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Apostila - Lições de Ética, 2015

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira
Lições de Ética Geral
Petrópolis
2015
Índice
Introdução									
I. Fenomenologia do ato humano				
II. A ordem moral						 
III. A consciência						 
Apêndices								 
Bibliografia								 
Introdução
A Ética é a disciplina filosófica que estuda o comportamento (ou a ação) humano. Etimologicamente, vem do Grego 'êthos ', costume, índole; e que, por sua vez, deriva do sânscrito suedh, "agir", "fazer sem se apropriar"; e de svedha, "lei". A ética é, pois, a ciência dos costumes ou da ação humana.
Assim, para uma definição mais precisa do conceito de Ética convém aprofundar, inicialmente os seguintes elementos:
Que se entende por ação humana;
Se a Ética é descritiva ou normativa do comportamento;
Se há diferença entre ética e moral.
Considerando o primeiro elemento, a ação pode ser considerada sob os seguintes aspectos:
- como efeito do agir, é o que os gregos entendiam por práxis, ou a ação que permanece no agente; é a base da ação moral;
ou como efeito do fazer, 'tò poieín', a 'poíesis', a ação transitiva, que termina fora do agente; é a técnica.
Assim, há uma clara diferença entre o que pode ser feito e o que deve ser praticado. Portanto, nem tudo que pode ser feito deve necessariamente ser praticado.
Objeções sobre a subjetividade da ética
	I. Argumento contra a normatividade da ética:
	A ética, enquanto disciplina filosófica, é constituída por proposições universais e analisa verdades universais. Logo, não pode reger os atos humanos, que são sempre concretos, singulares. Logo, não é normativa.
	II. Argumento contra a objetividade da ética:
	A moral, como norma prática do agir humano, é particular e varia de acordo com as épocas e as culturas. Logo, a ética não pode ser normativa.
Refutação das objeções
	É impossível que as normas sejam todas e totalmente particulares.
Sobre a normatividade da ética pode-se dizer que a ética não pode se reduzir à descrição do comportamento humano, esta descrição pertence a outras ciências como a antropologia cultural ou à psicologia. Logo, a ética deve estudar o comportamento humano em vista da indicação de como o homem deve agir.
A diferença entre ética e moral pode ser estabelecida da seguinte maneira, embora haja outras possibilidades de distinção: a ética tem não tem pressupostos, a não ser o que a razão pode descobrir, ou seja, ela é estrita e exclusivamente racional; a moral, em contrapartida, deve ser entendida como ciência teológica do agir humano, isto é, além da razão, pressupõe princípios que não derivam da própria razão, mas sim da fé, por revelação, nos casos das religiões reveladas.
Admitindo-se então as considerações precedentes, pode-se dar a seguinte definição de Ética:
A ÉTICA É DISCIPLINA FILOSÓFICA PRÁTICA NORMATIVA DA AÇÃO HUMANA, SEGUNDO A LUZ NATURAL DA RAZÃO.
Ética, Filosofia e Direito
 	A ética é parte da filosofia. E se dividirmos a filosofia em especulação e prática, a ética pertence ao grupo das disciplinas práticas, conforme o esquema abaixo:
 
Disciplinas especulativas: a busca do saber pelo saber.
	Metafísica ou Ontologia: estudo do ente.
	Cosmologia Filosófica: estudo do mundo. 
	Psicologia Filosófica: estudo da alma..
	Teodiceia ou Teologia Natural: estudo de Deus.
	Gnosiologia: estudo do conhecimento humano.
Disciplinas Práticas: o saber para agir. 
	Lógica: estudo dos atos próprios da razão; guia os atos próprios da razão.
	Ética: ciência normativa do comportamento humano.
	Estética: estudo do belo artístico; define os parâmetros da beleza.
A Ética é anterior e superior ao direito, abrange o Direito.
I. Fenomenologia do ato humano
	
Onde, no universo de nossa existência, se situa a moralidade?
Pode-se dizer que é nas ações que se realiza primariamente o bem, o valor moral, e daí se comunica às disposições de onde as ações procedem regularmente. Finalmente, da qualidade moral dos hábitos humanos que formam o caráter, decorre a qualidade moral da pessoa, na linha da causalidade formal, portanto, a moralidade se realiza primeiro na ação e, daí, nas disposições, derivando, finalmente, para a pessoa.
Portanto,
(3) PESSOA		fonte dos atos que geram os hábitos que plasmam o caráter
(2) DISPOSIÇÕES	que definem o caráter
(1) AÇÕES		e seus objetos
 Em outras palavras, a sede originária e primária da moralidade é a ação humana.
As condições para a ação humana para ser sede de moralidade
Entende-se por ação propriamente humana aquela que o homem realiza em virtude da sua diferença específica, em virtude de sua razão deliberante. Este tipo de ações se distingue das que se realizam sem a participação da razão, do nosso eu, da nossa subjetividade, chamadas, por isso mesmo, de ações do homem. Portanto, nem tudo aquilo que o homem faz preenche os requisitos necessários para ser sede da moralidade, como, por exemplo um ato reflexo que a pessoa execute sem aceitação da vontade livre, nem no antecedente, nem no momento de sua execução.
Em suma, a condição fundamental para a moralidade é a participação da razão e da liberdade na ação, como princípios da mesma.
		propriamente humana
ação
		meramente do homem
As características que distinguem os atos propriamente humanos dos atos meramente do homem
 Condições específicos que devem ser preenchidas para que uma ação possa e deva ser dita propriamente humana.
 
 Condições cognitivas Condições apetitivas
Condições 1) ser precedido pelo conhecimento; 4) visar o objeto como de-
indispensáveis 2) emanar do conhecimento racional pendente da própria iten- 
do ato humano, como seu próprio princípio; ção (verdadeiro querer, 
portanto, 3) ser motivado por fim racionalmente decisão não mero desejar);
do ato moral conhecido 5) responsabilidade;
 6) liberdade (sem a qual o 
 ato não seria moral de 
 forma alguma). 
As características ou condições principais são:
a finalidade: "todo agente age em função de um fim";
a liberdade, característica que decorre do elemento anterior.
I. A finalidade
O fim é aquilo em vista do quê algo é feito. Segundo Aristóteles, todo agente age em função de um fim, ou seja, todas as ações estão motivadas por uma causa que as move, chamada de finalidade.
O fim pode ser dividido em:
fim próximo: é aquele para o qual tende-se em primeiríssimo lugar
fim intermediário: é aquele que se exige para a consecução do fim principal e último
fim último: é aquele que é buscado por si mesmo e que não se subordina a nenhum outro
Diz-se também que todo fim tem razão de bem. 
O fim, o bem e a felicidade
Bem é aquilo pelo qual o agente se move a agir. A noção de fim está intimamente ligada à de bem, porque o bem tem razão de fim. E a felicidade seria justamente o bem supremo do homem, ou seu fim último.
Bem= conveniente – convém ao apetite
Fim= atrativo – move a potência apetitiva
O bem pode ser:
ontológico: é proporcionado ao ser da coisa;
psicológico: é o que satisfaz um apetite qualquer;
moral: é o que realiza a natureza humana.
Aprofundamento
A bondade ontológica é a bondade das coisas,que é um aspecto do seu ser. O ente é bom enquanto apetecível: “O bem é o que todos desejam” (a bondade das coisas é a sua própria perfeição entitativa). A raiz da bondade é o ser:
A bondade moral é própria do homem e de suas ações livres: específico da natureza humana. A natureza é lei e norma da atividade humana. A ordem da natureza é divina porque tem Deus como fim último. O bem adquire no homem o caráter moral porque o homem é livre, de modo que as consecução de seu bem depende e é causada por sua livre autodeterminação. A bondade moral é a bondade própria das ações livres, a retidão da vontade livre do homem.
A vontade é boa quando quer livremente o bem proporcionado à natureza humana segundo o juízo da reta razão: “A razão entende como bens todas aquelas coisas para as quais tende a natureza�” 
A Felicidade
A felicidade é a obtenção estável e perpétua da bem totalmente perfeito, amável por si mesmo, que sacia todas as exigências da natureza humana e completa todos os seus desejos. Assim, a felicidade é o fim último do homem. Porém, a felicidade perfeita não se dá nesta vida. Assim a felicidade é o bem próprio e exclusivo dos entes dotados de conhecimentos e amor intelectual. 
A felicidade considerada em abstrato, isto é, sem a determinação do bem a que a pode preencher, pode ser chamada de subjetiva , e, em relação a ela ninguém é livre. A felicidade, objetivamente considerada, consiste no Bem Absoluto, que só pode ser Deus. Entretanto, em relação ao bem que preenche as exigências da felicidade humana, o homem é livre. Justamente a vida ética se resume nisso, ou seja, na escolha do fim último, que é o sumo bem, que preencha as tendências de sua natureza. Essa escolha pode recair sobre o prazer, ou sobre as riquezas ou qualquer outro bem finito, mas fica claro que nenhum desses bens preenche os requisitos da vontade.
Resumindo,
1. O bem moral é próprio do homem. E a razão entende como bem todas aquelas coisas para as quais tende a natureza.
2. Assim o fundamento próximo da ordem moral é a natureza humana; o fundamento último, o próprio Deus.
3. Atos humanos são aqueles que pertencem ao homem enquanto ser racional.
4. Todos os atos humanos têm um fim, que é conhecido com tal.
5. Todos os atos humanos têm um fim último.
6. O fim último especifica os atos do ponto de vista moral.
7. O fim último pode ser entendido subjetiva ou objetivamente. No primeiro caso, é a felicidade entendida em abstrato.
8. Objetivamente, o fim último é algo determinado, concreto:
nenhum dos bens criados;
nem o conjunto desses bens;
mas apenas Deus.
9. A obtenção do fim último é possível a todos; é obrigatório; começa nesta vida, mas não se consuma aqui.
II. A liberdade
	Outra característica fundamental dos atos humanos é a liberdade. Por liberdade entende-se a faculdade em que postas todas a condições para a ação, o sujeito pode agir ou não agir.
Distinções importantes:
Ato Voluntário: é aquele que procede da vontade formalmente, enquanto apetite racional. É o ato que emana de um juízo prático, de valor. Em outras palavras: é aquele que tem seu princípio numa tendência racional do sujeito e que se exerce de forma racional, isto é, a partir do seu objetivo conhecido racionalmente enquanto tal. Ex.: Um ser desprovido de razão e, portanto, de vontade é capaz de tender a um objeto, porém com um conhecimento apenas sensitivo deste. A noção de ato voluntário se opõe às noções de atos não-voluntários e atos involuntários e estes são diferentes entre si.
Ato involuntário: é aquele ato que repugna à vontade. Só o ser que faz atos voluntários pode fazer involuntários. Tem sentido de contrariedade (que é positiva, acrescenta algo).
Espontâneo: aquilo que se produz por força de uma natureza, sem reflexão ou escolha.
II. A Ordem Moral
 Os fatores determinantes (ou critérios) da moralidade dos atos humanos são três: o objeto, as circunstâncias e a intenção.
I. As circunstâncias
 quem (quis) age (sujeito) } causa eficiente
 o que (quid; finis operis) faz (objeto) }causa material 
Determinantes por que (cur) faz (fim) }causa final
da moralidade como (quomodo) faz (modo) 
acidental(são quando (quando) faz (tempo)
as circunstâncias) onde (ubi) faz (lugar) 
 por que meios (quibus auxiliis) faz} causa instrumental
Ex.: apossar-se do bem de outrem- furto (objeto alheio)- não é um determinante circunstancial, é um determinante essencial- OBJETO MORAL.
II. O objeto
O objeto da ação moral é determinado pela proporção dessa ação com a natureza humana. E essa proporção é conhecida pela lei natural 
Agir conforme à razão é agir conforme princípios:
“Bonum est faciendum, malum autem vitadum”, ou seja, bem deve ser feito, o mal deve ser evitado: Faze o bem, evita o mal. Este primeiro princípio da moralidade é:
racional
não vazio
não tautológico: 
c.c) porque o predicado acrescenta algo à noção do sujeito (o princípio é sintético).
c.c.c) porque o segundo membro do princípio não é uma simples transformação lógica do primeiro, não é um mero sinônimo. Quando digo que o mal deve ser evitado acrescento coisa nova.
Demonstração da universalidade e invariabilidade dos preceitos gerais da lei natural derivados imediatamente da natureza humana:
A partir de duas premissas:
1º Premissa:
A eticidade da natureza humana.
A natureza humana é fonte de leis morais para a consciência. A prova desta premissa é o fato de que a natureza humana é pertencente à pessoa. E a natureza humana pode ser base de preceitos morais.
A pessoa humana é por si mesma valor moral fontal essencialmente, enquanto fim da escala dos seres, portanto, nunca instrumentalizável.
2º Premissa:
A existência e a estrutura constante da natureza humana.
Este é exatamente o ponto questionado pelos existencialistas. Antes, Aristóteles: em certo sentido (o de finitude radical) deve-se dizer que o espírito não tem a natureza, ou seja, a pedra é pedra e não progride; o espírito humano tem por definição a capacidade de se tornar todas as coisas. Sartre exagera essa observação (ó “en soi” e o “pour soi”) dizendo que a natureza não tem consciência nenhuma. Para Sto. Tomás, entretanto, a alma é tudo de certa maneira. A alma é tudo na medida em que tem potência cognitiva de tornar-se tudo, mas esta potência é na ordem das operações e não da substancialidade. A alma é tudo como potência cognitiva operativa por que tem uma determinada estrutura (uma natureza ontológica).
 Antropologia nos ensina que o ser humano é um espírito encarnado, ligado a um corpo, forma de uma matéria.
A natureza humana , enquanto essência, é imutável. É uma natureza que muda no sentido acidental.
O homem tem uma natureza própria constante. Esta natureza é a condição positiva da espiritualidade de que o homem é capaz. A natureza humana não é um limite. Esta natureza constante tem uma estrutura, que são as relações constitutivas desta natureza humana, as quais vão fundamentar a variedade dos preceitos da lei natural.
Portanto, a lei natural tem duas fontes:
a lei natural enquanto lei moral se funda na pertença da natureza humana à pessoa que é valor moral.
a lei natural enquanto um complexo de normas deriva da estrutura complexa da natureza.
Que a lei natural seja lei vem da pessoa, que a lei moral natural seja tal ou qual vem da natureza.
Características da natureza humana:
1º. A natureza humana é composta (corpo e alma).
2º. Na complexidade existe uma ordem (parte que comanda e a que obedece).
3º. Essa ordem é essencial para a sustentação da pessoa.
A natureza humana tem relações externas, ela não subsiste somente na minha pessoa, mas também na do outro – base de preceitos de moral social: comunhãodo homem na natureza humana.
Normas de ética social derivadas imediatamente da natureza humana:
1) dever positivo de amor e honra pela pessoa do próximo;
2) proibição do ódio;
3) proibição do desprezo;
4) dever positivo de justiça;
5) dever positivo de solidariedade e promoção mútua;
6) dever positivo de síntese entre justiça e amor;
7) proibição natural das formas falsas de amor;
8) dever positivo de respeito pela natureza dos gestos do amor;
9) dever de síntese entre ética individual e social;
10) dever positivo de reconhecer Deus (teísmo);
11) dever positivo de religião;
12) dever positivo de síntese entre ética e religião.
Sobre a essência da lei, segundo TOMÁS DE AQUINO na Suma Teológica
1ª PARTE DA 2ª PARTE 
QUEST. XC. – DA ESSÊNCIA DA LEI
Devemos, consequentemente, tratar dos princípios exteriores dos atos. Ora, o princípio externo, que inclina para o mal, é o diabo, de cuja tentação já tratamos na Primeira Parte. E o princípio externo, que move para o bem, é Deus, que nos instrui pela lei e nos ajuda pela graça.
Por onde, devemos tratar, primeiro, da lei e, segundo, da graça.
Ora, quanto à lei, devemos considerá-la, primeiro, em geral. Segundo, nas suas partes.
E, sobre a lei, em geral, há tríplice consideração a fazer. A primeira é sobre a essência dela. A segunda, sobre a diferença entre as leis. A terceira, sobre os efeitos da lei.
Na primeira questão discutem-se quatro artigos:
1.º se a lei é algo de racional;
2.º do fim da lei;
3.º da sua causa;
4.º da promulgação dela.
ART. I – Se a lei é algo de racional
O primeiro discute-se assim. – Parece que a lei nada tem de racional.
1. – Pois, diz o Apóstolo: Sinto nos meus membros outra lei, etc. Ora, o racional não está nos membros, porque a razão não se serve de órgãos corpóreos. Logo, a lei nada tem de racional.
2. Demais. – A razão só pertence a potência, o hábito e o ato. Ora, a lei não é nenhuma potência da razão. E nem um hábito qualquer dela, porque os seus hábitos são as virtudes intelectuais, de que já se tratou. Nem um ato, pois, se o fosse, cessando ele, como se dá com os adormecidos, cessaria a lei. Logo, a lei nada tem de racional.
3. Demais. – A lei move os que se lhe submetem, a agir retamente. Ora, mover à ação pertence, propriamente, a vontade, como resulta claro do que já foi dito. Logo, a lei não pertence à razão, mas, antes, à vontade, conforme ao que também diz o Jurisperito: O que apraz ao príncipe tem força de lei.
Mas, em contrário, à lei pertence ordenar e proibir. Ora, ordenar é ato da razão, como já se demonstrou. Logo, a lei á algo de racional.
SOLUÇÃO. – A lei é uma regra e medida dos atos, pela qual somos levados à ação ou dela impedidos. Pois, lei vem de ligar, porque obriga a agir. Ora, a regra e a medida dos atos humanos é a razão, pois, é deles o princípio primeiro, como do sobredito resulta. Porque, é próprio da razão ordenar para o fim, princípio primeiro do agir, segundo o Filósofo. Ora, o que, em cada gênero, constitui o princípio é a medida e a regra desse gênero. Tal a unidade, no gênero dos números, e o primeiro movimento, no dos movimentos. Donde se conclui que a lei é algo de pertencente à razão.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Sendo a lei regra e medida, pode, de dois modos, ser aplicada. De um, como o que mede e regula. Ora, como isto é próprio da razão, deste modo, a lei só na razão existe. – De outro, como o que é regulado e medido. E, então, existe em tudo o que em virtude dela, tem alguma inclinação. De sorte que, qualquer inclinação proveniente de uma lei, pode ser considerada lei, não essencial, mas, participativamente. E, deste modo, também a inclinação dos membros para a concupiscência se chama lei dos membros.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Podemos considerar, nos atos exteriores, a obra e o obrado, como, p. ex., a edificação e o edifício. Assim também podemos distinguir, nas obras da razão, o ato mesmo dela, que é inteligir e raciocinar; e algo de constituído por esse ato. E isto, no concernente à razão especulativa, é, primeiramente, a definição; depois, o enunciado; e, em terceiro lugar, o silogismo ou argumentação. Ora, mesmo a razão prática emprega, no agir, um certo silogismo, conforme já demonstramos, de acordo com o que ensina o Filósofo. Por onde, deve haver, na razão prática, o que esteja para as obras, como, na razão especulativa, está a proposição para as conclusões. Ora, tais proposições universais da razão prática, ordenadas para o ato, têm natureza de lei. E elas são, umas vezes, consideradas atualmente, e, outras, possuídas habitualmente pela razão.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A razão tira o seu poder motor da vontade, como já se disse. Pois, é por querermos o fim, que a razão ordena os meios. Mas, para a vontade do que é ordenado vir a constituir lei é preciso que seja regulada pela razão. E, deste modo, compreende-se que a vontade do príncipe tenha força de lei; do contrário seria, antes, iniquidade que lei.
ART. II – Se a lei se ordena sempre ao bem comum, como ao fim.
O segundo discute-se assim. Parece que a lei não se ordena sempre ao bem comum, como ao fim.
1. – Pois, é próprio da lei ordenar e proibir. Ora, a ordem visa um certo bem particular. Logo, o fim da lei nem sempre é o bem comum.
2. Demais. – A lei dirige o homem para agir. Ora, os atos humanos versam sobre o particular. Logo, também a lei se ordena a um bem particular.
3. Demais. – Isidoro diz: Se a lei participa da razão, será lei tudo o que desta participar. Ora, da razão participa o que é ordenado não só para o bem comum, mas também para o privado. Logo, a lei não se ordena só para o bem comum, mas também para o particular, de cada um.
Mas, em contrário, Isidoro diz, que a lei é prescrita não, para a utilidade particular, mas, para a utilidade comum dos cidadãos.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, sendo a lei regra e medida, ela pertence ao que é o princípio dos atos humanos. Ora, como a razão é o princípio desses atos, também nela há algum primeiro princípio, que o é de tudo o mais. Por onde e necessariamente a este há de a lei pertencer, principal e maximamente. Ora, o primeiro princípio, na ordem das operações, à qual pertence a razão prática, é o fim último. E, sendo o fim último da vida humana a felicidade ou felicidade, como já dissemos, há de, por força, a lei dizer respeito, em máximo grau, a ordem da felicidade. – Demais, a parte ordenando-se para o todo, como o imperfeito para o perfeito; e sendo cada homem parte da comunidade perfeita, necessária e propriamente, há de a lei dizer respeito à ordem, para a felicidade comum. E, por isso, o Filósofo, depois de dar a definição do legal, faz menção da felicidade e da comunhão política. Assim, diz: consideramos como justo legal o que faz e conserva a felicidade, com tudo o que ela compreende, em dependência da comunidade civil. Ora, a comunidade perfeita é a cidade, como diz Aristóteles.
Porém, em qualquer gênero, o que é principal é princípio de tudo o mais que a esse gênero pertence, e que é considerado em dependência dele. Assim, o fogo, quente por excelência, é a causa do calor dos corpos mistos, considerados quentes na medida em que participam do fogo. Por onde e necessariamente, a lei sendo por excelência relativa ao bem comum, nenhuma outra ordem, relativa a uma obra particular, terá natureza de lei, senão enquanto se ordena ao bem comum. Logo, a este bem se ordena toda lei.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Uma ordem supõe a aplicação da lei ao que é por ela regulado. Ora, o ordenar-se para o bem comum, que é próprio da lei, é aplicável a fins particulares. E, a esta luz, também se podem dar ordens relativas a certos fins particulares.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Certamente, as obras dizem respeito ao particular. Mas, este pode ser referido ao bem comum, não pela comunidade genérica ou específica, mas, pela da causa final, enquanto que o bem comum é considerado como fim comum.
RESPOSTA ÀTERCEIRA. – Assim como na ordem da razão especulativa nada tem firmeza senão pela resolução aos primeiros princípios não demonstráveis, assim também nada a tem, na ordem da razão prática, senão pela ordenação ao último fim, que é o bem comum. Ora, o que deste modo participa da razão, tem a natureza de lei.
ART. III – Se a razão particular pode legislar.
O terceiro discute-se assim. – Parece que qualquer razão particular pode legislar.
1. – Pois, diz o Apóstolo: Quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, esses tais a si mesmos servem de lei. Ora, isto é dito em geral de todos. Logo, quem quer que seja pode impor a si mesmo a sua lei.
2. Demais. – Como diz o Filósofo, a intenção do legislador é levar os homens à virtude. Ora, qualquer um pode fazê-lo. Logo, a razão de qualquer homem pode legislar.
3. Demais. – Assim como o chefe da cidade é o seu governador, assim, qualquer pai de família é o governador da casa. Ora, o chefe da cidade pode legislar para ela. Logo, também qualquer pai de família pode legislar para a sua casa.
Mas, em contrário, diz Isidoro, e está nas Decretais: A lei é a constituição do povo, pela qual os patrícios, simultaneamente com a plebe, estabeleceram alguma coisa. Logo, qualquer um não pode legislar.
SOLUÇÃO. – A lei, própria, primária e principalmente, diz respeito à ordem, para o bem comum. Ora, ordenar para o bem comum é próprio de toda a multidão ou de quem governa em lugar dela. E, portanto, legislar pertence a toda a multidão ou a uma pessoa pública, que a rege. Pois, sempre, ordenar para um fim pertence a quem esse fim é próprio.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como já dissemos, a lei está num sujeito, não só como em quem regula, mas também, participativamente, como em quem é regulado. E, deste modo, cada qual é para si mesmo a sua lei, enquanto participa da ordem de quem regula. Por isso o Apóstolo acrescenta: Os que mostra a obra da lei escrita nos seus corações.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Um particular não pode levar eficazmente para a virtude. Pode apenas advertir; mas, se a sua advertência não for aceita, não dispõe da força coativa, que a lei deve ter para levar eficazmente à virtude, como diz o Filósofo. Ao passo que a multidão, ou a pessoa pública, a quem compete infligir as penas, tem essa força coativa, como a seguir se dirá. E, portanto, só ela pode legislar.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Como o homem faz parte da casa, assim, esta, da cidade, que é uma comunidade perfeita, segundo Aristóteles. Por onde, assim como o bem de um homem não é o fim último, mas se ordena ao bem comum; assim, o bem de uma casa se ordena ao de toda a cidade; que é uma comunidade perfeita. Portanto, quem governa uma família pode, certamente, estabelecer certas ordens ou estatutos, mas que, propriamente, não constituem leis.
ART. IV – Se a promulgação é da essência da lei.
O quarto discute-se assim. – Parece que a promulgação não é da essência da lei.
1. – Pois, a lei natural é a lei por excelência. Ora, ela não precisa de promulgação. Logo, o ser promulgada não é da essência da lei.
2. Demais. – Pertence propriamente à lei obrigar a fazer ou não fazer alguma coisa. Ora, são obrigados a cumprir a lei não só aqueles que lhe sabem da promulgação, mas, também, os outros. Logo, não é a promulgação da essência da lei.
3. Demais. – A obrigação da lei também liga para o futuro, pois as leis impõem necessidade aos negócios futuros, como diz o direito. Ora, a promulgação é feita para os negócios presentes. Logo, não é da essência da lei.
Mas, em contrário, dizem as Decretais: As leis são instituídas quanto promulgadas.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, a lei é imposta aos que lhe estão sujeitos, como regra e medida. Ora, a regra e a medida impõe-se aplicando-se aos regulados e medidos. Por onde, para a lei ter força para obrigar – o que lhe é próprio – é necessário que seja aplicada aos homens, que por ela devem ser regulados. Ora, essa aplicação se faz por chegar a lei ao conhecimento deles, pela promulgação. Logo, a promulgação é necessária para a lei vir a ter força.
E, assim, desses quatro elementos referidos podemos deduzir a definição da lei, que não é mais do que uma ordenação da razão para o bem comum, promulgada pelo chefe da comunidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A promulgação da lei da natureza se dá por tê-la Deus infundido na mente humana, de modo a ser naturalmente conhecida.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Aqueles que têm conhecimento da promulgação da lei são obrigados a observá-la, enquanto sabem ou podem saber, por meio de outros, da promulgação dela.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A promulgação presente se aplica ao futuro pela persistência da escritura, que, de certo modo, está sempre promulgando a lei. E por isso Isidoro diz: A lei é assim chamada do verbo ler, porque está escrita.
As virtudes
(baseado em Di Napoli)
	As virtudes são hábitos bons que nos levam ao cumprimento da lei natural. As virtudes principais são chamadas de cardeais, pois a ela se ligam outras virtudes. As virtudes cardeais são: justiça, prudência, fortaleza e temperança.
1. A prudência e suas partes
	A Prudência é uma virtude cardeal, que se relaciona com a boa escolha dos meios para a consecução de um fim. Uma forma mais concisa reza: a prudência "recta ratio agibilium", a fim de indicar que a virtude consiste numa reta disposição racional das coisas a serem feitas. Por "agível" entendem a ação do homem considerada moralmente. A arte, pelo contrário, que os mesmos escolásticos chamam "recta ratio factibilium", refere-se tão só à execução técnica da obra; "factível", efetivamente, é a mesma obra considerada do ponto de vista técnico ou artístico.
Divisão
1) As partes subjetivas ou espécies da prudência são: a prudência individual, a econômica e a social, segundo o homem ordena prudentemente ao fim somente o que se refere à sua pessoa ou também o que se estende às relações familiares e sociais.
2) As partes integrais, isto é, as virtudes que completam a prudência, são a docilidade, a solicitude, a lembrança dos fatos passados (diz-se, com razão, que a história é mestra da vida), a inteligência para entender o sentido dos acontecimentos, o saber prever etc. Às vezes, de fato, a prudência exige solicitude e a dilação seria imprudência; outras vezes será mais prudente esperar e seria imprudente assumir uma atitude demasiado solícita. Quem, portanto, carecesse dessas virtudes complementares, tornaria inútil, no caso particular, toda a sua prudência.
3) As potenciais da prudência são as virtudes mais próximas e que sob diversos aspectos a ela se assemelham ; como o saber dar bons conselhos (Eubulia), o saber julgar com sagacidade os acontecimentos (Sinesis) e o saber oportunamente dispensar e dispensar-se da lei, quando observá-la seria contrário à reta razão (Gnome ou epiqueia).
2. A justiça e suas partes.
A justiça é a disposição firme e constante da vontade em dar a cada um o que é seu. Ela, por isso, tem por objeto próprio o direito dos outros e o direito alheio é tudo o que lhes é devido. A justiça tem por lema: "Unicuique suum". Santo Tomás define-a: "perpétua et constans voluntas, ius suum unicuique tribuens". Comumente falando chama-se justo quem respeita o direito: "iustus dicitur quis ius custodit".
Divisão
1) As partes subjetivas da justiça são: a justiça comutativa, distributiva e legal. 
a) A justiça comutativa é a que regula as relações entre pessoa, na vida particular. Santo Tomás define-a: "aquela espécie de justiça "Qua homo in his dirigitur quae mutuo inter duas personas ad invicem sunt". Diz respeito às compras e às vendas (e, por isso, chama-se comutativa) e a todas as transações em que uma pessoa tanto dá quanto recebe, quer se trate de coisas, quer de bens, quer de emolumentos. 
b) A justiça distributiva é a justiça que regula a distribuição quer das vantagens, quer dos ônus entre os súditos da parte da autoridade. Por exemplo:a justiça distributiva impõe à autoridade o dever de distribuir a cada indivíduo vantagens e deveres de sorte que todos sejam igualmente auxiliados a conseguir o seu fim e de todos sejam igualmente eliminados os impedimentos. Essa espécie de justiça tem vasto campo de aplicação nas distribuições de prêmios, dignidades, cargos, honras, privilégios, encargos odiosos, censuras e penas de todo gênero.
c) A justiça legal é a justiça reguladora das relações entre os indivíduos e a sociedade e esta tende a conseguir que todo súdito lhe dê o que é devido para o bem comum.
2) As partes integrais da justiça são: "fazer o bem e não fazer o mal". Cumpre, porém, não entender essas partes genericamente, pois são partes integrantes da toda virtude, mas segundo o sentido técnico da palavra justiça, isto é, enquanto dizem respeito ao próximo, ao qual devem ser outorgados os bens que lhe são devidos e a quem se devem evitar os males que lhe devem ser poupados.
As partes potenciais da justiça são as virtudes a ela afins, com a qual tem traços comuns, mas da qual todavia se distinguem por características particulares. Assim é para a religião, para a piedade quer para com os pais, quer para coma a pátria, para com os benfeitores, para a obediência aos superiores, para a sinceridade, a gratidão, a punição do mal, exercida por quem é investido de legítima autoridade, para a generosidade, a amizade etc. Não se pode de fato negar que essas virtudes tenham algo de comum com a justiça, pois tendem a dar o que é devido, mas já não se encontram no plano de "direito rigoroso", onde se encontra a justiça propriamente dita.
3. A temperança e sua partes.
A virtude da temperança consiste no hábito constante da vontade de usar bem das coisas que conservam e transmitem a vida humana. Por outras palavras, a temperança tem por objeto próprio o uso dos alimentos, das bebidas e do sexo. Posto que o homem é levado a esses objetos com instinto poderoso, a temperança modera a "intemperança" do instinto, cometendo-o nos limites da razão.
Cícero define-a: "rationis in libidinem atque in alios non rectos impetus animi firma et moderata dominatio". Aristóteles chama-a "Mediocritas in voluptatibus corporalibus" e Santo Tomás afirma que a temperança "respicit delectabilia, quibus humana vita conservatur, scilicet cibos et venerea".
Divisão
1)As partes subjetivas da temperança são:
a abstinência, que é a moderação no alimento;
a sobriedade, que é a moderação no beber;
a castidade, que é a moderação acerca do ato principal do prazer sexual e a pudicícia, que é a moderação nos atos concomitantes ao ato principal do sexo, como são, por exemplo, as manifestações comuns de afeto: abraços, beijos, carícias etc. Quem, de fato, evita isso é chamado "pudico".
2)As partes integrais são: 
A verecúndia. Com essa palavra entende-se o sentimento de horror que experimentamos em face da torpeza da intemperança. A verecúndia é sempre mesclada do temor da vergonha e da perda da estima. Por isso, São Gregório Nisseno diz com muita justiça: "Qui verecundatur occultat se in quae agit, Qui vero erubescit timet incidere in ingloriationem".
A honorabilidade pela qual se ama o decoro e a beleza da temperança.
Para sermos exatos, verecúndia e honorabilidade não são propriamente partes da virtude, pois não se trata de disposições da vontade; são, pelo contrário, condições ou pressupostos naturais, um negativo e outro positivo, os quais tornam mais fácil o exercício dessa virtude.
3)As partes potenciais da temperança são: 
a continência, que freia a vontade para não ceder à concupiscência;
a humildade, que refreia a ousadia no desejo dos bens e das vantagens materiais;
a mansidão, e a clemência, que moderam a ira na vingança;
a modéstia, que reprime os movimentos desordenados do corpo, produzidos pelo apetite; a modéstia, enfim, refere-se propriamente ao comportamento do corpo.
4. A fortaleza e suas partes 
Santo Tomás, repetindo o pensamento de Aristóteles, diz que a fortaleza é "quaedam medietas inter timorem et audaciam, nam fortitudo important quamdam animi firmitatem, per quam animus consistit immobilis contra periculorum timores". Em outros termos, a fortaleza é a virtude que dispõe a vontade a superar os obstáculos que se lhe opõem na observância da lei moral. Esses obstáculos podem surgir da parte de graves perigos a serem enfrentados, provenientes do exterior, ou da pusilanimidade da pessoa. Os perigos afastam do dever incutindo terror, a pusilanimidade afasta do dever apresentando a dificuldade mais grave do que do que realmente o é. 
Divisão
1) Segundo Santo Tomás não existem partes subjetivas, ou seja, espécies da fortaleza, pois essa virtude já é perfeitamente determinada no sentido técnico em que é comumente tomada. Salvo, talvez, que não se queira dizer que essas partes são: suportar e fazer coisas fortes como expusemos acima.
2) As partes integrais, ao invés, são:
a confiança, que dispõe o ânimo ao empreendimento;
a coragem, , que move a vontade para a ação;
a perseverança, que sustenta a vontade no desejo do fim, não obstante persistam os perigos;
a longanimidade e a constância, que dispõem a sustentar as lutas, mesmo graves, contanto se consiga o próprio intento;
a paciência, que fortalece o ânimo para suportar males, inclusive graves, antes que atrair a lei moral;
a magnificência, que eleva a alma e empreendimentos nobres, com certa largueza de vistas;
a magnanimidade, que inclina o ânimo e desprezar as honras e a empreender coisas elevadas. Chama-se também "superioridade de ânimo", pela qual nem se buscam louvores, nem se temem censuras humanas; tende-se tão só a virtude, excluindo todo interesse interesse humano.
III. A intenção
	 O terceiro elemento determinante da ação moral é a intenção.
	A intenção é a finalidade que o agente tem ao praticar uma ação, ou seja, o que se quer conseguir por meio do ato que realiza.
Princípios básicos
se a intenção é boa, acrescenta ao ato bom nova bondade;
se a intenção é má, vicia por completo a bondade do ato;
quando o ato é em si indiferente, a intenção transforma-o em bom ou mau;
se a intenção é má, acrescenta nova maldade a um ato mau em si;
a intenção de quem age nunca pode tornar bom um ato que em si é mau.
III. A CONSCIÊNCIA
Portanto, passamos a tratar da consciência moral. Consciência moral é um tipo de consciência psicológica. A consciência moral é uma presença do sujeito a si mesmo no seu agir mediante a qual ele está lúcido, advertido da qualidade moral que como sujeito reveste-se enquanto reage desta ou daquela forma. A consciência moral tem presente (conscientiza) o sujeito enquanto moral.
Distinções:
1) consciência moral
	 
2) conhecimento moral 
 o sujeito bom 
 a) antecedente percebe se ou
3) consciência moral vai ser mau
 (implicada no ato moral) 
 o sujeito bom
 b) concomitante que está ou
 sendo mau
 o sujeito bom
 c) consequente percebe ouque foi mau
Tivemos noções preliminares sobre a consciência. Como vimos, a consciência é a presença do ser que conhece no mesmo ato de conhecer o objeto.
Sujeito Moral Objeto Moral
sindérese
LUZ FAZER O BEM,
 conhecimento moral e EVITAR O MAL
ser bom 
não ser mau consciência moral
responsabilidade humana
Moral
Essa é a problemática subjetiva da moralidade. Até aqui supusemos que a consciência corresponde sempre ao bem ou ao mau, que a consciência fosse certa. Mas, na verdade, a consciência moral pode encontrar-se em outra situação.
Divisão da Consciência Moral
				Antecedente: quando julga o ato que vai ser realizado
Em razão do ato
Consequente: quando julga o ato já realizado
Verdadeira: julga a ação em conformidade com os princípios objetivos da ética
Em razão do objeto		
Errônea: julga as ações em desacordo com os princípios objetivos da ética
Reta (inculpável): julga com fundamento e prudência
Em razão da responsabilidade		
Distorcida (culpável): julga sem fundamento e imprudentemente
				Escrupulosa: sempre falta em tudo
				Atenta: que julga até os detalhes
				Perplexa: ver falta em fazer algo como em não fazê-lo
Em razão do hábito	Lassa: nega ou diminuir a falta onde há
Farisaica: que diminui o que e bom e aumenta o que é mau
Cauterizada: não percebe mais falta em quase nada
					Certa: julga com firmeza
Em razão do assentimento 	Provável: julga a partir de razões não desprezíveis
Duvidosa: vacila sobre a liceidade da ação
Princípios relativos à consciência
A consciência verdadeira e reta é a única regra subjetiva e próxima dos atos humanos;
A consciência invencivelmente errônea pode ser acidentalmente regra subjetiva dos atos humanos;
A consciência vencivelmente errônea nunca pode ser regra subjetiva dos atos humanos; é obrigatório dissipar o erro antes de agir;
A consciência reta deve ser sempre obedecida
Não é lícito agir com a consciência distorcida (não reta), ou seja, contra o ditame da própria consciência;
Somente a consciência certa pode ser tomada como reta norma dos costumes;
Não é lícito agir com consciência duvidosa;
Todo homem tem obrigação de formar a consciência, cujos meios são:
boa educação;
sinceridade;
estudo dos deveres;
pedido de ajuda e conselho;
prática da virtude;
eliminação dos vícios;
procura de Deus
	Portanto, a nossa consciência muitas vezes hesita. Podemos Ter dúvidas sobre a lei ou sobre a aplicação da lei. Quanto mais uma aplicação da lei é circunstanciada tanto mais é passível de gerar duvidas.
	Posso transformar uma consciência invencível em uma consciência vencível gerando a suspeita. Mas aqui falamos dos estados da consciência interna. Lembrando a necessidade da consideração da consciência numa época em que se descobriu a subjetividade, retomamos a nossa exposição.
	Após a definição de consciência moral como uma espécie de consciência psicológica e depois de ter classificado e definido os vários tipos de consciência e elaborado diversas categorias úteis para apresentar o problema que motiva este estudo do ponto de vista ético.
	A consciência moral antecede necessariamente qualquer ato ético, acompanha-o e segue-o. com a consciência é um elemento integrante do conhecimento ético e como o conhecimento ético não é infalível e não é dinâmico, a consciência moral pode encontrar-se na condição de adequação à ordem objetiva de valores e pode também errar, não atestando, portanto, esta ordem para o sujeito tal como ela é. Não só a consciência pode estar no erro como pode estar no estado de dúvida.
Sabendo que a consciência não pode errar no primeiro princípio da moralidade (o bem deve ser feito...), mas pode errar na aplicação deste princípio, levanta-se o seguinte problema: supondo-se a situação de erro ou de dúvida na consciência do agente moral, como se determina a moralidade da ação?
Norma objetiva Norma subjetiva
(escala dos valores)  (consciência)
 ação? 
Quando a consciência é verdadeira não há diferença entre a consciência e a norma objetiva, mas sabemos que está situação nem sempre se realiza. Sabemos que existe uma norma objetiva válida, mas a consciência pode estar disforme a ela. Ora, como ficará determinada a qualidade moral da ação deste agente?
A moralidade da ação fica determinada pela lei tal qual ela é em si mesma, isto é, pela razão reta ou pela lei tal qual ela é conhecida( no caso, com erro ou com dúvida), isto é, pela razão não retificada?
É preciso distinguir, contudo, o plano especulativo-prático da consciência, que é o plano das noções, dos princípios, das normas, do plano prático-prático, que o do juízo que determina ultimamente a ação.
1. A consciência moral sempre obriga o agente ainda quando esta errada, desde que o erro seja invencível;
2. De outro lado, a consciência moral também desculpa em caso de erro desde que, porém, o erro seja inculpado.
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