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TRATAMENTO DIETOTERAPICO DA OBESIDADE 
 
Dieta e atividade física são os principais pilares no 
tratamento da obesidade. No entanto, por mais que 
tenham uma grande influência, representando mais de 
50% do sucesso terapêutico, não são suficientes 
sozinhas para resolver o problema. Se fosse apenas 
uma questão de déficit calórico, o tratamento seria 
muito mais fácil. A grande questão é que a obesidade é 
uma doença, e sendo assim, ela envolve muito mais do 
que só comportamento alimentar. Ela é multifatorial, 
com fatores genéticos, comportamentais, 
psicológicos, emocionais e sociais todos atuando 
ao mesmo tempo. 
OBESIDADE 
A obesidade se configura como doença porque causa 
distúrbios no organismo. Um exemplo claro é a 
síndrome metabólica, mas existem outras 
consequências sérias. Durante muito tempo, a 
obesidade foi tratada apenas como uma condição 
humana. Porém, mais recentemente, ela passou a ser 
classificada como uma doença propriamente dita, 
exigindo e merecendo todos os recursos terapêuticos 
disponíveis, inclusive cirurgia bariátrica quando 
necessário, principalmente quando ela começa a 
comprometer diversos sistemas do organismo. 
O momento em que a obesidade deixa de ser apenas 
uma condição controlável e passa a ser uma ameaça é 
quando ela começa a gerar comorbidades, como o 
diabetes, por exemplo. Isso é uma consequência direta 
do acúmulo excessivo de tecido adiposo, que começa 
a exercer efeitos nocivos. A grande chave para 
entender a gravidade da obesidade é justamente a 
quantidade de tecido adiposo presente, e não 
apenas o peso corporal total. 
Por isso, o IMC (índice de massa corporal), apesar de 
ainda amplamente utilizado, é pouco sensível para 
identificar os efeitos metabólicos da obesidade, já que 
uma pessoa com peso aparentemente normal pode ter 
alta adiposidade e já apresentar alterações metabólicas 
importantes. 
O tecido adiposo foi considerado por muito tempo 
apenas como reserva energética. No entanto, desde 
meados da década de 1980, descobriu-se que os 
adipócitos também secretam substâncias com ação 
endócrina, como citocinas inflamatórias, que geram 
estado de inflamação crônica, alteram a sensibilidade à 
insulina, reduzem a ação da leptina, e alteram a 
secreção da grelina. 
 
 
Isso cria um ciclo vicioso, onde a adiposidade 
excessiva gera mais dificuldade para emagrecer, 
favorecendo a manutenção da obesidade. Portanto, o 
grande problema não é o peso isoladamente, mas 
sim o excesso de tecido adiposo e seus efeitos 
sobre o metabolismo. 
TRATAMENTO DE OBESIDADE 
A mudança de estilo de vida, com foco em dieta e 
atividade física, continua sendo o centro do tratamento 
da obesidade. É essencial que, após o início do 
tratamento, o indivíduo consiga manter os novos 
hábitos a longo prazo. No entanto, em muitos casos, 
por causa das alterações metabólicas significativas já 
instaladas, é necessário o uso de medicamentos. 
Esse é um ponto que ainda gera debate, mas os efeitos 
são comprovados: medicamentos como o Ozempic 
(semaglutida) têm mostrado bons resultados, e novos 
fármacos com efeitos comparáveis aos da cirurgia 
bariátrica estão previstos para serem lançados, com 
promessas de maior eficácia na redução de peso e 
ajuste metabólico. 
Essas condutas estão embasadas nas diretrizes 
brasileiras de obesidade, que são referências 
fundamentais no manejo da doença. A obesidade, hoje, 
é considerada uma doença multifatorial, de alta 
prevalência crescente. Os dados mais recentes do 
Painel Global de Obesidade mostram que, no Brasil, 
60% da população tem sobrepeso, e dentro desse 
grupo, 27% já apresentam obesidade clínica. 
Recentemente, passou-se a adotar uma nova 
classificação da obesidade: obesidade pré-clínica e 
obesidade clínica. 
Na obesidade pré-clínica, a pessoa apresenta excesso 
de peso, mas ainda sem alterações metabólicas 
detectáveis em exames laboratoriais. Já a obesidade 
clínica ocorre quando há alterações laboratoriais — 
como alterações no lipidograma, resistência insulínica 
com insulina elevada, entre outras — que indicam uma 
necessidade de tratamento mais intensivo, inclusive 
com medicamentos. 
COMORBIDADES ASSOCIADAS 
As comorbidades associadas à obesidade são 
várias: hipertensão, diabetes, doença renal crônica 
(como glomeruloesclerose induzida pela obesidade), 
alguns tipos de câncer, problemas osteoarticulares, 
entre outros. A obesidade raramente aparece sozinha 
— o mais comum hoje é encontrar indivíduos obesos, 
hipertensos, diabéticos e com dislipidemia, que já 
mostram sinais de lesão renal. Isso representa uma 
conjugação de fatores de risco difíceis de controlar 
isoladamente. 
O tratamento da obesidade e de suas comorbidades é 
altamente custoso, tanto para o indivíduo, quanto para 
a família, a comunidade e o sistema de saúde. Ele 
reduz produtividade, aumenta o número de faltas no 
trabalho (absenteísmo) e impõe uma sobrecarga ao 
sistema público e privado. Por tudo isso, a obesidade 
precisa ser tratada com seriedade. 
Apesar de todo o conhecimento acumulado, das 
diretrizes e dos avanços em medicamentos e cirurgia, 
a obesidade continua crescendo. O nível atual é 
alarmante: de cada 10 pessoas, 6 estão com sobrepeso 
e quase 3 já estão em obesidade clínica. Isso aumenta 
drasticamente o número de doenças que exigirão 
tratamento contínuo, o que impõe um desafio de saúde 
pública, de sustentabilidade e até mesmo de 
sobrevivência da espécie humana. O controle da 
obesidade é uma questão urgente e coletiva, que exige 
envolvimento não só do setor saúde, mas de toda a 
sociedade. 
Se não houver um controle efetivo da obesidade, 
especialmente da obesidade infantil, a sobrevivência 
da espécie humana como a conhecemos estará 
ameaçada. A nova geração, que está crescendo agora, 
corre o risco de viver menos do que a geração atual. 
Isso se deve à alta carga de doenças associadas à 
obesidade, o que pode levá-los a adoecerem 
precocemente e saírem do mercado de trabalho antes 
mesmo de atingirem o auge da vida produtiva. O 
impacto social disso é imenso, pois, para mantermos as 
estruturas sociais funcionando, precisamos que a 
próxima geração viva mais, e não menos. 
A obesidade e suas comorbidades estão se tornando 
um problema de saúde pública com efeitos mais 
rápidos e mais graves do que imaginamos. Casos cada 
vez mais frequentes de crianças com menos de 10 anos 
apresentando obesidade grave e já diagnosticadas com 
diabetes tipo 2 ilustram bem essa realidade. 
A presença de acantose nigricans, por exemplo — 
aquelas manchas escuras, espessas, geralmente 
visíveis na nuca e outras dobras da pele — é um sinal 
clássico de resistência insulínica e, portanto, um 
marcador clínico importante que nunca deve ser 
ignorado. No entanto, seu tratamento é sempre difícil, 
pois envolve um contexto social complexo. 
Outro desafio considerável no enfrentamento da 
obesidade é a elevada taxa de recidiva. 
Aproximadamente 95% dos pacientes obesos que 
conseguem alcançar o peso adequado voltam a ganhar 
peso em até dois anos após o término do tratamento. 
Ou seja, recidivar é a regra, não a exceção. Esse 
número demonstra como é difícil manter os resultados 
e sustentar a perda de peso em longo prazo. 
Dados atualizados mostram que 60% da população 
brasileira já apresenta excesso de peso, um aumento 
em relação aos 56% anteriormente registrados. Esse 
número vem do Painel Global da Obesidade, uma 
importante iniciativa internacional que compila dados 
mundiais atualizados sobre a doença. 
Apesar de já existirem políticas públicas voltadas ao 
combate da obesidade, sua eficácia ainda é limitada. A 
obesidade continua crescendo, e isso se deve, em 
grande parte, à dificuldade de promover mudanças em 
um fator central: o ambiente alimentar. Alimentos 
ultraprocessados, ricos em gordura, açúcar e sal, 
continuam sendo mais baratos e amplamente 
disponíveis.Além disso, são muito saborosos, o que 
aumenta seu consumo. Negar que sejam gostosos 
seria hipocrisia. Do ponto de vista sensorial, esses 
alimentos são extremamente agradáveis, e há uma 
razão para isso — foram projetados para isso. 
ETIOLOGIA DA OBESIDADE 
A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial. 
Envolve genética, ambiente, estilo de vida e, 
principalmente, fatores emocionais. A genética por si só 
não explica o crescimento da obesidade. 
O ambiente e os hábitos têm peso muito maior. Um bom 
exemplo é observar vídeos da década de 1970: além 
da moda e dos penteados diferentes, vemos que a 
maioria das pessoas era magra. Há um vídeo 
comparando imagens da Praça da Sé, em São Paulo, 
em 1973 e 2013. Em 2013, a maioria das pessoas 
filmadas apresentava sobrepeso ou obesidade. A 
genética da população não mudou em 40 anos. O 
que mudou foi o ambiente: a oferta de alimentos, os 
hábitos de vida e os fatores emocionais, como a 
ansiedade, que se tornou quase uma constante no 
século XXI. 
Transtornos de ansiedade são comuns nos pacientes 
acompanhados nos ambulatórios, e parte disso está 
relacionado à dependência dos dispositivos eletrônicos, 
como os celulares. Eles são indispensáveis hoje em 
dia, mas também são fonte contínua de estresse. Isso 
influencia nosso estado emocional e, 
consequentemente, nossos hábitos alimentares. Surge 
então o comer compulsivo ou compensatório, que é 
uma forma comum de resposta a alterações 
emocionais. 
O fator clássico da obesidade é o balanço energético 
positivo — quando a ingestão calórica ultrapassa o 
gasto calórico. Isso pode acontecer, por exemplo, com 
um atleta que, ao parar de treinar, mantém o mesmo 
padrão alimentar e passa a acumular gordura. Esse 
excesso de energia armazenada se transforma em 
gordura corporal, o que desencadeia os processos que 
levam à obesidade. 
O ambiente alimentar também contribui 
diretamente: alimentos in natura ou minimamente 
processados são mais caros e menos acessíveis, e isso 
se deve tanto à logística de distribuição quanto às 
políticas governamentais que incentivam a produção e 
comercialização dos ultraprocessados, que são 
baratos, saborosos, têm longa validade e são 
encontrados facilmente. Em qualquer área urbana, é 
mais fácil encontrar alimentos ultraprocessados do que 
alimentos saudáveis. Além disso, esses alimentos são 
altamente palatáveis, de digestão rápida e com alta 
densidade calórica, o que os torna ainda mais atraentes 
para o consumo contínuo. 
Somando-se a isso, temos o sedentarismo. A 
população brasileira é amplamente sedentária. 
Mesmo que fosse possível caminhar grandes 
distâncias diariamente, as cidades não são preparadas 
para isso. 
Falta infraestrutura: ciclovias, parques públicos e 
áreas de convivência para prática de exercícios. O 
zoológico, por exemplo, está em decadência, nem as 
crianças frequentam mais. Isso mostra que até os 
poucos espaços que existiam estão deteriorados. 
A estrutura urbana brasileira, no geral, não favorece 
o gasto calórico. É mais agradável caminhar porque a 
temperatura média da cidade diminuiu, o que fez com 
que as pessoas se tornassem mais ativas. Isso é parte 
do cenário. 
Outro ponto relevante são as alterações emocionais 
do apetite. Quantos de vocês já sentiram aquela 
vontade estranha de comer algo diferente ao chegar em 
casa, geralmente no final da tarde, sabendo que têm 
uma prova no dia seguinte? É uma sensação comum: 
uma vontade de comer alguma coisa, mas sem saber 
exatamente o quê. Você pega algo, experimenta, mas 
não era aquilo. Vai atrás de outra coisa, come de novo, 
ainda não era aquilo. Abre a geladeira, analisa tudo 
procurando aquilo “diferente”, mas o que você quer não 
existe. Para não perder a viagem, você pega qualquer 
outra coisa. Depois, vai ao armário e repete o processo. 
Ao final de duas horas, você consumiu mais calorias do 
que precisava para o dia inteiro — geralmente em 
alimentos ultraprocessados, ricos em sabor, que geram 
muito prazer. E então, ao se dar conta do quanto 
comeu. 
Só que, ao chegar no dia seguinte, você sente fome e 
vontade de comer, porque essa vontade é real. Isso é 
uma alteração emocional do apetite. Se isso ocorre 
com muita frequência, caracteriza um comportamento 
chamado surto hiperfágico compulsivo e 
compensatório. 
É algo bastante comum: em um evento de duas horas, 
a pessoa pode ultrapassar facilmente sua necessidade 
calórica diária. E se esse tipo de episódio acontecer 
pelo menos duas vezes por semana — apenas duas 
vezes — já é suficiente para gerar um balanço 
energético positivo na semana e levar ao ganho de 
peso. 
Esse fenômeno é frequente até durante tratamentos. A 
pessoa está seguindo a dieta, fazendo tudo “bonitinho”, 
mas em dois dias da semana ela “mete o pé na jaca”. 
O estresse emocional leva ao comportamento 
alimentar impulsivo. Se acontecer duas vezes por 
semana, mesmo com dieta nos demais dias, a ingestão 
calórica semanal será superior ao necessário. E aí, 
mesmo com dieta, a pessoa não emagrece. Pior: 
dependendo da intensidade desse surto, ela pode até 
engordar. Então, a dieta falhou? Não. O que existe é 
um comportamento alimentar emocional recorrente que 
sabota o processo. 
Vivemos em uma sociedade extremamente ansiosa, o 
que facilita ainda mais essas alterações. E há alimentos 
que potencializam isso. Os chamados alimentos 
ultraprocessados — ou AOPs, segundo os 
nutricionistas — são justamente os que mais favorecem 
esses episódios. Eles são projetados para isso. Têm 
sabor muito intenso, alta densidade calórica (ou seja, 
em pouco volume, fornecem muitas calorias), espalham 
sabor pela boca de forma eficiente, deixam sabor 
residual (aquela sensação que permanece no fundo da 
garganta mesmo após engolir), e isso tudo gera um 
prazer enorme. 
Quando você consome um alimento com essas 
características — geralmente pastoso, calórico e 
altamente palatável —, a amígdala cerebral, localizada 
na base do cérebro, emite uma resposta instintiva que 
diz: “Isso é vida! Continue comendo.” Essa reação é um 
resquício do nosso passado evolutivo. 
Lá atrás, quando éramos caçadores-coletores, escolher 
os alimentos certos era essencial para a sobrevivência. 
Se não escolhêssemos alimentos calóricos, não 
teríamos energia suficiente para atravessar períodos de 
escassez. Em ambientes naturais, não modificados 
pela ação humana — como em reality shows tipo 
“Largados e Pelados” — não há oferta calórica fácil. As 
pessoas emagrecem muito rápido. Por isso, ao longo 
da evolução, nosso cérebro aprendeu a associar 
gosto, textura e densidade calórica com 
sobrevivência. 
Se, por acaso, a gente tivesse o mesmo prazer ao 
comer uma folha de alface americana e uma carne 
gordurosa, faríamos escolhas erradas e colocaríamos 
nossa sobrevivência em risco. Por isso, sentimos 
prazer intenso quando colocamos na boca alimentos 
com alta densidade calórica que se tornam pastosos, 
espalham sabor e deixam aquele gosto residual. Nosso 
cérebro responde com uma verdadeira festa de 
dopamina, quase como se fosse um orgasmo 
alimentar. É possível ver isso até em exames de 
imagem — ressonâncias cerebrais mostram áreas do 
cérebro se iluminando intensamente, como em 
resposta ao uso de drogas. 
É por isso que algumas pessoas comparam açúcar ou 
certos alimentos com cocaína. Mas é importante dizer: 
não é a mesma coisa. Não é o mesmo modelo de 
adicção. Dizer que açúcar vicia como cocaína é um 
exagero, um tipo de terrorismo nutricional. São 
processos diferentes, embora ambos envolvam prazer 
e reforço de comportamento. 
Na verdade, o que acontece é um reflexo condicionado 
pelo excesso de prazer. Nosso corpo reconhece o 
alimento como bom para a sobrevivência e mantém 
aquele padrão de escolha. O problema é que, nos 
últimos 50 anos, o ambiente alimentar mudou 
drasticamente. Hoje, há uma predominânciade 
alimentos com essas características. É fácil encontrar 
alimentos que se tornam pastosos, espalham sabor 
pela boca, têm alta densidade calórica e deixam gosto 
residual. 
Esses alimentos são desenvolvidos de forma precisa, 
com nutrientes microencapsulados que resistem ao 
processo de mastigação e mantêm o sabor ativo 
mesmo depois de engolir. É intencional. Isso interfere 
diretamente no microambiente alimentar, 
especialmente o doméstico. Ter esses produtos em 
casa torna muito difícil resistir. 
 
A verdade é que essas escolhas não são casuais. 
OBESIDADE EM CRIANÇAS 
Quando a obesidade acontece em crianças até 5 anos 
de idade, ela tende a ser tanto hipertrófica quanto 
hiperplásica, ou seja, desenvolvem mais células de 
gordura e essas células aumentam de tamanho. Nessa 
fase da vida temos muitas células ainda não 
diferenciadas, que passam a se tornar adipócitos — 
células de gordura — por causa da maior necessidade 
energética. E sabemos que os adipócitos não servem 
apenas como reserva energética: eles têm uma ação 
hormonal importante. Quando esse tecido adiposo se 
torna hiperplásico e hipertrófico, há aumento 
significativo da secreção de substâncias que favorecem 
a obesidade, tornando essa condição ainda mais difícil 
de controlar ao longo da vida. 
Estudos mostram que crianças que engordam antes 
dos 5 anos provavelmente lidarão com essa condição 
pelo resto da vida, sempre precisando de controle. 
Além disso, essas crianças apresentam comorbidades 
mais cedo. Até o final da primeira década de vida, 
muitas já apresentam intolerância à glicose, resistência 
à insulina ou mesmo picos de pressão arterial. Ao final 
da adolescência, é comum que já tenham desenvolvido 
diabetes ou hipertensão. E, antes de completarem 30 
anos, já acumulam várias condições sérias como 
diabetes, hipertensão, obesidade, doenças 
cardiovasculares ou insuficiência renal crônica. Com 
isso, é provável que essa próxima geração morra entre 
os 38 e 43 anos, passando anos enfrentando doenças 
graves como insuficiência renal (fazendo diálise), 
problemas cardíacos ou outras condições sérias. Não 
se trata apenas de morrer mais cedo. Trata-se de 
morrer mais cedo com alto custo social. 
No nosso caso, que temos um sistema público de 
saúde sustentado por todos nós, e um sistema de 
previdência igualmente sustentado pelas nossas 
contribuições compulsórias ao governo, haverá 
aumento significativo nos custos. E quem deveria estar 
entrando no mercado de trabalho para bancar tudo isso 
estará morrendo antes. 
A exposição a substâncias que favorecem esse quadro 
é muito ampla. Por exemplo, existem os chamados 
POPs — poluentes orgânicos persistentes — e os 
DEs, os disruptores endócrinos, que estão muito 
presentes no plástico. Já foram encontrados no leite 
materno e na placenta. Temos professores estudando 
a presença dessas substâncias até no mecônio (as 
primeiras fezes do bebê). Esses poluentes já entraram 
na cadeia alimentar. Nos próximos anos, estima-se que 
500 milhões de toneladas de microplásticos sejam 
depositadas no solo. Eles já estão no ar, e nós já os 
respiramos. E o que esses microplásticos causam? 
Não sabemos ao certo. Esse é o problema. Eles já 
estão dentro do nosso corpo. 
Isso vem pelo ar, pela pele e, principalmente, pela 
alimentação. 
Alguns estudos indicam que os poluentes orgânicos 
persistentes alteram a microbiota intestinal, e há 
diferenças inclusive entre bebês nascidos de parto 
normal e por cesariana. Ainda faltam evidências 
conclusivas, mas é uma possibilidade. 
Outro fator agravante é a diminuição do tempo de 
sono. A falta crônica de sono altera a resposta ao 
estresse. Precisamos do sono profundo para reduzir os 
níveis de estresse. Quando o estresse se torna crônico, 
ele afeta o apetite e o emocional. Quanto menos se 
dorme, mais se ativa o eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal, o que aumenta o apetite e leva ao ganho de 
peso. Assim, o controle do estilo de vida não é simples. 
Vivemos uma transição nutricional. O estilo de vida 
da humanidade mudou muito desde o século passado. 
Isso alterou o padrão alimentar. Hoje, há um consumo 
maior de alimentos com alta densidade calórica, alta 
palatabilidade, baixo poder de saciedade e fácil 
absorção — os ultraprocessados. No início do século 
XXI, menos de 10% da ingestão calórica total vinha 
desses alimentos. Hoje, esse número já chega a 18,3% 
no Brasil. Em países desenvolvidos, pode ultrapassar 
30%. 
São produtos muito mais baratos que os alimentos in 
natura ou minimamente processados. Além disso, 
fatores sociais influenciaram essa transição. Desde os 
anos 1970, com a entrada da mulher no mercado de 
trabalho — hoje elas são maioria nos cursos superiores 
— houve um aumento da sobrecarga feminina, que 
passou a acumular responsabilidades com casa, filhos, 
trabalho e estudos. Isso aumentou a ansiedade e 
mudou os sistemas alimentares. Passamos a 
demandar alimentos mais rápidos, práticos, com maior 
tempo de armazenamento e capazes de substituir 
refeições. Isso influenciou até a indústria de 
eletrodomésticos: antes bastava um fogão e uma 
geladeira com congelador pequeno. Hoje, é comum ter 
micro-ondas, freezer grande, air fryer e outros 
aparelhos para preparar comidas processadas. 
Até a forma de comercializar alimentos mudou. Nos 
supermercados atuais, se compra de tudo. Vai-se por 
uma fruta e sai-se com ovos, pneu, ração, produto de 
carro... Isso tudo é proposital, para estimular o 
consumo. E observe a posição das guloseimas nas 
prateleiras: estão ao alcance das crianças. 
O marketing tem enorme influência na alimentação. Há 
os nutritional claims, alegações nutricionais que 
induzem ao consumo. Um salgadinho pode trazer no 
rótulo: “feito com grãos integrais” ou “com óleo de 
girassol”, criando a impressão de que é saudável. Às 
vezes, está escrito “feito com fruta”. Mas tem 0,1% de 
fruta — e isso já basta para enganar o consumidor. 
E os transgênicos? Quase tudo contém transgênico. O 
problema é que ainda não sabemos os impactos reais 
deles na saúde humana. E, mesmo assim, 
consumimos. 
Na Europa, o controle é mais rígido do que nos EUA. 
No Brasil, Argentina, China e EUA, a produção é 
massiva. Aqui, ao menos temos o direito de saber que 
o alimento é transgênico, o que é proibido nos Estados 
Unidos. Estamos participando de um grande 
experimento alimentar. Até o feijão já apresenta o 
símbolo de transgênico. Está indo para arroz, trigo, 
tudo. É difícil encontrar milho sem transgênico: 95% do 
milho no Brasil é transgênico. E a maior parte vai para 
a ração animal. Nós comemos os animais que 
comeram transgênico. Estamos cercados por todos os 
lados. 
E voltando ao marketing: quantos de vocês já 
compraram um produto porque o rótulo dizia “15g de 
proteína”? Muita gente. Esse tipo de bebida é feito a 
partir de um resíduo do leite que antes era descartado. 
Hoje virou bebida láctea e custa caro — porque tem 
“15g de proteína” no rótulo. O marketing dita o que 
comemos. Isso cria um ambiente alimentar 
obesogênico, que favorece o acúmulo de gordura. 
Guardar gordura virou quase uma condição normal. 
Mas por que o corpo prefere guardar gordura e não 
músculo? Porque a gordura é a forma mais eficiente 
de armazenamento de energia. Na ausência de 
glicose, o corpo pode fazer gliconeogênese a partir da 
gordura. A proteína também serve, mas é a terceira 
opção. Guardar músculo, apesar de parecer vantajoso, 
aumentaria o gasto calórico — e o corpo quer 
economizar energia. Músculo exige muito nutriente. 
Então, se o objetivo é economizar, guardar músculo 
não é vantajoso. 
Aumentar a quantidade de massa muscular pode 
parecer ideal em termos metabólicos, pois melhora o 
gasto energético do corpo. No entanto, isso também 
aumenta significativamente a necessidade nutricional. 
Em períodos de escassez alimentar, essa maior 
exigência faz comque a fome apareça mais rápido, 
levando à exaustão e à morte com mais facilidade. Já 
a gordura corporal, por outro lado, é uma reserva 
energética muito estável. Carregamos moléculas de 
gordura antigas, que se mantêm conosco ao longo do 
tempo. A gordura se regenera com menos frequência e 
impacta menos o metabolismo. Por isso, o corpo tende 
a favorecer a manutenção da gordura em vez da 
construção de músculos — é uma questão evolutiva. 
Esse conjunto de fatores configura o que chamamos de 
ambiente alimentar obesogênico, ou seja, um 
ambiente que promove o consumo de alimentos 
altamente calóricos e de fácil acesso. Muitas vezes, a 
oferta de comida do cotidiano não depende somente da 
escolha individual. Mesmo que alguém deseje se 
alimentar apenas de alimentos orgânicos, por exemplo, 
é praticamente impossível garantir isso no Brasil. Além 
de serem caros, os alimentos orgânicos ainda podem 
conter resíduos de poluentes orgânicos persistentes 
(POPs), que são agrotóxicos que se acumulam no 
ambiente e nos alimentos. Atualmente, estima-se que 
cada brasileiro consuma, em média, 7,4 litros de 
agrotóxicos por ano por meio da alimentação. 
Há quem argumente que o consumo exclusivo de carne 
seria uma solução para evitar agrotóxicos. Mas isso 
não faz sentido do ponto de vista científico. 
Existe um fenômeno chamado bioacumulação, em 
que os animais acumulam substâncias químicas em 
seus tecidos, incluindo agrotóxicos presentes nos 
alimentos vegetais que eles consomem. Portanto, é 
impossível escapar completamente dessa 
contaminação. 
OBJETIVO DO TRATAMENTO 
Dentro desse contexto, o objetivo do tratamento da 
obesidade deve ser a criação de um balanço 
energético negativo e prolongado — ou seja, ingerir 
menos calorias do que o corpo precisa durante um 
período extenso. Não se trata de passar fome por um 
dia ou fazer uma dieta restritiva por uma semana. A 
ideia é estabelecer condições sustentáveis, nas quais a 
ingestão calórica diária seja consistentemente menor 
do que o gasto energético, por meses ou anos, de 
forma segura e gradual. 
Muitas pessoas tentam alcançar esse déficit calórico 
por meio de medicamentos que reduzem a fome ou 
dietas muito restritivas, que até podem gerar resultados 
no início, mas que dificilmente se sustentam no longo 
prazo. Isso se deve ao próprio ambiente alimentar, que 
não favorece escolhas saudáveis. Não é fácil encontrar 
alimentos frescos e naturais com preços acessíveis e 
fácil disponibilidade. A maioria das pessoas vive rotinas 
exaustivas de estudo, trabalho e cuidado com a família, 
e não tem tempo nem energia para preparar refeições 
saudáveis diariamente. 
A abordagem ignora o fato de que a pessoa é, na 
verdade, o elo mais fraco desse sistema. Ela está 
inserida em uma estrutura social e econômica que 
dificulta a prática de hábitos saudáveis. Não se trata de 
demonizar o capitalismo, mas é fundamental 
reconhecer que colocar toda a responsabilidade da 
saúde nas mãos do indivíduo é injusto. O ambiente 
alimentar atual, a estrutura urbana que não 
favorece a atividade física e as longas jornadas de 
trabalho contribuem significativamente para a 
dificuldade em manter um estilo de vida saudável. 
Por isso, o tratamento da obesidade deveria ser 
entendido como uma questão de política pública e 
saúde coletiva, e não apenas como um esforço 
individual. O tratamento envolve o controle da ingestão 
calórica diária e, especialmente, a redução do consumo 
de alimentos ultraprocessados, que, apesar de 
parecerem inofensivos, são altamente calóricos. Um 
pacote médio de biscoito recheado, por exemplo, pode 
conter o equivalente calórico de oito pães com 
manteiga. Ninguém comeria oito pães de uma vez, mas 
é comum consumir um pacote inteiro de biscoito sem 
perceber. O mesmo vale para salgadinhos. 
Esse tipo de alimento está presente no dia a dia das 
crianças, inclusive nos lanches escolares. Muitos pais 
tentam mandar opções saudáveis para os filhos, mas 
isso é dificultado pelo ambiente social. A alimentação é 
um ato social, e as crianças querem se encaixar no 
grupo. Se todos os colegas estão comendo alimentos 
industrializados, a criança que leva frutas pode se sentir 
excluída. Isso afeta diretamente a adesão ao 
tratamento e o bem-estar psicológico. 
Mesmo em escolas que tentam oferecer lanches mais 
saudáveis, como batata-doce ou brócolis, surgem 
críticas. Muitas crianças não se adaptam a esses 
alimentos como lanche da tarde, e os pais acabam 
precisando mandar comida de casa — o que torna o 
processo mais caro e trabalhoso. O ideal seria que 
essas mudanças fossem aplicadas de forma coletiva e 
institucionalizada, para não isolar a criança nem 
penalizar os pais. 
Se o tratamento causa sofrimento, ele tende a ser 
abandonado. Se seguir uma dieta saudável gera 
ansiedade ou isolamento social, isso pode 
desencadear episódios de compulsão alimentar como 
compensação, comprometendo todo o processo. 
JEJUM INTERMITENTE 
Muitas vezes, surgem modismos com base em teorias 
pseudocientíficas, como o jejum intermitente. Há 
quem diga que o jejum é milagroso, mas os dados não 
sustentam essas afirmações. Se o jejum fosse tão 
eficaz, nossos antepassados teriam vivido mais de 100 
anos, mesmo sem vacinas ou saneamento. Estudos 
mostram que, ao longo de um ano, o jejum intermitente 
resulta em uma perda de peso apenas levemente 
superior a outros métodos tradicionais — menos de 1 
kg a mais — e tem taxa de adesão extremamente baixa. 
De cada 50 pessoas que começam, apenas cerca de 5 
seguem o jejum até o fim do ano. Isso acontece 
porque o jejum impõe sofrimento, e isso não é 
sustentável. 
Portanto, o que funciona no longo prazo é promover 
uma redução calórica progressiva e aumentar 
gradualmente o gasto de energia. Não é necessário 
virar atleta da noite para o dia. Muitas propostas de 
tratamento exigem que a pessoa pare a própria vida 
para segui-las, o que é irreal. Quando isso acontece, a 
tendência é desistir. 
E o mais cruel é que quem passa por isso 
frequentemente enfrenta ainda a pressão social, 
pessoal e até profissional por conta do peso. Existe 
uma indústria que lucra bilhões de dólares vendendo 
falsas promessas de cura para a obesidade. Basta 
entrar em uma livraria e ver a quantidade de livros com 
"dietas milagrosas". O tratamento verdadeiro, porém, 
é simples e difícil: menos ingestão calórica, mais 
gasto energético e muita paciência — sem ilusões. 
O grande ponto é que existe uma indústria voltada para 
o tratamento da obesidade que é séria, baseada em 
ciência, pesquisa e evidências clínicas. Essa parte da 
indústria busca compreender a fisiopatologia da 
obesidade e propor intervenções que sejam seguras, 
eficazes e sustentadas ao longo do tempo. No entanto, 
também existem empresas e profissionais que se 
aproveitam do sofrimento das pessoas, prometendo 
tratamentos milagrosos, sem respaldo científico, com o 
único objetivo de lucrar. E infelizmente, muitas pessoas 
que sofrem com a obesidade, por serem 
estigmatizadas, acabam caindo nesses discursos. 
A obesidade ainda carrega muito estigma. Pessoas 
com obesidade são pressionadas socialmente, 
inclusive por profissionais da saúde. Não é incomum 
encontrarmos médicos e nutricionistas com posturas 
gordofóbicas, o que contribui para o sofrimento 
psicológico dessas pessoas. Isso precisa ser 
combatido. 
Dentro dessa realidade, também é comum ver o uso 
indiscriminado de terapias hormonais, como a 
reposição de testosterona. Por exemplo, mulheres que 
estão cansadas ou com libido baixa recebem a 
justificativa de que "a testosterona está baixa" e, por 
isso, devem fazer reposição. Mas essas queixas podem 
ter outras causas, como a sobrecarga de trabalho, 
estudos, cuidados com a casa e filhos. Em menos de 
3% dos casos a indicação é realmente médica — por 
exemplo, em situações de desejo sexual hipoativo — e, 
aindaem até 85% dos indivíduos 
testados, sem grandes complicações até o momento. 
No entanto, são tratamentos caros, com alto custo, e 
ainda têm muitas barreiras de acesso. Quando a 
medicação é suspensa e não há mudança de estilo de 
vida, o peso retorna. Isso ocorre porque a obesidade é 
uma doença crônica não curável, apenas controlável. 
Não existe ex-obeso, existe o obeso controlado. O 
tratamento é contínuo, com foco em controle de 
adiposidade e preservação de massa magra. Isso se 
aplica a qualquer doença crônica: a base do tratamento 
é medicação, alimentação adequada e atividade 
física regular. 
Com esses novos medicamentos, a obesidade tende a 
se tornar um problema de classe. Quem tem dinheiro 
acessa o tratamento de ponta e mantém o controle. 
Quem não tem, segue exposto às dietas da moda, ao 
marketing enganoso e a alternativas perigosas. Com o 
tempo, os medicamentos atuais se tornarão mais 
acessíveis, pois os novos lançamentos fazem com que 
os anteriores se tornem de segunda linha e tenham seu 
preço reduzido. Isso é comum na indústria 
farmacêutica. 
Hoje, as diretrizes da ANS recomendam pelo menos 
150 minutos semanais de atividade física aeróbica 
moderada a intensa, ou 75 minutos de atividade 
intensa. Atividades como corrida ou spinning, que 
aumentam significativamente a frequência cardíaca, 
são ideais para a queima de gordura. No entanto, 
menos de 1 em cada 70 pessoas consegue atingir essa 
meta, pois é difícil conciliar essa rotina com as 
exigências da vida moderna. Além disso, os períodos 
de atividade precisam durar pelo menos 10 minutos 
para gerar impacto fisiológico. Para benefícios 
adicionais, o ideal seria 300 minutos por semana, ou 
seja, 1 hora por dia, 5 vezes por semana, além de 
treinos de força muscular pelo menos duas vezes por 
semana para estimular a hipertrofia. 
A perda de peso efetiva não se baseia apenas no IMC, 
mas na composição corporal. Perder massa magra é 
prejudicial. O objetivo é manter ou aumentar a massa 
magra enquanto se reduz a gordura. A perda de apenas 
3 a 5% do peso corporal já traz benefícios metabólicos 
significativos, como redução da glicemia, do colesterol, 
do ácido úrico e de marcadores inflamatórios. Perdas 
entre 5 e 10% em 3 a 6 meses são ideais e promovem 
melhor controle da obesidade e de doenças 
associadas. 
O endocrinologista brasileiro Bruno Halpern, uma das 
maiores autoridades mundiais no tratamento da 
obesidade, propôs o conceito de obesidade 
controlada, uma abordagem moderna e sustentada. 
Em vez de promover uma perda de peso brusca e 
depois tentar manter o novo peso, ele propõe uma 
perda de peso escalonada e lenta, com longos 
períodos de estabilização entre as fases de perda. Isso 
facilita a adaptação do paciente ao novo estilo de vida 
e tem se mostrado mais eficaz na manutenção do peso 
perdido. O objetivo não é perder muito peso rápido, mas 
manter o peso perdido ao longo do tempo. Isso 
exige mudanças comportamentais e melhora da 
composição corporal — redução da gordura e aumento 
da massa magra. 
Contudo, o maior desafio é fazer o paciente aceitar 
esse modelo. A pressão e o sofrimento causados pela 
obesidade fazem com que as pessoas queiram 
soluções rápidas, mesmo que ineficazes. Soros de 
vitamina, suplementos da moda ou dietas milagrosas 
são exemplos de promessas sedutoras que não geram 
resultados reais. Educar a população é um processo 
difícil, mas essencial. 
No que diz respeito ao tratamento dietoterápico, é 
fundamental lembrar que a prescrição de dietas é 
atribuição legal dos nutricionistas, e o foco deve 
estar nas mudanças comportamentais alimentares. 
Não basta mudar o que se come, mas como, quando 
e por que se come. A dieta deve ser hipocalórica, com 
déficit de 500 a 1.000 kcal por dia, o que já é suficiente 
para uma perda de peso sustentável. Ao reduzir a 
ingestão calórica, o corpo tende a aumentar a sensação 
de fome, então é necessário promover saciedade 
prolongada. 
Isso é feito com aumento do fracionamento alimentar — 
não necessariamente comer de 3 em 3 horas, mas 
evitar longos períodos sem alimentação. O simples ato 
de se alimentar já eleva o gasto energético. Refeições 
mais frequentes ajudam a manter o estômago cheio por 
mais tempo e reduzir a fome. Outro ponto chave é o uso 
de alimentos de baixa densidade calórica, como 
vegetais ricos em fibra e água, que aumentam o volume 
da refeição sem aumentar proporcionalmente as 
calorias. O estômago permanece ocupado por mais 
tempo, retardando o esvaziamento gástrico. 
Além disso, é fundamental aumentar o aporte 
proteico, pois a proteína retarda a liberação do 
conteúdo gástrico e preserva a massa magra. O ideal é 
montar refeições com um pouco de carboidrato, muitos 
vegetais e uma boa porção de carne. Quando a fonte 
de proteína também oferece cálcio, o efeito é ainda 
melhor, pois o cálcio aumenta o tempo de digestão, 
tornando o processo de saciedade mais eficaz. 
Contudo, implementar isso é muito mais difícil quando 
falamos da população de baixa renda. As proteínas 
são os alimentos mais caros da refeição, 
representando até 60% do custo. Os vegetais, 
segundo a OMS, deveriam ser consumidos em pelo 
menos 5 porções ao dia (totalizando 400g diários de 
frutas, verduras e legumes), mas a maioria dos 
brasileiros não atinge esse valor. No Estado do Rio de 
Janeiro, por exemplo, a média é de apenas uma 
porção diária. O consumo ideal seria de duas frutas 
por dia, preferencialmente in natura, e verduras e 
legumes no almoço e jantar. Isso pode reduzir em 
até 30% a incidência de doenças crônicas. 
Infelizmente, a maioria das pessoas — inclusive 
aquelas com condições financeiras para isso — não 
segue essas diretrizes, seja por hábito, falta de tempo 
ou de educação alimentar. Agora imagine a situação 
das pessoas em extrema vulnerabilidade. Em 
comunidades como a dos Três Poços, por exemplo, a 
salsicha é a principal fonte de proteína. É barata, 
rende muito, dá saciedade. Retirá-la da dieta dessas 
pessoas sem oferecer alternativas viáveis é impossível. 
É com ela que se faz o molho do dia, que acompanha 
o angu e garante a refeição. Substituir por vegetais ou 
frutas, cujo preço é mais alto, se torna inviável para 
essas famílias. 
É muito difícil trabalhar com essa realidade. Mas esse 
é exatamente o desafio. Preparar profissionais para 
lidar com esse cenário de desigualdade, com 
consciência crítica, empatia e conhecimento técnico, é 
fundamental. Se fosse fácil, não precisaríamos estar 
aqui discutindo tudo isso.em até 85% dos indivíduos 
testados, sem grandes complicações até o momento. 
No entanto, são tratamentos caros, com alto custo, e 
ainda têm muitas barreiras de acesso. Quando a 
medicação é suspensa e não há mudança de estilo de 
vida, o peso retorna. Isso ocorre porque a obesidade é 
uma doença crônica não curável, apenas controlável. 
Não existe ex-obeso, existe o obeso controlado. O 
tratamento é contínuo, com foco em controle de 
adiposidade e preservação de massa magra. Isso se 
aplica a qualquer doença crônica: a base do tratamento 
é medicação, alimentação adequada e atividade 
física regular. 
Com esses novos medicamentos, a obesidade tende a 
se tornar um problema de classe. Quem tem dinheiro 
acessa o tratamento de ponta e mantém o controle. 
Quem não tem, segue exposto às dietas da moda, ao 
marketing enganoso e a alternativas perigosas. Com o 
tempo, os medicamentos atuais se tornarão mais 
acessíveis, pois os novos lançamentos fazem com que 
os anteriores se tornem de segunda linha e tenham seu 
preço reduzido. Isso é comum na indústria 
farmacêutica. 
Hoje, as diretrizes da ANS recomendam pelo menos 
150 minutos semanais de atividade física aeróbica 
moderada a intensa, ou 75 minutos de atividade 
intensa. Atividades como corrida ou spinning, que 
aumentam significativamente a frequência cardíaca, 
são ideais para a queima de gordura. No entanto, 
menos de 1 em cada 70 pessoas consegue atingir essa 
meta, pois é difícil conciliar essa rotina com as 
exigências da vida moderna. Além disso, os períodos 
de atividade precisam durar pelo menos 10 minutos 
para gerar impacto fisiológico. Para benefícios 
adicionais, o ideal seria 300 minutos por semana, ou 
seja, 1 hora por dia, 5 vezes por semana, além de 
treinos de força muscular pelo menos duas vezes por 
semana para estimular a hipertrofia. 
A perda de peso efetiva não se baseia apenas no IMC, 
mas na composição corporal. Perder massa magra é 
prejudicial. O objetivo é manter ou aumentar a massa 
magra enquanto se reduz a gordura. A perda de apenas 
3 a 5% do peso corporal já traz benefícios metabólicos 
significativos, como redução da glicemia, do colesterol, 
do ácido úrico e de marcadores inflamatórios. Perdas 
entre 5 e 10% em 3 a 6 meses são ideais e promovem 
melhor controle da obesidade e de doenças 
associadas. 
O endocrinologista brasileiro Bruno Halpern, uma das 
maiores autoridades mundiais no tratamento da 
obesidade, propôs o conceito de obesidade 
controlada, uma abordagem moderna e sustentada. 
Em vez de promover uma perda de peso brusca e 
depois tentar manter o novo peso, ele propõe uma 
perda de peso escalonada e lenta, com longos 
períodos de estabilização entre as fases de perda. Isso 
facilita a adaptação do paciente ao novo estilo de vida 
e tem se mostrado mais eficaz na manutenção do peso 
perdido. O objetivo não é perder muito peso rápido, mas 
manter o peso perdido ao longo do tempo. Isso 
exige mudanças comportamentais e melhora da 
composição corporal — redução da gordura e aumento 
da massa magra. 
Contudo, o maior desafio é fazer o paciente aceitar 
esse modelo. A pressão e o sofrimento causados pela 
obesidade fazem com que as pessoas queiram 
soluções rápidas, mesmo que ineficazes. Soros de 
vitamina, suplementos da moda ou dietas milagrosas 
são exemplos de promessas sedutoras que não geram 
resultados reais. Educar a população é um processo 
difícil, mas essencial. 
No que diz respeito ao tratamento dietoterápico, é 
fundamental lembrar que a prescrição de dietas é 
atribuição legal dos nutricionistas, e o foco deve 
estar nas mudanças comportamentais alimentares. 
Não basta mudar o que se come, mas como, quando 
e por que se come. A dieta deve ser hipocalórica, com 
déficit de 500 a 1.000 kcal por dia, o que já é suficiente 
para uma perda de peso sustentável. Ao reduzir a 
ingestão calórica, o corpo tende a aumentar a sensação 
de fome, então é necessário promover saciedade 
prolongada. 
Isso é feito com aumento do fracionamento alimentar — 
não necessariamente comer de 3 em 3 horas, mas 
evitar longos períodos sem alimentação. O simples ato 
de se alimentar já eleva o gasto energético. Refeições 
mais frequentes ajudam a manter o estômago cheio por 
mais tempo e reduzir a fome. Outro ponto chave é o uso 
de alimentos de baixa densidade calórica, como 
vegetais ricos em fibra e água, que aumentam o volume 
da refeição sem aumentar proporcionalmente as 
calorias. O estômago permanece ocupado por mais 
tempo, retardando o esvaziamento gástrico. 
Além disso, é fundamental aumentar o aporte 
proteico, pois a proteína retarda a liberação do 
conteúdo gástrico e preserva a massa magra. O ideal é 
montar refeições com um pouco de carboidrato, muitos 
vegetais e uma boa porção de carne. Quando a fonte 
de proteína também oferece cálcio, o efeito é ainda 
melhor, pois o cálcio aumenta o tempo de digestão, 
tornando o processo de saciedade mais eficaz. 
Contudo, implementar isso é muito mais difícil quando 
falamos da população de baixa renda. As proteínas 
são os alimentos mais caros da refeição, 
representando até 60% do custo. Os vegetais, 
segundo a OMS, deveriam ser consumidos em pelo 
menos 5 porções ao dia (totalizando 400g diários de 
frutas, verduras e legumes), mas a maioria dos 
brasileiros não atinge esse valor. No Estado do Rio de 
Janeiro, por exemplo, a média é de apenas uma 
porção diária. O consumo ideal seria de duas frutas 
por dia, preferencialmente in natura, e verduras e 
legumes no almoço e jantar. Isso pode reduzir em 
até 30% a incidência de doenças crônicas. 
Infelizmente, a maioria das pessoas — inclusive 
aquelas com condições financeiras para isso — não 
segue essas diretrizes, seja por hábito, falta de tempo 
ou de educação alimentar. Agora imagine a situação 
das pessoas em extrema vulnerabilidade. Em 
comunidades como a dos Três Poços, por exemplo, a 
salsicha é a principal fonte de proteína. É barata, 
rende muito, dá saciedade. Retirá-la da dieta dessas 
pessoas sem oferecer alternativas viáveis é impossível. 
É com ela que se faz o molho do dia, que acompanha 
o angu e garante a refeição. Substituir por vegetais ou 
frutas, cujo preço é mais alto, se torna inviável para 
essas famílias. 
É muito difícil trabalhar com essa realidade. Mas esse 
é exatamente o desafio. Preparar profissionais para 
lidar com esse cenário de desigualdade, com 
consciência crítica, empatia e conhecimento técnico, é 
fundamental. Se fosse fácil, não precisaríamos estar 
aqui discutindo tudo isso.

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