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Produtos Florestais Não Madeireiros

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INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION – ITTO
FUNDAÇÃO PRO-NATUREZA – FUNATURA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA
Usina processadora de castanha-do-pará
PRODUTOS FLORESTAIS NÃO-MADEIREIROS:
PROCESSAMENTO, COLETA E COMERCIALIZAÇÃO
PROJETO ITTO PD 143/91 VER. 2 (I) –
SUMÁRIO EXECUTIVO DO RELATÓRIO TÉCNICO
BRASÍLIA, OUTUBRO DE 1998
2
SUMÁRIOSUMÁRIO
 Agradecimentos..........................................................................................................................05
 Apresentação..............................................................................................................................05
1. Introdução..................................................................................................................................07
2. Levantamento Socioeconomico da extração vegetal não-madeireira na Amazônia...........07
2.1 Metodologia de Pesquisa............................................................................................11
 2.2 O mercado atual para produtos não-madeireiros...................................................19
3. Extração florestal não-madeireira na região de Santarém...................................................19
3.1 A Economia Regional de Santarém..........................................................................20
3.2 O mercado de produtos não-madeireiros em Santarém.........................................21
3.2.1 Açaizeiro (Euterpe Oleracea)........................................................................21
3.2.1.1 Palmito............................................................................................22
3.2.1.2 Açaí (fruto)......................................................................................24
3.2.2 Cumaru..........................................................................................................25
3.2.3 Castanha-do-Pará.........................................................................................25
3.2.4 Borracha........................................................................................................29
3.3 Conclusão.....................................................................................................................29
4. Complementariedade entre exploração madeireira e não-madeireira na Floresta
 Nacional do Tapajós..................................................................................................................30
4.1 A Nova Política Brasileira para Florestas Nacionais..............................................30
4.2 Possibilidades Econômicas em Florestas Nacionais................................................31
4.2.1 Potencialidades Madeireiras e Não-Madeireiras......................................32
4.2.1.1 Metodologia..............................................................................................32
5. Banco de Dados de Produtos Não-Madeireiros.....................................................................36
5.1 Metodologia................................................................................................................36
6. Pesquisa Tecnológica de Curta Duração................................................................................38
6.1 Sabonete de Andiroba................................................................................................38
6.2 Sistema de Extração da Cumarina...........................................................................42
6.3 Látex de Sucuuba........................................................................................................44
6.3.1 Metodologia.................................................................................................45
7. Uma Tecnologia Alternativa para Produção de Borracha na Amazônia............................48
8. Conclusão do Sumário Executivo............................................................................................50
Bibliografia....................................................................................................................................54
Anexo: Banco de Dados de Produtos Não-Madeireiros – Estrutura e Exemplos.
3
Produtos Vegetais Não-Madeireiros da Amazônia: Processamento, Coleta e Comercialização
Projeto ITTO 143/91 Ver. 2(I)
Participantes do Projeto por Produto:
1. Sumário Executivo do Relatório Técnico
- Floriano Pastore Jr e Vag-Lan Borges – LATEQ/UnB
2. Levantamento Socioeconômico e Documentação
- Pesquisa de Campo: Floriano Pastore Jr., Afrânio J. R. Castro, Vanda de Souza (LATEQ),
Antônio Maria Pinheiro Naia (IBGE, Belém, Pará), Haroldo Canto Ferreira e Edberto Figueiras
de Castro (IBGE, Santarém, PA), Vag-Lan Borges (LATEQ), Luis Sérgio Pires de Moraes
(IBGE/DEAGRO, RJ).
- Coleta de Dados e Processamento: Vag-Lan Borges, Gyssia Faraco e Alessandra Bortoni Ninis
- Publicação: Vag-Lan Borges e Floriano Pastore Jr.
3. Vídeos
- Produção: LATEQ (Laboratório de Tecnologia Química/IQ
CPCE (Centro de Produção Cultural e Educacional/ Universidade de Brasília
- Apoio: ITTO (Internacional Tropical Timber Organization)
 FUNATURA (Fundação Pro-Natureza)
 IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis)
- Pesquisa: Floriano Pastore Jr.
 Afrânio J. R. de Castro
 Vanda de Souza
 Leonardo G. Reis
 Antônio J. Siqueira Filho
- Ficha Técnica: Diretor – Floriano Pastore Jr.
 Diretor-Assistente: Vag-Lan Borges
 Câmera: Vanda de Souza
 Editores: Sérgio Azevedo e Renato Coura
 Narrador: Marco Antônio
 Legendas: Ema Vídeo Produções
 Direção de Legendagem: Sérgio L. A. Pessôa
 rilha Sonora: Hermeto Pascoal, Kronos Quartet, Sergio Mendes, Radamés
Gnatalli, Almir Sater
4. Guia de Plantas Medicinais
- Autores: Afrânio J. R. Castro e Floriano Pastore Jr. – a partir de depoimentos de Nazareno
Gusmão de Oliveira, Manoel Pereira do Rêgo e Maria do Socorro da Silva
5. Banco de Dados de Produtos Não-Madeireiros
- Coordenação-Geral: Floriano Pastore Jr.
- Coordenação Específica: Marcos Vinícius Pires
 Afrânio José Ribeiro de Castro
4
- Pesquisa Bibliográfica e Preparação de Texto: Mary Naves da Silva
 Eliane Elisa Silva
 Sérgio Teixeira Alves
 Elis Regina Gregoletto
 Gyssia Faraco de Freitas
- Programação: JCP – Informática Ltda.
- Digitação: Valdete de Souza Ferreira
 Vanda de Souza Ferreira
 Leonardo Guilhermino Reis
- Revisão: Ione Nunes Cornélio Rêgo
 Mary Naves da Silva
- Pesquisa Bibliográfica Complementar: Nanshiu Maezoe
 Franklin W. Nascimento França
 Maria Carla Graciano França
 Alessandro Feitosa Machado
- Pesquisa Inicial em Meios Eletrônicos: Vitor Leonardo Honório dos Santos
6. Pesquisas de Curta Duração
6.1. Sabonete Baseado em Óleo de Andiroba: Érika Rocha Silva e Alexandre Bandeira de Faria
(LATEQ/UnB) e Luis Antônio Leone Soares (Universidade de Mogi das Cruzes)
6.2. Sistema de Extração da Semente de Cumaru: Maria de Lourdes Leite Faria (LATEQ/UnB), Vanda
de Souza e Alessandra Gomes Rodrigues (LATEQ/UnB)
6.3. Látex de Sucuuba: Eliane Shisuka Nakamura, Fernanda Martins de Souza, Marcos Vinícius
Pires (LATEQ/UnB)
Hiruake Ikemoto (Lab. de Biofísica/IB/Unicamp)
Alba Brito (Lab. Fisiologia/ IB/ Unicamp)
7. Uma Tecnologia Alternativa para a Produção de Borracha
- Floriano Pastore Jr., Leonardo Guillermino Reis, Vanda de Souza, Afrânio José R. de Castro e
Antônio José Siqueira Filho (LATEQ/UnB)
5
 Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio recebido do Diretor Executivo da ITTO e do seu Diretor
Assistente para Indústrias Florestais e dos Estados Unidos da América, Japão e Noruega pela
contribuição financeira a esse projeto. Também agradecem ao Diretor Executivo da Funatura por
proporcionarliberdade e autonomia à equipe de trabalho na condução dessa pesquisa, ao Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), escritórios regionais de Belém e Santarém-PA e
Departamento de Agricultura e Pecuária (Deagro), Rio de Janeiro, in memoriam do seu ex-Diretor Jairo
Silva e à ONG "Saúde e Alegria", de Santarém-PA, pela contribuição durante nosso trabalho de campo
na região. Como também ao Dr. Carlos Nedel, do IBAMA, pela sugestão original de realização desse
trabalho.
Um agradecimento especial à equipe de pesquisa desse Projeto, ainda presentes ou não, e a
todos que contribuíram para tornar esse trabalho possível, no Laboratório, em trabalho de campo e
documentação, pesquisas bibliográficas etc.
Apresentação
Este é o Sumário Executivo do Projeto ITTO PD 143/91 Ver. 2(I), entitulado PRODUTOS
FLORESTAIS NÃO-MADEIREIROS: PROCESSAMENTO, COLETA E COMERCIALIZAÇÃO,
financiado pela International Tropical Timber Organization (ITTO), a partir de acordo de cooperação
com o IBAMA e a FUNATURA (Fundação Pró-Natureza), e executado pelo Laboratório de
Tecnologia Química, da Universidade de Brasília.
Este Projeto tem como objetivo básico começar um grupo de estudos na área de produtos da
floresta nativa que sua exploração não implique a extração das árvores. Este conjunto de produtos é
constituído por um amplo universo de frutas, folhas, flores, cascas, resinas, latexes etc. ainda
empregados de inúmeras formas pela sociedade. A importância de estudos dessa natureza reside, ao
menos, em dois componentes: o primeiro, ele contribui para restaurar a importância que os
exploradores desses produtos tem na proteção das florestas com todos os benefícios derivados daí e,
segundo, porém não menos importante, o manejo desses produtos, selecionados durante longos
processos empíricos, levam a estudos científicos e tecnológicos trazendo contribuições significativas
para a etnobotânica.
Os objetivos específicos desse Projeto estão distribuídos em três sessões relativas a produtos
vegetais não-madeireiros (também nesse Relatório citado apenas como PFNM): a) estudos e
levantamentos socioeconômicos; b) revisões bibliográficas de literatura especializada e c) pesquisas
tecnológicas de curta duração de alguns produtos.
Na primeira sessão, as atividades foram dirigidas para a geração de (1) um diagnóstico do setor
não-madeireiro na Região Norte do Brasil, levando em conta aspectos econômicos, sociais, técnicos e
políticos; (2) uma pesquisa sobre aspectos específicos do mercado de PFNM na região de Santarém e
(3) um estudo de caso sobre a complementariedade entre produção madeireira e não-madeireira na
Floresta Nacional do Tapajós (FLONA Tapajós).
6
Na segunda sessão, foi desenvolvida uma ampla pesquisa bibliográfica com referência a mais
de 600 espécies da Amazônia, com potencial produtivo não-madeireiro.
Na terceira sessão, foram desenvolvidos trabalhos de pesquisas tecnológicas em três produtos -
óleo de andiroba, sementes de cumaru e leite de sucuuba - com vista a identificar melhores condições
de processamento e produção, almejando o aumento da oferta e da demanda. Posteriormente, um outro
produto, a borracha, foi incorporada a esse grupo tornando-se o quarto objetivo em estudos
tecnológicos do Projeto. Nesse Sumário, essa nova tecnologia para a produção de borracha merecerá
um capítulo próprio.
Este Sumário está apresentado em duas dimensões: uma dirigida para a análise das atuais
condições do mercado de produtos não-madeireiros na Região Norte do Brasil; e, outra, dirigida para a
geração de inovações tecnológicas que assegurem a sustentablidade econômica, social, política e
ecológica do setor produtivo, o qual tem sido uma alternativa real e possível de desenvolvimento para
milhares de famílias que ainda vivem da extração desses produtos da floresta ou que, a esse momento,
vivem sem nenhum alternativa de renda ou em precárias condições de bem-estar social.
Este Projeto da ITTO produziu seis resultados imediatos:
1. Diagnóstico Socioeconômico da Extração Vegetal Não-Madeireira na Região Norte do Brasil
2. Três vídeos sobre produtos não-madeireiros na Região Norte do Brasil:
n “Uma Tecnologia Alternativa para Produção de Borracha na Amazônia”;
n A Castanha-do-Pará no Oeste do Pará; e
n Plantas Medicinais no Estado do Pará;
3. Banco de Dados sobre Espécies Nativas da Amazônia;
4. Três Estudos em Tecnologias para PFNM Específicos:
· Sabonete de Andiroba,
· Sistema de Extração de Cumarina; e
· Uma pesquisa preliminar das propriedades medicinais do leite de sucuuba;
5. Uma pesquisa simplificada para produzir borracha de boa qualidade de fácil difusão da
Amazônia; e
6. Um panfleto sobre as plantas medicinais vendidas numa loja especializada em Belém do
Pará.
7
1. Introdução
A floresta amazônica ainda é fonte de recursos naturais para muitas utilidades humanas. Não
somente aqueles recursos alocados via mercado, mas também aqueles alocados (extraídos ou coletados)
para o autoconsumo ou para uso direto da família ou comunidade. Desse modo, a função social da
floresta ainda é muita diversa e rica. Muitas sociedades locais ainda têm nela a fonte primeira de
alimento, renda, paz, bem-estar social, saúde e segurança. A dimensão da ecologia humana muitas
vezes aparece desimportante e marginal para muitos estudiosos do desenvolvimento e para muitos
formuladores de políticas (técnicos, políticos etc.). A idéia de desenvolvimento termina sendo a
concepção daquele que formula a política sem trabalhar a sua interface: a concepção da sociedade
envolvida. Geralmente essa concepção de desenvolvimento ainda está fortemente atrelada a uma
perspectiva de crescimento quantitativo.
 
 Os dados apresentados aqui mostram, no longo prazo, uma forte redução da economia não-
madeireira na Região Norte do Brasil. No curto prazo, percebe-se uma tendência de oscilações de um
ano para o outro. Embora se identifique esse quadro, o extrativismo não tem sido substituído por outro
tipo de atividade econômica. Naquelas sociedades e comunidades que vivem exclusivamente da
extração de recursos naturais renováveis, o fim do extrativismo tem significado o fim de uma fonte
básica de renda, de trabalho e condições de subsistência.
Mas se os recursos não-madeireiros são tão importantes socialmente e, por isso,
economicamente, para as populações daquela região, por que ainda não tem merecido a devida atenção
da parte das políticas econômicas e sociais governamentais? Precisa-se ainda mudar a mentalidade de
que gestão de recursos não-madeireiros é coisa atrasada, pré-moderna, primitiva e sem nenhuma base
teórica racional. É preciso que se identifique o potencial extrativo de cada produto, sua importância
social, sua projeção econômica e a partir daí, formular medidas de políticas econômicas e sociais que
venham melhorar técnicas de produção, processamento e gestão e dar melhor qualidade de vida às
sociedades das várzeas da Amazônia.
2. Levantamento socioeconômico da extração florestal não-madeireira na
Amazônia
É secular a importância social dos produtos não-madeireiros na região amazônica. Se a política
de domínio e expansão portuguesa motivou a ocupação do Vale do Rio Amazonas, o extrativismo foi a
base econômica que lhe deu sustentação, assegurando a emergente urbanização da região, baseada em
duas grandes cidades: Belém, fundada em 1616, e Manaus, fundada em 1856 e induzindo o
povoamento das matas ciliares de vários outros rios afluentes do Amazonas: Negro, Xingu, Tapajós,
Trombetas, Purús, Madeira e Juruá. O desenvolvimento inicial da região amazônica teve como
“modelo” o extrativismo. Durante o século XIX, a floresta foi capaz de fornecer recursos para a
urbanização e a opulência dessas duas cidades e de suas elites.
A história da industrialização econômica do Brasil é entendida como sendo orientada por duas
forças. Uma espontânea, orientada basicamente pela demanda interna. E a outra, induzida, baseadana
proteção e no planejamento estatal. As transformações do extrativismo durante este século estiveram
8
ligadas a essa dinâmica da industrialização do país e à diversificação da economia regional, nacional e
internacional. O extrativismo praticado na Amazônia não somente teve (tem) uma dinâmica regional,
mas um aspecto econômico global.
Essas transformações da economia amazônica, orientada ora por fatores internos ora externos da
demanda ou padrões de consumo, de modo geral, tem levado a crescente redução da produção extrativa
e alterado acentuadamente o quadro da economia de subsistência e autoconsumo existente. Atualmente
existem na Região Norte do Brasil 16 produtos de potencial local, micro-regional ou regional que ainda
são importantes para a economia de centenas de comunidades e sociedades locais. É a existência desse
quadro socioeconômico que caracteriza este estudo e delimita o seu escopo, objetivos, conteúdos e
metas.
Partiu-se do princípio de que por traz de cada produto (mercadoria) existem milhares de vidas
humanas e animais e vegetais (uma megabiodiversidade), centenas de relações sociais baseadas em
pequenas comunidades, vilas e sociedades semi-urbanizadas e urbanizadas e uma infinidade de culturas
simbólicas e materiais e tradições históricas.
A alocação de produtos de fonte extrativista ainda é praticada porque é economicamente mais
viável extrair um bem nativo, disposto em condições naturais, que cultivá-lo. Nesse caso, a discussão
sobre se o extrativismo é atrasado ou moderno parece inócua: é um sistema social histórico que ainda
se justifica e se legitima como opção econômica uma vez que não se tem alternativa melhor. Também,
até certo ponto, tem sido o mercado quem determina até quando o extrativismo suporta a demanda,
responde em termos de preços e custo de produção final. Se produtos como açaí, palmito, castanha-do-
pará, copaíba, andiroba e borracha ainda são produzidos a partir do extrativismo é porque são
economicamente significantes e/ou ainda não justificou adotar sistemas de cultivo.
Tomamos como ponto de partida a sua importância para a subsistência de milhares de família e
sua especificidade como recurso natural renovável. Mais que sua importância em termos de produto
bruto ou valor bruto agregado, que são, em termos relativos, estatisticamente insignificantes - 1,8% do
PIB regional, em 1994 (IBGE), a sua importância social pode chegar a superar setores como a pecuária,
uma vez que absorve mais trabalho direto.
O extração de produtos não-madeireiros foi, é e pode continuar a ser fonte catalisadora de
desenvolvimento, bem-estar social e conservação ecológica. Os entraves ao desenvolvimento não
costumam estar nos recursos alocados, mas no potencial de alocação, nos modos como são alocados e
nas estruturas de distribuição dos benefícios.
A segunda importância do extrativismo tem sido a de geradora de bem-estar social. Baseados
nesse sistema econômico muitas famílias têm tido condições para se instrumentalizar com novas
opções de bens e serviços (televisão, fogão a gás, telha de amianto, antena parabólica, motoserra, barco
motorizado etc.) a partir da renda auferida com a comercialização dos produtos da floresta. Por outro
lado, o extrativismo tem sido importante também para a socialização e organização social em
associações, partidos políticos, cooperativas, sindicatos, comunidades de base etc.
Este Projeto de Pesquisa que ora introduzimos surge da demanda social e econômica por novas
tecnologias que legitimam uma novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia: ecologicamente
equilibrado e socialmente eqüível. Não bastam apenas os direitos de propriedade, é preciso um novo
estilo cultural de fazer, gerar riquezas e bem-estar social.
9
Amazônia são várias. Cada realidade eco-social demanda respostas diferentes. Logo, não há
porque existir um só modelo de desenvolvimento, mas muitos, que se articulem, integrem e iterajam
segundo às necessidades de cada espaço social.
Entretanto, aqui estão apresentados os esforços iniciais de um Projeto maior de geração de
tecnologias e informações para a gestão de recursos naturais renováveis de origem não-madeireira do
bioma amazônico: a borracha, o sabonete de andiroba, o leite medicinal da sucuuba e o cumaru.
Espera-se que essas novas técnicas de processamento não sirvam para reforçar e continuar legitimando
um sistema social baseado na exploração do trabalho das populações extrativistas e extinção dos
recursos naturais, como são dos casos do jaborandi (Pilocarpus spp), do açaizeiro (Euterpe oleracea),
do pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), das madeiras de lei etc., mas que venha a contribuir para a
libertação dessas sociedades rumo ao desenvolvimento e bem-estar social.
10
Laboratório Orion – tradicional na manufatura e armazenagem de produtos não-madeireiros, no centro velho de
Belém, onde vende essências, óleos e sabonetes, mantendo a cultura e a atividade ainda viva
Quando a economia não-madeireira entra em crise, o carvoejamento se torna uma alternativa de renda, o que
aumenta a exploração madeireira e a pressão sobre os recursos naturais renováveis
11
2.1 Metodologia de Pesquisa
A metodologia de pesquisa desse estudo baseou-se na análise dos dados de produção, em
quantidade e valores monetários, do IBGE. A abrangência do estudo se circunscreve à Região Norte do
Brasil, a qual de compõe dos estados de Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins. No uso específico do geoferenciamento, estendeu-se a análise dos dados ao Estado do
Maranhão, no Nordeste brasileiro.
Para uma melhor visualização da dispersão e tendências do potencial de recursos na Região
Amazônica utilizou-se o geo-referenciamento, na programação Samba-Cabral. Os dados de geo-
referenciamento foram importantes para se tomar uma noção mais clara da extensão das áreas aonde se
pratica a coleta de produtos não-madeireiros e a variação da produção em função do espaço.
Os dados de exportação utilizados foram coletados junto à SECEX (Secretaria de Comércio
Exterior), todos em dólar. Procuramos correlacionar na análise dos dados preços, volume exportado e
valor auferido. Será importante a realização de estudos mais pormenorizados para se entender os
fatores que interferem na redução da exportação de não-madeireiros: baixa produtividade, rigidez da
oferta, competitividade etc.
Durante a pesquisa foram feitas duas visitas a campo. A primeira, se baseou na coleta
depoimentos de extratores, técnicos, industriais, atravessadores, políticos, lideranças comunitárias
sobre a questão dos recursos não-madeireiros na atualidade (mercados, condições de financiamento,
restrições à comercialização, perspectivas do setor etc.). A segunda esteve voltada para um
levantamento de dados macro e microeconômicos e sócio-ambientais secundários e primários da gestão
de recursos renováveis não-madeireiros na Amazônia (oferta, demanda, condições e custo de trabalho,
processamento, preços, impactos ecológicos e ambientais, competitividade, padrão tecnológico etc.).
A próxima página traz a metodologia empregada para a atualização monetária. Na página
seguinte são apresentadas alguns exemplos de dados compilados e analisados.
O conjunto de Tabelas, Gráficos e análises formam um produto a parte desse Projeto, com
versão em português.
· Tabela 1 – Série histórica da produção não-madeireira, em quantidade e valor;
· Tabela 2 – Série história da exportação de produtos não-madeireiros;
· Figura 1 – Produção de Látex coagulado na Região Norte do Brasil
· Figura 2 – Produção de Castanha-do-Pará na Região Norte do Brasil
12
Metodologia da Atualização Monetária
A técnica utilizada para a atualização monetária dos dados estatísticos
apresentados neste relatório de pesquisa baseia-se na metodologia de coleta,
organização e elaboração de dados do IBGE (Pesquisa da Extração Vegetal e
Silvicultura- PEVS) e na fórmula de atualizaçãode preços nominais a partir da
utilização do IGP-DI (Indice Geral de Preços-Disponibilidade Interna). A
metodologia do IBGE para o cálculo do valor da produção baseia-se no conceito de
Preço Médio Unitário. Este conceito “refere-se à média dos preços recebidos pelos
produtores do município durante o ano de referência da pesquisa, por unidades de
medida considerada para cada produto (R$/m3 para lenha, madeira em tora e nó de
pinho e R$/kg para os demais produtos), sendo esta informação utilizada para o
cálculo do valor da produção”. A partir do conceito de Preço Unitário Médio,
formulado pelo IBGE e de publicações sobre mercados extrativistas e produtos
vegetais não-madeireiros, pôde-se utilizar os índices do IGP-DI, publicados pela
Fundação Getúlio Vargas para a atualização dos dados, considerando-se como data
base para todos os produtos e todos os anos de safra o mês de dezembro. Para a
conversão dos dados aplicou-se a fórmula matemática abaixo para conversão de
valores nominais em tempos diferentes, usando o IGP-DI.
Vr = Vn · Ind (b)
 Xn Ind (t)
Onde, o valor real – Vr é igual ao valor nominal – Vn – deflacionado segundo fator
expresso na Tabela de “Unidades do Sistema Monetário Brasileiro” editada pelo
Departamento Econômico do Banco Central do Brasil – Xn -, multiplicado pelo
IGP-DI da data base – Ind(b) -, de outubro de 1997, e dividido pelo IGP-DI de
dezembro do ano da série histórica – Ind(t). Posteriormente esses dados foram
convertidos para o dólar utilizando-se a taxa de câmbio do Banco Central do Brasil
para o mês de outubro de 1997: US$ 1,00 = R$ 1,1098.
O fato do Brasil haver tido, para a série histórica aqui analisada, sete
moedas diferentes (Cruzeiro, de 15.05.70 a 14.08.84, Cruzeiro, de 15.08.84 a
27.02.86, Cruzado, de 28.02.86 a 15.01.89, Cruzado Novo, de 16.01.89 a 15.03.90,
Cruzeiro, de 16.03.90 a 31.07.93, Cruzeiro Real, de 01.08.93 a 30.06.94, e Real, a
partir de 01.07.94) utilizou-se a Tabela de Conversão Monetária do Banco Central
do Brasil.
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Gráfico 1
Látex Coagulado (Hevea brasiliensis)
Produção de Extração Vegetal Não-Madeireira - Região Norte do
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50000
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20000
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140000
160000
180000
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Ton.
Mil US$
Fonte: IBGE, 1995
Gráfico 2
Castanha-do-Pará (Bertholletia Excelsa)
Produção de Extração Vegetal Não-Madeireira - Região Norte do 
Brasil
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
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87
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19
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19
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10000
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30000
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70000
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Ton.
Mil US$
Fonte: IBGE, 1995
19
2.2 O Mercado atual para produtos não-madeireiros
No Brasil, o mercado de produtos florestais não-madeireiros é ainda bastante desorganizado
institucionalmente: não existe nenhuma agência responsável pela regulamentação, planejamento,
fomento e defesa do setor; nenhuma ação direcionada para a geração de novas tecnologias, elaboração
de planos de manejo e de conservação e respeito ao limite máximo de exploração sustentável das
espécies, e, também, os benefícios econômicos da exploração dos recursos para os extratores são
bastante pequenos se comparados à aqueles recebidos pelos atravessadores, beneficiadores e
exportadores. A falta de orientação técnica adequada e economicamente eficiente para a gestão desses
recursos tem implicado à contínua redução da produção extrativa não-madeireira em geral. Por sua vez,
a falta de informação e conhecimento sobre técnicas sustentáveis de manejo dos recursos e sobre os
mercados para os produtos da floresta faz com que a economia extrativa não-madeireira se veja exposta
aos ciclos de expansão, estagnação, retração e extinção: a demanda sobrecarrega a capacidade de oferta
do recurso pela floresta, elevando o nível de preços e permitindo que o mercado (os agentes
consumidores do produto não-madeireiro) procure outras alternativas em termos de custo e qualidade,
através da domesticação da espécie natural, da sintetização do produto ou pela simples substituição.1 O
ideal é que a gestão de recursos naturais renováveis possa ser feita ao mesmo que domesticação e a
formação de cultivos, para aqueles produtos em que a floresta não consiga mais atender a demanda
crescente. Isto faz necessário esforços institucionais, governamentais e não-governamentais para:
· Gestão sustentável dos recursos naturais renováveis
· Domesticação progressiva e disseminação de espécies nativas
· Estudos tecnológicos e de mercado para o conhecimento de novas utilidades de PNM, com
identificação de demandas e possibilidades de sintetização e domesticação da espécie;
· Adoção de sistemas de preços e de mercado que gerassem a estabilização da demanda e da
oferta através de certificação florestal, comunicação e transparência de mercado, dentre
outras; e
· Contínua e firme expansão da demanda através de marketing e promoção;
· Pesquisas tecnológicas para a realização de um ou mais dos objetivos seguintes:
· Introdução de novos PNM;
· Melhoramento de qualidade e crescimento da produção dos PNM;
· Inserção da fase de processamento e a agregação de valor o quanto possível nas
comunidades rurais; e
· Difusão de novos conhecimentos técnicos para aumentar os ganhos na cadeia produtiva,
especialmente para os extratores.
3. A extração florestal não-madeireira na região de Santarém
Santarém é a segundamais importante cidade do Estado do Pará, por sua projeção econômica,
populacional e locacional. Neste século, a cidade esteve presente em todos os ciclos de expansão da
economia regional e paraense: a borracha, a bovinocultura, a agricultura, a exploração madeireira e a
mineração (garimpagem). Também, em razão da sua localização, na foz do Rio Tapajós e nas
proximidades das fozes dos Rios Trombetas, Arapiuns e Mojú e, ainda, por estar quase eqüidistante de
 
1 No Brasil, Alfredo Homma (1993) tem sido o que mais criteriosamente tem aplicado a análise neoclássica para economia
de recursos renováveis, contribuindo muito para a compreensão da questão do extrativismo não-madeireiro na Amazônia.
Entretanto essas análises precisam considerar a estrutura e o funcionamento do mercado e as instituições de regulação e
controle do setor, não somente uma função de oferta e demanda em concorrência perfeita, como faz Homma (1993).
20
Belém e Manaus, saindo do raio de influência econômica direta dessas duas metrópoles e com estas
mantendo relação de complementariedade, à medida que Santarém preenche espaço central na
catalização e dispersão dos fluxos de recursos, pessoas e comunicação.
Como Belém e Manaus, Santarém têm como base inicial para sua formação a extração de
produtos não-madeireiros. Ali chegavam de canoa e em pequenos e grandes embarcações coletores e
extratores de todas as adjacências para negociar os seus produtos. Na fase mais acentuada da crise
econômica do extrativismo, a cidade foi perdendo importância como centro comercial e, dada a
redução do mercado, compradores, atravessadores e beneficiadores de produtos não-madeireiros se
mudaram dali e se concentraram em pequenos e médios núcleos urbanos (Alenquer, Oriximiná,
Óbidos, Gurupá etc.), localizados nas franjas dos rios e faixas de terra onde realmente se localizam as
zonas de exploração dos produtos – castanha-do-pará, palmito, cumaru, juta, copaíba, açaí etc.
3.1 A economia regional de Santarém
Santarém mantêm importante papel na economia regional, principalmente em razão do seu grau
de industrialização comparado aos municípios circunvizinhos – Itaituba, Oriximiná, Óbidos, Alenquer,
Prainha etc.
A industrialização, terciarização e institucionalização da economia municipal levou a que a
prática extrativista fosse substituída por setores da economia com melhores custos de oportunidades e
mercados de trabalho com melhores remunerações. Este mercado, mesmo considerando o da zona
rural, é absorvido pelo agropecuária, extração e processamento madeireiro e/ou pela garimpagem.
Considerando aqui três setores primários, a extração vegetal representa 63%, gerando R$
89.756 mil, a pecuária 24%, gerando 34.210 milhões e a agricultura 13%, gerando R$ 18.282 mil
(IBGE, 1995).
Embora ainda responda por 63% da economia primária, nos últimos três anos a tendência da
extração vegetal é decrescente em razão de uma maior fiscalização ambiental sobre os tipos de manejo
madeireiro praticados pelas serrarias da região de Santarém. Em junho de 1997 existiam 27 serrarias no
município de Santarém, atualmente, julho de 1998, existem 16.
A reestruturação do setor madeireiro na Amazônia brasileira no geral, e na região de Santarém,
no particular, tem como causa dois fatores articulados.
O primeiro é uma maior presença regulatória e fiscal da parte da agência brasileira de gestão
ambiental, o Ibama, sobre as serrarias, exigindo que estas apresentem plano de manejo, cumpram o
plano apresentado, apresentem guias de comercialização das madeiras tiradas e cumpram normas de
segurança no trabalho e as leis trabalhistas brasileiras. A vigência desse marco regulatório do setor
florestal tem implicado no aumento dos custos da exploração madeireira, fazendo com que muitas
pequenas e médias madeireiras, que antes subsidiavam o trabalho de campo das madeireiras maiores,
falissem.
A segunda causa da reestruturação do setor madeireiro é a competitividade gerada pela entrada
das madeireiras asiáticas, com tecnologias e engenharias de produção mais eficientes economicamente,
que impuseram ao mercado brasileiro custos marginais de produção mais baixos que os antes
praticados pelas madeireiras nacionais, as quais chegavam a trabalhar com margem de desperdício de
40% da matéria-prima (Barreto, 1997).
21
3.2 O mercado de produtos não-madeireiros em Santarém
Mesmo que no seu município não seja mais comum ou freqüente a prática extrativista Santarém
ainda é entreposto para a comercialização de alguns produtos da floresta: o palmito, o açaí, a castanha-
do-pará, a copaíba e o cumaru. Antes existiam na cidade três compradores de produtos não-
madeireiros. A crescente redução do mercado, induziu a aproximação das plantas de beneficiamento e
comercialização para as áreas próximas às zonas de extração dos produtos, de maneira a reduzir custos
locacionais, custos de transporte e aproveitando as infra-estruturas urbanas já existentes nessas regiões.
No caso da castanha-do-pará, por ser uma espécie de terra firme, a atividade de beneficiamento se
concentrou no espaço urbano, aproveitando a oferta de mão-de-obra e serviços públicos (energia,
rodovias, oferta de mão-de-obra etc.). Entretanto, no caso do palmito, espécie das várzeas, as plantas de
beneficiamento tiveram que se dirigir para as zonas de exploração do palmito e do açaí. Quanto ao
cumaru e a andiroba, eles continuam a ser vendidos in natura.
3.2.1 O Açaizeiro (Euterpe Oleracea)
O açaizeiro é a matriz geradora de dois produtos não-madeireiros: o palmito e o fruto do açaí. O
primeiro, através do aniquilamento da palma, o segundo através da coleta do cacho de frutos (Vide
abaixo Gráfico sobre o sistema econômico do açaizeiro). De certo modo, a exploração do palmito e do
açaí são excludentes: se extrai-se o palmito reduz-se potencial de exploração do fruto. O extrator
precisa fazer a sua escolha econômica e, geralmente, a sua escolha tem sido direcionada pelas
condições de curto prazo, ou seja, de sobrevivência da família. Abaixo expomos as condicionantes
econômicas, sociais e ambientais que caracterizam o trade-off entre a coleta do fruto e a extração do
palmito.
1. O palmito pode ser extraído o ano todo, o açaí somente pode ser coletado durante o período de safra
- junho-setembro. Isso faz com que o extrator se sinta pressionado a retirar a palma, como
alternativa de renda no período fora da safra do açaí, de outubro a maio.
2. Uma vez extraído o palmito, no período de 4-6 anos aquela palma não dará fruto, reduzindo a oferta
do produto e gerando escassez para o autoconsumo da família.
3. Independente de ser ou não comercializado, o fruto do açaí serve para o autoconsumo, por isso é
viável que seja mantido o açaizeiro. Como dissemos, uma família de dez pessoas consome
diariamente 14 kg de fruto (em espécie ou na forma de suco), o que contribui bastante para a dieta
alimentar da família, principalmente as crianças.
4. Ao vender o palmito, o coletor reduz a produção de fruto e gera contenção do consumo doméstico
de suco de açaí, de maneira a gerar excedente comercializável do produto, garantindo assim renda
para a satisfação de outras demandas da família (arroz, farinha, açúcar, sal, óleo, roupa,
combustível etc.).
5. Com a escassez gerada pela subreexploração e o alto custo social do trabalho (como relatado
anteriormente) os coletores têm demandado outras alternativas de geração de renda, principalmente
para os períodos de entre-safra da coleta do açaí.
22
3.2.1.1 O Palmito
O palmito é o terceiro mais importante produto não-madeireiro da Região Norte do Brasil no
momento, respondendo por 13,8% do setor. No ano de 1995, a sua produção totalizou 19.298 toneladas
gerando US$ 9.000.000. As áreas das Ilha do Marajó e Ilhas de Gurupá são as de maior potencial de
exploração na atualidade.
O palmito é extraído pelas populações ribeirinhase vendido para as empresas processadoras
instaladas próximas às áreas de extração.
O comércio de palmito se baseia na extração, no processamento na indústria e distribuição
(doméstica e exportação). A extração é feita por famílias que vivem no estuário do Rio Amazonas –
várzeas e terras firmes. Para fazer a coleta do palmito, o extrator precisa deslocar de canoa uma média
de quatro horas para ir e voltar – algo em torno de 10-20 km (Pollack, 1992). Lá, ele extrai em média
200 palmitos “pequenos” (diâmetro < 2 cm) ou 175 palmitos “médios” (diâmetro = 2-3 cm) ou 150
palmitos “grandes” (diâmetro > 3 cm) (Idem).
Se o extrator vende o caule para a empresa processadora, ele pode receber US$ 0,039 pelo
palmito pequeno, US$ 0,052 pelo palmito médio e US$ 0,065 pelo palmito grande (Ibidem).
Se o extrator já vendeu o palmito preparado para a empresa, ele pode receber entre US$ 1,00-
1,30 por kg. Cabendo à empresa processadora apenas envasar e rotular. Após processada e envasada, a
produção de palmito é comprada pelo atravessador, que distribui para o mercado interno e para o
externo.
Uma empresa processadora processa em média 30 toneladas de palmito ao mês com
faturamento médio de US$ 10.704 por mês e lucro líquido de 3.315 mês (Ibidem).
Na região de Santarém existem pequenos comerciantes que distribuem os frascos para o
extratores de palmito envasarem com o produto. Nesse caso, eles desempenham todo o trabalho de
extração, cozimento do palmito, corte e envasamento, cabendo ao comprador apenas colocar o rótulo e
distribuir para o mercado regional e local, sem nenhum controle sanitário e do S.I.F – órgão brasileiro
responsável pelo controle e normas de saúde pública.
A falta de manejo adequado tem causado a sobreexploração do recurso: extração de palmito
com diâmetro inferior a 2 cm, exploração de caules em intervalos inferiores a 4-5 anos, ou seja, sete
metros de altura e três cm de diâmetro. A ausência de outras fontes de renda durante todo o ano leva a
que a extração e venda do palmito seja a única atividade econômica disponível, mesmo que o extrator
saiba que a retirada do palmito reduz a produção do fruto do açaí.
Embora exista a Portaria no 02-N, de 9 de Janeiro de 1992, do IBAMA, que regula o sistema de
manejo dos açaizais nativos, somente agora o Ibama tem sido mais rigoroso no cumprimento da norma,
o que implicará no aumento do potencial extrativo no futuro.
23
O palmito extraído do açaizeiro é um importante produto não-madeireiro, que emprega diretamente 20
mil pessoas na região da Amazônia conhecida como as Ihas de Gurupá, no estuário do Rio Amazonas.
O coletor de castanha-do-pará observa sendo medido durante a venda. O hectolitro, volume cabível no
caixote (foto) evita a interferência da umidade no conteúdo (a amêndoa).
24
Existe na Amazônia uma cultura empresarial que considera toda atividade extrativa como
cíclica e transitória (expansão, estagnação, retração e cultivo). Por trás dessa cultura econômica, existe
os direitos de propriedade indefinidos e as áreas públicas de livre acesso, a custo zero para o extrator e
para o processador. Isso induz a que nenhum empresário tenha preocupações em fazer plano de manejo
(Pollack, 1992) ou cumprir a norma de comprar palmito com diâmetro acima de 2 cm. Segundo ainda
Pollack, de cinco empresários entrevistados, todos investiam os seus lucros em outras atividades
econômicas. O que mostra a descaso daqueles com a sustentabilidade da gestão econômica futura, uma
vez que não têm custos com a manutenção dos padrões de uso solo e exploração do recurso, e a
expectativa de que o mercado do produto é passageiro.
No Sudeste do Brasil, no estado de Espírito Santo, a empresa Coimex desenvolve plantações de
pupunha (Bactris gasipaes). Para o ano de 1998, a empresa pretende faturar US$ 2,4 com a venda de
palmito de pupunha e para o ano de 1999 atingir a cifra de US$ 5,4 milhões.
Hoje o palmito de pupunha somente cobre 3% da demanda. Mas as expectativas são de
expansão. Se não se adotar maior vigor na exigência do cumprimento da norma sobre condições de
manejo dos açaizais e assegurar ganhos maiores para as populações extrativistas, mas uma vez as
sociedades caboclas estarão sendo preteridas pelo cultivo de produtos antes não-madeireiros em outras
regiões (o caso da borracha, da castanha-do-pará, do cacau etc.), por grandes empresas (o caso do
dendê, do palmito etc.) ou concentrados nas mãos de alguns agentes econômicos da região (o caso do
sisal etc.), o que implicará diretamente em desemprego e falta de alternativa econômica para 20 mil
famílias do estuário do Rio Amazonas.
3.2.1.2 Açaí (fruto) (Euterpe Oleracea)
Nos últimos anos é crescente a importância econômica do fruto de açaí em toda a região do
estuário amazônico. O açaí é há séculos fonte básica de alimentação para a população local e possui um
amplo mercado regional. Estima-se que 59% do comércio de açaí é regional – ou seja está circunscrito
às cidades da região do estuário do Rio Amazonas (Lameira, 1997). Também, as famílias coletoras do
fruto reservam para o autoconsumo entre 1/3 a 1/5 do produto total coletado. Uma família de 10
pessoas consome 1 rasa de açaí por dia, o que significa 20 L ou 14 kg. Em função do tamanho da safra
e da demanda local (cidade), o preço da rasa (14 kg) pode variar de US$ 0,0 até US$ 17. Também, em
cidades como Belém, a demanda por açaí pode chegar a 4 toneladas/dia (Shanley, 1998).
Com a crise do palmito, em razão de uma maior pressão fiscal por parte do Ibama, a tendência é
aumentar a produção de fruto do açaí, seja em razão da demanda para o autoconsumo, que ultimamente
vinha sendo reprimida como forma de se gerar excedente comercializável, seja em razão da crescente
expansão do mercado de suco de açaí em polpa.
Na região de Santarém, especificamente, na cidade de Santarém, o fruto do açaí tem sido
comercializado por US$ 3,50, em média, a rasa.
O suco do açaí também é um importante produto onde se pode gerar renda e agregar valor a
partir da introdução e difusão de novas tecnologias para o preparo de polpas, doces, sorvetes, geleias
etc. Mesmo o mercado regional, da Amazônia, já pode ser alvo de expansão do mercado do açaí.
25
3.2.2 Cumaru (Dipteryx Adorata)
O mercado de cumaru tem reduzido significativamente nos últimos dois anos. Atualmente a sua
demanda é intermitente, ou seja, e baseada em “encomendas”: um comprador contata um atravessador
em Santarém que por sua vez faz a encomenda para o coletor, na floresta.
O cumaru ainda é utilizado como fixador de perfume, a partir da cumarina, aromatizante de
cigarros e de chocolates.
Na floresta, segundo os coletores, o estoque do produto é grande, o que pode ser comercializado
uma vez criadas novas demandas para o produto.
O coletor ganha entre US$ 0,70-1,00 por kg de cumaru vendido. O atravessador, situado em
Santarém, vende o produto para o consumidor final por US$ 1,40 por kg.
Um estudo mais aprofundado do mercado de cumaru pode ajudar a se entender como é possível
estimular a demanda, agregar valor ao produto na região e ter preços de mercado competitivos juntos
aos artigos similares que aparecem como substitutos.
3.2.3 Castanha-do-Pará (Bertholetia Excelsa)
Santarém é entreposto para uma parcela do comércio de castanha-do-pará. Muitos caboclos
vendem na cidade a sua produção por se tornar mais custoso e demorado negociar a sua produção nas
cidades aonde existem usinas de processamento.
Atualmente existe na cidade apenas uma empresa que compra castanha – o Corujão. Com
exceção para a borracha e o fruto do açaí, o Corujão compra todos os demais produtos não-madeireiros
comercializados na cidade. É ele quem faz o preço; determina a sua margem de lucro. Para esses
produtos, o mercado de não-madeireiros em Santarém se caracteriza como sendo um monopsônio –
somente existe um comprador – o que causa vários tipos de gargalos.
O principal gargalo de mercado decastanha-do-pará é gerado pelos oligopólios. Esses
oligopólios da castanha determinam a sua margem de lucro e o preço o que inibe o crescimento da
demanda e expansão do mercado consumidor. Em toda região amazônica existem apenas três grupos de
exploração da castanha: os Mutran, em Marabá, no Pará, a Lorenzano, em Oriximiná, e a Gaíba, em
Alenquer.
A maior parcela da castanha-do-pará coletada e beneficiada na Amazônia tem como destino o
mercado exterior. No Brasil, o seu consumo se dá mais durante as festas de fim de ano, principalmente
em razão do seu elevado preço para o brasileiro de renda média – US$ 10,00 por kg – ou em razão de
não existir, fora da região amazônica, a cultura de consumo cotidiano do produto.
Como todos os produtos não-madeireiros da Amazônia (com exceção para a borracha) não
existe nenhuma atenção do Estado na forma de fomento, gestão, planejamento etc. A estrutura
oligopolizada ou oligarquizada que historicamente deu sustentação ao extrativismo na Amazônia
dispensava uma presença mais ostensiva do Estado brasileiro. Por isso, hoje, quando a tendência o
extrativismo na Amazônia é crítica, não existe no país uma base de conhecimento, leis e normas e
cultura organizacional que reoriente o setor e crie novas condições de sustentabilidade econômica,
social e política para a exploração de produtos não-madeireiros.
26
No caso da castanha, o mercado possui três ou quatro agentes: os coletores, os atravessadores e
os beneficiadores/exportadores. Em razão dos baixos preços pagos aos coletores, estes têm desistido de
fazer a coleta do ouriço e sua quebra e passado a se dedicar a outras atividades econômicas de aptidão
local ou regional: carvão vegetal, agricultura, diária etc. Nesses casos os beneficiadores contratam
diaristas para coletarem os produtos nos castanhais.
A região próxima à Santarém, ao norte do Rio Amazonas, cobrindo as municipalidades de
Alenquer, Óbidos, Oriximiná, foi visitada e registrada em vídeos por esta equipe de pesquisadores, no
âmbito desse Projeto. Ali está uma das maiores zonas de castanhais. Como as comunidades se
localizam próximas, isto favorece a produtividade e competitividade em termos de preços de venda. É
preciso lembrar que essa amêndoa possui vários competidores no mundo, i.e., outras amêndoas.
Durante os anos 60 e 70, incentivos fiscais para a pecuária e agricultura, literalmente ateou fogo em
áreas de castanhais. As castanheiras, proibidas de serem queimadas por lei, tornaram-se expostas no
meio das pastagens e, em razão do desequilíbrio ecológico, morrem. Como resultado, os castanhais têm
se tornado mais distantes das comunidades, reduzindo a eficiência produtiva do coletor.
A castanha-do-pará é comercializada obedecendo a um único padrão de mercado - o hectolitro,
que na região amazônica é medido pela lata de 18 litros (usada para tintas e óleos). O uso do hecto
evita a interferência da umidade no peso, fazendo com que a mesma matéria se torne mais cara. Um
hecto, com umidade média, pode pesar cerca de 55 Kg. Os preços mencionados para a castanha, a
seguir, estão baseados em hectolitro. A castanha é classificada pelos agentes econômicos por tamanho:
pequena, média e grande. Quando os preços estão bons para o coletor, a castanha “grande” pode
alcançar preço de US$ 13,00 e a “pequena” e a “média” alcançam preço igual de US$ 10,00.
Quando a safra é grande, o preço para o coletor varia entre US$ 5,5-6,0 no início da safra e
alcança 10,00-13,00 no pico da safra. No final da safra o preço retorna para o mesmo valor inicial. O
atravessador recebe entre US$ 10,00-12,00 no início da safra, uma faixa de 22,00 no pico e novamente
o preço inicial por hectolitro no final da safra.
Quando a safra é pequena, os preços se tornam melhor para o coletor: US$ 10,00-13,00, no
início, US$ 16,50 no pico, e novamente US$ 10,00-11,00 no final da safra. Nesse caso, o atravessador
recebe entre 17,00-20,00, no início, 30,00-35,00, no pico da safra, e novamente 17,00-20,00 no final.
 Os dados acima nos permite inferir que o atravessador trabalha com uma margem de lucro
bruto média girando em torno de 100% sobre o preço de custo da mercadoria – a castanha. Como os
atravessadores formam também oligopsônios ou monopsônios, como é o caso do Corujão, de Santarém,
eles têm tido o poder de "dar" o preço do produto ao coletor e desse modo garantir sua margem de
lucro.
Mas as distorções maiores são criadas pelas usinas de beneficiamento. Ali elas trabalham com
faturamento líquido astronômicos: se o kg da castanha tipo seca para exportação estava US$ 3,23 e o
atravessador estava repassando o produto para as usinas por US$ 0,35 kg no pico de safra, esta tem um
ganho bruto sobre preço de compra da castanha de US$ 2,88.
O pico de safra não ocorre em razão da escassez do recurso na floresta, mas pela razão de que
as indústrias precisam cumprir o seu contrato com as importadoras. Geralmente ao meio da safra,
como forma de assegurar a produção necessária para cumprir a meta, as indústria sobem o preço da
castanha-do-pará. Se observarmos os dados apresentados anteriormente podemos visualizar que a
27
demanda gerada pela indústria tem maior impacto no atravessador, o qual não passa o sinal de
mercado ao todo para o coletor. No caso da safra pequena, o faturamento do atravessador cresce entre
50% a 100%, enquanto o faturamento do coletor cresce entre 40% e 60%. Quando a safra é grande,
existe maior oferta do produto no mercado, o atravessador e coletor tem crescimento de rendimentos
iguais – 100% - no pico de safra.
A partir de dados de pesquisa conduzida por este projeto, apenas 50% da castanha liberada pelas
castanheiras é coletada. O preço pago ao coletor, segundo eles, não compensa o trabalho. O sistema de
preços em oligopólios gera um tipo de escassez que não é econômica mas de mercado, ou seja, se dá
nos canais de alocação disponíveis. A rigidez das estruturas de mercado gera distorções na alocação
dos recursos que por sua vez gera desequilíbrios no sistema de preços e alocação sub-ótima.
A alavancagem econômica da castanha-do-pará como instrumento de desenvolvimento rural
sustentável tem como principal requisito quebrar os oligopólios que caracterizam o setor; criar um
mecanismo de concorrência que garanta redução de preços e expansão da demanda. O fomento ao
estabelecimento de micro-usinas pode ser uma medida eficaz para aumentar a coleta e beneficiamento
da castanha. Por outro lado, a estruturação de associações comerciais e cooperativas de coletores de
castanha pode aumentar a sua margem de lucro e tornar a coleta da castanha uma atividade econômica
viável para um número ainda maior de comunidades extrativistas rurais da região amazônica.
28
Maquina de descascar castanha-do-pará. Esse trabalho emprega centenas de mulheres e
jovens durante o período de safra
O castanheiro e seus
instrumentos de trabalho
29
3.2.4 Borracha (Hevea Brasiliensis)
Desde 1967 a governo brasileiro adotava uma política de garantia de preço e mercado para a borracha
brasileira fundamentada no contingenciamento da borracha importância à absorção da borracha
nacional pelo mercado, taxação do preço de venda da borracha de maneira a gerar um fundo de
investimento para o setor através de um instrumento chamado TORMB (Taxa de Organização e
Regulamentação do Mercado de Borracha) e a utilização do draw-back como forma de estimular a
exportação de produtos manufaturados a partir confeccionados com borracha importada. Esses três
instrumentos tornaram-se ineficazes e defasados em razão da pressão crescente do mercado consumidor
por borracha com menores preços. O custo de produção da borracha nacional – nativa e de cultivo –
havia se tornado tão alto frente aos preços praticados por outros países que o draw-back se tornou uma
válvula de escape para a importação de borracha: as empresas importavam em sistema draw-back e não
exportavam produtos manufaturados.Em 12 de agosto de 1997 o governo acaba com a TORMB e cria no seu lugar uma Lei que
concede e regulamenta subsídio de 0,90 sobre preço do GEB-1, correspondente brasileiro da SMR-10.
Esse novo subsídio ainda não impactou a atividade na Amazônia. Primeiro porque apenas
indústrias e cooperativas cadastradas junto à Conab (Companhia Brasileira de Abastecimento) podem
receber o subsídio do Estado. Segundo, a desvalorização cambial dos países asiáticos produtores de
borracha tem levado a que entre janeiro de 1996 a julho de 1998 o preço F.O.B. da SMR-10 por kg
tenha caído de US$ 1,6 para US$ 0,91.
A borracha da Amazônia vive à guisa desses fatores do mercado nacional e internacional. Para
1996, a produção em seringal nativo foi de 4.000 ton.. Para que essa produção retorne para algo
entorno de 20.000 ton./ano é necessário a geração e inovação tecnológica contínua que garanta a
sustentablidade econômica do processo e que se crie mecanismos sociais que viabilize a chegada do
subsídio até as famílias seringueiras.
Em Santarém, os seringueiros têm aos poucos voltado a sangrar. Isto se deve a instalação de
uma usina de borracha pelo Ibama. Ainda não se tem uma idéia clara sobre a viabilidade econômica das
usinas: custo de produção, produtividade, faturamento, taxa de retorno, competitividade etc. Se a usina
lograr êxito, poderá ser um mecanismo de estímulo à produção da borracha na Amazônia. Se não
lograr, a oportunidade de alavancagem da economia da borracha dependerá da extensão do TECBOR
(Tecnologia Alternativa para a Produção de Borracha na Amazônia), projeto este baseado em estudo
tecnológico financiado pela ITTO [PD 143/91 Ver. 2(I)], e atualmente em fase piloto financiada pelo
Ibama e Ministério do Meio Ambiente.
3.3 Conclusão
A importância do extrativismo para a dinâmica da economia urbana de Santarém é
insignificante. Entretanto, as sociedades caboclas e camponesas que vivem nos arredores da cidade e
nos municípios circunvizinhos ainda podem ter na comercialização de produtos não-madeireiros um
elemento básico de geração de renda quando outras atividades se mostram ecologicamente
insustentáveis.
Se tomarmos esses cinco produtos analisados acima – cumaru, castanha-do-pará, palmito, açaí e
borracha – como ponto de alavancagem de desenvolvimento rural pode-se desenvolver uma série de
estudos de viabilidade econômica e social baseados no uso de novas tecnologias de coleta,
30
beneficiamento, armazenamento e processamento final. Isto demandará uma maior presença regulatória
e fomentadora do Estado, na definição de condições sustentáveis de manejo e planejamento e
coordenação das atividades não-madeireiras orientadas para o melhoramento de produtos, redução de
gargalos e missing links e expansão comercial dos produtos.
Os resultados sociais dessas medidas serão imediatos, uma vez que ainda existe grandes
expectativas por parte das sociedades caboclas e extrativistas em utilizar os recursos não-madeireiros
oferecidos pela floresta como fonte de renda e de vida.
4. Complementariedade entre exploração madeireira e não-madeireira
na Floresta Nacional do Tapajós
A política brasileira para a criação e gestão de Florestais Nacionais como elemento de
conservação ecológica tem mudado bastante nesta década de 1990. Essas mudanças têm tido
características mais acentuadas em três aspectos. Primeiro, o aumento de áreas destinadas a Florestais
Nacionais no Brasil como um todo e de modo particular na região amazônica. Segundo, a adoção de
modelos mais democráticos e participativos de gestão de recursos, onde populações locais e o Estado
formam sistemas de co-gerenciamento na definição de tipos e modelos de manejo, objetivos e metas
das atividades econômicas desenvolvidas nas áreas. Terceiro, a implementação de sistemas de
múltiplo-uso da floresta, onde as atividades madeireiras geram complementariedade com outras
atividades econômicas: não-madeireiras, ecoturismo, prospecção biológica, arqueologia, serviços
ecológicos (regulação climática e hídrica, controle de erosão e biológico etc. (Costanza et alli, 1997).
4.1 A nova política de Florestas Nacionais no Brasil
A Floresta Nacional do Tapajós foi criada pelo Decreto no 73.684 de 14 de fevereiro de 1974
com área total de 600 mil ha. Quando do ato de criação, viviam lá dezenas de comunidades caboclas e
extrativistas que tinham aquela área como bem livre e adotavam sistemas comunais de propriedade e
manejo.
Após a criação da Flona, o estado manteve as populações locais sob pressão para que saíssem
da área e recebessem indenizações. Muitas famílias cederam às pressões do governo brasileiro, porém a
grande maioria resistiu e continuou morando na área (Imaflora, 1996).
A transição da política brasileira de gestão de recursos naturais de uma questão ecológica para
uma questão ambiental e a democratização de espaços de poder e tomada de decisão sociais e
institucionais têm gerado um novo modelo de gestão para as florestais nacionais o qual tem causado
avanços significativos na resolução de problemas de tipos de uso do solo e conflitos fundiários em
Unidades de Conservação.
A medida de governo que caracteriza a nova política de florestas nacionais no Brasil é o
Decreto no 1.298, de 27 de outubro de 1994, onde elege como objetivo das Florestas Nacionais (1)
promover o manejo dos recursos naturais, (2) garantir a proteção dos recursos hídricos, belezas cênicas
e sítios históricos e arqueológicos e (3) fomentar o desenvolvimento da pesquisa cientifica básica e
aplicada, educação ambiental e atividades de recreação, lazer e turismo.
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No âmbito desse novo marco regulatório muitas novas Florestais Nacionais têm sido criadas.
Existem atualmente no Brasil 15.219.296,04 ha. de Florestas Nacionais. Desse total, 99,56% estão na
região amazônica, o que representa 30 das 46 Flonas. Nesse momento, está em estudo no Ibama a
criação de mais 8 Flonas em diferentes tipos de bioma.
A criação de novas Flonas não tem sido acompanhada pelo fortalecimento institucional em
termos de gestão e controle. Entretanto, o Ibama tem conduzido a elaboração de planos de manejo e
projetos de exploração econômica baseados em modelos de múltiplo-uso.
A segunda mudança importante tem sido a implementação de modelos de co-gestão, baseados
na articulação e interação dos interesses das populações locais e das agências de Estado. Essa
alternativa política pode trazer uma infinidade de benefícios tanto para as sociedades residentes em
Flonas quanto para o Estado: troca de conhecimentos e informações sobre a biodiversidade local,
redução de custos institucionais com normas e controles, menor resistência à implementação de
projetos econômicos e possibilidades de transferência de tecnologias.
A terceira mudança diz respeito à adoção de modelos de gestão baseados em múltiplo-uso da
Floresta. Isto contempla a imensa variedade de benefícios ambientais que a Floresta pode gerar. A
gestão baseada em múltiplo-uso pode viabilizar economicamente uma gama de serviços prestados pela
biodiversidade, de interesse global comum, mas que ainda não têm sido revertidos para o interesse das
sociedades amazônicas na forma de dividendos: absorção de gás carbono, equilíbrio climático, controle
dos ciclos de água e energia, preservação da cultura ecológica etc. Também, como alternativa social e
econômica para as sociedades que vivem em Flonas, a ‘criação’ de mercados para produtos florestais
não-madeireiros fomentaria um modelo de desenvolvimento rural com baixo impacto à biodiversidade,
uma vez que todos os modelos de manejo seletivo de madeira em floresta nativa não conseguem
estimar a perda de biodiversidade ocorrida durante a colheita.
Frente a essa nova política de exploração de Flonas no Brasil, este estudo busca fazer uma
análise comparativa das possibilidades de complementariedade entre exploração madeireira e não-
madeireira na Floresta Nacional do Tapajós.
4.2 As possibilidades

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