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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS DAS SAÚDE GEYDSON SILVEIRA DA CRUZ COORTE DE PACIENTES COM LEISHMANIOSE VISCERAL COM ÊNFASE EM ASPECTOS HEMATOLÓGICOS ARACAJU – SE 2020 GEYDSON SILVEIRA DA CRUZ COORTE DE PACIENTES COM LEISHMANIOSE VISCERAL COM ÊNFASE EM ASPECTOS HEMATOLÓGICOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciência das Saúde da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde. Orientador: Professor Dr. Roque Pacheco Almeida ARACAJU – SE 2020 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA SAÚDE – BISAU UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE C957c Cruz, Geydson Silveira da Coorte de pacientes com leishmaniose visceral com ênfase em aspectos hematológicos / Geydson Silveira da Cruz ; orientador Roque Pacheco Almeida. – Aracaju, 2020. 82 f. : il. Dissertação (mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Sergipe, 2020. 1. Ciências da Saúde. 2. Leishmaniose visceral. 3. Pancitopenia. 4. Leucopenia. 5. Trombocitopenia. 6. Anemia I. Almeida, Roque Pacheco, orient. II. Título. CDU 616.993.161 GEYDSON SILVEIRA DA CRUZ COORTE DE PACIENTES COM LEISHMANIOSE VISCERAL COM ÊNFASE EM ASPECTOS HEMATOLÓGICOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciência das Saúde da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde. Aprovada em ______ / _______ / ______ __________________________________________ Orientador: Professor Dr. Roque Pacheco Almeida __________________________________________ 1º Examinador: __________________________________________ 2º Examinador: PARECER ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ DEDICATÓRIA À população sergipana que me acolheu, aos pacientes, aos profissionais de saúde que lidam diuturnamente para fazer o melhor cuidado possível. AGRADECIMENTOS Para início de agradecimentos nada do que eu sou seria possível sem a presença de Deus todos os dias e em todos os momentos da minha vida. A providência divina é instrumento que leva a maravilhas muitas vezes inexplicáveis e eu tenho muita gratidão pelo que Deus me criou e me fez viver. Aos meus pais, Elizete e José Augusto, que moldaram grande parte daquilo que sou, confiaram e me apoiaram em minhas iniciativas. Estiveram ao meu lado nos momentos em que precisei e sempre me incentivaram, pois acreditavam em minhas potencialidades e que situações adversas sempre ocorrerão, mas a desistência não deveria ocorrer sem a tentativa e perseverança. Meus irmãos Cleydson e Daniel, também tiveram, ao modo de cada um, suas contribuições com o poder da palavra amiga. À minha esposa Simone Cruz, que desde 2002 vem contribuindo de forma incomensurável para que eu seja uma pessoa diferente, um homem melhor. Foram muitos dias que, sem a cumplicidade e o entendimento de que o aprendizado e o aperfeiçoamento são sempre recompensadores, não seriam facilmente vividos. É por isso que eu a amo intensamente cada vez mais. Sem sua companhia não seria possível ocorrer a maior graça que Deus nos concedeu, nosso filho, o sempre pequeno João Victor. A ele agradeço por ter me permitido ter horas que na verdade eram para dividir com ele a brincadeira nossa de cada dia. Ao professor Dr. Roque Pacheco, que aceitou ao desafio de me orientar, ou seja, confiou que a partir de um projeto meu estaria contribuindo para a ciência e para sua carreira. Muito obrigado pelas suas dicas, perdoe-me pela, não rara, dificuldade de comunicação, mas saiba que tenho muita admiração pelo grande humano que é, pelo pai dedicado de todos nós. Não poderia deixar de agradecer a professora Dra. Amélia Ribeiro de Jesus, pela paciência infinita, conhecimento invejável, dedicação ao trabalho e zelo científico. Uma pessoa que adjetivos são poucos para qualificá-la acerca do seu real valor. Sou muito grato por tudo que fez e pela ajuda. Aos professores Dr. Marco Prado, por sempre estar disponível, mesmo sem obrigação de me ouvir, Dr. Ricardo Gurgel por contribuir com a semente da academia na minha vida, Dra Tatiana Rodrigues, por me auxiliar sempre que tive dúvidas. Aos colegas da Hematologia, Dra. Aurélia Porto, Dra. Ana Patrícia, Dr. Lucas de Menezes, Dra. Priscila Percout cuja compreensão da minha momentânea ausência em determinados momentos foi fundamental para eu alcançar esse resultado. Não poderia deixar de agradecer a grande mestra Dra. Glória Bomfim que me despertou para a hematologia. Aos ilustres colegas Dra. Fabrícia Alvisi e Dr. Lucas Magalhães, cujo apoio me permitiu a tornar o laboratório um ambiente acolhedor. Também do Laboratório Imunologia e Biologia Molecular (LIBM) os Dr. Márcio Bezerra, Dr. Rodrigo Cazzaninga, Dr. Ricardo Louzada, Dra. Cristiani Bani, Dra. Priscila Santos por compartilharem o conhecimento em nossas reuniões periódicas. À professora Dulce Schimieguel pelas informações valiosas informações oferecidas. Aos amigos colaboradores do laboratório de imunologia, em especial Betânia Lins e Sarah Granjero por ajudar nas coletas das amostras, assim como acomodá-las despretensiosamente. A não citação de quaisquer nomes aqui não significa demérito, apenas pela incapacidade de citar todos aqueles que me auxiliam sempre nessa grande e desafiadora jornada que é a vida. Por fim não poderia deixar de agradecer a colaboração de todos os pacientes e familiares que contribuíram para o avanço científico com a parcela individual do entendimento de que o progresso é precedido de ações únicas conscientes, a eles minha eterna gratidão. “A ausência da evidência não significa evidência da ausência.” “A ciência está atrás do que o universo realmente é, não do que nos faz sentir bem.” Carl Sagan (1934-1996) RESUMO Coorte de Pacientes com Leishmaniose Visceral com Ênfase em Aspectos Hematológicos. Geydson Silveira da Cruz. Aracaju-SE. 2020. As leishmanioses são doenças tropicais negligenciadas causadas por parasitas do gênero Leishmania. Anualmente estima-se quase 1.000.000 casos novos no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A leishmaniose visceral (LV) é a apresentação clínica mais grave, causada, no Brasil, pela Leishmania infantum. A infecção sintomática leva a manifestações clínicas como febre, perda ponderal, hepato-esplenomegalia, citopenias sanguíneas, entre outras. O Brasil está entre os países com maior prevalência de LV, sendo a maior das Américas. A região Nordeste lidera em número de casos novos e mortes por LV. Sergipe apresentou no período entre 2010 e 2019, 687 diagnósticos que ocasionaram 80 mortes. Nesse contexto, foi desenhado estudo de coorte, a partir do seguimento de pacientes com diagnóstico confirmado de LV no período entre dezembro de 2016 e junho de 2019. Foram diagnosticados no período 70 casos, 68 analisados. A maioria era do sexo masculino, a mediana de idade era 20 anos, 76,1% possuíam idade inferior a 40 anos. O tempo mediano para o diagnóstico foi de 30 dias. Febre foi reportado em 91,2% dos casos, seguidopor palidez cutâneo-mucosa (83,8%) e perda ponderal evidente (80,9%). Esplenomegalia foi notada em 75,0% dos pacientes. Foram observados sinais de gravidade a exemplo de neutropenia febril (38,2%), icterícia (33,8%) e sangramento (14,7%). Houve uma correlação inversa entre a contagem de leucócitos e tempo para o diagnóstico (rs:-0,31; p:0,017). O escore de risco foi inferior a 6 em 77,9% dos diagnósticos. O exame diagnóstico mais comumente realizado foi o rK39, que foi positivo em 94,0% do total de 63 amostras coletadas. A avaliação de medula óssea foi realizada em 45 pacientes, sendo positiva no exame direto em 35 casos (74,5%), e a cultura da medula óssea foi positiva 28 (82,4%) casos coletados. Das alterações hematológicas anemia foi mais a comumente diagnosticada, presente em 100% dos casos, foi significativamente mais grave no grupo de maior risco (p:0,008). Foram realizadas 20 transfusões sanguíneas. O risco relativo de submeter-se a hemotransfusão foi 2,4 vezes maior no grupo de alto risco (p:0,029; IC:1,21-4,66). O tratamento mais comum foi anfotericina B lipossomal (44,1%). Dez pacientes recidivaram, 3 trataram previamente com anfotericina b lipossomal e 4 com antimonial. Houve apenas uma morte no grupo de estudo, cuja medula óssea apresentava sinais de hematofagocitose. O seguimento mediano do grupo foi 60 dias, a análise de sobrevida para eventos de recidiva e morte foi estimada em 16,7% pela metodologia de Kaplan-Meier. Não houve diferença na análise de grupos conforme estratificação de risco. Em conclusão, o presente estudo aponta que LV está presente em todas as faixas etárias e uma grande proporção de pacientes teve um tempo para diagnóstico tardio, pacientes graves ainda são frequentemente diagnosticados, com alterações significativas de testes laboratoriais. A baixa letalidade pode ser explicada pelo acesso a anfotericina B lipossomal e o tratamento realizado em um hospital de referência. Esses dados reforçam necessidade de investimentos na rede de assistência e diagnóstico da LV, avaliação do programa de controle e tratamento atualmente adotado e em pesquisas em doenças negligenciadas. Descritores: anemia, leishmaniose visceral; leucopenia; pancitopenia; trombocitopenia ABSTRACT Cohort of Patients with Visceral Leishmaniasis with Emphasis on Hematological Aspects. Geydson Silveira da Cruz. Aracaju-SE. 2020. Leishmaniasis are neglected tropical diseases caused by parasites of the genus Leishmania. According to the World Health Organization (WHO), there are an estimated almost 1,000,000 new cases annually in the world. Visceral leishmaniasis (VL) is the most serious clinical presentation, caused in Brazil by Leishmania infantum. The symptomatic infection leads to clinical manifestations such as fever, weight loss, hepatosplenomegaly, blood cytopenia, among others. Brazil is among the countries with the highest prevalence of VL, being the highest in the Americas. The Northeast region leads in the number of new cases and deaths from VL. Sergipe presented between 2010 and 2019, 687 diagnoses that caused 80 deaths. In this context, a cohort study was designed, based on the follow-up of patients with a confirmed diagnosis of VL in the period between December 2016 and June 2019. In the period, 70 cases were diagnosed, 68 analyzed. Most were male, the median age was 20 years old, 76.1% were under 40 years old. The median time to diagnosis was 30 days. Fever was reported in 91.2% of cases, followed by cutaneous-mucous pallor (83.8%) and evident weight loss (80.9%). Splenomegaly was noted in 75.0% of patients. Signs of severity were observed, such as febrile neutropenia (38.2%), jaundice (33.8%), and bleeding (14.7%). There was an inverse correlation between leukocyte count and time to diagnosis (rs: -0.31; p: 0.017). The risk score was less than 6 in 77.9% of diagnoses. The diagnostic test most performed was rK39, which was positive in 94.0% of the total of 63 samples collected. Bone marrow evaluation was performed in 45 patients, being positive on direct examination in 35 cases (74.5%), and bone marrow culture was positive in 28 (82.4%) collected cases. About hematological changes, anemia was the most diagnosed, present in 100% of cases, it was significantly more severe in the group at higher risk (p: 0.008). Twenty blood transfusions were performed. The relative risk of undergoing blood transfusion was 2.4 times greater in the high-risk group (p: 0.029; CI: 1.21-4.66). The most common treatment was liposomal amphotericin B (44.1%). Ten patients relapsed, 3 previously treated with liposomal amphotericin b, and 4 with antimonial. There was only one death in the study group, whose bone marrow showed signs of hemophagocytosis. The median follow-up of the group was 60 days, the survival analysis for treatment failure, relapse, and death events was estimated at 16.7% by the Kaplan-Meier methodology. There was no difference in the analysis of groups according to risk stratification. In conclusion, the present study points out that VL is present in all age groups and a large proportion of patients had a time for late diagnosis, severe patients are still frequently diagnosed, with significant changes in laboratory tests. The low lethality can be explained by the access to liposomal amphotericin B and the treatment carried out in a referral hospital. These data reinforce the need for investments in the VL assistance and diagnosis network, evaluation of the control and treatment program currently adopted and research on neglected diseases. Descriptors: anemia; neutropenia; pancytopenia, thrombocytopenia; visceral leishmaniasis. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Lutzomyia longipalpis é o inseto vetor da leishmaniose visceral no Novo Mundo. 21 Figura 2 - Esquematização do ciclo de vida da Leishmania com a fase no humano e no inseto. 22 Figura 3 - Esquema do ciclo da Leishmania sp no interior das células fagocitárias. 23 Figura 4 - Desenho esquemático do estudo e recrutamento de pacientes. 32 Figura 5 - Correlação entre o tempo de surgimento dos sintomas e o escore clínico. 38 Figura 6 - Proporção de alterações laboratoriais hematológicas em pacientes da coorte com diagnóstico confirmados de LV 39 Figura 7 - Correlações do leucograma ao diagnóstico nos pacientes da coorte com diagnóstico de leishmaniose visceral. 41 Figura 8 - Curvas de sobrevida livre de eventos (morte e recidiva) de todos os pacientes e conforme tratamento adotado. 45 Figura 9 - Curva de sobrevida livre de eventos conforme avaliação da ferritina, estratificação de risco e tempo para diagnóstico. 45 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Escore de prognóstico proposto pelo Ministério da Saúde para pacientes menores e maiores de 2 anos de idade adotado. 27 Tabela 2 - Caracterização da coorte dos pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral, acompanhados entre dezembro de 2016 e junho de 2019 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. 37 Tabela 3 - Escore de risco dos pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral, acompanhados entre dezembro de 2016 e junho de 2019 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe 38 Tabela 4 - Características laboratoriais da coorte de pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. 40 Tabela 5 - Características clínicas e laboratoriais de pacientes da coorte com achado de hemofagocitose na medula óssea. 42 Tabela 6 - Primeira linha terapêutica adotada 43 Tabela 7 - Características dos pacientes da coorte que apresentaram recidiva ou falha terapêutica. 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS – Síndrome de imunodeficiência adquirida ALT – Alanina amino transferase AST – Aspartato amino transferase DHL / LDH – Desidrogenaseláctica DNA – Ácido desoxirribonucleico HIV – Vírus da imunodeficiência humana HLH – Linfohistiocitose hemofagocítica IC – Intervalo de confiança LCD – Leishmaniose cutâneo difusa LCL – Leishmaniose cutâneo localizada LMC – Leishmaniose muco-cutânea LV – Leishmaniose visceral MS – Ministério da Saúde M - Macrófago NK – Linfócitos natural killer (linfócitos “matadores naturais”) NNN – Novy-McNeal-Nicole OMS – Organização Mundial de Saúde OPAS – Organização Pan-americana de Saúde PAF – Platelet-activating fator (Fator ativador de plaquetas) PCR – Polymerase chain reaction (reação em cadeia da polimerase) PCVLV – Programa de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral PDGF – Fator de crescimento derivado de plaquetas PGE2 – Prostaglandina E2 RNA – Ácido ribonucleico RR – Risco relativo TGF- – Fator transformador de crescimento beta TNF- - Fator de necrose tumoral alfa SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 18 2.1 Classificação 19 2.2 Ciclo de vida e transmissão 20 2.3 Interações parasita e hospedeiro 24 2.4 Imunologia da leishmaniose visceral 24 2.5 Sintomatologia 25 2.6 Diagnóstico 26 2.7 Alterações hematológicas 28 2.8 Tratamento e controle 29 3. OBJETIVOS 31 3.1 Geral 31 3.2 Específicos 31 4. CASUÍSTICA E MÉTODOS 32 4.1 Seleção de casos 32 4.2 Diagnóstico de Leishmaniose Visceral 33 4.3 Seguimento clínico e tratamento 34 4.4 Análise estatística 34 4.5 Aspectos éticos 35 5. RESULTADOS 36 5.1 Dados clínicos 36 5.2 Dados diagnósticos 39 5.3 Tratamento 43 6. DISCUSSÃO 46 7. CONCLUSÕES 53 8. PERSPECTIVAS FUTURAS 54 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 55 REFERÊNCIAS 56 APÊNDICES 71 ANEXO 73 15 1. INTRODUÇÃO As leishmanioses são doenças tropicais negligenciadas causadas por protozoários do gênero Leishmania. A patologia possui distribuição global acometendo principalmente países com população mais pobre e vulnerável. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se entre 700.000 a 1.000.000 de casos anualmente (WHO, 2020). A transmissão ocorre a partir de picada do inseto transmissor flebotomíneo, cujas fêmeas hematófagas, ao realizar o repasto sanguíneo, transmite ao hospedeiro vertebrado o protozoário. Há 3 formas principais de apresentação clínica, a cutânea, que é a mais comum, a mucocutânea, que pode ocasionar graves deformidades, e a forma visceral, também chamada de calazar que é a mais grave das apresentações clínicas. O Brasil, juntamente com China, Etiópia, Índia, Iraque, Quênia, Nepal, Somália, Sudão e Sudão do Sul são responsáveis por cerca de 95,0% de todos os casos de leishmaniose visceral (LV) no mundo. A LV é na sua forma antroponótica causada pela Leishmania donovani, no Brasil ocorre a forma zoonótica, ou seja, animais servem também como reservatório do parasito, nesse caso, a Leishmania infantum (STEVERDING, 2017). Apesar das duas espécies serem descritas como causadoras da LV, há também relatos de apresentação de visceralizante de espécies comumente reportadas como causadoras da forma não visceral (CARVALHO, E. M. et al., 1986; SACKS, D. L. et al., 1995). Maior parte das pessoas que são infectadas pelo parasito não desenvolvem a patologia, ou seja, permanecem assintomáticos (BADARO et al., 1986). Os motivos de muitos expostos à LV não desenvolver a patologia não são completamente compreendidos (DAS, V. N. R. et al., 2020), porém isso pode impactar na dificuldade de controle da doença (SINGH, O. P. et al., 2014). Além de ser necessária a compreensão dos fatores que levam ao desenvolvimento ou não da patologia é importante que haja o entendimento do contexto e da evolução atual da endemia, inclusive com avaliação das manifestações clínicas. As manifestações clínicas mais importantes da LV são febre, fraqueza, perda ponderal e esplenomegalia, com ou sem hepatomegalia. O surgimento dos sintomas é insidioso ou subagudo, a apresentação de sintomas rápida e progressiva não é comum. Geralmente há queixa de desconforto e sensação de plenitude abdominal, secundária à visceromegalia. Linfonodomegalia não é um sinal muito comum, mas pode ocorrer. O parasito causador da LV é intracelular obrigatório, infectando principalmente células do sistema reticuloendotelial. Dessa forma, alterações hematológicas são muito comumente notadas nos pacientes portadores 16 da infecção, ou seja, anemia, leucopenia, trombocitopenia, sejam isoladamente ou combinadas são achados recorrentes nos doentes. É descrito que imunossupressão pode complicar a infecção por LV, daí a importância de se reconhecer as alterações hematológicas como a neutropenia (ANDRADE; CARVALHO; ROCHA, 1990). Anemia é um achado bastante frequente, cuja causa é multifatorial, e é apontada como fator adverso em alguns estudos. A trombocitopenia, outra alteração hematológica que pode estar presente em pacientes com LV, pode favorecer sangramento, um conhecido agravo que pode levar a desfechos desfavoráveis (ABONGOMERA et al., 2020; BELO et al., 2014). Conhecer as alterações laboratoriais de testes hematológicos podem revelar informações relevantes sobre gravidade dos pacientes admitidos. O padrão ouro para o diagnóstico da LV é realizado pelo isolamento do parasito por meio de exame direto ou cultura. O protozoário pode ser obtido por meio de amostras oriundas de aspirado esplênico, que possui maior sensibilidade, porém maior risco de complicações, ou por meio de aspirado de medula óssea com sensibilidade de 60-85%. Os métodos de avaliação direta possuem em comum a necessidade de pessoal especializado para análise das amostras e dos resultados (ELMAHALLAWY et al., 2014). Na prática, o diagnóstico frequentemente é realizado a partir dos dados clínicos do paciente associado a testes laboratoriais como imunofluorescência ou o teste imunocromatográfico para o antígeno rK39. Estes testes são fáceis de serem adotados no campo e apresentam elevada sensibilidade e especificidade. Porém, como os outros testes imunológicos, possuem a possibilidade de apresentarem-se positivos em habitantes de área endêmica mesmo que assintomáticos, além de ser possível a persistência de positividade do teste em pacientes já tratados (VAN GRIENSVEN; DIRO, 2019). Ao ser realizado o diagnóstico de LV o Ministério da Saúde (MS) orienta que cada paciente tenha seu escore clínico-laboratorial calculado para a partir dessa avaliação seja estratificado em alto risco ou baixo risco (BRASIL, 2019). No Brasil, o tratamento da LV é limitado a duas modalidades terapêuticas: o antimonial pentavalente e as formulações da anfotericina b. Ambos os fármacos possuem toxicidade importante, sendo que a apresentação lipossomal da anfotericina b possui um perfil de toxicidade mais tolerável, e apesar de também possuir mais elevado desembolso pelo sistema de saúde mostrou-se como alternativa terapêutica custo-efetivo (CARVALHO, I. P. S. F. De et al., 2020; DE CARVALHO, I. P. S. F. et al., 2019). O MS recomenda que o tratamento seja realizado com antimonial pentavalente naqueles pacientes de baixo risco e que não possuam contraindicações ao uso da droga. Aqueles pacientes que são considerados de alto risco serão tratados com anfotericina b lipossomal, assim como os pacientes que são contraindicados o uso de antimonial. 17 O controle da patologia tem sido desafiador nos últimos anos e, apesar de tentativas por meio do Programa de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral (PCVLV), o que se tem notado é a doença ainda com números elevados de casos, principalmente no Nordeste brasileiro, que é a região mais prevalente (ROCHA et al., 2018). Mudanças ambientais, como ocasionadas pelo desmatamento, dificuldade de cumprimento de metas do PCVLV, desinformação, entre outros motivos são justificativas para o não efetivo controle da endemia (ROCHA et al., 2018). Carvalho e colaboradores estima ocusto total da LV, incluindo aqueles ocasionados por mortes, de mais de US$ 14.000.000,00, sendo que 80% do total é devido a perda de produtividade gerados pela morte prematura (DE CARVALHO et al., 2017). A endemia acarreta grandioso custo socioeconômico para o Brasil. Reforça, dessa maneira, a necessidade de investimentos no diagnóstico precoce, sem dúvida mais barato que o custo da perda prematura de vidas. Dessa forma, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas sobre esta patologia negligenciada a fim de se analisar características clínicas dos pacientes, a distribuição, evolução e avaliação da eficiência das medidas de controle e diagnóstico da LV, que continua a ocorrer inclusive com a presença de casos graves. Destaca-se ainda as dificuldades de acesso ao sistema de saúde, o que leva à atrasos no diagnóstico e a possibilidade de complicações tais como, maior risco de infecções, alterações hematológicas e morte. Assim foi proposto um estudo de coorte para caracterizar os pacientes com diagnóstico de LV acompanhados em uma instituição hospitalar terciária, que se trata de centro de referência regional no diagnóstico e tratamento de patologia infecciosas, inclusive a leishmaniose. 18 2. REVISÃO DE LITERATURA A origem do parasita Leishmania remonta tempos pré-históricos, conforme apontam registros de ancestrais similares ao parasita atual no tubo digestivo de insetos em âmbar fossilizados. Há anos o surgimento do gênero Leishmania tem sido relevante tema de estudos e algumas hipóteses foram elaboradas em buscas de explicações para o surgimento e a diversidade do gênero (TUON; AMATO NETO; SABBAGA AMATO, 2008). O parasito teria surgido, segundo teoria do supercontinente, que é a mais aceita atualmente, quando os continentes atuais estariam fundidos e, posteriormente, com a separação das massas continentais seguidas de mudanças ambientais provocariam a especiação que ocasionou a atual diversidade de espécies, inclusive a origem do subgênero Viannia. Tal explicação é suportada por meio de estudos moleculares mais recentes (HARKINS et al., 2016). Há ainda a teoria paleártica a qual sugere que o desaparecimento da Ligação de Bering provocaria a separação das espécies, com a posterior especiação provocando a diversidade atual (AKHOUNDI et al., 2016; STEVERDING, 2017). A leishmaniose não é uma patologia recente, como se pode inferir a partir não somente da descrição de estudos que buscam a origem do parasita, mas também dos relatos históricos descritos desde a antiguidade. Já foi reportado material genético de Leishmania donovani em múmias egípcias de 4.000 anos atrás (ZINK et al., 2006). Registros das Idades Média e Moderna sugerem patologias com aspectos similares ao da forma cutânea da leishmaniose, porém apenas no século 19 é que há início de descrições mais fidedignas do que seria o calazar (STEVERDING, 2017). O nome calazar deriva do hindu (kala-azar) que significa febre negra. Tal referência se deve a mudança da coloração da pele de portadores da patologia visceral da leishmaniose e seria explicada pela elevação de hormônio adrenocorticotrófico que ocorre na infecção por L. donovani (BURZA et al., 2018). Descobertas e publicações dos médicos britânicos William Leishman e Charles Donovan em possessões coloniais britânicas na Índia do agente causador do calazar ocorreram em 1903 sendo, dessa forma, denominada em homenagem à dupla com Leishmania donovani. Posteriormente houve a descrição de caso semelhante ao “botão do oriente” numa paciente emigrante da Armênia pelo médico americano James Homer Wright de Boston. Houve, a seguir, convergência das patologias e a denominação do agente causador da patologia cutânea na menina de Boston como Leishmania tropica. A partir daí é cunhado o termo leishmanioses para descrever o grupo de doenças causadas pelos recém descobertos patógenos, ou seja, o nome leishmaniose em si é criado 19 apenas em 1906 e englobava patologias distintas, o “botão do oriente”, a forma cutânea da leishmaniose, e a forma visceral, o calazar. No Brasil, na década de 1910 iniciou a associação da patologia que provocava ulcerações em nariz e boca à L. tropica, apesar de relatos de cientistas sugerirem a origem se tratar de patologia distinta da leishmaniose cutânea. Gaspar Vianna, em 1911, sugeriu como agente causador da espundia (leishmaniose muco-cutânea) uma nova espécie, que ele denominou Leishmania braziliensis. Descrições semelhantes em relatos de casos da Amazônia peruana e florestas bolivianas levaram a definição das denominadas leishmanioses americanas. Posteriormente, em 1914, as patologias “botão do oriente”, espundia e calazar foram agregadas sob a denominação comum leishmanioses (JOGAS JR., 2017). 2.1. Classificação A leishmaniose é um grupo diverso de patologias causadas por protozoários do gênero Leishmania que causam desde lesões cutâneas autolimitadas a graves manifestações sistêmicas que podem evoluir com óbito se não tratada, como é o caso da patologia visceral (ROATT et al., 2020). Conforme a manifestação clínica, a leishmaniose se divide em 4 tipos: cutânea localizada, cutânea difusa, cutaneomucosa e a visceral. Há ainda manifestação cutânea denominada de leishmaniose dérmica pós-calazar que ocorre após tratamento da leishmaniose visceral (BURZA et al., 2018). Leishmaniose cutânea localizada (LCL) caracteriza-se por lesões cutâneas inicialmente eritematopapulares, muitas vezes assintomáticas, no sítio da picada pelo flebótomo. O tamanho varia entre 1-10 mm e evolui posteriormente como vesícula pustulosa que ao se romper ocasiona uma úlcera arredondada de bordas bem limitadas. Não costuma ser dolorosa, exceto se houver infecção secundária. Pode ser única ou múltipla, inclusive por auto-inoculação. Dura em torno de 5 meses, mas pode permanecer por anos. A causa são espécies de parasitas que provocam lesões cutâneas como por exemplo: L. major, L. braziliensis, L. tropica, L. mexicana, L. panamensis (TORRES-GUERRERO et al., 2017). Leismaniose cutânea difusa (LCD) é considerada o “polo anérgico” da leishmaniose cutânea, ou ainda chamada de leishmaniose lepromatosa, caracteriza-se por pápulas ou nodulações pigmentadas. A ulceração não é uma característica desse tipo de patologia (KEVRIC; CAPPEL; KEELING, 2015). A LCD é causada no Velho Mundo pela L. aethiopica 20 e menos comumente pela L. major. Nas Américas é causada por parasitas L. amazonensis e L. mexicana (HASHIGUCHI et al., 2016). Leishmaniose mucosa e cutaneomucosa (LMC) pode ocorrer em alguns portadores de LCL que tem envolvimento das mucosas podendo o surgimento de lesões aparecer até 5 anos após a cura. As lesões de mucosa de oro-naso-faringe podem ser destrutivas. É também denominada de “espúndia” e pode ser causada pela L. braziliensis, L. guyanensis e L. panamensis, porém já houve também relato de ser causada por L. amazonensis (BARRAL et al., 1991). A progressão ocorre lentamente sem grande sintomatologia geralmente iniciada em mucosa nasal com posterior disseminação para mucosa oral e faringe (TORRES-GUERRERO et al., 2017). É uma condição altamente desfigurante, podendo causar complicações fatais (BURZA et al., 2018). Apesar de baixa mortalidade LMC ocasiona significativa incapacidade (BEZERRA et al., 2018). A leishmaniose visceral (calazar; kala-azar; febre negra; LV) trata-se da forma mais grave de leishmaniose, em que há o acometimento do sistema reticuloendotelial (TORRES- GUERRERO et al., 2017). As manifestações clínicas vão desde o portador assintomático (SINGH et al., 2014) aos quadros de pancitopenia associado a esplenomegalia febril. Apesar de não ser a forma mais comum de leishmaniose é potencialmente letal, se não tratada. É causada pelos parasitas L. donovani no Velho Mundo e pela L. infantum no Velho e Novo Mundo (BURZA et al., 2018). Maior detalhe acerca dos aspectosclínicos e imunológicos da LV serão descritos nas seções a seguir (2.4 a 2.8). 2.2. Ciclo de vida e transmissão Nas Américas a leishmaniose é considerada uma zoonose causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida ao ser humano pela picada de fêmeas do inseto denominado popularmente como “mosquito-palha”. No Novo Mundo o inseto do gênero Lutzomyia é o principal vetor (figura 1), no Velho Continente o principal agente transmissor é o inseto do gênero Phlebotomus. Os insetos alimentam-se de frutas, porém as fêmeas são hematófagas (STEVERDING, 2017). Os flebotomíneos são insetos da ordem Diptera, família Psychodidae (sub-família Phlebotominae) que possuem grande importância para parasitologia. Além das leishmanioses, os flebótomos também tem sido descritos como vetores de patologias virais e bacterianas (BREITSCHWERDT, 2014; MORICONI et al., 2017). Há estreita relação entre a espécie de flebótomo e a espécie de Leishmania sp que se prolifera no tubo digestivo do inseto e que o mesmo é capaz de transmitir, denominada como competência do vetor, pois somente é 21 considerado capaz de transmitir a infecção os insetos em que ocorrem a transformação na forma infectante metacíclica (BATES et al., 2015). Outro fator descrito como importante para a sobrevivência de parasitas e para a diferenciação em formas metacíclicas é o microbioma intestinal do flebótomo (KELLY et al., 2017). Figura 1 – Lutzomyia longipalpis é o inseto vetor da leishmaniose visceral no Novo Mundo. Reprodução de Wilson (2009) As formas promastigotas estão presentes no tubo digestivo do flebótomo. Após ingestão de sangue com parasitas na forma amastigotas, esses migram para o intestino médio transformando-se em formas promastigotas (figura 2). A transformação de amastigotas em promastigotas ocorrem após cerca de 12-18h do repasto sanguíneo, inicialmente procíclicas, que são ovoides e de pouca motilidade (SACKS; KAMHAWI, 2001). Promastigotas procíclicas progridem com a diferenciação às formas intermediárias que evoluem para as formas promastigotas metacíclicas infectantes. Após cerca de 4-5 dias, promastigotas migram para o esôfago e em seguida glândulas salivares. Durante a alimentação com sangue, fêmeas regurgitam e transmitem as promastigotas para o hospedeiro vertebrado (BURZA et al., 2018). A proliferação de formas promastigotas no intestino do inseto é aumentada se há repasto de sangue não contaminado o que proporciona o processo denominado de metaciclogênese 22 reversa. Tal ocorrência permite maior expansão de quantidade de parasitas e, consequentemente, maior infectividade (SERAFIM et al., 2018). Figura 2 – Esquematização do ciclo de vida da Leishmania com a fase no humano e no inseto. Formas promastigotas infectantes adentram ao hospedeiro humano a partir do repasto sanguíneo realizado por fêmeas do inseto vetor. Adaptado de Burza et al. (2018). Além do hospedeiro humano tem sido relatado que o vetor flebotomíneo pode fazer repasto sanguíneo de cães, vacas e ovelhas, esses últimos mais comumente em áreas rurais (YARED et al., 2019). Estudo brasileiro também apontou que é diverso a origem do repasto sanguíneo havendo evidências em bovinos e tamanduás. Tal fato pode contribuir para permanência do ciclo do parasito na natureza (PEREIRA JÚNIOR et al., 2019) principalmente com mudanças de habitat ocasionando a migração do flebotomíneo para o peridomicílio como evidenciado pela presença de sangue de origem do frango doméstico no intestino destes insetos (DE ÁVILA et al., 2018). Já foi descrito que flebotomíneos alimentam-se também de sangue de cavalos, gatos e ratos além dos galináceos (SALES et al., 2015). No Brasil o cão doméstico é o principal reservatório não humano, com achados de positividade em testes rápidos de cerca de 35% e quase 22% a prevalência de leishmaniose visceral canina em área endêmica (COURA-VITAL et al., 2018). Uma vez que as formas promastigotas são introduzidas no hospedeiro vertebrado essas são fagocitadas por macrófagos (figura 3). Fagossomos com promastigotas fundem-se aos 23 lisossomos e as formas promastigotas fagocitadas perdem o flagelo no interior dos fagócitos dando origem a formas não flageladas denominadas de amastigotas, que sobrevivem e são capazes de proliferar no interior de fagolisossomos sob divisão binária (LIU; UZONNA, 2012). Uma vez proliferando as formas amastigotas na corrente sanguínea poderão ser ingeridas pelo flebotomíneo durante repasto sanguíneo reiniciando, dessa maneira, o ciclo. Figura 3 – Esquema do ciclo da Leishmania sp no interior das células fagocitárias. A internalização da forma promastigota é um processo ativo. O parasito perde o flagelo no interior do fagolisossomo, onde se multiplica por divisão binária. Adaptado de Sacks e Noben-Trauth (2002) Há potencialmente a possibilidade de transmissão sem o envolvimento do inseto como é evidente no relato de soropositividade e até mesmo material genético de formas parasitárias viáveis detectadas em doadores de sangue saudáveis e sem manifestação de leishmanioses o que poderia se caracterizar como potencial fonte de infecção e preocupação nos testes laboratoriais em bancos de sangue (FRANÇA et al., 2018; FRANÇA et al., 2020). Relato brasileiro com busca por meio de sorologias para calazar em doadores assintomáticos e em pacientes dialíticos politransfundidos teve positividade de 9-37% (LUZ et al., 1997). Estudo espanhol mais recente, também de área endêmica, buscando possível relação entre a transmissão por meio de transfusão não evidenciou tal forma de contaminação, atribuído pelos autores devido à baixa parasitemia e maior segurança nas técnicas de transfusão, apesar do achado de doadores assintomáticos (JIMENEZ-MARCO et al., 2018). Transmissão sexual e vertical também já foram documentadas em humanos, apesar de ser mais relatada em caninos (TURCHETTI et al., 2014). 24 2.3. Interações parasita e hospedeiro É extenso o estudo das formas de interação do hospedeiro e a Leishmania que levam ao escape do protozoário da destruição por células fagocitárias. Ao entrar na pele pela picada do flebótomo formas promastigotas são fagocitadas por neutrófilos e células dendríticas. Neutrófilos apoptóticos liberam as promastigotas que são posteriormente fagocitadas por monócitos e macrófagos. O fagossomo formado de maneira convencional segue amadurecendo e funde-se a lisossomos culminando na formação de vesícula acidificada denominada de vacúolo parasitóforo (MCCONVILLE; NADERER, 2011). Para o sucesso na infecção por vezes ocorrem alterações que antecedem a inoculação do protozoário pelo flebótomo, como é relatado na L. major. Algumas promastigotas desse parasito, ainda no tubo digestivo do inseto, morrem por apoptose ocasionando a inoculação do parasito com corpos apoptóticos. Por sua vez, esses corpos apoptóticos expõem fosfatidilserina e esse fosfolipídeo é capaz de ser reconhecido por fagócitos. Esse reconhecimento inicial é importante para o sucesso da ativação “não-agressiva” das células fagocitárias levando a expressão de moléculas tais como fator transformador do crescimento-β (TGF-β), prostaglandina E2 (PGE2) e fator ativador de plaquetas (PAF) que sabidamente reduz a produção de citocinas inflamatórias (SÉGUIN; DESCOTEAUX, 2016). Promastigotas são internalizadas por macrófagos via endocitose lipídica mediada pela caveolina-1 o que permite a sobrevivência dessas formas, o que não ocorre com amastigotas (RODRÍGUEZ et al., 2011). Endocitose mediada por caveolina é também importante para a internalização de promastigotas de outro agente causador do calazar, L. donovani (KUMAR et al., 2019). Amastigotas, por outro lado, necessitam do ambiente presente no fagolisossomo para sua sobrevivência e proliferação e estudos mostram que a forma de internalização da forma amastigota não é semelhanteda promastigota, ou seja, não seria mediado pela caveolina. Ainda sobre as formas amastigotas sabe-se que são relativamente resistentes a morte por formas reativas de oxigênio e intermediários do nitrogênio sendo capazes de se multiplicar no interior do fagolisossomo (MCCONVILLE et al., 2007; RODRÍGUEZ et al., 2011). 2.4. Imunologia da leishmaniose visceral É relatado que pacientes com a patologia ativa possuem elevadas concentrações de citocinas no plasma, tais como interferon- e IL-10, sugerindo que há falta de balanceamento na resposta imunológica e que a IL-10 possui o principal papel no estabelecimento e progressão 25 da patologia (COSTA, A. S. A. et al., 2012). Outras citocinas inflamatórias como TNF- e interferon-2, e fatores de crescimento tais como, fator de crescimento derivado de endotélio vascular (VEGF) e fator de crescimento de fibrolasto-2 (FGF-2) também são elevados em pacientes com a forma visceral quando comparados àqueles assintomáticos. Os mesmos fatores são reduzidos a medida que pacientes apresentam resposta à terapia (DUTHIE et al., 2014). Em indivíduos assintomáticos há relatos que descrevem que células monocitárias respondem a estímulos com antígenos de Leishmania com produção de IL-2, interferon- e IL- 12 (SINGH, O. P. et al., 2014) que sabidamente é o padrão comumente reportado em pacientes curados (COSTA et al., 2012). Não é totalmente claro o motivo de alguns indivíduos não desenvolverem a patologia, porém evidências sugerem a contribuição de fatores genéticos (BRALIOU et al., 2019; KALANI; CHOOPANIZADEH; RASOULI, 2019) e nutricionais (MALAFAIA et al., 2009; VAN GRIENSVEN; DIRO, 2012). 2.5. Sintomatologia A apresentação clínica da LV é variável, considerando que naqueles pacientes que apresentam alguma sintomatologia esta pode ser desde oligossintomática a graves quadros clínicos sistêmicos. Um fato importante a ser considerado é que a maioria dos habitantes de áreas endêmicas possuem achados sugestivos de contato com o parasita, porém não manifestam a doença. Há descrição da proporção de 1 caso diagnosticado para cerca de 18 usuários assintomáticos no Brasil (BADARO et al., 1986; BURZA et al., 2018). Classicamente a LV é descrita como um síndrome febril prolongada associado a anemia e aumento do tamanho do baço (STEVERDING, 2017). A febre é reportada como a manifestação mais comum em diversos relatos (COURA-VITAL et al., 2014; HORRILLO et al., 2019; KÄMINK et al., 2017; KANYINA, 2020). Outras manifestações comumente citadas são perda ponderal, anorexia, astenia, vômitos, icterícia, dispneia e tosse. Manifestações incomuns ou mesmo atípicas podem ocorrer, principalmente em pacientes imunossuprimidos, cuja patologia de base pode tornar a conclusão diagnóstica do paciente mais complexa. Não raramente a LV pode ser confundida com outras patologias também relatadas nesse tipo de população, tais como a histoplasmose, neoplasias hematológicas e micobacterioses. Assim, podem ocorrer manifestações cutâneas, intestinais e envolvimento de linfonodos. Apesar de mais comumente notada em portadores de HIV ou imunossuprimidos (SORIA-LÓPEZ et al., 2016) outras manifestações atípicas podem ocorrer 26 em áreas endêmicas (CUNHA et al., 2019), inclusive com envolvimento de órgãos não comumente descritos, como os pulmões (BISPO et al., 2020), rins (ALCÂNTARA et al., 2018; ALWAZZEH; ALHASHIMALSAYED, 2019) ou mesmo imitando quadros neoplásicos (ESCRIBANO; GÓMEZ; HURTADO, 2018; OLIVEIRA; BORGES; MENESES, 2019). As manifestações atípicas devem ser consideradas no diagnóstico diferencial, principalmente em pacientes imunossuprimidos (NUWAYRI-SALTI et al., 2012). Outras anormalidades laboratoriais que tipicamente estão presentes nos portadores de LV que podem sugerir o diagnóstico, são pancitopenia e hiperglobulinemia. A hipreglobulinemia pela elevação policlonal dos anticorpos não tem papel protetor na infecção por Leishmania, porém isso não é consensual, pois alguns autores alegam que há persistência de anticorpos nos portadores assintomáticos de área endêmica assim como ocorre permanência prolongada naqueles que foram curados (KUMAR, R.; NYLÉN, 2012). O estudo de características clínicas nos doentes com LV possui importância, pois permite identificar possíveis sinais e sintomas que se traduzam em informações clínicas relevantes tais como risco de morte e recidiva. Assim já é demonstrado que sangramento, edema, icterícia, leucopenia e trombocitopenia severas e dispneia quando presentes nos pacientes podem elevar significativamente o risco de morte (BRAGA; TOLEDO JUNIOR; RABELLO, 2013; COSTA et al., 2016; COURA-VITAL et al., 2014; KÄMINK et al., 2017). 2.6. Diagnóstico A partir do quadro clínico associado ao histórico epidemiológico realiza-se a confirmação diagnóstica com a adição de exames laboratoriais. Segundo o Guia de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde o diagnóstico laboratorial baseia-se em testes imunológicos ou testes parasitológicos. São testes imunológicos a imunofluorescência indireta, testes imunocromatográficos como a pesquisa do rK39 e ELISA. Por outro lado, os testes parasitológicos diretos são aqueles que buscam a visualização das formas parasitárias diretamente em material biológico oriundo de medula óssea, baço ou linfonodo. Isolamento por meio cultura também é um exame parasitológico direto que pode ser obtido a partir de amostras de material biológico (BRASIL, 2019). O guia de recomendação da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas recomenda para o diagnóstico a abordagem com múltiplas variáveis a fim de se otimizar o rendimento diagnóstico. Seja por meio da visualização direta em esfregaços ou avaliação histopatológica, seja por meio de avaliação de detecção molecular do DNA do parasita. Assim, afirma que o uso 27 simultâneo de testes deve ser encorajado. A cultura tem ainda como vantagem, além de permitir isolar o parasita, possibilitar a caracterização da espécie (ARONSON et al., 2017). A Sociedade Brasileira de Infectologia como parte da iniciativa Choosing Wisely International a fim de minimizar o excesso de intervenções e favorecer escolhas sábias não recomenda testes sorológicos de forma isolada para o diagnóstico de LV (PASQUALOTTO et al., 2019). Realizado do diagnóstico de LV o guia do MS recomenda que os pacientes que sejam avaliados por meio de exame clínico e testes laboratoriais. Os resultados dessa avaliação são considerados conforme peso de cada variável, validada previamente em estudo clínico (COURA-VITAL et al., 2014), e posteriormente somados para resultar em um escore clínico, tabela 1. O guia ministerial considera de alto risco de morte aqueles pacientes com escore igual ou superior a 6 pontos. Essa estratificação de risco deve ser considerada para o tratamento da LV (BRASIL, 2019). Tabela 1 – Escore de prognóstico proposto pelo Ministério da Saúde para pacientes menores e maiores de 2 anos de idade adotado. Menores que 2 anos Maiores que 2 anos Idade Idade < 12 meses 1 2 – 20 anos 0 > 12 meses 0 20 – 40 anos 1 > 40 anos 2 Sangramento Sangramento 1 – 2 sítios 1 1 – 2 sítios 1 3 – 4 sítios 2 3 – 4 sítios 2 5 – 6 sítios 4 5 – 6 sítios 3 Edema 2 Edema 1 Dispneia 1 Dispneia 1 AST ou ALT acima de 100U/L 3 Icterícia 1 AIDS 3 Infecção bacteriana 1 Leucócitos < 1.500/mm3 2 Plaquetas < 50.000/mm3 3 Insuficiência renal 3 Pontuação máxima 11 Pontuação máxima 20 Para o cálculo considera-se a presença da variável atribuindo-se a pontuação relacionada. Soma-se a pontuação para obtenção do escore prognóstico. AST – Aspartato aminotransferase; ALT – Alanina aminotransferase 2.7. Alterações hematológicas As alterações hematológicas são bastante comuns em pacientes com LV. Anemia, leucopenia, trombocitopenia e pancitopenia são os achados hematológicos que mais são 28 relatados (SARKARIet al., 2016; VARMA; NASEEM, 2010). Outros achados menos comuns são coagulopatia, púrpura crioglobulinêmica e síndrome hemofagocítica (PETRELA et al., 2010; DAHER et al., 2015; FERREIRA et al., 2014; PETRAKI et al., 2015). Anemia quase sempre está presente ao diagnóstico de LV alcançando a proporção de 100% dos casos diagnosticados em alguns estudos. A causa da anemia é muitas vezes multifatorial podendo ser relacionada a perdas sanguíneas, disfunção na eritropoiese, destruição dos eritrócitos e hemofagocitose (GOTO et al., 2017). Pacientes com diagnóstico de LV geralmente estão em contexto de importante vulnerabilidade (ROCHA et al., 2018), sendo comum a associação de alterações nutricionais que, por sua vez, são conhecidas causas de anemia carencial, o que justificaria, dentre outras possibilidades, o frequente decréscimo da taxa de hemoglobina nesse grupo. Apesar de muito frequente a anemia não é parte do escore prognóstico orientado pelo MS, apesar daquela estratificação de risco utilizar palidez (COURA- VITAL et al., 2014). A redução da contagem de leucócitos é outro achado recorrente no paciente com diagnóstico de LV. Estudos apontam a prevalência dessa citopenia em aproximadamente 37% até 100% dos casos (VARMA; NASEEM, 2010; GUPTA; KANT; MIRDHA, 2017). A causa mais comumente atribuída é o hiperesplenismo, consequente ao aumento do baço. A neutropenia e a eosinopenia podem também acompanhar a redução dos leucócitos. A redução de eosinófilos foi estudada como possível marcador que auxiliaria ao diagnóstico, associado a sinais clínicos como a esplenomegalia por exemplo, principalmente em áreas não endêmicas (AL-GHAZALY et al., 2017). A trombocitopenia é outra manifestação presente em proporções muitas vezes superiores a 80% nos pacientes com LV. O hiperesplenismo é uma explicação para a redução da contagem de plaquetas, porém a trombocitopenia imune associada a LV já foi relatada (ALIOGLU et al., 2007; SAURABH; RANJAN; PRASAD, 2017). A trombocitopenia pode estar associada à leucopenia e anemia juntamente ocasionando pancitopenia. Outra causa de redução de contagem de plaquetas é a associação de LV com síndrome hemofagocítica (FERREIRA et al., 2014). É reportada que Leishmania é dentre os parasitos que mais comumente se relaciona com Linfo-histiocitose Hemofagocítica (HLH) (ALLEN; MCCLAIN, 2015). A HLH é uma afecção rara em que ocorre hiperativação do sistema imunológico, cuja etiologia é a disfunção de células NK e T citotóxicas. A HLH pode ser primária, de origem genética e familiar, mas também pode ser de origem secundária onde há um fator desencadeador que pode ser infecção, doença reumática ou fenômenos autoimunes e câncer (RAMOS- CASALS et al., 2014). Uma forma de HLH secundária é a síndrome de ativação macrofágica, 29 relatada em neoplasias e patologias reumáticas, como na forma sistêmica da artrite reumatoide e, menos comumente, no lúpus eritematoso sistêmico (HENDERSON; CRON, 2019). Assim como a LV, a HLH pode se manifestar com citopenias, febre, hepato-esplenomegalia, podendo ocorrer confusão quanto ao diagnóstico. Recente levantamento realizado retrospectivamente em área endêmica do estado de Minas Gerais apontou a presença de 15,1% de pacientes com critérios para HLH (DE CARVALHO et al., 2020) conforme proposto pela Histocyte Society - HLH 2004 (HAYDEN et al., 2016). Outro estudo observacional também recente realizado na Espanha mostrou que cerca de 38% dos pacientes preenchiam completamente critérios de HLH, porém segundo os autores isso não implicou em pior desfecho clínico, sendo as recidivas atribuídas principalmente a doses subterapêuticas da anfotericina B lipossomal ou baixa adesão a terapia profilática nos pacientes com HIV (HORRILLO et al., 2019). 2.8. Tratamento e controle Realizado o diagnóstico o paciente portador de LV deverá concluir o tratamento, caso contrário a patologia invariavelmente evoluirá para desfecho letal. O tratamento atual recomendado como primeira linha em pacientes imunocompetentes é baseado em anfotericina B liposomal (VAN GRIENSVEN; DIRO, 2019). O tratamento com antimoniais permanece como recomendação e alternativa mais econômica, porém o surgimento de resistência é uma realidade (BURZA et al., 2018). Guia das Sociedade Americana de Doenças Infecciosas e Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene recomenda ainda a miltefosina como alternativa terapêutica nos casos de L.donovani (ARONSON et al., 2017). No Brasil o MS recomenda como terapia padrão o antimonial pentavalente, desde que não haja contraindicação ao uso, tais como idade, comorbidades e presença de alterações clínicas e laboratoriais que motivem o uso de anfotericina B lipossomal. A definição terapêutica deverá seguir o escore prognóstico, que se maior que 6 o tratamento deve ser realizado com anfotericina B lipossomal. Se o somatório dos pesos entre as variáveis for igual ou inferior a 6 poderá ser realizado a terapia com antimonial. (BRASIL, 2019). Todo paciente com diagnóstico de LV deve ser notificado, pois se trata de agravo de notificação compulsória. Essa determinação tem por objetivo permitir que as secretarias de saúde realizem medidas para reduzir o contato do vetor com hospedeiros potencialmente suscetíveis, reduzir as fontes de infecção para vetor e possam promover ações de educação em saúde e mobilização social (BRASIL, 2019). Essas medidas estão previstas no Programa de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral (PCVLV) que além de recomendar o 30 diagnóstico precoce e o tratamento adequados prevê também medidas de controle de reservatório canino, medidas de controle do vetor, atividades de educação em saúde (ROCHA et al., 2018; ZUBEN; DONALÍSIO, 2016). 31 3. OBJETIVOS 3.1. Geral Realizar uma coorte prospectiva de pacientes com diagnóstico de leishmaniose visceral consoante os dados clínicos, laboratoriais e evolutivos, associando os fatores determinantes da gravidade e resposta terapêutica. 3.2. Específicos Avaliar a aplicação do escore prognóstico proposto pelo Ministério da Saúde (MS) nos pacientes com diagnóstico de leishmaniose visceral e associar com tempo de diagnóstico e prognóstico dos pacientes, incluindo recidiva e morte. Identificar possíveis marcadores clínicos e laboratoriais capazes de estratificar características de maior gravidade, não incluídos no escore clínico do MS. Descrever alterações hematológicas, inclusive avaliando possíveis critérios de hemofagocitose presentes em pacientes de leishmaniose visceral, assim como o uso de terapia transfusional buscando possíveis associações com maior risco e gravidade clínica. 32 4. CASUÍSTICA E MÉTODOS 4.1. Seleção de casos Foi proposto estudo de coorte de casos consecutivos de pacientes diagnosticados com LV no período entre dezembro de 2016 e junho de 2019 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, conhecidamente um centro de referência no diagnóstico e manejo da patologia em nível regional. Os pacientes tiveram confirmados o diagnóstico baseado em sintomas clínicos como febre, associado a esplenomegalia e/ou hepatomegalia juntamente com dados epidemiológicos e foram submetidos a algum teste laboratorial diagnóstico adicional a fim de contribuir para a confirmação diagnóstica. A figura 4 esquematiza o estudo realizado. Figura 4 - Desenho esquemático do estudo e recrutamento de pacientes. Foram 70 pacientes diagnosticados, 68 foram analisados. Houve 1 morte e 10 recidivas no período avaliado. 33 Foram coletados dados de variáveis tais com resultados de testes laboratoriais, tempo para diagnóstico, número de buscas à unidade de saúde, tempo de seguimento, perda de seguimento, presença e tempo de recidiva e, dentre outros, morte. Devido a incompletude de dados à época de início de estudo os pacientes com diagnósticode HIV/SIDA foram excluídos. 4.2. Diagnóstico de Leishmaniose Visceral O diagnóstico foi confirmado baseado nos testes sorológicos e/ou avaliação de medula óssea e/ou cultura positiva. O teste sorológico rK39 foi realizado conforme o fornecimento de kit diagnósticos oficiais. Os pacientes que tiveram testes diagnósticos baseados em ELISA ou Imunofluorescência Indireta realizados em outras unidades os resultados foram considerados. A avaliação da medula óssea, sempre que possível, foi realizada e, a partir da análise de esfregaços obtidos de coleta de mielograma, corados em coloração de Wright-Giemsa, foram visualizados em microscopia óptica convencional por hematologista. Quando possível foi coletado também biopsia de medula óssea. A amostras de medula óssea foram também disponibilizadas para cultura. O material foi incubado em temperatura de 28°C em meio NNN por até 28 dias, sendo analisadas 2 vezes semanalmente a fim de se avaliar a presença de crescimento parasitário (AHMED, 2014). Foi considerada positiva se em 10μL havia formas móveis, ou seja, promastigotas visualizadas em microscopia óptica. As amostras de medula óssea foram também coletadas a fim de serem conservadas em freezer a -70°C, após separação de sobrenadante, para dosagem de citocinas e extração de DNA em avaliação posterior. Após ter sido realizado o diagnóstico dados clínicos e laboratoriais são utilizados em conjunto para calcular o escore prognóstico, cuja finalidade, além de estratificar os pacientes, é de fornecer subsídios para orientação terapêutica. Tal abordagem é utilizada em muitos locais do país, pois trata-se de orientação do MS, também seguida na unidade hospitalar onde foi realizado o estudo de coorte. Para o cálculo do escore prognóstico são considerados os fatores idade, coinfecção por HIV, sangramento, dispneia, icterícia, edema, contagem plaquetária, leucometria e insuficiência renal. A presença de cada um dos dados clínicos possui peso específico e a soma representa o escore clínico que quanto mais elevado maior é o risco de morte por LV. (BRASIL, 2019). O escore prognóstico foi previamente validado a partir de dados clínicos e laboratoriais (COSTA et al., 2016). Os dados laboratoriais coletados na admissão foram hemoglobina e hematócrito, contagem total de leucócitos, contagem de neutrófilos, contagem de linfócitos, contagem de 34 plaquetas, aminotransferases, bilirrubina, albumina, globulina, ureia, creatinina, eletrólitos. Pacientes mais recentes coletaram amostras de sangue para ferritina, triglicerídeos, lactato desidrogenase, proteína C reativa e fibrinogênio também. Alterações laboratoriais seguiam os valores de referência adotados pelos kits diagnósticos. Para o diagnóstico de anemia foi definido como dosagem de hemoglobina menor que 12,0g/dL para mulheres e 13,0g/dL para homens (BUTTARELLO, 2016); leucopenia foi definida como a contagem de leucócitos totais menor que 4.000/mm3; neutropenia foi definida se a contagem de neutrófilos fosse inferior a 1000/mm3; trombocitopenia foi definida como contagem de plaquetas inferior a 100.000/mm3; coagulopatia de significância clínica foi definida como INR do tempo de protrombina maior que 1,5 (PADILLA, 2018). Para o diagnóstico de Linfo-histiocitose Hemofagocítica (HLH), observou-se a presença de critérios diagnósticos do Grupo de Estudo de Linfohistiocitose Hemofagocítica: febre; esplenomegalia; citopenia de duas ou mais linhagens no sangue periférico; hipertrigliceridemia em jejum e / ou hipofibrinogenemia; menor atividade de células NK; hiperferritinemia; CD25 solúvel> 2500U/mL; hemofagocitose no baço, medula óssea; linfonodos ou fígado sem evidência de malignidade (AL-SAMKARI; BERLINER, 2018). 4.3. Seguimento clínico e tratamento O tratamento de pacientes sabidamente confirmados para LV foram realizados conforme dita a orientação do MS, no Programa de Controle e Vigilância da Leishmaniose Visceral (PCVLV). Não houve interferência por parte do pesquisador na escolha da terapia a ser adotada. Todos os pacientes foram interrogados, conforme a possibilidade, com questionário, e tiveram amostras laboratoriais coletadas, inclusive de medula óssea, quando possível. Foram acompanhados durante toda a internação sendo os dados reportados em questionário específico nos dias 7, 14 e 30. Após a alta eram monitorados nos dias 60, 90 e 180. Somente após o seguimento de 180 dias era cedida a alta definitiva do paciente. Foram considerados eventos recidiva ou morte como desfechos adversos e na ocorrência desses o dia correspondente de seguimento foi anotado. 4.4. Análise estatística Todos os dados coletados foram tabulados em planilha eletrônica Microsoft Excel. Na mesma planilha foram realizados cálculos de estatística descritiva. A fim de se avaliar se a distribuição normal dos casos foi realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. 35 Associação entre variáveis nominais foram analisadas por meio do teste do qui- quadrado ou teste exato de Fisher, conforme indicação. Variáveis que tinham distribuição normal tiveram suas médias comparadas pela análise do teste t de Student, para as não seguiam a distribuição normal foram comparadas as medianas utilizando o teste de Mann-Whitney. A fim de se buscar alguma associação entre variáveis foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman. Análise de sobrevivência foi realizada conforme metodologia de Kaplan-Meier. Nível de significância foi considerado se o p≤0,05 e um intervalo de confiança (IC) de 95%. Os cálculos estatísticos foram realizados no software Bioestat, versão 5.3 (produzido por Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, https://www.mamiraua.org.br/pt- br/downloads/programas/bioestat-versao-53/). 4.5. Aspectos éticos Todos os pacientes acima de 18 anos de idade, ou responsável legal, se idade inferior, foram informados acerca da pesquisa e solicitado o devido consentimento para participar da mesma. Somente após o esclarecimento o usuário poderia assinar o termo de consentimento e a partir desse momento prosseguir com o estudo. O paciente poderia retirar o consentimento a qualquer momento, sendo o material e dados dele excluído da análise do estudo. O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFS sob número 51457115.7.0000.5546 e parecer 1.353.887. Todo o estudo estava de acordo ao previsto pela Declaração de Helsinki para pesquisa envolvendo seres humanos e as resoluções nº 466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde. https://www.mamiraua.org.br/pt-br/downloads/programas/bioestat-versao-53/ https://www.mamiraua.org.br/pt-br/downloads/programas/bioestat-versao-53/ 36 5. RESULTADOS 5.1. Dados clínicos No período do estudo houve o total de 70 diagnósticos de LV, desse número, dois casos foram excluídos da análise por serem portadores de HIV/SIDA e incompletude de dados, totalizando, dessa forma, 68 pacientes. Detalhes sobre as características do grupo são apresentadas na tabela 2. A predominância de casos foi do sexo masculino, 51 pacientes, correspondente 75,0% do total. Ainda acerca das características demográficas a idade mediana foi de 20 anos, com a idade média 24,6 ± 20,5, variando de 0 a 93 anos de idade. Os sinais e sintomas dos pacientes são demonstrados na tabela 2. O principal sintoma no presente estudo foi febre que foi referido por 91,2% dos pacientes, ou seja, em 62 casos acompanhados. Palidez cutâneo e mucosa foi também outra característica clínica presente em proporção numerosa de pacientes sendo notada 57 vezes, 83,8% do total. Perda ponderal foi referida em 80,9% dos casos. Outras características clínicas como esplenomegalia e anorexia foram evidentes em 75,0% e 67,6% dos portadores de LV, respectivamente, foram os sinais e sintomas que seguiram os mais comumente queixados. A presença de comorbidades clínicas foi evidente em 17 pacientes, 25,0%do total e a complicação neutropenia febril foi presente em 26 pacientes, ou seja, quase 40% do total de casos experimentaram essa grave ocorrência. Sinais sabidamente conhecidos como de potencial gravidade tais como sangramento e icterícia foram relatados em 14,7% e 33,8% dos casos diagnosticados, respectivamente. O período desde o início dos sintomas até a conclusão diagnóstica variou de 1 a 770 dias, a mediana foi de 30 dias de sintomas antes de ser realizado o diagnóstico de LV. A mediana da quantidade de idas para unidades de saúde antes do diagnóstico na nossa instituição foi de 2 vezes, variando de nenhuma a 10 idas a outras unidades de saúde. 37 A avaliação de tempo de surgimento de sintomas até o momento do diagnóstico em relação ao desfecho se recidiva ou morte foi analisado por meio do teste U de Mann-Whitney, mas não houve uma correlação estatisticamente significante (p=0,9). A quantidade de idas ao serviço de saúde sem a conclusão diagnóstica foi comparada entre o grupo com evento de Tabela 2 – Caracterização da coorte dos pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral, acompanhados entre dezembro de 2016 e junho de 2019 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju. Sergipe. Características demográficas N (%) Pacientes 68 100 Sexo masculino 51 75,0 Mediana Média Intervalo Desvio padrão Idade (anos) 20 24,6 0-93 20,5 N (%) Até 2 anos 11 16,4 3 – 20 anos 24 25,8 21 – 40 anos 14 33,9 > 40 anos 18 23.9 Mediana Média Intervalo Desvio padrão Tempo de surgimento de sintomas (dias) 30,0 83,4 1-770 123,7 Idas à unidade de saúde antes do diagnóstico 2,0 2,6 0-10 2,7 Características clínicas N % Febre 62 91,2 Palidez cutâneo e mucosa 57 83,8 Perda ponderal 55 80,9 Esplenomegalia 51 75,0 Dor abdominal 47 69,1 Anorexia / hiporexia 46 67,6 Neutropenia febril 26 38,2 Icterícia 23 33,8 Edema 22 32,4 Linfadenopatia 17 25,0 Comorbidades 17 25,0 Diarreia 11 16,2 Sangramento 10 14,7 Insuficiência Renal 6 8,8 Hipertensão arterial sistêmica 6 8,8 Ascite 5 7,4 Dispneia 4 5,9 Diabetes mellitus 2 2,9 38 recidiva ou morte com o grupo que não apresentou nenhum evento e, da mesma forma, não houve distinção estatisticamente significativa entre os grupos(p=0,40). A classificação de risco foi realizada e o escore prognóstico dos pacientes com o diagnóstico de LV é resumido na tabela 3. A maioria dos pacientes, 77,9% (53 casos) possuíam patologia considerada de baixo risco com até 5 pontos somados no escore de prognóstico. Foi buscado correlação entre o tempo de surgimento dos sintomas até a confirmação diagnóstica com escore de risco, assim ficou evidente significativa correlação direta (rs:0,28 p:0,02; figura 5) Figura 5 – Correlação entre o tempo de surgimento dos sintomas e o escore clínico. Há correlação direta entre o tempo de surgimento dos sintomas com o escore de risco no momento do diagnóstico (rs:0,28; p:0,02). 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0 TEMPO (DIAS) ESCORE DE RISCO X TEMPO PARA DIAGNÓSTICO Tabela 3 – Escore de risco dos pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral, acompanhados entre dezembro de 2016 e junho de 2019 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju. Sergipe. Escore de risco N % Até 5 pontos 53 77,9 Maior igual a 6 pontos 12 17,6 Não disponível 3 4,4 Total 68 100,0 39 5.2. Dados diagnósticos A figura 6 mostra as alterações laboratoriais hematológicas confirmadas e a tabela 4 detalha as características laboratoriais dos pacientes com LV. O principal teste diagnóstico realizado foi o rK39 utilizado em quase todos os pacientes, 67 do total de 68. Foi positivo em 94,0% dos pacientes testados. A avaliação de medula óssea foi realizada em 47 pacientes e foi positiva em 78,7% das amostras coletadas. A cultura de medula óssea realizada em meio NNN, coletada em 34 pacientes, foi positiva em 82,4%. A imunofluorescência indireta foi o teste diagnóstico menos utilizado no grupo estudado e foi positivo em 9 das 10 amostras coletadas. Figura 6 – Proporção de alterações laboratoriais hematológicas em pacientes da coorte com diagnóstico confirmados de LV. Nota-se totalidade de casos de pacientes com anemia e elevadas taxa de leucopenia. Acerca de outros testes laboratoriais ao diagnóstico foi evidente que anemia era o achado mais comum, estando na totalidade dos casos (100%), figura 7. A média do hematócrito e hemoglobina dos pacientes no momento de confirmação da doença foi 25,4% e 8,2g/dL, 40 respectivamente. Leucopenia foi encontrada em mais de 82% dos casos e a trombocitopenia em pouco mais de 50%. A redução de todas as linhagens foi evidenciada em 43,9% dos casos. Neutropenia foi encontrada em 51,7% dos casos de LV. Foi avaliado se a contagem de leucócitos se correlacionava com alguma variável e confirmou-se correlação indireta entre a Tabela 4 – Características laboratoriais da coorte de pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju. Sergipe Procedimento diagnóstico N (positivos) Positividade (%) rK39 (positivos) 63 94,0 Aspirado de medula óssea (positivos) 35 78,7 Cultura de medula óssea (positivos) 28 82,4 Imunofluorescência indireta (positivos) 9 90.0 Exames laboratoriais ao diagnóstico Dados laboratoriais Mediana Média Intervalo Desvio padrão Hematócrito (%) 25.4 25,4 8.4-35.4 5,2 Hemoglobina (g/dL) 8.4 8,2 3.8-11.7 1,6 Leucócitos totais (/mm3) 2235 2652 410-7450 1446,5 Neutrófilos (/mm3) 974 1639,5 57-3950 2041,4 Plaquetas (/mm3) 101.500 102.0596,4 17.900-270.000 51995,4 International normalized ratio (INR) 1,3 1,4 1,0-4,9 0,6 Creatinina (mg/dL) 0,7 0,8 0,2-2,9 0,4 AST (U/L) 66,5 117,2 16-1.072 124,7 ALT (U/L) 61,5 79,4 7,0-1.838 78,3 Bilirrubina (mg/dL) 1,0 2,9 0,2-27,4 5,3 Ferritina (ng/mL) 2018,4 15174,6 159,1-132.405 31615,4 Proteína C reativa (mg/dL) 52,5 90,8 3,7-253 79,9 Triglicérides (mg/dL) 201 213,2 27-669 123,8 Desidrogenase láctica (U/L) 515 717,1 77,9-3.485 679,9 AST – aspartato aminotransferase; ALT – alanina aminotransferase 41 leucometria e o tempo para o diagnóstico. Também se notou correlação indireta entre o leucograma ao diagnóstico com a idade do paciente (figura 8) Figura 7 – Correlações do leucograma ao diagnóstico nos pacientes da coorte com diagnóstico de leishmaniose visceral. Avaliação da leucometria ao diagnóstico correlacionou-se indiretamente com o tempo para o diagnóstico e a idade. Pacientes considerados de elevado risco, comparando-se com os que não tinham essa característica, possuíam menor dosagem de albumina sérica, maior velocidade de hemossedimentação, porém sem significância estatística. Por outro lado, houve significância estatística quando analisados a taxas hemoglobina e o hematócrito, que eram significativamente menores no grupo de maior risco (p=0,008 e 0,009, respectivamente; IC: -6,62 a -1,07 e -1,96 a -0,33, respectivamente). Foram realizadas no total 20 transfusões sanguíneas, 35% nos pacientes de alto risco. O risco relativo de submeter-se a hemotransfusão foi 2,4 vezes maior entre pacientes de alto risco no escore prognóstico (IC:1,21-4,66; p=0,029). Porém ao ser avaliada a taxa de transfusão entre os pacientes que apresentaram o evento recidiva ou morte não houve diferença com o grupo não transfundido (p=0,44). A hemoglobina média foi 7,07g/dL no grupo transfundido, significativamente inferior ao do grupo não transfundido (p<0,001). A contagem de plaquetas também foi significativamente reduzida naqueles pacientes constantesno grupo de maior risco (p<0,001). Outros resultados tais como leucopenia, neutropenia, ureia, creatinina, aminotransferases, proteínas totais, albumina, VHS, PCR, LDH, bilirrubinas apesar da tendência a estarem alterados naqueles pacientes de maior risco não houve significância estatística. O INR do tempo de protrombina foi significativamente elevado, do ponto de vista estatístico, p=0,011. Eventos adversos transfusionais foram descritos 42 em 4 casos, 22,2% do total de pacientes submetidos a transfusão, todos os casos foram de reações do tipo febril não hemolítica. Ainda acerca dos testes laboratoriais foi realizada a dosagem de ferritina, rotineiro como parte da avaliação laboratorial da anemia, achado recorrente nos casos de LV. A dosagem de ferritina nos pacientes da coorte que realizaram esse teste (24,3%) foi elevada na maioria das vezes, em 81,0%. Dos 10 pacientes que recidivaram, nenhum tinha dosagem de ferritina normal. Foram buscadas possíveis causas de hiperferritinemia e 4 pacientes possuíam aspirados de medula óssea com achados de hemofagocitose e 2 possuíam critérios para Linfohistiocitose Hemofagocítica (HLH). Os pacientes com achados de hemofagocitose na medula óssea são detalhados na tabela 5 a qual inclui aqueles critérios que eles possuíam para HLH. Tabela 5 – Características clínicas e laboratoriais de pacientes da coorte com achado de hemofagocitose na medula óssea. Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Idade 20 22 26 41 Tempo de sintomas (dias) 31 120 40 17 Tempo de internação (dias) 36 20 11 17 Hemoglobina (g/dL) * 8,4 6,4 9,2 7,5 Leucócitos/mm3 * 410 2.520 7.450 2.620 Neutrófilos/ mm3 * 123 1.436 1.490 1.126 Plaquetas/mm3 * 37.300 35.400 19.200 85.400 Triglicérides (mg/dL) * 225,0 233,0 ND ND Ferritina (ng/dL) * 10.770,9 51.928,8 ND 577,0 Fibrinogênio (mg/dL) * ND ND 91,6 ND INR 4,9 1,9 3,2 1,3 PCR (mg/dL) ND 209,0 49,9 54,2 Escore de risco ** 7 6 12 4 Recidiva Sim Não Não Não Óbito Não Não Sim Não * Dados laboratoriais que são critérios para linfohistiocitose hemofagocítica (HLH). ** Considera-se alto risco se igual ou superior a 6. ND – Não disponível 43 5.3. Tratamento A principal modalidade de tratamento realizada no nosso grupo de estudo foi alguma formulação da anfotericina B (figura 9). A tabela 6 detalha as opções terapêuticas realizadas mostrando que o tratamento realizado por 44,1% dos casos diagnosticados foi a apresentação lipossomal da anfotericina B, seguido pelo antimonial pentavalente em 41,2% dos pacientes. Anfotericina B deoxicolato foi utilizada em 4 pacientes, 5,7% dos casos e foi interrompida por causa de toxicidade em 3 deles (75,0%), sendo, dessa forma, formulação que mais apresentou, proporcionalmente, interrupção da terapia. Observando o tratamento realizado conforme a classificação de risco do grupo, aqueles pacientes classificados como elevado tiveram a anfotericina B lipossomal como o tratamento mais comum, 66,7% dos casos de alto risco, seguido pelo antimonial com 25,0% dos casos. Por outro lado, o antimonial foi o tratamento mais comumente prescrito nos pacientes que não foram considerados de elevado risco em 47,2% dos casos, seguido pela anfotericina b lipossomal com 39,6%. Como esperado a taxa de interrupção foi superior com o uso de antimonial e anfotericina b deoxicolato. A toxicidade renal e hepática foram as principais causas de interrupção do tratamento, 2 casos cada (28,6%). Outros casos de interrupção foram por alergia, distúrbio hidroeletrolítico e pancreatite. A terapia de segunda linha mais comumente prescrita foi a anfotericina b lipossomal em 4 casos (57,1%). Houve o total de 10 casos recidivados, 7 deles eram do sexo masculino. Algumas características dos casos de pacientes recidivados são apresentadas na tabela 7. A recidiva foi observada mais frequentemente nos pacientes que foram tratados com antimonial, 40,0%, Tabela 6 – Tratamento de primeira linha adotado na coorte de pacientes com diagnóstico de Leishmaniose Visceral Droga Taxa de interrupção Taxa de recidiva N % N % N % Anfotericina B liposomal 30 44,1 0 0,0 3 10,0 Antimonial pentavalente 28 41,2 4 17,4 4 14,3 Anfotericina B deoxicolato 4 5,9 3 75,0 1 25,0 Anfotericina B complexo lipídico 2 2,9 0 0,0 2 100,0 Não disponível 4 5,9 44 seguidos pela anfotericina b lipossomal em 30,0%. Considerando o escore de risco nos pacientes que recidivaram 20% apenas estavam no grupo classificado como elevado, risco relativo de 1,1 (IC: 0,20-5,99). Tabela 7 – Características dos pacientes da coorte que apresentaram recidiva ou falha terapêutica. Sexo Idade (anos) Tratamento de primeira linha Escore de risco ao diagnóstico Tempo de redidiva (dias) M 48 Antimonial 5 15 M 29 Antimonial 3 ND M 8 Antimonial 2 180 F 2 Antimonial 2 90 F 20 Anfotericina B lipossomal 7 180 F 0 Anfotericina B lipossomal 6 60 M 9 Anfotericina B lipossomal 1 210 M 37 Anfotericina B complexo lipídico 2 60 M 30 Anfotericina B complexo lipídico 4 90 M 48 Anfotericina B 4 14 Total 10 pacientes ND: Não disponível No grupo do estudo teve apenas um óbito no período estudado. Tratava-se de um homem jovem com medula óssea positiva para hemofagocitose, porém não houve tempo hábil para completar o diagnóstico de HLH conforme estabelece os critérios do HLH Study Group (AL- SAMKARI; BERLINER, 2018). Análise de sobrevida, conforme metodologia de Kaplan-Meier, foi realizada e é mostrada nas figuras 10 e 11. Para o seguimento mediano de 60 dias a taxa de eventos, incluindo recidiva e morte, foi estimada em 16,7%. Não houve diferença na curva de sobrevida nos grupos de risco considerados elevados ou baixos. Quando comparadas as curvas conforme a dosagem de ferritina há tendência de diferenciação na sobrevida livre de eventos naquele grupo com ferritina elevada, conforme aponta figura 11, mas sem significância estatística (p=0,38). A 45 análise de sobrevida conforme subgrupos de pacientes em que há o tempo superior ou até 30 dias para o diagnóstico não mostrou diferença entre as curvas assim como a divisão entre os subgrupos de acordo com escore de risco. Figura 8 – Curvas de sobrevida livre de eventos (morte e recidiva) de todos os pacientes e conforme tratamento adotado. Para o total de 11 eventos, mediana de seguimento de 60 dias a probabilidade de sobrevida livre de eventos 83,3%. Comparação de modalidades terapêuticas há tendência de superioridade da anfotericina B lipossomal em relação aos demais. Figura 9 – Curva de sobrevida livre de eventos conforme avaliação da ferritina, estratificação de risco e tempo para diagnóstico. Aponta tendência a distinta da probabilidade de eventos entre grupos de alta dosagem de ferritina comparativamente com o grupo de menor dosagem, p=0,38. Avaliação comparativa conforme o risco prognóstico e tempo para diagnóstico não houve diferença entre os grupos. p=0,002 p=0,52 p=0,74 p=0,38 46 6. DISCUSSÃO O relato do presente estudo pode ser definido como uma fotografia do atual cenário em que está o Brasil no que se refere a endemia por LV. No momento atual a LV se caracteriza por ser uma endemia que não é exclusivamente rural como há alguns anos, pelo contrário, vem se tornando gradativamente mais urbana, inclusive em localidades sem notificações prévias (PIMENTEL et al., 2014). No Brasil, especificamente, foram reportados em 2018 o total 3.466 casos de LV. A patologia tem casos notificados em 21 dos 26 estados da federação. Corresponde sozinho a cerca de 97% de todos os casos das Américas (BRASIL, 2019; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION - PAHO, 2019). Juntamente, Brasil, Somália, Etiópia, Sudão do Sul, Sudão, Índia e Quênia são responsáveis por mais de 90% da totalidade de casos de LV no planeta (BURZA et al., 2018). A região com maior número de casos relatadoé o Nordeste. Entre 2008 e 2019 dos 44.317 casos diagnosticados do país, 53,3% foram na região Nordeste. Entre 2010 e 2019 Sergipe teve 687 diagnósticos que levaram 80 doentes a morte (BRASIL, 2020). Esses dados sugerem que apesar de tentativas e programas em busca de controle daquela endemia, há um longo trabalho a ser feito para de fato ocorrer a redução de casos de LV (BRUHN et al., 2018; LIMA et al., 2018). Dessa forma, faz-se necessário manter, ou mesmo ampliar, o estudo de doenças endêmicas como é o caso da LV. A LV é considerada pela OMS uma patologia negligenciada cujos países membros assumiram compromisso buscando a eliminação da mesma (OPAS, 2019). Atualmente o nosso país está distante do efetivo controle da LV que continua a provocar consequências que vão além da significativa quantidade de casos. Publicação sobre o grau de incapacidade provocada pela LV, baseada em dados globais, apontam como essa patologia afeta a população provocando incapacidade e perdas em anos de vida (BEZERRA et al., 2018). Esse mesmo estudo demonstra que apesar da redução de todos os casos de leishmaniose, o mesmo não ocorreu em relação à forma visceral. Os resultados da pesquisa permitem realizar o questionamento se o Programa Nacional de Controle da Leishmaniose Visceral (PNCLV) é adequado e se está implantado efetivamente. Isso porque o tempo mediano para diagnóstico da coorte do estudo foi de 30 dias e a quantidade de visitas à unidade de saúde sem ter sido realizado efetivamente o diagnóstico ter alcançado até 10 vezes. Foi evidenciado que 44,1% dos casos tiveram a confirmação diagnóstica e a instituição de tratamento após 30 dias. Esses dados revelam que profissionais de saúde de uma região endêmica não estão atentos ou não estão recebendo o preparo adequado para realizar o diagnóstico adequado e o consequente encaminhamento para tratamento. O tempo para o 47 diagnóstico é superior ao relatado para o Brasil cuja mediana é 25 dias para se chegar ao diagnóstico a partir do início dos sintomas (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION - PAHO, 2019). Isso sugere que falhas no processo diagnóstico são ainda mais impactantes na realidade regional em que a coorte foi realizada. Tal achado vai em concordância ao relatado previamente de que o PCVLV de longe precisa ser avaliado quanto a sua eficácia. Sabe-se que o diagnóstico e tratamentos tardios podem alterar o desfecho final provocando consequências nos indivíduos. Há relato de associação da elevação do risco de morte com diagnóstico tardio, principalmente em idosos. Tal informação, oriunda de estudo brasileiro, apontou 3,06 vezes mais mortes em portadores de LV cujo diagnóstico foi mais demorado (DRIEMEIER et al., 2015). Reconhecimento tardio do diagnóstico de LV não é unicamente evidente apenas no Nordeste, e isso revela que as falhas no sistema de saúde na detecção precoce de casos são generalizadas. Reforça, dessa maneira a importância do estudo de tal patologia, inclusive como forma de se avaliar os programas de controle e buscar o diagnóstico mais precoce, haja vista que esse fato leva a melhor prognóstico (DE ARAÚJO et al., 2012; DRUZIAN et al., 2015). Outro aspecto que foi reportado em publicações de outros países é que o diagnóstico tardio também contribui para dificuldade de erradicação da LV (BOETTCHER et al., 2015; WELAY; ALENE; DACHEW, 2016). Dentre outras causas, a dificuldade de implementar todas as atividades do programa de controle e a execução da eutanásia canina foram relatadas em estudo recente como possíveis fatores para a baixa eficiência das medidas de controle (ZUBEN; DONALÍSIO, 2016). Nos resultados do estudo houve maior proporção de diagnóstico em pacientes do sexo masculino, assim como dados de outras fontes (NACKERS et al., 2015; SIMÃO; VICTÓRIA; FORTALEZA, 2020). Há justificativas para tal diferença, seja devido ao padrão distinto de resposta imune, inclusive em infecções ocasionadas por protozoários (KLEIN; FLANAGAN, 2016), seja pela exposição ocupacional também diferentes entre os sexos (DAS, A. et al., 2016). Publicação recente confirmou que mais que diferenças socioculturais as distinções biológicas, hormonais e epigenéticas podem ser justificativas para a divergente prevalência e soroconvensão entre os sexos (CLOOTS et al., 2020). Ainda acerca de dados demográficos a infecção esteve presente em todos grupos etários, porém quase 50,0% dos casos foram em pacientes mais jovens que 20 anos de idade, corroborando com outros dados também já reportados (COURA-VITAL et al., 2014; KARIMI; ALBORZI; AMANATI, 2016). Dentre os pacientes mais jovens, ou seja, menores que 20 anos de idade sabe-se que o risco de morte é maior dentre o grupo que possui idade inferior a 2 anos de idade (BRAGA; TOLEDO JUNIOR; 48 RABELLO, 2013; KÄMINK et al., 2017), tal grupo não representou a maioria da coorte correspondendo apenas 16,4% do total de pacientes. Nas manifestações clínicas, assim como em outros relatos febre foi a manifestação mais recorrente. É conhecido que determinados sinais e sintomas clínicos são relatados mais comumente em pacientes que podem evoluir de forma desfavorável. São exemplos dessas manifestações edema, sangramento que tiveram prevalência maior que em outros estudos. Contrariamente icterícia teve menor proporção que em relação a outras pesquisas. Tais achados podem sugerir que além dos casos terem o diagnóstico considerado tardio, os pacientes chegam com sinais e sintomas de gravidade, em valores superiores aos relatados em outros estudos prévios (COSTA, et al., 2016; COURA-VITAL et al., 2014; KÄMINK et al., 2017). No grupo das patologias negligenciadas a LV está entre as que desponta como uma que menos dispõe de opções terapêuticas. É disponível para tratamento o antimonial, formulações de anfotericina B, únicas à disposição no Brasil, além da miltefosina e paromomicina (BURZA et al., 2018). A anfotericina B lipossomal é um fármaco com maior perfil de segurança e menor toxicidade comparada à anfotericina B deoxicolato (PANDEY et al., 2017; SUNDAR et al., 2004, 2014). Especificamente no Brasil, após publicação de grande ensaio clínico em que se evidenciou perigosa toxicidade ao uso da anfotericina B deoxicolato tem-se preferido a apresentação lipossomal. No mesmo estudo ficou claro que essa última apresentação isoladamente ainda teve perfil de segurança superior ao antimonial e à associação do antimonial com a anfotericina B lipossomal, configurando-se a melhor opção de tratamento e com boas taxas de cura. Pacientes com coinfecção por HIV não foram testados no estudo referido (ROMERO et al., 2017). Ficou evidente o maior uso das formulações da anfotericina B e, dessa categoria, a apresentação lipossomal correspondendo 44,1% do total de pacientes sugerindo que há o diagnóstico de casos considerados mais graves e/ou presença de comorbidades impeditivas ao uso de antimoniais. Isso dar a entender que tal modalidade vem sendo progressivamente mais utilizada, em consonância ao relato que ainda sugere que a possível redução da letalidade dos últimos anos pode ser oriundo do maior uso da referida droga (TOURINHO et al., 2017). Acerca das manifestações hematológicas a anemia, que é definida como a redução da dosagem de hemoglobina abaixo de nível considerado de referência (BUTTARELLO, 2016), é uma das manifestações sanguíneas mais comumente notadas em portadores de LV (VARMA; NASEEM, 2010), não foi distinto na coorte do estudo, cuja prevalência dessa alteração foi de 100% do total de pacientes assim como outros autores reportam (AL-GHAZALY et al., 2017). A anemia não é uma característica que altere a estratificação prognóstica no protocolo de 49 tratamento sugerido pelo MS, apesar de ser considerada por outros grupos como fator prognóstico (KÄMINK et al., 2017). Ainda assim a análise mostrou que os pacientes de elevado risco prognóstico possuíammaior redução de taxas de hemoglobina e do hematócrito. A anemia na LV pode ser causada por diversos fatores tais como disfunção da eritropoiese, perda sanguínea, destruição dos eritrócitos e por hemofagocitose (GOTO et al., 2017). A LV, como patologia negligenciada que representa, acomete grupo populacional conhecidamente vulnerável (ROCHA, A. T. F. et al., 2018), que possui risco nutricional. Dessa forma, não é raro a associação de anemia carencial por deficiência de ferro. A fim de se investigar a anemia exames como a dosagem sérica da ferritina são usados rotineiramente (JANSEN, 2019). Na coorte de estudo a avaliação desse marcador laboratorial, verificou-se que pacientes possuíam elevadas taxas de ferritina. Poucos são relatos do papel da ferritina na infecção por Leishmania. Uma descrição antiga aponta aquele teste laboratorial como possível marcador prognóstico (HELD et al., 1991), mas outras descrições mais recentes acerca do papel daquele marcador sérico na infecção são pobres. É reportado que o metabolismo de ferro parece ser afetado também pela LV, consoante que ficou provado em relato que mostrou a retenção de ferro mediada pela hepcidina parece ser benéfico ao parasita (SINGH, B.; SINGH; SUNDAR, 2018). Isso pode explicar, em parte, o potencial nocivo da reposição de ferro em portadores de LV notado por estudo que comparou a suplementação de ferro e ácido fólico em pacientes da Etiópia (MULAW et al., 2018). A regulação do metabolismo do ferro pode conferir limitação da lesão tecidual conforme é evidente em relato que pode levar tolerância da infecção na malária restringindo o dano (GOZZELINO et al., 2012). Isso também é comprovado em outros processos infecciosos, como na sepse (WEIS et al., 2017). Assim, a homeostase do ferro é importante para a resposta à infecção e sabe-se que a perturbação do metabolismo do ferro contribui para a interação hospedeiro-parasita e pode contribuir para o curso da patologia, como ficou comprovado na leishmaniose cutânea pós-calazar (DIGHAL et al., 2020). Pesquisas futuras poderão fornecer respostas se alterações do metabolismo de ferro é comum a todos casos de LV ou se ocorre apenas em casos em que há manifestações clínicas mais graves oriundas de resposta inflamatória mais exacerbada. A hiperferritinemia é um reagente de fase aguda que pode traduzir a presença de quadros inflamatórios severos e intensa ativação macrofágica (KERNAN; CARCILLO, 2017). É bem relatado a elevação da dosagem de ferritina na Doença de Still do adulto assim como a expressão de CD163 solúvel (sCD163). Há verdadeiramente uma relação entre a elevação da ferritina e a elevação do sCD163 (COLAFRANCESCO et al., 2014). Essa molécula também foi apresentada por grupo de pesquisa de Sergipe como marcador 50 de mal prognóstico na LV e na hanseníase (SILVA et al., 2017). Assim anemia de doença crônica mediada por citocinas é também uma possibilidade a ser considerada em portadores de LV. A LV pode ocasionar secundariamente a linfohistiocitose hemofagocíctica (HLH), quadro grave e potencialmente fatal (AL-SAMKARI; BERLINER, 2018) com taxa de mortalidade relatada de 41% e que é além de causa de anemia também causador de outras citopenias (RAMOS-CASALS et al., 2014). Série de casos brasileira mostrou que LV é uma causa de reversível de HLH, com o correto tratamento, porém não necessariamente menos grave. Na avaliação da coorte de estudo a elevação de ferritina motivou a busca por outros fatores, inclusive a associação com a HLH. É importante ser considerado que características consideradas preditoras de gravidade na LV são coincidentes com critérios de HLH, o que é um fator relevante a ser avaliado nos portadores de LV, pois pode-se estar diante de casos secundários de HLH, causados pela infecção. Isso tem sido reportado de forma crescente atualmente (DAHER et al., 2015; FERREIRA et al., 2014; GAGNAIRE; GALAMBRUN; STEPHAN, 2000; SCALZONE et al., 2016). A HLH caracteriza-se por anormalidade na resposta imune em que há elevada concentração de citocinas pró-inflamatórias tais como, interferon-gama, fator de necrose tumoral alfa (TNF-), IL-1, IL-4, IL-8, IL-10 e IL-18. É reconhecido que a LV também possui elevados níveis de citocinas inflamatórias, o que pode explicar a severidade dos sintomas nos casos mais graves (COSTA et al., 2013). O tratamento da LV reverte a HLH secundária à infecção (LA ROSEE, 2015) e o reconhecimento de HLH em áreas endêmicas sem a completa investigação, a fim de se afastar calazar como causa secundária pode levar a desnecessária exposição à agentes imunoquimioterápicos que são parte da terapia da HLH (MANTADAKIS et al., 2020). Quatro casos de pacientes que apresentavam hemofagocitose no mielograma, verificada por meio de aspirado de medula óssea realizado para fins diagnósticos de LV foram confirmadas na coorte de estudo. Dois desses pacientes possuíam ao menos 5 dos critérios de HLH. Assim a avaliação de ferritina pode ser incluída na avaliação inicial de todo paciente com diagnóstico de LV, pois se trata de ferramenta laboratorial de baixo custo e fornece informações importantes a exemplo da que foi evidenciada no presente trabalho em que nenhum paciente com ferritina normal apresentou recidiva. Isso tem sido pouco explorado em publicações sobre LV e é potencial campo de pesquisa. Outra anormalidade hematológica comumente notada em portadores de LV é a leucopenia, o que não foi distinto na coorte estudada. Por outro lado, essa citopenia manifestada de forma severa com a presença de neutropenia foi notada em proporção menor de casos, 44,1% 51 dos casos diagnosticados. Outra complicação, porém, mais grave, é a neutropenia febril, considerada uma urgência hematológica, cujo não reconhecimento e tratamento, pode ocasionar desfecho letal. Tal achado foi presente em 26 pacientes, correspondendo a 38,2% do total de casos. Pela estratificação de risco proposta pela OMS, distintamente da realizada na unidade hospitalar em que se realizou o estudo, a leucopenia severa não é um dos critérios, porém se sabe que a neutropenia eleva significativamente o risco de complicações infecciosas e, em se tratando de LV, infecções secundárias associadas ao quadro são consideradas fator de prognóstico adverso (COURA-VITAL et al., 2014; DRUZIAN et al., 2015). No estudo ocorreu apenas um desfecho letal. A taxa de mortalidade foi abaixo da relatada por outros estudos internacionais (DAS, A. et al., 2016), nacionais (MARTINS-MELO et al., 2014), inclusive da taxa também relatada por levantamento realizado e publicado sobre a LV no Estado de Sergipe (SANTOS et al., 2018). Dentre possíveis justificativas para tal achado é a ausência de portadores de HIV/AIDS no estudo, sabidamente uma característica que eleva o risco de morte em portadores de LV (SOUSA-GOMES; ROMERO; WERNECK, 2017; ORYAN; AKBARI, 2016). O local de tratamento, um hospital acadêmico de referência no manejo de doenças infectoparasitárias, também pode ter contribuído para o melhor desfecho na evolução do nosso grupo de estudo. Tourinho e colaboradores (2017) já haviam reportado isso anteriormente em que instituições não especializadas possuíam desfecho inferior relacionado ao tratamento. Apesar de limitações relacionadas ao tamanho do grupo, pois não se permite realizar grandes inferências estatísticas, os resultados da avaliação da coorte é de grande importância haja vista que reflete o cuidado da “vida-real” dos pacientes portadores de LV. Considerando que, mesmo não sendo o único centro de tratamento da patologia no estado, é um grande local de referência no tratamento dessa patologia atendendo pacientes oriundos de vasta região geográfica. O fato de ser um centro terciário não parece impactar tanto, pois se deve considerar que muitos pacientes passaram por outras unidades de saúde em níveis primários e não tiveram a conclusão diagnósticanos níveis de atenção básica. O fato de ser unidade de ensino impacta positivamente no estudo, na baixa mortalidade. Algumas das associações buscadas não apresentaram significância estatística, possivelmente devido a pequena amostra, porém os dados reforçam a importância de manter estudos acerca do manejo da LV em instituições de referência. Acrescenta-se ainda que houve significativa correlação entre aqueles pacientes que demoram na realização do diagnóstico e da leucometria inicial com o escore de gravidade. Também foi estatisticamente significativa a associação de anemia e trombocitopenia com maior severidade da doença, deve ser reforçado 52 que a primeira variável não é parte do escore prognóstico. Os pacientes transfundidos eram verdadeiramente distintos em relação aos não transfundidos, reforçando a ideia que houve de fato indicações acertadas para a hemotransfusão. A hemotransfusão é um procedimento terapêutico caro e não isento de risco o que deve ser também considerado no impacto sócio- econômico da LV. A continuidade da pesquisa com seguimento maior de pacientes que serão progressivamente acrescentados à coorte permitirá o melhor conhecimento acerca da evolução endemia, inclusive sobre a qualidade do cuidado em outros níveis de atenção. O conhecimento sobre a LV não deve se restringir apenas aos espaços acadêmicos, pois para o efetivo controle da LV no nosso país é necessário a adequada compreensão e entendimento da patologia por todos os atores envolvidos nos elos assistenciais. Assim o estudo permite a divulgação de relevantes informações sobre o contexto atual da LV, possibilitando, dessa forma, contribuir para mudança da quadra brasileira atual na qual há grande desconhecimento, inclusive em áreas de transmissão da patologia (LIMONGI et al., 2020). 53 7. CONCLUSÕES A partir do estudo, conclui-se que a LV está presente em todas as faixas etárias, desde os mais jovens aos mais idosos. Uma grande proporção de pacientes teve um tempo de início dos sintomas superior a 30 dias sem diagnóstico e tratamento específicos. O atraso no diagnóstico leva pacientes serem admitidos com maior risco e com pior taxa de leucócitos. Achados laboratoriais tais como hemoglobina, leucometria inicial e ferritina, que não fazem parte do escore de risco atualmente utilizado, devem ser avaliados sobre sua validade e viabilidade. Os pacientes estão sendo internados com importantes sinais de inflamação, incluindo altos níveis de ferritina. HLH é uma complicação potencialmente letal que se associa a quadros graves de LV. São necessários estudos adicionais sobre LV e outras doenças negligenciadas 54 8. PERSPECTIVAS FUTURAS Perspectivas para pesquisas na unidade são diversas. Em nível de pesquisa básica pode- se incluir como objeto de pesquisa: • Investigar perturbações do metabolismo de ferro no contexto da LV. • Interações entre as citocinas inflamatórias e as alterações de metabolismo de ferro. • Avaliar o padrão genético dos pacientes com as referidas alterações metabólicas. Em nível clínico: • Confirmando-se os dados obtidos de avaliações em laboratório podem-se atualizar padrões de estratificação de risco prognóstico atuais. 55 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS A LV continua com uma importante doença no Brasil, principalmente nos estados do Norte e Nordeste O diagnóstico ainda é tardio, apesar de hoje já existirem exames simples para o diagnóstico da doença. Esse fato justifica mais investimentos em estrutura de diagnóstico, rede de referência de tratamento, sistemas de vigilância em saúde e pesquisa em novas abordagens terapêuticas. É urgente e necessária a avaliação do atual Programa de Controle da Leishmania pelas autoridades de saúde. Como novos casos ainda são elevados, as medidas de controle da LV precisam ser avaliadas. Além disso, são necessários estudos adicionais sobre LV e outras doenças negligenciadas, buscando progredir no entendimento dos mecanismos patogênicos que contribuem para os desfechos desfavoráveis para avançar em novas medidas terapêuticas adjuvantes ao tratamento antiparasitário. 56 REFERÊNCIAS ABONGOMERA, C. et al. Prognostic factors for mortality among patients with visceral leishmaniasis in East Africa: Systematic review and meta-analysis. PLoS Neglected Tropical Diseases, [s. l.], v. 14, n. 5, p. 1–19, 2020. Available at: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0008319 AHMED, N. Cultivation of parasites. Tropical Parasitology, [s. l.], v. 4, n. 2, p. 80, 2014. Available at: https://doi.org/10.4103/2229-5070.138534 AKHOUNDI, M. et al. A Historical Overview of the Classification, Evolution, and Dispersion of Leishmania Parasites and Sandflies. 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Visceral leishmaniasis and HIV/AIDS in Brazil: Are we aware enough? PLoS Neglected Tropical Diseases, [s. l.], v. 69 11, n. 9, p. 1–13, 2017. Available at: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0005772 STEVERDING, D. The history of leishmaniasis. Parasites & Vectors, [s. l.], v. 10, n. 1, p. 82, 2017. Available at: https://doi.org/10.1186/s13071-017-2028-5 SUNDAR, S. et al. Amphotericin B treatment for Indian visceral leishmaniasis: conventional versus lipid formulations. Clinical infectious diseases : an official publication of the Infectious Diseases Society of America, [s. l.], v. 38, n. 3, p. 377–383, 2004. Available at: https://doi.org/10.1086/380971 SUNDAR, S. et al. Efficacy and Safety of Amphotericin B Emulsion versus Liposomal Formulation in Indian Patients with Visceral Leishmaniasis: A Randomized, Open-Label Study. PLoS Neglected Tropical Diseases, [s. l.], v. 8, n. 9, p. 1–7, 2014. Available at: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0003169 TORRES-GUERRERO, E. et al. Leishmaniasis: a review. F1000Research, [s. l.], v. 6, n. May, p. 750, 2017. Available at: https://doi.org/10.12688/f1000research.11120.1 TOURINHO, B. D. et al. Prognostic factors for death from visceral leishmaniasis in patients treated with liposomal amphotericin B in an endemic state in Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, [s. l.], v. 111, n. 4, p. 163–171, 2017. Available at: https://doi.org/10.1093/trstmh/trx029 TUON, F. F.; AMATO NETO, V.; SABBAGA AMATO, V. Leishmania: Origin, evolution and future since the Precambrian. FEMS Immunology and Medical Microbiology, [s. l.], v. 54, n. 2, p. 158–166, 2008. Available at: https://doi.org/10.1111/j.1574-695X.2008.00455.x TURCHETTI, A. P. et al. Sexual and vertical transmission of visceral leishmaniasis. Journal of Infection in Developing Countries, [s. l.], v. 8, n. 4, p. 403–407, 2014. Available at: https://doi.org/10.3855/jidc.4108 VAN GRIENSVEN, J.; DIRO, E. Visceral Leishmaniasis: Recent Advances in Diagnostics and Treatment Regimens. Infectious Disease Clinics of North America, [s. l.], v. 33, n. 1, p. 79–99, 2019. Available at: https://doi.org/10.1016/j.idc.2018.10.005 VAN GRIENSVEN, J.; DIRO, E. Visceral Leishmaniasis. Infectious Disease Clinics of North America, [s. l.], v. 26, n. 2, p. 309–322, 2012. Available at: https://doi.org/10.1016/j.idc.2012.03.005 VARMA, N.; NASEEM, S. Hematologic changes in visceral Leishmaniasis/Kala Azar. Indian Journal of Hematology and Blood Transfusion, [s. l.], v. 26, n. 3, p. 78–82, 2010. 70 Available at: https://doi.org/10.1007/s12288-010-0027-1 WEIS, S. et al. Metabolic Adaptation Establishes Disease Tolerance to Sepsis. Cell, [s. l.], v. 169, n. 7, p. 1263-1275.e14, 2017. Available at: https://doi.org/10.1016/j.cell.2017.05.031 WELAY, G. M.; ALENE, K. A.; DACHEW, B. A. Visceral leishmaniasis treatment outcome and its determinants in northwest Ethiopia. Epidemiology and Health, [s. l.], v. 39, p. e2017001, 2016. Available at: https://doi.org/10.4178/epih.e2017001 WHO, W. H. O. Leishmaniasis. [S. l.], 2020. Available at: https://www.who.int/news- room/fact-sheets/detail/leishmaniasis. Acesso em: 20 out. 2020. WILSON, R. Lutzomyia longipalpis. [S. l.], 2009. Available at: https://en.wikipedia.org/wiki/Lutzomyia_longipalpis#/media/File:Lutzomyia_longipalpis- sandfly.jpg. Acesso em: 21 out. 2020. YARED, S. et al. A molecular analysis of sand fly blood meals in a visceral leishmaniasis endemic region of northwestern Ethiopia reveals a complex host-vector system. Heliyon, [s. l.], v. 5, n. 7, p. e02132, 2019. Available at: https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2019.e02132 ZINK, A. R. et al. Leishmaniasis in ancient Egypt and Upper Nubia. Emerging Infectious Diseases, [s. l.], v. 12, n. 10, p. 1616–1617, 2006. Available at: https://doi.org/10.3201/eid1210.060169 ZUBEN, A. P. B. von; DONALÍSIO, M. R. Dificuldades na execução das diretrizes do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral em grandes municípios brasileiros. Cadernos de Saúde Pública, [s. l.], v. 32, n. 6, p. 1–11, 2016. Available at: https://doi.org/10.1590/0102-311X00087415 71 APÊNDICE A Primeira página de manuscrito submetido ao The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 72 APÊNDICE B Comprovação de submissão ao The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. 73 ANEXO Instruções de para autores do periódico The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene Author Instructions | The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 1. Home 2. Author Instructions Note: All manuscriptson COVID-19 will be fast tracked for review and publication, if accepted, and will be published as Open Access. The Journal will resume collecting author page charges for COVID-19 papers that are submitted on or after October 1, 2020. COVID manuscripts that only have authors from low or low-middle income countries will receive a full or partial page charge waiver. The AJTMH welcomes manuscripts that have been posted on pre-peer review sites (e.g. bioRxiv, medRxiv). Contents Cover letter Forms Authorship Manuscript types Plagiarism Submission process Manuscript formatting Additional information The AJTMH publishes a broad range of papers covering topics in tropical medicine. Authors uncertain about the appropriateness of a manuscript for the Journal are encouraged to review recent issues of the Journal and to contact editorial staff with any questions. Manuscripts and correspondence should be submitted at http://mc.manuscriptcentral.com/ajtmh. Questions about the submission process can be directed to the AJTMH editorial office and technical support questions should be sent to ts.mcsupport@clarivate.com. Cover letter All manuscripts should be accompanied by a cover letter with the following information: 1. The title of the paper. 2. A brief description of the significance of the paper to the readers of the AJTMH. 74 3. A statement confirming that the material is original, has not already been published, and has not and will not be submitted for publication elsewhere as long as it is under consideration by the AJTMH. This does not include preprints posted on bioRxiv or medRxiv. 4. Written disclosure of any relationships or support which might be perceived as constituting a conflict of interest. Cover letters should be uploaded with the manuscript documents and designated as "For AJTMH Internal Use". Forms All manuscripts should be submitted with the following forms: 1. A completed AJTMH copyright form signed by the corresponding author 2. The AJTMH authorship agreement form signed by all authors. Please upload these forms upon submission and designate them "For AJTMH Internal Use" when uploading to the site. Ideally, the corresponding author will collect these forms from all authors and submit them to the journal at the time of initial submission. If the corresponding author does not have all forms at the time of submission, the forms can be uploaded at the time of a subsequent revision or emailed to the journal office with the manuscript number clearly noted in the subject line. Authorship There is no limit to the number of authors that may be listed (except for Images in Clinical Tropical Medicine articles; see below). Only two individuals may be listed as first authors. All authors must meet the standards described in the ICMJE authorship guidelines: 1) Substantial contributions to the conception or design of the work; or the acquisition, analysis, or interpretation of data for the work; 2) Drafting the work or revising it critically for important intellectual content; 3) Final approval of the version to be published; and 4) Agreement to be accountable for all aspects of the work in ensuring that questions related to the accuracy or integrity of any part of the work are appropriately investigated and resolved. Please read Section II.A.2 of the ICMJE recommendations for more information on authorship guidelines. In some cases, for papers with a large number of authors participating in a working group, the group may be cited as author, and all individual authors listed in a footnote. Manuscript types Original research reports. These form the large majority of papers published by the AJTMH and consist of reports of novel research. There is no word limit or limit to the number of references, but efforts should be made to keep manuscripts as succinct as possible. Full reports 75 should include separate sections entitled Abstract, Introduction, Materials and Methods, Results, and Discussion; the last two sections can be combined. The abstract should not include sub-headings and should contain no more than 250 words. The following sections should be included after the text: Acknowledgments, Financial Support, and Disclosures regarding real or perceived conflicts of interest. Manuscripts should end with a listing of all authors’ current addresses, including affiliation, city, country, and email address, followed by References (see Reference section below). Short reports. This format can be used for submission of important preliminary observations, technique modifications, or data that do not warrant publication as a full paper. Short reports should contain no sub-headings, and be no more than 1500 words in length, with no more than 150 words in the abstract, 3 tables and/or figures, and 20 references. Reviews. The AJTMH will consider reviews on relevant topics in tropical medicine, global health, and related areas. Typically reviews will be submitted by leading authorities in a field. We encourage mini-reviews, providing concise reviews of focused topics in no more than 2000 words, but larger reviews will also be considered. Mini-reviews are an opportunity to examine a specific aspect of a disease in great depth to shed light on new perspectives or highlight key areas of interest. They may also be about diseases or fields that are poorly understood. Reviews may be solicited by the editors, but for unsolicited reviews, prospective authors are asked to email a presubmission letter to the Journal explaining why the topic is important and relevant to the readership. Reviews require a short abstract. Perspectives. These are short articles (up to 1500 words) on timely topics that offer both a focused review of the subject and a balanced presentation of issues that may include key recent changes or areas of controversy. A short abstract is required. Perspectives may offer the opinions of authoritative experts on timely topics or personal accounts from those with compelling tropical medicine experiences. As with reviews, some Perspectives may be solicited, and for unsolicited manuscripts a presubmission letter should be sent to the managing editor for consideration of the proposed topic before submission. Please be sure to explain why the topic is important and relevant to the readership. Case reports. Short reports of no more than 1500 words can describe a single case or small case series. These must present novel information about a tropical medicine problem of broad interest. Case reports should include an abstract offering a succinct description of the area, a Case Report section including only clinical information that is relevant to the manuscript, and a brief Discussion. 76 Images in Clinical Tropical Medicine. Short reports (typically up to 200 words, but up to 400 words if complex descriptions are needed, with 5 references and no abstract) including images that demonstrate particularly informative, striking, or unusual presentations of tropical disease are welcome. Manuscripts that offer visual immediacy and clinical relevance will be prioritized. Images will be published in black and white in the print version of the Journal (author will have the option to pay for color) and in color online. Images articles should have no more than 3 authors. Stories From the Field. These essays are descriptive personal stories based on authors’ experiences practicing clinical tropical medicine, performing tropical medicine research, taking part in international health education, and/or delivering global health services. We are interested in compelling stories that relate interesting experiences, express opinions, challenge conventional viewpoints, highlight historical perspectives, share sustainable solutions, or encourage innovation. All articles should inform our readers about theworld, people, health, hygiene, disease, and the myriad of issues that impact tropical medicine and global health. Essays should be titled but have no section headings or references. The maximum length is 1500 words. The maximum number of authors is 3. If patients are discussed, they should be de- identified. Preapproval is not required before submission, but potential authors are welcome to request feedback on suggested topics before submission. Submissions from authors from LMICs are encouraged. Book Reviews. These are occasionally solicited by the editors. They should have no sub- headings and be no more than 1000 words in length. Letters to the Editor. Letters are uncommonly published and should only be responses to recently published articles in the AJTMH. Letters to the Editor should have an original title – not the same title as the manuscript that the letter references. If letters are deemed worthy of publication, they will typically be sent to the authors of the published paper for a response. Plagiarism Plagiarism is not acceptable, and plagiarized content will not be considered for publication. If we suspect plagiarism, we will follow COPE guidelines. Plagiarism includes, but is not limited to, any of the following actions that are done without proper attribution: • Directly copying text from other sources • Copying ideas, images, or data from other sources • Using ideas from another source with slightly modified language • Reusing text from your own previous publications without attribution 77 If plagiarism is detected during the peer review process, the manuscript may be rejected. If plagiarism is detected after publication, we may issue a correction or retract the paper. We reserve the right to inform authors' institutions about plagiarism detected either before or after publication. Submission process Prepare your manuscript using a word processing program and save it as a .doc file using Microsoft Word. For items that accompany the text (letters, figures, copyright forms, etc.), you may upload the following file types: .xls, .ppt, .gif, .pdf, .jpg, .png, and .tif. However, for the manuscript text, do NOT upload .pdf files, but rather use the Word "Save As" option to save your text as a .doc file. Reviewers will see a PDF containing all files you uploaded except for those files you have marked as "For AJTMH Internal Use." Other file types such as LaTeX files and QuickTime movies can be uploaded. Videos are best uploaded in mp4 format. Click here to submit your manuscript online. Manuscript formatting Click here for a manuscript formatting checklist. Spacing. The text should be in 11 or 12 point type, fully double-spaced, leaving a margin of 1 inch on all sides. Continuous line numbers (NOT restarting with each page) should be included throughout the manuscript and pages should be numbered consecutively. Title page. The title page must be the first page of the main document. This should include, in the following sequence, the title, a list of all authors, and author institutions, identified by superscripts in Arabic numerals. The corresponding author should be denoted by an asterisk, with address, e-mail, and phone number in a footnote. Also include a list of up to 5 key words and the word counts for the abstract and for the text (not including the abstract, figures, or references). The title page should also list the number of figures, tables, and other pertinent information such as supplementary materials. Title. The manuscript title should be as succinct as possible. Titles should generally not include abbreviations. A running head, for use as a header, should also be provided; the running head should be no longer than 60 characters (including spaces). Style. American spelling should be used. Indent the first sentence of each paragraph. Use only one space between sentences. For presentation of a series of terms, a serial comma (e.g. “red, white, and blue”) should be used. For italics, italicize the words and phrases in your text, but do not underline. Italicize genus and species. For words that were originally foreign, but are now standard English (e.g. i.e., e.g., in vitro, in vivo), italics are not necessary. For complex sentences, parentheses should enclose brackets. Punctuation should follow the parentheses. 78 Superscripts, including reference numbers, should directly follow punctuation marks. Numbers in text should be in Arabic format, except for one. Insert a space between a number and a unit of measure and both before and after the < symbol, > symbol, and = symbol; no space is needed between a number and the % sign. Abbreviations. Abbreviations are commonly overused, compromising the clarity of manuscripts. Authors are advised to keep abbreviations to a minimum, using them when they are clearer than long terms (e.g. PCR, DNA), but avoiding them when possible when they are non-standard and idiosyncratic. Abbreviations should conform to the AMA Style Manual. Terms should be spelled out with first usage in both the abstract and text, with the abbreviation following in parentheses. After this first usage, the abbreviation must be used consistently. Plurals of abbreviations do not require apostrophes. Drug names. Proprietary names of drugs may not appear in the title but may be used in conjunction with the generic name when the drug is first mentioned in the abstract, and again when first mentioned in the text. Thereafter, use only the generic name. Names of organisms. Genus and species should be italicized. After the first usage the genus should be abbreviated with a single letter (e.g. E. coli). For different species within a genus, the genus should be spelled out with the first usage of each. Adjectives referring to organisms (e.g. plasmodial, falciparum malaria) are not italicized. Viral nomenclature should be based on the International Committee on Taxonomy of Viruses (ICTV; see the AMA Style Manual. A complete listing of ICTV recognized viral species can be found here. Figures. Figures should be numbered in Arabic numerals and cited in the text. It should be noted that a fee is required for color illustrations in print, but authors can choose black & white in print, but color online at no charge. All figures should contain a brief legend. Figures should be uploaded as separate files. Please see figure specifications below. Figure specifications. Monochrome (1-bit) images/ line art: The preferred resolution for this type of image is between 1000 and 1200 ppi. Examples include charts and graphs made of solid black and white, with no gray values. Combination halftones: The preferred resolution for this type of image is between 600 and 900 ppi. Examples include color or grayscale figures containing halftone and line art elements. Halftones: The suggested minimum resolution for this type of image is 300 ppi. Examples include color or grayscale figures containing pictures only, with no text or thin lines. We prefer PDF files for line art and tiff files for images. Please do not embed figure files in word documents, as this decreases their resolution. Figures should be submitted as a separate file or files. 79 Please note that when converting charts and graphs to black and white, many colors are difficult to differentiate in grayscale. You may wish to consider differentiating data with dashes, dots or diagonal lines if you choose not to pay for color printing. Tables. Tables should be serially numbered in Arabic numerals and cited in the text. Each table should be placed on a separate page at the appropriate point in the text or at the end of the manuscript. Tables must be editable - not a pasted picture of a table. Supplementary material. Supplemental files must be uploaded as separate file(s) from the main document. Please be sure all supplemental materials are inone file, including figures and figure legends. Authors have the option of publishing tables and figures as supplementary online only material, and they will be referenced in the text. Authors are strongly encouraged to publish some tables and/or figures as supplementary online only material if the manuscript contains an excessive number of figures and/or tables. This will save space in the print journal and may decrease page charges to the authors. There is no charge for online supplementary figures, tables, or other supplementary material. Supplemental files must be uploaded as separate file(s) from the main document. Additional information Co-Author Contact Information. Co-author contact information must be included in the manuscript before the references. Include their proper name (check spelling), institution, and email address. Co-author contact information must also be entered into the system upon submission. Additional sections. The following sections should be included after the text: Acknowledgments, Financial Support, and Disclosures regarding real or perceived conflicts of interest. Manuscripts should end with a listing of all authors' current addresses, including affiliation, city, country, and email address, followed by References. References. References must use standard AJTMH formatting; please refer to prior issues of the Journal and the information below to assure correct formatting. References should be cited by consecutive numbers in the text. The numbers should appear in superscripts that appear after closing punctuation. All authors should be listed, unless a referenced manuscript has more than 10 authors; in that case, please list only the lead author then "et al". Abbreviate journal names as in PubMed, with journal name and volume number in italics. References should be from peer-reviewed publications. Unpublished sources, including abstracts, conference proceedings, dissertations, and manuscripts not yet accepted for publication, should be cited in parentheses in the text as unpublished data or a personal communication (e.g. Kazura, J., personal communication). 80 Examples of references: Durbin AP, Whitehead SS, 2013. The dengue human challenge model: has the time come to accept this challenge? J Infect Dis 207: 697–699. Muirhead-Thomson RC, 1953. Mosquito Behavior in Relation to Malaria Transmission and Control in the Tropics. London, UK: Edward Arnold and Company. White GW, 2007. Terminology of insect repellents. Debboun M, Frances SP, Strickman D, eds. Insect Repellents. Boca Rotan, FL: CRC Press, 31–46. GAVI, 2013. Cholera Vaccine Investment Strategy. Available at: http://www.gavialliance.org/about/strategy/vaccine-investment-strategy/. Accessed March 11, 2014. Review process. After submission, manuscripts are first reviewed by editorial staff. Manuscripts with incorrect formatting or unacceptable language or style will be returned to authors for correction before transmission to the Editor-in-Chief. A common reason for return at this point is unacceptable quality of English, and so authors who are not fluent in English are encouraged to seek help with writing prior to submission. Resources for this include The Charlesworth Group Author Services, LetPub Language Editing Services, Editage English language editing services, Enago editing services, JournalEdit, and Oxford Language Editing Services. Acceptable manuscripts will be examined by the Editor-in-Chief and either accepted without review, rejected without review, or assigned to a Section Editor. Section Editors elicit reviews from qualified experts. Reviews are considered by Section Editors and the Editor-in- Chief, a decision is made, and authors are notified of review decisions as promptly as possible. Requested and excluded reviewers. Authors must list at least 4 potential reviewers, including name and contact information. The careful selection of relevant experts as reviewers will facilitate and speed up the review process. Please do not list reviewers from within an author’s institution, and, especially for international authors, avoid only local reviewers. Authors may exclude up to 4 individuals as reviewers, although such exclusions should be uncommon. Revision of manuscripts. Articles typically require revision before final acceptance. Authors are asked to respond by letter to all concerns raised by editors and reviewers. For each concern the authors should explain exactly how they have modified their manuscript based on the concern, or if they feel that no change is needed, they must justify this decision. Changes to the manuscript must be clearly described, with identification of the site of the change. With resubmission, authors should provide both a marked up version of the earlier submission, with all changes indicated (using Track Changes or highlighting), and a final version. Be sure to designate the clean version as the "Main Document" and the tracked changes version as 81 "Tracked Changes". In response to revised manuscripts, editors may seek additional reviews and/or request a second revision, or they may reach a conclusion as to acceptability for publication. Final decisions are confirmed by the Editor-in-Chief. Sharing of information. Newly determined nucleotide and/or amino acid sequence data must be deposited, and GenBank/EMBL/DDBJ accession numbers must be included in the Materials and Methods section. It is expected that the sequence data will be released to the public no later than the publication date of the paper. New information on arboviruses should be deposited into the CDC arbovirus catalog. Ethical guidelines. For all human research, the Material and Methods section must declare that informed consent was obtained from adult participants and from parents or legal guardians of minors and it must include the names of appropriate institutional review boards that approved the project. Clinical trials must have been registered with clinicaltrials.gov or an equivalent body, and the trial number should be provided. For studies involving experimental animals, the Materials and Methods section must declare that the experiments complied with guidelines for the humane use of laboratory animals from the National Institutes of Health or an equivalent organization, and it must include the names of appropriate institutional review boards that approved the project. The journal recommends adhering to the guidelines stated in the Belmont Report or those set forth by the Council for International Organizations of Medical Sciences. Authors should take care to obscure the identity of patients in photographs; if this is not possible then a signed informed consent form from the patient is required. AJTMH open access policy. Manuscripts may be made freely available online immediately upon publication for a flat fee of $2,500, paid instead of the usual page charges. This fee does not include additional charges for print color figures. For articles for which the open access fee is not paid, authors must honor a 12-month embargo on current content and not deposit their paper in a public repository without permission from the AJTMH. Email the managing editor to obtain permission. Authors may elect the open access option on the page charge form when they receive their galley proofs, or they may notify the editorial office of their decision. Published papers will be deposited in PubMedCentral (PMC) by the journal office. Open access articles will be made freely available on PMC at the time of publication. All other articles will be deposited in PMC but will not be available until the 12-month embargo period has expired. Wellcome Trust/Research Council UK authors can self-archive their manuscripts and make these available from PMC and Europe PMC 6 months after the publication date. For authors 82 depositingtheir manuscripts in a repository, please use the final published version as opposed to the author manuscript. Page charges. These are $125 per page for manuscripts submitted by a Corresponding Author who is a member of the ASTMH and $150 per page for non-members. Charges for printed color figures are $1,395 per color plate (one page including one or more color figures). There is no charge for figures that are in color only online. Supplemental data such as additional tables and figures can be included in the online version of a paper and referenced in the print version. Page charges are due upon receipt of galley proofs. The corresponding author will receive an email with a link to galley proofs a few weeks after manuscript acceptance. A separate email with a link to an invoice will be sent; at that time authors can choose if they want to pay the regular page charge fees listed above or the open access fee of $2,500. There are no page charges for Letters to the Editor, Book Reviews, Images in Clinical Tropical Medicine, Stories From the Field, or manuscripts that are recruited by the editors. Page charge waivers. Manuscripts with only authors from developing countries and with no sources of support for page charges may qualify for a partial or full waiver of charges. Please appreciate that funds for waivers are limited. We do not grant waivers until a paper is accepted. Email delivery. 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