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1 Matéria Médica Pura Samuel Hahnemann 2 ÍNDICE VOLUME 1 Nota para a 2a edição ............................................................................ 4 Esclarecimentos .................................................................................... 4 Apresentação ........................................................................................ 6 Prefácio do autor ................................................................................. 10 Espírito da doutrina médica homeopática ............................................ 14 Preâmbulo ........................................................................................... 21 Aconitum napellus ............................................................................... 25 Ambra grisea ....................................................................................... 40 Angustura ........................................................................................... 51 Argentum ............................................................................................ 60 Arnica montana ................................................................................... 67 Arsenicum ........................................................................................... 84 Asarum .............................................................................................. 127 Aurum ............................................................................................... 137 Belladonna ........................................................................................ 152 Bismuthum ........................................................................................ 195 Bryonia alba ...................................................................................... 200 Calcarea acetica ................................................................................. 223 Camphora .......................................................................................... 233 Cannabis sativa ................................................................................. 245 Capsicum annuum ............................................................................. 256 Carbo animalis ................................................................................... 267 Carbo vegetabilis ............................................................................... 273 Chamomilla ........................................................................................ 293 Chelidonium ...................................................................................... 310 China ................................................................................................. 316 Cicuta virosa ...................................................................................... 364 Cina ................................................................................................... 373 Cocculus ............................................................................................ 384 Colocynthis ........................................................................................ 401 Conium .............................................................................................. 411 Cyclamen europaeum ........................................................................ 424 Digitalis ............................................................................................. 434 Drosera rotundifolia ........................................................................... 448 Dulcamara ......................................................................................... 458 Euphrasia officinalis .......................................................................... 472 Ferrum .............................................................................................. 477 Guaiacum .......................................................................................... 487 Helleborus niger ................................................................................ 493 Hepar sulphuris calcareum ................................................................ 503 Hyoscyamus niger ............................................................................. 513 Ignatia .............................................................................................. 532 Ipecacuanha ...................................................................................... 559 VOLUME 2 Nota bene para meus revisores .......................................................... 567 Exame das fontes da matéria médica comum ..................................... 571 Uma reminiscência ............................................................................ 594 O observador médico - um fragmento ................................................ 603 3 Como podem pequenas doses de um medicamento tão atenuado, como a homeopatia emprega, ainda possuir grande poder? ........................... 606 Ledum ............................................................................................... 610 Magnetis polus arcticus ..................................................................... 618 Magnetis polus australis .................................................................... 629 Magnes artificialis .............................................................................. 638 Manganum aceticum .......................................................................... 652 Menyanthes trifoliata ......................................................................... 662 Mercurius .......................................................................................... 671 Moschus ............................................................................................ 709 Muriaticum acidum ............................................................................ 715 Nux vomica ........................................................................................ 724 Oleander ............................................................................................ 755 Opium ................................................................................................ 764 Phosphoricum acidum ........................................................................ 787 Pulsatilla ........................................................................................... 804 Rheum ............................................................................................... 834 Rhus .................................................................................................. 840 Ruta .................................................................................................. 865 Sambucus .......................................................................................... 873 Sarsaparilla ....................................................................................... 877 Scilla ................................................................................................. 882 Spigelia ............................................................................................. 891 Spongia ............................................................................................. 909 Stannum ............................................................................................ 920 Staphisagria ...................................................................................... 938 Stramonium ....................................................................................... 957 Sulphur ..............................................................................................972 Taraxacum ......................................................................................... 990 Thuja ................................................................................................. 997 Veratrum album ............................................................................... 1012 Verbascum ....................................................................................... 1030 Bibliografia ...................................................................................... 1035 4 NOTA PARA A 2 a EDIÇÃO Para esta segunda edição para a língua portuguesa desta importante obra de Hahnemann, acrescentou-se algumas novas notas de rodapé, onde se acharam necessárias dar outras explicações sobre algum detalhe de um determinado sintoma traduzido. Por outro lado, outras notas foram suprimidas, sobretudo onde eram numerosas e de certa forma repetitivas. Aqui alguns erros gramáticas e de impressão quiçá foram corrigidos. Mas ainda permanecem, e penso que assim permaceração sempre, as dificuldades inerentes à diferença de línguas, e de época, onde esta obra foi inicialmente compilada. Entretanto, tal limitação para qualquer tradutor das obras de Hahnemann não obstaculariza, de forma intransponível, aquilo que ele quis relatar, através das inúmeras informações técnicas e sintomatológicas ali contidas sobre um certo medicamento, e isto que nós podemos apreender pela leitura desta atual tradução para o português. Sendo assim, que todos possam dela se fartar segundo suas características e interesses pessoais, todavia vale lembrar que sem perseverança, amor pela verdade e espírito observador, tal leitura será mais uma dentre tantas que fazemos no dia-a- dia de nossas atividades mais comezinhas, sem que no dia seguinte nos recordemos de uma única linha sequer. Tarcizio de F. Bazilio ESCLARECIMENTOS Acreditamos estar contribuindo, com esta importante obra que agora damos a lume, para reduzir um tanto mais o imenso vazio que envolve hoje a Homeopatia no Brasil, visto não contarmos em nosso meio, com a totalidade das obras fundamentais escritas por Hahnemann, traduzidas para a língua portuguesa. Neste aspecto, temos apenas o Organon e a parte teórica de As Doenças Crônicas, 1 como também alguns fragmentos esparsos de seus escritos menores realizados durante o desenrolar de sua vida. Entretanto, o conjunto de sintomas que constitui a Matéria Médica propriamente dita, fulcro da doutrina médica homeopática, quiçá do conhecimento que o médico da verdadeira arte de curar necessita apreender, até hoje parece não ter sido alvo de interesse de tradutores e estudiosos dos opusculos homeopáticos. Destarte, todos nós que estamos envolvidos, de uma forma ou de outra, com esta espécie de medicina, estivemos até agora privados deste grandioso trabalho de experimentação pura com substâncias medicamentosas em indivíduos sãos (algo até então nunca imaginado pela Alopatia). Excetuam-se aqui todos aqueles que já possuem certa facilidade de manuseio do inglês ou do alemão, línguas nas quais esta obra já foi editada, e que podem ser adquiridas com certa facilidade. Poder-se-ía argumentar que dispomos desta obra em tais idiomas estrangeiros, e que isto nos basta. Ora, convenhamos que isto não é suficiente ! Senão vejamos: o estudo das Matérias Médicas Puras, por si mesmo, é muito árduo e pouco estimulante, e muitos daqueles que se dedicam ao seu estudo, sobretudo os mais novatos, preferem aquelas outras Matérias Médicas tais como as vemos em Vijnovsky, Lathoud, Kent, Vanier, Margareth L. Kent, etc. Isto se deve ao modo pelo qual os diversos medicamentos ali agrupados são enfocados, através de dicas, processos mnemônicos, imagens medicamentosas, os aspectos mais característicos de cada substância medicinal sendo destacados de maneira mais clara e didática. Sendo assim, se não for tal leitura difícil e cansativa, suavizada pela facilidade de tê-la em nossa língua, aos poucos ela vai perdendo o seu espaço dentro dos estudos de Homeopatia. Conseqüentemente, as Matérias Médicas Puras, não apenas a de Hahnemann, mas também as de Constantine Hering, Timothy F. Allen, e outras, são esquecidas na estante (quando adquiridas), com prejuízo incalculável para a desempenho da atividade médica homeopática, e naturalmente para os pacientes ligados à Homeopatia. Ao lado disso, o valor histórico desta obra é inquestionável, não somente por ter sido escrita pelo próprio Samuel Hahnemann, como também por nos mostrar a maneira pela qual desenvolvia seus trabalhos patogenéticos e de conduta clínica, tanto na valorização deste ou daquele sintoma, ressaltando as ações peculiares das drogas no organismo sadio, como pelas indicações técnicas desenvolvidas por ele mesmo para a produção dos medicamentos, a partir de ingredientes os mais diversos, a serem utilizados na rotina médica. Aqui as notas de rodapé feitas por ele, quiçá o texto de introdução dos diferentes medicamentos, são por demais esclarecedores nesta área, encontrando-se ali farto material para análise, por parte de médicos e farmacêuticos. Para a execução desse objetivo, valemos-nos da Matéria Médica Pura traduzida para a língua inglesa a partir das últimas edições alemãs por R. E. Dudgeon, e do texto escrito por Hahnemann em alemão gótico (Reine Arzneimittellehre). No momento da tradução procuramos ser os mais fiéis possíveis à linguagem inglesa (observamos que Dudgeon tomou o mesmo 1 Em tempo breve estaremos concluindo também o trabalho de tradução, para a língua portuguesa, desta obra por inteiro (tanto da parte teórica quanto da matéria médica ali incluída). 5 cuidado em todo o seu opusculo, tendo tido o mérito de procurar não alterar o sentido das palavras empregadas pelo fundador da Homeopatia). Contudo, surgem casos em que as palavras inglesas são ambíguas, possuindo sentidos diferentes dependendo do contexto em que estão colocadas. 2 . Nestas ocasiões (o que aliás não foram poucas), recorremos ao texto alemão, o que nos ajudou sobremaneira para dirimirmos eventuais dúvidas. Quando tal ocorreu, ou seja, quando existiram discrepâncias acentuadas entre um autor e outro, por dificuldade mesma do sentido a ser empregado na tradução, colocamos essas observações em notas de rodapé, tendo o zelo de escrever tanto o termo em inglês quanto em alemão, mas utilizando esta última dentro do texto. Quando os sintomas traduzidos por Dudgeon não apresentavam tal comportamento, mantivemos tal como estavam no edição inglesa. O quanto nos foi possível, não mantivemos os termos médicos adotados pelo tradutor inglês, e sim como está no alemão (linguagem hahnemaniana), uma vez que tais sintomas, daquele modo grafados, perderiam todo o seu valor, porquanto dificilmente um paciente assim se expressaria ao relatar seus sofrimentos físicos e/ou mentais. Estes termos mais técnicos empregados por Dudgeon aparecem no texto entre parênteses ao lado do seu correspondente alemão, para que o leitor saiba onde isto acontece. Cabe salientar que Hahnemann também utilizava termos médicos, tais como hipocôndrio, tenesmo, presbiopia, etc., e se este era o caso, também nós os mantivemos. Outro aspecto em que nos detivemos ao máximo, se refere à não utilização de tantas variações de sinônimos para a mesma palavra inglesa e/ou alemã, pois, embora isto possa tornar o texto repetitivo, mantém-se, por outro lado, fidedigno ao textos originais, e evitam-se muitos erros de interpretação. Muitos verbetes usados rotineiramente na linguagem médica homeopática, mas que não constam do Dicionário Aurélio, não foram empregados nestatradução para a língua portuguesa, sendo substituídos por outros com o mesmo sentido. São eles: dolorimento (usamos dolorido), rasgante (usamos que rasga), repuxante (usamos que repuxa), beliscante (usamos que belisca), etc. Desejaríamos falar ainda, sobre dois casos em particular. O primeiro diz respeito às palavras “chill”, “chilliness”, “rigor”, “shivering”. Aqui poderão aparecer diferenças com relação ao texto de Dudgeon, pois este apresentou algumas discrepâncias quando comparadas com Hahnemann. Quando tal ocorreu, é porque fizemos a tradução literal do alemão. 3 O segundo caso se refere à palavra “dinner”. Muito embora a tradução deste termo inglês possa ser tida como sendo jantar (o que em nossos dias é o mais comum), não é este o sentido empregado por Hahnemann (nem pelo seu tradutor inglês). Ele também não pode ser considerado simplesmente como sendo a principal refeição do dia, o que aliás, o deixaria condicionado ao ritmo de vida de cada indivíduo. Ambos o empregaram para designar a refeição que é feita ao meio-dia (ou seja, almoço em nossa linguagem brasileira). A palavra alemã é “Mittagessen”. Para o vocábulo jantar, temos em inglês “supper”, e em alemão “Abendessen”. Algumas abreviaturas comumente usadas são: Frag. de Vir. (Fragmenta de viribus medicamentorum positivis, sive in sano corpore humano observatis -- Fragmentos sobre os efeitos dos medicamentos positivos quando observados no homem são -- este trabalho de Hahnemann em 2 vols., de 1805, representa o germe da Matéria Médica Pura.); “R. A. M. L.” (Reine Arzneimittellehre, isto é, Matéria Médica Pura); junto aos nomes dos responsáveis da velha escola pelos sintomas citados, mantivemos o mesmo que Dudgeon, ou seja, l.c. (loco citato, lugar citado), enquanto em Hahnemann temos a.a.O. (am angeführten Ort). As citações em latim foram traduzidas para a língua portuguesa graças à colaboração do Prof. da Universidade de São Paulo José Rodrigues Seabra Filho, sendo então colocadas ao lado das mesmas, entre parênteses. Outros agradecimentos que gostaríamos de externar envolvem a Prof a . de alemão Célia de Vasconcelos Koermandy, pelo carinho, pela atenção e pelo seu amor à Homeopatia, sem cuja ajuda a consulta ao texto alemão seria por demais dificultada. Não podemos esquecer o auxílio dos amigos da Farmácia Bento Mure, de todos os companheiros do Grupo de Estudos Homeopáticos “Benoit Mure” de São Paulo, e de todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, por meio de dicas, sugestões, prestaram-nos inaudita ajuda. Tarcizio de Freitas Bazilio 2 Como ocorreu com Dudgeon ao realizar a sua tradução para o inglês. Vide parte final da Nota do Tradutor. 3 O mesmo ocorreu em relação aos vários ruídos, sensações, das diversas partes do corpo. 6 APRESENTAÇÃO A Matéria Médica Pura como nos foi legada por Hahnemann consiste de seis volumes, dois dos quais, viz. (abreviatura de videlicet: a saber), vols. I e II, alcançaram uma terceira edição, enquanto os demais não foram além da segunda. As datas de publicação desses volumes são as seguintes:- vol. I, 1830; vol. II, 1833; vols. III e IV, 1825; vol. V, 1826; vol. VI, 1827. Nas primeiras edições, as patogenesias dos vários medicamentos não estão arranjadas da mesma maneira como estão nas últimas. Assim, no início, as observações pessoais de Hahnemann são colocadas primeiro, isoladas, e numericamente separadas; os sintomas observados por seus discípulos sob sua supervisão, e aqueles derivados do trabalho de outros observadores, são arranjados juntos, numa lista diferente, e especialmente numerada. Na terceira edição, para a qual somente os dois primeiros volumes foram utilizados, a organização é diferente. Aqui todos os sintomas de cada medicamento, se observados pelo próprio Hahnemann ou por seus discípulos, ou retirados de autoridades da velha escola, estão combinados numa única seção e numerados continuadamente; as observações pessoais de Hahnemann são distinguidas por terem nenhum nome ou sinal associado, enquanto aquelas dos seus colaboradores são indicadas por uma abreviatura de cada um de seus nomes anexada às suas respectivas observações. As autoridades da velha escola são nomeadas após os sintomas pelos quais são responsáveis. Uma outra peculiaridade no trabalho tal qual nos foi legado, é que os medicamentos não estão arranjados alfabeticamente. Cada volume contém um número variado de medicamentos, colocados em ordem alfabética de acordo com sua nomenclatura alemã comum, mas não há preocupação de manter o esquema alfabético em relação à obra toda. Ao fazer uma tradução, o trabalho poderia ser apresentado ao leitor inglês exatamente como nós o temos, i.e. (abr. de id est: isto é), cada volume separado dado com seu próprio arranjo peculiar de sintomas, os medicamentos de cada volume estando somente organizados alfabeticamente de acordo com seus nomes ingleses ou latinos. Isto daria seis volumes de vários tamanhos e com seus conteúdos diferentemente arranjados. Reproduziria o trabalho tal qual existe no original em alemão, mas seria, como aquele, difícil usar como um livro de referência; e se os menores detalhes da obra em alemão fossem também mantidos, envolveria uma quantidade a mais considerável de impressões sem qualquer vantagem subseqüente. Embora alguns fossem de opinião de que o trabalho deveria ser apresentado ao leitor inglês no modo acima, pareceu ao tradutor que isto estaria contribuindo senão com um pobre elogio à Hahnemann ao deixar de trazer os volumes da segunda edição em conformidade com o arranjo perfeito daqueles que ele trouxe para a terceira. Além disso, o tradutor pensou que, ao invés de publicar a obra em seis volumes de tamanhos muito desiguais, sem uma ordem alfabética dos medicamentos, seria num todo melhor, porque mais conveniente ao leitor e ao praticante, e decididamente mais artístico dentro de um ponto de vista literário, arranjar os medicamentos em toda a obra de maneira alfabética, colocar os sintomas no plano adotado na última edição, e apresentar a obra em dois volumes manuais de iguais dimensões. Um tal procedimento envolveria um acréscimo considerável da tarefa do tradutor, mas isto seria plenamente compensado pela grande utilidade e a homogeneidade literária do opusculo. Este plano foi, conseqüentemente, adotado, e os ensaios distribuídos ao longo dos volumes originais foram divididos entre os dois volumes da tradução, de maneira a formar prefácios apropriados para cada um. A alteração introduzida por Hahnemann em sua última edição com respeito à indicação do nome do experimentador por uma abreviatura, em lugar de dar o nome completo, foi estendida a todos os medicamentos nesta tradução. Estas abreviaturas são impressas em itálicos. As abreviações de Hahnemann do nome de seus experimentadores não são sempre as mesmas, mas têm sido mantidas uniformemente nesta tradução. Os nomes das autoridades da velha escola por sintomas, são impressos em letras capitais, de modo que o aluno e leitor casual podem observar num átimo se o sintoma é produzido por um experimento intencional, ou é o resultado de envenenamento geralmente acidental, ou do excesso de dose de um observador da antiga escola. Como no original, os sintomas sem nomeação ou abreviações afixadas são aqueles observados pelo próprio Hahnemann. Acrescentou-se uma lista dos experimentadores ligados à Hahnemann, as abreviaturas de seus nomes empregados neste trabalho, e os medicamentos provados por cada um. Adam, Dr................... Ad. (cb-a., cb-v.) Ahner, G. A................ Ar. (aco., cap., cin., men.) Anton, C. Chr............. An. (chi.) Baehr, Aug................ Bhr. (ars.,bel., chi., coc.) Becher, Huld............. Bch. (chl., chi., dig., led., ph-x., spi., squ., ver.) Caspari, Dr............... Cas. (cb-v.) Clauss, W.................. Css. (chi.) Cubitz, C. A.............. Ctz. (dul., opi., stp.) Fläming, Joh. Gtfd.... Fg. (coc., hyo., nx-v.) Franz, Carl................ Fz. (ang., arg., arn., asr., aur., ca-a., cam., can., chi., con., cyc., dig., hyo., led., mt-n., mt-s., man., men., oln., ph-x., rhs., rut., sam., spi., stn., stp., str., trx., thu., ver.) Gersdorff, Fr. Von.... Gff. (amb., cb-v.) Gross, W................... Gss. (aco., ang., arg., arn., ars., aur., bel., can., chl., chi., coc., dul., dig., fer., ign., man., men., msc., oln., ph-x., rhe., rut., sam., opi., stn., stp., thu., vrb.) Günther,--................. Gth. (mt-n.) 7 Gutmann, Salomo...... Gn. (col., dro., men., mer., mu-x., oln., opi., ph-x., spi., spo., stp., str., trx.) Hahnemann, Fried..... Fr. H--n. (acon., arn., ars., aur., bel., bry., can., cic., col., dro., eup., fer., hep., hyo., ign., mer., msc., nx-x., ph-x., pul., rhs., spo., str., sul., thu., ver.) Harnish, Ernst........... Hsch. (ang., chi., mt-n., mt-s.) Hartlaub, C............... Hb. (ver Trinks e Hartlaub.) Hartmann, Franz....... Htn. (bel., bis., ca-a., chl., chi., gui., hel., mt-n., men., mer., nu-x., oln., ph-x., rut., sam., sar., spi., spo., squ., stn., stp., thu., vrb.) Hartung, J. C............ Htg. (bel., cap., chi., cyc.) Haynel, Adolph. Fr... Hnl. (arg., coc., man., men., mu-x., spo., stn., stp., thu.) Hempel, Gust............ Hl. (aur., can., mt-n., thu.) Hempel, H................ Hpl. (bel.) Herrmann, Chr. Th... Hrr. (arg., aur., bel., bry., bis., cam., chl., chi., cyc., led., ph-x., rut., sar., spi., stn., stp.) Hornburg, Chr. G..... Hbg. (aco., arn., ars., asr., bel., bry., chi., cic., coc., col., dig., hel., man., men., mer., pul., rhe., rhs., rut., spi., spo., squ., stp.) Hugo,--..................... Ho. (can.) Kummer, Ernst......... Kr. (arn., bel., hel., mt-s., spi., stp., trx.) Langhammer, Chr.Fr. Lr. (ang., arg., arn., ars., aur., bel., bis., ca-a., chl., chi., cic., cin., coc., col., con., cyc., dig., dro., eup., gui., hel., hyo., ipc., led., mt-n., man., men., mer., mu-x., oln., ph-x., rut., sam., spi., spo., stn., stp., trx., thu., vrb.) Lehmann, Chr. F. G... Lhm. (chi., rhs.) Lehmann, J. G........... Ln. (bel., chi., dig., ipc., spo.) Meyer, F................... Myr. (ang., arg., ars., chl., chi., dig., ph-x., spi.) Michlep, C................ Mch. (ang., bry., chi., mt-n., pul., rhs.) Möckel, A. F............. Mkl. (bel., men.) Mossdorf, Theod....... Mss. (ang., cap., hel., squ., vrb.) Müller,--................... Mr. (dul.) Nenning, Caj............. Ng. (dul.) Rosazewsky,--........... Rx. (fer., trx.) Rückert, E. Ferd....... Rkt. (aco., bry., dig., dul., hel., pul., rhe., ehs.) Rückert, Leop. E....... L. Rkt. (asr., bel., cin., col., man.) Rummel, F................ Rl. (mer.) Schönike,--............... Sche. (opi.) Schröder,--............... Sr. (rhs.) Staff, Ernest............. Stf. (aco., arn., ars., asr., bel., bry., cam., can., cha., chi., cin., col., dig., dul., hel., hep., hyo., ipc., mt-s., man., mer., msc., mu-x., opi., ph-x., pul., rhs., rut., spi., spo., squ., stp.) Teuthorn, J.Chr.Dav. Trn. (chl., chi., dig., gui., led., man., men., ph-x., rhe., sar., squ., stp., thu., ver.) Trinks e Hartlaub..... Ts. Hb. ou Hb. Ts. (can., coc., dul., ign., rhs.) Urban, F. C.............. Ur. (man.) Wagner, Gust........... Wr. (chi., dul., spo., thu.) Wahle, Wilh............. We. (aco., can., coc., dul., man., nx-v.) Walther Fr................ Wth. (chl., chi., led., spi., squ., sul.) Wenzel, Jul............... Wz. (man.) Wislicenus, W. E...... Ws. (ang., arg., arn., aur., bel., ca-a., cam., cap., chi., con., dro., eup., hel., hyo., men., mu-x., ph-x., rut., sam., spi., spo., squ., stn., thu.) Desses experimentadores Adam era um médico russo, Von Gersdorff um nobre residente em Eisenach, Nenning um cirurgião que forneceu muitos dos sintomas para a Matéria Médica de Hartlaub e Trinks, de cujo trabalho Hahnemann retirou alguns sintomas, indicados pela abreviatura de seus nomes, Hb., Ts., separadamente ou juntos. Os demais são mais propriamente discípulos do próprio Hahnemann, que o proveram com uma lista escrita de sintomas que eles observaram, na qual Hahnemann os examinou, revisou-os cuidadosamente, e corrigindo-os ou alterando-os a fim de torná-los, tanto quanto possível, a sensação ou dor exatas, observadas com todas suas condições e concomitantes. Staff, que residia em Naumburg, transmitiu à Hahnemann os sintomas que ele observou, numa carta, e conformemente as mais antigas edições, encontramos após o nome Staff, “in einem Briefe”, 4 em lugar da expressão usada após o nome daqueles cujos escritos Hahnemann poderia examinar em seus autores -- “in einem Ausfsatze”. 5 A maioria, se não a totalidade destes experimentadores foram médicos, muitos deles bem conhecidos como eminentes praticantes da homeopatia, e alguns distinguidos por suas contribuições valiosas à literatura homeopática. 4 N. T. Bras.: “numa carta”. 5 N. T. Bras.: “numa redação, numa composição”. 8 Muitos dos sintomas possuem o tempo de ocorrência depois de tomado o medicamento. Isto é indicado por abreviações entre parênteses. Aqui (min.) significa minuto, (h.) hora, e (d.) dia. Esta não é a primeira versão em inglês da Matéria Médica Pura de Hahnemann. Em 1846, Dr. Hempel publicou uma tradução. Mas, como Dr. Hughes 6 assinalou, a tradução de Hempel é extremamente imperfeita. Ele utilizou a terceira edição do primeiro volume, mas a segunda edição de todos os outros volumes. Ele omitiu todos os nomes de autoridades responsáveis pelos sintomas, os quais não estão em parágrafos separados. Seu agrupamento de sintomas é algumas vezes, mas não sempre, igual ao de Hahnemann, e ele não procurou a uniformidade de arranjos. Muitos dos medicamentos de Hahnemann são omitidos -- mais precisamente dezoito. Não são omitidas somente as patogenesias inteiras desses medicamentos, mas muitas omissões de sintomas são feitas das patogenesias publicadas. Más traduções, reduções, e omissões, são freqüentes também nos prefácios e notas. Em síntese, a tradução de Hempel é num todo muito imperfeita e dá ao leitor uma idéia muito inadequada do trabalho original. Dr. Quin iniciou a tradução do Opus Magnum de Hahnemann. O primeiro volume, de fato, foi finalizado e imprimido, mas, infortunadamente, toda a impressão foi destruída por um incêndio na gráfica. A única cópia salva está na biblioteca da Sociedade Britânica de Homeopatia. Ela não tem prefácio ou introdução pelo tradutor, nem mesmo um título, logo não podemos saber ao certo suas intenções com relação à toda tradução. Este primeiro volume é traduzido da segunda edição, mas os medicamentos que contém não correspondem por inteiro com aqueles no original. Destarte, Mercurius é omitido, mas Asarum, Chamomilla, Cyclamen, Pulsatilla, Squilla, Stramonium e Veratrum, os quais não estão no primeiro volume do original, estão incluídos. O esquema dos sintomas não é aquele de Hahnemann nem da segunda nem da terceira edições. Dr. Quin coloca junto todos os sintomas de Hahnemann e de seus discípulos e ordena-os numa lista separada daquelas obtidas das autoridades da velha escola. A tradução é, como pode ser esperado pela familiaridade do Dr. Quin com a língua alemã, razoavelmente boa. Mas o trabalho, mesmo se houvesse sido completa como o Dr. Quin a designou, não teria presenteado o leitor com a atual MatériaMédica de Hahnemann; assim nossa tristeza na interrupção do trabalho é amenizada por esta consideração. Esta é a primeira tentativa de dar uma tradução em inglês confiável e completa das últimas edições da obra. O tradutor deve aqui expressar sua consideração com seu colaborador, Dr. Hughes, pela revisão cuidadosa das provas tipográficas e pelas numerosas sugestões de versões melhoradas do original, por meio das quais ambas, a confiabilidade e a facilidade na leitura da tradução, foram grandemente aperfeiçoadas. É, de fato, impossível reproduzir exatamente para o inglês as expressões peculiares à linguagem alemã, ou dar uma tradução exata de cada palavra. Tudo o que o tradutor pode fazer é oferecer os equivalentes ingleses para as frases alemãs onde tais existem, ou reproduzir as expressões inglesas que mais se aproximem das originais alemãs. Isto ele tentou realizar, e afirma ter sido bem sucedido. Mas ele está bastante consciente de que há certas palavras e frases em alemão usadas por Hahnemann para as quais não possuímos um equivalente mais preciso em inglês. Em alguns aspectos o alemão é mais rico que o inglês e, assim, uma palavra inglesa corresponde à várias análogas em alemão. Por outro lado, inglês é em alguns aspectos mais rico que o alemão, pois duas coisas totalmente diferentes são algumas vezes designadas por uma única palavra, e o tradutor tem que tomar muito cuidado de que em sua tradução ele empregue a palavra inglesa para as coisas designadas pelo original. Por exemplo, o alemão Hals é usada tanto para throat (garganta) quanto neck (pescoço); Brust é ou chest (peito) ou mamma (mama); Fuss é algumas vezes utilizado para designar foot (pé), algumas vezes leg (perna) até o joelho, e outras vezes toda a extremidade inferior; Schenckel às vezes é thigh (coxa), outras leg (perna), e ocasionalmente todo o membro inferior; Schooss representa groin (virilha), ou iliac region (região ilíaca), eventualmente todo o hypogastrium (hipogástrio); Gesicht é algumas vezes sight (visão), algumas vezes face (face). Grande cuidado é exigido ao determinar em qual sentido estas diferentes palavras são utilizadas por Hahnemann e seus companheiros experimentadores. Drückend deve certas vezes ser traduzido pressive (pressão), outras aching (dolorido), e nem sempre é fácil de concluir qual equivalente em inglês deveria ser usado; nenhuma regra rígida e rápida pode ser adotada, e o tradutor deve determinar através do contexto, ou algumas vezes por meio de sua “sensibilidade”, qual tradução deveria ser empregada. Como regra Drückend seguido por auf ou an deve significar pressive enquanto que se seguido por in ele provavelmente significa aching; mas para esta regra há exceções, e o leitor deve confiar no tradutor que possui as razões para as traduções particulares que tenha adotado. R. E. DUDGEON Dr. Dudgeon me pediu para dizer umas poucas palavras sobre o tópico especial no qual tenho o prazer de auxiliá-lo nesta sua empreitada. Eu me refiro às citações de Hahnemann a partir de autores. Elas estão ausentes em poucas de suas patogenesias, e em muitas são muito numerosas; quanto ao número, em toda a Matéria Médica Pura, elas superam as 4000. É óbvio que nenhuma nova edição de uma obra tão repleta de citações pode ser satisfatória, a qual não examine estas em seus originais com finalidade de verificação e (se necessário) de correção. Isto é assim mais especialmente quando uma tradução tem que ser feita, e onde o próprio autor tem apresentado seu assunto citado em sua própria língua. Aquele que devesse usar os sintomas em alemão pelos quais Hahnemann retratou os autores latinos, franceses e ingleses, de quem ele os emprestou, e simplesmente traduzisse-os de novo, correria um grande risco de perder seus verdadeiros significados. Fosse isso somente, por conseguinte, fazer esta tradução da Matéria Médica Pura tão acurada quanto possível, seria desejável que todas as citações contidas no trabalho fossem verificadas em suas fontes originais, e subtraídas (ou, se inglesas, 6 Nas fontes da Matéria Médica Homeopática. Turner, London, 1877. 9 reproduzidas) daí. Mas há algo mais. Amiúde adiciona-se ao valor de um sintoma, do qual deveríamos conhecer o objetivo e as circunstâncias de sua ocorrência, a dose por meio da qual foi produzido, e assim por diante. Hahnemann raramente dá tais informações considerando os efeitos das drogas que ele colheu de autores, mas limita-se a apresentá-los no mesmo modo desconexo pelo qual seguiu com relação aos seus próprios sintomas e de seus companheiros experimentadores. Ansiamos que os livros de experimentação atuais no-las dê: no caso dos sintomas citados as temos. A partir das anotações originais podemos iluminar os fenômenos e sensações apresentados isoladamente para nós, a fim de mostrar seus momentos, suas ordens, e seus términos. Novamente, -- o exame das fontes dos sintomas em questão mostra que eles são de valor muito desigual. Às vezes eles são registros de envenenamentos, quando tornam-se de valor inquestionável. Algumas vezes são meras considerações de escritores sistemáticos em Matéria Médica, os quais devem ser tomados como quantum valeant (o quanto valham). Muito freqüentemente, contudo, eles são narrativas de casos de doenças tratadas com a droga em questão, e os sintomas são tais como foram supostos, ou pelo observador ou por quem o citou, terem resultado (por assim dizer) do obiter facta (feitas pelo caminho) do medicamento. É óbvio que grande discriminação é necessária aqui; e é a opinião unânime daqueles que têm pesquisado o assunto, que Hahnemann dificilmente a aplicou. Em minha Sources of the Homeopathic Materia Medica (págs. 16-18), dou muitos exemplos da maneira em atacado pela qual adotou sintomas destes registros; e os fatos são tais que, sem o conhecimento que nos capacite julgar por nós mesmos, não poderíamos aceitar seguramente qualquer sintoma assim tido como genuíno. Para cálculo, então, como também para verificação e ilustração, é necessário remontar os sintomas citados por Hahnemann aos seus originais. A tarefa tem sido realizada de tempos em tempos para medicamentos isolados,-- como por Frank e Wurmb com o Arsenicum, por Gerstel com Aconitum, com Watzke com Colocynthis, por Roth com Dulcamara e outros, por Langheinz com Opium, Moschus, e Cannabis. Como um colaborador junto ao Dr. Allen em sua Encyclopedia, fiz meu dever de completar estas investigações e estendê-la para cada droga da Matéria Médica Pura e Doenças Crônicas. Os resultados são incorporados naquele trabalho, após a maneira conveniente para ele; mas permanece válido, para tanto, uma reprodução das próprias patogenesias de Hahnemann como o Dr. Dudgeon está nos oferecendo. Estritamente falando, é somente verificação para a qual elas deveriam ser usadas aqui; mas pareceu uma pena que suas demais possibilidades não devessem ser também utilizadas, e tenho em conseqüência, com a aprovação do tradutor, estendido seu emprego em outras direções que indiquei. Na primeira menção de qualquer autoridade em cada patogenesia indiquei a natureza de suas observações; e para cada sintoma que exigiu, anotei tais explanações e correlações conforme deva ser necessário apresentá-lo em todo o seu significado e valor. Todo este material será encontrado nas notas na parte inferior das páginas, designadas por pequenos números, 1, 2, &c., e separado por linha das próprias anotações de Hahnemann, as quais possuem as usuais *, @, %, etc. De início, quando qualquer correção foi exigida, realizei-as neste texto, de modo que qualquer divergência encontrada da apresentação de Hahnemann, de seus sintomas citados, deve ser creditada em minha responsabilidade. Subseqüentemente, entretanto,pensei melhor deixar Dr. Dudgeon verter o texto como se encontra, e fazer minhas emendas nos rodapés. Estou muito feliz por contribuir com esta pequena parcela para a importante obra de dar aos discípulos da língua inglesa , a Matéria Médica do Mestre de nossa Escola. R. HUGHES 10 PREFÁCIO DO AUTOR 7 8 Eu não vou escrever uma crítica sobre a Matéria Médica usual, senão apresentaria ao leitor um relato detalhado dos esforços complicados 9 até aqui realizados para determinar os poderes dos medicamentos a partir de suas cores, sabores e cheiros. Mostraria como a química tem sido aplicada, por meio de destilação seca e aquosa, para extrair de substâncias medicinais, fleuma, óleos etéreos, óleos e ácidos empireumáticos, sais voláteis, e do residual caput mortuum (a base residual) sais fixos e óxidos (todos quase idênticos uns aos outros). Apresentaria os métodos adotados pela mais recente ciência química para a obtenção de extratos a serem posteriormente engrossados pela dissolução de suas partes solúveis em vários fluidos. Descreveria o modo de preparar, a partir deles, resinas, gomas, proteína, amido, gordura, albumina, sais e óxidos, ácidos e alcalóides, através de inúmeros reagentes; e eu explicaria como convertê-los em gases. É bem sabido que nem uma única das inúmeras substâncias medicinais, à despeito de todas essas técnicas torturantes, poderia ser levada a revelar com que tipo de poder curativo era dotada. Certamente as substâncias materiais delas extraídas não eram o espírito 10 que animando cada substância isolada, o qual capacita-a de curar determinados estados mórbidos. Este espírito não pode ser agarrado pelas mãos; ele somente pode ser reconhecido pelos seus efeitos no organismo vivo. O dia do verdadeiro conhecimento de medicamentos e da verdadeira arte de curar raiará quando os homens deixarem de agir de forma anti-natural, como dar drogas para as quais algumas virtudes puramente imaginárias têm sido descritas, ou as quais têm sido simplesmente, vagamente recomendadas, e de cujas qualidades reais são totalmente ignorantes; e as quais eles dão misturadas em todos os tipos de combinações. Com essas misturas 11 encantadoras um tratamento infundado é proposto, não de casos de doenças que foram cuidadosamente investigadas quanto aos seus sinais e sintomas especiais, mas puramente de formas e nomes artificiais de doenças inventadas pela patologia. Por este método, nenhuma experiência, qualquer que seja, pode ser ganha das qualidades úteis ou prejudiciais de cada ingrediente medicamentoso da mistura, nem qualquer conhecimento pode ser obtido das propriedades curativas de cada droga individual. O dia do verdadeiro conhecimento de medicamentos e da verdadeira arte de curar surgirá quando os médicos creditarem a cura de casos completos de doenças à uma única substância medicamentosa, e quando, desconsiderando o método tradicional, eles empregarem para a extinção e cura do caso de doença, cujos sintomas eles investigaram, uma única substância medicamentosa cujos efeitos positivos determinaram, a qual pode mostrar dentre estes efeitos um grupo de sintomas muito similares àqueles apresentados pelo caso de doença. Dentre as observações derivadas de fontes externas, nas páginas seguintes, estão algumas as quais foram observadas em pacientes; mas como estas pertenciam à doença crônica cujos sintomas mórbidos eram bem conhecidos e não foram misturados com os novos efeitos causados pelo medicamento tomado -- ao menos GREDING parece ter, cuidadosamente, evitado fazer assim-- estas observações não são ao todo sem valor; em todos os casos, elas servem ocasionalmente para confirmar sintomas similares ou idênticos que possam aparecer em experimentos puros na saúde. Quanto às minhas próprias experimentações e aquelas de meus discípulos, todo cuidado possível foi tomado para garantir sua pureza, a fim de que os poderes verdadeiros de cada substância medicinal pudessem ser claramente expressos nos 7 Do vol. I, 3 a edição, 1830. -- Hughes. 8 N. T. Bras.: a tradução feita por Dudgeon do texto que corresponde à parte teórica de toda esta obra, a qual se constitui de seis volumes escritos em alemão, não segue a mesma construção gramatical de Hahnemann, cujos períodos são amiúde muito extensos e de difícil compreensão. Assim, aquele freqüentemente interrompe uma oração e inicia outra por meio de um ponto final, com o intuito de deixar o texto com uma leitura mais fácil. Fato importante é que, em nenhum momento, Dudgeon alterou o sentido das palavras empregadas por Hahnemann, como pudemos perceber quando da comparação das duas obras. 9 N. T. Bras.: no original em inglês temos “futile” (fútil, vão), enquanto que no alemão, “umständlich” (complicado, dificultoso). 10 N. T. Bras.: em inglês temos “spirit”, e em alemão “Geist”, ambas com a mesma tradução: espírito. 11 O mundo médico comum, enquanto não conhece nada melhor, pode continuar enviando suas prescrições complexas multiformes para serem feitas nos laboratórios. A fim de fazer isto ele não procura conhecer alguma coisa sobre a esfera de ação ou sobre as propriedades especiais de cada ingrediente. Ainda mais, mesmo se devêssemos conhecer perfeitamente os poderes das drogas quando dadas em separado, não podemos ter qualquer idéia sobre o que elas irão fazer quando dadas misturadas. Isso eles denominam tratamento (curiren), e eles poderiam bem continuar a chamá-lo assim até que um espírito de renovação desperte dentro deles impelindo-os a começarem a curar (heilen), o que somente pode ser realizado com substâncias medicinais simples. É somente de tais substâncias que os puros efeitos podem ser descritos, por meio dos quais podemos ser capazes de dizer, de antemão, se esta ou outra pode ser de utilidade em um dado caso. Mas que homem consciencioso consentiria em trabalhar sem critérios uma pessoa enferma, pairando entre a vida e a morte, com ferramentas que possuem poderes para ferir e destruir, sem um conhecimento acurado de suas forças ? Nenhum carpinteiro trabalharia sobre sua madeira com ferramentas em cujos usos ele fosse ignorante. Ele conhece cada uma delas perfeitamente, e destarte, conhece quando usar uma e quando usar a outra, de maneira a realizar com certeza o que pretende fazer; e é somente sobre uma madeira que ele trabalha, e ele é senão um carpinteiro ! -- Hahnemann. 11 efeitos notados. Elas foram realizadas em pessoas tão saudáveis quanto possíveis, e sob condições externas reguladas tão semelhantes quanto possíveis. Mas, se durante a experimentação aconteceu alguma circunstância externa extraordinária, a qual pudesse, mesmo supostamente, ser capaz de alterar o resultado -- por exemplo, um susto, aborrecimento, medo, uma injúria externa de considerável intensidade, desregramento ou tolerância demasiada nisto ou naquilo, ou quaisquer outros eventos de importância -- a partir daquele instante nenhum sintoma que ocorreu no experimento foi registrado; eles foram todos abolidos, de maneira que o observador deveria incluir nada que tivesse a suspeita de alterado. Se uma pequena circunstância aconteceu durante o experimento, a qual dificilmente poderia se esperar interferir nos efeitos da ação medicamentosa, os sintomas subseqüentemente notados foram incluídos dentro de parênteses como sendo incertamente puros. Com respeito à duração da ação descrito para cada substância medicinal, a qual me empenhei por determinar através de experimentos repetidos, deveria declarar que isto foi aprendido somente por meio de experimentações realizadasem indivíduos os mais saudáveis possíveis. Em doenças, conforme elas sejam mais ou menos agudas, mais ou menos crônicas, a duração da ação do medicamento é muito mais curta ou muito mais longa do que aqui exprimidas, mas nunca pode ser exatamente determinada se o medicamento for dado em largas doses ou em casos inadequados. Em ambas as situações a duração da sua ação será por demais encurtada, pois o medicamento é levado, de certo modo, nas eliminações que produz (como em epistaxes e outras hemorragias, catarro, diurese, diarréia, vômitos ou transpiração), e assim cedo extingue sua energia. O organismo secreta-o rapidamente, por assim dizer, exatamente como ele freqüentemente faz com o miasma das doenças infecciosas, onde enfraquece o agente nóxio e parcialmente o rejeita também por vômitos, diarréia, hemorragias, catarro, convulsões, salivação, suor, e processos semelhantes e evacuações. Conseqüentemente, acontece que na prática comum, ninguém conhece ou os efeitos peculiares ou a duração de ação, e.g. (abr. de exempli gratia, por exemplo) do tártaro emético 12 ou da jalapa, 13 porque estas drogas são dadas somente em doses tão grandes que elas estimulam o organismo a eliminá-las rapidamente. Algumas vezes o organismo não faz isto; às vezes, como se diz, o remédio dado para provocar violenta evacuação não é eliminado, em quais casos diz-se vulgarmente que não funcionou. Quando isto ocorre, aí acontecem sintomas puros amiúde de um caráter muito importante e durável (a ação medicamentosa peculiar). Mas é muito raro que eles tenham sido ensinados a observar e anotar com apreço. Os vômitos causados por dois ou três grãos de tártaro emético, ou por vinte grãos de Ipecacuanha, a purgação produzida por trinta grãos de jalapa, e o suor estimulado pela infusão de uma porção de sabugueiro, 14 não são efeitos muito peculiares dessas substâncias, visto que são um esforço do organismo destruir com toda a rapidez possível os efeitos medicinais peculiares dessas drogas. Conseqüentemente, as menores doses prescritas pela homeopatia produzem o efeito incomum que elas fazem, exatamente porque não são tão grandes para que se faça necessário ao organismo livrar-se delas pelos processos revolucionários das eliminações. E ainda estas doses muito pequenas excitam o sistema às eliminações (as quais encurtam a duração de ação delas) em casos de doença onde o medicamento tem sido escolhido incorretamente e de modo não acuradamente homeopático. No Organon de Medicina tenho ensinado esta verdade que, dinamicamente agindo, os medicamentos extinguem doenças somente em concordância com a similaridade de seus sintomas. Aquele que tenha entendido isto, perceberá que se um trabalho em matéria médica pode revelar as qualidades exatas de medicamentos, ele deve ser um do qual toda mera suposição e especulação inútil sobre as qualidades outorgadas às drogas estejam excluídas, e o qual só registra quais medicamentos expressam-se, concernente aos seus reais modos de ação, nos sintomas que produzem no corpo humano. Destarte, o praticante regozijar-se-á em encontrar aqui uma maneira pela qual pode remover as enfermidades de seus semelhantes, com precisão, rapidez, e permanentemente, e proporcionar-lhes a benção da saúde com muito maior certeza. Este não é o lugar de dar instruções quanto a como selecionar, para o grupo de sintomas de um caso particular de doença, um remédio que apresente em seus efeitos primários um grupo muito similar de sintomas peculiares. O Organon contém instruções completas neste aspecto, junto com direções gerais sobre o assunto das doses requeridas em homeopatia. A menor quantidade possível de medicamento em preparação potencializada é suficiente para esses propósitos. Eu esquematizei os sintomas dos medicamentos mais adequadamente examinados numa certa ordem, por meio do que a procura do sintoma medicinal desejado será agora facilitada. Nos sintomas complexos, entretanto, aí ocorrem, não infreqüentemente, alguns, para os quais, se tivesse tido tempo, teria adicionado citações paralelas referendando-as para as suas posições adequadas. A ordem usual dos sintomas é a seguinte: Tontura, Confusão, Fraqueza mental, 12 N. T. Bras.: sal duplo cristalino e incolor, usado como emético [fórm.: K (SbO)C4H4O6] - D. A. E. 13 N. T. Bras.: designação comum a diversas espécies das famílias das convolvuláceas e das apocináceas, cujas partes aéreas são trepadeiras, sendo as flores vistosas e coloridas, e com tubérculos subterrâneos tidos popularmente como purgativos. - Id. 14 N. T. Bras.: arbusto ornamental, da família das caprifoliáceas (Sambucus nigra), originário da Europa e cultivada em jardins, que tem folhas imparipenadas, e cujas flores, alvas e minutas, se reúnem em inflorescências que, dissecadas, constituem droga clássica como sudorífero - Ibid. 12 Falta de memória 15 Dor de cabeça, interna, externa, Testa, cabelo, Face em geral (vultus) } ou {visus Olhos e visão (visus) } ou {vultus, Ouvidos, 16 audição (articulação têmporo-mandibular), Nariz, olfato, Lábios, Queixo, Maxilar inferior (gânglios submandibulares), 17 Dentes, Língua (dificuldades para falar), Saliva, Garganta interna, faringe (goela), 18 Fauce, 19 esôfago, Paladar, Eructação, azia, soluço, Náusea, vômito, Desejo por comida e bebida, 20 fome, Scrobiculus cordis, (boca do estômago), estômago, 21 Abdome, epigástrio, região do fígado, hipocôndrio, (região abaixo da costela), 22 Baixo ventre, 23 Região lombar, 24 25 Virilha, região inguinal, 26 Reto, ânus, períneo, Evacuação, 27 15 Esta seqüência nem sempre é seguida; os sintomas mentais estão algumas vezes localizados no final da lista de sintomas. O inconveniente de separar sintomas mentais e emocionais é tacitamente reconhecido por Hahnemann, pois ele os unifica em Doenças Crônicas. -- Hughes. 16 N. T. Bras.: em inglês temos “ears”, em alemão “Ohren”. Em ambos os casos estas duas palavras servem para designar, em português, tanto o pavilhão auricular externo quanto o ouvido como um todo. No contexto dos sintomas fizemos tal distinção. Acontece, entretanto, que Hahnemann às vezes coloca literalmente ouvido externo ou interno, e nestes momentos, mantivemos suas palavras. 17 N. T. Bras.: “lower jaw” em inglês, e “Unterkiefer” em alemão. Hahnemann divide esta região anatômica do corpo em maxilar inferior e superior, algo que hoje comumente chamamos de mandíbula e maxila, respectivamente. Aqui traduzimos como no original em alemão. Contudo, optamos por denominar a área concernente à parte inferior do maxilar inferior, de submandibular. 18 N. T. Bras.: na obra em alemão temos “Innerer Hals, Rachen”, enquanto que na inglesa apenas “internal throat”. 19 N. T. Bras.: segundo o Stedman’s Medical Dictionary: o espaço entre a cavidade da boca e da faringe. 20 Sede algumas vezes vem após soluço, e outras também dentro de sintomas febris. -- Hahnemann. 21 N. T. Bras.: “Scrobiculus cordis (pit of stomach), stomach”, em inglês; “Herzgrube, (Magengrube), Magen”, em alemão. Com relação à scrobiculus cordis (Herzgrube) e boca do estômago (pit of stomach - Magengrube), que são as formas utilizadas nesta tradução para o português, apenas mantivemos como está no texto em inglês, isto é, utilizando estas duas possibilidades, tal como Hahnemann o fez em seu original. Porém, ambas podem ter o mesmo significado. Segundo o Stedman’s Medical Dictionary, “pit of stomach” quer dizer fossa epigástrica, e esta por sua vez significa: “scrobiculus cordis; a leve depressão na linha média logoabaixo do processo xifóide do esterno.” No mesmo dicionário médico encontramos o termo scrobiculus cordis como sendo a ponta ou a fossa do coração; fossa epigástrica. 22 N. T. Bras.: para esta última parte temos (Unterribbengegend) no texto em alemão, enquanto que isto está ausente na tradução de Dudgeon. Mas Hahnemann utiliza tanto “Hypochondern” (hipocôndrio) quanto “Unterribbengegend” (região abaixo da costela) na narração de seus sintomas. Nós apenas nos mantivemos fiéis às suas palavras. 23 N. T. Bras.: “Unterbauch” em alemão, “hypogastrium” em inglês. Optamos pela tradução literal, baixo ventre, uma vez que assim se aproxima mais da linguagem do paciente. 24 Algumas vezes localizado entre os sintomas das costas e vértebras lombares. -- Hahnemann. 25 N. T. Bras.: região lombar. Segundo o S. M. Dictionary: relativa aos lombos (loins), ou à parte das costas e lados entre as costelas e a pelve. 26 N. T. Bras.: escolhemos virilha durante o trabalho de tradução dos sintomas, pelo mesmo motivo alegado na nota 23. 13 Urina, bexiga, uretra, Órgãos genitais, Desejo sexual, Potência sexual, ejaculação, Fluxo menstrual, leucorréia, Espirros, coriza, 28 catarro, rouquidão, Tosse, Respiração, Peito, Batimentos do coração, Região sacral, vértebras lombares, Costas, Escápulas, Nuca, Garganta externa, 29 Ombros (axilas), Braços, mãos, Quadris, pelve, Nádegas, Coxas, pernas e pés, As queixas comuns do corpo e afecções da pele, 30 Queixas ao ar livre, Exalação, temperatura corporal, tendência a se resfriar, entorses, paroxismos, Convulsões, paralisias, fraqueza, desmaio, Bocejo, sonolência, cochilo, sono, queixas noturnas, sonhos, Febre, frio, 31 calor, suor, 32 Ansiedade, 33 palpitação do coração, 34 agitação, tremor, 35 Mudanças do estado de espírito, doenças da alma. 36 Köthen, Janeiro, 1830. SAMUEL HAHNEMANN. 27 N. T. Bras.: Hahnemann utiliza a palavra evacuação para designar qualquer exoneração do corpo, e aqui se refere à intestinal (“Stuhlgang”). Contudo, nós usamos a palavra eliminação para nomear os expurgos das diversas regiões do organismo, e evacuação no que tange apenas à parte intestinal. 28 N. T. Bras.: devemos lembrar que o significado de coriza aqui, como em toda a obra, não é o mesmo que temos utilizado na prática médica em nosso meio, ou seja, saída de líquido aquoso, transparente, do nariz. O sentido empregado está vinculado com alguma espécie de resfriado (“Schnupfen” em alemão), de constipação nasal, a qual pode ou não ser acompanhada de descarga aquosa do mesmo. Às vezes Dudgeon emprega o termo “catarrh” para designar tal estado clínico. 29 A garganta externa algumas vezes também surge após a maxila inferior. -- Hahnemann. 30 N. T. Bras.: “Die gemenisamen Körper-Beschwerden und Hautübel”. 31 N. T. Bras.: há muita confusão neste ponto onde “chill” é por muitos traduzido como calafrio, entretanto não é este o sentido empregado, na maioria das vezes, por Hahnemann, em cujas passagens há o vocábulo “Frost” (frio), o qual pode ser ou não acompanhado por tremor e palidez. Neste caso há outras palavras em alemão para designar calafrio, p. ex.: “Frostzittern” ou “Schüttelfrost”, cujos equivalentes em inglês são “rigor” e “shivering”. Contudo, nem sempre é assim. Vale ressaltar que Dudgeon algumas vezes utiliza “chill” referindo-se ao equivalente em alemão que significa frialdade, ou então estremecimento, ou até mesmo calafrio. Em nossa tradução ficamos sempre com a colocação de Hahnemann, por isso algumas diferenças de tradução que se encontrará neste trabalho (nesta parte de sintomas) em comparação com o inglês de Dudgeon. 32 N. T. Bras.: Hahnemann utiliza um único vocábulo (“Schweiß”) para aquilo que Dudgeon chama de “sweat” ou “perspiration”. Neste caso nós usamos suor ou transpiração. Mas temos ainda em alemão a palavra “Ausdünstung” (exalação), que Dudgeon traduziu como sendo “transpiration”. 33 N. T. Bras.: Dudgeon usa muitas vezes “anxiety” ao traduzir duas palavras semelhantes empregadas por Hahnemann, “aengstlichkeit” e “bänglichkeit”. Neste caso, utilizamos, respectivamente, ansiedade e angústia. 34 Palpitação desacompanhada de ansiedade vem abaixo dos sintomas torácicos. -- Hahnemann. 35 Agitação e tremor de caráter simplesmente físico, nos quais o temperamento não participa, geralmente surge dentro dos sintomas das extremidades ou das generalidades físicas. -- Hahnemann. 36 N. T. Bras.: “Gemüthsveränderungen, Seelenkrankheiten.” 14 ESPÍRITO DA DOUTRINA MÉDICA HOMEOPÁTICA 37 É impossível definir a natureza essencial interna das doenças e as mudanças que elas produzem nas partes ocultas do corpo, e é absurdo organizar um sistema de tratamento em cima de tais conjecturas e presunções hipotéticas; é impossível adivinhar as propriedades medicinais de remédios a partir de qualquer hipótese química ou a partir do seu odor, cor, ou sabor, e é absurdo tentar, destas conjecturas e presunções hipotéticas, aplicar para o tratamento de doenças estas substâncias, as quais são tão prejudiciais quando erradamente administradas. E mesmo se fosse tal prática, já tão corriqueira e já de uso tão generalizado, a única em voga por milhares de anos, ela continuaria, todavia, a ser uma prática sem sentido e perniciosa por estribar, em concepções vazias, nossas idéias da condição mórbida do interior, e por tentar combater esta com propriedades de medicamentos igualmente imaginárias. Perceptível, distintamente perceptível aos nossos sentidos, deve ser aquilo que necessita ser removido em cada caso de doença de maneira a transformá-la em saúde, e cada medicamento deve expressar de forma bem clara o que positivamente pode curar, caso a arte médica deixe de ser um temerário jogo de azar com a vida humana, e começar a ser o libertador seguro de doenças. Eu mostrarei o que é inegavelmente curável em doenças, e como as propriedades curativas dos medicamentos serão distintamente percebidas e empregadas para propósitos curativos. O que é a vida somente pode ser conhecido empiricamente a partir de seus fenômenos e manifestações, mas nenhuma concepção dela pode ser formada, a priori, por quaisquer especulações metafísicas; o que é a vida, em sua natureza essencial verdadeira, nunca pode ser averiguada ou mesmo suposta pelos mortais. Para o entendimento da vida humana, como também de suas duas condições, saúde e doença, os princípios pelos quais nós explicamos outros fenômenos são completamente inúteis. Com nada no mundo podemos, isoladamente, compará-la com segurança; nem com o mecanismo de engrenagem de um relógio de bolso, nem com uma máquina hidráulica, nem com processos químicos, nem com decomposição e recomposição gasosa, nem ainda com uma bateria galvânica, em resumo, com nada destituído de vida. A vida humana, em nenhum caso, é regulada por leis meramente físicas, as quais só regem substâncias inorgânicas. As substâncias materiais das quais o organismo humano é composto nem de longe seguem, nesta composição vital, as leis para as quais as substâncias materiais, na condição inanimada, estão sujeitas; elas são reguladas apenas pelas leis peculiares à vitalidade, elas são por si mesmas animadas e vitalizadas exatamente como todo o sistema é animado e vitalizado. Aqui, um poder fundamental desconhecido reina onipotente, o qual anula todas as tendências das partes componentes do corpo, de obedecerem às leis da gravitação, do movimento, da vis inertiae, da fermentação, da putrefação, etc., e submete-as apenas às maravilhosas leis da vida, -- em outras palavras, asmantêm na condição de sensibilidade e atividade necessárias à preservação de todo o ser, uma condição quase dinâmico-espiritual. Agora, como a condição do organismo e sua saúde dependem unicamente da higidez da vida que o anima, de modo semelhante segue-se que a saúde alterada, a qual designamos de doença, consiste numa situação originalmente modificada somente em suas sensibilidades e funções vitais, independente de todas as considerações químicas e mecânicas; em síntese, ela consiste numa condição alterada dinamicamente, numa maneira modificada do ser, por meio da qual uma mudança nas propriedades das partes constituintes materiais do corpo é posteriormente efetuadas, a qual é uma conseqüência necessária da condição morbidamente alterada de todo o ser em cada caso individual. Além do mais, a influência injuriante dos agentes mórbidos, que para a maior parte desperta, a partir do exterior, as muitas enfermidades em nós, é geralmente tão invisível e imaterial, 38 39 que é impossível que possa, imediatamente, ou perturbar mecanicamente ou desarranjar as partes constituintes de nosso corpo em sua forma e substância, ou infundir qualquer fluido acre pernicioso dentro de nossos vasos sanguíneos por meio do qual a quantidade de nossos humores podem ser alterados e pervertidos quimicamente -- uma invenção grosseira, completamente improvável, inadmissível, de mentes mecanicistas. As causas desencadeantes de doenças agem, mais propriamente, através de suas características essenciais, no estado de nossas vidas (em nossa saúde), somente de uma maneira dinâmica, muito similar à espiritual; e visto que como elas primeiro desequilibram os orgãos de um nível mais alto e da força vital, aí ocorre, deste estado de desarranjo, desta modificação dinâmica de todo o ser, uma sensação alterada (inquietude, dores) e uma atividade alterada (funções anormais) de cada órgão individualmente e de todos coletivamente, no que deve também ocorrer, necessariamente, de modo secundário, alteração dos sucos em nossos vasos sanguíneos, e secreção de materiais anormais, a conseqüência inevitável do caráter vital afetado, o qual difere, agora, do estado de saúde. Esses materiais anormais que se mostram em doenças são, portanto, apenas produtos da própria enfermidade, que, enquanto a afecção mantém seu caráter atual, devem ser necessariamente secretados e, assim, constituem uma porção dos 37 Este ensaio apareceu num jornal vinte anos atrás, naqueles dias significativos (Março, 1813) quando os alemães não tinham mais o lazer em leitura e ainda menos em refletir sobre assuntos científicos. A conseqüência disto foi que estas palavras não foram ouvidas. Pode ser que agora tenha mais chance de ser estudado minuciosamente, particularmente em sua atual forma menos imperfeita. (Do vol. II, 3 a edição, 1833) -- Hughes. 38 Com a exceção de umas poucas afecções cirúrgicas e dos efeitos desagradáveis produzidos por substâncias estranhas indigestas, as quais algumas vezes acabam dentro do canal digestivo. -- Hahnemann. 39 N. T. Bras.: em inglês “immaterial”; em alemão “immateriell”. 15 sinais mórbidos (sintomas); eles são meramente efeitos, e, logo, manifestações do mal interno existente, e eles certamente não reagem (muito embora freqüentemente contenham os princípios infectantes para outros indivíduos saudáveis) sobre o corpo enfermo que os produziu, como doenças desencadeantes ou substâncias mantenedoras, isto é, como causas mórbidas materiais, 40 exatamente como uma pessoa não pode infectar outras partes de seu próprio corpo, ao mesmo tempo, com o vírus de seu próprio cancro, ou com o material gonorréico de sua própria uretra, ou aumentar sua enfermidade com isso, ou como uma víbora não pode aplicar em si mesma uma mordida fatal com seu próprio veneno. Destarte, é certo que doenças estimuladas por uma influência dinâmica e virtual de agentes agressores mórbidos só podem ser, de início, perturbações dinâmicas (causadas quase exclusivamente por um processo espiritual) do caráter vital de nosso organismo. Nós percebemos prontamente que esses perturbações dinâmicas do caráter vital de nosso organismo as quais denominamos de doenças, desde que elas não são nada mais que sensações e funções alteradas, podem também se expressar por nada mais que um agregado de sintomas, e somente como tal são reconhecidas pelos nossos poderes de observação. Agora, numa profissão de tal importância para a vida humana como é a medicina, nada além do estado enfermo do corpo, claramente cognoscível por nossas faculdades perceptivas, pode ser reconhecido como o objeto a ser curado, e deve nortear nossos passos (escolher aqui conjecturas e hipóteses não demonstráveis como nosso guia seria insensatez perigosa, não somente um crime e traição contra a humanidade), segue-se que, desde que as doenças, como desequilíbrios do caráter vital, expressam-se somente por alterações das sensações e funções do nosso organismo, quer dizer, somente por um conjunto de sintomas conhecidos, isto, por si só, consegue ser o objeto de tratamento em cada caso de doença. Pois, ao remover todos os sintomas mórbidos nada mais resta senão a saúde. Agora, porque as enfermidades são apenas desarranjos dinâmicos de nossa saúde e caráter vital, elas não podem ser removidas pelo homem de outro modo que por meio de agentes e poderes que também são capazes de produzir alterações dinâmicas da saúde humana, quer dizer, doenças são curadas virtual e dinamicamente por medicamentos. 41 Essas substâncias e forças ativas (medicamentos) que temos a nosso serviço realizam a cura das doenças através do mesmo poder dinâmico de alterar o estado atual de saúde, através do mesmo poder de desarranjar o caráter vital de nosso organismo à respeito de suas sensações e funções, pelo que são capazes também de afetar o indivíduo sadio para produzir nele mudanças dinâmicas e determinados sintomas mórbidos, o conhecimento dos quais, como veremos, proporciona-nos a mais confiável informação concernente aos estados mórbidos que podem ser mais certamente curados por cada medicamento em particular. Daí, nada no mundo pode desencadear uma cura, nenhuma substância, nenhum poder consegue realizar uma alteração de uma tal característica no organismo humano, como aquela que a doença permitirá que ele faça, exceto um agente capaz de desarranjar (dinamicamente) prontamente a saúde humana, e por conseguinte, também alterar morbidamente seu estado saudável. 42 Por outro lado, contudo, também não há algum agente, algum poder na natureza capaz de afetar morbidamente o indivíduo sadio, que não possua ao mesmo tempo a faculdade de curar certos estados mórbidos. Agora, como o poder de curar doenças, como também de afetar morbidamente a saúde, é encontrado em combinação inseparável em todos os medicamentos, e como essas duas propriedades brotam evidentemente de uma e mesma origem, isto é, do poder deles em perturbarem dinamicamente a saúde humana, e como é conseqüentemente impossível que eles possam agir no doente de acordo com uma lei natural própria, diferente daquela de acordo com a qual agem na saúde, segue-se 40 Conseqüentemente ao limpar e remover mecanicamente esses materiais anormais, acrimônias e conteúdos mórbidos, a fonte delas (a própria doença), consegue ser tão pouco curada, exatamente como a coriza consegue ser encurtada ou curada ao assoar o nariz freqüentemente, e tão completamente quanto possível; isto não dura um dia além do seu próprio curso, mesmo que não se limpe o nariz assoando-o.* -- Hahnemann. * N. T. Bras.: este trecho final foi traduzido diretamente do alemão. 41 Não por meio dos pretensos solventes ou dispersõesmecânicas, expurgos, e poderes expulsivos de substâncias medicinais; não por meio de uma força (purificador sanguíneo, corretivo humoral) que eles possuem de excretar eletivamente princípios mórbidos fantasiosos; não por meios de poderes anti-séptico que têm (como é realizado em carne putrefata, morta, em putrefação); não por qualquer ação química ou física de qualquer outro tipo imaginável, como acontece em coisas materiais mortas, como tem sido até aqui falsamente imaginado e sonhado pelas várias escolas médicas. As escolas mais modernas têm, de fato, começado, em certo grau, a considerar as doenças como desarranjos dinâmicos, e a intenção delas é, também, de removê-las em algum modo dinâmico através dos medicamentos, mas, visto que, como falham em perceber que a sensibilidade, irritabilidade, e atividade reprodutiva da vida in modo et qualitate (no modo e qualidade) são susceptíveis de tão infinitas mudanças, e como não consideram as inumeráveis variedades de sinais mórbidos (aquela infinidade de alterações internas somente são cognoscíveis por nós em seus reflexos) para o que eles são de fato, a saber, o único objeto real de tratamento; mas como eles de modo hipotético só reconhecem um aumento ou diminuição anormais de suas dimensões quoad quantitatem (até que ponto em relação à quantidade), e numa maneira igualmente arbitrária, conferem aos medicamentos que empregam a tarefa de normalizar este aumento ou decréscimo unilateral, e a partir daí curá-las; eles portanto têm em suas mentes nada além de falsas idéias, ambas do objeto a ser curado e das propriedades do medicamento. 42 Conseqüentemente nenhuma substância, por exemplo, que seja puramente nutritiva. -- Hahnemann. 16 que deve ser a mesma força do medicamento que cura a doença no doente enquanto que produz os sintomas mórbidos na saúde. 43 Destarte, também encontraremos que o poder curativo dos medicamentos, e aquilo que cada um deles é capaz de realizar em doenças, expressa-se de nenhum outro modo no mundo, de forma tão certa e palpável, e não consegue ser averiguado por nós através de qualquer meio mais puro e perfeito, do que pelos fenômenos mórbidos e sintomas (os tipos de doenças artificiais) que os medicamentos desenvolvem em indivíduos saudáveis. Pois, se somente tivermos diante de nós registros de sintomas mórbidos (artificiais) peculiares produzidos pelos vários medicamentos em pessoas sadias, nós só precisaremos de uma série de experimentos puros para decidir quais sintomas medicamentosos sempre curarão rápido e permanentemente, e removerão certos sintomas de doença, a fim de conhecermos de antemão, em cada caso, qual de todos os diferentes medicamentos conhecidos e perfeitamente testados quanto aos seus sintomas peculiares, deve ser o remédio mais indicado em cada caso de doença. 44 Se então perguntarmos à experiência que doenças artificiais (observadas serem produzidas por medicamentos) deveriam ser beneficamente empregadas contra determinados estados mórbidos naturais; se lhe perguntarmos se a mudança para a saúde (cura) pode ser esperada que venha de maneira mais certa e permanente: 45 1. pelo uso de tais medicamentos que são capazes de produzir na saúde do corpo uma afecção diferente (alopática) daquela exibida pela doença a ser curada. 2. ou pelo emprego daqueles que são capazes de excitar no indivíduo saudável um estado oposto (enantiopático, antipático) ao daquele do caso a ser curado. 3. ou pela administração de certos medicamentos que podem causar um estado similar (homeopático) ao da doença natural que temos diante de nós (pois estas são as únicas três maneiras possíveis de empregá-los), a experiência responde indubitavelmente pelo último método. Mas, além disso, é por si mesmo evidente que os medicamentos que atuam de modo heterogênico e alopático, os quais tendem a desenvolver no sujeito hígido diferentes sintomas daqueles apresentados pela enfermidade a ser curada, a partir 43 O resultado diferente nesses dois casos é devido unicamente à diferença de objeto que tem para ser alterado. 44 Simples, verdadeira, e natural quanto essa máxima, tanto que se alguém a tivesse imaginado teria sido, há muito tempo, adotada como a regra para determinar os poderes curativos das drogas, é ainda o fato de que nada parecido tem sido até aqui pensado. Durante os muitos milhares de anos sobre os quais a história se estendeu, ninguém chegou à conclusão sobre este método natural de primeiro considerar os efeitos curativos dos medicamentos antes de empregá-los em doenças. Em todas as épocas passadas até o presente momento imaginou-se que as forças curativas dos medicamentos poderiam ser aprendidas de nenhum outro modo do que a partir do resultado do emprego deles nas próprias doenças (ab usu in morbis- a partir do uso em doenças); visou-se compreendê-las a partir daqueles casos onde um certo medicamento (mais freqüentemente uma combinação de vários medicamentos) havia sido útil num caso particular de enfermidade. Mas, mesmo a partir de um resultado eficaz de um único medicamento dado num caso de doença criteriosamente descrito (o que acontece senão raramente), nós nunca podemos saber o caso no qual aquele medicamento provaria ser de novo útil, porque (com exceção das doenças causadas por miasmas de um caráter fixo, como varíola, sarampo, sífilis, sarna, etc., e aquelas ocasionadas por vários agentes injuriantes que sempre permanecem os mesmos, como gota reumática, etc.), todos os outros casos de enfermidade são meras individualidades, quer dizer, tudo se mostra na natureza com diferentes combinações de sintomas, nunca ocorridos antes, e nunca podem cursar exatamente do mesmo modo; conseqüentemente, porque um medicamento curou um caso, não podemos daí inferir que irá curar outro caso (diferente). O arranjo forçado destes casos de doenças (que a natureza em sua sabedoria produz numa infinita variedade) sob certas cabeças nosológicas, como é feito arbitrariamente pela patologia, é um desempenho humano irreal, que conduz à constantes falácias e à confusão de muitos estados diferentes. Igualmente enganador e indigno de confiança, muito embora em todas as épocas universalmente praticada, é a determinação das ações (curativas) gerais dos medicamentos a partir dos efeitos especiais em doenças, onde na matéria médica -- quando, por exemplo, em alguns casos de doenças durante a utilização de um medicamento (geralmente misturado com outros), aí aconteceu, algumas vezes, uma excreção mais copiosa de urina ou transpiração, a menstruação surgiu, convulsões cessaram, aconteceu um tipo de sonolência, expectoração, etc.-- o medicamento (para o qual a honra foi atribuída mais do que para os outros da mistura) foi instantâneamente elevado à categoria de um diurético, um diaforético, um emenagogo, um anti- espasmódico, um soporífico, um expectorante, e a partir daí, não foi só uma fallacium causae (as causas das falhas) cometida por confundir a palavra junto de com de, mas uma conclusão totalmente falsa foi elaborada, a particulari ad universali (do particular para o universal), em oposição à todas as leis da razão; de fato o condicional foi feito incondicional. Pois, uma substância que não promove em todos os casos de doença, urina e suor, que não provoca em todas as situações a menstruação e o sono, que não suaviza todas as convulsões, e leve toda tosse à expectoração, não pode ser considerada por uma pessoa em perfeita razão, como sendo, incondicional e absolutamente, diurética, diaforética, emenagoga, suporífica, antiespasmódica e expectorante ! E contudo é isto o que faz a matéria médica comum. De fato, é impossível que num fenômeno complexo de nossa saúde, nas combinações multifacetadas de diferentes sintomas apresentados
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