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Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 1 TEORIA DO CONHECIMENTO//GNOSEOLOGIA//EPISTEMOLOGIA “Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporciona nossos sentidos. (...) Conhecimento e compreensão pertencem antes à arte do que à experiência. Donde se conclui que a Sabedoria depende, antes de tudo, do conhecimento.” Aristóteles. “Há muitas razões pelas quais a Arte pode interessar ao Direito. Uma das primeiras é a formação humanística dos juristas. Mas há muito mais. O próprio Direito, se não for encarado como forma simplesmente legalista, positivista e dogmática (três tipos de pensamentos que confluem) pode ser encarado como episteme que comporta uma parte científica, uma parte técnica e uma parte artística.” Paulo Ferreira da Cunha “A arte, assim como o direito, serve para ordenar o mundo. O direito, bem como a arte, estende uma ponte do passado ao futuro. A interpretação jurídica e a interpretação artística não são duas coisas diversas, mas uma coisa só. Se o direito não fosse arte a interpretação não teria nada para fazer.” Francesco Carnelutti O SUJEITO COGNOSCENTE E O OBJETO COGNOSCÍVEL: René Descartes: no Discurso do Método criou a ideia de que o homem, graças à técnica, deveria se tornar mestre e senhor da natureza. O Eu pensante precisava transformar o mundo exterior para conhecê-lo e dominá- lo. A racionalidade presente no sujeito capta a racionalidade presente no objeto. Homem e natureza, sujeito e objeto se bifurcam. Cria o sujeito epistemológico. Um sujeito do conhecimento destituído de sua psicologia, suas emoções, suas paixões e sua história. O sujeito cognoscente adequado é aquele que será pura consciência de si. Penso, logo existo é o emblema de todo saber irrefutável. Seu método é o geométrico-algébrico. O sujeito que conhece geometrizando o espaço desencanta o mundo. O objetivo é reduzir o campo de espanto e admiração do mundo. Uma natureza abstrata, formalizada e objetivada possibilita ao sujeito do conhecimento conhecê-la, controlá-la e dominá-la através de sua matematização. Crítica de Horkheimer: Descartes inviabilizou qualquer harmonia entre o homem e a natureza. Não há diálogo entre o sujeito e o objeto, mas tensão e luta. Ele cria o mito do racionalismo clássico. O século XVII inicia-se com Descartes (1596-1650), o pai da filosofia moderna, e o estabelecimento do princípio da dúvida metódica, partindo da célebre afirmação: penso, logo, existo. Preceitos do método: 1º) Nunca receber como verdadeira coisa alguma que não se reconheça evidente como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não aceitar senão aqueles juízos que se apresentem clara e distintamente ao espírito, de modo a não ser possível a dúvida a respeito deles; 2º) Dividir as dificuldades, que devem serem examinadas em tantas parcelas quantas se fizerem necessárias; 3º) Conduzir com ordem os pensamentos, DISCIPLINA: Filosofia Prof.: Nicodemos F. Maia CARGA HORÁRIA: 80h / a GRAU DE ENSINO: GRADUAÇÃO (Bacharelado) CURSO DE DIREITO CÓDIGO: 31076 NOTA DE AULA DISCIPLINA Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 2 partindo dos objetos mais simples e mais fáceis, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento daqueles objetos mais compostos, supondo mesmo a existência de ordem entre aqueles não se precedem naturalmente uns aos outros; 4º) Fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que se possa estar seguro de nada se haver omitido. CONCEITOS BÁSICOS: 1) GNOSEOLOGIA//GNOSIOLOGIA: é o estudo, a doutrina ou o tratado sobre o conhecimento. Abrange os aspectos: lógico, psicológico e o crítico. Neste último sentido, vale como a teoria do conhecimento ou como preferem alguns, axiologia do conhecimento que é a parte da Filosofia que abrange o valor objetivo do conhecimento, aí incluído o seu alcance metafísico. Afirmar que a verdade é um valor significa que: o verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos e ao mundo um sentido que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade e à falsidade. 2) EPISTEMOLOGIA: discurso sobre a ciência. Ainda que usado para significar a teoria do conhecimento, o termo emprega-se hoje preferentemente para designar o estudo crítico da forma da ciência e não de seu conteúdo. Segundo definição do Webster’s New World Dictionary, epistemologia é: “o estudo ou teoria da origem, natureza, métodos e limites do conhecimento”. O sentido da expressão é controverso e a distinção entre gnoseologia e epistemologia é quase sempre desconsiderada entre autores da língua inglesa. Gnose indica conhecimento. Já epistéme, conforme Platão, refere-se a um setor particular da gnoseologia, um tipo de conhecimento com exatidão, certeza e rigor científico. A distinção entre conhecimento filosófico e o científico depende da postura do observador perante o objeto e de transmissão dos conhecimentos adquiridos. O direito é uma ciência ou não é uma ciência? Se é, como colocar o direito é um quadro geral das ciências e estabelecer seus caracteres específicos, objeto, método, etc. Ciência em seus aspectos conotativo (sentido) e denotativo (alcance/ quais as posturas que, apesar de diferentes, podem ser consideradas científicas? (Adeodato) 3) TEORIA DO CONHECIMENTO: é uma interpretação e uma explicação filosófica do conhecimento humano. O que é o conhecimento? A tríade compreende o sujeito, a imagem e o objeto. Espécies: 3.1) sensível: sensações; percepções (todo) e imagens – 3.2) intelectual: idéias e juízos. Sensações são pressupostos da percepção. Imagens: quando a sensação ou percepção cessa; é a representação de um objeto ao espírito. A imagem não é idêntica a um objeto. Segundo H. Bergson o objeto simples não pode ser, para nós, igual sempre a si próprio, mas, pelo contrário, é sempre diferente, segundo os modos pelos quais se apresenta e segundo os modos pelos quais os percebemos. Cada sensação e toda percepção de um objeto deve corresponder a uma imagem particular. Imaginação é a capacidade de conservar e reproduzir imagens. 4) TEORIAS SOBRE A VERDADE: “A verdade nunca é descoberta num espaço vazio; a descoberta é um ato de diferenciação praticado em um ambiente bastante denso de opiniões; e, se a descoberta se refere à verdade da existência humana, chocará o ambiente em um amplo leque de suas mais arraigadas convicções.” “Uma teoria não é apenas a emissão de uma opinião qualquer a respeito da existência humana em sociedade; é uma tentativa de formular o sentido da existência, explicando o conteúdo de um gênero definido de experiências.” (ERIC VOEGELIN). MALATESTA: A verdade é a conformidade da noção ideológica com a realidade. 4.1 - COMO REPRESENTAÇÃO: O conhecimento é verdadeiro na medida em que seu conteúdo concorda com o objeto visado. Logo, o conceito de verdade é relacional. Para Aristóteles, o conhecimento é a medida e o objeto é a coisa medida. A verdade é, pois, perceber e dizer o que se percebe. O falso e o verdadeiro não se encontram nas coisas, mas no pensamento (Metafísica). A essência do conhecimento está ligado ao conceito de verdade. 4.2 - RELATIVA: PROTÁGORAS admitia que o homem é a medida de todas as coisas, tanto das que são quanto das que não são. Platão o expressou a fórmula "Deus é a medida", em oposição à definição de Protágoras "o homem é a medida. 4.2.1 – Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020/ FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 3 RELATIVISMO NORMATIVO: não há verdades, mas apenas costumes variáveis de uma sociedade para outra. 4.2.2 – RELATIVISMO COGNITIVO: negação da possibilidade de conhecimento do real. Influência de fatores individuais, coletivos e ideológicos. 4.3 - COMO DESCOBRIMENTO: é a verdade originária do ser. A reflexão heideggeriana sobre o ser encontra-se no encalço da interpretação grega da verdade como Alethéia. A questão da verdade é problematizada por Heidegger no âmbito do que poderíamos nomear de hermenêutica ontológica. Esta investiga as palavras geradoras dos pensadores originários da Grécia arcaica, os pré-socráticos (Heráclito). A retomada crítica que ele faz do significado de alethéia justifica-se como a pedra de toque que possibilita a compreensão do sentido do ser, pelo viés da interpretação. 4.4 - DO CRISTIANISMO: Eu sou o caminho a verdade e a Vida, disse Jesus. 4.5 - DO PRAGMATISMO: A relação entre nossa pretensão à verdade e o resto do mundo é aqui concebida como causal e não como representacional. 4.6 – VERDADE NECESSÁRIA: é uma verdade que é sempre verdadeira em qualquer circunstância ou em todos os mundos possíveis(Leibniz). Ex.: os solteiros são não casados. Pra morrer é preciso viver. 4.7 – VERDADE CONTINGENTE – é uma proposição verdadeira, mas poderia ter sido falsa. Depende de fatos que estão fora da linguagem. Ex.: é verdade que sou filósofo. 4.8 – VERDADE COMO COERÊNCIA: é verdade que testamos as nossas crenças quanto à sua verdade à luz de outras crenças. Não podemos sair de nosso sistema de crenças e a experiência tem um papel fundamental neste aspecto. - PROBLEMAS CAPITAIS DA TEORIA DO CONHECIMENTO - 5) É POSSÍVEL CONHECER? - ESCOLAS FILOSÓFICAS QUE RESPONDEM A INDAGAÇÃO: 5.1) DOGMATISMO: sim (do grego dogma - doutrina estabelecida). O conhecimento é crença estabelecida. Segundo TOCQUELIVILLE: as convicções dogmáticas podem mudar de forma e de objeto; mas seria impossível fazer com que não existam convicções dogmáticas, isto é, juízos que os homens recebam com confiança e sem discutir. O acesso a palavra é uma porta aberta aos delírios humanos. A dogmática está aí para fechar essa porta. A dogmática é hoje entendida como antítese da razão. O Direito é o último lugar onde o dogmatismo está explicitamente em obra. 5.2) CETICISMO: não. PIRRO recomenda a suspensão do juízo: a EPOKHÉ. Não há certeza, apenas verossimilhança. Não há conhecimento: de dois juízos contraditórios um é tão verdadeiro quanto o outro. O ceticismo metafísico é chamado de positivismo (COMTE); é um estado de crise. Surge quando o espírito humano é chamado a mudar de doutrina. Meio indispensável entre um dogmatismo e outro. 5.3) SUBJETIVISMO E RELATIVISMO: sim. A verdade existe, mas é limitada no âmbito de sua validade. O primeiro coloca a dependência do conhecimento de fatores internos (O Homem é a medida de todas as coisas) e o segundo de fatores externos (cultura, meio ambiente, valores). Para ambos não há verdade universalmente válida; 5.4) PRAGMATISMO: sim. Como o ceticismo abandona o conceito de verdade clássico como coerência entre o pensamento e objeto. O verdadeiro significa o útil, valioso. O intelecto não foi dado ao homem para conhecer e investigar, mas para que possa orientar-se na vida prática e é dessa determinação prática de fins que o conhecimento humano retira seu sentido e seu valor. Para Nietzsche: “A verdade não é um valor teórico, mas uma expressão para a utilidade, para a função do juízo que é conservadora de vida e servidora da vontade de poder.”; 5.5) CRITICISMO: sim. Intermediário entre o dogmatismo e o ceticismo. Seu fundador é KANT. 6) QUAL A ORIGEM DO CONHECIMENTO? Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 4 .6.1) RACIONALISMO: Platão dizia que aquilo que é concebido pela opinião, com ajuda da sensação e sem ajuda da razão, está sempre em um processo de tornar-se e perecer, e nunca verdadeiramente é. Deste modo, os sentidos jamais fornecerão um conhecimento genuíno. 6.1.1) TEORIAS DAS IDEIAS INATAS CARTESIANAS 1. Idéias adventícias (isto é, vindas de fora): são aquelas que se originam de nossas sensações, percepções, lembranças. Por exemplo, a idéia de árvore, de pássaro, de instrumentos musicais, etc. São nossas idéias cotidianas e costumeiras. 2. Idéias fictícias: são aquelas que criamos em nossa fantasia e imaginação, compondo seres inexistentes com pedaços ou partes de idéias adventícias que estão em nossa memória. Por exemplo, cavalo alado, fadas, elfos, duendes, dragões, Super-Homem, etc. São as fabulações das artes, da literatura, dos contos infantis, dos mitos, das superstições. Essas idéias nunca são verdadeiras, pois não correspondem a nada que exista realmente e sabemos que foram inventadas por nós, mesmo quando as recebemos já prontas de outros que as inventaram. 3. Idéias inatas: são aquelas que não poderiam vir de nossa experiência sensorial porque não há objetos sensoriais ou sensíveis para elas, nem poderiam vir de nossa fantasia, pois não tivemos experiência sensorial para compô-las a partir de nossa memória. As idéias inatas são inteiramente racionais e só podem existir porque já nascemos com elas. Por exemplo, a idéia do infinito (pois não temos qualquer experiência do infinito), as idéias matemáticas (a matemática pode trabalhar com a idéia de uma figura de mil lados, o quiliógono, e, no entanto, jamais tivemos e jamais teremos a percepção de uma figura de mil lados). Essas idéias, diz Descartes, são “a assinatura do Criador” no espírito das criaturas racionais, e a razão é a luz natural inata que nos permite conhecer a verdade. Como as idéias inatas são colocadas em nosso espírito por Deus, serão sempre verdadeiras, isto é, sempre corresponderão integralmente às coisas a que se referem, e, graças a elas, podemos julgar quando uma idéia adventícia é verdadeira ou falsa e saber que as idéias fictícias são sempre falsas (não correspondem a nada fora de nós). Ainda segundo Descartes, as idéias inatas são as mais simples que possuímos (simples não quer dizer “fáceis”, e sim não-compostas de outras idéias). A mais famosa das idéias inatas cartesianas é o “Penso, logo existo”. Por serem simples, as idéias inatas são conhecidas por intuição e são elas o ponto de partida da dedução racional e da indução, que conhecem as idéias complexas ou compostas. A tese central dos inatistas é a seguinte: se não possuirmos em nosso espírito a razão e a verdade, nunca teremos como saber se um conhecimento é verdadeiro ou falso, isto é, nunca saberemos se uma idéia corresponde ou não à realidade. 6.2)EMPIRISMO: a experiência é a única origem do conhecimento. Percepção interna (autopercepção) e externa (percepção sensível). Contrariamente aos defensores do inatismo, os empiristas afirmam que a razão, a verdade e as idéias racionais são adquiridos por nós através da experiência. Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”, onde nada foi gravado. Somos como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência venha escrever na folha, gravar na tábula, e dar forma à cera. Os empiristas ingleses: no decorrer da história da Filosofia muitos filósofos defenderam a tese empirista, mas os mais famosos e conhecidos são os filósofos ingleses dos séculos XVI ao XVIII, chamados, por isso, de empiristas ingleses: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume. Que dizem os empiristas? Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentimossabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc. As idéias, trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são levadas à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos. A experiência escreve e grava em nosso espírito as idéias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos. Por isso, David Hume dirá que a razão é o hábito de associar idéias, seja por semelhança, seja por diferença. O exemplo mais importante (por causa das conseqüências futuras) oferecido por Hume para mostrar como formamos hábitos racionais é o da origem do princípio da causalidade (razão suficiente). Fundador: LOCKE: a alma é um papel em branco. 6.3) INTELECTUALISMO: ambos participam do processo de formação do conhecimento. Fundador: ARISTÓTELES: razão e experiência constituem o fundamento do conhecimento. As idéias não são um mundo a parte, pairando no vazio, são as Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 5 formas essenciais das coisas. A razão atua como uma luz para que o homem possa perceber a realidade. O fator racional deriva do empírico. O conceito vem da experiência. 6.4) APRIORISMO: o fundador é KANT: conceitos sem intuições são vazios; intuições sem conceitos são cegas. Espaço e tempo são formas de intuição. São condições de qualquer conhecimento. A razão introduz ordem no mundo das sensações, percepções e imagens. Autonomia do sujeito. Como posso conhecer? Como você quiser. 7) QUAL A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO? Depende. Seu centro de gravidade está no sujeito ou no objeto? Se for no sujeito, temos o subjetivismo; se for no objeto, teremos o objetivismo: idealismo e realismo. No caso do objetivismo este é quem determina o sujeito. Para PLATÃO as idéias são realidades objetivamente dadas. Elas formam um reino objetivo, a parte. HUSSERL vai chamar essas idéias de intuição das essências. Subjetivismo: tenta ancorar a essência do conhecimento no sujeito. A realidade está fundada na consciência do sujeito. Todos os elementos metafísicos e psicológicos são eliminados do núcleo do pensamento. O sujeito não é metafísico, mas lógico. 8) QUAL O CRITÉRIO DE VERDADE? Não basta que nosso juízo seja verdadeiro. Devemos alcançar a certeza de que ele é verdadeiro: a) ausência de contradição; b) evidência de percepção; c) evidência do pensamento conceitual. Questões de análise conceitual, de percepção e de valor: 1) Os brasileiros consideram certos manter a natureza em posição inferior à dos homens? 2) Você considera certo manter a natureza em posição inferior à dos homens? 3) Pode alguém está certo sobre o que é certo? 1)Temos a liberdade de votar como quisermos? 2) A liberdade de votar como quisermos é algo positivo? 3) Será que algum de nossos atos é realmente livre? 1) É provável que o socialismo se espalhe pelo mundo? 2) O socialismo é um sistema agradável de governo? 3) O socialismo é compatível com a democracia? 1) O fenômeno jurídico passa a ser visto como sinônimo de sociabilidade? 2) Tem-se o direito, enquanto justiça como valor ideal? 3) O que é realmente a justiça? TEXTO(1): WILLIAM JAMES, O PRAGMÁTICO Freqüentemente consideramos a eficiência técnica ou prática de um conhecimento como prova de sua objetividade. "É verdade, já que funciona!" Mas admitimos também que muitas verdades não são em si mesmas de nenhuma utilidade. O que concluir quanto às relações entre verdade e eficiência de uma idéia? A posição mais partilhada, digamos a do realista, consiste em afirmar que a verdade de uma idéia reside em sua correspondência com o mundo exterior e que representa assim a condição ou o meio de nosso domínio sobre o mundo: "O homem só comanda a natureza lhe obedecendo" (Francis Bacon). Contrariando essa interpretação, o pragmatismo afirma que a verdade não consiste em sua relação com uma realidade exterior por essência inapreensível, mas que se determina em vista de suas conseqüências práticas. Essa posição - que conta múltiplas versões e com a qual se aprecia qualificar a mentalidade anglo-saxônica - foi popularizada por William James (1842-1910) da seguinte forma: "A verdade é um acontecimento que se produz para uma idéia. Esta se torna verdadeira; é tornada verdadeira por certos fatos." E esta verificação deve ser entendida no sentido de conseqüência prática que nos agrada: "O verdadeiro consiste simplesmente no que é vantajoso para nosso pensamento, da mesma forma que o justo consiste simplesmente no que é vantajoso Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 6 para nossa conduta. Quero dizer vantajoso mais ou menos de qualquer maneira; vantajoso a longo prazo e no conjunto; pois o que é vantajoso em relação à experiência atualmente em vista não o será necessariamente no mesmo grau em relação a experiências ulteriores." Nessa perspectiva, em que a realidade é concebida como sempre mais rica do que as idéias que dela podemos fazer, as verdades não são descobertas mas inventadas e sempre momentâneas. É preciso assim compreender que "a verdade é somente uma espécie de bem e não, como supomos habitualmente, uma categoria diferente do bem. A verdade é o nome de tudo o que se revela ser o bem no domínio da crença". O pragmatismo foi freqüentemente acusado de confundir a verdade absoluta e eterna com a justificação de que, sendo relativa a um público dado, é efêmera. Mas essa recusa em distinguir entre a verdade e a justificação não é nem mais nem menos que a tese c entral do pragmatismo, para o qual "a crença é verídica por natureza" na medida em que é pela mesma razão que a maioria de nossas crenças é verdadeira e que a maioria de nossas crenças é justificada. A relação entre nossa pretensão à verdade e o resto do mundo é aqui concebida como causal e não como representacional. E o efeito que causa é nosso arraiga mento a crenças que se revelam guias confiáveis para obter o que desejamos. Nesse novo contexto, a verdade não pode mais residir senão na coerência prática e utilitária das crenças entre si, na coerência do conjunto das crenças que constituem cada sociedade. O conhecimento não deve mais ser considerado como um instrumento que me permitiria conhecer o mundo, mas como um mundo de lavra humana. Tampouco é um olhar objetivo pousado sobre o mundo mas uma ação por inteiro, um investimento real do homem no mundo. O que o pragmatismo (do grego pragma, ação) entende assim instalar é a substituição de uma problemática epistemológica por uma problemática social. Convém então dirigir aos pragmáticos a seguinte questão: o pragmatismo é útil? LAURENT MAYET TEXTO(2): O Benefício da Dúvida Autor: Ferreira Gullar Fonte: Folha de S. Paulo (edição impressa) Difícil é lidar com donos da verdade. Não há dúvida de que todos nós nos apoiamos em algumas certezas e temos opinião formada sobre determinados assuntos; é inevitável e necessário. Se somos, como creio que somos, seres culturais, vivemos num mundo que construímos a partir de nossas experiências e conhecimentos. Há aqueles que não chegam a formular claramente para si o que conhecem e sabem, mas há outros que, pelo contrário, têm opiniões formadas sobre tudo ou quase tudo. Até aí nada de mais; o problema é quando o cara se convence de que suas opiniões são as únicas verdadeiras e, portanto, incontestáveis. Se ele se defronta com outro imbuído da mesma certeza, arma-se um barraco. De qualquer maneira, se se tratade um indivíduo qualquer que se julga dono da verdade, a coisa não vai além de algumas discussões acaloradas, que podem até chegar a ofensas pessoais. O problema se agrava quando o dono da verdade tem lábia, carisma e se considera salvador da pátria. Dependendo das circunstâncias, ele pode empolgar milhões de pessoas e se tornar, vamos dizer, um “führer”. As pessoas necessitam de verdades e, se surge alguém dizendo as verdades que elas querem ouvir, adotam-no como líder ou profeta e passam a pensar e agir conforme o que ele diga. Hitler foi um exemplo quase inacreditável de um líder carismático que levou uma nação inteira ao estado de hipnose e seus asseclas à prática de crimes estarrecedores. A loucura torna-se lógica quando a verdade torna-se indiscutível. Foi o que ocorreu também durante a Inquisição: para salvar a alma do desgraçado, os sacerdotes exigiam que ele admitisse estar possuído pelo diabo; se não admitia, era torturado para confessar e, se confessava, era queimado na fogueira, pois só assim sua alma seria salva. Tudo muito lógico. E os inquisidores, donos da verdade, não duvidavam um só momento de que agiam conforme a vontade de Deus e faziam o bem ao torturar e matar. Foi também em nome do bem – desta vez não do bem espiritual, mas do bem social – que os fanáticos seguidores de Pol Pot levaram à morte milhões de seus irmãos. Os comunistas do Khmer Vermelho haviam aprendido marxismo em Paris Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 7 não sei com que professor que lhes ensinara o caminho para salvar o país: transferir a maior parte da população urbana para o campo. Detentores de tal verdade, ocuparam militarmente as cidades e obrigaram os moradores de determinados bairros a deixarem imediatamente suas casas e rumarem para o interior do país. Quem não obedeceu foi executado e os que obedeceram, ao chegarem ao campo, não tinham casa onde morar nem o que comer e, assim, morreram de inanição. Enquanto isso, Pol Pot e seus seguidores vibravam cheios de certeza revolucionária. É inconcebível o que os homens podem fazer levados por uma convicção e, das convicções humanas, como se sabe, a mais poderosa é a fé em Deus, fale ele pela boca de Cristo, de Buda ou de Muhammad. Porque vivemos num mundo inventado por nós, vejo Deus como a mais extraordinária de nossas invenções. Sei, porém, que, para os que crêem na sua existência, ele foi quem criou a tudo e a todos, estando fora de discussão tanto a sua existência quanto a sua infinita bondade e sapiência. A convicção na existência de Deus foi a base sobre a qual se construiu a comunidade humana desde seus primórdios, a inspiração dos sentimentos e valores sem os quais a civilização teria sido inviável. Em todas as religiões, Deus significa amor, justiça, fraternidade, igualdade e salvação. Não obstante, pode o amor a Deus, a fé na sua palavra, como já se viu, nos empurrar para a intolerância e para o ódio. Não é fácil crer fervorosamente numa religião e, ao mesmo tempo, ser tolerante com as demais. As circunstâncias históricas e sociais podem possibilitar o convívio entre pessoas de crenças diferentes, mas, numa situação como do Oriente Médio hoje, é difícil manter esse equilíbrio. Ali, para grande parte da população, o conflito político e militar ganhou o aspecto de uma guerra religiosa e, assim, para eles, o seu inimigo é também inimigo de seu Deus e a sua luta contra ele, sagrada. Não é justo dizer que todos pensam assim, mas essa visão inabalável pode ser facilmente manipulada com objetivos políticos. Isso ajuda a entender por que algumas caricaturas – publicadas inicialmente num jornal dinamarquês e republicadas em outros jornais europeus – provocaram a fúria de milhares de muçulmanos que chegaram a pedir a cabeça do caricaturista. Se da parte dos manifestantes houve uma reação exagerada – que não aceita desculpas e toma a irreflexão de alguns jornalistas como a hostilidade de povos e governos europeus contra o islã–, da parte dos jornais e do caricaturista houve certa imprudência, tomada como insulto à crença de milhões de pessoas. Mas não cansamos de nos espantar com a reação, às vezes sem limites, a que as pessoas são levadas por suas convicções. E isso me faz achar que um pouco de dúvida não faz mal a ninguém. Aos messias e seus seguidores, prefiro os homens tolerantes, para quem as verdades são provisórias, fruto mais do consenso que de certezas inquestionáveis. Texto(3): Conhecimento Convite à Filosofia De Marilena Chaui Ed. Ática, São Paulo, 2000. O conhecimento Capítulo O pensamento Pensando… Certa vez um grego disse: “O pensamento é o passeio da alma”. Com isso quis dizer que o pensamento é a maneira como nosso espírito parece sair de dentro de si mesmo e percorrer o mundo para conhecê-lo. Assim como no passeio levamos nosso corpo a toda parte, no pensamento levamos nossa alma a toda parte e mais longe do que o corpo, pois a alma não encontra obstáculos físicos para seu caminhar. Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 8 Em nosso cotidiano usamos as palavras pensar e pensamento em sentidos variados e múltiplos. Podemos chegar a uma pessoa amiga, vê-la silenciosa e dizer-lhe: “Por favor, diga-me seu pensamento, em que você está pensando?”. Com isso, reconhecemos uma atividade solitária, invisível para nós e que precisa ser proferida para ser compartilhada. E já mencionamos o célebre “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum), de Descartes, e a definição do homem como “caniço pensante”, feita por Pascal. Aqui, pensar e pensamento indicam a própria essência da natureza humana. Pensar, portanto, é suspender o julgamento (até formar uma idéia ou opinião), pesar (comparar idéias, opiniões, pontos de vista), avaliar (julgar o valor de uma idéia ou opinião, ou seja, se é verdadeira ou falsa, justa ou injusta, adequada ou inadequada), examinar (idéias, opiniões, juízos, pontos de vista), ponderar (isto é, pesar idéias e pontos de vista para escolher um deles), equilibrar (encontrar o meio-termo entre extremos ou entre opostos). Pensare, derivando-se de pendere, caracteriza-se mais como uma atividade sobre idéias, opiniões, juízos e pontos de vista já existentes do que como criação ou produção de uma idéia ou ponto de vista. Por esse motivo, quando lemos os textos filosóficos antigos e modernos, escritos em latim, notamos que não usam pendere e pensare para dizer pensar, mas empregam dois outros verbos: cogitare e intelligere. Cogitare significa: considerar atentamente e meditar. Esse verbo vem do outro, agere, que significa: empurrar para diante de si, e também do verbo agitare, que significa: empurrar para frente com força, agitar. Pensar, enquanto cogitare, é colocar diante de si alguma coisa para considerá-la com atenção ou forçar alguma coisa a ficar diante de nós para ser examinada. O verbo intelligere vem da composição de duas outras palavras: inter, isto é, entre, e legere, que significa: colher, reunir, recolher, escolher e ler (isto é, reunir as letras com os olhos). Por isso, intelligere significa: escolher entre, reunir entre vários, apanhar, aprender, compreender, ler entre, ler dentro de. Donde: conhecer e entender. Se reunirmos os vários sentidos dos três verbos – pensare, cogitare e intelligere -, veremos que pensar e pensamento sempre significam atividades que exigem atenção: pesar, avaliar, equilibrar, colocar diante de si para considerar, reunir e escolher, colher e recolher. O pensamento é, assim, uma atividade pela qual a consciência ou a inteligência coloca algodiante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, reunir, compreender, escolher, entender e ler por dentro. O pensamento exprime nossa existência como seres racionais e capazes de conhecimento abstrato e intelectual, e sobretudo manifesta sua própria capacidade para dar a si mesmo leis, normas, regras e princípios para alcançar a verdade de alguma coisa. A inteligência A psicologia costuma definir a inteligência por sua função, considerando-a uma atividade de adaptação ao ambiente, através do estabelecimento de relações entre meios e fins para a solução de um problema ou de uma dificuldade. Essa definição concebe, portanto, a inteligência como uma atividade eminentemente prática e a distingue de duas outras que também possuem finalidade adaptativa e relacionam meios e fins: o instinto e o hábito. Compartilhamos o instinto e o hábito com os animais. O instinto, por exemplo, nos leva automaticamente a contrair a pupila quando nossos olhos estão muito expostos à luz e a dilatá-la quando estamos na escuridão; leva-nos a afastar rapidamente a mão de uma superfície muito quente que possa queimar-nos. O instinto é inato. Ao contrário, o hábito é adquirido, mas, como o instinto, tende a realizar-se automaticamente. Por exemplo, quem adquire o hábito de dirigir um veículo, muda as marchas, pisa na embreagem, no acelerador ou no freio sem precisar pensar nessas operações; quem aprende a patinar ou a nadar, realiza maquinalmente os gestos necessários, depois de adquiri-los. Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 9 Instinto e hábito são formas de comportamento cuja principal característica é serem especializados ou específicos: a abelha sabe fazer a colméia, mas é incapaz de fazer o ninho; o joão-de-barro constrói uma “casa”, mas é incapaz de fazer uma colméia; posso aprender a nadar, mas esse hábito não me faz saber andar de bicicleta. O instinto e o hábito especializam as funções, os meios e os fins e não possuem flexibilidade para mudá-los ou para adaptar um novo meio para um novo fim, nem para usar meios novos para um fim já existente. A tendência do instinto ou do hábito é a repetição e o automatismo das respostas aos problemas. A inteligência difere do instinto e do hábito por sua flexibilidade, pela capacidade de encontrar novos meios para um novo fim, ou de adaptar meios existentes para uma finalidade nova, pela possibilidade de enfrentar de maneira diferente situações novas e inventar novas soluções para elas, pela capacidade de escolher entre vários meios possíveis e entre vários fins possíveis. Nesse nível prático, a inteligência é capaz de criar instrumentos, isto é, de dar uma função nova e um sentido novo a coisas já existentes, para que sirvam de meios a novos fins. Compartilhamos a inteligência prática com alguns animais, especialmente com os chimpanzés. O psicólogo Köhler fez experiências com alguns desses animais e demonstrou que eram capazes de comportamentos inteligentes: Inteligência e linguagem Não somos dotados apenas de inteligência prática ou instrumental, mas também de inteligência teórica e abstrata. Pensamos. O exercício da inteligência como pensamento é inseparável da linguagem, como já vimos, pois a linguagem é o que nos permite estabelecer relações, concebê-las e compreendê-las. Graças às significações escada e rede, a criança pode pensar nesses objetos e fabricá-los. A linguagem articula percepções e memórias, percepções e imaginações, oferecendo ao pensamento um fluxo temporal que conserva e interliga as idéias. A inteligência humana, enquanto atividade mental e de linguagem, pode ser definida como a capacidade para enfrentar ou colocar diante de si problemas práticos e teóricos, para os quais encontra, elabora ou concebe soluções, seja pela criação de instrumentos práticos (as técnicas), seja pela criação de significações (idéias e conceitos). Caracteriza-se pela flexibilidade, plasticidade e inovação, bem como pela possibilidade de transformar a própria realidade (trabalho, artes, técnicas, ações políticas, etc.). A inteligência se realiza, portanto, como conhecimento e ação. O conhecimento inteligente apreende o sentido das palavras, interpreta-o, inventa novos sentidos para palavras antigas ou cria novas palavras para novos sentidos. O movimento de conhecer é, pois, um movimento cujo corpo é a linguagem. Graças a ela, compartilhamos com outros os nossos conhecimentos e recebemos de outros os conhecimentos. Comunicação, informação, memória cultural, transmissão, inovação e ruptura: eis o que a linguagem permite à inteligência. Clarificação, organização, ordenamento, análise, interpretação, compreensão, síntese, articulação: eis o que a inteligência oferece à linguagem. Inteligência e pensamento A inteligência colhe, recolhe e reúne os dados oferecidos pela percepção, pela imaginação, pela memória e pela linguagem, formando redes de significações com as quais organizamos e ordenamos nosso mundo e nossa vida, recebendo e doando sentido a eles. O pensamento, porém, vai além do trabalho da inteligência: abstrai (ou seja, separa) os dados das condições imediatas de nossa experiência e os elabora sob a forma de conceitos, idéias e juízos, estabelecendo articulações internas e necessárias entre eles pelo raciocínio (indução e dedução), pela análise e pela síntese. Formula teorias, procura prová-las e verificá-las, pois está voltado para a verdade do conhecimento. Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 10 Um conceito ou uma idéia é uma rede de significações que nos oferece: o sentido interno e essencial daquilo a que se refere; os nexos causais ou as relações necessárias entre seus elementos, de sorte que por eles conhecemos a origem, os princípios, as conseqüências, as causas e os efeitos daquilo a que se refere. O conceito ou idéia nos oferece a essência- significação necessária de alguma coisa, sua origem ou causa, suas conseqüências ou seus efeitos, seu modo de ser e de agir. Os conceitos ou idéias são redes de significações cujos nexos um ligações são expressos pelo pensamento através dos juízosi, pelos quais estabelecemos os elos internos e necessários entre um ser e as qualidades, as propriedades, os atributos que lhe pertencem, assim como aqueles predicados que lhe são acidentais e que podem ser retirados sem que isso afete o sentido e a realidade de um ser. Um conjunto de juízos constitui uma teoria, quando: ● estabelece com clareza um campo de objetos e os procedimentos para conhecê-los e enunciá-los; ● organizam-se e ordenam-se os conceitos; ● articulam-se e demonstram-se os juízos, verificando seu acordo com regras e princípios de racionalidade e demonstração. Teoria é explicação, descrição e interpretação geral das causas, formas, modalidades e relações de um campo de objetos, conhecidos graças a conhecimentos específicos, próprios à natureza dos objetos investigados. A necessidade do método A palavra método vem do grego, methodos, composta de meta: através de, por meio de, e de hodos: via, caminho. Usar um método é seguir regular e ordenadamente um caminho através do qual uma certa finalidade ou um certo objetivo é alcançado. No caso do conhecimento, é o caminho ordenado que o pensamento segue por meio de um conjunto de regras e procedimentos racionais, com três finalidades: 1. conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida; 2. permitir a demonstração e a prova de uma verdade já conhecida; 3. permitir a verificação de conhecimentos paraaveriguar se são ou não verdadeiros. O método é, portanto, um instrumento racional para adquirir, demonstrar ou verificar conhecimentos. Por que se sente a necessidade de um método? Porque, como vimos, o erro, a ilusão, o falso, a mentira rondam o conhecimento, interferem na experiência e no pensamento. Para dar segurança ao conhecimento, o pensamento cria regras e procedimentos que permitam ao sujeito cognoscente aferir e controlar todos os passos que realiza no conhecimento de algum objeto ou conjunto de objetos. No caso das ciências exatas (as matemáticas), o método é chamado axiomático, isto é, baseia o conhecimento num conjunto de termos primitivos e de axiomas, que são o ponto de partida da construção e demonstração dos objetos. No caso das ciências naturais (física, química, biologia, etc.), o método é chamado experimental e hipotético. Experimental, porque se baseia em observações e em experimentos, tanto para formular quanto para verificar as teorias. Hipotético, porque os cientistas partem de hipóteses sobre os objetos que guiam os experimentos e a avaliação dos resultados. No caso das ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, história, etc.), o método é chamado compreensivo- interpretativo, porque seu objeto são as significações ou os sentidos dos comportamentos, das práticas e das instituições realizadas ou produzidas pelos seres humanos. Av. Dom Luís, 911, Meireles Fortaleza-Ceará – CEP 60160-230 Tel. (0xx85) 3461-2020 / FAX (0xx85) 3461.2020 Ramal 4074 E-mail: fc@christus.br 11 Quanto à Filosofia, embora os filósofos tenham oscilado entre vários métodos possíveis, atualmente quatro traços são comuns aos diferentes métodos filosóficos: 1. o método é reflexivo – parte da auto-análise ou do autoconhecimento do pensamento; 2. é crítico – investiga os fundamentos e as condições necessárias da possibilidade do conhecimento verdadeiro, da ação ética, da criação artística e da atividade política; 3. é descritivo – descreve as estruturas internas ou essências de cada campo de objetos do conhecimento e das formas de ação humana; 4. é interpretativo – busca as formas da linguagem e as significações ou os sentidos dos objetos, dos fatos, das práticas e das instituições, suas origens e transformações. (i) Como já vimos, o juízo relaciona positiva ou negativamente um sujeito S e um predicado ou conjunto de predicados P; S é P; S não é P. Também relaciona S e P necessariamente: “Sócrates é mortal”; acidentalmente: “Sócrates é pequeno”; possivelmente: “Sócrates poderá vir à praça”, “Se não chover, Sócrates virá à praça”, etc.
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