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Quais foram os efeitos da Grande Depressão sobre a política econômica brasileira? Que mecanismos de defesa do café foram utilizados durante a Grande Depressão? De que forma a desvalorização cambial atendia ao objetivo de defesa do café?
O Brasil era o principal produtor de café já no século XIX e atuava no mercado internacional como semi-monopolista, com grande vantagens comparativas. Por outro lado, a única alternativa para alocar o capital obtido da cafeicultura era o reinvestimento na produção de mais café, resultando em crises de superprodução. Assim, desenvolveram-se diversos mecanismos de defesa do café, um dos quais, a depreciação da moeda nacional nos momentos de queda dos preços de exportação, procedimento que diminuía as perdas de receitas dos cafeicultores. Os mecanismos foram se sofisticando, tal que o governo passou a comprar os excedentes de produção financiada por empréstimos externos.
Quando a crise mundial de 1929 atingiu a cafeicultura, esta se encontrava em situação extremamente vulnerável. Para uma produção de 28 milhões de sacas, apenas 14 milhões foram exportadas. A política de defesa do café, sem mecanismos efetivos para conter a superprodução, só agravava esse desequilíbrio. Nossa economia ainda era imensamente dependente do café – uma de suas únicas rendas – portanto, mais uma vez, lançou-se mão do mecanismo cambial para sua defesa. Entretanto, o preço continuava caindo.
Evidentemente a preservação da renda dos cafeicultores era paga pelo conjunto da sociedade (“socialização das perdas”, nos termos de Celso Furtado). Essas medidas não foram suficientes, assim, o governo tomou a decisão de utilizar uma solução econômica lógica, embora aparentemente absurda: a diminuição da oferta de café pela queima de excedentes (cuja compra era financiada por impostos sobre a exportação de café e pela pura e simples expansão do crédito). Devido a esse mecanismo de defesa de renda da cafeicultura, a queda na renda nacional foi da ordem de cerca de 30%, um valor razoável se comparado à economia americana que declinara 50%.
Para Furtado, o financiamento público da compra de excedentes anteciparam outras intervenções estatais, com o objetivo de manutenção do nível de emprego e da demanda agregada e em função disso, já em 1933 a renda nacional voltou a crescer com níveis de investimento equivalentes aos de 1929. Considerando que a economia mundial só voltou a dar sinais de recuperação em 1934, pode-se inferir que a recuperação econômica se deu por fatores internos.
 Que papel assumiu o mercado interno após a Grande Depressão?
Durante a Depressão o preço dos importados subiu cerca de 33%, causando uma redução das importações na ordem de 60%. Parte da procura, antes satisfeita com importações, passou a ser atendida pela oferta interna. Assim, a demanda interna passaria a ter importância crescente como elemento dinâmico nessa conjuntura de recessão mundial. Tratava-se de uma situação nova com a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo de formação de capital e no conjunto de investimentos do país.
A crise do café afugentava os capitais investidos na cafeicultura. Parte desses capitais foi absorvida pela própria agricultura exportadora, particularmente o algodão.
No lado da indústria, embora o aumento da produção requeira o aumento da importação de máquinas, isso não foi necessário, pois era possível usar a capacidade ociosa preexistente, como no caso da indústria têxtil. Posteriormente, foi possível importar equipamentos usados mais baratos, decorrentes das fábricas fechadas durante o período da Depressão. Num terceiro momento, o crescimento da procura por bens de capital e o forte aumento dos preços de importação desses bens, devido à desvalorização cambial, criaram condições propícias à instalação de uma indústria de bens de capital no país.
Como resultado, a renda nacional aumentou 20% no período, enquanto a renda per capita subiu 7%. Na mesma época, os Estados Unidos ou países de desenvolvimento semelhante ao Brasil que seguiram políticas ortodoxas de combate à crise, ainda estavam em depressão em 1937.
 O que caracteriza o modelo de industrialização dos substituição de importações?
Segundo Maria da Conceição Tavares, a Grande Depressão foi um momento de ruptura com o modelo primário-exportador da economia brasileira em favor de um modelo de desenvolvimento voltado para o mercado interno. O conceito de substituição das importações, além de significar o início da produção interna de um bem antes importado, denota também uma mudança qualitativa na pauta de importações do país, ou seja, conforme aumenta a produção interna de bens de consumo anteriormente importados, aumenta a importação de bens de capital e bens intermediários necessários a essa produção.
 Explique o conceito de industrialização restringida:
Apesar de a dinâmica da economia brasileira ter passado, a partir dos anos 30, a ser determinada internamente, tratava-se de um processo de industrialização ainda incompleto, uma vez que os setores produtores de bens de capital e de bens intermediários, os chamados bens de produção, eram muito pouco desenvolvidos no país. Por isso, João Manuel Cardoso de Mello denominou esse período, que se estende até o início da implantação do Plano de Metas no governo JK de “industrialização restringida”. Nesse quadro, as bases técnicas e financeiras da acumulação são insuficientes para que se implante, num golpe, o núcleo fundamental da indústria de bens de produção, que permitiria à capacidade produtiva crescer adiante da demanda, autodeterminando o processo de desenvolvimento industrial.
 Qual foi o projeto nacional que se tentou implantar durante o Estado Novo?
Além de representar o fim da descentralização republicana, fruto do próprio enfraquecimento da oligarquia cafeeira, o Estado Novo foi uma tentativa de afirmação de um projeto nacional, no qual caberia ao Estado assumir o papel de indutor do desenvolvimento industrial, quer implantando agências governamentais para a regulação das atividades econômicas, quer estabelecendo uma nova legislação trabalhista, quer ainda assumindo o papel de produtor direto, com a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, marco do desenvolvimento industrial nacional.
Analistas observam que, nos processos de industrialização do século XX, período do capitalismo monopolista, com predomínio das grandes corporações, as escalas técnicas e financeiras requeridas para o avanço da industrialização estavam muito acima das forças dos capitalistas locais. Como na década de 30 ainda não fazia parte da estratégia das empresas capitalistas produzir em outros países (especialmente nos países subdesenvolvidos), a única possibilidade de implantar grandes projetos de indústrias de bens de produção concentrava-se na ação estatal – essa era a proposta de Vargas.
Logo após o golpe de 1937, o forte aumento das importações provocou escassez de divisas e forçou o governo a adotar o monopólio cambial, com uma taxa única desvalorizada e com um sistema de controle cambial similar ao vigente entre 1931-34. O objetivo imediato era reduzir o nível agregado de importações. Era uma repetição de uma situação comum na economia brasileira: a convivência quase permanente com crises cambiais, permeadas por alguns momentos particulares de tranquilidade relativamente às divisas externas e à capacidade de cumprimento dos compromissos assumidos pelo país.
Somente em 1941 a balança comercial passou a ser superavitária, com o aumento das exportações e recuperação dos preços do café. Apesar da diminuição das importações, a produção industrial, após sofrer forte queda no crescimento, voltou a crescer mesmo com a séria escassez de bens de capital importados.
Como evoluiu o crescimento industrial do país no pós-guerra, durante o Governo Dutra?
A posição liberal inicial do governo Dutra, bem como sua contraposição ao intervencionismo de Vargas, apoiava-se no que Besserman Vianna chama de “ilusão de divisas” (pois o volume de reservas internacionais do país parecia bastante confortável)e na certeza de que o Brasil era credor político dos EUA por sua colaboração na 2a GM. Acreditava-se que uma política liberal de câmbio seria capaz de atrair investimentos diretos estrangeiro, equilibrando o estruturalmente o balanço de pagamentos brasileiro.  Assim, o mercado livre foi instituido, com a abolição das restrições e do controle dos fluxos de divisas por parte do governo (existentes desde os anos 1930). O resultado foi a queima de divisas, só em parte gasta com importação de máquinas e matérias-primas essenciais.
Em 1947, diante da impossibilidade de sustentar a política anterior, voltam os controles cambiais, enquanto o país enfrente uma escassez de moedas fortes. O sistema de licenciamento de importações reduziu o déficit comercial.
A conjugação de uma taxa de câmbio sobrevalorizada com controle cambial, a partir de 1947, produziu um triplo efeito em benefício da industrialização substantiva de importações:
Subsídio às importações de bens de capital e bens intermediários
Protecionismo contra importação de bens competitivos
Aumento da rentabilidade da produção para o mercado interno
Além disso, a política do Banco do Brasil de crédito à indústria foi bastante importante.
a) A Grande Depressão foi um evento durante o qual a economia dos EUA passou por uma violenta recessão após a quebra da Bolsa de Nova York. Nesse contexto, as empresas produziram em quantidades que não equivaliam ao poder de compra do mercado e, por esta razão, tiveram que abaixar o preço dos produtos e despedir milhares de trabalhadores. No mercado externo, a Grande Depressão pôde ser sentida nas nações europeias que dependiam fortemente dos recursos financeiros emprestados pela economia norte-americana. A partir da crise, os governos europeus também foram vitimados pelo retrocesso da economia dos Estados Unidos da América.
b) As implicações da Depressão na economia brasileira foram bastante significativas. O descontrole da economia norte-americana reduziu drasticamente os lucros obtidos com a exportação do café. Por esse mesmo motivo, vários setores do comércio e da indústria também foram obrigados a fechar postos de trabalho, tendo em vista que também dependiam dos lucros do café para ampliarem.
 Explique quais são os setores ou departamentos da economia:
Os setores ou departamentos da economia seriam dois: o departamento I, produtor de bens de capital e de bens intermediários, isto é, os bens de produção; e o departamento II, produtor de bens de consumo. O departamento II poderia ainda ser subdividido em um departamento produtor de bens de consumo dos capitalistas (bens de consumo de luxo ou bens duráveis) e um departamento produtor de bens de consumo dos trabalhadores (bens simples ou não duráveis).
A análise departamental está presente nas mais interessantes tentativas de interpretação dos rumos da economia brasileira. Paul Singer, por exemplo, especialmente em Desenvolvimento e crise no Brasil e em A crise do milagre, procura articular essa análise departamental no entendimento do crescimento da economia brasileira. O desequilíbrio departamental, com um desenvolvimento insuficiente do departamento I, resultaria em pontos de estrangulamento que limitariam e diminuiriam o ritmo de crescimento, conduzindo a economia à crise.
 Quais foram as bases econômicas da nova tentativa de Vargas de implementar um projeto nacional no início dos anos 1950?
Numa conjuntura marcada pela Guerra Fria, os interesses estratégicos norte-americanos estavam concentrados na reconstrução europeia e japonesa, logo, aliados latino-americanos como o Brasil foram deixados praticamente à própria sorte. Dessa forma, dependiam estritamente do mercado e dos movimentos privados de capitais internacionais para o financiamento de seus déficits em transações correntes e de seus projetos desenvolvimentistas. Nesse momento, houve um fortalecimento dos movimentos anticoloniais e de afirmação nacional em um grande número de países. Ganhou destaque a questão do desenvolvimento econômico. Com Vargas de volta ao poder pela via democrática, há uma nova tentativa de superação nacionalista dos estrangulamentos do PSI e dos entraves à afirmação de um projeto nacional, apesar das contradições e limitações da proposta política getulista.
No início da década de 1950, Getúlio lança uma tentativa de implantar as bases de uma indústria pesada no país na forma de empreendimentos estatais, consubstanciados na criação da Petrobras, na entrada em operação da Companhia Siderúrgica Nacional, na tentativa de pôr em funcionamento a Companhia Nacional de Álcalis, na já modesta performance da Companhia Vale do Rio Doce e no projeto da Eletrobrás, enviado ao Congresso e apenas aprovado dez anos depois.
A proposta nacionalista de Vargas restringiu as possibilidades de financiamento externo desses projetos eo a participação de capitais estrangeiros na forma de investimentos diretos. Era uma acumulação financiada internamente pelas altas taxas de lucro das atividades industriais impulsionadas pela política de valorização cambial e pela transferência dos excedentes do setor agroexportador para a indústria.
A criação do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, que ganharia o S de “Social” no governo Sarney) em 1952, financiado por intermédio de um adicional sobre o Imposto de Renda, foi fundamental para o financiamento de projetos de infra-estrutura de transporte e energia e, posteriormente, de projetos de implantação industrial.
Em 1953, a Instrução 70 da Sumoc condicionou as importações aos interesses industriais, mediante o leilão de divisas com câmbio diferenciado conforme a essencialidade da importação (os leilões passaram a representar uma importante fonte de arrecadação do Estado e mantinham a política cambial de favorecimento às indústrias substitutivas de importações).
A tentativa de implementar o departamento I enfrentou dificuldades típicas de um projeto nacionalista: aumentaram as divergências políticas entre a base de sustentação do governo. Os trabalhadores procuravam participar dos ganhos de produtividade e os empresários demonstravam seu descontentamento com a Instrução 70, em função do aumento dos custos para importação. A nova crise que enfrentaria a agricultura cafeeira também seria creditada ao governo e seria capitalizada pela oposição. O desfecho da crise foi o suicídio de Vargas e a morte de um projeto nacional que não chegou a ser implantado.
Para Fiori, houve com Vargas um prussianismo desfigurado, em que o Estado Nacional não conseguia se articular com a burguesia industrial em prol da construção de uma sociedade industrial avançada.
 Descreva a atuação do governo Café Filho e da gestão de Eugênio Gudin no Ministério da Fazenda:
Café Filho, que assumiu após o suicídio de Vargas, executou duas políticas econômicas claramente distintas, consubstanciadas em dois ministros da Fazenda, Eugênio Gudin, economista ultraliberal e o banqueiro José Maria Whitaker, representante da cafeicultura paulista.
Gudin podia ser considerado a antítese do Governo Vargas: inimigo das propostas desenvolvimentistas e defensor de política econômica ortodoxa. Priorizava políticas antiinflacionárias baseadas no controle da emissão de moeda e do crédito. Sua nomeação deveu-se ao prestígio junto à comunidade financeira internacional, pois acreditava-se que isso facilitaria as negociações para desafogo da grave crise cambial que o país atravessava, em função de vultuosos compromissos assumidos anteriormente.
Uma das principais ações de Gudin no ministério foi a Instrução 113 da Sumoc como forma de extinguir os obstáculos à livre entrada de capital estrangeiro.
Além disso, implementou uma política de estabilização notadamente ortodoxa. Para ele, a inflação seria resultado da monetização dos déficits públicos e do excesso de crédito, que resultava numa exacerbação da demanda. Assim, buscou cortas gastos públicos e executou uma forte política de contração monetária e creditícia, cujo resultado foi uma falta de liquidez que provocou uma crise bancária (a liquidação de dois bancospaulistas e uma corrida aos pequenos e médios bancos) bem como o aumento de falências e concordatas.
A gestão de Gudin, entretanto, contrariando as expectativas de um pensador que destacava a vocação agrária do país, não atendeu à cafeicultura, uma vez que não extinguiu o confisco cambial. A oposição dos cafeicultores o deixou sem sustentação política e ele foi substituido por José Maria Whitaker.
Qual foi a importância da Instrução 113 da Sumoc? Quais eram suas principais características?
A Instrução 113 permitia às empresas estrangeiras instaladas no país importar máquinas e equipamentos sem cobertura cambial e classificados nas três primeiras categorias de importação, conforme a essencialidade dos produtos.
A existência de taxas cambiais múltiplas beneficiava duplamente os capitais externos. Ao importar bens de capital sem a necessidade de primeiro internalizar as divisas à taxa de mercado livre para depois recomprar as licenças de importações por um valor mais alto nos leilões de câmbio, o capital estrangeiro estaria recebendo um subsídio equivalente ao diferencial entre o custo das divisas na categoria relevante e a taxa do mercado livre. Esse subsídio não era concedido às empresas nacionais, que já enfrentavam normalmente em condições de inferioridade a concorrência com as empresas estrangeiras e quase sempre importavam máquinas e equipamentos de segunda mão (resultantes de linhas de produção obsoletas e já desativadas). No governo JK, a Instrução foi um dos principais instrumentos para entrada de capital externo no país.
Explique o que foi a tentativa de unificação do câmbio, proposta por José Maria Whitaker:
Whitaker encontrou no Ministério uma gravíssima crise bancária resultante da política contracionista de Gudin. Imediatamente, a liquidez da economia foi restabelecida por intermédio da ação do Banco do Brasil. Além disso, ele sugeriu uma profunda reforma cambial, buscando unificar as dez taxas distintas de câmbio (cinco de importação, quatro de exportação e a do mercado livre). A proposta foi elaborada sob os auspícios do FMI e significaria a derrota de uma política desenvolvimentista impulsionadora do PSI e não encontrou apoio político dos principais candidatos à sucessão de Café Filho. Com a falta de sustentação politica para suas propostas, Whitaker foi exonerado, sem conseguir implementar sua reforma cambial nem defender os interesses da cafeicultura
 
Caracterize em linhas gerais o plano de metas do Governo JK.
. No começo do governo, JK apresentou o seu Plano de Metas, cujo lema era “cinqüenta anos em cinco”. Pretendia desenvolver o país cinqüenta anos em apenas cinco de governo. O plano consistia no investimento em áreas prioritárias para o desenvolvimento econômico, principalmente, infra-estrutura (rodovias, hidrelétricas, aeroportos) e indústria. Foi na área do desenvolvimento industrial que JK teve maior êxito. Abrindo a economia para o capital internacional, atraiu o investimento de grandes empresas. Foi no governo JK que entraram no país grandes montadoras de automóveis como, por exemplo, Ford, Volkswagen, GM (General Motors). Estas indústrias instalaram suas filiais na região sudeste do Brasil. Foi o responsável pela construção da nova capital federal, Brasília, executando assim o antigo projeto da mudança da capital para promover o desenvolvimento do interior e a integração do País
Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de petróleo receberam a maior parte dos investimentos do governo. Subsídios e estímulos seriam concedidos para a expansão e diversificação do setor secundário, produtor de equipamentos e insumos com alta intensidade de capital e, para a implementação do plano (especialmente nos aspectos de responsabilidade do setor privado) foram criados grupos executivos colegiados com membros dos setores público e privado, como o GEIA (da indústria automobilística) e o GEICON (da construção naval).
A política econômica do plano dava tratamento preferencial ao capital estrangeiro. Financiava os gastos públicos e privados com expansão dos meios de pagamento e do crédito, via empréstimos do BNDE, bem como por meio de avais para a tomada de empréstimos no exterior. Aumentava a participação do Estado na formação de capital, estimulando a acumulação privada. O crédito privado, constituído de empréstimos de curto prazo, voltados para o capital de giro das empresas, foi estimulado por meio de repasses do Banco do Brasil, o que gerou pressões sobre o déficit público.
Devido ao tipo de financiamento utilizado para a consecução do Plano de Metas, a inflação doméstica manteve-se em taxas elevadas durante o governo JK. Singer e Rangel chamam a atenção para o mecanismo inflacionário como forma de financiamento das empresas, já que numa estrutura oligopolizada, as empresas têm o poder de fixar preços, não apenas se defendendo da inflação, como aumentando a participação na renda nacional (houve impacto redestributivo, pois salários aumentavam menos que preços).
 Pode-se afirmar que a implementação do Plano de Metas foi bem sucedida? Por quê?
O Plano de Metas estimulou definitivamente o PSI, especialmente no setor de bens de consumo duráveis, e mesmo em importantes áreas do setor de bens de capital. Assim, pode-se dizer que o Plano de Metas foi bem-sucedido naquilo que se propunha, embora já no início da década de 60 Maria da Conceição Tavares considerasse a hipótese de esgotamento do PSI, com a diminuição dos seus efeitos na dinâmica industrial brasileira.
Se a produção de bens de capital e de bens intermediários cresceu significantemente, não se chegou, porém, a completar a criação de um departamento I que possibilitasse a autonomia do processo de acumulação. O desenvolvimento do departamento I revelou-se de difícil consecução, porque o mercado brasileiro era ainda relativamente pequeno, não sustentando as escalas de produção requeridas para a fabricação de bens de alta tecnologia. Assim, as indústrias se dedicavam à produção de bens mais leves, deixando as pesadas para as importações (uma das características da nova divisão internacional do trabalho), o que implicaria numa nova dependência financeira e tecnológica com relação aos países desenvolvidos.
Essa situação se refletia em desequilíbrios no Balanço de Pagamentos do país (os saldos comerciais tornaram-se negativos a partir de 1958 com o novo ciclo de deterioração das relações de troca e o crescimento das despesas com o serviço do capital estrangeiro, consequência dos investimentos e empréstimos externos acumulados na década). A situação se agravou devido aos curtos prazos de vencimento dos empréstimos externos, em um contexto de conflitos entre o governo JK e tanto FMI como Banco Mundial, que culminou com o rompimento em 1959 (ambos não aprovavam os pilares – protecionismo e controle de importações – e também a condução da política macroeconômica – com grandes déficits fiscais – e política monetária expansionsita).
 Explique o tripé em que se apoiou a estrutura industrial brasileira a partir do Plano de Metas. Qual foi a importância do capital estrangeiro no Brasil a partir do Plano de Metas?
O crescimento industrial brasileiro durante o governo JK estava estruturado num tripé formado por empresas estatais, capital privado estrangeiro e, como sócio menor, pelo capital privado nacional.
O objetivo de implantar de chofre o departamento II da economia, sintetizado pelo slogan “50 anos em 5″, bem como o obrigatório desenvolvimento complementar do departamento I, só seria atingido em um curto espaço de tempo com a participação dominante do capital externo (um dos dilemas históricos mais complexos já enfrentados pela sociedade brasileira).
As transformações estruturais que ocorreram na segunda metade dos anos 50 resultaram na consolidação da oligopolização da economia brasileira (principais ramos industrais controlados por um reduzido número de empresas) reproduzindo um processo que se iniciara ainda no final do século XIX com as economias desenvolvidas. Vale ressaltar que, na época, a estratégia de investimentosdas grandes corporações estrangeiras havia se modificado, iniciando um processo de transnacionalização. O Brasil, pelo tamanho de seu mercado interno, ampliado pelo próprio sucesso do PSI, tornou-se um espaço privilegiado para a atuação das empresas multinacionais. (É importante ressaltar que, no início do processo, as empresas americanas estavam presentes apenas marginalmente no processo. Só depois da penetração de empresas de capital japonês e europeu, os americanos se engajariam na produção industrial).
As empresas multinacionais passaram a dominar amplamente a produção industrial brasileira, especialmente os setores mais dinâmicos como a indústria de transformação. Ao capital privado nacional coube o papel subordinado de fornecedor de insumos e componentes, como no caso da relação entre a indústria de autopeças e a indústria automobilística (embora em setores restritos legalmente, como mineração, financeiro, serviços em geral e agricultura, as EMN tiveram papel bastante restrito).
Qual foi a importância do capital estrangeiro no Brasil a partir do plano de metas? E do capital estatal?
Foi um suporte para o plano de metas, porque financiava os gastos públicos e privados com expansão dos meios de pagamentos do credito via empréstimos.
O desenvolvimento industrial durante o período do Plano de Metas estava estruturado em um tripé, constituído por: empresas estatais, pelo capital privado nacional e pelo capital estrangeiro, sendo este último o agente mais importante. As empresas multinacionais passaram a dominar os setores mais dinâmicos da economia brasileira, como bens de consumo duráveis e bens de capital. Em contrapartida, a produção de bens não duráveis ficou a cargo das empresas privadas nacionais. Houve, nesse período, uma clara relação de subordinação do capital nacional em relação ao capital estrangeiro 
Os investimentos estrangeiros foram fundamentais para o sucesso do Plano de Metas. Todavia, quais razões levaram a esse aumento drástico da participação do capital estrangeiro no setor produtivo nacional nesse período? Sem dúvida, o nível de investimentos exigidos tornava inevitável a supremacia do capital estrangeiro, mas houve também um outro fator importante que merece ser analisado.
Compare as diferentes interpretações sobre a crise econômica de 1962-67:
Após elevado crescimento entre 1956 e 1962, a economia brasileira sobreu uma desaceleração que perdurou até 1967 (o crescimento caiu, a inflação disparou).
Para os autores de tradição estruturalista, como Tavares e Serra, essa seria um típica crise cíclica relacionada com a conclusão do volumoso conjunto de investimentos do Plano de Metas. A economia levaria algum tempo para absorvê-lo, uma vez que a própria existência de elevadas capacidades ociosas em vários ramos industriais seria um freio para a constituidade dos investimentos. Além disso, houve subestimação da capacidade competitiva das empresas já instaladas e superestimação das dimensões do mercado nacional (a demanda reprimida que o PSI buscou atender esgotou-se rapidamente, em função da renda per capita, da elevada concentração de renda no país e da inexistência de mecanismos de financiamento a longo prazo).
Um outro enfoque estruturalista é apresentado por Celso Furtado nas teses estagnacionistas. Segundo Furtado, as dinâmicas das economias capitalistas desenvolvidas é determinada pelas inovações tecnológicas e pelo contínuo aumento da produtividade do trabalho, que permite atender às reivindicações salariais dos trabalhadores e manter a lucratividade dos capitalistas. A industrialização do PSI deu-se pela produção de mercadorias semelhantes às originárias dos países desenvolvidos, adequadas à combinação dos recursos produtivos e às respectivas bases técnicas destes países. O problema dos países subdesenvolvidos era adotar tecnologia poupadora de MDO e de alta intensidade de capital, em franco antagonismo com o baixo nível de acumulação de capital e com a abundância de MDO dos países atrasados. Ou seja, emprega poucos trabalhadores, paga baixos salários e não é capaz de criar seu próprio mercado consumidor. As características monopolistas das empresas que se instalam na periferia subdesenvolvida, utilizando grandes montantes de capital, devido à tecnologia sofisticada e larga escala de produção, cria uma tendência de grande capacidade ociosa e a vigência de preços elevados, reforçando a concentração de renda.
Ainda segundo Furtado, a estagnação era esperada pois as classes conservadoras mantinham uma estrutura agrária operando com técnicas rudimentares de cultivo, provocando a exaustão da fertilidade da terra (altos preços dos produtos, baixo nível de vida da população). Tampouco se podia esperar muito da demanda do setor agrícola. A ascensão inflacionária corroía o poder aquisitivo dos trabalhadores. Esses impasses econômicos só poderiam ser superados por uma radical mudança do poder político que permitisse o desenvolvimento de um projeto nacional voltado ao conjunto da população.
Para autores de posições políticas conservadoras, como Mário Henrique Simonsen, o início da crise se devia à instabilidade política presente no país a partir da renúncia de Jânio Quadros, o que teria desestimulado os investimentos.
Francisco de Oliveira associou a crise e a queda dos investimentos ao aumento da atividade sindical e a política dos trabalhadores que durante todo o período populista haviam sido os grandes sustentadores do processo de acumulação industrial ao participarem marginalmente dos enormes ganhos de produtividade ocorridos na economia brasileira nesse período. Depois, Oliveira desenvolveu uma interpretação dessa crise a partir das contradições resultantes de um padrão de acumulação baseado na produção de bens de consumo duráveis (departamento II) e as fracas bases internas do setor produtor de bens de produção (departamento I), uma vez que ambos eram controlados pelo capital estrangeiro.
Paul Singer ressalta a importância do aspecto política e do papel da inflação no processo de concentração de renda e de potencialização da acumulação capitalista.
Outros autores consideravam como causa do início da crise a política de estabilização recessiva do Plano Trienal, baseada em forte contração monetária.
 Que aspectos políticos influenciaram a política econômica durante o período 1962-67?
O curto governo de Jânio Quadros teve uma gestão econômica conservadora. Após sua renúncia, a posse de João Goulart foi marcada pela instabilidade e pela imposição do parlamentarismo, resultado de vetos militares.
Os gabinetes que se seguiram entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, diante do quadro de indefinição, não conseguiram implementar qualquer política econômica consistente, fazendo com que a inflação disparasse. No final de 1962, meses antes de um plebiscito restabelecer o regime presidencialista, Celso Furtado, apontado como ministro, apresentou o Plano Trienal, com ações antiinflacionárias ortodoxas. Rapidamente, as reivindicações sindicais e políticas da base de apoio do governo se impuseram, com a recusa dos assalariados em suportar novamente o peso do ajuste antiinflacionário. Fracassado o plano, Furtado deixa o governo e, a partir de então, o acirramento dos conflitos sindicais e políticos, com a desetabilização política interna e externa do governo democraticamente eleito, impediu a implementação de qualque política de gestão econômica mais articulada. O fim do governo ocorreu com o golpe militar de 1964.
A tomada de poder pelos militares em 1964 pôs fim ao chamado populismo (regimes políticos que incorporaram amplas massas urbanas em um processo político de que haviam sido excluidas secularmente) no Brasil. Os governos populistas eram acusados pelo pensamento econômico conservador de serem excessivamente redistributivistas, pois buscavam distribuir uma renda ainda não existente, gerando pressões inflacionárias e dificultando o processo de acumulação.
Ao assumir a direção do país em 1964, com uma postura tecnocrático-modernizante, comprometido com a superação das políticas populistasde João Goulart, o regime militar, entretanto, manteria um discurso desenvolvimentista, comprometido com a retomada do crescimento econômico.
 Explique os objetivos do Plano Trienal de Celso Furtado, de Celso Furtado, os instrumentos utilizados para sua implementação e seus resultados:
Ignácio Rangel e Francisco Oliveira apontaram que o plano de ações antiinflacionárias ortodoxo (política de contenção de gastos públicos e de liquidez) pretendido pelo Plano Trienal demonstrava as próprias limitações do enfoque estruturalista. A tentativa de estabilização fracassou, provocou crescimento negativo do PIB per capita e inflação atingiu 83,25%.
 Qual o diagnóstico do PAEG sobre as causas da inflação brasileira?
O diagnóstico do processo inflacionário brasileiro era embasado na ortodoxia monetarista: o excesso de demanda seria causado pela monetização do déficit público, pela expansão do crédito a empresas e pelos aumentos salariais superiores ao aumento da produtividade.
Quais eram os principais objetivos do PAEG?
O PAEG mantinha os objetivos básicos do discurso desenvolvimentista: retomada do desenvolvimento, via aumento dos investimentos; estabilidade de preços; atenuação dos desequilíbrios regionais; e correção dos déficits do balanço de pagamentos. As prioridades internas eram o controle da inflação e as externas, a normalização das relações com os organismos financeiros internacionais.
A partir do diagnóstico ortodoxo sobre as causas da inflação, foram implementadas ações que buscavam controlar as contas públicas aumentando receitas e reduzindo as despesas (política monetária restritiva, com controle de emissão monetária e de crédito e, especialmente, uma dura política de contenção salarial).
 Quais foram as principais transformações institucionais efetuadas pelo PAEG?
A reforma bancária de 1965 criou a estrutura básica do sistema financeiro nacional, instituindo o BACEN e o Conselho Monetário Nacional, e permitiu a especialização desse sistema com a divisão em financeiras (voltadas ao financiamento dos bens de consumo duráveis), bancos comerciais e bancos de investimento. Com a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), foi instituida a correção monetária, que o possibilitou a convivência com taxas de inflação relativamente altas durante muitos anos. A reforma bancária estimulou um movimento de fusões e aquisições sem precedentes, com o objetivo de desenvolver um sistema financeiro forte e competitivo.
Foram criados o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação (BNH), que possibilitaram o fomento extraordinário da construção habitacional e do saneamento básico, utilizando recursos das cadernetas de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS – que surgiu com o objetivo político de se contrapor à estabilidade de emprego, vista pelo patronato como inrijecedora das relações trabalhistas).
A reforma tributária de 1967 criou o sistema tributário ainda hoje vigentem aumentando a arrecadação e centralizando-a no governo federal. Além dos impostos, deve-se destacar os fundos parafiscais como FGTS, PIS e Pasep (os dois últimos voltados a propiciar a participação dos assalariados no lucro das empresas).
Ao longo dos anos, o governo passou a se financiar por meio da constituição de uma dívida pública baseada na ORTN e, posteriormente, em Letras do Tesouro Nacional (LTN). Incentivos fiscais deram impulso às exportações.
 Pode-se considerar que o PAEG atingiu seus objetivos?
A avaliação do PAEG é positiva como programa de estabilização, pois reduziu a inflação para a faixa dos 20% a.a. e executou um amplo conjunto de transformações institucionais fundamentais para o grande crescimento econômico que se seguiria.
Algumas críticas, como as formuladas por BACHA, centram-se no diagnóstico da inflação erroneamente considerada como de demanda, o que resultou em uma política recessiva com altos custos sociais. Outras críticas apontam para o projeto como um todo, uma vez que fortaleceu oligopólios e aprofundou a desnacionalização da economia, enquanto um regime ditatorial promovia o aumento da exploração da força de trabalho, agravando ainda mais a perversa distribuição de renda no país.
Faça um breve apanhado sobre o comportamento da economia mundial no pós-guerra:
Eric Hobsbawm chama o período compreendido entre o pós-guerra e a década de 1970 de Era de Ouro da economia capitalista, referindo-se ao enorme desenvolvimento das economias no período, sobretudo as do Japão, Alemanha, Espanha e Taiwan. O fenômeno provocou um intenso crescimento dos fluxos mundiais de comércio e de capitais financeiros, possibilitando um salto industrial mesmo em alguns países subdesenvolvidos. Inclua-se nesse grupo o Brasil a partir de finais da década de 1960.
 Qual foi o diagnóstico do processo inflacionário brasileiro elaborado por Delfim Netto, que assumiu a direção da economia em 1967?
À frente da equipe econômica de seguidos governos militares, Delfim Netto entendia que, após o ajuste das contas públicas efetuado pelo PAEG e com os salários rigidamente controlados, a inflação passou a apresentar um forte componente de custos, decorrentes da grande capacidade ociosa existente e dos altos custos financeiros. A solução para a continuidade da queda da inflação seria a retomada do crescimento econômico, tendência verificada em toda a economia mundial da época. Para isso, era fundamental que se adotasse uma política monetária expansiva e que houvesse um grande aumento do crédito ao setor privado, estimulando a produção para o mercado interno e externo.
 Que departamentos da economia podem ser considerados responsáveis pelo crescimento econômico durante o milagre?
O novo ciclo de crescimento foi comandado pelos setores produtores de bens de consumo duráveis (crescimento de cerca de 23%) e de bens de capital (crescimento de cerca de 18%). Ou seja, manteve-se a mesma matriz de crescimento implantada durante o Plano de Metas, com aumento na abertura estrutural da economia para o exterior.
O crescimento da indústria de bens de consumo não duráveis manteve-se bem abaixo das taxas de crescimento dos outros setores, alcançando “apenas” cerca de 9% ao ano. A agricultura cresceu dentro de suas taxas históricas (cerca de 4,5%), depois de um crescimento medíocre no período 1961-67 – mas deve-se observar que seu crescimento foi maior nas culturas voltadas à exportação, enquanto na produção de alimentos básicos o crescimento oscilou na faixa de 2%, o que significa que a produção desses alimentos cresceu numa taxa inferior ao crescimento da população, diminuindo a disponibilidade média de proteínas por habitante.
 O financiamento externo durante o milagre brasileiro era realmente imprescindível? Por quê?
De acordo com as autoridades econômicas da época, o capital externo que entrou no país sob a forma de empréstimos teria sido fundamental no financiamento do crescimento, justificando assim a intensificação do endividamento, e mesmo autores críticos da orientação da política econômica, como notadamente Paul Singer, admitem a importância do capital estrangeiro naquela conjuntura.
A dívida externa é uma das consequências das relações do país com o resto do mundo. Contabilmente, o estoque da dívida externa bruta é o resultado acumulado da parcela dos déficits em transações correntes não financiados pelo ingresso de capitais de risco ou pela redução das reservas internacionais do país. Os dados da balança comercial do Brasil no período considerado (1968-73) mostram que ela está rigorosamente equilibrada.
A única explicação para o extraordinário crescimento da dívida externa ao longo do milagre seria de origem financeira: o excesso de liquidez internacional diminuiu bastante as taxas de juros, tornando os empréstimos muito atraentes. Ao mesmo tempo, o sistema financeiro brasileiro, especialmente no setor privado, nunca se voltou para o financiamento produtivo de médio e longo prazo. Portanto, o aumento do endividamento ocorreu por causa da captação de recursos do exterior e seu repasse paraempresas de dentro do país, sem uma necessidade estrita de empréstimos externos que financiassem grandes déficits em transações correntes. Segundo Paulo Cruz,
“a economia brasileira foi ‘capturada’, juntamente com outras várias economias, num movimento geral do capital financeiro internacional em busca de oportunidades de valorização”
Dois terços do aumento de endividamento total foram convertidos em reservas.
 Como evoluíram os indicadores sociais durante o milagre econômico?
A questão social foi um dos grandes questionamentos do milagre – o que se dizia era que “a economia ia bem, mas o povo ia mal”. O intenso crescimento durante o milagre trouxe grandes benefícios para as classes de maior renda, incluindo-se aí a parte da classe média assalariada que fornecia os quadros técnicos necessários à gestão da economia, como engenheiros, economistas, administradores, analistas de sistemas, etc. A renda concentrou-se ainda mais em consequência da diminuição do valor real do salário mínimo. A apropriação da renda pelos 50% mais pobres passou de 17% em 1960 para 15% em 1970, enquanto para os 10% mais ricos, evoluiu de cerca de 40% para cerca de 48% no mesmo período.
Houve certa recuperação do salário mínimo em termos reais até 1973, mas a retomada inflacionária a partir de 1974, não captada pelo IGP manipulado, infringiu uma nova queda. Entre 1964 e 74, o salário mínimo acumulou perdas de poder aquisitivo da ordem de 42%.
As consequências da política de exclusão social desse período foram dramáticas e podem ser sintetizadas no agravamento das condições de saúde da maioria da população, que se deteriorou a ponto de ocorrerem epidemias como a de meningite e no fato de voltarem a crescer as taxas de mortalidade infantil em todo país.
Essa forma de crescimento da produção industrial e agrícola, especialmente voltada a exportação, foi classificada por Fernando Fajnzylber como “competitividade espúria”, pois estava baseada no agravamento das questões sociais a partir da deterioração da relação salário/câmbio. Já Rui Mauro Marini e Theotônio dos Santos desenvolveram o conceito de “superexploração dos trabalhadores” para explicar esse tipo de acumulação, similar ao dos períodos de acumulação primitiva, em que não eram respeitados os direiros políticos e sociais das classes trabalhadoras.
Quais eram os limites estruturais do crescimento dependente?
No ápice do ciclio expansivo, em 1973, um conjunto de contradições decorrentes do desenvolvimento se manifestaria. A principal delas foi o enorme aumento de importação de bens de produção resultante de uma industrialização em grande desproporcionalidade departamental, dado que o Departamento I da economia era insuficientemente desenvolvida.
Isso provocou o surgimento de focos de tensão inflacionária e o reaparecimento de déficits comerciais. As pressões inflacionárias foram ainda incrementadas pelos aumentos dos salários, que começavam a se recuperar em função do enorme aumento da demanda por trabalhadores. Além disso, o grande aumento da agricultura para a exportação reduziu a produção de alimentos e matérias-primas para consumo interno, gerando pressões adicionais sobre os preços. Com o 1o choque do petróleo em 1973, essas tensões inflacionárias se amplificaram ainda mais.
O peso dos serviços na conta das transações correntes também começou a aumentar, em decorrência do aumento de juros no mercado financeiro internacional. Esse déficit era coberto com crescente endividamento, com base na avaliação de que as turbulências da economia mundial seriam passageiras.
Quais eram os principais objetivos do II PND?
Empossado em 1974, Geisel tinha o desafio de dar continuidade ao crescimento econômico, grande fator de legitimidade do regime militar, uma vez que era o diferencial do caso brasileiro, frente aos regimes latinoamericanos, que administravam economias estagnadas (como Uruguay e Argentina). A fração militar que assumira a presidência tinha um projeto geopolítico de consolidar o país como potência, ainda que regional, e de abertura política “lenta, gradual e segura”.
A continuidade crescimento, no entanto, dependia da superação dos chamados “estrangulamentos estruturais” presentes historicamente na economia brasileira. Era necessário desenvolver o Departamento I (superando a forte dependência externa do país com relação a bens de capital, petróleo, produtos químicos, fertilizantes, etc) e enfrentar os aspectos da questão social, principalmente com o incentivo à agricultura voltada para a produção de alimentos.
Elaborado sob a orientação de João Paulo dos Reis Velloso, o II PND foi a mais ampla e articulada experiência brasileira de planejamento desde o Plano de Metas. A avaliação era de que a crise e os transtornos da economia mundial não eram passageiros e que as condições de financiamento eram favoráveis (taxa de juros ex antereduzidas e longo prazo para amortização). Assim, o II PND propunha uma “fuga para frente”, assumindo os riscos de aumentar provisoriamente os déficits comerciais e a dívida externa, mas construindo uma estrutura industrial avançada que permitiria superar conjuntamente a crise e o subdesenvolvimento.
Tratava-se de uma alternativa ao ajuste recessivo como aconselharia a sabedoria econômica tradicional. As prioridades recairiam sobre o setor energético, por meio do aumento da prospecção de petróleo e da produção de energia elétrica e nuclear; sobre os setores siderúrgico e petroquímico; e sobre a indústria de bens de capital. Para tal, o governo contaria com o auxílio de empresas estatais como produtoras e como grande mercado para as indústrias do setor privado. O governo federal procuraria transferir boa parte dos fundos públicos via BNDE para o financiamento de grandes empresas de bens de capital do setor privado nacional. As EMN (empresas multinacionais) participariam do projeto agora como coadjuvantes das empresas nacionais, pois não estavam interessadas em realizar grandes investimentos numa conjuntura de grandes incertezas no mundo todo.
 Os financiamentos externos tiveram grande importância durante o II PND?
Houve uma grande participação de empréstimos externos de financiamento dos programas de investimento. No período, houve intenso debate sobre a reciclagem de divisas auferidas pelos países exportadores de petróleo (petrodólares) e que passaram a apresentar grandes superávits em suas contas externas. Mesmo a proposta de fazer esta reciclagem sobre a supervisão do FMI não teve apoio, tal que a reciclagem se deu pelos bancos privados (a discussão só foi retomada a partir da crise das dívidas na década de 1980).
Quem ocupava o centro do palco da industrialização brasileira nesse momento eram as grandes empresas estatais (Petrobras, Eletrobras, Embratel, etc). Essas empresas estavam impedidas de recorrer ao crédito interno por determinação governamental, só tinha acesso ao crédito internacional. Com seus imensos ativos, eram o mercado ideal para o sistema financeiro internacional, já que havia grande liquidez num momento adverso da economia. O governo brasileiro e suas estatais passaram a ser praticamente os únicos grandes tomadores de recursos do mundo.
Os recursos entrariam para financiar nossos déficits em transações correntes, causados por sua vez pelo aumento dos déficits das balanças comercial e de serviços. A deficiência desse tipo de financiamento está no fato de que os empréstimos eram concedidos a taxas de juros flutuantes, em uma economia mundial em que já não se efetuavam taxas de juros reais praticamente negativas da década de 60.
 Quais foram os limites e as contradições do II PND?
Segundo Lessa, o II PND era impossível de ser implantado em função de seu gigantismo e da crise econômica mundial, uma vez que se tratava de um verdadeiro projeto de Nação-Potência, não apoiado pelas bases sociais de sustentação do regime militar. Já para Antonio Barros de Castro, os grandes projetos do II PND, por sua complexidade e longo prazo de maturação, teriam começado a produzir resultados visíveis somente a partir de 1983 e 84.
Politicamente,o II PND sofreu fortes ataques da imprensa conservadora que desencadeou uma ampla campanha contra o que chamavam de estatização da economia. Os grandes empresários, mesmo que sócios estratégicos do plano, passaram à oposição ao regime. Após a conclusão da instalação de vultuosas plantas industriais com financiamentos subsidiados pelo governo, refreou-se o ritmo de implementação do Plano e transferiu-se parte das prometidas encomendas de bens de capital para o mercado externo, aproveitando-se os financiamentos dos fornecedores (suppliers’ credits). Essa nova posição política do setor de bens de capital, engrossou o coro da oposição empresarial que, em 1978 lançaram o I Manifesto dos Empresários com críticas a política econômica.
Para José Luis Fiori, tratou-se de mais uma tentativa prussiana rejeitada de afirmação de um projeto nacional. Para Castro, a continuação do crescimento na forma do II PND foi feita em “em marcha forçada”.
A política econômica do Governo Geisel manteve o crescimento, embora em taxas mais modestas. A onda de investimentos, entretanto, refletiu-se em déficit em transações correntes e em crescimento da inflação, o que levou às autoridades econômicas a optar pela diminuição das taxas de crescimento industrial. A desaceleração da implantação do II PND adiou o início dos grandes projetos. A partir de 1983, contudo, seus resultados apareceram na forma de um superávit comercial de US$ 6,5 bilhões, que atingiram US$ 13 bilhões em 1984. O debate na época girou em torno da polêmica se esses resultados se deviam à maturação do II PND ou ao ajuste recessivo promovido por Delfim Netto no biênio 1981-83.

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