‐ 29hs ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Total da Semana = 08/nov 09/nov 10/nov 11/nov 12/nov 13/nov 14/nov Meta ‐ 29hs ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Total da Semana = O Calendário de Estudos nada mais é do que o registro, numa folha A4, de seus horários de estudos realizados, que consolida as informações anotadas na Agenda de Estudo. Aqui, o importante não é o horário em que você estudou, mas a quantidade de horas estudadas, para fazer o acompanhamento de suas metas. Passe a limpo seu registro de horas da Agenda para o Calendário de Estudo ao final de cada dia. Assim, você terá o 49 controle de seu desempenho em relação a sua meta diária e, se ficar devendo tempo de estudo, poderá compensar já no dia seguinte. Percebam que a última coluna é a mais importante. É a coluna que contabiliza o total de horas de estudo da semana. Esse deve ser seu foco. Se você conseguir cumprir sua meta de estudos, isso significa que você fez um bom trabalho durante a semana e terá a sensação de dever cumprido. Caso contrário, se o total de horas estudadas ficou abaixo da meta, você precisará se esforçar mais na semana seguinte e analisar o que pode ser corrigido em sua rotina de estudos. Sempre que eu completava o preenchimento de uma folha do Calendário de Estudos, após 4 semanas, eu colava a folha num mural do meu quarto. Os números registrados na última coluna eram motivo de orgulho ou de vergonha. Os registros mostram algumas poucas semanas em que estive abaixo da minha meta, mas na grande maioria das semanas eu pude sentir aquela sensação de dever cumprido. Esse acompanhamento é muito estimulante, pois te dá a certeza de que está no caminho certo e de que sua aprovação está cada vez mais perto. Ainda hoje guardo minhas folhinhas do meu Calendário
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