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RESENHA “DO FORDISMO À ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL”
ALUNO: ALEX SANDRO FABRE CASAGRANDE
PROFESSOR: JÚLIO AMBROZIO
David Harvey começa sua introdução no Capítulo 7, dizendo que recorre à “escola da regulamentação” para tentar explicar o “conjunto de relações e arranjos que contribuem para a estabilização do crescimento do produto e da distribuição agregada de renda e de consumo num período histórico e num lugar particulares”. Descreve assim o período de 1945 a 1973 como fordista-keynesiano e de 1973 até os nossos dias como “acumulação flexível”.
No capítulo 8, “O Fordismo”, Harvey descreve como foi implantado esse sistema de produção. Ford apropriou-se de tecnologias e princípios de Taylor, mas aprimou alguns conceitos como, por exemplo, fazer o trabalho chegar ao trabalhador numa posição fixa. Ford pregava que produção em massa significava consumo em massa, introduziu o dia de oito horas e cinco dólares, não só obrigando o trabalhador a ter a disciplina necessária para o sistema de linha de montagem, como fazendo com que os próprios trabalhadores usufruíssem dos produtos produzidos.
O modo como o Fordismo se estabeleceu no mundo não foi uniforme, pois verificou-se práticas ideológicas e intelectuais diferentes de um lugar a outro. Como por exemplo, Lênin louvou a tecnologia fordista e taylorista, enquanto os sindicatos da Europa ocidental recusavam-na. 
Houve 2 principais impedimentos à disseminação do Fordismo nos anos entre guerras. Primeiramente, houve fortes resistências por parte dos trabalhadores, tanto que Ford utilizou-se de mão de obra imigrante no seu sistema de produção. Também no resto do mundo a organização do trabalho e as tradições artesanais eram muito fortes, além dos princípios de Fayol serem mais influentes na Europa do que os de Taylor. Somente nos anos 50 é que o Fordismo disseminou-se pra valer na Europa.
Em segundo lugar, a depressão de 1930 levou os capitalistas a desenvolver um novo modo de regulamentação pelo Estado para atender aos requisitos do Fordismo. 
O Fordismo desenvolveu-se de forma madura depois de 1945. Para tanto, o Estado teve de assumir novos papéis e construir novos poderes institucionais, trabalho corporativo e organizado assumindo novos papéis. Movimentos operários e sindicatos foram controlados pelos governos a fim de atenderem aos seus interesses.
Os vários governos tomavam posturas diferentes de intervencionismo estatal, como França (gaulista), Grã-Bretanha (trabalhista), Alemanha Ocidental (democrata cristão).
Conforme assinala Harvey, “o fordismo do pós-guerra também teve muito de questão internacional”. Sua consolidação deu-se de forma direta, através de políticas impostas na ocupação ou indireta, por meio do Plano Marshall e do investimento direto americano subsequente.
A abertura do comércio internacional possibilitou a absorção dos excedentes dos EUA, ao mesmo tempo que possibilitou uma globalização da oferta de matérias-primas , além de atividades como bancos, seguros, hotéis, aeroportos, turismo e uma nova cultura internacional.
A América tornara-se o principal poder econômico e militar do mundo, tomando o dólar como moeda reserva mundial
Houve muita insatisfação por parte daqueles que não eram atendidos pelos ditos benefícios do fordismo, pois em alguns lugares as negociações de salários eram restritas a certos setores da economia, também havia discriminação quanto à raça, gênero e origem étnica nos postos de trabalho privilegiados. Também. havia muita rigidez nos mercados de trabalho.
O Estado do bem estar social passou a sofrer muitas críticas no seu apogeu, onde várias correntes de oposição começaram a se fundir, formando um forte movimento político cultural contra o mesmo. Além do que nos países do Terceiro Mundo, onde o Fordismo também influenciou bastante, não trouxe “benefícios” ditos consideráveis para a população em geral, mas apenas para uns pouco privilegiados.
No capítulo 9, “Do Fordismo à Acumulação Flexível”, mostra como começou a se dar uma redução do poder norte-americano de regulamentação do sistema financeiro mundial em meados da década de 60. Como exemplo desse enfraquecimento, destacamos a formação do eurodólar, a inflação, a competição internacional, taxas de câmbio fixas sendo substituídas por taxas de câmnbio flutuantes, o execesso de fundos, a crise do petróleo em 1973, enfim a rigidez do sistema como um todo.
A Acumulação Flexível, ao que o autor se reporta, vai em oposição a toda rigidez marcada pelo Fordismo. A partir de 1973, houve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como em regiões geográficas, também o aumento no setor de serviços, além de regiões industriais novas. O termo que o autor faz como “compressão espaço-tempo”, envolve toda uma dinâmica nas relações de tomada de decisões no espaço acelerado pelas novas formas de transporte e comunicação.
O poder sindical enfraqueceu-se, o mercado de trabalho mudou, regimes de contrato de trabalho mais flexíveis passaram a vigorar, com a substituição do trabalho regular pelo trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado. 
Harvey distingue a estrutura do mercado de trabalho em 2 grupos: centro e periferia cada qual com suas peculiaridades. Para ele, “ a atual tendência dos mercados de trabalho é reduzir o número de trabalhadores “centrais” e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos quando as coisas ficam ruins.” 
Os excluídos tornaram-se excluídos, até mesmo operários homens e brancos juntaram-se ao grupo dos excluídos (negros, mulheres, minorias étnicas de todo tipo), reacentuando assim a vulnerabilidade. Houve um aumento de economias informais e o retorno de outras mais antigas, como artesanal, patriarcal e paternalista.
As economias de escala foram derrotadas pelas economias de escopo; a produção passou a ser em pequenos lotes. A meia vida do produto diminuiu com a acumulação flexível; o tempo de giro na produção reduziu-se a fim de atender a lucratividade capitalista – com o uso de novas tecnologias produtivas (robôs, just-in-time).
Observou-se notável aumento do setor de serviços (produção de eventos, como espetáculos, leva a um tempo de giro quase instantâneo, em contraste com o tempo de giros de outros setores como os da produção.
Segundo Harvey, “a acumulação flexível levou a maciças fusões e diversificações corportativas”.
Há contradição de alguns autores se o capitalismo estava mais desorganizado ou organizado. Os que defendem este último, acham que o capitalismo ficou mais organizado através da mobilidade geográfica e respostas flexíveis nos mercados.
De 1973 para cá, se deu mais ênfase na informação (consultorias e serviços altamente especializados sobre tendências de mercado influenciando as decisões corporativas). O acesso privilegiado a informações tornou-se uma vantagem competitiva.
Devido a um complexo entrelaçamento de atividades financeiras, ocorreram desequilíbrios financeiros por toda a parte, aumentando também a dívida dos países do terceiro mundo.
Os novos sistemas financeiros implementados a partir de 1972 mudaram o equilíbrio de forças em ação no capitalismo global, dando muito mais autonomia ao sistema bancário e financeiro em comparação com o financiamento corporativo , estatal e pessoal
Os EUA já não tinham condições de controlar sozinhos a política fiscal e monetária do mundo.
A dependência dos EUA do comércio exterior dobrou no período entre 1973-1980. Tóquio se tornou um dos mais importantes centros financeiros mundiais, superando até mesmo em algumas ocasiões, Nova Iorque.
Retirada de apoio ao Estado do bem estar social e o ataque ao salário real e ao poder sindical organizado tornou-se uma virtude. 
Em algumas situações, os governos foram forçados a se tornarem mais intervencionistas ex. crise da dívida mexicana 1982. A capacidade de intervenção estatal sofreu uma grande mudança a partir de 1972 em todo mundo capitalista.
Em”Teorizando a transição”, no capítulo 10, Harvey busca captar a natureza do processo detransição. Para isso resume três relatos recentes desse processo: Halal (1986), Lash e Hurry (1987) e Swyngedouw (1986). Considera a melhor interpretação o relato de Swyngedouw, pois “ao enfatizar as mudanças no modo de produção e de organização industrial, situa a transição na corrente principal da economia política marxiana, ao mesmo tempo que aceita claramente a linguagem da escola de regulamentação”.
Para Harvey, a acumulação flexível é ainda uma forma de capitalismo, por isso, tenta resumir três características essenciais do modo capitalista de produção: 1) O capitalismo sempre orientado para o crescimento; 2) O crescimento em valores reais se apóia na exploração trabalho vivo na produção; 3) O capitalismo é, por necessidade, tecnológico e organizacionalmente dinâmico.
Harvey aponta que a superacumulação como sendo inevitável, pois considerando as 3 características acima mencionadas, estas são contraditórias e propensas a crises. diante do ponto de vista marxista.
Os detentores do poder ou a burguesia devem fazer, portanto escolhas para tentar eliminar tais crises, através, segundo Harvey, 1) da desvalorização; 2) do controle macroeconômico; 3) da absorção da superacumulação. Este último, ele aborda através do a) deslocamento temporal; b) do deslocamento espacial; c) dos deslocamentos tempo-espaciais. 
“Foi principalmente com o deslocamento espacial e temporal que o regime fordista de acumulação resolveu o problema da superacumulação no decorrer do longo período de expansão do pós-guerra”, aponta o autor. Ainda: que a crise foi pelo esgotamento das opções para lidar com este problema e que a alternativa foi a monetização. A competição espacial se acirrou depois de 1973.
Harvey ainda diferencia a “mais valia absoluta” e a “mais valia relativa” e conclui que ambas foram usadas de forma combinada na acumulação flexível.
No capítulo 11, Harvey questiona “se estamos diante de transformações sólidas ou reparo temporário na configuração capitalista, ou, como salienta Harvey, se essas mudanças assinalam o nascimento de um regime de acumulação capaz de conter as contradições do capitalismo durante a próxima geração ou se marcam uma série de reparos temporários, constituindo, assim, um momento transicional de dolorosa crise na configuração do capitalismo do final do século XX”.

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