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biogeografia aula 4

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes 
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas à Distância 
Disciplina Biogeografia 
Prof. Dr. Francisco José de Figueiredo 
 
Aula 4 - Biologia Comparada: Sistemática e Biogeografia 
 
Sumário: na próxima seção lidaremos com elementos básicos de filosofia da ciência como subsídio 
para compreensão de certos aspectos fundamentais da biologia comparada, na qual se insere a 
Biogeografia. Segue um texto introdutório em formato pdf sobre o assunto. 
 
1. Um pouco de FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
 
Ciência é uma forma de conhecimento no qual se estabelecem os limites do assunto 
que se quer investigar e os critérios e as metodologias para fazê-lo. É praticamente ceticismo 
aplicado. Na prática, buscamos descobrir e descrever padrões, ou seja, aspectos de regularidade na 
natureza, para depois tentar explicá-los segundo processos subjacentes. Mas, uma recomendação 
que se faz aos “caçadores de padrões” é o do imperativo categórico de Hyman: “não busque 
explicar algo até que esteja seguro de que aquilo realmente existe”. Isto deve poupar tempo e 
esforço. 
 
O filósofo da ciência é aquele profissional que supervisiona a atividade dos cientistas 
e que se preocupa com perguntas do tipo: a) o que distingue o conhecimento científico de outras 
formas de obtenção de conhecimento? b) como se adquire o conhecimento científico ? c) como o 
conhecimento científico avança? d) é real o que está sendo estudado? 
 
Estas questões estão longe de serem irrelevantes. No nosso dia-a-dia somos 
bombardeados pela mídia com informações distorcidas de todos os tipos nos impondo verdades. É 
comum notarmos nos jornais e revistas afirmações do tipo: os cientistas dizem que este ou aquele 
produto é o melhor...que está provado pelos cientistas a existência disto ou daquilo...que a ciência 
nunca saberá isto ou aquilo. Reparem na generalização: os cientistas. 
 
 
 
É sintomático que a maioria da população não tem formação adequada a ponto de 
saber como os cientistas adquirem conhecimento ou de separar o conhecimento científico de outros 
rivais. É bem sabido que o respaldo científico dá maior credibilidade a certas crenças ou ideologias 
quando estas disputam com outras seu espaço. O jargão científico impõe respeito. Buscar 
sustentação na ciência para crenças e convicções ideológicas particulares abundam na mídia ao 
mesmo tempo que, pateticamente, a mídia apela para a incapacidade de resposta da ciência para 
responder certas questões quando quer proteger convicções de apelo popular. 
 
Ciência é movida pela dúvida. Ela é extremamente crítica. Está longe de ser 
arrogante, já que ela é capaz de rever seus conceitos e mudar de rumos. Ao contrário, a maioria da 
população busca certeza. Isto dá conforto. Tem horror à dúvida, pois a educação inadequada não 
lhes permite escolher criticamente uma entre várias propostas rivais. Com isso, aquele que diz ter a 
verdade pode dizer ao resto o que deve ou não fazer. 
 
Mas, o que poderiamos dizer de uma atitude científica? Seria útil para o nosso dia-a-
dia? A maioria da população crê em idéias ou conceitos que carecem de evidências. Falamos muito 
em preconceitos. Estes são simplesmente idéias assumidas como verdadeiras, mesmo com 
evidência inexistente ou duvidosa ou tendenciosa por detrás. Para quem acredita na proposta, não 
adianta apresentar evidência contrária porque não vai quer discutir ou mudar de idéia. Isto pode 
parecer a primeira vista firmeza ideológica ou indicação de caráter forte, porém esta falta de análise 
crítica para rever conceitos é o que leva ao fanatismo, a uniformidade de pensamento, a 
discriminação, ao ódio e a manipulação. Isto está estampado no que chamamos apartheid 
cognitivo ou imunização ideológica, ou seja, a relutância do indivíduo em aceitar novas idéias que 
são diametralmente contrárias a sua convicção particular. 
 
O cientista crê com base em evidências. Não havendo o mínimo de evidências para 
sustentar uma porposta, é uma questão de probabilidade que seja falsa. 
 
Em filosofia da ciência, na tentativa de responder aquelas perguntas básicas, 
distinguimos questões ontológicas (que lidam com a realidade ou não de objetos de estudo e 
conceitos) de questões epistemológicas (como se adquire o conhecimento sobre aquele objeto de 
estudo ou conceito). Para o cientista, estas questões se tornam mais explícitas nas partes de um 
artigo científico que lidam, respectivamente, com material e metodologia. O conhecimento obtido 
recebe o nome de científico. 
 
Ao contrário do filósofo para o qual nenhuma resposta é um fim em si para uma 
questão, o cientista assume uma certa veracidade alcançada por evidências e suas consequências 
como base para formalização de novas hipóteses e predição de novas situações. E assim, o 
conhecimento avança e o seu “castelo de areia” da ciência é construído. 
 
Para Aristóteles, certas premissas se impõem ao estudarmos a natureza. Assume-se 
que exita ordem, regularidade e relação de causa e efeito no mundo natural. Ainda, explicações 
do mundo natural devem estar restritas àquelas que podem ser verificadas pelos fatos da 
experiência. 
Segundo ele, para tentarmos entender as coisas, dois tipos de raciocínio lógico são empregados: 
dedução e indução. Segundo a prescrição do estagirita para estudarmos a natureza o conhecimento 
adquirido é consequência desses dois tipos. O método de Aristóteles era portanto indutivo-
dedutivo. Como exemplo, tomemos um caso de eclipse lunar. Observa-se o escurecimento 
progressivo da superfície lunar. Buscam-se princípios gerais por indução: i) a luz segue trajetória 
em linha reta, ii) objetos opacos produzem sombras; iii) uma configuração particular de dois corpos 
opacos perto de um corpo luminoso coloca uma desses corpos na sombra do outro. Logo, Terra e 
Lua são corpos opacos e Sol, um corpo luminoso. Deduz-se que a sombra da Terra cobre a 
superfície lunar, daí o eclipse lunar. 
 
De uma forma bastante simples, indução é o raciocínio lógico que vai do particular 
para o geral. Já a dedução é do geral para o particular. 
 
O raciocínio indutivo conduz a uma conclusão não totalmente cobertas pelas 
premissas. Por exemplo, gato 1 bebe leite, gato 2 bebe leite, gato 3 bebe leite... logo, todos os gatos 
bebem leite. Logo se chega a uma generalização ou extrapolação. 
 
No raciocínio dedutivo a conclusão é coberta pelas premissas. Por exemplo, 
mamífero produz leite; gato é um mamífero. Logo, gato produz leite. 
 
Sabe-se que não há um consenso quanto a definição de ciência ou do que vem a ser o 
método científico, mas há ingredientes básicos do conhecimento científico que nos permite separá-
lo com senso comum e de outras formas de saber. Em ciência, auto-correção, testabilidade, 
repetibilidade, predição e uso de evidências empíricas (obtidas por observação, experimentação 
ou inferência) positivas são ingredientes que não podem faltar. 
 
No primeiro caso, por auto-correção, entende-se que a ciência permite eliminação 
de erros ou revisão de conceitos adotados. A verdade científica deve ser encarada sempre como 
circunstancial, relativa. É aberta ao confronto. Difere do conhecimento místico-religioso no qual 
assume-se certas idéias como dogmas ou verdades absolutas mesmo sendo extremamente duvidosas 
ou questionáveis. 
 
A possibilidade de se confrontar idéias é algo saudável e decorrente da prática do 
intelectualismo. Faz parte da liberdade de pensamento e expressão pregada pelo humanismo 
secular. Portanto, a testabilidade significa que as conjecturas formuladas podem ser confrontadas 
com as evidências obtidas. Se resistem, aceitamo-las. Casocontrário, descartamo-las. Muitas vezes 
isto não significa que são inteiramente erradas, mas sim que dadas certas circunstâncias aquelas 
propostas não se sustentam. As conjecturas testáveis em ciência são chamadas de hipóteses. E elas 
devem ser formuladas sempre pensando em se fornecer implicações de teste. 
 
Repetibilidade é importante pois se algo repete, podemos fazer uma predição. 
 
O que significa evidência empírica positiva? Considere a seguinte questão. Por que 
se sabe que os artrópodes trilobitas existiram? Bem, há prova empírica direta da sua existência. 
Basta ir numa coleção paleontológica ou museu e observar um monte de restos de carapaças e 
apêndices petrificados ou impressões desses em rochas dentro de uma gaveta empoeirada e verificar 
que não pertencem a nenhum grupo de animais viventes. Conclui-se que um tipo diferente de 
artrópode existiu aqui na terra antes daqueles que sobreviveram até chegar no nosso horizonte de 
tempo. Não se enquadra entre as insetos, crustáceos ou aracnídeos. Algumas características nos 
ajudam a separá-los pela anatomia dessas formas viventes. Então, são reunidos em um grupo dos 
artrópodes trilobitas. Temos evidências empíricas positivas de que existiram. Caso contrário, é o 
da mula sem cabeça. Se não há o mínimo de evidência empírica positiva, a aceitação deve ser 
mais uma crença. Para quem crê basta dizer que o fato de você nunca ter visto uma mula-sem-
cabeça não significa que ela não exista. E fica satisfeito com isso. É o argumento em prol da 
evidência empírica negativa, muito usada pelo pseudocientistas para sustentarem suas crenças. Os 
pseudocientistas buscam sempre evidências favoráveis aos seus interesses e imunizam aquelas 
contrárias. 
 
Há uma confusão generalizada quando se fala de teoria. Ela difere do sentido 
popular do termo. Para o leigo teoria significa algo pouco além de uma hipótese e que não inspira, 
portanto, grande credibilidade. Mas em ciência teoria corresponde a um somatório de hipóteses 
diversas que convergem numa explicação comum. É uma situação na qual evidências, leis e 
hipóteses se misturam e se completam para formar uma corpo de conhecimento. Por isso, fala-se de 
Teoria de evolução por seleção natural ou teoria da deriva continental por tectônica de placas. 
São paradigmas seguidos em função do poder explicativo subjacente e das evidências que os 
sustentam. Mas, no caso de novas evidências surgirem e indicarem falhas na explicação antiga elas 
podem apontar para novos rumos tais como revisões das bases históricas, filosóficas e 
metodológicas daquela área do conhecimento. Isto pode levar a construção de um novo paradigma. 
E a vida segue adiante. 
 
É comum em ciência termos teorias rivais em termos de metodologia e capaciadade 
explicação. Grupos de cientistas tentam “vender o seu peixe” e o tempo dirá em termos de 
evidências acumuladas e poder de explicação qual das diferentes propostas encaminhadas é a 
melhor. 
 
Ciência é uma forma de obtenção de conhecimento bastante especial. Tem suas 
regras próprias e suas limitações. No entanto, das formas diferentes de conhecimento, parece ser 
aquela que produziu melhores frutos. Ela está em estampada em todas as partes. A tecnologia está aí 
para não nos deixar mentir. Uma das razões para isso é o fato da ciência assumir uma posição de 
naturalismo metodológico, no qual o sobrenatural não precisa ser invocado como explicação. 
Pode-se explicar as coisas por causas naturais. Isto não significa dizer que a ciência negue o 
sobrenatural, apenas tenta explicar as coisas sem ele. E isto tem dado certo por séculos. Como diz o 
dito popular “time que está ganhando não se mexe”. Aquilo que não cai no âmbito científico é 
denominado metafísico e se torna um objeto de estudo do filósofo. O sobrenatural é uma questão 
metafísica. Há muitos conceitos em Biologia que são mais metafísicos do que científicos. Eles são 
difíceis de serem submetidos a teste ou então nenhuma resposta com relação a eles encerra uma 
discussão. Cabe ao cientista avaliá-los ou reformulá-los de forma que sejam mais adequados a 
testes. 
Sendo assim, um objeto de estudo ou conceito problemático em ciência é aquele que: 
 
i) É ambíguo, com vários sentidos; não é evidente 
ii) É uma simples definição (uma questão de convenção), daí pode não ser muito 
informativo 
iii) Clama por respostas do tipo circunlóquio (do tipo, isto é porque é e pronto) 
ou por opiniões pessoais subjetivas (do tipo, minha intuição diz que...) 
iv) Leva a regressão infinita (definição atrás de definição, sem fim) ou gera 
debates intermináveis porque nenhuma observação específica constitui uma resposta 
 
Três critérios foram invocados como distintivos do conhecimento científico: 
verificabilidade, falseabilidade e vulnerabilidade. Veremos mais adiante os argumentos em prol 
de cada um deles. Mas antes, daremos um passeio pelas ciências como um todo. 
 
 Alguns filósofos da ciência constumam dividir as ciências em dois grandes tipos: 
i) Formais (matemática, lógica) 
ii) Factuais (geologia, física, química, biologia etc.). 
 
Mas, ainda entre as chamadas ciências factuais naturais (ou empíricas) podemos 
distinguir aquelas que trabalham dentro de um contexto praticamente atemporal, no qual é possível 
buscar evidências empíricas através de observações diretas e experimentos, depois criar hipóteses e 
testá-las sob situações controladas. Uma situação diferente é a das ciências empíricas históricas. 
 
Nas primeiras, com a possiblilidade de repetição, chegamos a detecção de padrões 
replicados (ou seja, que se repetem com regularidade, ao contrário dos padrões únicos, 
episódicos), e assim verificamos a sua probabilidade de ocorrência, que correspondem a predições. 
Estas predições simplesmente significam restrições ou proibições quanto ao que pode e o que não 
pode ocorrer se uma dedução é encaminhada e sob certas condições. Em outras palavras, “se isso 
ocorre...então...aquilo não pode ocorrer ao mesmo tempo”. Normalmente, estas ciências lidam com 
o que chamamos de tipos naturais ou classes de objetos e muitas vezes, estão preocupadas com a 
descrição de processos ou mecanismos. 
 
Os tipos naturais carecem de contexto espaço-tempo que caracterizam o que 
chamamos de indivíduos naturais, comuns nos estudos das ciências históricas. Vamos esclarecer 
isso. Por exemplo, o ouro é um elemento químico de número atômico 79 e conhecido como tal na 
natureza independentemente de sua história pregressa ou origem. Se certas propriedades físico-
químicas (densidade, massa atômica, ponto de fusão etc.) são satisfeitas, pode-se atribuir uma 
amostra encontrada na natureza àquela classe de objetos chamada ouro (Au) e então construir 
hipóteses e fazer generalizações. Trata-se de um tipo natural. Para fixar estas diferenças considere 
o gênero musical rock & roll. Escutando esta ou aquela música, atentando para o ritmo e a melodia, 
poderíamos classificá-la como um rock e não um samba, tango ou hip hop. Ele é um tipo natural. 
No entanto, se alguém me fala do rock progressivo, está se referindo a uma instância do rock, que 
surge no final dos anos sessenta e se estende até a metade da década de 1970. Limitei-o no tempo e 
no espaço. Ele tem origem, desenvolvimento e extinção. Trata-se de um indivíduo natural. 
 
No caso das ciências empíricas atemporais, ao se constatar que há repetição no 
produto obtido com os experimentos e em função da hipótese ter passado no teste, pode-se chegar a 
um enunciado sob a forma de lei geral. O raciocínio lógico é do tipo indutivo pois se de um caso 
particular e extrapola-se para o geral, já que não é possível acessar todos os dados. Como já dito, a 
conclusão não está contida nos dadosdisponíveis. Cria-se então uma expectativa. Mesmo, não se 
tendo condições de checar se todas as ocorrências concordam com o que foi enunciado, tem-se um 
projeção em função dos dados disponíveis. Isto tem dado resultado. É dessa forma que muito das 
áreas biomédica e química obtiveram êxito. Tem sua raízes no critério de verificabilidade. Quanto 
mais evidências forem se acumulando, mais próximo estaremos da verdade. A Lei quase atinge 
status de verdade. 
 
Sir Karl Popper (1902-1994), do círculo de Viena, foi considerado o maior 
filósofo da ciência de todos os tempos. Ele contribuiu com uma proposta de prescrição do como a 
ciência opera. Desenvolveu o critério de falseabilidade (ou refutabilidade) para separar o 
conhecimento científico do não científico, rejeitando assim o critério de verificabilidade endossado 
por cientistas e filósofos desde os tempos de Sir Francis Bacon (1561-1626). Popper nos mostrou 
que a verificabilidade é um mito. Teríamos que checar todos os casos pontuais de ocorrência para 
podermos verificar um enunciado científico (hipótese, teoria ou lei). Não é pelo fato de algo estar se 
repetindo que se pode dizer que necessariamente deverá se repetir, mesmo com todas as evidências 
favoráveis. Ele propôs o método hipotético-dedutivo em substituição ao indutivo: a validade de 
uma idéia científica se estabelece derivando suas conseqüências com relação ao mundo e 
avaliando se a predição derivada é ou não correta. Para ele ciência avança através de criação de 
conjecturas inventivas e tentativas arrojadas para refutá-las. Se não é possível verificar na íntegra 
um enunciado científico, só nos resta apontar que é falsa, buscando exceções á regra. Desta forma, 
ao contrário da verificabilidade que leva a estagnação de conhecimento (já que novas evidências 
são acrescentadas às já obtidas), a falseabilidade leva ao avanço porque cria novas situações que 
por si próprias necessitam ser explicadas por novas hipóteses. Pronto e bom, mas existem vários 
problemas com a aplicação do critério de falseabilidade. Os instrumentos de teste nem sempre são 
fidedignos e podem levar a erros: i) rejeitar uma hipótese quando esta é boa ou ii) aceitá-la quando 
ela não é. 
 
O filósofo da ciência David Lee Hull (1935-2010) apontou três tipos enunciados 
científicos: 
 
i) Todos os A são B. Lei Universal. O enunciado é potencialmente falseado, 
mas não completamente verificado. Há assimetria entre a evidência que confirma e a evidência que 
refuta. 
ii) Alguns A são B. Lei Universal. Basta achar um exemplo e pode-se verificar. 
Mas, não dá para refutar ou falsear. 
iii) Alguns A são B em 1970. Universal Numérico. Dá para confirmar OU 
refutar. 
 
Elliott Sober (1948-) argumenta que para uma hipótese ou teoria ser testada no 
sentido popperiano, ou seja, de forma estritamente dedutiva, deve-se assumir que qualquer uma 
das premissas auxiliares e todas elas sejam verdadeiras. Uma vez que não se pode verificar se 
todas elas são verdadeiras, não se pode testar dedutivamente. Ele aponta uma saída para a situação: 
o critério de vulnerabilidade. Hipóteses científicas devem ser vulneráveis às observações. Para 
uma hipótese ser suportada por evidência ela deve ser vulnerável à desconfirmação (uma nova 
combinação ou estruturação que contradiga o anterior). Isto pode ser resumido no seguinte 
esquema: 
 
P (O/H1) > P (O/H2), então P (não-O/H1) < P(não-O/H2) 
 
De outra forma, se uma observação (O) favorece uma hipótese (H1) sobre uma 
hipótese (H2), então a observação contrária favorecerá H2 sobre H1, porque a probabilidade de O 
dado H1 é maior que a probabilidade de «não-O» dado H1 deve ser menor que a probabilidade de 
«não-O» dado H2. 
 
Imre Lakatos (1922-1974), um discípulo de Popper, criticou na prática a prescrição 
de Popper e abordou de outra forma o avanço do conhecimento científico. Propôs uma metodologia 
para os programas de pesquisa ou investigação científica. Argumentou que os cientistas não 
abandonam suas teorias ao se depararem com condições adversas, como falseamento ou anomalias. 
Eles são conservadores e criam hipóteses ad hoc até onde puderem! Estas hipóteses ad hoc são 
aquelas do tipo tampa-buraco, ou seja, especialmente criadas para proteger uma outra hipótese de 
ser confrontada e derrubada. 
 
Para Lakatos os programas podem ser divididos em: 
i) núcleo sólido - conjunto de conceitos ou idéias assumidas como verdadeiras; 
ii) cinturão protetor – conjunto de hipóteses auxiliares que protegem o núcleo; 
iii) cinturão heurítico – capacidade de explicação diferencial 
 
Considere que hoje é quarta-feira. Mas seu amigo assume, de forma equivocada, que 
hoje é sexta-feira e fim de papo. Isto faz parte do núcleo sólido dele. Mesmo com o núcleo 
equivocado, há hipoteses que o seu amigo encaminha que são verdadeiras e que geram situações 
testáveis. Por exemplo, sexta-feira vem depois de quinta-feira e sexta-feira vem antes de sábado. Ou 
seja, as hipóteses auxiliares são boas. 
 
Mas como decidir se um programa de pesquisa é melhor que outro? Temos que 
apelar para o valor heurístico. Reparem que este corresponde a capacidade diferencial de 
explicação. Vejamos um exemplo. Considere que você aplique uma prova de 10 questões para duas 
pessoas. É a mesma prova. Uma pessoa consegue, das 10 questões, responder acertadamente 8 e a 
segunda, 6. A primeira tem uma heurística positiva em relação a segunda. Em um sistema de 
perguntas e respostas possui maior poder explicativo. Programas são chamados de progressivos 
quando apresentam heurística superior relativo aos regressivos (com baixo valor heurístico). 
Conseguem explicar mais e fazer mais predições. Prever fatos novos é o que importa. Assim a 
ciência avança. Na história das ciências pode-se notar que um programa pode englobar outro, 
complementando-o ou eliminá-lo. Programas repletos de hipóteses ad hoc, tautologias (do tipo tal 
coisa é porque é) ou conceitos metafísicos estão fadados a travar pois não levam a predições ou 
consequências testáveis. Tendem a ser regressivos. 
 
2. BIOLOGIAS GERAL E COMPARADA 
 
Gareth Nelson, um renomado ictiólogo, na década de 1960 classificou a 
Biologia em Geral e Comparada (=histórica). A Biologia Geral está interessada com propriedades 
que venham a ser gerais a partir de constatações particulares. Dá ênfase a descrição de mecanismos ou 
processos. Concentra-se normalmente em uma ou poucas espécies. Portanto, ela tem suas raízes no 
método científico indutivo. A uniformidade da vida é o que interessa e a diversidade se torna um 
empecilho na análise. Mas é a biologia geral que fornece pontualmente os dados para seres analisados a 
posteriori num contexto histórico. 
 
A Biologia Comparada é a biologia vista do ponto de vista histórico-
comparativo. Lida com padroes gerais estudando varios taxons. Trabalha-se basicamente com 
inferências. Ela tem sua base filosófica no método hipotético-dedutivo de Karl Popper mas atualmente 
tem adotado o critério de vulnerabilidade ao invés da falseabilidade como defendida pelo estimado 
filósofo. O interesse maior é a recuperação de padrões de diversidade no contexto da história dos seres 
vivos e de seus atributos. Esta intimamente vinculada à evolução. 
 
Em ciência, dá-se basicamente a busca por classes de fenômenos relacionados à 
leis naturais, ou seja, enunciados universais sobre tipos naturais (classes de objetos não restritos no 
tempo e no espaço). Por exemplo, quando se fala de Lei de Newton, a da gravitação universal, têm-se 
que qualquer coisa, em qualquer lugar do universo, que possua massa deve estar vinculada á lei, caso 
contrário, a lei é falsa. Sol, terra e Lua possuem massa, logo estão vinculadosà lei e são tipos naturais. 
 
Na biologia geral praticamente se trabalha com tipos naturais buscando-se 
descrição de mecanismos e processos que podem ser generalizados. O contexto é praticamente 
atemporal, considerando os objetos eternos, imutáveis bem como suas essências, dentro do legado 
aristotélico. Ex.: ciclo de Krebs, cadeia transportadora de elétrons, transporte de ínos através de uma 
membrana celular, ciclo da água. Tem-se a oportunidade de fazer observações diretas e experimentos 
com o objetivo de testar as predições deduzidas das hipóteses, do tipo se isso acontecer, 
então...teremos isso, mas não aquilo. 
 
Já que não é possível experimentar um fato histórico, tampouco fazer previsões 
(já que o fato já aconteceu), a ciência história trabalha dentro de outra perspectiva. O trabalho de 
praxe, como no caso da biogeografia, se assemelha ao de um detetive. Através de evidências ou 
vestígios deixados no presente busca-se formular uma boa hipótese para explicar ou reconstruir os 
fatos ocorridos. Quanto maior o número dessas evidências, mais consistente será hipótese. 
Comparando-se o capacidade de explicação e confrontando-se com as evidências disponíveis escolhe-se 
a melhor hipótese. Ao invés de fazer predições, como fazem as ciências não históricas, as ciências 
históricas se valem da retrodição. 
 
Outra boa diferença é que em biologia comparada (=histórica) trabalhamos, 
na maioria da vezes com objetos que se enquadram como indivíduos naturais (=entidades 
históricas), ou seja, que possuem origem (nascimento), desenvolvimento e morte (extinção). Eles 
mudam ao longo do tempo e espaço; são instâncias de regularidade do processo evolutivo. 
 
Figura 1D. Cladograma como linguagem da biologia comparada. Modificado de Grande (1985). 
 
Biogeografia e Sistemática são dois pilares das ciências biológicas históricas ou 
comparativas. Há muitos paralelos entre elas. Se, por um lado, a sistemática biológica, busca 
reconstruir a história dos táxons através da transformação de seus atributos (caracteres) no tempo, a 
biogeografia busca reconstruir a história das áreas de distribuição considerando os táxons como seus 
atributos. Os sistematas reconhecem homologias como correspondências de atributos entre táxons 
que indicam parentesco uma vez que foram herdadas de um ancestral comum. Na biogeografia 
também se fala de homologia geográfica como indicador de origem comum. Através de certos táxons 
compartilhados pelas áreas podemos inferir isto. Note que para nosso socorro, a linguagem comum a 
sistematas e biogeógrafos é a dos cladogramas, ou seja, diagramas ramificados que expressam 
hierarquia de homologias evidenciando relação de inclusão de grupos (nested sets). Enquanto que na 
sistemática queremos saber se dados três táxons, dois deles estão mais aparentados entre si do que a 
uma terceiro, na biogeografia a questão diz respeito às áreas: 
 
Dadas três áreas de distribuição, duas delas estão mais recentemente 
relacionadas entre si do que a uma terceira? 
 
Na sistemática, a condição derivada de uma anterior numa série de transformação de 
caracteres homólogos é chamada de apomórfica (Gr. apos, que veio de, morphé, forma). Aquela 
primitiva ou ancestral, ou seja, a que se originou primeiro, é dita plesiomórfica (Gr. plesios, primitivo, 
morphé, forma). Somente através de sinapomorfias (homologias em condição derivada compartilhadas 
pelos táxons) recuperamos um grupo monofilético, clado ou táxon natural. Condição de caracter 
primitiva, como não é novidade evolutiva, não serve para a reconstrução de relação de parentesco. O 
que atrapalha consideravelmente este trabalho de desvendar relações de parentesco são as tais 
homoplasias, ou seja, aparecimentos ou perdas de atributos, independentemente de um ancestral 
comum. 
 
Em biogeografia, o processo que melhor indica relação histórica (homologia 
geográfica) entre áreas é a vicariância, mas não se pode esquecer que a geodispersão pode levar a 
padrões congruentes também. A dispersão saltatória seria o equivalente da homoplasia em sistemática 
já que constitui causa particular. É evidente que o evento de vicariância afeta a área de distribuição dos 
táxons, independentemente de suas capacidades diferenciais para dispersar. Mas, nem sempre a 
especiação geográfica segue como consequência natural da vicariância. Há muitas espécies 
conservadoras, com ampla distribuição geográfica, ocupando mais de uma área geográfica, quase 
imunes aos eventos de vicariância que são determinantes para outros grupos taxonômicos. Outro 
problema, eventos de extinção podem mascarar a reconstrução da história de um táxon. 
 
Os biogeógrafos, da mesma forma que os sistematas buscam um sistema de classificação 
hierárquico que reflita relações históricas. No caso da Biogeografia, isto ocorre depois da recuperação 
das histórias das biotas e das áreas de endemismo, em uma etapa final (ou seja, a posteriori), com a 
discriminação de unidades biogeográficas em um sistema de grupos inclusos, tais como reinos que 
incluem províncias que incluem distritos etc. 
 
Ainda, ao lidar com entidades históricas, em sistemática biológica nos referimos a 
etapas distintas na história da vida de um indivíduo como semaforontes. Assim, ovo, larva, pupa e 
imago são semaforontes na história de indivíduos de insetos holometabólicos. Quando nos referimos 
a história de uma espécie, falamos de sua origem, por especiação, seu desenvolvimento ou anagênese e 
sua extinção, quando a linhagem não perdura ou quando há pseudoextinção, ou seja, a espécie deixa de 
existir para ser sucedida por espécie descendente. A anagênese da espécie pode ser comparada com a 
história da vida do indivíduo. Daí, falarmos de eidoforontes. No caso da história da espécie, sua 
projeção no espaço é a sua área de distribuição. Esta também muda com a própria história da linhagem. 
Portanto, a história da área pode ser comparada com a história de quem a ocupa. Portanto, cada uma 
das etapas de transformação da área no tempo é o que chamamos de nemoforonte. 
 
TABELA 1. Contraste entre Biologias Geral e Comparada. 
 
BIOLOGIA GERAL BIOLOGIA COMPARADA 
Uniformidade da Vida Diversidade da vida 
Énfase em mecanismos ou processos Ênfase nos padrões 
Método Indutivo Método hipotético-dedutivo 
Atemporal Histórica 
Predição Predição (limitada) e Retrodição 
Tipos naturais Indivíduos naturais 
 
 
GLOSSÁRIO 
 
Apomórfico – dada uma sequência de tranformação de estados de caracteres homólogos, aquele que 
surge como uma modificação da condição anterior ou ancestral é dito derivado ou apomórfico. 
Cladismo – um conjunto de métodos em sistemática biológica que busca agrupar organismos em 
classificações filogenéticas por sinapomorfias, refletindo assim a história dos táxons naturais e de seus 
atributos. 
Método hipotético-dedutivo – uma proposta de método científico aternativa para o tradicional 
método indutivo na qual o critério de refutabilidade (testabilidade) é a base para se distinguir ciência de 
outras formas de obtenção de conhecimento. 
Método indutivo – uma proposta de método científico baseada no critério de verificabilidade. 
Segundo esta proposta, a ciência avança através do acúmulo de evidências novas fortalecendo uma 
hipótese ou teoria antiga. Mas, ao invés de contribuir para o avanço de conhecimento, contribui para 
sua estagnação. 
Plesiomórfico – dada uma seqüência de transformação de estados de caracteres, aquele inicial é dito o 
ancestral ou plesiomórfico em relação a novo ou derivado. 
Sinapomorfia – Em sistemática biológica, estado de caráter homólogo derivado e compartilhado por 
táxons. Discrimina grupos monofiléticos (clados ou táxons naturais). Uma novidadeevolutiva que 
aparece numa espécie central e é compartilhada pelas espécies descendentes. Ex.: a presença de pêlos e 
glândulas mamárias juntam os vertebrados que possuem estes atributos num táxon natural chamado 
Mammalia, são portanto sinapomorfias. 
Sistemática Biológica – área das ciências biológicas que lida com a classificação hierárquica de 
agrupamentos dos seres vivos em função de atributos intrínsecos compartilhados por eles. Recupera o 
padrão de evolução entre táxons como subsídio para explicações sobre processos ou mecanismos. 
Táxon – qualquer agrupamento formal de organismos incluído num sistema de classificação 
hierárquico. Recebe um nome, em geral latinizado, e uma diagnose. Ex.: Mammalia, Homo, Canidae. 
Táxon artificial – um táxon que não é produto do processo evolutivo, mas do erro do taxonomista 
que utilizou atributos ambíguos (não exclusivos) na diagnose do grupo. Podem ser dos tipos 
parafilético ou polifilético. No primeiro caso, a ambiguidade é em termos de homologias. O 
taxonomista está usando atributos homólogos que não constituem novidade evolutiva, ou seja 
simplesimorfias (caracteres primitivos compartilhados). No segundo caso, o taxonomista está usando 
atributos que surgiram ou desapareceram independentemente da existência de um ancestral comum, ou 
seja, homoplasias. 
Táxon natural – o mesmo que clado ou grupo monofilético. É um agrupamento de seres vivos fruto 
do processo evolutivo e reconhecido por aspectos homólogos em condição derivada compartilhados 
pelos seus membros. 
Vulnerabilidade – um critério alternativo para a verificabilidade e a falseabilidade como demarcador 
de ciência. Estabelece uma simetria entre a verificação e a falsificação. Uma vez que a refutação por 
dedução que o método hipotético-dedutivo prescreve depende da veracidade das premissas, nem todos 
os enunciados científicos podem ser testados dessa forma. Então, nos resta estabelecer uma hipótese 
que venha a ser vulnerável a evidências que a contradigam, em termos de probabilidade.

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