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A racionalidade da sociedade moderna

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Weber e a racionalidade da sociedade moderna ocidental
Alexandre Carneiro de Souza
O fenômeno de racionalização da sociedade moderna consiste a preocupação central que vai nortear as análises de Max Weber. Trata-se de um objeto de análise da mais significativa importância tanto pela sua abrangência (uma vez que a racionalidade atingia a todos os campos da vida social quer da ciência, quer da arte, quer da música, quer da produção) como pela importância para a elucidação de questões complexas relacionadas à ascensão e queda das estruturas sobre as quais estava amparado o sistema social no ocidente.
Uma extensa obra vai procurar dar conta do processo racionalização. No entanto todo o percurso vasto dessas pesquisas vai estar construído sobre pelos menos três questões primordiais:
* O desencantamento do mundo
* A emergência do capitalismo 
* A burocracia
O desencantamento do mundo
As discussões de Weber sobre a racionalização da sociedade ocidental partem do pressuposto do desencantamento do mundo. Para que as condutas racionais eclodissem no mundo moderno fora necessário romper as estruturas da sociedade tradicional, que estavam firmadas em concepções naturalistas e mágicas do mundo. Considerando os postulados básicos da teoria weberiana, o mundo tradicional retivera as forças transformadoras do pensar racional, pautando as condutas dentro das esferas restritas do agir tradicional e afetivo.
Weber vai assinalar aquilo que denomina de “grande progresso” (1992:72) que marcará a ultrapassagem da visão mágica do mundo, estabelecendo o processo da racionalização e trazendo, consequentemente, a inovação social. Vai descobrir o importante papel da ética religiosa que emergiu com a reforma Protestante para que se estabelecessem definitivamente os marcos que libertarão o pensamento social da visão anti-progressista do mundo arcaico e possibilitar o estabelecimento das forças inovadoras da razão no mundo ocidental.
A identificação de uma contribuição da religião para o desenvolvimento da sociedade moderna é algo primoroso. Chegar a esta constatação não simples, tendo em vista de que fora a religião, aliada ao pensamento tradicional, que instaurara o encantamento do mundo. Era lógico pensar a reviravolta do pensamento racional ignorando seus vínculos com o pensamento religioso. 
 
Neste aspecto a sociologia de Weber é bastante inovadora e vai estabelecer um diferencial em relação às demais escolas do pensamento sociológico da época com relação à religião. Enquanto que, de maneira geral, os sociólogos da época percebiam a religião como produto dos interesses sociais, Weber reconhece que a visão religiosa é portadora de uma racionalidade que também manifesta seu caráter autônomo. Desta forma, a ação religiosa não apenas sofre, como também exerce influência:
O interesse de Beber pela religião nasce exatamente da convicção de que as imagens religiosas do mundo (Weltanschauugen) exercem um papel fundamental na formação das sociedades, mediante a legitimação de comportamentos tradicionais ou inovadores (Martelli, 1995:76).
Weber acreditava que a eliminação da magia do mundo envolveu um longo processo histórico, iniciando com os “velhos profetas hebreus”. Nas palavras do autor, Moisés e os profetas posteriores tomaram para si a tarefa de atuar na solução de problemas políticos e sociais:
Advertem aqueles que oprimem e escravizam os pobres, acumulam cada vez mais terras, violam a jurisdição em troca de presentes – sendo estas as formas típicas da diferenciação das classes na antigüidade, mais acentua ainda, como ocorre pôr toda parte, pela organização da polis de Jerusalém... (1991:305).
Diferentemente das religiões naturalistas do Oriente Médio, o antigo judaísmo apresentava três características particulares: transcendentalização, historicidade e racionalização ética. Tais características são herdadas pelo cristianismo. O catolicismo empreendeu uma parcial re-magização do mundo, através da multiplicidade de mediadores. 
No entanto, foi com o protestantismo que o agir racional alcançou o seu nível mais radical. Mas, não se deve exclusivamente à Reforma a inauguração da era moderna. O êxito da Reforma deu-se em função de um sentimento anti-clericalista muito presente na Europa. Os ideais protestantes foram acolhidos, porque, de certa forma, atendia expectativas que já subsistiam politicamente. O novo movimento religioso que nasce na Alemanha vai simplesmente emprestar a força histórica de que os fatos existentes precisavam para efetivar a ruptura do pensamento tradicional monitorado e reproduzido pela Igreja. A quebra da hegemonia católica vai se apresentar não apenas como um fato puramente religioso, mas sobretudo cultural e de longo e diversificado alcance, influenciando todas as áreas da vida social, até então controladas pelo discurso sagrado. 
Dois aspectos ético-doutrinários anunciados pela Reforma são de importância vital para a afirmação de uma nova cultura mais afastada da teologia e mais próxima da razão: primeiramente a doutrina luterana da intramundanidade, atribuindo um novo sentido a vocação cristã firmemente fundada numa visão individualista e anulando a função mediadora da Igreja. 
O segundo aspecto foi a doutrina da predestinação, em cujo teor o desempenho produtivo dos indivíduos deveria provar sua condição de eleito:
... manteve-se como um dever absoluto, de cada um considerar-se escolhido e de combater todas as dúvidas e tentações do demônio ... A exortação ao apóstolo de fortalecimento da própria vocação é aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação e justificação na luta diária pela vida (1992:77).
Ora, tanto o sacerdócio universal quanto a noção da inserção social ativa do cristão constituíram incentivos inavaliáveis para que se estabilizasse no ocidente um amplo processo de racionalização, envolvendo todas as áreas da vida social.
2- A emergência do capitalismo moderno
A análise weberiana da emergência do capitalismo estabelece um distintivo entre o capitalismo europeu / norteamericano e os demais:
Do modo pelo qual o problema está colocado,. É óbvio que estamos falando do capitalismo da Europa Ocidental e do norte-americano. “capitalismo” houve na China, na Índia, na Babilônia, na Antigüidade Clássica, na Idade Média. ,as, em todos estes casos faltava como veremos, este ethos particular (1992:32).
Decerto, o autor se refere ao capitalismo comercial, tão antigo quanto o intercâmbio entre os povos. Este capitalismo tradicional predominou no mundo de maneira geral, não só no Oriente, como uma forma de organização inegavelmente capitalista conduzida por uma contabilidade racional. No entanto, o espírito que animava o empreendimento desse capitalismo era tradicional:
... o modo de vida tradicional, a taxa tradicional do lucro, a quantidade tradicional do trabalho, a maneira tradicional de regular as relações com o trabalho, o círculo essencialmente tradicional de fregueses e a maneira de atrair novos. Tudo isso dominava a orientação do negócio, colocava, pode-se dizer, na base do ethos deste grupo de homens de negócios (1992:44).
Utilizando-se de termos sátiros, Weber denomina este período de “época de lazer”, referindo á ausência de ousadia, e vai assinalar que numa determinada época essa prática capitalista acomodada foi subitamente convulsionada sem que para isto tivesse ocorrido qualquer mudança essencial na organização do empreendimento.
O certo é que:
A situação idílica anterior desmorona sob pressão ... A velha atitude de lazer e conforto para com a vida deu lugar à rija frugalidade que alguns acompanharam e com isso subiram ... (1992:44).
O que teria acontecido de modo especial que sem mudar essencialmente a forma de organização dos negócios, introduzira uma verdadeira convulsão na gestão dos negócios?
O que sucedeu foi, geralmente, apenas isto: um jovem qualquer, de uma das famílias produtoras sai para ocampo, escolhe cuidadosamente tecelões para empregados, aumenta grandemente o rigor de sua supervisão sobre seu trabalho e transforma-os, assim, de camponeses em operários. Por outro lado, começa a mudar seu método de mercado, buscando tanto quanto possível o consumidor fina, toma em suas mãos os mínimos detalhes, cuida pessoalmente dos fregueses, visitando-os anualmente, e, principalmente, ajusta diretamente a qualidade do produto às necessidades e desejos destes fregueses. Ao mesmo tempo ele começa a introduzir o princípio dos baixos-preços e de grande giro. Repete-se aqui, o que sempre e em toda parte é o resultado de umtal processo de racionalização: aqueles que não fizeram o mesmo, têm que sair do negócio (1992:44).
 O empreendedorismo que caracteriza a emergência do capitalismo moderno difere radicalmente dos negócios tradicionais. O novo capitalismo demonstra sua força, sobretudo, em torno de qualidades éticas. De maneira tal que não se lhe atribui diretamente ao seu desenvolvimento novos fluxos de capital investido nas indústrias. Essa motivação propulsora de resultados inéditos na história da economia não tem origem em novas somas de capital, mas, sim, no desenvolvimento de um novo Geist:
... juntamente com a clareza de visão e a habilidade no agir, foi somente em virtude de qualidades éticas muito definidas e altamente desenvolvidas, que foi possível angariar a confiança absolutamente indispensável de seus fregueses e trabalhadores. Nada mais lhe poderia ter dado a força de superar os inúmeros obstáculo, e, acima de tudo, o trabalho infinitamente mais intensivo que é exigido do empreendedor moderno ... E, da mesma forma, não foram ousados e inescrupulosos especuladores, aventureiros econômicos como encontramos em todos os períodos da história econômica ... Foram, pelo contrário, homens que se educaram na dura escola da vida, calculando e arriscando ao memso tempo, sóbrios e dignos de confiança, acima de tudo sagazes e completamente devotados a seus negócios, com opiniões e princípios estritamente burgueses (1992:45).
 Como bem se pode ver, ocorre um choque entre as velhas formas tradicionais e os modos específicos de uma moderna cultura comercial, cujo acento vai estar localizado, sobretudo, numa nova visão da história. Anteriormente, certas práticas históricas revelaram esse espírito de ousadia manifestos na aventura, na pirataria e na sorte (1992:36). O advento do capitalismo moderno mobiliza uma idéia nuclear: a aplicação constante da inteligência prática à atividades econômicas.
Weber indica certos elementos básicos do capitalismo:
A- O trabalho como um fim absoluto por si mesmo - vocação : 
E, na verdade, esta idéia peculiar do dever profissional, tão familiar a nós hoe, mas, na realidade, tão pouco evidente, é a mais característica da ética social da cultura capitalista, e, em certo sentido, sua base fundamental. É uma obrigação que o indivíduo deve sentir e que realmente sente, com relação ao conteúdo de sua atividade profissional, não importante no que ela consiste e particularmente, se ela aflora com uma utilização de seus poderes pessoais ou apenas de suas possessões materiais ... O trabalho deve, ao contrário, ser executado como um fim absoluto pôr si mesmo – como uma vocação (1992:33,34,39).
B- O racionalismo econômico – diferencia o capitalismo moderno da precária existência do camponês, do tradicionalismo privilegiado do artesão e do capitalismo aventureiro. Aquele rege-se pôr uma economia individualista, racionalizada com base no cálculo rigoroso e dirigido com previsão e atenção para o sucesso econômico. Neste enfoque, o trabalho se insere num processo de racionalização:
O trabalho a serviço de uma organização racional para o abastecimento de bens materiais à humanidade, sem dúvida, tem-se apresentado sempre aos representantes do espírito do capitalismo como uma das mais importantes finalidades de sua vida profissional (1992:50).
C- A normatividade ética – Weber reconhece no capitalismo um estilo de vida normativo baseado e revestido numa ética. É com certeza esse carácter normativo que, ao instituir um conjunto de instituições, dará sempre mais força histórica ao novo sistema. O poder que esta normatividade exerce é condição prévia para o sucesso capitalista (1992:47).
3- A burocracia
 Com o desenvolvimento do pensamento racional na sociedade ocidental a burocracia não somente passa a desenvolver um papel importantíssimo. Ela encontrará condições amplamente favoráveis a um desenvolvimento nunca antes experimentado. A complexificação da vida social, sobretudo na gestão do Estado e no domínio econômico privado, exigirá que as atividades e as relações sejam classificadas em formas e sejam desempenhadas dentro de certas rotinas. 
Noutros termos, A sociedade tradicional estava sustentada sobre velhas estruturas sociais movidas pela simpatia, pelas preferências pessoais, pela graça e pela gratidão. A sociedade moderna da produção capitalista deverá atuar em função da calculabilidade de resultados, exigindo cada vez mais o exercício de tarefas despersonalizado e rigorosamente objetivo (1982:251). Trata-se do estabelecimento de uma nova organização de modo que se isole a repartição do domicílio privado do funcionário, o escritório executivo da residência, a correspondência comercial é separada da pessoal. Weber vai assinalar que a profissionalização/despersonalização, ou seja, a eliminação das influências pessoais, irracionais e emocionais do âmbito dos negócios, consiste na virtude especial da burocracia (1982:251).
Segundo Weber, a burocracia moderna vai atuar no sentido de regulamentar mediante leis ou normas administrativas o funcionamento das atividades sociais no domínio público e no domínio privado, estabelecendo métodos qualificados, organizando as tarefas segundo o princípio da hierarquia, instituindo as práticas modernas de arquivo, introduzindo o treinamento especializado, com o fim de os desempenhos sigam regras gerais, mais ou menos estáveis (1982:229-231).
Tais funções dão às organizações burocráticas uma superioridade técnica em relação às outras formas de organização. Sua finalidade é a otimização:
Precisão. Velocidade, clareza, conhecimento dos arquivos, continuidade, discrição, unidade , subordinação rigorosa, redução do atrito e dos custos de material e pessoal – são levados ao ponto ótimo na administração rigorosamente burocrática ... Em comparação com todas as formas colegiadas, honoríficas e avocacionais de administração, a burocracia treinada é superior ... (11982:249).
A burocracia no âmbito do direito
Duas questões parecem fundamentais ao desempenho burocrático no âmbito do direito: primeira, a interpretação da lei segundo a visão racional e à base de conceito rigorosamente formais. Realidade totalmente distinta das interpretações familiares ou sagradas (1982:251).
A igualdade perante a lei e a exigência de garantias legais contra a arbitrariedade requerem uma objetividade de administração formal e racional, em oposição à discrição pessoalmente livre, que vem da graça do velho domínio patrimonial (1982:256).
A segunda questão se expressa nas próprias palavras do autor: As conseqüências da burocracia dependem, portanto, da direção que os poderes que usam o aparato lhe derem (1982:267). A burocracia é um instrumento de poder dos mais altamente desenvolvidos e cumpre finalidades políticas quer de um governo social ou de um governo aristocrático (1982:169).
Bibliografia
MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre a secularização e dessecularização, SP, Paulinas, 1995.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. SP, Pioneira, 1992.
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília - DF, Editora UnB, 1991.

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