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O DIA QUE A SANTA FOI PRESA: A devoção a Nossa Senhora de Fátima e suas manifestações no sertão de Crateús: origem da fé, cultura e religiosidade1 Yasmin Gabriele Pereira do Nascimento Amanda Saboia Vieira2 RESUMO Em 1951, Crateús, no Ceará, recebeu a imagem de Nossa Senhora de Fátima em um evento que mobilizou a população e reforçou a devoção católica local. A visita ocorreu no momento em que a devoção mariana se intensificou, especialmente durante a oração do rosário, a pedido de Nossa Senhora de Fátima, após sua aparição. Esse ensaio busca explorar as origens da devoção a santa e como impactou Portugal, posteriormente no Brasil, assim como no Nordeste. Em Crateús, visita da imagem em 1953 foi marcada por um episódio inusitada: a “prisão” da imagem devido a atrasos em sua peregrinação. Esse acontecimento, amplamente divulgado, evidenciou a profunda religiosidade em sua forma intensa e o poder exercido na cidade. Palavras-chave: Catolicismo; Devoção; Fé; Nossa Senhora de Fátima. 1. INTRODUÇÃO A cidade de Crateús fez parte do roteiro da peregrinação de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal ao Brasil, em 1951. Com a popularidade da devoção mariana no Brasil e o simbolismo de esperança e paz que a aparição de Nossa Senhora de Fátima trouxe, podemos compreender os aspectos que levaram a uma comoção no ano de 1953 na cidade cearense. Sua passagem por Crateús tornou-se um marco na história religiosa local, não apenas pelo momento especial de sua visita, como também pelo episódio que ficou conhecido como o dia em que a Santa foi "presa". 1 ¹ Trabalho referente a avaliação da disciplina de Teoria II, ofertada pela Faculdade de Educação e Ciências Integradas de Crateús, ofertada pelo professor Caio Lucas Pinheiro. 2 Discentes da Faculdade de Educação e Ciências Integradas de Crateús do sexto semestre. O presente ensaio tem como objetivo explorar as origens, significados e quão relevante foi as aparições de Nossa Senhora de Fátima, tendo foco no contexto da guerra, como essa devoção influenciou a espiritualidade católica em Portugal, e sua expansão pelo Brasil principalmente em Crateús, uma cidade do Nordeste do país. Busca-se compreender o contexto histórico, social e religioso em que ocorreram as aparições de Nossa Senhora de Fátima, evidenciando a relação profunda entre o povo português e a Igreja Católica. As aparições aconteceram em um momento de grandes dificuldades, marcado pela devastação da Primeira Guerra Mundial e por tensões políticas internas, como o crescente anticlericalismo do governo. As aparições marianas, com seu simbolismo de esperança e renovação, representaram para muitos uma luz em meio à escuridão, revitalizando a crença e o papel da Igreja em uma época de incertezas. A devoção a Santa Imagem de Fatima se conecta com a cultura brasileira, especialmente no contexto nordestino facilmente popularizada na américa pela colonização de países de maioria cristã. Explorar essa devoção faz com que seja possível assimilar como a devoção transcende o campo religioso influenciando o cotidiano do povo, além de investigar a fé católica como um poder unificador. Contudo o ponto notável que levou aos fies e a igreja a manter a santa em Crateús quando ela deveria partir para outras cidades do Ceará, foi o poder que a igreja católica exerce sobres as pequenas cidades do país nesse período, mesmo com a chegada do protestantismo no período não foi tirada tão facilmente sua potência. 2. NOSSA SENHORA DE FÁTIMA - ORIGENS E SIGNIFICADOS Nossa Senhora de Fátima nome atribuído à Virgem Maria após as aparições marianas. Suas origens partem do contexto da guerra e da miséria que a assolava a Europa em 1914 a 1918, com a Primeira Guerra Mundial. A população pobre ou de arias rurais eram as que mais sofriam, um exemplo são os camponeses que se interessavam muito mais pela chuva ou pelo preço da lã do que pela capacidade efetiva dos governadores distantes. A brutalidade e os conflitos trouxeram uma sensação de desesperança e incertezas, incluindo Portugal que inicialmente neutro, acabou se envolvendo na guerra em 1916. Como é descrito do trecho do livro Nossa Senhora de Fátima de William Thomas Walsh: Contavam que o governo se apoderara dos bens da Igreja, exilara centenas de religiosos, de padres e até mesmo o Cardeal Patriarca e outros bispos. Mas o bom povo de Aljustrel conservava-se fiel à bondosa cura de Fátima e continuava a ouvir Missa todos os domingos. Talvez nem fosse capaz de cometer as infâmias que igreja sofreu em outras regiões, principalmente nas cidades. Era essa mais ou menos a situação, quando Portugal entrou oficialmente na Guerra Mundial, março de 1916. (Walsh, William Thomas.1947, cap. IV) Walsh, descreve a relação entre o povo de Aljustrel, uma simples aldeia rural em Portugal, e a Igreja Católica no início do século XX, em contexto de grandes mudanças que foi marcado por eventos históricos significativos que influenciaram tanto o cenário político, social, quanto o espiritual. O trecho menciona o confisco de bens da Igreja e os exílios de religiosos, em meio às tensões dos conflitos da guerra e da república recém estabelecida e a Igreja Católica. E mesmo com esses acontecimentos o povo permaneceu fiel continuando a participar das missas, demonstrando uma forte ligação com a igreja e a fé católica. Contudo, a crença na Igreja e a devoção dos fiéis se mostravam bastante presentes em meio as dificuldades, mas isso não impediu que os dirigentes anticlericais de Portugal, um país cristão entrasse na guerra. Mesmo com o discurso do Papa Bento XV que rogava ao mundo apelos pela paz, e alertava sobre arruína que viria assolar a Europa, caso essa advertência fosse ignorada, referindo-se às consequências da guerra. É nesse cenário de conflitos, descrença por parte de alguns e crença por parte de outros que o surgimento da Santa do Rosário traz consigo uma renovação não só da fé cristã como da própria Igreja Católica que até então tinha perdido bastante poder, fazendo com que ao longo dos anos adotasse uma série de estratégias para reafirmar sua influência, através de missões, pregações e devoção à Virgem Maria e a Jesus. Apesar dessas manifestações religiosas terem enfrentado oposição por parte do governo, elas conseguiram sobreviver, refletindo a força religiosa do povo português. Assim as aparições da Virgem Maria, tornaram Fátima um importe centro de renovação do catolicismo em Portugal. 2.1. APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA EM PORTUGAL As aparições de Nossa Senhora de Fátima ocorreram 1917, na cidade de Fátima antes denominada Cova da Iria. A primeira delas, acorreu em meio ao caos da Primeira Guerra Mundial, no dia 13 maio, ela apareceu para três crianças, uma menina chamada Lúcia de Jesus, e os irmãos Francisco Marto e Jacinta Marto. Os irmãos eram primos de Lúcia e os três estavam pastoreando o rebanho de ovelhas quando testemunharam o fato. Apenas se abrigaram sob a folhagem rendada, reluziu um segundo clarão. Amedrontados, afastaram-se da árvore à distância de uma centena da metros. Pararam estatelados. Em frente, na copa de uma azinheira – de seis pés de altura e de folhas lustrosas, cercadas de espinhos – viram, perplexos, uma esfera de luz, e no centro, uma senhora, >, assim descrevia Lúcia, mais brilhante que o sol, irradiando luz tão clara e intensa, como se fora um copo de cristal, cheio de água puríssima, irisada pelos mais ardentes raios de sol. A sua face, era, indiscutivelmente, bela. > - com ar suave de censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e voltadas para cima. Da mão direita pendia um Rosário. As vezes pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e branco o manto, orlado de ouro, que lhe cobria a cabeça e lhe descia aos pés. (Walsh,William Thomas.1947, cap. V) Nesse trecho é possível se ter descrição da primeira aparição de Nossa Senho de Fátima, a Lúcia e seus primos. A virgem apresentada como uma figura luminosa, vestida de branco, como símbolo da pureza e santidade, a postura das mãos e segurando um rosário indica sua função como intercessora dos mais validos, o impacto da imagem nas crianças mostra a profundidade da experiencia religiosa que teve sobre elas. Toda simbologia no surgimento da santa demonstra a esperança e a proteção divina. Na primeira aparição a Virgem pediu que eles voltassem no dia 13 dos próximos meses. E pediu que rezai o terço todos os dias, como penitência, para alcançar a paz e fim da guerra no mundo. Nas próximas aparições havia muita comoção entorno das histórias e dos pastorinhos, a notícia já tinha se alastrado por toda parte e dividia opiniões. Tanto as crianças como seus pais foram ridicularizados, o próprio pároco da época dizia ser tudo coisa do diabo. Na segunda aparição a santa pediu que continuassem a rezar e que oferecessem sacrifícios pelos pecadores. Na terceira aparição foi mostrado a visão do inferno, e foi feito profecias sobre a Rússia, a quarta aparição foi interrompida pelas autoridades locais que impediram as crianças de se reunirem, até mesmo o pároco tinha mudado de opinião, já não acreditava ser obra do demônio, mas sim puras invenções. No final a santa apareceu em particular para Lucia. Na quinta aparição muitas pessoas se reunirão para testemunhar, e a santa continuou a pedir por orações e fizessem reparações pelos pecados. Na sexta e última aparição havia uma atmosfera diferente o empalidecer do sol até o ponto de se verem as estrelas, o sol, que estava visível ao meio-dia, teria se tornado pálido e girando sobre si mesmo, emitindo luzes que ficaria conhecido como o “milagre do sol”. Com a última aparição milhares de pessoas testemunharam o milagre, considerado um fenômeno não natural presenciado por todas as classes sociais do crente ao descrente até mesmo daqueles que se encontravam longe do local. Acarretando um grande impacto no catolicismo como na sociedade em geral, promovendo a devoção ao rosário. Fátima se tornou um destino importante para a peregrinação, pois muitos acreditavam que a cidade era um local santo e um símbolo de esperança e fé. A igreja enfrentou por muito tempo um ambiente hostil devido à república e seu controle sobre as manifestações religiosas, apesar disso, as missões populares, as práticas, a devoção e procissões, se mantiveram resistentes e se intensificaram. Isso mostrava que fé continuava como elemento central e de suma importância na vida social e cultural das pessoas. Os acontecimentos de 1917 em Fátima tornou-se ponto de revitalização da fé católica em Portugal, as aparições serviram como a chave principal para o renascimento da igreja que se manifestou com o aumento na popularidade e devoção do povo. A própria restauração da confiança na igreja em um período de guerra marcado por muita descrença até mesmo a perca da fé, a aparição de Nossa Senhora ajudou na restauração da credulidade dos fies na igreja com a mensagem de esperança e renovação. 3. A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO CONTEXTO BRASILEIRO A cultura brasileira está profundamente entrelaçada com a fé católica, a devoção a Maria ocupa o ponto central na crença e espiritualidade do povo. O Brasil, é um dos países mais católico do mundo e tem uma longa tradição de devoção mariana, se manifestando de diversas formas, desde procissões, trabalhos culturais, artística e eclesiásticas entre muitas outras. A devoção à Nossa Senhora de Fátima começou a se espalhar após as aparições de 1917, ganhando força nas décadas seguintes. Chegou ao Brasil através dos imigrantes portugueses e se tornou uma das mais populares, a cada dia 13 de cada mês muitas paróquias organizam eventos e celebrações em homenagem as aparições, sempre atraindo uma multidão de fiéis todos os anos. Diversas capelas foram construídas dedicadas à Nossa Senhora de Fátima em todo o Brasil, um dos mais conhecidos Santuários de Fátima é o de São Paulo, sendo o maior localizado em São Benedito, no Ceará, onde milhares de fiés se reúnem todos os anos para expressar sua devoção. A devoção à Nossa Senhora de Fátima no Brasil, vai muito além das manifestações religiosas, ela se entrelaça com a cultura popular, refletindo na arte, no teatro, na música e pode estar presente em toda forma de expressão. A devoção no cenário brasileiro é um elemento vital tanto na espiritualidade católica quanto na vida sociocultural do povo brasileiro. 3.1. A INFLUÊNCIA NO NORDESTE BRASILEIRO A fé no Nordeste brasileiro, é uma marca de identidade histórica e cultural dessa região, onde o catolicismo se consolidou e se mescla com tradições populares, criando manifestações de devoção que ultrapassa o simples campo religioso. A religiosidade do povo nordestino vai além do tradicional é vivido dentro do cotidiano e constitui um pilar fundamental na vida social das famílias, sendo uma fonte de conforto e esperança em meio as dificuldades. A devoção a Nossa Senhora é de grande relevância em todo Nordeste, ela é venerada e nomeada por diversos títulos por toda região. A imagem de Maria, é reverenciada através de devoções intensas, romarias, procissões e festas populares, são formas de os fiéis expressarem suas crenças e gratidão. Além disso, as formas de manifestações também podem ser representadas por expressões artísticas e culturais da região, como na literatura de cordel, na música, danças e no próprio vocabulário das pessoas, enraizado pelas referências religiosas. Um exemplo a ser citado é a obra o “Auto da Compadecida” uma peça teatral em forma de auto, em três atos, escrita pelo autor Ariano Suassuna em 1955, e tem como plano de fundo o sertão nordestino. É um trabalho que mescla a literatura de cordel, comédia, é principalmente a religião católica. É abordado na obra a questão da devoção à Nossa Senhora, constituindo-se como elemento central na narrativa, podendo ser observado não só pelas imagens apresentadas como pelos discursos dos personagens, a peça apresenta também elementos políticos, crítica ao judiciário, e muitos elementos que pairavam a realidade nordestina. O julgamento e condenação das almas, a representação do demônio, de Jesus e por fim de Maria como intercessora das pobres almas, demonstra como a religiosidade sempre esteve tão presente na vida social e cultural de todos. 4. NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO SERTÃO DE CRATEÚS Em 1950 a igreja católica era a religião predominante na cidade de Crateús, e a única que possuía seguidores. Se propagava sem contestação. Apesar que 1951 chega na cidade um casal de protestantes americanos, Pastor Franco e dona Irene, para divulgar o protestantismo. O que não terminou bem, pois enquanto eles promoviam cultos públicos acabaram sendo expulsos a pedradas pelo Vigário Pe. Bonfim aliado à população. Como forma de demonstração para aqueles que ousassem ser contra a Igreja católica. O ano era 1953 houve no Brasil uma peregrinação da imagem de Nossa Senho de Fátima, vinda de Portugal, algumas cidades cearenses estavam na rota programada da visita. Crateús era uma delas, foi mobilizado a população inteira para receber a imagem, com o intuito de marca a passagem ainda mais ilustre, foi ordenado construir um arco sobre o viaduto Afonso Feijó, atual Rua Dom Pedro II, tendo encima a imagem de Nossa Sra. de Fátima, para ser inaugurado durante a visita no dia 10. A cidade inteira estava em festa, havia comoção por toda as partes como relata o pesquisador Flavio Machado, membro da academia de letra de Crateús, “A cidade estava lotada, nunca tinha se visto uma multidão tão grande em Crateús até então. Veio gente de cidades vizinhas, da zona rural; a pé, a cavalo, que era o transporteda época. Estava todo mundo preparado para ver a santa.” (Crateús – lembranças que marcaram a história). Ruas foram devidamente decoradas com faixas e as pessoas carregavam bandeiras, em alas quilométricas, esperando para saudar a santa. O cortejo que já esperava no aeroporto se dirigiu ao Arco de Fátima onde se encontrava o prefeito João Afonso, que esperava entregar uma pequena chave feita de ouro, como símbolo da chave da cidade. Quando a santa chegar à Igreja da Matriz a multidão enfileirada já tomava os dois lados da rua, cantavam hinos, rezavam preses, alguns pagavam promessas, P. Bonfim como o representante do povo entregou um coração de 271 gramas de ouro de 18 quilates, dentro tinha um pouco de terra crateuense, o presente foi feito por Manuel de Araujo Bonfim. E foi entregue aos padres portugueses. [...] Quando da passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em 1953, Crateús marcou a sua presença, oferecendo um pingente em forma de coração, em ouro contendo barro de Crateús. Nenel, filho do casal, ourives como pai, foi responsável pela confecção da joia, cuja matéria prima foi arrecadada em várias peças pelos munícipes. (Macedo,2010, pag. 291) A forte crença e fé do povo crateuense demonstrava como o catolicismo estava enraizado em toda região, pessoas se deslocavam de todos os lugares na esperança de um milagre. Mas as coisas não seguiram como o planejado, o povo ficou na igreja o dia 10 inteiro, pois a cidade estava sendo prejudicada com o atraso nos horários de deslocamento da santa. O que causou uma grande oposição em relação ao tempo de permanência em Crateús. A santa ficou até o dia 11 de novembro, que permitiu a chegada de mais fiéis durante toda noite, que iam a igreja presta suas homenagens, durante e depois da missa. Enquanto isso uma comissão de padres e autoridades, composta por padres, vigários e juízes negociavam a saída da santa. Ficou decidido que a imagem se deslocaria apenas no dia 11. 4.1. A PRISÃO DA SANTA Como a santa ficou além do previsto, a cidade de Crateús ficou conhecida como os “carcereiros da santa”, a imprensa explorou bastante esse fato. O certo é que há mais uma versão sobre esse acontecimento, a primeira era que o programado dá santa passa uma pernoitada na cidade, e que depois teria sido desmarcado, na segunda versão é que houve um atraso na chegada da santa o que comprometeu o tempo da passagem, e na terceira versão é que o juiz da cidade, Dr. Olavo Frota, afirmou que a imagem não sairia de Crateús, pois como já era noite dificultaria o voo para Tauá. Contudo, há uma concordância, a santa atrasou e teve que passa a noite na cidade, para a alegria dos devotos. A fama do aprisionamento da santa só veio por causa do Padre da diocese local, Pe. Palhano Saboia, que queria cumprir com o cronograma agendado. Foi ele que passou um telegrama para Dom José Tupinambá da Frota, bispo de Sobral. Pe. Palhano contava ao bispo que a população de Crateús estava aprisionando a santa. A prisão irritou tanto o bispo ao ponto de manda fechar a igreja de Crateús, e que retirassem todas as hóstias do local, como forma de castigo a cidade. Não satisfeito no mês seguinte, Pe. Palhano pilotando um avião inundou a cidade com panfletos de condenação as autoridades, ainda pela retenção da santa. Com o passar do tempo e o crescimento populacional mais religiões se instauram e o protestantismo abriu um leque de possibilidades, introduzindo a ideia da criação da diocese de Crateús. Na década de sessenta houve uma mobilização da população e do bispo de Sobral para que a campanha da diocese se desenvolvesse junto com as cidades que também fariam parte. O vigário de Crateús, fazia planos e apresentava para os vigários vizinhos, a fim de arrecadar fundos para a construção do palácio episcopal. A igreja pedia a famílias abastarde não só dinheiro até objetos como os quatorze quadros da Via Sacra e muitas outras peças, assim foi formada a Diocese de Crateús. 5. CONCLUSÃO A análise aqui apresentada permite reconhecer algumas questões relevantes para este ensaio. Primeiramente a visita de Nossa Senhora de Fátima a Crateús, em 1953, firmou ainda mais a fé mariana – vista principalmente por aqueles que passam pelo arco de Nossa Senhora de Fátima na Dom Pedro II - sendo marcada permanente na religiosidade local e como foi enraizada na cultura da cidade. A ligação religiosa do catolicismo torna-se eficaz quando percebemos a transcendência continental mesmo após muitos anos da colonização. Uma das razões retratadas aqui nesse ensaio era o poder político local que a igreja católica exercia sobre a cidade tendo em vista os conflitos internos dentro da hierarquia da igreja e como isso envolvia e se sobrepunha as autoridades locais. O episódio da “prisão da santa” mostra fervor religioso a devoção da santa Imagem de Fátima, tendo em vista que não existe apenas uma versão do real motivo do aprisionamento podemos compreender que parte de episódio se deu por aspectos da fé, religiosidade e cultura local considerando a devoção mariana. REFERÊNCIAS WALSH, William Thomas. Nossa Senhora de Fátima. 3. Ed. 1947. Santuário de Fátima. Documentação Crítica de Fátima: Seleção de Documentos (1917-1930). Santuário de Fátima, 2013. SALES, Maria Ivane; MARTINS, Aurineide Carvalho. Resgate histórico: de piranhas à Crateús. Fortaleza: 1995. 263 p. MACEDO, Maria Olívia Beserra. Bezerra: no início, uma só família. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010. 496 p.