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Tutora: 
 
Profa. Dra. Edwirges Rodrigues 
 
 
 
TEORIA GERAL DO 
DIREITO 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4 
1. CONCEITOS INICIAIS DE DIREITO ............................................................. 6 
2. CIÊNCIA DO DIREITO ................................................................................. 14 
3. TEORIAS DO PENSAMENTO JURÍDICO ................................................... 18 
4. TEORIA DA NORMA JURÍDICA ................................................................. 20 
5. TEORIAS DA INTERPRETAÇÃO DO DIREITO .......................................... 29 
6. TEORIAS DA JUSTIÇA ............................................................................... 37 
CONCLUSÃO .................................................................................................. 48 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
A Teoria Geral do Direito é uma disciplina fundamental para qualquer 
estudante ou profissional da área jurídica. Ela oferece as bases conceituais e os 
fundamentos necessários para a compreensão da estrutura e do funcionamento 
do Direito como um todo. Nesta apostila, serão abordados alguns dos principais 
temas que compõem essa disciplina. 
Inicialmente, serão discutidos os conceitos iniciais do Direito, 
buscando entender sua natureza e função social. Em seguida, serão estudados 
o campo da Ciência do Direito e das Teorias do Pensamento Jurídico, 
explorando as diferentes abordagens e correntes de pensamento que moldaram 
e influenciaram a compreensão do Direito ao longo da história. 
Um dos pontos centrais deste trabalho será a Teoria da Norma 
Jurídica, em que serão analisadas a estrutura e a função das normas jurídicas, 
assim como os elementos que as compõem. Também serão investigados os 
princípios que regem a elaboração e a aplicação das normas, bem como as 
diferentes teorias que buscam explicar sua natureza e seu papel na sociedade. 
O estudo seguirá pelas Teorias da Interpretação do Direito, uma vez 
que a interpretação desempenha um papel essencial na aplicação das normas 
jurídicas. Serão discutidas as diversas abordagens interpretativas e 
examinaremos como elas afetam a compreensão e a aplicação do Direito, 
levando em consideração o contexto e os valores envolvidos. 
Por fim, serão abordadas as Teorias da Justiça, permitindo a reflexão 
sobre os critérios e os princípios que fundamentam uma distribuição justa dos 
direitos e deveres na sociedade. Serão analisadas as diferentes concepções de 
justiça ao longo da história e discutidos os desafios e as controvérsias que 
surgem na busca por uma sociedade mais justa e equitativa. 
Ao explorar os temas presentes nesta apostila, busca-se fornecer 
uma visão abrangente da Teoria Geral do Direito, auxiliando estudantes, 
 
 
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pesquisadores e profissionais do campo jurídico a aprofundarem seu 
entendimento sobre os princípios e as teorias que fundamentam o Direito como 
ciência e como sistema normativo. Que este trabalho seja um guia inspirador 
para sua jornada no estudo da Teoria Geral do Direito. 
 
Boa leitura! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. CONCEITOS INICIAIS DE DIREITO 
 
Conceito de Direito 
 
O termo "Direito" tem sua origem nas palavras do baixo-latim "rectum" 
e "directum", que por sua vez derivam da raiz "reg", que expressa a ideia de 
movimento em linha reta. Esses termos influenciaram a maioria dos idiomas 
modernos, como o português, italiano, espanhol, francês, inglês e alemão. 
No entanto, nenhum desses termos consegue definir com precisão o 
que é o Direito. Juristas, filósofos, sociólogos e outros pensadores divergem em 
relação ao seu verdadeiro conceito. Enquanto algumas teorias positivistas 
defendem a total separação entre o Direito e a moral, as teorias não positivistas 
argumentam pela sua vinculação, incluindo elementos morais. 
Alguns juristas propuseram diferentes abordagens para definir o 
Direito. Herbert Hart, por exemplo, argumentou que o Direito consiste na união 
de regras primárias (normas de conduta) e secundárias (regras de 
reconhecimento e alteração), superando a concepção tradicional baseada no 
poder coercitivo do soberano1. Ronald Dworkin, por outro lado, sustenta que o 
Direito está fundamentado nos costumes sociais, consenso político e moral de 
um povo2. 
André Franco Montoro propôs uma concepção analítica do Direito 
com base em cinco realidades distintas: justiça, lei, faculdade, fato social e 
 
 
1 HART, H.L.A. O conceito de direito. Trad. por Ribeiro Mendes. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, s/d. p. 100. 
2 DWORKING, Ronald. O império do direito. Traduzido por Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: 
Martins Fontes, 1999. 
 
 
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ciência3. Miguel Reale desenvolveu a ideia da tridimensionalidade do Direito, que 
envolve fato, norma e valor interligados e correlacionados4. 
 
A função do Direito 
 
De acordo com Roscoe Pound, o Direito desempenha uma tarefa de 
engenharia social ao harmonizar interesses em conflito e alcançar os fins sociais, 
promovendo a coesão e a integração social dos indivíduos em uma determinada 
estrutura social5. Desde sua origem mais primitiva, o Direito atua como 
organizador da estrutura normativa da sociedade, regulando a conduta dos 
indivíduos e intervindo nos conflitos de interesses. 
As funções ordinárias do Direito podem ser visualizadas dentro de 
uma perspectiva mais ampla, chamada de sistema social. Essas funções são: 
Integração ou controle social, na qual o Direito atua como meio de 
orientação dos comportamentos dos indivíduos para produzir ou manter a 
coesão social. Por meio das regras jurídicas coercitivas, busca-se o 
comprometimento de todos os indivíduos em respeitar os interesses da 
sociedade em que vivem. Técnicas repressivas, preventivas, organizadoras e 
promocionais são utilizadas para cumprir essa função. 
Organização social, pela qual o Direito busca manter a segurança, a 
ordem e a paz social, organizando a estrutura social e econômica, definindo 
direitos fundamentais e sociais, estabelecendo as regras de competência e 
formatação do Estado, seu regime e sistema de governo, bem como suas 
políticas públicas imediatas ou dirigentes. Essas técnicas são fundamentadas, 
principalmente, na Constituição Federal. 
 
 
3 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito: justiça; lei; faculdade; fato social; 
ciência. 33. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2016, p. 553 e ss 
4 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. 
5 POUND, Roscoe. Introdução à filosofia do direito. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. 
 
 
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Resolução de conflitos, uma vez que em uma sociedade, podem 
surgir conflitos de interesses entre indivíduos. Assim, o Direito desempenha o 
papel de solucionar esses conflitos por meio de diferentes métodos, como 
mediação, conciliação, arbitragem e jurisdição. A autotutela, que consiste na 
justiça pelas próprias mãos, é repudiada na maioria dos sistemas jurídicos 
modernos. 
Legitimação do poder social, pelo qual o Direito confere legitimidade 
aos órgãos e autoridades públicas por meio da crença na legalidade. A 
estabilidade da dominação política encontra-se no fundamento racional, 
baseado na crença na legalidade, que leva os indivíduos a se submeterem à 
dominação instrumentalizada pelo Direito. 
Transformação social, sendo que os direitos fundamentais, 
representados pelo lema revolucionário "liberdade, igualdade e fraternidade", 
têm contribuído para tal transformação social ao longo da história. Os direitos da 
primeira dimensão referem-se à liberdade, os da segunda dimensão à igualdademeio de um processo de balanceamento ou ponderação40. 
 
AXEL HONNETH: a Justiça Como Reconhecimento a Partir da 
Reconstrução Normativa 
 
Axel Honneth, influenciado pela Escola de Frankfurt, desenvolve uma 
teoria da justiça baseada na teoria crítica da sociedade e no conceito de 
reconhecimento. Ele não vê o reconhecimento como uma orientação moral, mas 
 
 
39 ALEXY, R. Principais elementos de uma teoria da dupla natureza do direito. Revista de Direito 
Administrativo, [S. l.], v. 253, 2010. Disponível em: 
https://periodicos.fgv.br/rda/article/view/8041. Acesso em: 30 abr. 2024. 
40 ALEXY, R. Principais elementos de uma teoria da dupla natureza do direito. Revista de Direito 
Administrativo, [S. l.], v. 253, 2010. Disponível em: 
https://periodicos.fgv.br/rda/article/view/8041. Acesso em: 30 abr. 2024. 
 
 
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sim como a descrição de como as demandas por justiça surgem socialmente a 
partir do sentimento de injustiça causado por um desrespeito moral. 
Para Honneth, o sentimento de injustiça desempenha um papel 
importante na análise do Direito. Ele o considera um tipo de respeito cognitivo 
pela capacidade de responsabilidade moral que um ator social experimenta 
quando enfrenta uma situação de desrespeito jurídico41. 
Honneth concebe uma conexão entre justiça e liberdade individual 
que transcende a historicidade factual, afastando a vontade da comunidade ou 
a ordem natural como fonte da justiça. Ele coloca a liberdade individual como a 
base fundamental de todas as ideias de justiça42. 
O modelo ético de justiça proposto por Honneth é inspirado no 
conceito de justiça social encontrado na filosofia hegeliana do direito. Ele parte 
do conceito hegeliano de eticidade formal, que representa uma concepção 
intermediária entre a moral kantiana presente no projeto atomista liberal e a ética 
comunitarista, que defende a formação natural espontânea de valores em uma 
comunidade como a única forma de vida boa que não aceita críticas externas43. 
Para analisar todas essas categorias, Honneth desenvolve sua 
própria metodologia, chamada reconstrução normativa. Esse processo busca 
implantar as intenções normativas de uma teoria da justiça por meio da teoria da 
sociedade, destacando as dimensões normativas presentes nas sociedades 
ocidentais. Ele distingue entre normas justas imanentes ao contexto e normas 
transcendentais a ele, sendo importante que essas normas reivindiquem 
 
 
41 HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Martins 
Fontes, 2015. 
42 HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Martins 
Fontes, 2015. 
43 HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Martins 
Fontes, 2015. 
 
 
 
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validade para uma comunidade específica e suas autocompreensões e 
instituições específicas44. 
Honneth acredita que uma teoria da justiça baseada na reconstrução 
normativa deve defender, em nome da autonomia individual, não apenas um 
princípio normativo, mas três princípios, dependendo da esfera social em 
questão: o princípio da igualdade deliberativa, o princípio da justiça das 
necessidades e o princípio da justiça do desempenho45. 
Neste sentido, o papel da reconstrução normativa é racionalizar 
valores historicamente contextualizados em relação a determinados institutos 
jurídicos, avaliando a justiça ou injustiça de uma relação específica, como uma 
relação de emprego, por exemplo, sem necessariamente questionar ou criticar a 
instituição do trabalho assalariado em si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Martins 
Fontes, 2015. 
45 HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São Paulo: Martins 
Fontes, 2015. 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
 
Em conclusão, explorando os fundamentos da Teoria Geral do Direito 
adquire-se um sólido conhecimento sobre conceitos iniciais do Direito, a Ciência 
do Direito, as teorias da norma jurídica, da interpretação do Direito e da justiça. 
Esses temas são essenciais para compreensão do funcionamento do 
sistema jurídico e sua relação com a sociedade. Esperamos que esta apostima 
tenha fornecido uma base sólida para que você aprofunde seus estudos e 
aplique o conhecimento adquirido de forma ética e justa. 
Que a Teoria Geral do Direito seja um guia constante em sua jornada 
acadêmica e profissional, contribuindo para uma sociedade mais justa e 
equitativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
ALEXY, R. Principais elementos de uma teoria da dupla natureza do 
direito. Revista de Direito Administrativo, [S. l.], v. 253, 2010. Disponível em: 
https://periodicos.fgv.br/rda/article/view/8041. Acesso em: 30 abr. 2024. 
 
BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica.Tradução de Ariani Bueno Sudatti 
e Fernando Pavan Baptista. São Paulo: Edipro, 2016. 
 
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: Editora 
Universidade de Brasília, 2019. 
 
CAMILLO, Carlos. Manual da teoria geral do direito. São Paulo: Almedina, 
2019. 
 
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito: 
Introdução à Teoria Geral do Direito, à Filosofia do Direito, à Sociologia Jurídica, 
à Norma Jurídica e Aplicação do Direito. 28. ed. - São Paulo: SaraivaJur, 2023. 
 
DWORKIN, Ronald. Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. 
Coimbra: Almedina, 2012. 
 
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 
2019. 
 
DWORKING, Ronald. O império do direito. Traduzido por Jefferson Luiz 
Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
 
HART, H.L.A. O conceito de direito. Trad. por Ribeiro Mendes. Lisboa: 
Fundação Calouste Gulbenkian, s/d. p. 100. 
 
HONNETH, Axel. O direito da liberdade. Tradução de Saulo Krieger. São 
Paulo: Martins Fontes, 2015. 
 
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 
6ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito: justiça; lei; 
faculdade; fato social; ciência. 33. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 
2016, p. 553 e ss 
 
 
 
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PERELMAN, Chaim. Ética e direito. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São 
Paulo: Martins Fontes, 1996. 
 
POUND, Roscoe. Introdução à filosofia do direito. Rio de Janeiro: Zahar, 
1965. 
 
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. 
R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 
 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 
2019. 
 
ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução e notas de Edson Bini. São Paulo, Edipro, 
2021.material, e os da terceira dimensão estão relacionados à fraternidade ou 
solidariedade, abrangendo o desenvolvimento, o meio ambiente, a 
autodeterminação dos povos e outros direitos de caráter global. A concretização 
desses direitos implica na redistribuição de recursos na sociedade, visando ao 
progresso e à melhoria das condições de vida. 
 
O direito e as outras ordenações normativas 
 
O Direito é uma das diversas ordenações normativas que existem na 
sociedade. Além do Direito, existem outras formas de normas que regulam a 
conduta humana, tais como as normas morais, religiosas e de trato social. 
As normas jurídicas são aquelas estabelecidas pelo sistema legal de 
um país ou comunidade, e são aplicáveis a todos os cidadãos dentro de sua 
jurisdição. Elas são criadas por meio de processos legislativos ou outras fontes 
do direito, como a jurisprudência e os costumes. O cumprimento das normas 
 
 
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jurídicas é obrigatório e coercitivo, ou seja, o não cumprimento pode acarretar 
sanções legais, como multas, prisão ou outras consequências estabelecidas 
pela lei. 
Por outro lado, as normas morais são baseadas em valores e 
princípios éticos, e têm como objetivo orientar o comportamento das pessoas em 
relação ao que é considerado certo ou errado, bom ou mau. Elas não são 
impostas pelo Estado, mas são internalizadas pela sociedade e influenciam as 
decisões e ações individuais. O cumprimento das normas morais é voluntário e 
baseado na consciência e na avaliação pessoal do que é moralmente correto. 
As normas religiosas são aquelas estabelecidas pelas religiões e têm 
como base os preceitos e ensinamentos religiosos. Elas podem abranger uma 
ampla gama de aspectos da vida, desde questões morais até rituais e práticas 
religiosas. O cumprimento das normas religiosas é geralmente considerado uma 
obrigação para os fiéis e é guiado pela fé e pela crença religiosa. 
As normas de trato social são aquelas que regem as interações 
cotidianas entre as pessoas em uma determinada sociedade. Elas incluem 
normas de etiqueta, boas maneiras, cortesia, respeito mútuo e outras formas de 
comportamento socialmente aceitas. O cumprimento dessas normas é 
geralmente espontâneo e baseado na noção de convivência harmoniosa e 
respeito mútuo. 
Embora o Direito seja uma forma importante de ordenação normativa 
que possui características próprias, ele coexiste e interage com outras 
ordenações normativas, como as normas morais, religiosas e de trato social. 
Essas diferentes formas de normas desempenham papéis distintos na sociedade 
e influenciam o comportamento humano de maneiras diferentes6. 
 
 
 
 
6 CAMILLO, Carlos. Manual da teoria geral do direito. São Paulo: Almedina, 2019. 
 
 
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Fontes do Direito 
 
A teoria geral das fontes do Direito trata da origem, expressão e 
criação das normas jurídicas. Ela busca responder às perguntas sobre de onde 
provém o Direito e como podemos saber se uma determinada regra é obrigatória 
ou não. O estudo das fontes é essencial para compreender a estrutura e 
funcionamento do Direito. 
Existem diferentes abordagens e perspectivas em relação às fontes 
do Direito. Algumas delas são: 
Sentido sociológico-jurídico, de maneira que as fontes do Direito são 
entendidas como os fatos sociais que dão origem ao Direito. Envolve a análise 
dos elementos sociais, históricos, políticos e econômicos que influenciam na 
criação das normas jurídicas. 
Sentido ético, pelo qual as fontes do Direito são vistas como o 
fundamento do dever moral de obedecer ao Direito. Envolve a análise dos 
princípios éticos e morais que sustentam a autoridade e a legitimidade das 
normas jurídicas. 
Sentido teórico-jurídico, em que as fontes do Direito são consideradas 
os critérios que permitem o conhecimento do Direito. As fontes formais são os 
meios pelos quais as normas são reveladas e expressas. Elas nos permitem 
saber que algo é Direito. Existe também a importância da norma fundamental, 
que é a base para a validade das demais normas do sistema jurídico. 
Perspectiva fática, sendo que, para Herbert Hart, as fontes do Direito 
são entendidas como a origem da normatividade jurídica que é seguida pelos 
cidadãos, legisladores e juízes. Isso ocorre por meio das regras de 
reconhecimento, que são práticas sociais que conferem validade a um sistema 
concreto de normas. 
Já pela argumentação de Ronald Dworkin, o respeito ao Direito não 
se deve apenas à seriedade jurídica, mas também à garantia de igualdade de 
 
 
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tratamento entre as pessoas. Nesse sentido, o Direito adquire legitimidade 
moral. 
As fontes do Direito podem ser entendidas de forma ampla ou restrita. 
Em um sentido amplo, elas englobam os meios ou modelos pelos quais o Direito 
é revelado, expressado ou produzido. Isso envolve a criação, modificação e 
revogação das normas em um determinado sistema jurídico. Em um sentido 
restrito, as fontes podem ser consideradas apenas os meios formais de produção 
jurídica, ou seja, os métodos pelos quais as normas são criadas. 
As fontes do Direito podem ser classificadas em materiais e formais. 
As fontes materiais são os fundamentos que influenciam a criação, modificação 
ou revogação das normas, como aspectos morais, éticos, econômicos, políticos, 
sociais, históricos, jurídicos e religiosos. Já as fontes formais referem-se aos 
canais pelos quais as fontes materiais se manifestam, ou seja, os meios pelos 
quais as normas são reveladas e expressas. 
No âmbito estatal, as fontes do Direito são aquelas que derivam da 
atuação do Estado. Elas podem ser subdivididas em fontes legislativas (leis, 
decretos, regulamentos), fontes jurisprudenciais (pronunciamentos judiciais, 
precedentes, súmulas) e fontes estatais convencionais (convenções 
internacionais). Por outro lado, as fontes não estatais não derivam da atuação 
do Estado e incluem os costumes jurídicos, a fonte negocial (contratos, pactos) 
e a doutrina (estudos e interpretações jurídicas). 
Neste sentido, as fontes do Direito são os meios pelos quais as 
normas jurídicas são reveladas, expressadas e produzidas. Elas abrangem tanto 
a cognição, ou seja, a capacidade de reconhecer se uma norma pertence a um 
determinado sistema jurídico e se é válida, quanto a criação e modificação das 
normas em si. As fontes podem ser entendidas de diferentes perspectivas, 
incluindo sociológica, ética, teórica-jurídica e fática 
As fontes do Direito em espécie referem-se aos meios específicos 
pelos quais as normas jurídicas são produzidas ou reveladas. Existem diversas 
 
 
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fontes do Direito, e cada sistema jurídico pode ter suas próprias peculiaridades. 
A seguir, são apresentadas algumas das principais fontes do Direito em espécie: 
A legislação é uma das fontes mais importantes do Direito. As leis são 
produzidas pelo poder legislativo de um país, que pode ser representado pelo 
parlamento, congresso ou assembleia legislativa. A legislação inclui as 
constituições, códigos, estatutos, regulamentos e outras normas de caráter geral 
e abstrato. 
A jurisprudência refere-se às decisões dos tribunais, que interpretam 
e aplicam as leis em casos concretos. As decisões judiciais estabelecem 
precedentes, ou seja, orientações para casos semelhantes que serão julgados 
posteriormente. A jurisprudência é especialmente relevante em sistemas 
jurídicos de common law, onde a tradição jurisprudencial desempenha um papel 
fundamental na formação do Direito. 
Os costumes são práticas e padrões de comportamento que são 
aceitos e seguidos por um determinado grupo social ao longo do tempo. Em 
alguns sistemas jurídicos, os costumes podem ser reconhecidos como fonte de 
Direito, desde que atendam a certos requisitos, como a generalidade, a 
continuidade e a obrigatoriedade. Os costumes podem coexistir e complementar 
as normas legislativas. 
Os tratados internacionaissão acordos celebrados entre dois ou mais 
Estados soberanos. Eles podem estabelecer regras e obrigações legais para os 
países envolvidos. Os tratados internacionais podem ser incorporados ao 
ordenamento jurídico de um Estado, tornando-se parte das leis nacionais. 
A doutrina compreende os estudos, as interpretações e as opiniões 
dos juristas, acadêmicos e estudiosos do Direito. Através de obras doutrinárias, 
como livros, artigos e teses, os juristas contribuem para a compreensão e a 
evolução do Direito, oferecendo análises e interpretações sobre questões 
jurídicas. 
 
 
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Além dessas fontes principais, existem outras fontes secundárias que 
também podem influenciar o Direito, como os princípios gerais do Direito e as 
decisões de órgãos administrativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. CIÊNCIA DO DIREITO 
 
A formação do conhecimento científico é um processo que envolve a 
busca por respostas e explicações rigorosas e objetivas para as questões que 
surgem. Existem duas formas de conhecimento: o conhecimento comum ou 
vulgar e o conhecimento científico. 
O conhecimento comum ou vulgar é adquirido de maneira espontânea 
ou através da repetição de experiências e práticas. Ele é superficial, prático e 
não está sistematizado. Não há preocupação em questioná-lo ou buscar as 
causas e fenômenos subjacentes. A linguagem utilizada no conhecimento 
comum é ordinária e muitas vezes vaga e imprecisa. 
Já o conhecimento científico é sistematizado, baseado em afirmações 
rigorosas e objetivas que buscam responder questões diversas de forma lógica 
e racional. Ele é representado por teorias estruturadas e utiliza uma linguagem 
científica precisa. As afirmações do conhecimento científico podem ser testadas 
por meio de experimentação, podendo ser refutadas, alteradas ou comprovadas. 
O conhecimento científico é produzido por cientistas que observam e estudam, 
formulando hipóteses que se transformam em leis. 
A metodologia desempenha um papel fundamental na formação do 
conhecimento científico. Ela fornece os caminhos e diretrizes para alcançar 
explicações e resultados científicos. A metodologia orienta a forma como o 
conhecimento científico é obtido, organizado e demonstrado. 
É importante destacar a diferença entre epistemologia e ciência. A 
epistemologia é o estudo dos postulados, conclusões e métodos das teorias 
científicas, enquanto a ciência busca transformar fatos enigmáticos em 
conhecimento por meio da sistematização e organização dos fenômenos 
relacionados. 
Quanto ao Direito, existem diferentes perspectivas sobre sua 
cientificidade. Alguns afirmam que o Direito não pode ser considerado uma 
ciência devido à mutabilidade de seu objeto ao longo do tempo e do espaço, o 
 
 
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que dificultaria a exatidão na construção científica. Por outro lado, a maioria 
considera o Direito uma ciência, argumentando que ele possui características 
próprias do conhecimento científico, como sistematicidade e metodologia. A 
sistematização do conhecimento jurídico é um forte argumento para afirmar sua 
cientificidade. 
Na ciência do Direito, a linguagem desempenha um papel 
fundamental. Ela é predominantemente escrita, mas também pode utilizar 
símbolos e sinais. O Direito é mais do que um conjunto de normas; é um discurso 
composto por diferentes entidades linguísticas, cuja compreensão requer uma 
investigação sobre o uso da linguagem. 
Enquanto o direito positivo utiliza uma linguagem prescritiva, 
prescrevendo condutas e comportamentos, a ciência do Direito utiliza um 
discurso descritivo, destinado a descrever, explicar, interpretar e integrar as 
normas jurídicas. O operador do Direito deve utilizar uma linguagem técnica e 
científica para evitar imprecisões e obscuridades. 
O objeto da ciência do Direito é o fenômeno jurídico. Isso engloba 
qualquer fato social que, por alguma razão, repercute na esfera jurídica, 
produzindo efeitos e consequências jurídicas. Por exemplo, o nascimento de 
uma criança é um fato social comum, mas tem repercussões jurídicas, 
demarcando o início da personalidade civil da pessoa e acarretando uma série 
de direitos e prerrogativas. 
É importante ressaltar que nem todos os fatos regulados ou 
normatizados são relevantes para a ciência do Direito. Por exemplo, o afeto, que 
não está expressamente regulado no Código Civil ou em legislação específica, 
tem ganhado importância e valor jurídico. O estabelecimento de relacionamentos 
estáveis, sólidos e harmoniosos baseados em afeto e afinidade pode ser 
considerado um fato jurídico, pois suas consequências têm relevância no 
ordenamento jurídico. 
Assim, a ciência do Direito estuda não apenas as normas jurídicas, 
mas também os fenômenos sociais e a valoração desses fenômenos. Ela busca 
 
 
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compreender o objeto real e a matéria-prima do direito, analisando sua interação 
com os fatos sociais e suas implicações jurídicas7. 
A ciência do Direito desempenha várias funções relevantes, que 
podem ser apontadas da seguinte forma: 
Função decisória, cuja execução ocorre através dos profissionais do 
Direito, como juízes, delegados de polícia, promotores de justiça, advogados e 
procuradores. Consiste em interpretar e aplicar as normas jurídicas para 
solucionar conflitos, tomar decisões e orientar estratégias legais. A função 
decisória busca encontrar normas dentro do sistema jurídico para resolver 
questões específicas ou compreender fenômenos jurídicos. 
Função sistemática, intimamente relacionada à solução de problemas 
relacionados às fontes do direito, ao sujeito do direito, ao direito subjetivo e à 
relação jurídica. O jurista utiliza a análise e a sistematização do Direito para 
alcançar possíveis soluções. Essa função busca compreender o Direito como um 
sistema coerente, completo e lógico, construído pelo jurista. 
Função hermenêutica, que envolve a interpretação e integração 
jurídica. É uma atividade presente em todas as atividades essencialmente 
jurídicas. A interpretação busca o verdadeiro sentido e alcance das regras 
jurídicas para a solução de casos concretos. A integração ocorre quando há 
lacunas no ordenamento jurídico e o jurista recorre a métodos de autointegração 
(analogia) ou hétero-integração (costumes, princípios gerais do direito) para 
preenchê-las. 
Função social, pois o Direito não é apenas um conjunto de regras 
burocráticas, mas também uma ordenação cultural permeada por valores 
fundamentais. A função social do Direito é evidente, pois busca regular a vida 
em sociedade, resolver conflitos, promover segurança jurídica e atender a 
 
 
7 DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito: Introdução à Teoria 
Geral do Direito, à Filosofia do Direito, à Sociologia Jurídica, à Norma Jurídica e Aplicação do 
Direito. 28. ed. - São Paulo: SaraivaJur, 2023. 
 
 
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questões significativas na vida humana. O Direito contribui para atenuar 
conflitos, garantir a segurança jurídica, afirmar a democracia e transformar 
situações fáticas com implicações jurídicas, como o reconhecimento da 
paternidade. 
Desta forma, a ciência do Direito possui funções decisórias, 
sistemáticas, hermenêuticas e sociais. Ela desempenha um papel prático ao 
solucionar conflitos, organizar a sociedade e legitimar o Estado de Direito, além 
de buscar a coerência, completude e compreensão do sistema jurídico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. TEORIAS DO PENSAMENTO JURÍDICO 
 
As teorias do pensamento jurídico são abordagens filosóficas e 
doutrinárias que buscam compreender a natureza, o fundamento e a validade do 
Direito. Entre as principais teorias, destacam-se o jusnaturalismo, o 
juspositivismo e o pós-positivismo. 
O jusnaturalismo parte da ideia de que existem princípiose valores 
universais e imutáveis que fundamentam o Direito. Esses princípios são 
considerados "direito natural" e são superiores às leis positivas criadas pelos 
seres humanos. De acordo com essa teoria, o Direito deve estar em 
conformidade com esses princípios para ser válido e legítimo. O jusnaturalismo 
defende a existência de direitos inalienáveis e inerentes ao ser humano, como a 
vida, a liberdade e a propriedade, que não podem ser negados pelas leis 
positivas. 
O juspositivismo se baseia na ideia de que o Direito é um fenômeno 
social e seu fundamento reside nas normas criadas pelo poder humano. 
Segundo essa teoria, a validade e a legitimidade do Direito estão vinculadas à 
sua criação por autoridades competentes e à sua obediência pelos cidadãos. As 
normas jurídicas são estabelecidas por meio de um processo legislativo ou por 
outras formas de criação normativa reconhecidas pelo sistema jurídico. O 
juspositivismo considera que a moral e os valores pessoais não são elementos 
necessários para determinar a validade do Direito, que é um sistema autônomo 
e desvinculado de juízos de valor. 
O pós-positivismo surge como uma crítica ao juspositivismo, 
buscando superar suas limitações. Essa corrente reconhece a importância das 
normas positivas na estruturação do Direito, mas também defende que a 
interpretação e a aplicação do Direito devem levar em conta outros elementos 
além das normas escritas. O pós-positivismo incorpora elementos como a moral, 
a justiça, os valores sociais e os princípios fundamentais para a compreensão e 
aplicação do Direito. Essa abordagem reconhece a necessidade de 
 
 
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interpretação das normas e considera que o Direito é influenciado por fatores 
sociais, históricos, políticos e culturais. 
É importante ressaltar que essas teorias não são mutuamente 
exclusivas e podem coexistir em diferentes graus e abordagens no estudo e 
prática do Direito. Cada uma delas oferece uma perspectiva distinta sobre a 
natureza e a validade do Direito, contribuindo para o debate e o desenvolvimento 
da ciência jurídica8. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 CAMILLO, Carlos. Manual da teoria geral do direito. São Paulo: Almedina, 2019. 
 
 
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4. TEORIA DA NORMA JURÍDICA 
 
Conceito de norma 
 
O conceito de norma envolve um enunciado prescritivo e obrigatório. 
Enunciado é uma construção linguística que afirma ou nega algo a algum sujeito 
e pode descrever, prescrever ou expressar. No contexto das normas, um 
enunciado é considerado prescritivo quando estabelece que algo deve ou não 
deve ser feito, enquanto é obrigatório quando a desobediência a ele é passível 
de crítica ou sanção. 
Do ponto de vista lógico, as normas podem ser classificadas em três 
tipos principais: normas que obrigam, normas que proíbem e normas que 
permitem. 
As normas que obrigam estabelecem que certas ações ou 
comportamentos devem ser realizados ou seguidos. Elas impõem uma 
obrigação de agir de acordo com o que é estabelecido. 
Já as normas que proíbem estabelecem que certas ações ou 
comportamentos são proibidos ou não devem ser realizados. Elas impõem uma 
proibição de agir de acordo com o que é estabelecido. 
Por sua vez, as normas que permitem estabelecem que certas ações 
ou comportamentos são permitidos ou podem ser realizados. Elas concedem 
uma permissão para agir de acordo com o que é estabelecido. 
Além disso, segundo a visão de Norberto Bobbio, as normas podem 
ser classificadas logicamente como gerais e abstratas9: 
Normas gerais referem-se ao destinatário ou sujeito da norma. Elas 
se dirigem a uma classe de pessoas, estabelecendo obrigações, proibições ou 
 
 
9 BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica.Tradução de Ariani Bueno Sudatti e Fernando 
Pavan Baptista. São Paulo: Edipro, 2016. 
 
 
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permissões que se aplicam a todos os membros dessa classe. Normas gerais 
são opostas às normas individuais, que são direcionadas a uma pessoa 
específica. 
Normas abstratas, por sua vez, referem-se ao objeto ou 
comportamento regulado pela norma. Elas estabelecem regras e princípios que 
se aplicam a uma classe de ações ou situações, independentemente dos 
detalhes específicos de cada caso. Normas abstratas são opostas a normas 
concretas, que tratam de situações específicas e detalhadas. 
Essas classificações ajudam a entender a abrangência e o nível de 
especificidade das normas, contribuindo para a compreensão do seu alcance e 
aplicação em diferentes contextos. 
 
A norma jurídica como a proposição normativa do dever ser em Kelsen 
 
A norma jurídica se afigura como a principal referência de todas as 
teorias positivistas do Direito, encontrando na Teoria Pura de Direito em Hans 
Kelnsen a sua mais perfeita tradução de elemento base do dever ser. 
Para Kelsen, enquanto o "ser" refere-se ao mundo natural, explicado 
pelas ciências naturais e baseado em proposições verdadeiras ou falsas, o 
"dever ser" diz respeito ao Direito em si e, em particular, às normas jurídicas 
dotadas de poder coercitivo10. 
O mundo do "dever ser" é de importância central para o Direito, sendo 
composto por uma série de prescrições normativas que regulam o 
comportamento das pessoas e do Estado. O conteúdo dessas prescrições 
representa um tipo de comando ou mandamento, que só pode ser compreendido 
 
 
10 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 6ª. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
 
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e especificado através de uma proposição, ou seja, um conjunto de palavras que 
têm um significado no seu todo, formando um tipo de juízo. 
Uma vez que esse comando é construído a partir de uma proposição 
prescritiva ou diretiva, não pode ser avaliado pelos critérios de certo ou errado, 
verdadeiro ou falso. A avaliação dessas proposições prescritivas ou diretivas só 
pode ser feita através das categorias próprias da ciência do Direito, ou seja, se 
são justas ou injustas, válidas ou inválidas. 
Kelsen associa o sinal da validade à norma jurídica, que implica sua 
obrigação, e sustenta que não pode haver sinonímia absoluta entre norma 
jurídica (rechtsnorm) e proposição jurídica ou normativa (rechtssatz). Enquanto 
as proposições jurídicas são juízos hipotéticos que determinam certas 
consequências conforme o sentido de uma ordem jurídica, as normas jurídicas 
não são juízos hipotéticos, mas enunciados e mandamentos que se apresentam 
como comandos, imperativos, permissões e atribuições de poder ou 
competência11. 
Uma proposição normativa ou jurídica utiliza a linguagem descritiva, 
enquanto a norma jurídica necessariamente utiliza a linguagem prescritiva, 
embora ambas representem juízos do "dever ser". 
Sob a perspectiva do normativismo jurídico, apenas podem ser 
consideradas normas jurídicas aquelas que são acompanhadas por uma coação 
externa organizada e legítima, ou seja, apenas as normas emanadas de 
autoridade competente e os pronunciamentos judiciais concretos que contenham 
uma sanção como consequência do comportamento que não cumprir 
espontaneamente os comandos contidos nessas prescrições. 
Com base na concepção de Kelsen, é claro que todas as proposições 
desprovidas de sanção devem ser excluídas do âmbito do conceito de norma. 
 
 
11 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 6ª. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
 
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Críticas de Hart e Dworkin 
 
Herbert Hart propôs uma abordagem diferente em relação à 
concepção do Direito em relação ao modelo de ordens coercivas do soberano. 
Ele introduziu a distinção entre regras primárias e regras secundárias como uma 
forma de redefinir o Direito12. 
As regras primárias, também conhecidas como regras de conduta, 
são as determinações de comportamento que estão associadas a sanções. Elas 
podem obrigar, proibir ou permitir certas ações.Essas regras primárias 
estabelecem uma forma simples de controle social, onde a obediência às normas 
é reforçada pelas sanções impostas em caso de descumprimento. 
No entanto, Hart argumentou que as regras primárias não são 
suficientes para compreender plenamente o Direito. Ele introduziu as regras 
secundárias, também conhecidas como regras de estrutura, que regulam o uso 
das outras normas13. Essas regras secundárias têm três funções principais: 
regras de reconhecimento, regras de transformação e regras de aplicação. 
As regras de reconhecimento ou identificação estabelecem critérios 
para identificar as normas jurídicas válidas dentro de uma determinada 
comunidade. Elas determinam como reconhecer o Direito válido, como as 
normas são promulgadas e quais fontes são consideradas autoritativas. 
Já as regras de transformação regulam o processo de criação, 
modificação e eliminação das normas jurídicas. Essas regras determinam como 
novas normas são produzidas, como as leis são alteradas ou revogadas e como 
as regras jurídicas podem ser eliminadas. 
 
 
12 HART, H.L.A. O conceito de direito. Trad. por Ribeiro Mendes. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, s/d. 
13 HART, H.L.A. O conceito de direito. Trad. por Ribeiro Mendes. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, s/d. 
 
 
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Por sua vez, as regras de adjudicação ou aplicação estabelecem o 
processo de interpretação e aplicação das normas jurídicas em casos concretos. 
Elas definem como os tribunais e outras autoridades interpretam e aplicam as 
normas às situações específicas, garantindo coerência e previsibilidade no 
sistema jurídico. 
Essas regras secundárias complementam as regras primárias, 
fornecendo uma estrutura mais abrangente para entender o Direito e seu 
funcionamento. A abordagem de Hart com as regras primárias e secundárias 
permitiu uma compreensão mais sofisticada da natureza do Direito e da sua 
aplicação prática. 
A concepção de Hart foi criticada por Ronald Dworkin, especialmente 
em relação à distinção entre regras e princípios jurídicos. Dworkin argumentou 
que a abordagem de Hart não levava em consideração adequadamente essa 
distinção lógica entre regras e princípios. 
Dworkin contestou a ideia de que uma regra pode ser obrigatória 
simplesmente por ser aceita ou válida. Ele argumentou que essa perspectiva 
conceitual negligencia a natureza dos princípios jurídicos. Dworkin acreditava 
que as regras e os princípios são distintos e desempenham papéis diferentes na 
estrutura do Direito14. 
Dworkin sustentou que nem todos os elementos da teoria de Hart 
podem ser considerados normas jurídicas no sentido estrito. Ele argumentou que 
algumas das características identificadas por Hart se aproximam mais de 
padrões de regras ou políticas do que de normas jurídicas15. 
Enquanto as regras são concebidas como normas que são válidas ou 
inválidas e estão associadas a consequências coercitivas, Dworkin afirmou que 
 
 
14 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas de Nelson Boeira. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002. 
15 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas de Nelson Boeira. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002. 
 
 
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os princípios nem sempre têm consequências jurídicas que seguem 
automaticamente quando as condições são satisfeitas. Dworkin propôs um 
modelo em que as regras levam em conta o papel dos princípios nos argumentos 
sobre o que é ou não Direito, reconhecendo a importância dos princípios jurídicos 
na interpretação e aplicação do Direito16. 
As críticas de Dworkin a Hart contribuíram para o desenvolvimento da 
teoria do Direito como integridade, na qual ele enfatiza a importância dos 
princípios e argumenta que a coerência e a consistência são fundamentais para 
a interpretação e aplicação do Direito17. 
 
Disposição e norma 
 
Uma disposição é qualquer enunciado que faça parte de um 
documento normativo, como leis, decretos ou a Constituição. São os textos 
escritos que contêm regras e diretrizes para regular determinadas questões. 
Por outro lado, uma norma é o sentido ou significado atribuído a uma 
disposição. A norma é o resultado da interpretação do texto normativo, ou seja, 
é o entendimento que se extrai da disposição por meio de um processo 
interpretativo. 
É importante destacar que a norma não é o objeto da interpretação, 
mas sim o resultado dela. O objeto da interpretação é a disposição em si, o 
enunciado presente no texto normativo. A interpretação busca compreender e 
atribuir sentido às disposições normativas, a fim de determinar as obrigações, 
proibições ou permissões que elas estabelecem. 
 
 
16 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas de Nelson Boeira. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002. 
17 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas de Nelson Boeira. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002. 
 
 
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Dessa forma, a norma a ser aplicada em uma situação depende da 
interpretação realizada sobre a disposição correspondente no texto normativo. A 
interpretação do Direito é um processo complexo que envolve diversos métodos 
e princípios interpretativos, visando alcançar uma compreensão adequada das 
normas jurídicas e sua aplicação prática. 
 
Critério de valoração da norma jurídica 
 
A norma jurídica pode ser avaliada de acordo com três critérios 
distintos e independentes: validade, eficácia e justiça. 
A norma é considerada válida quando é produzida de acordo com as 
competências estabelecidas pela Constituição ou outras fontes do Direito, 
seguindo os processos adequados e respeitando os requisitos formais. 
A norma será eficaz quando é capaz de ser aplicada e cumprida de 
forma geral, alcançando os objetivos pretendidos. A eficácia pode ser afetada 
por fatores como a adequação da norma às condições sociais, a existência de 
mecanismos de controle e sanção efetivos, entre outros. 
Já a justiça da norma, refere-se ao conteúdo material da norma e à 
sua conformidade com os princípios e valores de justiça. Uma norma é 
considerada justa quando está em consonância com princípios éticos, morais e 
valores fundamentais da sociedade. A avaliação da justiça de uma norma pode 
envolver questões de equidade, igualdade, proteção dos direitos fundamentais, 
distribuição de recursos, entre outros aspectos. 
Esses critérios podem ser considerados independentes, o que 
significa que uma norma pode ser válida e eficaz, mas não necessariamente 
justa. Da mesma forma, uma norma pode ser considerada justa, mas não ser 
eficaz ou válida. A avaliação da norma sob esses critérios é realizada de acordo 
 
 
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com diferentes perspectivas e pode variar dependendo do contexto e dos valores 
envolvidos18. 
 
Regras e princípios 
 
As normas jurídicas podem ser de dois tipos: regras ou princípios. Os 
conceitos de regras e princípios são importantes para compreender as diferentes 
características e aplicação das normas jurídicas. 
As regras têm um caráter hipotético-condicional, ou seja, estabelecem 
condições específicas para sua aplicação. Elas identificam uma situação fática 
(fattispecie normativa) e preveem as consequências jurídicas que devem ocorrer 
quando essa situação se materializa. Por outro lado, os princípios não possuem 
um caráter hipotético-condicional tão específico, sendo formulados de forma 
mais genérica. 
As regras são aplicadas de forma tudo-ou-nada, ou seja, ou elas se 
aplicam completamente ou não se aplicam. Uma vez que as condições para a 
aplicação de uma regra são cumpridas, suas consequências jurídicas são 
acionadas integralmente. Já os princípios possuem um modo de aplicação mais 
flexível, onde são ponderados e equilibrados em relação a outros princípios ou 
circunstâncias específicas do caso. 
Quando há um conflito entre regras, geralmente uma prevalece sobre 
a outra por meio de técnicas de hierarquiaou especialidade. No caso dos 
princípios, eles não são automaticamente hierarquizados, mas podem ser 
ponderados e sopesados, considerando-se as circunstâncias e as 
particularidades do caso concreto. 
 
 
18 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: Editora Universidade 
de Brasília, 2019. 
 
 
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As regras são geralmente fundamentadas em critérios de validade, 
como procedimentos formais, competência legislativa, entre outros aspectos. Os 
princípios, por sua vez, possuem um fundamento axiológico, ou seja, estão 
baseados em valores e princípios éticos, morais e constitucionais. 
Esses critérios ajudam a diferenciar as regras dos princípios e a 
compreender suas respectivas características e aplicação no contexto do 
sistema jurídico. É importante notar que regras e princípios não são mutuamente 
exclusivos, e muitas vezes coexistem dentro de um mesmo ordenamento 
jurídico, fornecendo diretrizes complementares para a interpretação e aplicação 
do Direito. 
 
 
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5. TEORIAS DA INTERPRETAÇÃO DO DIREITO 
 
Elementos da interpretação 
 
Na interpretação jurídica, três elementos fundamentais estão 
envolvidos: o objeto, o intérprete e o interpretante. Esses elementos 
desempenham papéis distintos e interagem entre si no processo de 
compreensão e aplicação do direito. 
O objeto da interpretação jurídica é o próprio texto legal, seja uma lei, 
um contrato, uma Constituição ou qualquer outra fonte normativa. O objeto 
consiste nas palavras e expressões contidas no texto normativo, que devem ser 
compreendidas e atribuir-lhes um sentido. 
O intérprete é a pessoa encarregada de interpretar o texto legal. Pode 
ser um juiz, advogado, jurista ou qualquer pessoa responsável por aplicar o 
direito. O intérprete utiliza suas habilidades e conhecimentos jurídicos para 
compreender o sentido e o alcance do texto normativo. 
O interpretante é o resultado da interpretação, ou seja, é a 
compreensão que o intérprete faz do objeto. É a relação que o intérprete 
estabelece entre o texto legal e sua significação. O interpretante pode ser uma 
decisão judicial, um parecer jurídico ou qualquer outro produto resultante da 
interpretação do intérprete. 
Esses elementos estão intrinsecamente relacionados no processo de 
interpretação jurídica. O intérprete analisa o objeto (texto legal), utiliza suas 
habilidades interpretativas e conhecimentos jurídicos para chegar a um 
interpretante, ou seja, uma compreensão do sentido do texto. Esse interpretante 
pode, por sua vez, influenciar futuras interpretações e aplicação do direito. 
 
 
 
 
 
 
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Teorias da interpretação 
 
As teorias da interpretação buscam explicar e fundamentar os 
diferentes métodos e abordagens utilizados na interpretação do direito. Entre as 
principais teorias da interpretação estão a cognitivista, a cética e a eclética: 
A Teoria Cognitivista considera que a interpretação tem como objetivo 
alcançar o verdadeiro sentido e alcance do texto legal. Os defensores dessa 
teoria acreditam que existe uma verdade única contida no texto normativo e que 
o intérprete deve descobri-la por meio de métodos e técnicas adequadas. Para 
os cognitivistas, a interpretação é um processo objetivo e racional que busca 
compreender a vontade do legislador e aplicar a norma de acordo com essa 
intenção. 
A Teoria Cética da interpretação questiona a possibilidade de se 
alcançar uma verdade única e objetiva por meio da interpretação do direito. Os 
céticos argumentam que os textos legais são ambíguos e que diferentes 
interpretações são igualmente válidas. Segundo essa perspectiva, o significado 
do texto normativo é incerto e depende da subjetividade do intérprete, suas 
experiências e perspectivas pessoais. Os céticos enfatizam a importância do 
contexto social, histórico e cultural na interpretação do direito. 
A Teoria Eclética busca combinar elementos das teorias cognitivista 
e cética, reconhecendo que a interpretação jurídica envolve tanto aspectos 
objetivos quanto subjetivos. Os defensores dessa teoria reconhecem a 
importância de identificar a intenção do legislador e o significado literal do texto 
legal, mas também consideram relevante o contexto em que a norma é aplicada 
e as consequências práticas das diferentes interpretações. A teoria eclética 
busca um equilíbrio entre a busca da verdade e a necessidade de flexibilidade e 
adaptação do direito às mudanças sociais e culturais. 
É importante ressaltar que essas teorias representam diferentes 
abordagens e perspectivas sobre a interpretação do direito. 
 
 
 
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Métodos de interpretação 
 
Os métodos de interpretação são abordagens utilizadas pelos juristas 
para compreender o significado e o alcance das normas jurídicas. Entre os 
principais métodos de interpretação estão o método literal, o método sistemático, 
o método teleológico-subjetivo e o método teleológico-objetivo. 
O método literal, também conhecido como método gramatical ou 
textual, enfoca o significado literal e imediato das palavras e expressões contidas 
no texto normativo. O intérprete busca entender o sentido comum das palavras 
de acordo com a gramática e o uso corrente da linguagem. Esse método dá 
primazia ao texto escrito e considera que a vontade do legislador está expressa 
nas palavras da norma. 
Quanto ao método sistemático, este leva em consideração o contexto 
e a estrutura do sistema jurídico como um todo. O intérprete analisa a norma em 
relação a outras normas do mesmo sistema, buscando identificar a coerência e 
a harmonia entre elas. Esse método valoriza a unidade e a integridade do 
ordenamento jurídico, interpretando a norma à luz do sistema jurídico como um 
conjunto de normas interligadas. 
O método teleológico-subjetivo, por sua vez, enfatiza a intenção do 
legislador ou a finalidade da norma. O intérprete busca compreender o propósito 
ou a razão que levou à criação da norma, considerando o contexto histórico, 
social e político em que foi elaborada. Esse método leva em conta a vontade 
subjetiva do legislador, interpretando a norma de acordo com a intenção 
presumida ou presumível do seu autor. 
O método teleológico-objetivo também se baseia na finalidade da 
norma, mas de uma forma mais objetiva. O intérprete busca identificar a função 
ou o objetivo geral que a norma busca alcançar, independentemente da intenção 
subjetiva do legislador. Esse método considera os efeitos práticos da aplicação 
da norma e interpreta-a de acordo com sua finalidade social, buscando alcançar 
 
 
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resultados justos e coerentes com os valores e princípios do ordenamento 
jurídico. 
Tais métodos de interpretação não são excludentes, e muitas vezes 
são aplicados de forma combinada, de acordo com as circunstâncias e a 
natureza da questão jurídica em análise. Os juristas utilizam esses métodos 
como ferramentas para interpretar e aplicar o direito de maneira coerente e 
consistente. 
 
Problemas de interpretação 
 
Na prática da interpretação jurídica, os casos podem ser classificados 
em casos fáceis e casos difíceis, levando em consideração a complexidade e a 
ambiguidade envolvida na interpretação das normas. 
Os casos fáceis são aqueles em que a interpretação da norma é clara 
e direta, não há ambiguidade ou conflito aparente. A norma é aplicada de forma 
objetiva, seguindo o seu sentido literal e não há necessidade de recorrer a 
métodos interpretativos complexos. Nesses casos, o intérprete não encontra 
dificuldades significativas em determinar o significado e o alcance da norma, pois 
a resposta é óbvia e amplamente aceita. 
Os casos difíceis são aqueles em que a interpretação da norma 
apresenta ambiguidades, contradições, lacunas ou conflitos com outras normas. 
Esses casos requerem uma análise mais aprofundada e a aplicação de métodos 
interpretativos mais complexos.O intérprete precisa lidar com questões 
complexas, como a ponderação de princípios, a análise do contexto social e 
político, a interpretação histórica, entre outros aspectos. A resposta para esses 
casos pode ser controversa e sujeita a diferentes interpretações, exigindo um 
esforço hermenêutico maior por parte do intérprete. 
Nos casos difíceis, os juristas podem recorrer a diferentes teorias e 
métodos interpretativos para buscar uma solução adequada. Eles podem 
considerar elementos como a intenção do legislador, a finalidade da norma, o 
 
 
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contexto histórico e social, a jurisprudência e os princípios gerais do direito. No 
entanto, mesmo com todo o esforço interpretativo, nem sempre é possível 
chegar a uma solução definitiva, e é nesses casos que surgem divergências 
doutrinárias e decisões judiciais divergentes. 
A interpretação dos casos difíceis é um desafio constante no campo 
do direito, e requer habilidades hermenêuticas avançadas e uma análise 
cuidadosa dos elementos envolvidos. A busca por uma interpretação justa e 
coerente em situações complexas é um dos desafios enfrentados pelos juristas. 
 
Modelos de decisão jurídica 
 
Os modelos de decisão jurídica, como o formalismo e o particularismo, 
são abordagens diferentes para a tomada de decisões judiciais. Esses modelos 
têm perspectivas distintas sobre a interpretação e aplicação do direito. 
O formalismo é um modelo de decisão jurídica que enfatiza a 
aplicação estrita das regras e procedimentos legais. Segundo essa abordagem, 
o papel do juiz é aplicar as normas de maneira objetiva, sem considerar fatores 
externos ou subjetivos. O foco está na aplicação literal e formal do direito, sem 
levar em conta as consequências práticas ou as circunstâncias específicas do 
caso. Os formalistas acreditam que o direito é um sistema fechado e completo, 
e que as respostas para os casos devem ser encontradas dentro desse sistema, 
seguindo os princípios da lógica e da coerência interna das normas. 
Já o particularismo consiste em um modelo de decisão jurídica que 
leva em consideração as particularidades do caso concreto, as circunstâncias 
específicas e as nuances individuais. Nessa abordagem, o juiz tem mais 
liberdade interpretativa e pode considerar elementos como a justiça, a equidade 
e os valores sociais. O particularismo reconhece que o direito não é um sistema 
fechado e que as normas podem ser interpretadas de maneiras diferentes, 
dependendo das peculiaridades do caso. Os particularistas acreditam que a 
justiça não pode ser alcançada apenas por meio de uma aplicação mecânica das 
 
 
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regras, mas requer uma análise contextual e uma consideração dos interesses 
das partes envolvidas. 
Estes modelos representam extremos e na prática muitas decisões 
judiciais são tomadas com elementos de ambos os modelos. A maioria dos 
sistemas jurídicos busca um equilíbrio entre a aplicação estrita das regras e a 
consideração das particularidades do caso. Os juízes podem adotar diferentes 
abordagens dependendo do contexto, da legislação aplicável e da tradição 
jurídica de cada país. 
 
Antinomias e formas de solução 
 
Na tipologia das antinomias determinada em razão da maior ou menor 
inconsistência entre as normas, temos os seguintes tipos: 
Antinomia total-total (antinomia absoluta), nesse tipo de antinomia, 
duas normas entram em conflito de forma total e irreconciliável, ou seja, não há 
possibilidade de conciliação entre elas. Ambas as normas estabelecem 
disposições incompatíveis e contraditórias, não deixando espaço para uma 
solução harmoniosa. Quando ocorre uma antinomia total-total, geralmente há a 
necessidade de se eliminar uma das normas ou revogar uma delas. 
Antinomia parcial-parcial (antinomia parcial/bilateral), nessa 
antinomia, duas normas entram em conflito apenas em parte de seu conteúdo. 
Existem disposições contraditórias em ambas as normas, mas também há áreas 
em que as normas são compatíveis. Nesses casos, é necessário realizar uma 
interpretação ou uma operação de supressão ou exceção para resolver o conflito 
e encontrar uma solução para as partes em conflito. 
Antinomia total-parcial (antinomia parcial/unilateral), nesse tipo de 
antinomia, uma norma estabelece uma disposição geral que, em alguns casos 
específicos, entra em conflito com uma norma específica que estabelece uma 
disposição contrária. A norma geral tem um escopo amplo, enquanto a norma 
específica trata de situações particulares em que a norma geral não se aplica. 
 
 
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Nesses casos, a norma específica prevalece sobre a norma geral nas situações 
em que há contradição entre elas. 
A resolução das antinomias depende do sistema jurídico e dos 
critérios interpretativos adotados. Em alguns casos, a hierarquia das normas 
pode ser utilizada para determinar a prevalência de uma norma sobre a outra. 
Em outros casos, a solução pode ser encontrada por meio de critérios de 
interpretação, como o da especialidade, da cronologia ou da prevalência do 
princípio sobre a regra19. 
 
Lacunas e mecanismo de integração 
 
Lacunas do direito são situações em que não existe uma norma 
jurídica aplicável a determinada questão ou caso específico. Trata-se de uma 
omissão ou ausência de regulamentação legal para uma determinada situação 
que necessita de uma resposta jurídica. 
As lacunas podem surgir por diversos motivos, como avanços 
tecnológicos, mudanças sociais, novas formas de comportamento ou relações 
jurídicas que ainda não foram contempladas pelo ordenamento jurídico vigente. 
Nessas situações, não há uma regra legal clara que oriente como agir ou decidir. 
As lacunas podem ser mais ou menos problemáticas, dependendo da 
gravidade e complexidade da questão em jogo. Em alguns casos, a falta de 
regulamentação pode levar a incertezas, conflitos de interpretação e dificuldades 
na aplicação do direito. Por isso, é importante que existam mecanismos de 
integração das lacunas, como os mencionados anteriormente, para preencher 
essas omissões e permitir uma resposta jurídica adequada. 
A existência de lacunas não significa ausência total de normas 
jurídicas. O sistema jurídico possui um conjunto de normas que podem ser 
 
 
19 CAMILLO, Carlos. Manual da teoria geral do direito. São Paulo: Almedina, 2019. 
 
 
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aplicadas analogicamente, por princípios gerais do direito ou por outras fontes 
subsidiárias, a fim de suprir as omissões e garantir uma solução adequada aos 
casos concretos. 
Os mecanismos de integração das lacunas, ou seja, de 
preenchimento das lacunas ou omissões existentes no ordenamento jurídico, 
variam de acordo com o sistema jurídico adotado em cada país. 
O art. 4º da LINDB estabelece os mecanismos institucionais de 
integração do direito: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo 
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. 
Analogia consiste em aplicar uma norma existente a uma situação não 
prevista expressamente, mas que guarda semelhanças relevantes com as 
situações reguladas pela norma. A analogia busca suprir a lacuna por meio da 
aplicação de um caso similar. 
Costumes são práticas sociais amplamente aceitas e reconhecidas 
como regras de conduta. Quando há lacunas no ordenamento jurídico, os 
costumes podem ser utilizados como fonte subsidiária para preencher essas 
lacunas. 
Princípios gerais do direito são os princípios jurídicos fundamentais 
que permeiam o ordenamento jurídico como um todo. Quando há uma lacuna na 
lei, os princípios gerais do direito podem ser aplicados para orientar a solução 
do caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6. TEORIAS DA JUSTIÇA 
 
Teoria geral da Justiça 
 
A Teoria Geral da Justiça é uma disciplina que se dedica ao estudo 
dos fundamentos, princípios e critérios que norteiam a ideia de justiça. Ela busca 
compreender e analisaros diferentes conceitos e teorias que foram 
desenvolvidos ao longo do tempo para explicar o que é considerado justo nas 
relações humanas. 
A noção de justiça tem sido objeto de reflexão e debate desde os 
tempos antigos, com diversos filósofos e pensadores apresentando suas visões 
e teorias sobre o assunto. A teoria da justiça busca explorar questões como 
igualdade, equidade, distribuição de recursos, direitos individuais e coletivos, 
entre outros temas relacionados à noção de justiça. 
Uma das principais preocupações da teoria da justiça é estabelecer 
princípios e critérios que permitam a distribuição equitativa de benefícios e ônus 
na sociedade. Isso envolve considerações sobre a justa distribuição de recursos, 
oportunidades, direitos e deveres entre os indivíduos. 
É importante destacar que a teoria da justiça não se limita a uma 
perspectiva puramente filosófica, mas também tem implicações práticas no 
campo do direito e da política. Ela influencia a elaboração e interpretação das 
leis, a atuação dos órgãos judiciais e a formulação de políticas públicas, 
buscando garantir um tratamento justo e igualitário para todos os membros da 
sociedade. 
No contexto brasileiro, a denominação de diversos órgãos do Poder 
Judiciário como "Justiça" reflete a importância atribuída ao ideal de justiça na 
administração do sistema legal e na busca pela resolução imparcial e equitativa 
dos conflitos. Esses órgãos têm a responsabilidade de aplicar o direito de acordo 
 
 
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com os princípios e normas que visam assegurar a justiça em suas diversas 
dimensões. 
Dentro da Teoria Geral da Justiça, existem diferentes concepções e 
abordagens para compreender e aplicar o princípio da justiça em diversas 
situações, algumas das principais categorias são: 
Justiça Distributiva, que se refere à distribuição equitativa de bens, 
recursos e oportunidades na sociedade. Envolve a alocação justa de benefícios 
e ônus, levando em consideração princípios como igualdade, mérito, 
necessidade e contribuição. A justiça distributiva busca garantir que as pessoas 
recebam sua parcela justa de recursos e que as desigualdades sejam 
minimizadas. 
Justiça Corretiva, também conhecida como justiça compensatória ou 
punitiva, está relacionada à correção de injustiças passadas. Visa restaurar o 
equilíbrio ou a igualdade que foi violada por meio de ações corretivas, como 
punições, reparações ou compensações. A justiça corretiva busca restabelecer 
o estado de justiça após uma injustiça ter ocorrido. 
Justiça Comutativa, que diz respeito às relações de troca e contratos 
entre as pessoas. Envolve a noção de reciprocidade e equivalência nas 
transações comerciais e contratuais. A justiça comutativa busca garantir que as 
partes envolvidas em uma troca recebam o que foi acordado de forma justa e 
equitativa. 
Justiça Reparativa, que se concentra na reparação de danos 
causados por uma transgressão ou conflito. 
Essas diferentes concepções de justiça são frequentemente aplicadas 
em diferentes contextos, como no sistema jurídico, na política pública, na ética e 
na filosofia moral. Cada uma delas aborda uma dimensão específica da justiça 
e busca responder a diferentes questões e desafios relacionados à busca pela 
equidade, igualdade e imparcialidade nas relações humanas e na sociedade 
como um todo. 
 
 
 
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Teorias contemporâneas da justiça: 
 
JOHN RAWLS: a Justiça Como Equidade 
 
John Rawls é conhecido por sua obra "Uma Teoria da Justiça”, na 
qual ele desenvolve a ideia de "Justiça como Equidade"20. Alguns pontos-chave 
sobre a teoria de Rawls são: 
Rawls baseia sua teoria em um contrato hipotético estabelecido em 
uma posição original. Nessa posição, os indivíduos são livres e iguais, 
desprovidos de informações particulares sobre si mesmos, suas habilidades, 
crenças ou posições sociais. Eles tomam decisões racionais sobre os princípios 
de justiça que regerão a sociedade21. 
Além disso, Rawls propõe que cada pessoa deve ter um direito igual 
ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais que seja compatível 
com um sistema semelhante de liberdades para os outros. Isso garante um 
amplo conjunto de liberdades individuais e direitos fundamentais para todos os 
membros da sociedade22. 
No mais, Rawls argumenta que as desigualdades sociais e 
econômicas devem ser estruturadas de tal forma que sejam consideradas 
vantajosas para todos dentro dos limites do razoável. Além disso, elas devem 
estar vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos, promovendo a 
igualdade de oportunidades23. 
 
 
20 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
21 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
22 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
23 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
 
 
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Ainda, Rawls propõe que os indivíduos na posição original tomem 
decisões sob um véu de ignorância, ou seja, sem conhecimento de sua própria 
posição social, riqueza, habilidades, crenças religiosas ou valores pessoais. Isso 
visa evitar que os indivíduos privilegiem seus próprios interesses particulares e 
favoreçam grupos sociais específicos, levando a princípios mais imparciais de 
justiça24. 
Rawls também argumenta que as instituições sociais devem ser 
estruturadas de acordo com os princípios de justiça estabelecidos na posição 
original. Cabe a essas instituições corrigir quaisquer desigualdades ou 
distorções que surjam na sociedade, promovendo políticas e medidas para 
alcançar a justiça social25. 
A teoria de justiça de Rawls busca criar uma sociedade justa baseada 
em princípios de igualdade, liberdade e oportunidade. Ela visa garantir que a 
distribuição de recursos e vantagens seja equitativa e que as instituições sociais 
sejam projetadas para beneficiar todos os membros da sociedade, 
especialmente aqueles em situação mais desfavorecida26. 
 
RONALD DWORKIN: Justiça Para Garantir o Bem-Estar 
 
Ronald Dworkin, influenciado por John Rawls, desenvolveu sua 
própria teoria de justiça, que busca garantir o bem-estar dos indivíduos27. 
Dworkin argumenta que as pessoas devem ser responsabilizadas por 
suas escolhas na medida em que têm controle sobre elas. No entanto, ele 
 
 
24 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
25 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
26 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São 
Paulo: Martins Fontes, 1997. 
27 DWORKIN, Ronald. Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. Coimbra: 
Almedina, 2012. 
 
 
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também reconhece que existem circunstâncias além do controle das pessoas, 
como atributos naturais e talentos, que não devem ser considerados para fins de 
responsabilidade e distribuição de recursos28. 
Dworkin também critica a ideia de que a distribuição de riquezas 
existente em uma sociedade é automaticamente justa. Ele defende que a 
distribuição de recursos e riquezas deve refletir uma preocupação com a 
igualdade e a importância igual de cada indivíduo. Isso implica que os 
governantes e autoridades devem promover a distribuição igualitária de recursos 
e riquezas materiais para todos os membros da sociedade29. 
No mais, Dworkin enfatiza a importância de considerações morais na 
tomada de decisões políticas e legais. Ele argumenta que é obrigatório tratar 
todos os indivíduos com igual importância e relevância, independentemente de 
suas características pessoais ou talentosnaturais. Isso implica em uma 
distribuição igualitária que busca garantir que cada indivíduo tenha acesso aos 
recursos necessários para alcançar um nível adequado de bem-estar30. 
Neste sentido, a teoria de justiça de Dworkin busca conciliar a 
igualdade distributiva com a responsabilidade individual. Ele defende que as 
pessoas devem ser responsabilizadas por suas escolhas, mas que a distribuição 
de recursos e riquezas deve levar em consideração as circunstâncias além do 
controle dos indivíduos. Isso implica em um papel ativo do Estado na promoção 
da distribuição igualitária de recursos e no tratamento de todos os indivíduos com 
igual importância e relevância31. 
 
 
 
 
28 DWORKIN, Ronald. Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. Coimbra: 
Almedina, 2012. 
29 DWORKIN, Ronald. Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. Coimbra: 
Almedina, 2012. 
30 DWORKIN, Ronald. Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. Coimbra: 
Almedina, 2012. 
31 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2019. 
 
 
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ALF ROSS: a Justiça Como Aplicação Correta de uma Norma 
 
Alf Ross apresenta uma abordagem pragmática da justiça, enfocando 
sua aplicação correta como a principal preocupação32. 
Ross enfatiza que a justiça está intrinsecamente ligada à aplicação 
correta de uma norma. Ele argumenta que a justiça consiste em evitar a 
arbitrariedade e aplicar as normas de forma racional e consistente. A aplicação 
correta das normas é fundamental para garantir um sistema jurídico justo33. 
Ross também associa diretamente a ideia de justiça à igualdade 
formal, que implica tratar todas as pessoas de maneira igual. Isso significa que 
cada pessoa deve receber o mesmo tratamento de acordo com as regras gerais 
estabelecidas. No entanto, Ross ressalta que essa igualdade formal deve ser 
complementada por critérios materiais para determinar a aplicação da regra de 
igualdade em situações específicas34. 
Além disso, Ross concebe a justiça como uma orientação pragmática 
para o direito, especialmente para resolver conflitos. Ele argumenta que os juízes 
têm a tarefa de interpretar e aplicar normas racionais e gerais para resolver uma 
ampla gama de conflitos. A aplicação correta das normas é essencial para 
alcançar resultados justos e evitar arbitrariedades35. 
Neste sentido, a teoria de justiça de Alf Ross enfatiza a importância 
da aplicação correta das normas como um critério fundamental para a justiça. 
Ele destaca a igualdade formal como um princípio orientador e adota uma 
abordagem pragmática, buscando resolver conflitos através da interpretação e 
aplicação racional das normas. 
 
 
 
32ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução e notas de Edson Bini. São Paulo, Edipro, 2021. 
33 ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução e notas de Edson Bini. São Paulo, Edipro, 2021. 
34 ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução e notas de Edson Bini. São Paulo, Edipro, 2021. 
35 ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução e notas de Edson Bini. São Paulo, Edipro, 2021. 
 
 
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CHAÏM PERELMAN: a Justiça Formal 
 
Chaïm Perelman aborda a justiça como uma questão complexa e 
ressalta a importância dessa virtude. Ele explora seis concepções universais da 
justiça, que podem ser analisadas como princípios orientadores36. 
Pelo princípio “a cada qual a mesma coisa”, exige-se que todas as 
pessoas sejam tratadas da mesma forma, sem levar em conta suas 
particularidades individuais. Não deve haver discriminação ou preconceito com 
base em características como classe social, idade, escolaridade, raça ou gênero. 
No princípio “a cada qual segundo seus méritos”, a igualdade é 
relativizada em favor de um tratamento proporcional baseado no mérito 
intrínseco de cada indivíduo. Isso implica em avaliar dificuldades para a correta 
aplicação do princípio, especialmente quando se busca critérios objetivos para 
sua determinação. 
O princípio “a cada qual segundo suas obras” não exige tratamento 
igualitário, mas um tratamento proporcional com base nos resultados alcançados 
por cada indivíduo. Por exemplo, pode implicar em diferentes níveis de 
remuneração para funcionários com base no desempenho individual. 
Já o princípio “a cada qual segundo suas necessidades” se concentra 
em reduzir os sofrimentos decorrentes da impossibilidade de satisfazer 
necessidades essenciais. Busca-se assegurar a cada pessoa um mínimo vital 
que leve em consideração suas obrigações familiares, sua saúde, sua idade 
avançada, entre outros fatores. 
Conforme o princípio “a cada qual segundo sua posição”, as pessoas 
são tratadas de acordo com a categoria ou posição a que pertencem, e não com 
 
 
36 PERELMAN, Chaim. Ética e direito. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996. 
 
 
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base em critérios intrínsecos ao indivíduo. Regras de justiça distintas se aplicam 
a diferentes categorias de seres. 
O princípio “a cada qual segundo o que a lei lhe atribui” está 
relacionado à ideia de dar a cada um o que lhe é devido. Ser justo significa 
conceder a cada indivíduo o que a lei determina como seu direito. 
Perelman questiona como lidar da melhor maneira com esses critérios 
e busca identificar o que eles têm em comum. Ele propõe uma definição formal 
de justiça, que está intrinsecamente ligada ao Direito positivo. Perelman 
argumenta que todas as seis concepções podem fornecer indicações válidas 
para o jurista ao aplicar a justiça de forma concreta, levando em consideração a 
lei e outros referenciais normativos do Estado37. 
 
ROBERT ALEXY: da Dupla Natureza do Direito à Justiça Como Exatidão 
 
Robert Alexy desenvolve uma teoria da justiça baseada na ideia da 
dupla natureza do Direito, composta por sua dimensão real e sua dimensão ideal. 
A dimensão real refere-se aos elementos do Positivismo Jurídico, como a ideia 
de decisão e coercibilidade. Já a dimensão ideal é definida pela exatidão de 
conteúdo e procedimento, incluindo a exatidão moral representada pela justiça38. 
Essa dupla natureza do Direito está relacionada à Fórmula de 
Radbruch, que afirma que a injustiça extrema não pode ser considerada Direito. 
Alexy busca estruturar esses fundamentos em sua teoria da justiça. 
Dentro do positivismo jurídico, Alexy identifica correntes 
ontologicamente antagônicas, incluindo o positivismo exclusivo, o positivismo 
 
 
37 PERELMAN, Chaim. Ética e direito. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996. 
38 ALEXY, R. Principais elementos de uma teoria da dupla natureza do direito. Revista de Direito 
Administrativo, [S. l.], v. 253, 2010. Disponível em: 
https://periodicos.fgv.br/rda/article/view/8041. Acesso em: 30 abr. 2024. 
 
 
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inclusivo e diferentes formas de não positivismo, como o não positivismo 
exclusivo, o não positivismo superinclusivo e o não positivismo inclusivo39. 
Alexy reconhece que a justiça geralmente está relacionada a 
distribuições e compensações, sendo chamada de justiça distributiva e justiça 
comutativa. No entanto, ele argumenta que essas formas de justiça não são 
estanques ou independentes entre si. Alexy sustenta que há relações complexas 
e estreitas entre elas, permitindo estabelecer uma definição geral de justiça: a 
justiça é a exatidão na distribuição e na compensação. 
A dupla natureza do Direito implica que o Direito e a Justiça devem 
caminhar juntos. Isso se baseia em dois princípios essenciais: o princípio da 
segurança jurídica, relacionado ao Direito e derivado do ordenamento jurídico, e 
o princípio da justiça, relacionado à Justiça e exigindo que as decisões jurídicas 
sejam moralmente corretas. 
Alexy reconhece que esses princípios frequentemente entram em 
conflito e nenhum deles pode suprimir completamente o outro. A dupla natureza 
do Direito exige que ambos sejam considerados em equilíbrio, o que pode ser 
alcançado por

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