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Constitucionalismo latino americano

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∗
 
 
 
 
 
 
 
 
O conteúdo dos artigos é de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), que cederam a Comissão de Pós-Graduação em Direito, 
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, os respectivos direitos de reprodução e/ou publicação. Não é permitida a 
utilização desse conteúdo para fins comerciais.1 
 
∗ Resultado dos trabalhos do Grupo de Pesquisa, 2, para o SEMINÁRIO LATINOAMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO: “TENDÊNCIAS E DESAFIOS DO 
CONSTITUCIONALISMO LATINOAMERICANO”. 15-19 ago, 2011. São Paulo, Comissão de Pós-Graduação – FDUSP, Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo – PUC/SP e COGEAE.. 
∗∗Grupo de Pesquisa, 2, formado pelos alunos André Norberto Carbone de Carvalho, Artur Rega Lauandos, Daniela Kalil, Fabiano Stefanoni Redondo, Fernando 
Fabiani Capano, Fernando Pinto Xavier Filho, Karin Pfannemüller Gomes, Marco Antonio Prado Nogueira Perroni, Natalie Dyermendjan, Renato Jaqueta Benine, 
Victor Henrique Grampa, do Programa de Pós-Graduação Scrito Sensu em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob a 
supervisão de Monica Herman S. Caggiano, Professora Associada do Departamento de Direito do Estado, da Universidade de São Paulo. Livre-Docente em 
Direito Constitucional pela Faculdade de Direito/USP. Presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 
Professora Titular de Direito Constitucional e Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
 
 
 
 
Parte 2 
 
TENDÊNCIAS E DESAFIOS DO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO∗ 
 
 
Grupo de Pesquisa 2 - CNPq∗∗ 
 
Líder: Monica Herman S. Caggiano 
Organizadora: Karin Pfannemüller Gomes 
 
 
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
n. 3, 2011 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
©2011 Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP 
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Reitor: João Grandino Rodas 
Vice-Reitor: Hélio Nogueira da Cruz 
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Vahan Agopyan 
 
Faculdade de Direito 
Diretor: Antonio Magalhães Gomes Filho 
Vice-Diretor: Paulo Borba Casella 
 
Comissão de Pós-Graduação 
Presidente: Monica Herman Salem Caggiano 
Vice-Presidente: Estêvão Mallet 
 
Ari Possidonio Beltran 
Edmir Netto de Araújo 
Elza Antônia Pereira Cunha Boiteux 
Francisco Satiro de Souza Júnior 
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka 
Luis Eduardo Schoueri 
Renato de Mello Jorge Silveira 
 
Serviço Especializado de Pós-Graduação 
Chefe Administrativo: Maria de Fátima Silva Cortinal 
 
Serviço Técnico de Imprensa 
Jornalista: Antonio Augusto Machado de Campos Neto 
 
Normalização Técnica 
CPG – Setor CAPES: Marli de Moraes 
 
Correspondência / Correspondence 
 
A correspondência deve ser enviada ao Serviço 
Especializado de Pós-Graduação da Faculdade de Direito 
da USP / All correspondence should be sent to Serviço 
Especializado de Pós-Graduação da Faculdade de Direito 
da USP: 
Largo de São Francisco, 95 
CEP 01005-010 
Centro – São Paulo – Brasil 
Fone/fax: 3107-6234 
e-mail: posfd@usp.br 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
Elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação 
Faculdade de Direito da USP 
 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito : estudos e documentos de trabalho / Comissão de 
Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011-. 
Mensal 
 
ISSN: 2236-4544 
Publicação da Comissão de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo 
 
 
 
1. Direito 2. Interdisciplinaridade. I. Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de 
Direito da USP 
CDU 34 
 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Cadernos de Pós-Graduação em Direito, da Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo, constitui uma publicação destinada a 
divulgar os trabalhos apresentados em eventos promovidos por este 
Programa de Pós-Graduação. Tem o objetivo de suscitar debates, 
promover e facilitar a cooperação e disseminação da informação 
jurídica entre docentes, discentes, profissionais do Direito e áreas afins. 
 
Monica Herman Salem Caggiano 
Presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade 
de Direito da Universidade de São Paulo 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TENDÊNCIAS E DESAFIOS DO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO 
Grupo de Pesquisa 2 - CNPq 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O objetivo geral dos Grupos de Pesquisas do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Direito 
da Universidade de São Paulo (USP) e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie é a análise e o fomento de debates acerca da evolução do constitucionalismo 
latino-americano. 
 
O exame busca investigar o movimento e as críticas que o atingem, principalmente no que diz respeito ao 
exacerbado fortalecimento do Poder Executivo, tanto pela possibilidade de sucessivas reeleições quanto pela liberdade 
de intervenção em assuntos econômicos, o que representaria uma ameaça às instituições em um sensível regime 
democrático. 
 
Os trabalhos aqui descritos fazem parte do diálogo entre estes Grupos de Pesquisa. 
 
Monica Herman Caggiano 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
 
SOBRE OS AUTORES 
 
André Norberto Carbone de Carvalho. Advogado com pós-graduação "lato sensu" em Direito Público e Direito Processual Civil. 
Especialista em Governo e Poder Legislativo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP e mestrando em 
Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Artur Rega Lauandos. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Advogado em São Paulo, 
Professor do Curso de Direito da Faculdade Carlos Drummond de Andrade, e Professor Colaborador do Curso de Pós-Graduação em 
Direito da Universidade Anhanguera. 
Daniela Kalil. Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestranda em Direito Político e Econômico pela 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua na Gerência de Contratação do Serviço Social do Comércio do Estado de São Paulo – 
SESC/SP, advogada em São Paulo. 
Fabiano Stefanoni Redondo. Advogado em São Paulo. Especialista em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Mestrando 
do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Fernando Fabiani Capano. Advogado em São Paulo, Coordenador Jurídico da Associação dos Policiais Militares Portadores de 
Deficiência Física do Estado de São Paulo - APMDFESP. Especialista em Administração de Empresas pela FGV/EAESP. Mestrando 
em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Assessor da Presidência do V TED da OAB/SP. Membro 
Efetivo da Comissão de Direito Militar da OAB/SP. 
Fernando Pinto Xavier Filho. Estudantedo curso de Graduação em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Conciliador do 
Juizado Especial Cível – Anexo Mackenzie. 
Karin Pfannemüller Gomes. Mestre em Direito Político e Econômico (2010) e Bacharel em Direito (2000), pela Universidade 
Presbiteriana Mackenzie. Advogada em São Paulo e Professora de Filosofia na FEBAT – Faculdade Evangélica Batista do Brooklin e 
de Direito Constitucional. 
Marco Antonio Prado Nogueira Perroni. Estudante do curso de Graduação em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Conciliador do Juizado Especial Cível – Anexo Mackenzie e estagiário jurídico do Escritório de Advocacia Justin, Pereira, Oliveira & 
Talamini – Sociedade de Advogados. 
Monica Herman S. Caggiano. Professora Associada do Departamento de Direito do Estado, da Universidade de São Paulo. Livre-
Docente em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito/USP. Presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de 
Direito da Universidade de São Paulo. Professora Titular de Direito Constitucional e Coordenadora do Curso de Especialização em 
Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Assessora Especial do Vice-Governador e do Governador do Estado de 
São Paulo (2003-2006). Procuradora Geral do Município de São Paulo (1994-1996). Secretária dos Negócios Jurídicos do Município 
de São Paulo (1966). Procuradora do Município de São Paulo (1972-1996). 
Natalie Dyermendjan. Estudante do curso de Graduação em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Renato Jaqueta Benine. Mestrando em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Bacharel pela 
Faculdade de Direito de Bauru, mantida pela Instituição Toledo de Ensino. Professor do curso de pós-graduação em Educação 
Inclusiva do Instituto Superior de Educação – ISE Vera Cruz. Advogado atuante nas áreas de Relações Governamentais, Institucionais 
e Políticas Públicas. 
Victor Henrique Grampa. Estudante do Curso de Graduação em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie, monitor das 
disciplinas de: Filosofia do Direito e Antropologia Social e Jurídica do Prof. Dr. Orlando Villas Bôas Filho; Sociologia do Direito com o 
Prof. Ms. Jarbas Geraldo de Barros Pastana; Direito das Obrigações com o Prof. Dr. Washington Carlos de Almeida e; Direito 
Constitucional I com a Profa. Dra. Monica Herman S. Caggiano, todos na mesma Universidade. 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
I. O PARLAMENTO DA BOLÍVIA SOB A ÉGIDE DE SUA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL .......................................................... 7 
André Norberto Carbone de Carvalho 
 
II. O PARLAMENTO MEXICANO NA CRISE LATINO AMERICANA .................................................................................................... 17 
Artur Rega Lauandos 
 
III. O PARLAMENTO BRASILEIRO SOB A CONSTITUIÇÃO DE 05 DE OUTUBRO DE 1988 ............................................................ 26 
Daniela Kalil 
 
IV. O PODER LEGISLATIVO URUGUAIO ............................................................................................................................................. 36 
Fabiano Stefanoni Redondo 
 
V. CUBA: ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR ......................................................................................................... 46 
Fernando Pinto Xavier Filho 
Marco Antonio Prado Nogueira Perroni 
Monica Herman Salem Caggiano 
 
VI. O PARLAMENTO E AS CRISES NA REPÚBLICA ARGENTINA: Apontamos acerca do ferramental jurídico-constitucional 
do Poder Legislativo Argentino e seu comportamento nas crises das últimas décadas ..................................................................... 58 
Fernando Fabiani Capano 
 
VII. A COMPOSIÇÃO DO PARLAMENTO VENEZUELANO AO LONGO DO GOVERNO CHÁVEZ ................................................... 72 
Karin Pfannemüller Gomes 
 
VIII. O PARLAMENTO DE COSTA RICA NO CENÁRIO LATINO-AMERICANO .................................................................................. 84 
Karin Pfannemüller Gomes 
Natalie Deyrmendjian da Silveira 
Victor Henrique Grampa 
 
IX. MERCOSUL E SEU PARLAMENTO: DESAFIOS DA INTEGRAÇÃO REGIONAL .......................................................................... 92 
Renato Jaqueta Benine 
 
CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO: ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO ............................................... 104 
Normas para Apresentação 
 
7 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
I. O PARLAMENTO DA BOLÍVIA SOB A ÉGIDE DE SUA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL 
 
André Norberto Carbone de Carvalho∗ 
 
Introdução 
Desde sua independência, advinda, em especial, pela vitória da resistência na famosa batalha de 
Junin, em 18241, liderada pelo comandante Simón Bolívar contra as forças espanholas, a Bolívia sempre 
enfrentou graves turbulências políticas. 
No entanto, a Presidência de Evo Morales trouxe uma nova ordem constitucional, alterando 
substancialmente as instituições políticas da Nação, principalmente o Poder Legislativo. Abaixo, veremos 
como foi a chegada de Morales ao poder, quais as principais mudanças implantadas pela Constituição de 
2009 e como tais alterações influenciaram o Parlamento, descrevendo o que aconteceu desde a eleição 
dos atuais parlamentares até os dias de hoje. 
 
1. A ascensão de Evo Morales 
Não há como falar da nova ordem constitucional boliviana sem tratar do líder popular Evo Morales. 
Camponês de origem indígena, Morales passou a infância em Orinoca, uma das regiões mais pobres e 
esquecidas do País2. Foi agricultor, padeiro, músico e jogador de futebol, quando se tornou líder sindical 
e referência para os camponeses da região de Cochabamba3. 
A defesa da plantação de coca como forma de sobrevivência dos camponeses levou Evo Morales 
ao plano político. Foi eleito deputado “uninominal” pelo Departamento de Cochabamba nas eleições 
gerais de 1997, e, em 2002, tentou a Presidência da República, terminando o pleito em segundo lugar, 
com 20,94% dos votos válidos4. Após nova tentativa, em dezembro de 2005, aproveitou-se do quadro de 
grave instabilidade política para eleger-se Presidente com 53,74% dos votos válidos5, pelo partido que 
ajudou a criar, o MAS6. 
Por seu caráter simbólico, a eleição de Evo, em 2005, pode ser considerada histórica: não 
obstante ser a Bolívia um país em que 50% da população reconhece-se como indígena e cerca de 40%, 
 
∗Advogado com pós-graduação "lato sensu" em Direito Público e Direito Processual Civil. Especialista em Governo e Poder 
Legislativo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP e mestrando em Direito Político e Econômico 
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
1VARGAS RIVAS, Gonzalo. História de las Constituciones em Bolivia. Cochabamba, 2005. p. 2. 
2CASTRO, Luiz Fernando Damaceno Moura e. Nova Constituição boliviana. Conjuntura Internacional, Belo Horizonte, nov. 
p. 1, 2007. 
3PRESIDENCIA. Bolívia. Perfil biográfico. Disponível em: <http://www.presidencia.gob.bo/perfil.htm>. Acesso em: 28 maio 
2011. 
4TRIBUNAL SUPREMO ELECTORAL. Disponível em: <www.cne.org.bo>. Acesso em: 28 maio 2011. 
5Id. Ibid. 
6Movimiento al Socialismo. 
8 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
mestiça7, somente em 2005 um descendente dessa etnia conseguiu ascender ao poder, já que, em 1934, 
o indígena Francisco Tamayo, apesar de eleito presidente com 59,2% dos votos, não chegou a tomar 
posse devido a um golpe militar que iniciaria a fase conhecida como Socialismo Militar8.2. A Assembleia Constituinte e a nova ordem constitucional 
O projeto político de Morales que o levou à vitória foi baseado, principalmente, na busca da 
redistribuição de renda, da reforma agrária e da nacionalização de hidrocarbonetos, compostos químicos 
responsáveis pela produção de uma grande variedade de produtos, tais como o plástico, a borracha e 
combustíveis, dentre outros. No entanto uma das promessas de campanha que mais repercutiu foi a de 
trabalhar, junto ao Congresso, para a aprovação da lei convocatória da Assembleia Constituinte, 
destinada à confecção de uma nova constituição nacional. 
Tal promessa de campanha refletia o desejo do povo boliviano de mudança da Constituição. A 
demanda por uma Assembleia Constituinte não era nova, e havia aparecido com força no final dos anos 
80, como reação ao ambiente criado pela polêmica eleição presidencial de 1989, que consagrou Jaime 
Paz Zamora, o terceiro colocado na disputa, com apenas 19% dos votos9. Conforme o sistema eleitoral 
vigente, competia ao Congresso a escolha do Presidente, entre os mais votados. 
Uma vez eleito, Morales foi hábil e conseguiu negociar com a oposição a aprovação da lei 
convocatória. Durante os meses de maio e junho de 2006, ocorreria a campanha para a eleição dos 
constituintes; em agosto de 2006, com os eleitos, a Assembleia seria instalada. A força do Presidente 
refletiu o resultado final do escrutínio: das 255 cadeiras, o MAS conseguiu 137, ou 53,72% das vagas. 
Embora o resultado não tivesse assegurado ao partido do Presidente a maioria qualificada de dois terços 
dos representantes, o que garantiria a aprovação de uma nova Constituição sem obstáculos, o pleito 
serviu para reafirmar o crescimento de Morales. 
Apesar de o período que se sucedeu ter sido marcado por conflitos frequentes e de intensidades 
variadas, a nova Constituição Política do Estado boliviano foi aprovada pela Assembleia Constituinte em 
dezembro de 2007. Em meio à tensa situação política, Morales propôs uma tática arriscada: a aprovação 
de uma lei que o submetesse a um referendo revogatório, uma espécie de recall, onde o mandato de um 
político poderia ser revogado por consulta popular. 
A Lei nº 3.850 foi aprovada pelo Congresso e sancionada em 12 de maio de 2008. Segundo a lei, 
os bolivianos iriam às urnas para responder a uma simples pergunta: “Você está de acordo com a 
continuidade do processo de mudança liderado pelo Presidente Evo Morales e pelo Vice-presidente 
Álvaro Garcia Linera?”. 
 
7CUNHA FILHO, C. M. Reforma, reação e mobilização social na Bolívia de Evo Morales. In: PARENTE, F. J. C.; FROTA, F. 
H.; LIMA, H. Ferreira (Orgs.). Dos Andes aos Pampas: inclusão e cenários na América Latina. Fortaleza: Eduece, 2010. 
p. 95. 
8Id. Evo Morales e os horizontes da hegemonia: nacional-popular e Indigenismo na Bolívia em perspectiva comparada. Rio 
de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2009. p. 18. Disponível em: 
<http://uerj.academia.edu/CunhaFilho/Papers/165755/Evo_Morales_e_os_Horizontes_da_Hegemonia_Nacional-
popular_e_Indigenismo_na_Bolivia_em_perspectiva_comparada>. 
9FRANCHINI, Matías. Asamblea constituyente en Bolivia: génesis, evolución y conflicto en el cambio. Documentos, Centro 
para la apertura y el desarrollo de América Latina – CADAL, año 5, n. 74, p. 3, jun. 2007. 
9 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
No dia 10 de agosto de 2008, mais de 2 milhões de bolivianos (67,41% dos votos) disseram “Sim” 
e autorizaram o governo Morales a terminar seu mandato. Assim, com a popularidade em alta, o 
Presidente conseguiu dar andamento ao projeto da nova Constituição: com algumas alterações feitas 
pelo Congresso, a Lei Maior foi levada à votação popular, sendo ratificada, em janeiro de 2009, e 
promulgada por Morales em fevereiro daquele mesmo ano. 
 
3. Características gerais da Lei Maior de 2009 
A nova Constituição redefiniu os conceitos de Estado e de cidadania, a partir de uma lógica 
plurinacional, multicultural e comunitária (artigo 1º da Constituição Política do Estado – CPE/2009). Uma 
de suas grandes virtudes foi combinar o desenvolvimento dos direitos, deveres e garantias com as 
demandas indígenas, formando um novo marco legal e institucional10. O termo “plurinacional”, aliás, está 
relacionado com a pré-existência colonial das nações indígenas originárias, reconhecidas como a matriz 
populacional do povo boliviano (artigo 2º, CPE/2009). 
A caracterização do Estado como unitário social de direito plurinacional foi uma inovação, 
sugerindo aplicação bem mais ampla do que previa a antiga Constituição. O documento, aliás, é 
classificado como a “Constituição de Transição”, em virtude da retomada do federalismo, modelo 
renunciado depois da chamada “Guerra Federal”, realizada no final do século XIX e início do século XX, 
quando prevaleceu o unitarismo. Sendo assim, a descentralização politico-administrativa e a criação do 
sistema de autonomias tornaram-se medidas inovadoras da nova ordem constitucional. 
Entre as garantias jurisdicionais, há a previsão das “ações de defesa”, nas quais se encontram a 
“ação de liberdade11”, a “ação de amparo constitucional12”, a “ação de proteção de privacidade13”, a “ação 
de inconstitucionalidade14”, a “ação de cumprimento15” e a “ação popular16”. Em comparação com o 
período anterior, atualmente há um constitucionalismo bem mais evoluído. 
 
10PRADA ALCOREZA, Raúl. Análisis de la nueva Constitución política del Estado. Centro de Estudios Políticos para las 
Relaciones Internacionales y el Desarrollo (CEPRID), mar. 2009. Territórios/Latinoamérica, p. 1. 
11Artículo 125. Toda persona que considere que su vida está en peligro, que es ilegalmente perseguida, o que es 
indebidamente procesada o privada de libertad personal, podrá interponer Acción de Libertad y acudir, de manera oral o 
escrita, por sí o por cualquiera a su nombre y sin ninguna formalidad procesal, ante cualquier juez o tribunal competente 
en materia penal, y solicitará que se guarde tutela a su vida, cese La persecución indebida, se restablezcan las 
formalidades legales o se restituya su derecho a la libertad. Constituição Política do Estado. 
12Artículo 128. La Acción de Amparo Constitucional tendrá lugar contra actos u omisiones ilegales o indebidos de los 
servidores públicos, o de persona individual o colectiva, que restrinjan, supriman o amenacen restringir o suprimir los 
derechos reconocidos por La Constitución y la ley. Constituição Política do Estado. 
13Artículo 130. I. Toda persona individual o colectiva que crea estar indebida o ilegalmente impedida de conocer, objetar u 
obtener la eliminación o rectificación de los datos registrados por cualquier medio físico, electrónico, magnético o 
informático, en archivos o bancos de datos públicos o privados, o que afecten a su derecho fundamental a la intimidad y 
privacidad personal o familiar, o a su propia imagen, honra y reputación, podrá interponer la Acción de Protección de 
Privacidad. Constituição Política do Estado. 
14Artículo 132. Toda persona individual o colectiva afectada por una norma jurídica contraria a la Constitución tendrá derecho a 
presentar la Acción de Inconstitucionalidad, de acuerdo con los procedimientos establecidos por la ley. Constituição Política do 
Estado. 
15Artículo 134. I. La Acción de Cumplimiento procederá en caso de incumplimiento de disposiciones constitucionales o de la ley por 
parte de servidores públicos, con el objeto de garantizar la ejecución de la norma omitida. Constituição Política do Estado. 
16Artículo 135. La Acción Popular procederá contra todo acto u omisión de las autoridades o de personas individuales o 
colectivasque violen o amenacen con violar derechos e intereses colectivos, relacionados con el patrimonio, el espacio, la 
seguridad y salubridad pública, el medio ambiente y otros de similar naturaleza reconocidos por esta Constitución. 
Constituição Política do Estado. 
10 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
A Lei Maior, de 2009, também apresenta como característica a criação de um Estado interventor e 
protetor dos recursos naturais, inclusive com a incorporação de formas e práticas de povos nativos. 
Nessa linha, a norma altera substancialmente o poder entre as elites tradicionais e a maioria da 
população17. Os recursos naturais passaram a ser estatizados18, fator que diminuiu o poder político das 
regiões do leste, onde se concentrava a oposição. 
Um ponto que gerou grande discussão entre os opositores, e até mesmo com os líderes 
internacionais, foi a questão da cláusula que permitia a reeleição ilimitada do presidente. No entanto a 
redação final da nova Constituição não conteve tal ressalva, estipulando, apenas, que o mandato do 
presidente passaria a ser de 5 (cinco) anos, podendo ele ser reeleito apenas uma vez de maneira 
contínua19. 
 
4. O sistema eleitoral parlamentar na Constituição de 2009 
A Constituição Política do Estado nasceu tendo como principal finalidade superar uma série de 
falhas estruturais da Nação, herdadas desde a fundação da República: um País marcado por enormes 
desigualdades sociais, que tem excluído do contexto social, político, econômico e cultural os camponeses 
indígenas, mulheres e jovens, dotado de uma gestão centralizadora, burocrática e, muitas vezes, 
corrupta, que tem marginalizado o desenvolvimento de 80% da Nação e cuja economia é dependente e 
monoexportadora de matérias-primas20. 
Conforme dito anteriormente, a Lei Maior entrou em vigor em fevereiro de 2009, a partir de sua 
promulgação pelo Presidente Evo Morales. Já em dezembro do mesmo ano, o País estabeleceu um novo 
marco em sua história democrática: a eleição do primeiro Congresso Nacional da nova ordem 
constitucional, que passaria a denominar-se Assembleia Legislativa Plurinacional – ALP, composta por 
duas Câmaras: a dos Deputados e a dos Senadores. 
A Constituição prevê que a Câmara dos Deputados terá 130 (cento e trinta) membros (artigo 146, 
I, da CPE/2009) e a Câmara de Senadores, 36 (trinta e seis), sendo quatro Senadores eleitos para cada 
um dos nove Departamentos (unidades de descentralização de poder equivalente ao nosso Estado-
membro), todos através de votação universal, direta e secreta (146, III, da CPE/2009). 
A eleição para a Câmara dos Deputados é complexa e, segundo a Lei Maior da República, 
respeitará a utilização de um sistema misto: a metade será eleita por simples maioria de votos, chamados 
de deputados “uninominais” e a outra metade pelo processo de votação proporcional, sendo conhecidos 
 
17CASTRO, Luiz Fernando Damaceno Moura e. op. cit., p. 2, Citação de Javier Alberto Vadell. 
18Artículo 349. I. Los recursos naturales son de propiedad y dominio directo, indivisible e imprescriptible del pueblo boliviano, 
y corresponderá al Estado su administración en función del interés colectivo. Artículo 360. El Estado definirá la política de 
hidrocarburos, promoverá su desarrollo integral, sustentable y equitativo, y garantizará la soberanía energética. 
Constituição Política do Estado. 
19Artículo 168. El periodo de mandato de la Presidenta o del Presidente y de La Vicepresidenta o del Vicepresidente del 
Estado es de cinco años, y pueden ser reelectas o reelectos por una sola vez de manera continua. Constituição Política do 
Estado. 
20YAKSIC, Fabián II. Asamblea Legislativa Plurinacional: desafíos, organización, atribuciones y agenda legislativa. La Paz, 
Bolívia: Muela del Diablo Editores, 2010. p. 18. 
11 
 
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como deputados “plurinominais” (artigo 146, II, da CPE/2009). Cada Departamento terá, na Casa, um 
número de assentos com base no número de seus habitantes. 
É importante ressaltar que uma leitura desatenta do texto constitucional21 poderia levar o leitor a 
crer que, de fato, existem 65 deputados “uninominais” e 65 “plurinominais”, perfazendo o total de 130. No 
entanto, ao analisar os demais dispositivos, vemos que não é essa a interpretação correta da norma. 
Isso porque a Constituição estipula ainda que algumas regiões do País não terão deputados 
“uninominais”, mas sim deputados chamados “especiais”, que, por motivos históricos, são destinados a 
representar uma parcela da população específica, qual seja, os índios. Em outras palavras, a 
Constituição de 2009 garante representação parlamentar especial à população indígena. No Brasil, esse 
tipo de representação boliviana já foi chamado de quota étnica22. 
 Ademais, na impossibilidade de divisão exata dos assentos “uninominais” e “plurinominais” dentro 
de cada Departamento (o número de assentos reservados para essas classes pode ser ímpar), dar-se-á 
preferência à vaga para deputados “uninominais”. 
Assim, conforme dispõem os artigos 33 e 35 da Lei n° 4.021, de 14 de abril de 2009 (Lei Eleitoral 
Transitória – LET), editada especialmente para regular o processo eleitoral do pleito de dezembro, para a 
eleição dos deputados “uninominais” e dos deputados “especiais”, todo o território boliviano foi dividido 
em 77 (setenta e sete) circunscrições ou distritos. 
Respaldada, posteriormente, pela Corte Nacional Eleitoral do País, a Lei Eleitoral Transitória 
(artigo 32) destinou 70 (setenta) distritos que elegeriam - cada um - por simples maioria de votos, um 
deputado “uninominal”, podendo o eleitor votar diretamente na pessoa do candidato. Os distritos, aqui, 
foram criados segundo critérios geográficos, com base na extensão territorial e no número de habitantes, 
conforme o último censo nacional, sem transcender os limites de cada Departamento. O País, então, 
contaria com 70 deputados “uninominais”. 
Os outros 7 (sete) distritos foram considerados como circunscrições especiais, por se tratarem de 
área rural, onde a população indígena constitui uma minoria populacional. Aqui, diversamente do que foi 
utilizado com os distritos “uninominais”, a densidade populacional não foi utilizada como critério, por 
expressa disposição constitucional (artigos 146, VII e 147, III, da CPE/2009). Cada Departamento da 
Bolívia possui um distrito especial, com exceção de Potosí e Chuquisaca. Portanto esses distritos, em vez 
de elegerem deputados “uninominais”, votariam em deputados “especiais”, que também seriam eleitos 
por maioria simples de votos (artigo 35, V, LET). 
Com 77 (setenta e sete) assentos já preenchidos para a Assembleia Legislativa Plurinacional, 
restaram 53 (cinquenta e três) vagas, que foram reservadas para os deputados “plurinominais”. 
 
21Artículo 146 I. La Cámara de Diputados estará conformada por 130 miembros. II. En cada Departamento, se eligen la 
mitad de los Diputados en circunscripciones uninominales. La otra mitad se elige en circunscripciones plurinominales 
departamentales, de las listas encabezadas por los candidatos a Presidente, Vicepresidente y Senadores de la República. 
Constituição Política do Estado. 
22CUNHA FILHO, C. M. O novo mapa político boliviano: uma interpretação a partir dos últimos resultados eleitorais. 
Observatório Político Sul-Americano. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro IUPERJ/UCAM. Observador 
On-Line, v. 5, n. 6, p. 5, jun. 2010. Disponível em: 
<http://uerj.academia.edu/CunhaFilho/Papers/189656/O_novo_mapa_politico_boliviano_uma_interpretacao_a_partir_dos_
ultimos_resultados_eleitorais>.12 
 
Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 3, 2011 
 
Aliás, é importante frisar que tanto os deputados “plurinominais” quanto os 36 (trinta e seis) 
senadores foram eleitos rigorosamente da mesma forma: o partido político formava, previamente, uma 
lista fechada e com ordem pré-estipulada de deputados “plurinominais” e senadores; cada voto recebido 
pelo candidato à Presidência da República é um voto na lista feita pelo partido; o nome dos candidatos 
eleitos sairia após análise da votação geral sob o critério proporcional de alocação das cadeiras feita pela 
regra dos divisores naturais23 (artigos 34, 38, 39 e 40, todos da LET). 
Assim, em linhas gerais, o sistema funcionou da seguinte forma: ao chegar ao local de votação, o 
cidadão boliviano recebeu uma única cédula eleitoral, dividida horizontalmente em duas partes: superior e 
inferior24. Na parte superior, o eleitor encontrou os nomes dos candidatos à Presidência e Vice-
presidência e, na parte inferior, encontrou os candidatos a deputados “uninominais” ou deputados 
“especiais”, dependendo de sua região. 
Na parte superior, ao votar no Presidente de sua preferência, o eleitor, na verdade, exercia o voto 
cumulativo, ou seja, votava em uma chapa única, escolhendo automaticamente o Vice-presidente, os 
Senadores e os Deputados “plurinominais”, definidos previamente pelo partido do presidenciável, por 
meio de lista fechada. Por outro lado, ao votar no deputado “uninominal” ou no deputado “especial”, 
conforme o caso, o eleitor exercia o voto seletivo, e escolhia diretamente o próprio representante. 
 
5. O panorama atual do parlamento boliviano 
As eleições gerais de dezembro 2009 foram acompanhadas por 504 observadores do Mercosul, 
da União Européia e da Organização dos Estados Americanos - OEA, entre outras organizações 
internacionais. Além da eleição para os membros da ALP, os bolivianos ainda elegeriam o novo 
Presidente. 
A vitória eleitoral foi obtida pela chapa que concorria à reeleição (Evo Morales – Presidente e 
Álvaro García – Vice-presidente, pertencentes ao partido MAS), que conseguiu 64,22% do total dos votos 
válidos. Tal resultado expressivo (evolução de mais de dez pontos percentuais na votação final, uma vez 
que, em 2005, a chapa havia obtido 53,74% dos votos válidos), principalmente por conta do sistema 
eleitoral já exposto, ainda contribuiu para que o MAS atingisse 114 parlamentares, entre deputados e 
senadores, que representam 68,67% (leia-se: pouco mais de dois terços) do total de membros da 
Assembléia Legislativa Plurinacional25. 
A título de comparação, cumpre ressaltar que foram quatro os partidos que lograram êxito ao obter 
representação política no parlamento. Além do MAS, o partido PPB conseguiu 47 parlamentares, o que 
representa 28,31% dos membros da ALP; o partido UNIDAD NACIONAL (UM-CP) conseguiu 3 
 
23CUNHA FILHO, C. M. O novo mapa político boliviano: uma interpretação a partir dos últimos resultados eleitorais, cit., p. 5. 
24ARTÍCULO 37 (Papeleta de Sufragio). La papeleta de sufragio para la elección de Presidenta o Presidente y 
Vicepresidenta o Vicepresidente, Senadoras o Senadores y Diputadas o Diputados estará dividida en dos franjas 
horizontales. En la franja superior se votará por las o los candidatas y candidatos a la Presidencia, Vicepresidencia, 
Senadores y Diputados Plurinominales, y en la franja inferior se votará por los candidatos a diputados de la circunscripción 
uninominal o de la circunscripción especial indígena originaria campesina, según corresponda. Lei Eleitoral Transitória. 
25YAKSIC, Fabián II. op. cit., p. 22. 
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parlamentares, representando 1,8% do total; e o ALIANZA SOCIAL (AS) atingiu 2 parlamentares, que 
representam os restantes 1,2% do total de membros da Assembléia Legislativa Plurinacional. 
A vitória do MAS na eleição para a ALP desenhou uma nova estrutura política de governo. Isso 
porque, como se sabe, a nova Constituição exige da Assembleia Legislativa Plurinacional quórum 
especial de dois terços, ou 111 parlamentares, para votação de matérias importantes. São os casos, por 
exemplo, da eleição de seis membros do Órgão Eleitoral Plurinacional (artigo 158, item 4, da Constituição 
Política do Estado – CPE/2009) e a pré-seleção dos postulantes ao cargo de magistrado do Supremo 
Tribunal de Justiça boliviano, que são eleitos por sufrágio universal (artigo 182, inciso II, da Constituição 
Política do Estado – CPE/2009). Como se viu, o MAS superou, em três, esse número de parlamentares. 
Ademais, cada uma das Câmaras contém previsões específicas acerca do quórum qualificado. Na 
Câmara dos Deputados, exige-se decisão de dois terços dos membros presentes (mínimo de 87 
parlamentares) para aplicarem, conforme estipulado em regimento, sanções aos próprios deputados 
(artigo 159, item 4, da CPE/2009). Só o MAS tem 88; já na Câmara de Senadores, exige-se decisão de 
dois terços dos membros presentes (mínimo de 24 senadores) para aplicarem sanções aos 
parlamentares (artigo 160, item 4, da CPE/2009). Somente o MAS conta com 26. 
Em toda a história das eleições, pelo menos desde a restauração da democracia, em 1982, época 
marcada pela continuidade ininterrupta de governos democráticos e constitucionais, o quórum de dois 
terços do parlamento só era alcançado por meio do que os bolivianos chamam de “democracia pactuada”, 
dada pela formação de megacoligações entre partidos políticos que administravam o Estado26. Hoje, o 
MAS não necessita de pactos no Congresso para obter o referido quórum. 
 
6. O reflexo da Constituição de 2009 na composição da Assembleia Legislativa Plurinacional 
Como vimos, o sistema constitucional vigente para escolha dos membros do Parlamento boliviano 
é misto. A eleição de parte da Câmara dos Deputados (“plurinominais”) e de todos os Senadores é feita 
por meio de lista fechada, confeccionada e pré-ordenada por dirigentes partidários, atrelada ao voto 
presidencial. 
Percebe-se, então, que a maioria esmagadora que detém o partido do Presidente Evo Morales na 
ALP também é fruto da adoção desse determinado sistema eleitoral; ao votar somente na figura do 
Presidente, vota-se, automaticamente, em quatro senadores e em um número de deputados 
“plurinominais” que varia de um a treze, dependendo do Departamento a que o eleitor pertença, todos de 
um mesmo partido. 
Não foi à toa que, em seu primeiro ano de trabalho, a Câmara dos Deputados se reuniu em 216 
sessões; a dos Senadores, 213; e houve 20 sessões legislativas da Assembleia Legislativa Plurinacional, 
um verdadeiro marco histórico para os padrões do País27. Um grande número de leis foi aprovado nesse 
período. 
 
26YAKSIC, Fabián II. op. cit., p. 23. 
27PRENSA SENADO. Senador Adolfo Mendonza Leigue. Disponível em: 
<http://adolfomendozasenador.blogspot.com/2010/12/asamblea-legislativa-cierra-la-gestion.html>. Acesso em: 28 maio 2011. 
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Nunca é demais lembrar, todavia, que, conforme dito anteriormente, a Constituição Política do 
Estado boliviano dispõe que deputados e senadores são eleitos por meio de votação universal, direta e 
secreta. Nesse ponto, vale notar que a qualificação de “direta” prende-se mais ao sufrágio do que ao voto 
em si. O direito de escolha (sufrágio) é que pode ser direto ou indireto, caracterizando as eleições como 
diretas ou indiretas. Dessa forma o sufrágio (ou voto) é direto quando os eleitores escolhem, por si, sem 
intermediários, os seus representantes e governantes,sendo indireto, portanto, quando estes são 
escolhidos por delegados dos eleitores28. 
O artigo 5º da Lei Eleitoral Transitória, entretanto, explica que o voto no País é direto por duas 
razões: primeiro, porque o cidadão intervém pessoalmente na eleição, votando nos candidatos de sua 
preferência29; segundo, porque tem a prerrogativa de tomar decisões diretas quando da abertura de 
consulta mediante referendo. 
Ora, vemos aqui uma ligeira incongruência. O sistema do voto em lista fechada é conhecido 
notoriamente como um modelo que retira do eleitor o direito de escolher diretamente um candidato, 
substituindo-o pelo voto em um projeto político de uma organização impessoal e intangível30. No caso da 
eleição dos senadores bolivianos, por exemplo, não há opção de se votar no candidato de sua 
preferência. Vota-se em uma candidatura atrelada à figura do candidato à Presidência, não em um 
candidato próprio. 
 Assim, percebe-se que, pelo sistema eleitoral adotado, o eleitor tem, na eleição, o direito de 
intervenção mitigado. Ele não é livre para escolher o candidato de sua preferência para cada uma das 
vagas abertas. Para que se possa votar plenamente nos candidatos de sua preferência, entende-se que o 
eleitor, ao escolher aquele que irá representá-lo perante as instituições de poder, deve poder votar 
diretamente em tantos candidatos quantas forem as vagas em disputa, sendo eleitos, então, os mais 
votados. 
Por conta da possibilidade, no Brasil, de reforma política sempre iminente, há discussões efusivas 
sobre a questão da adoção do voto proporcional em lista fechada, pelo fato de possível violação do artigo 
14 da Constituição Federal, que estabelece que a soberania nacional é exercida pelo sufrágio universal 
por meio do voto direto e secreto, com igual valor para todos. Tudo isso para afirmar que, na Bolívia, no 
entanto, mesmo com disposição constitucional tal qual a brasileira, o referido sistema de lista tem 
prevalecido. 
Assim, conclui-se que a relevância do sistema eleitoral é enorme. Isso porque, hoje, a obtenção da 
maioria parlamentar tornou-se uma condição fundamental para a governabilidade do presidencialismo. Na 
democracia, de fato governa a maioria, porém, ao exercer esse mister, ela não pode oprimir a minoria. 
Esta exerce função política importante e decisiva, qual seja: a oposição institucional. 
 
28SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo: Malheiros Ed., 2000. p. 363. 
29Artículo 5 (Del Sufragio y Escrutinio). El sufragio constituye la base Del régimen democrático, participativo, representativo y 
comunitario, se lo ejerce a partir de los 18 años cumplidos. Sus principios son: a. El voto igual, universal, directo, 
individual, secreto, libre y obligatorio. (...) Directo, porque el ciudadano interviene personalmente en la elección y vota por 
los candidatos de su preferencia; y toma decisiones en las consultas mediante referéndum; Lei Eleitoral Transitória – LET. 
30SEPULCRI, Nayara Tataren. A reforma política e a votação por lista fechada. Revista Eletrônica Paraná Eleitoral, 10 maio 
2008, p. 1. Disponível em: <http://www.paranaeleitoral.gov.br/artigo_eletronico.php?cod_texto=37>. 
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Talvez esse seja o primeiro grande desafio do novo Congresso boliviano: a administração 
responsável desse patrimônio legislativo. O novo arranjo eleitoral, pós-2009, vem permitindo a um bloco 
majoritário, composto pelo Poder Executivo e pela maioria parlamentar, o governo do País praticamente 
sem oposição. 
A esmagadora maioria partidária gera aos líderes do MAS a responsabilidade de incentivar a 
deliberação democrática dentro da bancada, trazendo os cidadãos para a discussão e elaboração dos 
projetos de lei necessários ao desenvolvimento do Estado. Nessa linha, a consulta a outros partidos, 
ouvindo propostas e sugerindo soluções advindas da minoria, é essencial para a plena integração do 
parlamento com a sociedade31. 
Só há verdadeira democracia onde se assegure a atuação das minorias, com garantia de direito 
de dissensão, crítica e veiculação de sua pregação. O principal papel da oposição é o de formular 
propostas alternativas às idéias e ações do governo da maioria que o sustenta. Deve ter a liberdade de 
criticar, fiscalizar, apontar falhas, censurar a maioria e propor um modelo diverso para a opinião pública32. 
Em um sistema eleitoral que tende a favorecer a maioria, tais disposições são ainda mais importantes. 
 
Conclusão 
Não há dúvida de que a Bolívia passa por um momento delicado de sua história. Avanços foram 
feitos, e o País, pela primeira vez na história, está sob a égide de uma Constituição Política aprovada por 
voto democrático dos cidadãos. Tudo isso graças à aquiescência realizada por meio do famoso referendo 
de 25 de janeiro de 2009. 
Após uma série de crises políticas, a Nação vem experimentando, desde o resultado do referendo 
revogatório, em 2008, certa estabilidade política, principalmente pela força do Presidente Evo Morales, 
que, através de sua popularidade e de um sistema eleitoral controverso, pôde criar maioria absoluta e 
qualificada no Parlamento Nacional boliviano. 
No entanto, para que haja desenvolvimento democrático, isso só não basta. A maioria tem a 
responsabilidade de incentivar a discussão e a consulta a outros partidos, ouvindo propostas e sugerindo 
soluções conjuntas, de modo a criar um Parlamento verdadeiramente isento e responsável. 
 
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perspectiva comparada. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 
 
31YAKSIC, Fabián II. op. cit., p. 23. 
32ATALIBA, Geraldo. Judiciário e minorias. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 96, p. 189-194, 1977. 
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II. O PARLAMENTO MEXICANO NA CRISE LATINO AMERICANA 
 
Artur Rega Lauandos∗ 
 
Introdução 
Um dos notáveis sintomas de fragilidade dos regimes democráticos nas sociedades modernas é a 
atual crise enfrentada pelo Poder Legislativo mundo afora. Após um período de grande prestígio no 
século XVIII, na Europa, sob inspiração dos ideais iluministas, o Parlamento, ambiente máximo da 
representatividade política do povo, passou a enfrentar uma fase de sensível declínio político. 
Muitas de suas funções clássicas sofreram certo esvaziamento diante da força normativa do Poder 
Executivo, que, por ser mais ágil e dinâmico no acompanhamento das transformações sociais, passou a 
ser grande o pólo de poder político, a partir do século XX. De fato, tradicionais obstáculos à 
representação política, como a multiplicidade de mandatários (que leva à pluralidade, por vezes 
inconciliável, de tendências ideológicas, aspirações e interesses), fizeram com que fundamentais 
reformas políticas estruturantes ficassem em segundo plano. 
Nesse contexto tormentoso de afirmação, os Parlamentos latino-americanos, instituições muitas 
vezes não maduras nas incipientes democracias da região têm, ainda, de lidar com uma mazela 
endêmica que realça os empecilhos à realização plena da representação política e leva à desconfiança 
(quando não à descrença) das instituições políticas: a corrupção. 
Esse fenômeno, que causa sensíveis ruídos no canal de comunicação de via dupla entre 
mandatários e mandantes do poder político – aliado a um constante processo de fragilização da oposição 
e à utilização de instituições públicas como afirmação da hegemonia de um grupo político – tornou-se um 
dos principais motivos que levaram o Parlamento Mexicano a figurar como uma instituição de descrédito 
de seu povo. 
É nesse panorama, eminentemente político, que se analisam não só as funções institucionais do 
Parlamento no México, após o período atribulado da transição do presidencialismo hegemônico para a 
democracia pluralista, mas também os principais desafios por que deve passar tal instituição, para que 
retome o prestígio experimentado pelo Poder Legislativo à época do liberalismo, funcionando como 
veículo efetivo de ressonância das aspirações populares e de reflexões e debates sobre o ideal 
democrático. 
 
 
 
 
 
∗Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Advogado em São Paulo, Professor do Curso 
de Direito da Faculdade Carlos Drummond de Andrade, e Professor Colaborador do Curso de Pós-Graduação em Direito da 
Universidade Anhanguera. 
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1. Da crise dos parlamentos latino-americanos 
 
1.1. Da desconfiança nas instituições democráticas na América Latina 
É certo que o paulatino declínio político do Poder Legislativo, a partir do século XX, não é uma 
característica exclusiva do cenário político das democracias latino-americanas. Desde o implemento do 
Estado de Bem-Estar Social, há uma demanda por prestações materiais, cujo planejamento tem sido 
concebido pelo Poder Executivo, restando ao Poder Legislativo um papel de figurante, diante de seus 
instrumentos de funcionamento arcaicos.1 
E, paradoxalmente, pelo fato de tal modelo Estatal não ter conseguido atingir seus objetivos de 
equiparação material entre os indivíduos, criou-se um obstáculo à afirmação de cidadãos convictos e 
conscientes para a escolha de seus representantes, sem sucumbir às influências de dominações 
patrimonialistas ou do poder econômico.2 Tal situação resultou em um sensível desinteresse da 
população sobre questões políticas, bem como em desconfiança da população nos atores políticos, vistos 
como defensores de privilégios ou interesses pessoais, ou muitas vezes flagrados em práticas de 
corrupção. 
Tal situação de descrédito é sensivelmente mais preocupante nos países da América Latina, 
região que, muito embora tenha apresentado importantes resultados na consagração de seus ideais 
democráticos, foi palco de vários golpes de estado e rupturas institucionais a partir da segunda metade 
do século XXI.3 
Timothy J. Power e Giselle D. Damison4, pesquisadores da Florida International University, 
examinando as causas e conseqüências da desconfiança nos políticos nas democracias latino-
americanas, a partir de dados de 1996 a 2003 do Latinobarometro,5 verificaram, por exemplo, que taxa 
agregada de confiança no Parlamento, nos países pesquisados, atingiu o nível preocupante de 17%.6 
 
1Segundo a lição de Jorge Carpizo e Jorge Madrazo (op. cit., p. 64): “Las características de la vida moderna han propiciado 
el desarrollo de una tendencia prácticamente universal que se manifiesta en el predominio del poder ejecutivo sobre los 
otros poderes u órganos del gobierno”. 
2Sobre tal reflexão, Ingo Wolfgang Sarlet (Os direitos fundamentais sociais na Constituição de 1988. In: SARLET, Ingo 
Wolfgang (Org). O direito público em tempos de crise: estudos em homenagem a Ruy Ruben Ruschel. Porto Alegre: Livr. 
do Advogado, 1999. p. 135) aponta que a crise das instituições representativas dos Estados modernos está 
intrinsecamente ligada a uma crise também dos direitos fundamentais. 
3A despeito de haver uma tendência mundial de desconfiança nos políticos e nas instituições, detectada a partir da década 
de 1960, incluindo democracias consolidadas, as democracias em consolidação estão sensivelmente mais vulneráveis ao 
fenômeno, que pode culminar em um colapso de confiança pública. Sobre o tema refletem Timothy J. Power e Giselle D. 
Damison (Desconfiança política na América Latina. Tradução: Pedro Maia Soares. Opinião Pública, Campinas, v. 1, n. 1, 
p. 65, mar. 2005) e, levando em conta o fator da corrupção, Paul Heywood (Political corruption: problems and 
perspectives. In: HEYWOOD, Paul (Org.). Political corruption. Oxford (UK): Blackweel Publishers, 1997. p. 5). 
4POWER, Timothy J; DAMISON, Giselle D. op. cit., p. 70-73. 
5LATINOBARÓMETRO. Disponível em: <http://www.latinobarometro.org/latino/latinobarometro.jsp>, apresenta relatórios 
anuais de entrevistas realizadas em 16 repúblicas latino-americanas, apresentando resultados de opinião pública dos 
cidadãos sobre diversos assuntos, incluindo confiança política. 
6Os dados atualizados do Latinobarometro sobre a confiança no Parlamento, tomando-se os relatórios de todos os países 
pesquisados, desde 1995 até 2009, são os seguintes: muita confiança (6,8%); alguma confiança (23,8%); pouca confiança 
(35,7%); nenhuma confiança (33,8%). LATINOBARÓMETRO. Disponível em: 
<http://www.latinobarometro.org/latino/LATAnalizeQuestion.jsp>. 
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Os referidos autores apresentam algumas possíveis causas desse índice, destacando-se entre 
elas: o fraco desempenho econômico (verificado desde as transições de regimes autoritários para os 
regimes democráticos a partir da década de 80) que teria levado à descrença nas instituições políticas em 
tais países. Dessa feita, supor-se-ia que os cidadãos, associariam, de forma imediata, más condições 
sociais e econômicas ao funcionamento das instituições democráticas. 
De fato, muitos eleitores puniram os governantes de modo tão forte que sistemas partidários 
inteiros entraram em colapso (como, por exemplo, ocorreu na Venezuela e Peru). Dessa feita, as 
percepções subjetivas do desempenho econômico estariam claramente ligadas à confiança nos partidos 
políticos e no Congresso.7 
Outra possível causa a ser apontada seria a utilização de instituições políticas como meio de 
benefício político individual, sendo a modificação de regras eleitorais o instrumento mais comum para 
veicular tais práticas de interesse pessoal em detrimento do interesse coletivo. Segundo Power e 
Damison (2005, p. 82), a percepção da população de que o governo é, via de regra, exercido em 
interesse de alguns poucos, levaria ao olvido das demais causas do ceticismo dos cidadãos frente às 
questões e instituições políticas.8 
Como conseqüência quase intuitiva do descrédito dos políticos, haveria a descrença no próprio 
funcionamento do sistema democrático (atingindo-se, essencialmente o Parlamento, casa máxima da 
expressão da representatividade), em razão dos altos índices de avaliação da dispensabilidade dos 
políticos.9 E tal situação, não se deve esquecer, é propícia ao advento de regimes tirânicos e de rupturas 
institucionais.10 
 
1.2. Dos desdobramentos da corrupção sobre a representatividade política 
Sem descuidar das causas já apontadas da desconfiança nos políticos e nas instituições nas 
democracias latino-americanas, é mister que se pondere com muito cuidado sobre um fator de grande 
relevo no tocante às questões políticas. Referimo-nos ao fenômeno da corrupção, que, como já advertido 
por diversos pesquisadores de grande quilate,11 pode ter efeitos corrosivos sobre o funcionamento das 
democracias. 
 
7POWER, Timothy J; DAMISON, Giselle D. op. cit., p. 76. 
8Refletem Power e Damison (op. cit., p. 82): “Na medida em que percebem oligarquias, os latino-americanos tendem a 
culpar os atores políticos, em vez de econômicos, por esse estado de coisas... Quando a oligarquia é percebida em 
termos de instituições políticas, em vez de econômicas, as autoridades eleitas têm uma obrigação especial de não tomar 
medidas que reforcem ou exacerbem essa visão cética”. 
9Nesse ponto, por óbvio, adota-se a premissa da inafastabilidade dos partidos políticos para a veiculação da vontade 
popular por meio da representação, consagrada na doutrina da democracia procedimentalista defendida por inúmeros 
autores mundo afora, destacando-se, entre eles, Samuel P. Huntington (1975) e Norberto Bobbio (1984). 
10Com bem ponderam Power e Damison (op. cit., p. 85): “Se não há confiança nos políticos, considerados dispensáveis, 
então para quem – se é que para alguém – os cidadãos transferem suas lealdades? Há alguns indícios de que um clima 
de desencanto disseminado com a democracia abre espaço para o retorno ao poder de ex-ditadores, como ocorreu na 
Bolívia, ou para a ascensão ao poder de golpistas fracassados (Venezuela, Equador)”. 
11Citam-se, entre eles, Paul Heywood (op. cit.), John Girling (Corruption, capitalism and democracy. New York: Routtdege, 
1997), Donatella Della Porta e Alberto Vannucci (The perverse effects of political corruption. In: HEYWOOD, Paul 
(Org.). Political corruption. Oxford (UK): Blackweel Publishers, 1997). 
20 
 
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É certo que, diante do modo hodierno com que se trata o fenômeno da corrupção nas sociedades 
modernas, ou seja, pela divulgação espetaculosa do que se denominam escândalos de desvios éticos, 
muitas vezes não se tem debruçado sobre as reais causas do fenômeno ou os seus efetivos impactos na 
democracia, no desenvolvimento das instituições e mesmo no desempenho econômico. Como aponta 
John Girling12, pesquisador da Universidade Nacional da Austrália, a distância entre a percepção (e 
efetiva compreensão da corrupção) e o simbolismo de sua denúncia pontual pode ser grande. 
Contudo, o fato é que os efeitos da corrupção nos sistemas democráticos são visíveis e 
preocupantes, gerando sérios desgastes às suas instituições mais caras. Como bem lembra Paul 
Heywood,13 é legítima tal preocupação, pois, paulatinamente, adquire-se a consciência de que, em razão 
do fenômeno da corrupção, os princípios democráticos podem perder sua força regulatória sobre 
Governos e sobre as condutas individuais dos cidadãos, minando os alicerces básicos da democracia.14 
A corrupção leva, em última análise, a uma deturpação do código democrático, que deveria ser 
seguido pelos componentes do sistema político, gerando, além de privilégios de interesses advindos de 
outros sistemas sobre o interesse público, também a própria desarticulação do sistema político, podendo 
colocar em risco a forma de organização e de governo.15 
Especificamente sobre a representação política, a corrupção manifesta seus efeitos mais nefastos. 
Uma conseqüência, de certa forma intuitiva, é a perda da confiança do povo nos seus representantes e, 
conseqüentemente, a própria mitigação da credibilidade das instituições democráticas como um todo 
junto à opinião pública. 
Minando a confiança política nas instituições representativas, especialmente nos Parlamentos, a 
corrupção pode levar ao desequilíbrio entre os Poderes. Não raro, o Poder Executivo passa a exercer 
cada vez mais influência sobre parlamentares cooptados por suborno, levando a um esvaziamento das 
funções legislativa e, principalmente, fiscalizatória. Funções como a eletiva também passam a ser 
deturpadas, de modo que as eleições (ou as chamadas “sabatinas” de nomeações) para funções públicas 
relevantes realizadas pelo Parlamento acabam tornando-se desvirtuadas como meros procedimentos 
simbólicos ou mesmo moedas de troca política entre Legislativo e Executivo. 
Por fim, não se deve esquecer que a corrupção eleitoral desequilibra o jogo competitivo do pleito, 
contaminando a própria legitimidade política do mandato parlamentar, como se têm visto nas últimas 
eleições brasileiras, por exemplo. 
 
12GIRLING, John. op. cit., p. 12. 
13HEYWOOD Paul. op. cit., p. 5. 
14Advertem Power e Damison (op. cit., p. 78) que a percepção da corrupção pela população, seja ou não amplificada pela 
mídia, resulta em um desgaste imediato da democracia, paradoxalmente gerado pela maior transparência desse sistema, 
vez que a mídia, em regra livre, está apta a noticiar os casos que envolvem o fenômeno: “Tendo em vista que uma 
imprensa em larga medida livre é uma das realizações mais notáveis da democracia na maioria dos países latino-
americanos, é possível que a corrupção não tenha aumentado de fato na região, mas que as pessoas simplesmente 
estejam agora mais bem informadas sobre isto. Se essa ‘hipótese da mídia’ é verdade, então, em certa medida, a 
democracia está desgastando sua própria legitimidade.” 
15Faz-se referência, nesse excerto, à concepção teórica de interação de sistemas independentes construída a partir do 
método sociológico formulado pelo filósofo e sociólogo alemão Niklas Luhmann. A marca de tal concepção é a existência 
estruturas sociais com uma lógica própria de existência e de reprodução, funcionando a partir de um código próprio que 
determinae legitima os procedimentos e condutas individuais. 
21 
 
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2. Do Parlamento mexicano 
 
2.1. Da transição do presidencialismo hegemônico para a democracia pluralista 
A história política recente mexicana foi marcada por um período de dominação de um grupo 
político sobre os demais, afastando tal país do panorama de pluralidade política que, de certa forma, 
surgiu na América Latina no início do século XX. 
Tal dominação, que se consagrou chamar de presidencialismo hegemônico representou uma real 
ausência de alternativas políticas ao partido dominante, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), que 
reinou absoluto na cena política mexicana desde sua criação em 1929 até 2000, ocasião em que perdeu 
sua primeira eleição presidencial.16 
Segundo José Luis Prado Maillard,17 Professor da Universidade de Nueva León, de fato, a causa 
simples para a manutenção, de tantas décadas, do “presidencialismo hegemônico” foi o fato de não haver 
uma oposição apta a fazer frente ao poderio político do Governo e que pudesse representar uma 
alternativa eleitoral ao partido da situação.18 
Giovanni Sartori,19 no mesmo sentido, aponta que o sistema partidário mexicano, desde a 
Revolução de 1910 e, em maior ou menor grau, até 2000, não se caracterizou pela competição eleitoral 
efetiva e pelo exercício real de oposição política, mecanismo essencial ao funcionamento da democracia. 
Tratou-se, segundo o autor, não de um sistema de partido predominante, mas sim de partido 
hegemônico. 
Monica Herman Salem Caggiano20 remete-nos às lições de Robert Dahl, para ressaltar a 
necessidade da existência da oposição política para que haja a efetividade do jogo democrático. Para 
tanto, segundo o autor, seriam indispensáveis os requisitos de oportunidade de expressão política, de 
participação no jogo político e igualdade de manifestações políticas.21 
Tais requisitos começariam ser vislumbrados no panorama político mexicano, paulatinamente, 
somente a partir de meados da década de 60, do século XX. Com a reforma eleitoral de 1963, foi possível 
 
16Na verdade, o nome “Partido Revolucionário Institucional” somente foi adotado em 1946, mas o partido é considerado o 
herdeiro político do antigo “Partido Revolucionário Nacional”, criado em 1929 e que teve como um dos seus expoentes 
Plutarco Elias Calles, presidente do México entre 1924 e 1928. 
17PRADO MAILLARD, José Luis. Las relaciones de los órganos del poder político en el nuevo contexto político mexicano. 
Criterio Jurídico, Santiago de Cali, v. 6, p. 162, 2006. 
18Segundo Maillard: “Vistos los elementos esenciales de la democracia observamos que México no pertenecía a la familia de 
las democracias pluralistas, pues, no contaba con una oposición que pudiera realmente ostentar el poder por la vía 
electoral. Es decir, que el ciudadano no tenía más que una sola opción: el PRI.” 
19SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas partidários. Rio de Janeiro: Zahar; Brasília, Ed. da UnB, 1982. p. 263. 
20CAGGIANO, Monica Herman Salem. Oposição na política: propostas para uma rearquitetura na democracia. São Paulo: 
Angelotti, 1995. p. 166-167. 
21Monica Herman Salem Caggiano (Id. Ibid., p. 166-167) apresenta os referidos requisitos nos seguintes termos: “À vista das 
funções que o atual estágio de desenvolvimento lhe confere, a oposição comparece como fator indissociável das fórmulas 
democráticas de estruturação do poder político. Isto porque, nesse clima, marcam presença os elementos propícios a sua 
efetiva manifestação, fatores que, na percuciente lição de Robert Dahl, resumem-se a: 1) oportunidade para que os 
cidadãos expressem suas preferências políticas; 2) possibilidade de participação, por via de ação; 3) idêntico peso a todas 
as manifestações de vontade política.” 
22 
 
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a apresentação de candidaturas pelo sistema proporcional, o que coincidiu, não ocasionalmente, com o 
crescimento político do Partido da Ação Nacional (PAN), que justamente a partir dessa data passou a ter 
um desempenho eleitoral cada vez maior. 
É oportuno destacar, ainda, as reformas eleitorais de 1977 e 1996 que, respectivamente, 
permitiram as eleições proporcionais para Estados e Municípios e impuseram limite de assentos a um 
grupo político no Parlamento (máximo de 300). Essas reformas foram um importante fator para que, 
finalmente, rompesse-se a hegemonia do PRI e para que o partido de oposição, o PAN, conseguisse a 
Presidência da República em 2000 e em 2006. 
 
2.2. Das funções institucionais: representativa; legislativa; fiscalizadora; e jurisdicional 
Segundo a lição de Jorge Carpizo e Jorge Madrazo,22 o Parlamento Mexicano exerce funções 
legislativas, executivas e jurisdicionais.23 Dentre as funções executivas, destacaremos, nesse estudo, a 
fiscalização, encargo fundamental para o funcionamento de qualquer democracia. Além dessas funções 
apontadas, está, é claro, a função representativa, cerne de qualquer casa democrática. 
Muito embora haja divergência quanto ao assunto, é comum tratar da representação política como 
a primeira das funções clássicas de um Parlamento, cronologicamente falando. De fato, a representação 
política simboliza a própria essência da instituição, dando-lhe legitimidade popular e é provável que tenha 
sido a primeira das funções a aflorar no Conselho do Rei, órgão consultivo que deu gênese aos 
parlamentos modernos.24 
No cenário Mexicano, adota-se o sistema bicameral, tal qual o modelo inglês e norte-americano. 
Atualmente, o Senado do México é composto de 128 senadores, sendo que 32 deles são eleitos pelo 
sistema proporcional, de listas plurinominais, tendo como base eleitoral uma só circunscrição nacional. Os 
outros 96 senadores são eleitos mediante um mecanismo que combina o sistema majoritário relativo25 
com um sistema de representação de minoria (cada umas 32 unidades federativas elege dois senadores 
pela maioria relativa e um é eleito como o candidato mais votado do segundo partido com maior votação 
nacional). A Casa se renova, inteiramente, a cada seis anos. 
 
22CARPIZO Jorge; MADRAZO, Jorge. Derecho constitucional. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1991. p. 85. 
23Lecionam Carpizo e Madrazo (op. cit., p. 85): “La clasificación de las facultades de las Cámaras desde el punto de vista de 
la naturaleza de los actos que realizan, es una manifestación del sistema de coordinación de funciones que establece 
nuestra Constitución. Desde esta perspectiva, las Cámaras realizan facultades legislativas formal y materialmente, y 
ejecutivas y jurisdiccionales materialmente”. 
24Acerca da matéria, tivemos oportunidade de escrever: “Talvez não seja desmedido dizer que a representação política está 
para o Parlamento assim como o princípio da dignidade da pessoa humana está para os direitos fundamentais; ela é o 
núcleo central e intangível da instituição: uma vez extirpado, retira-se a própria razão de ser do Parlamento. Portanto, é 
intuitivo dizer que só existe a figura do Parlamento, se estiver florescida a função representativa” (LAUANDOS, Artur 
Rega. O Congresso Nacional no século XXI: os efeitos da corrupção sobre a representação política. Dissertação 
(Mestrado em Direito Político e Econômico)–Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. p. 47). 
25O sistema majoritário é uma técnica eleitoral de expressão da vontade popular, pela qual se indicam os representantes 
identificados a um grupo, o qual detém a maioria dos votos. Leciona Dalmo de Abreu Dallari, acerca desse sistema 
(DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementosda teoria geral do Estado. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 191): “Por este 
sistema, como o próprio nome sugere, só o grupo majoritário é que elege representantes. Não importa o número de 
partidos, não importando também a amplitude da superioridade eleitoral. Desde que determinado grupo obtenha maioria, 
ainda que de um voto, conquista o cargo de governo da disputa eleitoral”. 
23 
 
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Já a Câmara dos Deputados é composta por 300 deputados eleitos pelo sistema majoritário 
relativo, a partir da votação realizada em 300 distritos eleitorais (voto distrital uninominal) e 200 deputados 
eleitos pelo sistema proporcional,26 adotando-se o voto distrital regional plurinominal. Essa Casa se 
renova, na sua totalidade, a cada três anos. 
Quanto à função legislativa, o Parlamento Mexicano, tem um rol de atribuições bastante amplo. 
Sob a denominação de Faculdades do Congresso da União (“Facultades del Congreso de la Unión”), 
segundo Carpizo e Madrazo (1991, p. 85) as Casas do Parlamento exercem atribuições legislativas de 
forma separada e sucessiva, iniciando-se o processo legislativo na Câmara dos Deputados. Entre tais 
competências, previstas no artigo 73 da Constituição Mexicana de 1917, está a legislação sobre 
mineração, indústria cinematográfica, serviços financeiros, energia elétrica, criação e supressão de 
empregos públicos, nacionalidade, cidadania etc. 
Importante papel tem o Parlamento mexicano no tocante à fiscalização da condução do governo 
pelo Poder Executivo. Nessa seara, cumpre destacar a atribuição do Senado, em caráter eletivo, de 
ratificar as nomeações feitas pelo Presidente da República, quanto aos seguintes cargos: Procurador 
Geral da República, Ministros (incluindo-se os integrantes da Suprema Corte) agentes diplomáticos, 
cônsules gerais, cargos superiores na Fazenda Pública, coronéis e demais chefes superiores do Exército, 
Marinha e Aeronáutica, nos termos do artigo 76, II daquela Constituição. 
Já a Câmara dos Deputados, ainda quanto à essencial prerrogativa da fiscalização do Governo, 
tem o mister de conduzir investigações sobre o manejo e aplicação de recursos financeiros dos Poderes 
da União e dos entes públicos federais, bem como de verificar o cumprimento de políticas públicas 
federais. Tal tarefa, como dispõe o artigo 79 da Constituição Mexicana, é realizada por meio de um órgão 
técnico pertencente à estrutura d Câmara, mas dotado de autonomia gerencial, chamado de Entidade de 
fiscalização superior da Federação. 
Note-se, ainda, que o artigo 93 da Constituição Mexicana determinou a obrigação dos Secretários 
de Estado e chefes de departamentos administrativos de prestar contas, ao Congresso, da condução das 
políticas de seus respectivos ramos, bem como previu a faculdade de qualquer das Casas do Parlamento 
de convocar os mencionados funcionários, diretores de entes da Administração Pública Indireta, ou 
empresas de participação estatal majoritária, para que prestem esclarecimentos, quando entender-se 
oportuno à deliberação sobre um projeto de lei.27 
Por fim, quanto à função jurisdicional, semelhante ao que acontece em muitos ordenamentos 
jurídicos, tal como no Brasil, a Câmara dos Deputados tem a prerrogativa de decidir, nos do artigo 74, V, 
 
26O sistema proporcional é um método em que a representação política em cada circunscrição eleitoral deve ser distribuída 
em proporção às correntes ideológicas traduzidas pelos partidos políticos (SILVA, José Afonso da. Curso de direito 
constitucional positivo. 21. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros Ed., 2002. p. 370). 
27Muito embora o instrumento de fiscalização de convocação de autoridades para prestarem esclarecimentos seja uma 
importante prerrogativa de fiscalização do Congresso, é imperativo reconhecer que, no caso mexicano, em razão da 
opção pelo sistema presidencialista, não se tem os mesmo efeitos gerados em um sistema parlamentarista. Jorge Carpizo 
e Jorge Madrazo (op. cit., p. 59) bem nos recordam de tal ponderação: “En un sistema parlamentario los ministros del 
gabinete tienen también la obligación de rendir informes al parlamento, pero la consecuencia de dichos informes puede 
ser la emisión de un voto de censura para los ministros, lo que los coloca ante la obligación de renunciar. En el sistema 
presidencial mexicano los secretarios de Estado sólo son responsables políticamente ante el presidente de la República y 
no ante el Congreso, por lo que un voto de censura de éste no los obliga a renunciar”.7 
24 
 
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da Constituição Mexicana, por maioria dos presentes, se autoriza o início da persecução penal, em juízo, 
de diversas autoridades elencados no artigo 111, entre elas: Deputados e Senadores, Ministros da 
Suprema Corte, o Procurador Geral da República, o Presidente da República, entre outros. 
Interessante notar que para a Câmara dos Deputados funcionará, nesses casos, como órgão de 
acusação de tais delitos, por uma comissão específica para tanto, ante o Senado que, nos termos do 
artigo 76, VII, será o órgão responsável para o julgamento das já referidas autoridades. 
 
2.3. Dos Desafios do Parlamento Mexicano no século XXI 
Em face da preocupante crise de representatividade pela qual tem passado o Parlamento 
Mexicano, crise que tem se mostrado endêmica mundo afora (principalmente, nas jovens democracias 
latinoamericanas), novos rumos a serem percorridos pela instituição impõem-se para a sua sobrevivência 
política. 
Fenômenos com impactante poder corrosivo, tais como a corrupção disseminada de partidos 
políticos e parlamentares, têm agravado tal panorama de descrédito do Poder Legislativo, levando-os ora 
à beira de uma falência legislativa, ora à cooptação pela força política que têm mostrado aqueles que 
exercem a condução administrativa da nação. 
É certo que a predominância do Poder Executivo, no México, deva-se, em boa parte, ao modelo 
de interação entre Poderes, adotado pelo legislador constitucional, que como muito bem lembram Jorge 
Carpizo e Jorge Madrazo28 desenhou a predominância do Poder Executivo, ao dotá-lo de muitas e muito 
importantes atribuições constitucionais.29 
Os referidos autores lembram, contudo, que foram outorgados aos outros poderes as faculdades 
necessárias para o controle do Poder Executivo, como se viu, de fato, no exame das prerrogativas de 
fiscalização do Parlamento Mexicano, nesse estudo. Torna-se imperativo, portanto, que os instrumentos 
que materializam tal importante função clássica parlamentar sejam, de fato, exercidos pelo Poder 
Legislativo, para que se busque dotar o Parlamento do real relevo político que merece. 
A função fiscalizadora, dessa forma, tem um papel fundamental para a retomada da força política 
do Parlamento.30 Os parlamentar devem reconhecer a deficiência legislativa de suas Casas, decorrente 
da dificuldade de acompanhar as transformações sociais a partir do Estado de Bem Estar Social, mas 
podem se aproveitar dessa mitigação funcional para melhor dedicarem-se às tarefas de fiscalização (não 
devem, contudo, deixar que se esvazie a função legislativa por completo). 
 
28CARPIZO Jorge; MADRAZO, Jorge. op. cit., p. 64. 
29Em contrapartida, José Luis Prado Maillard (op. cit., p. 159) adverte que a crença de que a Constituição Mexicana foi 
responsável por fortalecer o “presidencialismo hegemônico” é falsa, devendo-se ter em conta que as relações entre 
Executivo e Legislativo previstas pela Constituição guardavam muita similaridade com o desenho constitucional clássico. 
30Fernanda Dias Menezes de Almeida (Imunidades

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