Prévia do material em texto
3ºAula Sistema de Abastecimento de Água: Evolução, Concepção e Consumo Objetivos de aprendizagem ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender as origens do sistema de abastecimento de água; • identificar as partes principais de um sistema de abastecimento de água; • compreender como funciona um estudo de concepção de Saa; • classificar os consumidores; • identificar os fatores que influenciam no consumo. Olá, turma! Nesta aula, estudaremos sobre o abastecimento de água e sua relação com a saúde pública, bem como a evolução desse sistema ao longo da história da humanidade, também será estudada a concepção e classificação de consumidores. Vamos entender de que maneira esse assunto contribui para a temática do abastecimento e tratamento de água. Tal discussão é importante uma vez que tratam de aspectos a serem explorados na temática, como também a serem compreendidos para as demais aulas. assim, atendendo aos objetivos de aprendizagem propostos no plano de ensino desta disciplina, vamos refletir acerca do sistema de abastecimento de água com foco em sua concepção e nos tipos de consumidores. Desejo a todos(as) uma excelente aula. Boa leitura! Bons estudos! 18Sistema de Abastecimento e Tratamento de Água Seções de estudo 1– evolução do Saneamento 2– Concepção do Sistema de abastecimento de Água 3– Consumo de Água 1- Evolução do Saneamento Desde que o homem passou a desenvolver atividades agrícolas e a criação de animais, a vida nômade foi deixada para trás e o homem passou a se fixar em vilas, o que desencadeou a necessidade de atender as atividades em comunidade para irrigação de culturas, o que deu origem aos primeiros sistemas de abastecimento. ruínas de canais de irrigação podem ser observadas na Mesopotâmia, egito e Turquia, os quais foram datados do período de 5.000 a 4.000 a.C (MaYS et al., 2000). Figura 4. Joelhos e articulações em T feitos por volta de 4.000 a.C. encontrado na escavação do Templo de Bel em Nippur, Babilônia. Fonte:http://www.ancient-wisdom.com/iraqnippur.htm . Acesso em: 09 fev. 2022. Os romanos foram os pioneiros em obras de engenharia Sanitária, pois passaram a construir aquedutos e reservatórios para trazer água de fontes para a cidade, como também a construir banheiros públicos, pois observaram a relação entre uma água com impurezas, acúmulos de resíduos e a disseminação de doenças (azeVeDO NeTTO, 1984). Com a queda do império romano, houve um retrocesso nas questões sanitárias e várias epidemias começaram a surgir, uma vez que a responsabilidade desses serviços passou do governo para os cidadãos, que não sabiam como realizá-los de forma adequada, causando contaminações (MaYS et al., 2000). Figura 5. a Pont du Gard, uma ponte romana do século i e aqueduto que atravessa o rio Gardon, perto da cidade de Vers-Pont-du-Gard, no sul da França. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/336918172_The_ Aqueducts_and_Water_Supply_of_Ancient_Rome. Acesso em: 09 fev. 2022. a idade Moderna marcou a criação de novos modelos de abastecimento e destinação dos esgotos domésticos. a distribuição de água canalizada foi incrementada através da fabricação de tubos de ferro fundido por Johan Jordan, na França e a invenção do vaso sanitário por Joseph Bramah, na inglaterra. a idade Contemporânea, iniciada no período de 1790 e se estende até os dias atuais, tem como marco inicial a intensificação do combate à poluição das águas por meio de leis, administração e legislação do saneamento em conjunto com outros serviços públicos (azeVeDO NeTTO, 1984). Como vimos, a origem desse sistema se relaciona diretamente com a saúde pública e com o desenvolvimento da população, sendo a principal prioridade o atendimento com qualidade e quantidade adequadas. as primeiras iniciativas relacionadas à política de saneamento no Brasil surgiram em 1971, no governo militar, com a instituição do Plano Nacional de Saneamento (Planasa). esse plano objetivou a expansão do acesso à água potável para a população urbana. Com a crise econômica e as mudanças do governo em 1988, por meio da Carta Magna, a responsabilidade sobre as políticas brasileiras de saneamento passaram para a esfera municipal. Com essa mudança, os investimentos relacionados à expansão do saneamento perderam força e o Planasa foi extinto (LeONeTi et al. 2011; ParLaTOre, 2000). em 1996, com o objetivo de coletar informações de sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, fornecidas pelos prestadores de serviços, o Sistema Nacional de informações sobre Saneamento (SNiS) foi criado. O SNiS tem como objetivos: planejamento e execução de políticas públicas; orientação da aplicação de recursos; avaliação de desempenho dos serviços; aperfeiçoamento da gestão, elevando os níveis de eficiência e eficácia; orientação de atividades regulatórias; e benchmarking e guia de referência para medição de desempenho (SNiS, 2018). a Lei n°9.433/97 conhecida como Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) definiu, em 1997, o Estado como sendo o encarregado do gerenciamento dos recursos hídricos nacionais. Foram estabelecidos nessa política objetivos como: a garantia de disponibilidade hídrica à população presente e futura, utilização integrada e racional dos recursos hídricos e prevenção de eventos hidrológicos no país. Para regulação e cumprimento dos objetivos estabelecidos na PNrH, foi criada, em 2000, a agência Nacional de Águas (aNa). Por meio da aNa o acesso aos recursos hídricos passou a ser regulado por outorgas, juntamente com o monitoramento de rios com a União e a elaboração de estudos nas esferas municipais, estaduais e federal (BraSiL,1997; BraSiL, 2000). Contemplando os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e águas pluviais urbanas, em 2007 a Lei nº 11.445/07, denominada como Política Nacional do Saneamento Básico (PNSB), atribuiu ao Governo Federal o dever de elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) e estabeleceu como meta a universalização dos serviços de saneamento. em 2012 o Plansab foi aprovado e instituído como eixo para a articulação nacional da implementação das diretrizes da Lei do Saneamento, sendo definidas metas de curto, médio e longo 19 prazo para a universalização dos serviços de saneamento até 2033 (LeONeTi et al., 2011; BraSiL, 2007). Hoje, temos a Lei nº 14.026 que atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (aNa) competência para editar normas de referência sobre o serviço de saneamento e possibilitar a abertura de licitação para que os prestadores de serviços públicos ou privados possam concorrer entre si. anteriormente, os contratos eram firmados sem licitação e com as regras de prestação por tarifação sem concorrência. a lei propicia que os pequenos municípios, ou com poucos recursos financeiros, formem blocos ou conglomerados, visando a contratação do serviço de maneira coletiva, mas esses blocos deverão implementar planos municipais e regionais de saneamento básico. Cria também o Comitê interministerial de Saneamento Básico (Cisb) a fim de facilitar a articulação institucional entre os órgãos federativos na alocação de recursos financeiros e assegurar a implantação da política federal de saneamento básico. O ponto principal é que essa lei estabelece a meta de universalização dos serviços, que deve ampliar o fornecimento de água para 99% da população e da coleta e tratamento de esgoto para 90% da população, até o final de 2033. Mas há a possibilidade de extensão desse prazo até 2040, caso se comprove a inviabilidade técnica ou financeira. 2- Concepção do Sistema de Abastecimento de Água O termo concepção refere-se ao conjunto de estudos e conclusões referentes ao estabelecimento de todas as diretrizes, parâmetros e definições necessárias e suficientes para caracterizaçãocompleta, para projetar um sistema de abastecimento de água (Fonte: Site UFPeL). No que se refere a constituição para a elaboração do projeto de um Saa, na fase inicial é elaborada a concepção. essa concepção pode ser um estudo precedido de diagnóstico técnico e ambiental da área em estudo ou precedido de um Plano Diretor da bacia hidrográfica. A concepção tem os seguintes objetivos: • identificar e quantificar todos os fatores que possuem relação com um sistema de abastecimento de água; • realizar diagnóstico de sistema existente, considerando cenário atual e projeção futura; • estabelecer todos os parâmetros básicos de projeto; • realizar pré-dimensionamento das unidades dos sistemas, para as alternativas selecionadas; • escolher a alternativa mais adequada mediante observação técnica, econômica e ambiental, entre as alternativas; • estabelecer as diretrizes gerais de projeto e estimativas das quantidades de serviços que devem ser executados nas fases de projeto. Dentro da concepção também deverão ser elencados os diversos componentes do Saa, sendo estes: manancial, captação, estação elevatória, adutora, estação de tratamento de água, reservatório e rede de distribuição. a diante será abordado cada um desses componentes, porém é necessário ficar esclarecido que o objetivo do sistema de abastecimento de água é fornecer ao usuário uma água de boa qualidade para seu uso, com quantidade adequada e pressão suficiente. a respeito das normas técnicas para projetos de Saa, podemos citar as seguintes normas da aBNT: • NBr 12.211/1992 - dispõe sobre o estudo de concepção de sistemas públicos de abastecimento de água; • NBr 12.212/1992 - dispõe sobre o projeto de poço para captação de água subterrânea; • NBr 12.213/1992 - dispõe sobre o projeto de captação de água de superfície para abastecimento público; • NBr 12.214/1992 – dispõe sobre o projeto de sistema de bombeamento de água para abastecimento público; • NBr 12.215/1992 – dispõe sobre o projeto de adutora de água para abastecimento público; • NBr 12.216/1992 – dispõe sobre o projeto de estação de tratamento de água para abastecimento público; • NBr 12.217/1992 – dispõe sobre o projeto de reservatório de distribuição de água para abastecimento público; • NBr 12.218/1992 – dispõe sobre o projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público. Nesse estudo de concepção para o atendimento dos objetivos, se faz necessário o desenvolvimento de diversas atividades. Podemos elencar a seguir as principais atividades. a primeira refere-se à caraterização da área de estudo. Nessa atividade inicial deverá ser realizado o levantamento das características físicas da área por meio de mapas de localização, principais vias e estrada de acesso, topografia, relevo, geologia, vegetação e bacia hidrográfica, bem como, o uso e ocupação do solo através de planos diretores, identificação de áreas protegidas ou de restrições em ocupação, a ocupação e uso do solo atual. Outro aspecto a ser levantado nessa atividade são os aspectos socias e econômicos, relativos à caracterização do mercado de trabalho e a mão-de-obra disponível, distribuição de renda e outros componentes dessa esfera. Também nessa primeira atividade são elencados os sistemas de infraestrutura e condições sanitárias, como: índices de cobertura dos sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de resíduos sólidos, de drenagem e de saúde, apresentação da situação do licenciamento ambiental e da outorga dos sistemas de saneamento da área em estudo, ou programas de regularização ambiental. a segunda atividade diz respeito à análise do sistema de abastecimento de água existente, fazendo a descrição desse sistema por meio da identificação de todos os elementos, como a planta geral, o croqui e a descrição de todas as unidades, como por exemplo: manancial, captação, estação elevatória, redes de distribuição e outros. Nesta segunda atividade também é realizado o diagnóstico das unidades do sistema por meio de cálculos de verificação e capacidade, abordando os aspectos de conservação, desempenho e 20Sistema de Abastecimento e Tratamento de Água problemas operacionais, visando sempre o reaproveitamento das instalações e edificações existentes. a terceira atividade ocorre mediante o levamento dos estudos e planos existentes por meio da identificação e da análise criteriosa de todas as produções que possam interferir no projeto, embasados em critérios e parâmetros. Na quarta etapa são realizados os estudos demográficos e de uso e ocupação do solo, observando os aspectos de dados censitários, pesquisa de campo, projeções populacionais, plano diretor da cidade, levantamento da elevação, o uso e ocupação do solo e outros aspectos que completam essa etapa. Os critérios e os parâmetros do projeto são definidos durante a quinta atividade, e nesses critérios são justificados: consumos, coeficientes de variação das vazões e de demandas, níveis de atendimento no período de projeto e alcance do estudo. Já na sexta atividade é realizado o estudo de demanda e o cálculo das demandas de água. Na sétima etapa são realizados os estudos de mananciais, considerando manancial superficial e subterrâneo, e realizando a seleção dos passíveis de utilização por meio de análise preliminar dos principais aspectos técnicos, econômicos e ambientais envolvidos. a oitava etapa consiste na formulação das alternativas de concepção a partir dos diagnósticos e estudos apresentados, os quais deverão contemplar os aspectos locacionais, tecnológicos e operacionais, com descrição de todas as unidades componentes do sistema. Para cada alternativa levantada se faz necessário a avaliação dos impactos ambientais positivos e negativos das fases de implementação e operação do sistema, juntamente com aspectos legais junto as entidades competentes. Na nona etapa é efetuado o pré-dimensionamento das unidades do sistema que são: a captação, estação elevatória e linha de recalque, adutoras, estação de tratamento de água, reservatório e rede de distribuição. Devem constar os memoriais de cálculo e os elementos gráficos para a compreensão. Na atividade seguinte são estimados os custos das alternativas propostas, considerando as obras em subdivisões de implantação imediata e completares, juntamente com cada etapa. Todas os documentos relativos a essa atividade como planilhas, memorial de cálculos, propostas, data bases definidas e outros documentos, deverão fazer parte da apresentação das alternativas de custos. assim, na próxima etapa são realizadas as análises de alternativas propostas, mediante o estudo técnico, econômico e ambiental, realizando comparações e elencando vantagens e desvantagens de cada proposta. Por fim, temos a concepção escolhida, sendo nessa etapa elaborado o projeto hidráulico-sanitário das unidades do sistema. O projeto deverá incluir, além dos estudos elaborados nas etapas de alternativas propostas, os demais estudos necessários, como por exemplo, as investigações geotécnicas, a delimitação das áreas, as faixas de servidão e outros estudos, de modo a caracterizar a futura obra para a correta previsão orçamentária e visão global das atividades a serem realizadas. a ordem das atividades abordadas anteriormente não é restrita, pois muitas dessas atividades são realizadas em um mesmo período. a abordagem exposta foi feita para melhor compressão da sistemática da etapa de concepção de um sistema de abastecimento de água. No mais, muitas dessas atividades realizadas se assemelham em diversos processos de concepção de obras de engenharia. Para que a construção de um sistema de abastecimento seja realizada devemos também realizar o licenciamento ambiental do sistema, pois a construção se utiliza de recursos ambientais, e obras de saneamento podem causar modificações ambientais e conter unidades de tratamento que geram resíduos que são considerados fonte depoluição pela legislação de cada localidade. Seguindo também os estudos referentes estabelecidos nesse processo administrativo, pelo qual ao órgão ambiental compete a licença de empreendimento. 3- Consumo de Água a previsão do consumo de água é um dos fatores de suma importância para o planejamento e gerenciamento de um sistema de abastecimento de água. as ampliações e melhorias dos sistemas estão estritamente associadas à demanda de água. Toda a parte de dimensionamento das tubulações, estrutura e equipamentos são em função da vazão, que, por sua vez, é dependente do consumo médio por habitante, da estimativa de habitante, das variações de demanda e outros consumos que podem ocorrer dentro da área. Os consumidores são tradicionalmente classificados em: doméstico, comercial, industrial e público. a diferença entre essas categorias é sua variabilidade no consumo. O mais homogêneo é o consumo doméstico, e as mais heterogêneas são as categorias industrial e comercial. Para o uso doméstico o que mais afeta sua demanda é o preço, que geralmente com sua elevação há uma diminuição no consumo. Para as demais categorias, devido a sua heterogeneidade, não podemos citar um exato fator, no entanto, de modo geral, temos que os fatores que afetam o consumo são: as condições climáticas onde o consumo é maior no verão; natureza da cidade, pois quanto mais elevado o poder econômico e social maior é o uso de água; medição da água, sendo a presença de medidores de grande importância para diminuição do consumo; pressão na rede no qual o seu aumento eleva o consumo; rede de esgoto cuja existência desse sistema influi no aumento do consumo; e o preço, como foi citado anteriormente. abaixo temos o Quadro 3 que demonstra, através de pesquisas, as médias de consumo para alguns usos. Quadro 3. Usos da água. Doméstico/ residencial Bebida/cozinha 10-20 (L/hab.dia) Lavagem de roupa 10-20 (L/hab.dia) Banho/mão 25-55 (L/hab.dia) Instalações sanitárias 15-25 (L/hab.dia) Desperdícios 25-30 (L/hab.dia) Outros usos 15-35(L/hab.dia) Comercial Escritório 50 (L/pessoa/dia) Restaurantes 25 (L/refeição) Hotéis 120 (L/hóspede/dia) Lavanderia 30 (L/Kg/roupa) Hospitais 250 (L/leito/dia) Garagem 50 (L/veículo/dia) Industrial Industrial (uso sanitário) 70 (L/operário/dia) Matadouros 150-300 (L/cabeça/dia) Laticínio 1-5 (L/Kg de produto) Curtume 50-60 (L/Kg de couro) Fábrica de papel 100-400 (L/Kg de papel) Fonte: adaptado de Pereira, Benetido et.al (1987). 21 De forma geral, o consumo de água per capita a ser estimado para um sistema de abastecimento, possui as seguintes alternativas: a leitura de hidrômetros ou macromedidores na saída de reservatório. Quando não existir a possibilidade de leitura é necessário adotar valores de consumo médio per capita de água e coeficientes de variações encontrados em medições de sistemas similares. O primeiro método para estimação do consumo efetivo per capita (L/hab.dia) é a partir da leitura de hidrômetros, feita pela equação abaixo. Onde: qe = consumo efetivo per capita de água; VC = volume consumido medido pelos hidrômetros; Ne = número médio de economias; ND = número de dias da medição pelos hidrômetros; NH/L = número de habitantes por ligação. Para determinar o consumo per capita também se faz necessária a incorporação das perdas de água no sistema do consumo efetivo per capita, conforme equação abaixo: Onde: q = consumo per capita de água; qe = consumo efetivo per capita de água; i = índice de perdas. Temos também o consumo médio per capita (L/hab.dia) que é quantidade de água consumida por uma população (não inclui nesse caso demandas comerciais, públicos ou outras demandas que possuem consumo significativo), calculada a partir da equação abaixo: Conforme os últimos dados de 2021 do instituto Trata Brasil, o consumo médio de água no país é de 152,1 litros por habitante ao dia. No entanto, na elaboração de projetos de Saa, caso não possua estudos preliminares que indiquem valores específicos, podem ser empregados os seguintes valores: • Se P ≤ 10.000 hab = 150≤ q ≥ 200 L/hab.dia • Se P ≤ 10.000 hab = 200≤ q ≥ 250 L/hab.dia • Se P ≤ 10.000 hab = qmínimo = 250 L/hab.dia • População temporária = 100 L/hab.dia • Chafariz = 30 L/hab.dia Se for utilizado o volume efetivamente consumido (somatório dos hidrômetros) ele será definido como consumo médio per capita medido no micromedidor. O consumo de água possui também variações: anual, mensal, diária, horária e instantânea. O que nos interessa aqui são as variações diárias e horárias. A relação entre o maior consumo diário verificado no período de um ano e o consumo médio diário neste mesmo período, considerando sempre as mesmas ligações, nos fornece o coeficiente do dia de maior consumo (K1), dado pela equação abaixo: em geral, são adotados valores entre 1,20 e 1,50. a Figura 6 apresenta a variação do consumo de água em um ano, e através dessa variação podemos também obter o coeficiente K1, dividindo o valor máximo do consumo pelo consumo médio anual. Figura 6. Variações do consumo no ano. Fonte: Tsutiya (2014). A relação entre a maior vazão horária verificada num dia e a vazão média horária do mesmo dia, nos fornece o coeficiente da hora de maior consumo (K2), dados pela equação abaixo: em geral, o valor adotado é de 1,50. a Figura 7 apresenta a variação da vazão de água em um dia, e através dela podemos também obter o coeficiente K2, dividindo o valor máximo da vazão pela vazão média do dia. Figura 7. Variações do consumo diário. Fonte: Tsutiya (2014). 22Sistema de Abastecimento e Tratamento de Água as obras de abastecimento de água são projetadas para atender uma determinada população, no geral é maior que a atual, e corresponderá ao crescimento demográfico em um determinado número de anos. esse período de tempo é denominado como período do projeto, que varia entre 20 a 30 anos, comumente adotado 20 anos. Para isso, é necessário realizar a previsão da população, que será fixada no projeto. Com isso, se faz necessário conhecer a população que se espera encontrar ao fim do período, e com isso será possível também estimar o consumo de água no tempo considerado. Diversos são os métodos aplicados, porém os mais usuais são o método aritmético, geométrico e a curva logística. No método aritmético subentende-se uma taxa de crescimento constante para os anos que seguem, a partir de dados já conhecidos. São utilizadas as seguintes equações: representação matemática: equações após integração de limites: expressão geral do método: Onde: P= população; T = unidade de tempo; P1 = população do penúltimo censo (ano t1); P2 = população do último censo (ano t2); Ka= constante. No método geométrico pressupõe períodos iguais de tempo, bem como a mesma porcentagem de aumento populacional, a partir de dados conhecidos. São utilizadas as seguintes equações: representação matemática: expressões gerais do método: equações após utilizar logaritmo na base 10: Onde: P= população; T = unidade de tempo; P1 = população do penúltimo censo (ano t1); P2 = população do último censo (ano t2); Kg= constante. No método da curva logística é definido um crescimento da população seguindo a relação matemática da curva logística. Nessa curva são definidos três trechos: em um primeiro momento o crescimento é acelerado, no segundo há um retardo de crescimento e no terceiro temos a tendência de estabilização. Seguindo esses parâmetros, a equação curva logística é definida através das seguintes expressões: Onde: P= população; T = unidade de tempo; b = razão de crescimento da população; a = intervalo de inflexão onde ; P0 = população do censo (ano t0); P1 = população do censo (ano t1); P2 = população do censo (ano t2); K= é o valor de saturação ou o limite de P. Sendo os pontos P0, P1, P2, devem ser tais que P0> P1> P2. O dimensionamento de todas as partes do sistema de abastecimento de água (Figura 8) como captação, estação elevatória, adutora, estaçãode tratamento de água, reservatório e rede, devem ser efetuados para condições de demandas máximas para que o sistema não funcione de forma ineficiente. Todas as obras da montante do reservatório devem ser dimensionadas para atender a vazão média do dia de maior consumo do ano, e a rede de distribuição para a maior vazão de demanda, que é a hora de maior consumo do dia. O reservatório de distribuição tem como função receber vazão constante, que é a média do dia de maior consumo e servir de volante para as variações horárias. Na estação de tratamento de água temos geralmente como consumo constante cerca 1 a 5% do volume tratado para lavagem dos filtros e decantadores. Agora iremos entender como é 23 calculada a demanda/consumo, ou mais propriamente dito, as vazões para os diversos componentes do Saa. Veja a seguir: • Vazão para captação, estação elevatória e adutora até a eTa: • Vazão a eTa até o reservatório: • Vazão do reservatório até área: Onde: P= população da área abastecida; q = consumo per capita de água; CeTa= consumo da eTa; K1= coeficiente do dia de maior consumo; K2 = coeficiente hora de maior consumo; Qesp= vazão específica, por exemplo, grades consumidoras (indústrias, comércio e outros). Figura 8. Partes constituintes de um sistema de abastecimento de água. Fonte: Tsutiya (2014). Chegamos, assim, ao final de nossa aula. Espera-se que agora tenha ficado mais claro o entendimento de vocês sobre a água, bem como a sua evolução, concepção e consumo. Vamos, então, recordar: Retomando a aula 1 – Evolução do saneamento Nesta seção, vimos a origem desse sistema que se relaciona diretamente com a saúde pública e com o desenvolvimento da população, tendo como principal prioridade o atendimento em qualidade e quantidade adequadas. Vimos que os vestígios arqueológicos datam do período de 5.000 a 4.000 a.C, que os romanos foram pioneiros em obras de engenharia Sanitária quando passaram a construir aquedutos e reservatórios para trazer água de fontes para a cidade. Hoje, temos a Lei nº 14.026 que atualiza o marco legal do saneamento básico e seu ponto principal é que estabelece a meta de universalização dos serviços, que deve ampliar o fornecimento de água para 99% da população e da coleta e tratamento de esgoto para 90% da população, até o final de 2033. 2– Concepção do sistema de abastecimento de água Nesta seção, vimos que para a elaboração do projeto de um Saa, a fase inicial é marcada pela concepção. essa concepção pode ser um estudo precedido de diagnóstico técnico e ambiental da área em estudo ou de um Plano Diretor da bacia hidrográfica. A concepção tem como objetivos: identificar e quantificar todos os fatores que possuem relação com um sistema de abastecimento de água, realizar diagnóstico, estabelecer parâmetros básicos de projeto, realizar pré-dimensionamento das unidades dos sistemas e estabelecer as diretrizes gerais de projeto e estimativas das quantidades de serviços que devem ser executados nas fases de projeto. Podemos ver as normas técnicas que regem o projeto de concepção dos sistemas de abastecimento de água, e para a construção de um sistema de abastecimento devemos também realizar licenciamento ambiental, pois a construção utiliza os recursos ambientais. 3– Consumo de água Nesta seção, podemos indicar que a previsão do consumo de água é um dos fatores de suma importância para o planejamento e gerenciamento de um sistema de abastecimento de água. as ampliações e melhorias dos sistemas estão estritamente associadas à demanda de água. Vimos os fatores que influenciam o consumo de água, aprendemos como realizar o cálculo do consumo efetivo per capita de água, consumo per capita de água, consumo médio per capita, coeficiente do dia de maior consumo e coeficiente da hora de maior consumo. Compreendemos também que as obras de abastecimento de água são projetadas para atender uma determinada população, que no geral é maior que a atual, mas para isso é necessário realizar projeções populacionais, sendo os principais métodos para essas projeções: método aritmético, geométrico e curva logística. Podemos compreender também como é realizado o cálculo para a determinação das vazões de componentes do sistema de abastecimento de água. TSUTiYa, Milton T. Abastecimento de Água. São Paulo: escola Politécnica da USP. 4ª edição, 2014. BraSiL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato20192022/2020/lei/l14026.htm# :~:text=1%C2%Ba%20esta%20Lei%20atualiza%20 o,de%2019%20de%20novembro%20de. acesso em: 09 fev. 2022. Vale a pena ler Vale a pena