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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD Responsabilidade Social e Meio Ambiente Livro-texto EaD Natal/RN 2011 D973r Dusi, Luciane. Responsabilidade social e meio ambiente / Luciane Dusi. – Natal: Edunp, 2011. 266p. : il. ; 20 X 28 cm Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-75-5 1. Responsabilidade social – Gestão ambiental. I. Título. RN/UnP/SIB CDU 316.64:504.06 DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Coordenação Acadêmica Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Design Instrucional Priscilla Carla Silveira Menezes Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Gravação e Edição de Vídeos Daniel Rizzi Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes Supervisão de Logística (Mossoró) Fábio Pereira da Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gibson Marcelo Galvão de Sousa Miriam Flávia Medeiros de Araújo Ricardo Luiz Quirino da Silva Luciane Dusi Responsabilidade Social e Meio Ambiente 1a Edição Natal/RN 2011 EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS Organização Luciana Lopes Xavier Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Úrsula Andréa de Araújo Silva Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea - Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Coordenação de Revisão Gramatical e Normativa Simone Regina Dias Eduard Marquardt Revisão Gramatical e Normativa Sandra Spricigo Coordenação de Diagramação Alexandre Alves de Freitas Noronha Diagramação Michelle Cristina Damasco Ilustrações Alexandre Beck Luciane Dusi Olá! Sou autora deste livro-texto e gostaria que você soubesse quem sou. Tenho graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental e sou mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Já atuei como professora em cursos tecnológicos na área de meio ambiente e cursos voltados aos funcionários públicos da área ambiental. Trabalhei durante quatro anos como gerente de licenciamento e de fiscalização ambiental na Fundação de Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina. Participei de projetos sociais em diversas comunidades, nos quais obtive uma experiência bastante enriquecedora. Atualmente, dedico-me à docência, à consultoria e a trabalhos voluntários em prol de uma sociedade melhor. Minha linha principal de trabalho está concentrada na gestão ambiental e social. CO N H EC EN D O O A U TO R ResponsabiLiDaDe sociaL e Meio aMbiente Olá! Nesta disciplina, você será apresentado ao tema da responsabilidade social empresarial, desde o ponto de vista de conceitos fundamentais, como o da ética, até conceitos mais práticos da responsabilidade social empresarial, como estratégia norteadora para políticas corporativas. Neste sentido, nos primeiros capítulos, abordaremos os instrumentos de gestão relacionados, bem como as principais normas existentes que norteiam a implantação da responsabilidade social nas empresas. Em um segundo momento, iremos abordar o enfoque da sociedade e das empresas em suas relações com o meio ambiente e a importância da gestão dos recursos ambientais e os principais instrumentos de gestão. E finalmente, trataremos da integração da responsabilidade social com a responsabilidade ambiental nas empresas. Finalizado o estudo deste livro-texto, você será capaz de identificar os aspectos mais relevantes sobre a responsabilidade social e ambiental nas empresas, estando apto a contribuir adequadamente em trabalhos relacionados aos temas, uma vez que terá desenvolvido uma visão abrangente a respeito do assunto. Mais do que um defensor fervoroso dos direitos sociais e da preservação ambiental, você terá compreendido e desenvolvido valores adequados a uma atuação eficaz. Mais do que ser um ativista nestas áreas, atualmente muito carentes de atenção e de projetos, você terá condições de saber identificar e aplicar as ferramentas necessárias para contribuir com o desenvolvimento dos trabalhos. CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A Convido você a se entregar a esta busca de conhecimento sobre a responsabilidade social e ambiental nas empresas. Espero, ainda, que você termine seu estudo com um gostinho de “quero mais”, já que acredito que é característica comum aos jovens o interesse pelas questões aqui apresentadas. SU M Á RI OCapítulo 1 - Introdução à responsabilidade social ................................... 131.1 Contextualizando ........................................................................................................... 131.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 14 1.2.1 Ética e moral .......................................................................................................... 14 1.2.2 Conceito de lei ...................................................................................................... 22 1.2.3 Ética profissional e ética empresarial ............................................................ 27 1.2.4 Sociedade e cidadania ....................................................................................... 33 1.2.5 Direitos humanos e leis trabalhistas ............................................................. 37 1.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 42 1.4 Para saber mais ............................................................................................................... 43 1.5 Relembrando ................................................................................................................... 43 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 44 Onde encontrar ...................................................................................................................... 45 Capítulo 2 - Responsabilidade social nos negócios ................................. 47 2.1 Contextualizando ........................................................................................................... 47 2.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 48 2.2.1 Responsabilidade social: histórico ................................................................. 48 2.2.2 Responsabilidade social: conceito e abordagens .................................... 55 2.2.3 Teoria dos stakeholders...........................................................................62 2.2.4 Por que investir em responsabilidade social? ............................................ 65 2.2.5 Exemplos de responsabilidade social nos negócios ............................... 70 2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 72 2.4 Para saber mais ............................................................................................................... 74 2.5 Relembrando ................................................................................................................... 74 2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 75 Onde encontrar ...................................................................................................................... 76 Capítulo 3 - Orientação estratégica à responsabilidade social e elementos de formalização ..................................................................... 79 3.1 Contextualizando ........................................................................................................... 79 3.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 80 3.2.1 Responsabilidade social como estratégia ................................................... 80 3.2.2 Política de responsabilidade social ................................................................ 83 3.2.3 Relatório de responsabilidade social ............................................................ 85 3.2.4 Balanço social ........................................................................................................ 87 3.2.5 Indicadores Ethos de responsabilidade social .......................................... 91 3.2.6 Selo social ............................................................................................................... 93 3.2.7 Marketing social ................................................................................................... 97 3.3 Aplicando a teoria na prática ...................................................................................103 3.4 Para saber mais .............................................................................................................105 3.5 Relembrando .................................................................................................................105 3.6 Testando os seus conhecimentos ...........................................................................106 Onde encontrar ....................................................................................................................107 Capítulo 4 - Implementação da responsabilidade social e normas orientadoras ...109 4.1 Contextualizando ..................................................................................................................................109 4.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................110 4.2.1 Como implementar um processo de responsabilidade social nos negócios ........110 4.2.2 Principais elementos de gestão .............................................................................................117 4.2.3 As normas orientadoras: NBR 16001, SA 8000, AA 1000 e ISO 26000 ......................118 4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................135 4.4 Para saber mais ......................................................................................................................................137 4.5 Relembrando ..........................................................................................................................................137 4.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................139 Onde encontrar .............................................................................................................................................139 Capítulo 5 - Sociedade e meio ambiente .....................................................................141 5.1 Contextualizando ..................................................................................................................................141 5.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................142 5.2.1 Conceito de meio ambiente ...................................................................................................142 5.2.2 Os ciclos da natureza, os seres vivos e a ecologia ...........................................................153 5.2.3 Sociedade e meio ambiente ..................................................................................................158 5.2.4 A sustentabilidade ......................................................................................................................161 5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................163 5.4 Para saber mais ......................................................................................................................................164 5.5 Relembrando ..........................................................................................................................................165 5.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................166 Onde encontrar .............................................................................................................................................166 Capítulo 6 - Empresa e meio ambiente ........................................................................167 6.1 Contextualizando ..................................................................................................................................167 6.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................168 6.2.1 Responsabilidade ambiental: histórico ...............................................................................168 6.2.2 Relação empresa e meio ambiente ......................................................................................175 6.2.3 As empresas e os órgãos públicos de meio ambiente, sociedade e clientes ........179 6.2.4 A imagem ambiental da empresa .........................................................................................185 6.2.5 Exemplos de bons projetos de empresas que investem em meio ambiente .......187 6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................193 6.4 Para saber mais ......................................................................................................................................194 6.5 Relembrando ..........................................................................................................................................195 6.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................195 Onde encontrar .............................................................................................................................................196 Capítulo 7 - A importância da gestão dos recursos ambientais ................................197 7.1 Contextualizando ..................................................................................................................................197 7.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................198 7.2.1 Conceito de recursos ambientais .........................................................................................198 7.2.2 Empresas: consumo de recursos ambientais e impactos associados ......................203 7.2.3 Programa de monitoramento dos impactos .....................................................................210 7.2.4 Gestão ambiental .......................................................................................................................213 7.2.5 A norma ISO 14001 .....................................................................................................................214 7.2.6 Selos verdes ..................................................................................................................................217 7.2.7 Ciclo de vida do produto ........................................................................................................ 219 7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................224 7.4 Para saber mais ......................................................................................................................................225 7.5 Relembrando ..........................................................................................................................................225 7.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................227 Onde encontrar .............................................................................................................................................228 Capítulo 8 - A importância da gestão dos recursos ambientais ................................229 8.1 Contextualizando ..................................................................................................................................229 8.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................229 8.2.1 Relação entre responsabilidade social e responsabilidade ambiental ....................229 8.2.2 Formas de integração ...............................................................................................................234 8.2.3 Exemplos de programas e projetos socioambientais ....................................................237 8.2.4 Resultados esperados da responsabilidade socioambiental para empresa e sociedade ...............................................................................................................252 8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................254 8.4 Para saber mais ......................................................................................................................................256 8.5 Relembrando ..........................................................................................................................................257 8.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................258 Onde encontrar .............................................................................................................................................259 Referências ....................................................................................................................262 Capítulo 1 13 Responsabilidade Social e Meio Ambiente INTRODUÇÃO À RESPONSABILIDADE SOCIAL CAPÍTULO 1 1.1 contextualizando Neste capítulo, você irá estudar alguns conceitos que dão fundamentação ao tema da responsabilidade social. Inicialmente, vamos abordar o tema de maneira um pouco mais teórica, tendo como base pressupostos filosóficos encontrados, principalmente, em textos clássicos de autores como Platão e Aristóteles. Esta escolha se justifica em função da atualidade dos temas abordados pelos filósofos em questão, ainda que tenham elaborado suas obras há vários séculos. Ressaltamos a importância desse contato com os conceitos iniciais, pois eles serão úteis para justificar a o contexto da responsabilidade social nas empresas. Com base no que veremos aqui, esperamos que ao final do capítulo você seja capaz de: • conceituar ética e moral e perceber sua importância para a sociedade; • compreender o sentido de lei e sua aplicação; • delinear sobre a importância da ética profissional e ética empresarial nas empresas; • conceituar sociedade e cidadania; • identificar a origem dos direitos humanos e composição das leis trabalhistas. Capítulo 1 14 Responsabilidade Social e Meio Ambiente 1.2 conhecendo a teoria 1.2.1 Ética e moral Preparado para começar? Esperamos que sim, afinal, a partir de agora, vamos estudar os conceitos de ética e moral, já que eles são importantes para construirmos uma base de sustentação ao tema da responsabilidade social e meio ambiente. Quem já não ouviu comentários do tipo “Essa atitude não foi ética da parte dele” ou “você não tem moral para falar sobre isso”? Frases assim estão geralmente relacionadas a situações nas quais alguém teve atitudes inadequadas em relação ao esperado para sua função ou posição social. Ou ainda quando alguém nos aconselha a fazer algo de determinada maneira, mas ao mesmo tempo não segue seus próprios conselhos. Com base nisto, você pode perceber que, em resumo, tanto ética como moral se referem a comportamentos e costumes, à forma de agir das pessoas, o que, por sua vez, tem a ver com sua cultura e valores. Esta mesma definição para ética e moral – ambas como comportamentos e costumes – pode ser encontrada na história das civilizações grega e romana, nas obras escritas por alguns de seus principais pensadores. Se procurarmos nos dicionários, veja a seguir o que iremos encontrar. CONCEITO Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana passível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja em relação à determinada sociedade, seja de modo absoluto (FERREIRA, 1986). Por sua vez, moral é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada (FERREIRA, 1986). Você pode observar que, segundo as definições dicionarizadas, o conceito de ética está relacionado a algo mais teórico, ao “estudo dos juízos”. Já a definição de moral está associada a um sentido mais prático, como “regras de conduta”. Capítulo 1 15 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Você consegue perceber que em comparação com as definições clássicas, houve uma separação conceitual entre ética e moral? Pois bem, diante disso, vamos então analisar a origem da separação entre esses dois conceitos. A palavra ética vem do grego ethos, ao passo que moral tem sua raiz no latim mores, significando tanto ethos como mores a mesma coisa: costumes. Então, qual a possível origem desta separação entre os conceitos de ética e moral? Para responder a esta pergunta, é preciso observar as duas civilizações das quais falamos anteriormente, a grega e a romana. De acordo com os registros históricos, os gregos eram um povo voltado para a contemplação da beleza, do bem, da justiça, da verdade e do amor, e com base nisto estruturaram um caminho ético e estético muito elevado. Os romanos, por sua vez, eram um povo mais prático, mais do agir do que do contemplar. Eles adotaram a concepção ética do povo grego, porém, deram a ela uma conotação muito mais prática. Podemos dizer que os romanos transformaram a ética grega em costumes e comportamentos práticos, aplicáveis às tarefas do dia a dia (ISASA, 2008). Provavelmente, reside aí a principal razão pela confusão, ou divisão, dos nossos dias com as definições de ética e moral. Pensamos que ética é uma coisa mais elevada do que moral porque os gregos eram mais teóricos, mais abstratos, muito liberais no plano do relacionamento, e os romanos eram muito mais objetivos e práticos (ISASA, 2008). Agora que já introduzimos o tema, vamos então nos aprofundar no conceito de ética e verificar o que Platão e Aristóteles nos deixaram escrito sobre o assunto. Primeiramente, você já sabe quem foi Platão, não é mesmo? Isso mesmo. Platão (428-348 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Capítulo 1 16 Responsabilidade Social e Meio Ambiente A ética, segundo Platão, consiste na aplicação da doutrina das ideias e, em particular, da ideia do bem à vida humana. A moralidade consiste, para Platão, na participação da ideia do bem ao agir humano ou, em outras palavras, na imitação do bem. Assim, as pessoas serão felizes (PONCHIROLLI, 2007). Mas como se realiza a imitação do bem no agir humano? Como vimos, a ética está associada ao exercício de fazer o bem. Você não concorda que este tipo de agir deveria ser mais divulgado atualmente? Talvez, dessa forma poderíamos ter menos problemas sociais se as pessoas exercitassem fazer o bem. Você concorda com isso? REFLEXÃO Na realidade, as pessoas diferem na escolha dos meios que conduzem à felicidade. Para uns, ela consiste no prazer e, para outros, na sabedoria (PONCHIROLLI, 2007). Então, antes de prosseguirmos, é importante conceituar melhor a felicidade. Vamos ver como Platão a define? Para o filósofo, a felicidade deve ser algo que se baste a si mesmo. Nem somente na sabedoria nem só no prazer consistirá a felicidade, mas na harmonia de ambos. Mas é preciso ressaltar que nem todo prazer é apto para a felicidade. O verdadeiro prazer consiste no gozo da ciência e da verdade, que acompanha precisamente a sabedoria (PONCHIROLLI, 2007). Muito bem, Platão também esclarece a forma pela qual devemos agir para sermos éticos e, por consequência, felizes, e esta forma de agir está pautada na sabedoria e no prazer verdadeiro. A sabedoria é algo que passamos a vida toda buscando. Está relacionada com nossas experiências diretas, com nossas reflexões sobre estas experiências e com o estudo que fazemos na busca do conhecimento que nos leve a compreender melhor as experiências de vida. Capítulo 1 17 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Para compreender melhor isto que acabamos de mencionar, vamos imaginar a seguinte situação: uma pessoa passa por um relacionamento difícil, em que o sentimento verdadeiro de amizade não foi correspondido e isto resultou numa mágoa muito grande. Nessa busca da sabedoria, essa pessoa primeiramente deveria observar a situação pela qual passou: seu comportamento e suas atitudes no relacionamento. Depois disso, é preciso refletir sobre suas observações e identificar os principais aspectos (os motivos, os sentimentos envolvidos, as carências e expectativas etc.). Identificados os pontos críticos, ela deveria procurar pessoas mais sábias, de confiança, livros ou outro recurso de conhecimento que pudesse ajudá-la a se desvencilhar de qualquer tipo de reflexão inadequada, esclarecer dúvidas e prestar orientação. Você consegue visualizar que, agindo assim, de forma contínua, essa pessoa conseguiria melhorar gradativamente as suas experiências de amizade? Faz sentido esse caminho, não é mesmo? Inclusive, esse tipo de comportamento, reflexivo e analítico, será produtivo também na sua vida profissional. São inúmeros os desafios pelos quais passamos em nossos trabalhos, e se adotamos o caminho da sabedoria para lidarmos com as situações críticas, sobrará mais tempo e eficácia no trabalho. Mas por que geralmente não agimos assim, no caminho da sabedoria? Por que geralmente perdemos anos nos lamentando por algo errado que nos aconteceu? Perdemos muito tempo, muitos amigos e nos desgastamos tanto na vida pessoal quanto profissional, alimentando pensamentos críticos que não nos acrescentam coisa alguma e ainda prejudicam a nossa saúde. Vamos entrar para o caminho da sabedoria? REFLEXÃO Convido você a continuar nosso estudo sobre ética, partindo agora para os trabalhos de outro filósofo chamado Aristóteles. Vamos relembrar quem foi Aristóteles? Aristóteles (384-322 a.C.) foi um filósofo grego que aos 18 anos entrou na escola de Platão e lá permaneceu por 19 anos, até a morte do mestre. Por Capítulo 1 18 Responsabilidade Social e Meio Ambiente volta do ano 343 a.C., Filipe da Macedônia convidou-o para encarregar-se da educação de seu filho, Alexandre, o qual foi influenciado significativamente pelos pensamentos deste sábio. Aristóteles fundou sua própria escola em Atenas e nos deixou muitas obras que reúnem um material científico incalculável, que lhe permitiu fazer avançar de um modo prodigioso o saber de seu tempo. Aristóteles coloca que o bem supremo realizável pelo ser humano (e, portanto a felicidade) consiste em aperfeiçoar-se enquanto homem. “O homem que quer viver bem deve viver sempre segundo a razão.” (PONCHIROLLI, 2007, p. 23-24) É importante saber que quando Aristóteles se refere à razão, ele não está tratando apenas da nossa capacidade receptora e processadora de informações. Aliás, o que nos distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de essencial. Vamos recorrer a um exemplo fictício para facilitar a compreensão da razão nos termos aristotélicos. Imagine o seguinte depoimento de um funcionário sobre seu colega de trabalho: “Meu parceiro de trabalho é formado em administração, tem uma esposa e dois filhos. Seu coração é enorme, um dia desses, ele terminou um relatório para mim, pois meu chefe estava precisando deste documento e eu estava resolvendo um problema na nossa filial e não tinha condições de atender a necessidade do meu chefe. Meu amigo de trabalho se chama Jorge, às vezes fico pensando se a inspiração do seu nome veio de São Jorge, o santo guerreiro, pois sua honra e moral me fazem lembrar este santo.” INTERAGINDO O que é essencial em Jorge, o que o torna diferente e especial para seu colega de trabalho? O fato de ele ser formado em administração e ter dois filhos ou de agir como um parceiro? O que é essencial em Jorge, na sua percepção? Exponha sua perspectiva no ambiente virtual de aprendizagem. A ação por meio da razão não é a mesma coisa que a ação por meio do pensamento lógico e objetivo, mas da aplicação do conhecimento sobre o objeto observado, extraindo sua essência da melhor forma possível, de acordo, é claro, com a capacidade de cada um de fazê-lo. O exercício de buscar a essência das Capítulo 1 19 Responsabilidade Social e Meio Ambiente coisas nos torna mais capazes de viver o bem, pois clareia nossa visão de mundo, nos permite ver melhor e, por consequência, fazer melhores escolhas. A aplicação da razão, todavia, exige que estejamos conscientes em todo o processo de ação, reflexão e estudo. Não podemos aplicar a razão de qualquer forma. Então, temos que compreender como funciona a consciência. A consciência faz o sujeito ver o que é justo e reto, nas circunstâncias concretas em que se encontra. A consciência não julga, indica. Sua função não é aprovar nem condenar, mas mostrar o que é justo e reto para que a vontade livre se autodecida a seguir o bem. A qualidade ética da ação concreta depende da conformidade do agir com o que a consciência faz ver ao sujeito que é justo e reto, no momento de agir. O ato humano é bom ou mau na medida em que a autodecisão do sujeito se conforma, ou não, com o que a consciência diz ser justo e reto (PONCHIROLLI, 2007). Logo, a consciência é a responsável por colocar as cartas na mesa, cabendo à vontade do sujeito a escolha sobre cada uma delas. A formação da consciência reside na capacidade de ir ao encontro do que é realmente bom, na liberdade, procurando e zelando constantemente pela verdade, reconhecendo os próprios limites e as próprias capacidades (PONCHIROLLI, 2007). Aristóteles coloca a felicidade como a atividade da alma segundo suas virtudes. Mas o que significam as virtudes? Por que elas são importantes para o desenvolvimento da ética e moral? Para Aristóteles, as virtudes éticas ou morais consistem em dominar as tendências e impulsos irracionais. A virtude implica justa proporção, justo meio entre dois excessos. A virtude ética é a justa medida entre dois vícios opostos, ou seja, entre o participar por excesso ou por defeito em uma mesma emoção (PONCHIROLLI, 2007, p. 24). Estamos caminhando cada vez mais para o aspecto prático do exercício da ética, você consegue perceber? Aristóteles nos ensina que, para sermos éticos, precisamos conhecer e exercitar as nossas virtudes. Vamos, então, identificar as virtudes humanas listadas por Aristóteles. Capítulo 1 20 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Quadro 1 – As virtudes segundo Aristóteles Virtude ética Por excesso Por defeito A mansidão A ira A impassibilidade A coragem A temeridade A covardia O pudor A impudência A timidez A temperança A intemperança A insensibilidade A justiça O lucro A perda A liberdade A prodigalidade A avareza A amabilidade A hostilidade A adulação A seriedade A complacência A soberba A magnanimidade A vaidade A modéstia A magnificência A faustosidade A mesquinhez Fonte: Sandrini (apud PONCHIROLLI, 2007) Exercitar as nossas virtudes não é uma tarefa fácil, você pode estar certo disso. Nem sempre conseguimos acertar nesse exercício. O importante, no entanto, para imprimir um comportamento ético na nossa forma de vida não é acertar sempre. É estar atento e reconhecer os momentos em que agimos de forma inapropriada, para que, na medida do possível, possamos ir melhorando, ou ainda para que possamos nos redimir com nossos colegas sem maiores traumas e ou confusões. Para ajudá-lo a refletir sobre a existência dessas virtudes em você ou nas pessoas com as quais se relaciona, vamos acompanhar um método prático. Aristóteles indica três critérios que nos permitem certificar a existência da virtude. Segundo o filósofo (apud PONCHIROLLI, 2007), a virtude é uma disposição do caráter que leva a pessoa a agir: • fora dos extremos, quer por excesso quer por falta; • segundo um princípio racional; • de forma coerente com os exemplos deixados pelos homens dotados de sabedoria prática. Capítulo 1 21 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Você pode agora fazer o seguinte exercício: reflita sobre cada virtude listada no quadro citado anteriormente e procure identificar qual seu comportamento típico. Ele está predominando nos extremos ou não? É possível que, em alguns casos sim, isto é normal. Mas preste atenção: a ideia consiste em fazer o esforço de caminhar no sentido do equilíbrio. Faça esse exercício periodicamente e registre as mudanças quando elas ocorrerem. REFLEXÃO Com base no que vimos até aqui, podemos perceber que tanto os gregos como os romanos referiam-se à mesma coisa quando falavam de ética e moral. Tratava-se de harmonizar o homem, de ajudá-lo para que nele brotassem as fontes de justiça e do bem. A figura a seguir ilustra a busca pelo equilíbrio. Devemos ficar atentos ao fato de que, quando somos éticos, pode surgir em nós certa indignação frente às normas injustas e petrificadas aceitas com normalidade (PONCHIROLLI, 2007). Todavia, já construímos uma linha de raciocínio suficientemente clara para entendermos que ficar indignado e revoltado não é uma atitude sábia. A ética consiste no equilíbrio e afastamento das ações extremas. Logo, alimentar um comportamento de indignação a ponto de resultar em ações extremas não é a aplicação do conceito de ética, se não uma ação pautada nas emoções, e não na razão. Conhecer o conceito de ética e aplicá-lo não significa que mudamos instantaneamente e muito menos que o mundo ao nosso redor tornou-se pior, já que a partir desse ponto passamos a identificar a falta das virtudes, em geral, no comportamento humano. Porém, estudar sobre ética e aplicar os ensinamentos é o início do caminho para aqueles que pretendem se tornar melhores e mais felizes. Figura 1 – Equilíbrio é palavra-chave para agir com ética Fonte: <http://commons.wikimedia.org> Capítulo 1 22 Responsabilidade Social e Meio Ambiente A efetivação da ética e da moral em um ambiente de trabalho, por exemplo, depende muito mais do comportamento prático das pessoas do que da argumentação teórica sobre o tema. Apesar de a primeira não excluir a segunda, ela a supera no grau de importância. Enfim, a melhor atitude a ser tomada para modificar o comportamento de outras pessoas é dar exemplo. Assim, com moral, as palavras não são necessárias, mas as ações são capazes de impactar e fazer mudar ou permanecer um ambiente ético. 1.2.2 conceito de lei Agora vamos aprender um pouco sobre o conceito de lei? Conhecê-lo será importante para você compreender a importância, tanto dos regramentos internos de uma organização quanto da legislação editada pelos entes públicos municipais, estaduais, federais e também internacionais. Cabe ao advogado, como peça essencial para a administração da justiça, o conhecimento detalhado das leis, suas aplicações e consequências. Todavia, a todo brasileiro é atribuída a obrigação do conhecimento da lei. Mas qual é a origem das leis? Elas sempre existiram da forma como são hoje? Vamos buscar novamente na história as respostas para nossas perguntas? Primeiramente, procure perceber como todas as coisas estão encadeadas. Observando o mundo que nos cerca, podemos constatar o processo de inter- relacionamento de todas as coisas e todos os seres: cidade a cidade, bairro a bairro, casa a casa, pessoa a pessoa, enfim, processos que vão do micro ao macro. No movimento de evolução desse todo, impõe-se a necessidade das leis com a finalidade de harmonização da totalidade de seus elementos integrantes, com a mínima destruição possível. Segundo Platão, as verdadeiras leis são as que surgem sob a inspiração dos deuses. O verdadeiro legislador é aquele que atingiu tal grau de sabedoria e virtude que se transforma no intercessor entre o divino e o terrestre, buscando estabelecer a máxima virtude, a felicidade, a harmonia comum e o bem-estar dos que observam as leis. A lei, então, teria um caráter eterno e imutável. Ela Capítulo 1 23 Responsabilidade Social e Meio Ambiente não poderia ser discutida, pois não é obra de alguma autoridade, é divina (SOARES; MOURA; MENEGHETTI, 2009). Lei com duração eterna, você já pensou nisto? Atualmente, esta afirmação não faz sentido algum, pois observamos constantes alterações legais, tais como as mudanças em andamento no código florestal, a legalização da união de pessoas do mesmo sexo e a reformulação do código nacional de trânsito ocorrida há alguns anos, por exemplo. Dentro de uma empresa, também acontece coisa semelhante. Sua política interna não é intocável e periodicamente passa por revisões com o objetivo de atualizá-la às mudanças ocorridas no ambiente corporativo. Ocorre que as leis, nas antigas civilizações, eram pautadas em elementos fundamentais do direito, não eram formuladas para finalidades específicas como as nossas leis atualmente são. Outro aspecto a ser levado em consideração é que vivemos em uma sociedade em constantes mudanças, diferentemente do que ocorria nessas civilizações que existiram há mais de dois mil anos. Naquela época, as leis eram passadas de pais para filhos através das crenças. Daí que surgiu, nesse contexto, uma ideia de direito natural, em que as leis não necessitavam ser escritas. Aliás, mesmo quando começou o registro escrito das leis, estas continuavam ligadas a um naturalismo (COULANGES, 2008 apud SOARES; MOURA; MENEGHETTI, 2009). Outros tempos aqueles, não? Toda a formação referente às leis era obtida pelo filho por meio dos ensinamentos do pai. Este processo, realizado em cada família, garantia o conhecimento da lei por todos. Hoje não contamos com tal possibilidade. As leis são muito vastas e o tempo disponível para a relação entre pai e filho pode abarcar os ensinamentos éticos, mas de forma alguma conseguiria ser suficiente para repassar todas as leis importantes existentes. Capítulo 1 24 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Sendo assim, um pai, atualmente, pode passar ao seu filho a importância de conhecer e cumprir a lei, mas competirá a cada um estudar os textos legais por si, no momento oportuno. Segundo Platão, o homem não é prudente nem sábio de nascença, age quase sempre com ambição e egoísmo na convivência social. Também segundo ele, a lei somente cumprirá papel educativo se preservar a liberdade, se for repassada pelo exercício da força persuasiva (e não da coativa) sobre o cidadão (SANTOS, 2003). Todavia, o papel educativo da lei, considerado por Platão, não é observado no contexto de elaboração dos textos legais de hoje. De forma geral, a legislação atual acaba tendo características que denominamos de comando- controle, tendendo na sua maioria a um caráter repressor e fiscalizatório. Talvez pelo fato de nossa sociedade apresentar um comportamento que se distancia cada vez mais do ideal filosófico de Platão. Correspondendo ao entendimento dos nossos dias, temos a definição prática para o conceito de lei. DEFINIÇÃO As leis são acordos de caráter obrigatório, estabelecidos entre pessoas de um grupo para garantir justiça mínima, ou direitos mínimos de ser. Sem dúvida nenhuma, a lei não é a justiça, isto é, o cumprimento da lei não é o máximo que as pessoas conseguem desenvolver em prol da própria realização. A lei é um instrumento para fazer justiça. Toda lei deve ser uma ordenação da razão em vista do bem comum, promulgada por quem tem o cargo de chefia na comunidade (PONCHIROLLI, 2007). Vamos conhecer, de forma geral, como está organizado o Estado brasileiro e onde as leis são elaboradas? O Brasil é uma federação, que possui três esferas de governo: a União; os estados e o Distrito Federal; e os municípios. A Constituição Federal criou oficialmente três poderes responsáveis por manter um equilíbrio sadio na administração política do país. São eles: Capítulo 1 25 Responsabilidade Social e Meio Ambiente • o poder executivo: aqui operam o presidente, os governadores e prefeitos, juntamente com suas equipes de governo; • o poder legislativo: formado, no nível nacional, pelo Congresso Nacional bicameral (Senado e Câmara de Deputados), no nível estadual pela Assembleia Legislativa e no nível municipal pelas Câmaras de Vereadores; • o poder judiciário: formado pelos diversos tribunais. O poder executivo e o poder legislativo estão organizados de forma independente em todas as três esferas de governo (municipal, estadual e federal). Já o poder judiciário está organizado apenas nos níveis federal e estadual. A figura a seguir traz o Palácio da Justiça, um dos ambientes de atuação do poder judiciário. EXPLORANDO Conheça melhor os três poderes e as suas atribuições no site do governo federal: <www. plenarinho.gov.br/camara/com-a-palavra/os- tres-poderes-e-suas-atribuicoes>. Figura 2 – Palácio da Justiça, em Brasília Fonte: marcelometal <http://commons.wikimedia.org> Capítulo 1 26 Responsabilidade Social e Meio Ambiente O sistema jurídico brasileiro baseia-se na Constituição Federal, que foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e é a lei fundamental do Brasil. Todos as outras legislações e as decisões dos tribunais devem corresponder a seus princípios. Os estados têm suas próprias Constituições, que não devem entrar em contradição com a Constituição Federal. Os municípios e o Distrito Federal não têm constituições próprias, em vez disso, eles têm leis orgânicas. O poder legislativo é a principal fonte de elaboração das leis, embora, em determinadas questões, representantes dos poderes judiciário e executivo possam promulgar normas jurídicas. Já a jurisdição - o julgamento e aplicação final da lei - é administrada pelo poder judiciário, embora em situações raras a Constituição Federal permita que o Senado interfira nas decisões jurídicas. Existem também jurisdições especializadas como a Justiça Militar, a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral. O tribunal mais alto é o Supremo Tribunal Federal. Denominam-se fontes do direito internacional os modos pelos quais a norma jurídica se manifesta e, ao contrário do que ocorre com as leis no direito brasileiro, elas não possuem uma ordem hierárquica. As suas fontes estão nomeadas no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. São elas: • os tratados ou convenções internacionais; • o costume; • os princípios gerais de direito, comuns às nações civilizadas; • a jurisprudência; • a doutrina; • a equidade como instrumentos de interpretação e integração do direito internacional. Existem ainda duas outras fontes não nomeadas no artigo 38, que são os atos unilaterais e as deliberações das organizações internacionais. Podemos, então, concluir que as leis atualmente possuem uma forma bastante diferenciada de elaboração e aplicação daquela utilizada na antiguidade pelas civilizações gregas e romanas. Capítulo 1 27 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Sem criticar um ou outro sistema, o importante está em nos atermos na essência, no propósito das leis, que é de manter o “todo” (que pode ser uma cidade, um estado, um país ou o planeta) operando dentro de padrões adequados e satisfatórios aos seres humanos e também aos demais seres vivos, permitindo que evoluam e progridam sempre. EXPLORANDO Explore o site do Ministério das Relações Internacionais do governo federal para conhecer um pouco mais sobre os atos normativos internacionais: <www.itamaraty.gov.br>. Vamos lá! 1.2.3 Ética profissional e ética empresarial A partir de agora, vamos procurar aplicar o conceito de ética ao universo profissional e organizacional. Primeiramente, veremos a ética profissional e, em seguida, a empresarial, já que esta última abordará a relação do profissional ético com seu ambiente corporativo. A atividade profissional é a ação produtiva de bens materiais e serviços. A ética é condição essencial para o exercício de qualquer profissão. Segundo Sá (apud PONCHIROLLI, 2007), cada conjunto de profissões deve seguir uma ordem de conduta que permita a evolução harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza a regulação do individualismo perante o coletivo. As universidades formam anualmente diversos profissionais, tais como contadores, engenheiros, dentistas, médicos, administradores etc. Cada novo profissional passará a exercer sua profissão da melhor forma possível, de acordo com o conhecimento adquirido nas aulas. Todavia, para que essas profissões tenham um espírito único, capaz de promover o desempenho pleno de suas funções sem prejuízos à sociedade ou qualquer pessoa, os códigos de ética irão tratar de estabelecer deveres e proibições que orientarão o bom desempenho dos trabalhos. Os códigos de ética estruturam e sistematizam as exigências éticas de todos os profissionais no tríplice plano: de orientação, disciplina e de fiscalização. Capítulo 1 28 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Portanto, mais do que orientação, os códigos de ética também servem como instrumento de fiscalização, por meio do qual se pode embasar processos judiciais. Figura 3 – O que fazer ou não fazer no ambiente profissional? Fonte: Beck (2011) Para que possamos observar como isto acontece na prática, que tal tomarmos como exemplo o código de ética do contador? Este código foi aprovado pela Resolução CFC 803/96, do Conselho Federal de Contabilidade. Todas as referências a ele foram extraídas do documento disponível no site do Conselho: <www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_803.DOC>. Vamos, então, acompanhar de que trata o código? Já no artigo 1° é apresentado o objetivo: este código de ética profissional tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os contabilistas, quando no exercício profissional (PONCHIROLLI, 2007). Continuando, do artigo 2º até o 5° são apresentados os deveres e as proibições. Quanto aos deveres dos contabilistas, conforme exposto no artigo 2º, são alguns deles: I - exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade [...]; [...] V - inteirar-se de todas as circunstâncias antes de emitir opinião sobre qualquer caso; VI - renunciar às funções que exerce, logo que se positive falta de confiança por parte do cliente ou empregador, a quem deverá Capítulo 1 29 Responsabilidade Social e Meio Ambiente notificar com trinta dias de antecedência, zelando, contudo, para que os interesses dos mesmos não sejam prejudicados, evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia; [...] (CFC, 1996). Além disso, conforme artigo 3º, é vedado ao contabilista: [...] II - assumir, direta ou indiretamente, serviços de qualquer natureza, com prejuízo moral ou desprestígio para a classe; [...] X - prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua responsabilidade profissional; [...] XII - reter abusivamente livros, papéis ou documentos, comprovadamente confiados a sua guarda. [...] (CFC, 1996). Estes são alguns deveres e proibições contidos no código de ética do contador. Podemos observar que os itens abordam situações que podem ocorrer durante a carreira do profissional e que possuem formas de reação já bem definidas pela classe, evitando uma possível deturpação do exercício da profissão e malefícios à sociedade, em vez de benefícios. O código segue com artigos que abrangem aspectos do valor dos serviços profissionais, dos deveres em relação aos colegas e à classe e finaliza com as penalidades decorrentes de transgressões ao código. Assim como os contabilistas, cada profissão possui seu código de ética, que surge no momento da formatura expresso por todos os novos profissionais quando fazem seu juramento. Esse ritual previsto no momento da formatura evidencia a importância da ética profissional no exercício da profissão. Vamos agora observar a ética do ponto de vista das organizações? Você sabia que muitas empresas possuem seus próprios códigos de ética? Sim, são documentos que visam o bom andamento dos trabalhos dos profissionais, dentro dos princípios éticos e morais. A razão de ser do código de ética, então, é fornecer critérios ou diretrizes para que as pessoas descubram formas éticas de se conduzir. É mais para orientar do que solucionar os dilemas éticos da organização (PONCHIROLLI, 2007). Capítulo 1 30 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Observe que a solução dos problemas relacionados à falta de comportamento ético não será dada por meio do código, pois ela exige a atuação das pessoas. O código vai nortear o assunto, mas os problemas serão resolvidos pessoalmente, por meio de conversas e diálogos em que caberá ao líder compreender os motivos pelos quais o código de ética não está sendo cumprido e tomar as atitudes necessárias à readequação dos trabalhos. A maioria dos códigos de ética das organizações aborda temas como: conflitos de interesse, conduta ilegal, segurança dos ativos da empresa, honestidade nas comunicações dos negócios da empresa, denúncias, suborno, entretenimento e viagem, propriedade de informação, contratos governamentais, responsabilidade de cada parceiro, assédio moral, assédio sexual, uso de drogas e álcool (PONCHIROLLI, 2007). A ética é importante no universo organizacional, já que as empresas, as organizações ou instituições são agentes da sociedade que dependem de homens de caráter bem formado, livres, inteligentes, competentes e eficazes (PONCHIROLLI, 2007). As pessoas são essenciais dentro das organizações. Não substituímos o trabalho dos seres humanos pelos computadores, sendo os recursos tecnológicos somente ferramentas que fornecem o suporte para facilitar ou apoiar as ações humanas. Assim, as pessoas são o “capital” de maior valor dentro de uma empresa e para que este “capital” mantenha a qualidade necessária, deve ser cultivado e orientado de acordo com os preceitos éticos. As virtudes integrantes de uma organização definem seu clima ético, componente fundamental da cultura empresarial. Conforme Ponchirolli (2007), os clientes e parceiros acabam por solidificar sua confiança na empresa, pela percepção que têm de sua cultura. Eles esperam encontrar, por exemplo, muita dedicação aos clientes, cooperação com a comunidade, respeito às pessoas, trabalho em equipe, espírito empreendedor e integridade nos profissionais de todos os níveis hierárquicos. Vamos refletir um pouco sobre isso. O que é cultura empresarial? Capítulo 1 31 Responsabilidade Social e Meio Ambiente O que faz alguém gostar de trabalhar em uma empresa e ter orgulho de fazer parte dela? O que constrói a fidelização de um cliente ou a prestatividade de um fornecedor? As respostas para estas perguntas não estão restritas ao caráter financeiro. Não é somente um bom salário o que vai trazer satisfação a um funcionário. Você deve concordar que não é somente o melhor preço que vai fidelizar um cliente ou, ainda, o pagamento em dia de um fornecedor não é o único requisito para torná-lo parceiro da empresa. Uma empresa sólida está informada sobre a política financeira aplicada as suas atividades e se esforça por manter-se dentro dos parâmetros de mercado. Todavia, uma empresa sólida também possui e alimenta uma cultura interna de valores morais que possam satisfazer os anseios humanos das pessoas com as quais se relaciona. Ela compreende o ser humano e dedica esforços para construir e manter um clima no trabalho digno a ele. É este clima de atenção, respeito e solidariedade que vai unir as pessoas e fazer com que elas, juntas, viabilizem a solidez da empresa no mercado. Assim, não será qualquer vento ou instabilidade do mercado que vai fazer estremecer suas estruturas. Essa é uma empresa sólida e apta a enfrentar as intempéries do mercado. Para Arruda (apud PONCHIROLLI, 2007), cada organização estabelece um sistema de valores, explícito ou não, para que haja uma homogeneidade na forma de conduzir questões específicas e relativas a seus clientes e parceiros. Saiba que a ética nos negócios reflete os hábitos e as escolhas que os administradores fazem no que diz respeito às suas próprias atividades e às do restante da organização. Conforme Ponchirolli (2007), a ética empresarial leva em consideração três áreas básicas de tomada de decisão gerencial: • escolhas quanto à lei; • escolhas sobre os assuntos econômicos e sociais estão além do domínio da lei; • escolhas sobre a preeminência do interesse próprio. Capítulo 1 32 Responsabilidade Social e Meio Ambiente É importante considerar o papel destacado do líder na implementação da cultura ética dentro de uma empresa. Esse sujeito, ou essas pessoas, que vão variar em número de acordo com o porte da empresa, têm a atribuição de refletir os valores éticos da empresa. Vamos pensar sobre isso. Por exemplo, um filho respeita, segue fielmente as ordens e convive bem com um pai que possui baixa moral? O que acontece nas famílias nas quais o pai é alcoólatra, bate na esposa e não trabalha para suprir as necessidades financeiras do lar? Esta família de desestruturará. Na melhor das hipóteses, o filho tentará se firmar na vida elegendo outro líder ou outro referencial para seguir em frente e ter êxito, mas não podemos descartar a possibilidade de ele se tornar uma pessoa com sérios problemas, com uma vida cheia de dificuldades oriundas de sua falta de estrutura familiar. Para uma organização, seus líderes são como pais (ou mães) de família, são exemplos e são observados por todos os seus subordinados. Caso a liderança não tenha suporte ético suficiente para promover uma cultura organizacional sadia, a empresa tenderá à ruptura, cedo ou tarde, mesmo que tenha excelentes funcionários. Líderes não precisam ser perfeitos, precisam ser justos, começando consigo mesmos. Saber identificar seus erros e corrigi-los o mais rápido possível é o caminho ideal. Aqui podemos aplicar aqueles conhecidos ditos populares: só não erra aquele que não faz. Ou ainda: errar uma vez é normal, persistir no erro é burrice. Uma das principais questões da ética nos negócios e para o administrador preocupado em sustentar altos padrões de comportamento empresarial não é considerar todos os homens e mulheres de negócio antiéticos. A supervisão do cumprimento das regras é necessária, mas não assegura uma conduta ética nos negócios. A tarefa urgente de todo líder empresarial é concentrar- se não apenas naquilo que não deve ser feito, mas também naquilo que o administrador ético deve pensar em termos morais e econômicos. É nesse ponto que a liderança moral verdadeira vai acontecer nas empresas (PONCHIROLLI, 2007). Capítulo 1 33 Responsabilidade Social e Meio Ambiente A velocidade com a qual a comunicação é feita hoje em dia é um elemento bastante importante a ser considerado. Em um mundo onde a comunicação é valor e os efeitos da globalização pesam sobre a administração, ao mesmo tempo em que a impulsionam para a transformação sistemática, surge a reflexão sobre a importância da ética nos negócios. Muitas vezes, são necessárias apenas algumas horas para destruir uma imagem que a empresa leva anos para construir. Um cliente mal atendido pode, por exemplo, disparar um e-mail para sua lista de contatos contendo sua crítica à organização e contando mil e uma coisas que o desagradaram sobre o produto ou a forma como foi atendido. Até se provar a veracidade ou calúnia sobre os fatos, ou ainda até se identificar os reais culpados, a situação já saiu do controle. Então, a empresa gastará uma quantidade de recursos, tanto humanos quanto financeiros, o que pode provocar um impacto significativo em sua gestão. Portanto, criar e manter um ambiente ético nas empresas é elemento importante para fornecer a ela um componente de estabilidade, prevenindo problemas e possibilitando uma atuação mais efetiva quando eles surgirem. 1.2.4 sociedade e cidadania Vamos agora estudar um pouco sobre o conceito de sociedade e de cidadania? Conhecer e refletir sobre esses conceitos nos fará compreender melhor a natureza da sociedade e do comportamento de seus indivíduos. DEFINIÇÃO Segundo o dicionário Aurélio, sociedade é o conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns e que são unidas pelo sentimento de consciência do grupo (FERREIRA, 1986). Nesta definição temos apresentadas as características do elemento sociedade, mas por que, afinal, as pessoas vivem em sociedade? Não poderiam viver sozinhas? Quais as necessidades de uma sociedade? Como se organiza uma? Capítulo 1 34 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Em sua obra A República, Platão conjetura sobre a fundação de uma cidade, partindo, para isso, de uma associação voluntária de homens. Ou seja, ele considera que viver em sociedade é um ato voluntário das pessoas, foi uma ação natural do comportamento das pessoas. Mas vamos analisar isso mais detalhadamente. Conforme Ponchirolli (2007), do ponto de vista funcional, uma sociedade organizada nasce porque cada um de nós não é autárquico, isto é, não se basta a si mesmo e tem necessidade dos serviços de muitos homens. Em uma sociedade, são imprescindíveis os serviços de todos aqueles que provêm as necessidades materiais, desde o alimento até as vestes e habitação. Esta primeira classe é constituída de homens nos quais prevalece o aspecto “concupiscível” da alma. Ainda conforme o mesmo autor, essa classe social é boa quando nela predomina a virtude da “temperança. Mas o que significa a virtude da temperança? Temperança é a virtude de quem é moderado, de quem modera apetites e paixões. Em outras palavras, podemos dizer ainda que temperança é: “sobriedade, comedimento, economia, parcimônia” (FERREIRA, 1986). Assim, é destacado que, para o bom desempenho da classe de pessoas abordada anteriormente, seus componentes sejam atentos no controle de seus desejos e não permitam que estes governem seu modo de vida. Também em A República, Platão escreve que se todos os homens satisfizessem as suas próprias necessidades (ou seja, se cada um confeccionasse sua própria roupa, armas, ferramentas, habitação e cultivassem a terra etc.), todas as funções e artigos seriam mal feitos ou grosseiramente confeccionados, exceto na especialidade própria de cada um. Platão soluciona o problema fazendo canalizar as atividades por profissões. Por exemplo, o sapateiro faria os sapatos para todos, o mesmo se passando para as outras profissões. Então, todas as coisas seriam bem feitas e cada um encontrá-las-ia tão satisfatórias como se tivesse tido cem vezes mais dinheiro, tempo e habilidade do que fez uso na realidade. Capítulo 1 35 Responsabilidade Social e Meio Ambiente O fato é que a sociedade fez participar cada um na confecção de todos os bens, seus e dos outros. Em segundo lugar, na sociedade são necessários os serviços de alguns homens responsáveis pela guarda e defesa da cidade. A segunda classe é constituída de homens nos quais prevalece a força “irascível” e volitiva da alma. A virtude dessa classe social deve ser a fortaleza ou a coragem, destaca Ponchirolli (2007). Vamos esclarecer melhor essa questão? As pessoas que cuidam da guarda da cidade devem vigiar a sua propensão à ira, a facilidade de irritação, pois trata-se de guerreiros, de homens destinados ao combate, que andam armados e possuem a autorização para o uso das ferramentas de combate. Sendo assim, a eles cabe o exercício da ação pautada no controle consciente dos atos, pois agir de forma descontrolada poderá acarretar em sérios riscos à sociedade. É compreensível que a virtude da classe dos que guardam a cidade deva ser a fortaleza, pois sua posição na sociedade tenderá a colocá-los em situações difíceis, possivelmente que impliquem em sacrificar suas próprias vidas em detrimento da segurança da cidade. O que acontecerá se homens covardes fizerem parte dessa classe? Estaria a cidade segura? Ao final, na sociedade, é necessária a dedicação de alguns poucos homens que saibam governar adequadamente a cidade. A terceira classe então é formada pelos governantes, que deverão ser aqueles que tenham amado a cidade mais do que os outros, tenham cumprido com zelo sua própria missão e, especialmente, tenham aprendido a conhecer e contemplar o bem. Conforme Platão (apud PONCHIROLLI, 2007), nos governantes, portanto, predomina a alma racional, e sua virtude específica é a sabedoria. A cidade necessita, então, de três classes sociais: • a dos lavradores, artesãos e comerciantes; • a dos guardas; • a dos governantes. Capítulo 1 36 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Quando cada cidadão e cada classe social desempenham as funções que lhes são próprias da melhor forma, e fazem aquilo que por natureza e por lei são convocados a fazer, então se realiza a justiça perfeita. Existe, assim, uma correspondência harmônica entre as virtudes da cidade e as virtudes do indivíduo. Visto isso, agora conseguimos vislumbrar alguns elementos-chave que nos fazem compreender melhor a sociedade e suas necessidades. Vimos que existem diferentes necessidades na sociedade e que essas demandas devem ser supridas por aqueles que melhor podem oferecê-las, de acordo com sua natureza. Tal organização permite a configuração de uma sociedade harmoniosa, adequada. É importante não fazermos julgamento sobre a relevância de cada uma das classes sociais, de forma a darmos mais valor a uma em detrimento das outras. A questão fundamental é compreender que cada uma desempenha um papel específico, nem pior nem melhor que o outro, apenas diferente. Agora, para continuar, que tal acompanharmos uma definição de cidadania? DEFINIÇÃO Cidadania é a qualidade ou estado do cidadão. Por sua vez, cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos do Estado, ou no desempenho dos seus deveres para com este (FERREIRA, 1986). Vemos aqui uma relação pautada em direitos e deveres. A cidadania é a qualidade atribuída àqueles que exercem seus papéis na sociedade e que, por outro lado, também se beneficiam dos seus direitos, em uma relação equilibrada e justa. É comum nos depararmos com a definição de cidadania relacionada a uma empresa, por meio de expressões do tipo: empresa tal é uma empresa cidadã. Mas o que esta expressão significa realmente? Ao intitular uma empresa ou instituição como cidadã, a denominação está se referindo à empresa como executora de atividades em prol da sociedade, Capítulo 1 37 Responsabilidade Social e Meio Ambiente tendo em vista que, cada vez mais, a atuação empresarial vem extrapolando seus ambientes internos. Geralmente, essas empresas possuem atividades e projetos sociais, dedicam recursos financeiros e humanos para o benefício da sociedade, nas diversas áreas em que podem ser aplicados. Com isso, estamos próximos de encerrar este primeiro capítulo. Mas será que uma empresa pode intitular-se cidadã sem observar plenamente a questão dos direitos humanos e trabalhistas? Pois é justamente este o tema que você acompanha na seção seguinte. 1.2.5 Direitos humanos e leis trabalhistas Para começar esta seção, vamos compreender o significado e a origem dos direitos humanos e das leis trabalhistas? Se estudarmos a fundo o conceito dos direitos humanos, veremos que ele é variável de acordo com a concepção político-ideológica de cada um. Em vista disso, o objetivo aqui é esclarecer o tema de forma abrangente para que você possa identificar essas tendências e compreender a origem das diferenciações. Segundo Araújo Filho (1997), podemos ter três grandes concepções para fundamentar filosoficamente os direitos de uma pessoa: concepções idealistas, concepções positivistas e concepções crítico-materialistas. Vamos agora ver cada uma delas. • Concepção idealista: fundamenta os direitos humanos a partir de uma visão abstrata que pode se manifestar na razão natural humana. Diz- se naturais por se entender que se tratam de direitos inatos, ou seja, inerentes à natureza do homem, direitos que cabem ao homem só pelo fato de ser homem. O direito natural é ligado à natureza humana porque expressa suas inclinações racionais de maneira que a lei venha determinar ou manifestar o que a reta razão concebe como belo e bom. Segundo esta concepção, onde houver vida em comum encontraremos princípios que não são contingentes ou variáveis (ARAÚJO FILHO, 1997). • Concepção positivista: é aquela que considera fundamentais os direitos reconhecidos pelo Estado, por meio da sua ordem jurídica. Capítulo 1 38 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Considera os direitos humanos não como um produto ideal de um poder superior ao do Estado – como a razão ou a natureza – mas, sim, como a expressão genuína da vontade estatal, cuja existência e efetividade estariam condicionadas ao processo de legitimação do poder público. De acordo com esta concepção, qualquer direito somente existiria quando previsto em lei, que passa a assumir a condição de único valor. E como o direito repousa exclusivamente na lei, não haveria por que cogitar-se acerca de uma ordem ideal de direitos (ARAÚJO FILHO, 1997). Vemos uma clara diferenciação entre a concepção idealista e positivista, certo? Na concepção idealista, os direitos humanos são de tal forma fundamentais que não precisam estar expressos em lei. Já na concepção positivista, a existência da lei é condição primeira à existência do direito, ao passo que, não estando previsto em lei, ele não existe. • Concepção crítico-materialista: esta concepção foi inspirada na obra de Marx. Os direitos considerados fundamentais não passavam da expressão formal de um processo político-social e ideológico realizado por lutas sociais no momento da ascensão da burguesia ao poder político (ARAÚJO FILHO, 1997). Karl Heinrich Marx (1818-1883): filósofo, economista e militante revolucionário alemão de origem judaica nascido em Trier, na Renânia, então província da Prússia, cujo pensamento de coletivizar as riquezas e distribuir justiça social mudou radicalmente a história política da humanidade, gerando as revoluções socialistas. Fonte: <http://commons. wikimedia.org> BIOGRAFIA De acordo com Araújo Filho (1997), para a concepção crítico-materialista, os direitos humanos, por mais fundamentais que sejam, nasceram de forma gradual em determinadas circunstâncias, não todos de uma vez e nem de Capítulo 1 39 Responsabilidade Social e Meio Ambiente uma vez por todas: nasceram quando deveriam ou poderiam nascer, como manifestação direta das necessidades de tal ou qual época e intentos de satisfazer estas necessidades. Vejamos aqui que, para esta concepção, os direitos humanos não têm sua origem nem nas leis naturais que regem a existência dos seres humanos, nem no Estado, como elemento superior capaz de definir o que é melhor para a sociedade, mas sim na luta das classes sociais registradas ao longo do tempo, sem as quais esses direitos não teriam sido assegurados da forma como foram estabelecidos nas declarações internacionais e constituições federais dos países. Os direitos humanos são universais, indivisíveis e interdependentes. Vamos entender o que significam estas características, conforme a Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal (2011). • Universais: são universais porque são atribuídos igualmente a todas as pessoas, sem distinção, em todo o planeta. • Indivisíveis e interdependentes: porque somente sua efetivação integral e completa garante que o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana seja realizado. Os direitos econômicos e sociais, por exemplo, não podem ser protegidos com prejuízo dos direitos civis e políticos concernentes à liberdade. Sendo assim, os direitos humanos são válidos para todos, brasileiros, africanos ou norte-americanos, apesar das diferenças sociais e políticas existentes. Todavia, fica evidente que existe uma distância a ser percorrida até que eles sejam realmente efetivados conforme concebidos, certo? Na esfera internacional, os principais documentos existentes para a promoção e defesa dos direitos humanos são: • a Declaração Universal dos Direitos Humanos; • o Pacto dos Direitos Civis e Políticos e seus protocolos adicionais; • o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; • a Convenção Americana dos Direitos Humanos. Há, ainda, pelo menos 13 convenções ou declarações da Organização das Nações Unidas (ONU) que focalizam temas específicos como racismo, direitos Capítulo 1 40 Responsabilidade Social e Meio Ambiente da mulher, criança, trabalhadores, migrantes, tortura, desaparecimentos forçados, povos indígenas e pessoas com deficiência (SEDH, 2011). No Brasil, a Constituição Federal de 1988 incorporou os direitos consignados na Declaração Universal, assegurando a todos os brasileiros que estes direitos fossem garantidos pelo Estado com o apoio de toda a sociedade (SEDH, 2011). A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/ PR) é responsável pela articulação interministerial e intersetorial das políticas de promoção e proteção aos direitos humanos no Brasil. Criada em 1977, dentro do Ministério da Justiça, foi alçada ao status de ministério em 2003. As principais atribuições da SDH/PR são (SDH, 2011): • Propor políticas e diretrizes que orientem a promoção dos direitos humanos, criando ou apoiando projetos, programas e ações com tal finalidade; • Articular parcerias com os poderes Legislativo e Judiciário, com os estados e municípios, com a sociedade civil e com organizações internacionais para trabalho de promoção e defesa dos direitos humanos; • Coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos segundo as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos; • Receber e encaminhar informações e denúncias de violações de direitos da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, da população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e de todos os grupos sociais vulneráveis; • A SDH/PR atua como Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. Conforme você viu, os direitos dos trabalhadores estão inseridos nos direitos humanos, já que não é possível dissociar o homem da sua porção trabalhadora. Portanto, depois de conhecermos a diferentes formas de concepção dos direitos humanos, os principais documentos internacionais e a organização deste tipo de direitos aqui no nosso país, passamos então a estudar as leis trabalhistas. O direito do trabalho é a parte do ordenamento jurídico que rege as relações de trabalho subordinado, prestado por uma pessoa a um terceiro, sob a dependência deste e em troca de uma remuneração contratualmente ajustada (SAAD, 2011). Muitos autores afirmam que a consolidação das leis do trabalho é o diploma legal mais difundido no Brasil. Esta afirmação é correta porque não há, entre nós, quem não tenha interesse em conhecer as normas que regulam Capítulo 1 41 Responsabilidade Social e Meio Ambiente as relações de trabalho nela previstas, já que todos somos (ou pretendemos ser) empregados ou empregadores, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. DEFINIÇÃO Segundo a definição de Gallart Folch (1936, apud SAAD, 2011): direito do trabalho é o conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações de trabalho entre patrões e operários e, além disso, outros aspectos da vida destes últimos, mas precisamente em razão de suas condições de trabalhadores. O direito do trabalho abrange não apenas o contrato individual, mas também a organização sindical, o direito administrativo do trabalho, o direito internacional do trabalho, convenções e acordos coletivos. Para você ter uma ideia do conteúdo que abrange o direito do trabalho, vamos citar alguns itens expressos nas leis trabalhistas: • identificação profissional (carteira de trabalho, anotações, livros de registro); • a duração do trabalho (jornada de trabalho, período de descanso, trabalho noturno); • o salário mínimo (conceito, as regiões, fixação); • as férias anuais (duração, remuneração, prescrição); • condições de trabalho (são tratadas diversas profissões de forma específica, tais como professores, químicos e bancários); • proteção do trabalho da mulher (discriminação, métodos e locais, maternidade); • proteção do trabalho do menor (duração, carteira de trabalho e previdência social, deveres dos responsáveis); • contrato individual do trabalho; • enquadramento sindical; • convenções coletivas de trabalho; • comissões de conciliação prévia; • ministério público do trabalho; • processo judiciário do trabalho; • serviços auxiliares da justiça do trabalho. Capítulo 1 42 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Com isto, encerramos aqui o primeiro capítulo da nossa disciplina de Responsabilidade Social. Embora sejam temas que, à primeira vista, possam parecer desconexos, estão todos relacionados. Como você pode ter percebido, a lei prescinde da ética para ser justa. É a mesma ética que vai ditar relações profissionais e empresariais harmoniosas, assim como resulta em uma sociedade equilibrada. Se é ética, a sociedade é também cidadã. Um lugar justo, no qual não apenas florescem, mas são respeitados os direitos humanos e trabalhistas. 1.3 aplicando a teoria na prática Agora, chegou o momento de aplicarmos o que estudamos até aqui em um exemplo prático. Imagine a seguinte situação: um colega seu de trabalho está precisando de sua ajuda para terminar um relatório, cujo prazo de entrega está expirando. Você sabe fazer o relatório, mas está com suas atividades programadas em sequência e não dispõe de muito tempo para distrações, o que significa que precisa ser bem eficiente para acabar com todas as demandas que estão sobre sua mesa. Mas seu colega está numa situação crítica, ele precisa entregar o relatório e não sabe como fazer. Você deve parar o que está fazendo para ajudá-lo? Por que você deveria ajudá-lo? Seria ético deixar seu colega sem ajuda? E, mais importante, como você pode realmente ajudá-lo? De acordo com o que estudamos, sim, é seu dever parar o que está fazendo para ajudá-lo. Isto porque no ambiente de trabalho devemos procurar um clima de cooperação, não de competição. Assim, toda a equipe cresce junto. Seria falta de ética você se negar a ajudar um membro da sua equipe. Capítulo 1 43 Responsabilidade Social e Meio Ambiente Neste exercício de ajudar seu colega de trabalho, você deve procurar aplicar a virtude do comportamento humano chamada liberdade e fugir dos extremos que são chamados de prodigalidade ou avareza. Se em vez de ajudá-lo você se negar a parar o que está fazendo, você estará agindo com avareza. Entretanto, perceba que mesmo ajudando-o, você o fizer tomando tempo demasiado, você estará agindo num outro extremo chamado de prodigalidade. Na situação aqui apresentada, a qualidade de sua ação está no ato de identificar a necessidade de seu colega e orientá-lo de forma objetiva, pois você também precisa fazer o que está sobre sua atribuição. 1.4 para saber mais título: a república Autor: Platão Editora: Martin Claret Ano: 2007 Esta obra deixada por Platão aborda vários temas, todos subordinados à questão central da justiça. É uma das obras-primas de Platão e da literatura universal, leitura obrigatória para aqueles
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