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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA ANÁLISE À LUZ DA CRIMINOLOGIA SOBRE A VITIMIZAÇÃO DAS PARTURIENTES EM RAZÃO DA CONDUTA DESVIADA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO MOMENTO DO PARTO

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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA ANÁLISE À LUZ DA CRIMINOLOGIA SOBRE A VITIMIZAÇÃO DAS PARTURIENTES EM RAZÃO DA CONDUTA DESVIADA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO MOMENTO DO PARTO
“A culpa é sua, de não ter fechado as pernas quando ele apontou! Agora vou ter que reparar o seu erro. Você está toda rasgada”.(Profissional da Saúde)
“Quem fez isso com você? Ele te costurou como um animal. Você tem camadas de peles como babados em seu corpo.”(Médica ginecologista)
Adna Elaine Rocha Santos[2: Estudante do curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: Ad.nanny@hotmail.com]
			Diane Kelly Souza da Silva[3: Estudante do curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato:kellystronda10@gmail.com]
FelipeJacobsen Rodrigues de Freitas[4: Estudante do curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato:felipe.jrf@gmail.com]
TalineAmoriele Nunes da Cruz Oliveira[5: Estudante do curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: amoriele@hotmail.com]
Warlison dos Anjos Jesus[6: Estudante do curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: warlison.anjos@hotmail.com]
Aderlan Messias de OLIVEIRA[7: Professor de Criminologia e Orientador do projeto de pesquisa “Barreiras sob o enfoque Criminológico”]
RESUMO
O objetivo desse artigo é analisar o processo de vitimização das parturientes em razão da conduta ilícita dos profissionais da saúde na cidade de Barreiras-BA. A pesquisa abordou a construção histórica do processo de assistência das parturientes e a vulnerabilidade em procedimentos médicos, a violência obstétrica sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro e a conduta desviada dos profissionais da saúde. Assim, esse trabalho procurou conhecer as vítimas, o nível intelectual, econômico e o fenômeno da vitimização, em relação à agressão sofrida. A pesquisa de campo procurou avaliar 50 mulheres, mães, na faixa etária de 25 anos a 50 anos de idade na cidade de Barreiras, com o intuito de revelar o atendimento dado à saúde às parturientes. O resultado dessa pesquisa apontou que as taxas de partos cesárias estão em 50% dos partos das mulheres de Barreiras, contrariando a declaração da Organização Mundial de Saúde que prevê uma taxa saudável de 15% de partos cesárias. Por outro lado 56% das mulheres que responderam o questionário, não puderam ter direito ao acompanhante, já garantido por lei desde 2005.Conforme o resultado da pesquisa,42% das parturientes barreirenses já sofreram algum tipo de agressão e 100% dessas que sofreram não realizaram denúncia, demonstrando o descrédito no sistema e a concretização de todo o processo de vitimização.
Palavras Chave: Violência Obstétrica. Parturiente. Vitimização. Parto.
INTRODUÇÃO
Em nove anos de promulgada a lei Maria da Penha, tornou-se visível a grande quantidade de mulheres agredidas, física, verbal e psicologicamente, não apenas no ambiente familiar, mas abrangendo também o momento do parto. Mulheres que se encontram vulneráveis nesta ocasião tão importante e delicada, tem sua intimidade violada por profissionais da saúde, que muitas vezes não adotam os procedimentos adequados no dever de zelar pelo bem estar da paciente.
Em razão da falta de orientação e informação, muitas gestantes sofrem a violência obstétrica e não se manifesta tão pouco recorrem à denúncia perante os órgãos competentes; isto, aliado à falta de impunidade dos profissionais de saúde que praticam a conduta desviada, faz com que estes continuem a repetir tais atos de forma habitual nas unidades hospitalares, tanto da rede pública quanto da rede privada. Em detrimento disso, o presente artigo visa abordar esses atos delitivos, cometidos na Região Oeste da Bahia, promovendo o conhecimento dos direitos das parturientes, evitando que a dignidade da mulher seja lesionada.
SUMÁRIO: Introdução. 1História do parto e a construção da assistência às parturientes.1.1Parto no Brasil. 1.2Vulnerabilidade da parturiente nos procedimentos cirúrgicos.1.3. Processo de humanização do parto. 2Violência obstétrica e o ordenamento jurídico brasileiro. 2.1Dos atos caracterizadores da violência obstétrica. 2.2Legislação Brasileira e o direito das parturientes.2.3Uma análise da conduta do agente à luz do código penal.3Violência Obstétrica: Processo de vitimização das parturientes.Considerações finais. Referências. Anexos.
1A HISTÓRIA DO PARTO E A CONSTRUÇÃO DA ASSISTÊNCIA AS PARTURIENTES 
Desde os primórdios, os cuidados para com as parturientes eram tidos pelas mulheres conhecidas como aparadeiras, parteiras-leigas ou comadres. Tanto que o termo obstetrícia é derivado da expressão “ficar-ao-lado”, que advém do verboobstare. O estudo dessa expressão segundo Rezende Filho, equivaleria à mulher que presta auxílio, à mulher assistindo à parturiente, fazendo referência às parteiras dos primeiros séculos. (Rezende Filho, 2011). Tanto o pós-parto, quanto o momento exato do nascimento era de inteira responsabilidade dessas mulheres, de modo que se tratava de pessoas de confiança e de um saber empírico sobre o processo da gestação. 
Rezende (2011, p.4) afirma que: 
A obstetrícia progrediu mui latente, em comparação às outras especialidades médicas, e palmilhando caminhos quase impérvios fê-lo guiada pela ignorância e pouco discernimento das parteiras, a transmitirem, de geração em geração práticas desarrazoadas (...)
 Somente por volta de 1850 que a prática das parteiras passou a ser institucionalizada, contudo, com a modernização da vida em sociedade, uma transformação ocorreu na obstetrícia por volta do século XVII, à implantação dos cirurgiões no parto. Assim, o procedimento das parteiras nos partos, estava agora sobre uma observação e acompanhamento do cirurgião, o que proporcionou uma diminuição da grande taxa de mortalidade de mães e filhos, e garantia uma assistência mais técnica às mulheres, um acompanhamento mais seguro e confiável. O modelo anterior ao da assistência médica, tutelada pela Igreja Católica, descrevia o sofrimento no parto como desígnio divino, pena pelo pecado original, sendo dificultado e mesmo ilegalizado qualquer apoio que aliviasse os riscos e dores do parto. (DINIZ, 2005)
Apesar de essa prática empírica ser institucionalizada, a população feminina já não a procurava mais, em razão dos avanços cirúrgicos, e a busca pela diminuição da dor. A partir na década de 1950, o parto no Brasil, passou a ser “medicalizado”, e paulatinamente foi-se agregando conhecimentos expressivos, introduzindo técnicas como o uso da anestesia, da hemoterapia, enfim, métodos cada vez mais indolores. Segundo Carmem Simone Grilo Diniz, a maternidade antigamente se inaugurava com a violência física e sexual da passagem da criança pelos genitais: uma espécie de estupro invertido. Assim, oferecendo solidariedade humanitária e científica diante do sofrimento, a obstetrícia cirúrgica, masculina, reivindica sua superioridade sobre o ofício feminino de partejar, leigo ou culto. Uma vez que o parto é descrito como um evento medonho, a obstetrícia médica oferece um apagamento da experiência. Durante várias décadas do século 20, muitas mulheres de classe média e alta no mundo industrializado deram à luz inconsciente. O parto sob sedação total (“sono crepuscular”) que começou a ser usado na Europa e nos Estados Unidos, e fez muito sucesso entre os médicos e parturientes das elites. (DINIZ, 2005)
Embora tenha se ganhado espaço na sociedade o parto hospitalar em razão dos avanços tecnológicos e desta maneira tenham produzido uma diminuição de risco materno-fetais, infelizmente passou a existir um número exagerado de intervenções cirúrgicas mal feitas e outras desnecessárias, o que provocou um aumento a vulnerabilidade das gestantes aos riscos à saúde do bebê e a integridade física da mulher. Desta maneira, em um movimento contrário ao período moderno, hoje na pós-modernidade, muitas mulheres gestantesestão optando por outras modalidades de partos, sendo elas as mais variadas, como parto na água, o natural, o parto de cócoras, etc.
1.1 PARTOS NO BRASIL
Com a intensificação de procedimentos cirúrgicos no Brasil, após a segunda guerra mundial, para com as gestantes, surgiu a necessidade de haver uma avaliação dos meios utilizados nas intervenções médicas. Com a vulnerabilidade das mulheres no que diz respeito a exposição ao risco de um procedimento mal feito, ou desnecessário à gestante, tornou-se notório a importância de uma diminuição dos partos cesárias.
De acordo com Diniz (2005, p. 629)
Uma vez que esse uso irracional provoca mais danos que benefícios, há cerca de 25 anos, inicia-se um movimento internacional por priorizar a tecnologia apropriada, a qualidade da interação entre parturiente e seus cuidadores, e a desincorporação de tecnologia danosa. O movimento é batizado com nomes diferentes nos diversos países, e no Brasil é em geral chamado de humanização do parto.
Portanto, é preferível que dentro dessas condições, de exposição ao risco desnecessário, vulnerabilidade da mulher para possíveis agressões no parto, sejam utilizados os partos com menor grau de lesividade. Sendo eles, o parto natural, o mais antigo de todos, com o nascimento vaginal e sem procedimentos de intervenção médica ou qualquer tipo de indução, assim o profissional de saúde apenas acompanha o acontecimento, intervindo caso seja preciso; o parto normal, que é a maneira de se dar à luz de forma convencional, a mulher entra em trabalho de parto no tempo correto do nascimento do bebê, e diferentemente do parto natural existe intervenção médica, com anestesias moderadas somente para o alívio da dor; e por fim, o parto na água, uma indução menos traumática, tanto para a mãe, quanto para a criança, realizado em uma banheira de água morna com auxílio do esposo ou acompanhante.
1.2 VULNERABILIDADES DA PARTURIENTE NOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS 
A construção dessa nova visão da obstetrícia no país provocou uma intensificação de meios fiscalizadores aos abusos da medicina para com as mulheres em trabalho de parto, promovendo meios de unificação da saúde, assim a OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE) fez uma declaração sobre o assunto: “Toda mulher tem direito ao melhor padrão atingível de saúde, o qual inclui o direito a um cuidado de saúde digno e respeitoso.”
A partir desse trabalho, vários grupos se organizam para sistematizar os estudos de eficácia e segurança na assistência à gravidez, parto e pós-parto, apoiado pela OMS. Inicia-se, então uma colaboração internacional, que desenvolveu a metodologia de revisão sistemática, dando os primeiros passos do que viria a ser o movimento pela medicina baseada em evidências. (DINIZ, 2005)
Nos últimos 30 anos, a comunidade internacional de saúde tem considerado que a taxa ideal de cesáreas seria entre 10% e 15% de todos os partos. Essa taxa surgiu de uma declaração feita por um grupo de especialistas em saúde reprodutiva durante uma reunião promovida pela OMS em 1985, em Fortaleza, no Brasil, e diz: “Não existe justificativa para qualquer região do mundo ter uma taxa de cesárea maior do que 10-15%”. O grupo de especialistas baseou essa afirmação em uma revisão dos poucos dados disponíveis na época, provenientes principalmente de países no norte da Europa, que mostravam ótimos resultados maternos e perinatais com essas taxas de cesárea. (WHO–RHR -15.02, 2015)
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, na publicação de prevenção e eliminação de abusos, em 2014, diz:
Todas as mulheres têm direito ao mais alto padrão de saúde atingível, incluindo o direito a uma assistência digna e respeitosa durante toda a gravidez e o parto, assim como o direito de estar livre da violência e discriminação. Os abusos, os maus-tratos, a negligência e o desrespeito durante o parto equivalem a uma violação dos direitos humanos fundamentais das mulheres, como descrevem as normas e princípios de direitos humanos adotados internacionalmente. Em especial, as mulheres grávidas têm o direito de serem iguais em dignidade, de serem livres para procurar, receber e dar informações, de não sofrerem discriminações e de usufruírem o mais alto padrão de saúde física e mental, incluindo a saúde sexual e reprodutiva.
É vigente no Brasil, uma postura que adota o comportamento médico baseado no bem estar da gestante; segundo o Ministério da saúde (MS), a gravidez não deve ser tratada como doença e sim como expressão de saúde, e o nascimento como processo fisiológico e natural. Intervenções desnecessárias, sem embasamento científico, devem ser evitadas, já que existe um grande corpo de evidências demonstrando que a facilitação do processo natural do nascimento, pode originar melhores resultados maternos e perinatais. A filosofia do “pior caso” deve ser evitada, pois apenas em raras ocasiões podem surgir complicações que justifiquem a adoção de intervenções cirúrgicas. (MS, 2014)
1.3 PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DO PARTO
O Brasil, atualmente tem passado por esse processo de mudança de cenário, ainda muito tímido, na realidade obstétrica do país. Os altos índices de cesárias, e partos com intervenções cirúrgicas exageradas e impróprias, vêm produzindo uma preocupação para com a população feminina e o impacto causado nos bebês, pois estas crianças que ao passarem pelo parto cesariano, estão apresentando problemas respiratórios e na imunidade.
Mesmo nos últimos anos, com a criação de políticas para o controle do abuso de cesárea pelo Ministério da Saúde, temos resultados contraditórios. O aumento da frequência da cesárea é um fenômeno comum a quase todos os países do mundo, mas em nenhum país a curva de aumento foi tão acentuada nem as taxas alcançam níveis tão altos como no Brasil, que em regiões inteiras ficam acima de 70%. Em alguns serviços mantêm-se acima de 90%, onde se diz que, quando os partos normais acontecem, é porque os bebês “pregaram uma peça no médico, foram mais rápidos do que eles”. O profissional que enfrenta este contexto institucional adverso e insiste no parto vaginal é considerado um “trouxa” pelos colegas. (DINIZ, 2001)
A humanização é um evento que descreve o ato de solidariedade e compaixão, para com a parturiente. Diniz (2005; p.628) faz uma declaração sobre esse evento:
A humanização da assistência, nas suas muitas versões, expressa uma mudança na compreensão do parto como experiência humana e, para quem o assiste, uma mudança no “que fazer” diante do sofrimento do outro humano. No caso, trata-se do sofrimento da outra, de uma mulher. 
O Ministério da Saúde no ano de 2002 revela os aspectos que são indispensáveis para a humanização no parto:
A humanização compreende pelo menos dois aspectos fundamentais. O primeiro diz respeito à convicção de que é dever das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém-nascido. Isto requer atitude ética e solidária por parte dos profissionais de saúde e a organização da instituição de modo a criar um ambiente acolhedor e a instituir rotinas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto à mulher. O outro se refere à adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando práticas intervencionistas desnecessárias, que embora tradicionalmente realizadas não beneficiam a mulher nem o recém-nascido, e que com frequência acarretam maiores riscos para ambos.
A discussão sobre humanização e direitos humanos tem ocupado um espaço relevante no cenário internacional, mesmo em língua inglesa. Desde os anos 2000 que esse tema tem sido discutido. Em setembro de 2000, uma conferência internacional de midwifery, incluiu em seu programa várias referências a “humane care” e “humane approach”. Em novembro de 2000 ocorreu a Conferência Internacional sobre Humanização do Parto, apoiada por instituições como UNICEF e FNUAP (Fundos das Nações Unidas para Infância e para Assuntos de População), que teve entre seus objetivos principais discutir como o conceitode maternidade segura pode incluir as questões sobre o cuidado humanizado ao parto; e como o cuidado humanizado à maternidade pode ser promovido como um direito humano.
(DINIZ, 2001)
À medida que o uso do termo humanizar seexpande e é utilizado pelos diferentes atores sociais, cada um deles faz sua interpretação e recriação do termo, aplicado para outras formas de assistência. Entre elas, propostas de humanização de hospitais, da assistência ao recém-nascido, ao prematuro, ao abortamento, e inclusive à morte. A humanização aparece como a necessária redefinição das relações humanas na assistência, como revisão do projeto de cuidado, e mesmo da compreensão da condição humana e de direitos humanos. (DINIZ, 2005)
2VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Na falta de referências na produção técnica e judiciária brasileiras, elaboramos uma tipificação própria para a abordagem das modalidades de violência obstétrica no Brasil, e que abarcasse ao máximo as situações desrespeitosas e degradantes com as quais nos deparamos.
(Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres, 2012, p.60).
2.1 DOS ATOS CARACTERIZADORES DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
A equipe Parte do Princípio na cartilha – violência obstétrica é violência contra a mulher (2014, p.11) descreve esses atos da seguinte forma:
A violência institucional na atenção obstétrica, também chamada de violência obstétrica, é a violência cometida contra a mulher grávida e sua família em serviços de saúde durante a assistência ao pré-natal, parto, pós-parto, cesárea e abortamento. Pode ser verbal, física, psicológica ou mesmo sexual e se expressa de diversas maneiras explícitas ou veladas. Como outras formas de violência contra a mulher, a violência obstétrica é fortemente condicionada por preconceitos de gênero.
A violência institucional na atenção obstétrica agride fortemente a dignidade da mulher, expondo-a a situações desagradáveis, desumanas e inadequadas na assistência do parto. Durante a assistência ao pré-natal, parto, pós-parto, cesárea e abortamento, a mulher grávida, encontra-se em um estado de vulnerabilidade emocional, física e psicológica, e qualquer ato violento cometido por profissionais de saúde, afetam severamente a integridade desta.
A violência obstétrica configura-se no que diz respeito à violência física como sendo ações que incidam sobre o corpo da mulher, que interfiram, causem dor ou dano físico (de grau leve a intenso), sem recomendação baseada em evidências científicas e violência sexual sendo toda ação imposta à mulher que viole sua intimidade ou pudor, incidindo sobre senso de integridade sexual e reprodutiva, podendo ter acesso ou não aos órgãos sexuais e partes íntimas do seu corpo. Há também a violência psicológica que é toda ação verbal ou comportamental que cause na mulher sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, instabilidade emocional, medo, acuação, insegurança, dissuasão, alienação, perda de integridade, dignidade e prestígio. Outra violência é a de Caráter institucional caracterizada por ações ou formas de organização que dificultem, retardem ou impeçam o acesso da mulher aos seus direitos constituídos, sejam estas ações ou serviços, de natureza pública ou privada.
(Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres, 2012, p.60-61).
2.2LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E O DIREITO DAS PARTURIENTES
No Brasil ainda não há leis que efetivamente protegem as mulheres gestantes, contra a violência obstétrica realizada nas instituições hospitalares. Pouco se sabe, e é discutido acerca dos direitos das parturientes na legislação brasileira, contudo aos poucos o Brasil vem alargando a proteção para essas mulheres que se encontram em uma situação vulnerável diante dos agressores, no momento do parto. 
Relativamente às leis que coíbem a violência contra a mulher, são: a lei 10.778 de 24 de novembro de 2003, que: “Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privada”.
LEI Nº 10.778, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2003
Art. 1º. Constitui objeto de notificação compulsória, em todo o território nacional, a violência contra a mulher atendida em serviços de saúde públicos e privados. § 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado. (Parágrafo com redação dada pela Lei nº 12.288, de 20/7/2010) § 2º Entender-se-á que violência contra a mulher inclui violência física, sexual e psicológica e que: II - tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus-tratos de pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar; (BRASIL, 2003, on-line).
A lei 11.340, datada de 07 de agosto de 2006, chamada de lei Maria da Penha, que “Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal (LGL\1988\3), da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal (LGL\1941\8), o Código Penal (LGL\1940\2) e a Lei de Execução Penal (LGL\1984\14); e dá outras providências”.
LEI 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006
Art. 2° Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. Art. 3° Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2006, on-line)
E por fim a lei 11.108, de 7 de abril de 2005, chamada de lei do parto, que garante a presença de um acompanhante durante o todo o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no Sistema único de Saúde.
PORTARIA Nº 2.418, DE 02 DE DEZEMBRO DE 2005
Art. 1º Regulamentar, em conformidade com o art. 1º da Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, a presença de acompanhante para mulheres em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato nos hospitais públicos e conveniados com o Sistema Único de Saúde - SUS.LEI Nº 11.108, DE 7 DE ABRIL DE 2005.Art. 1o O Título II "Do Sistema Único de Saúde" da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte Capítulo VII "Do Subsistema de Acompanhamento durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato", e dos arts. 19-J e 19-L: “CAPÍTULO VIIDO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DURANTE O TRABALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO. Art. 19-J.  Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.§ 1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado pela parturiente. (BRASIL, 2005, on-line)
A lei de número 9782, de 26 de janeiro de 1999 define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, criando também a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelecendo a competência desse órgãopara fiscalizar serviços de saúde.
Estabelece O RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº 36, de 03 de junho de 2008, criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária dispõe sobre o Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal e prega a humanização do parto, bem como do atendimento as gestantes e parturientes. Trata-se de um documento mais específico a respeito da questão do parto e de uma melhor condução dos atos que envolvem o antes, o durante e o pós-parto. Tem por objetivo padronizar os serviços de atenção Neonatal e Obstétrica, tem a intenção também de reduzir os riscos de todos os usuários do sistema. Tem abrangência nacional, englobando todo o sistema de saúde que tem este fim seja ele particular ou público, civil ou militar.
2.3 UMA ANÁLISE DA CONDUTA DO AGENTE À LUZ DO CÓDIGO PENAL
No momento em que a paciente recorre ao atendimento médico, seja antes, durante, ou pós-parto, estabelece-se entre ela e o médico um dever contratual e jurídico. Esta relação acarreta numa proteção e cuidado especial com mãe e com o bebê, seja em sua vida dentro do útero, ou extra-uterina; Sendo assim, surge o dever jurídico provocado pela obrigação do médico, mesmo que necessariamente não haja um dispositivo contratual escrito entre as partes, mas, uma vez que a gestante depende de seus serviços e dos demais profissionais da saúde, ela se encontra vulnerável aos procedimentos por eles praticados. Por isso, se há uma obrigação, há também meios judiciais que podem ser ativados, caso ocorra lesão ao bem jurídico, no que diz respeito à assistência prestada à gestante e ao bebê.
Visto as ações que caracterizam a violência às parturientes, cabe ao Estado zelar e proteger o cidadão, principalmente quanto à dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, conforme Art. 1º, inc. III da Constituição Federal:
	
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana; (BRASIL, 1988, Constituição Federal)
Kant trata a Dignidade a partir da autodeterminação ética do ser humano, sendo a autonomia o alicerce da dignidade. Segundo a teoria da autonomia da Vontade o ser humano é capaz de auto determinar-se e agir conforme as regras legais, qualidade encontrada apenas em criaturas racionais. Logo, todo ser racional existe como um fim em si mesmo e não como um meio para omissão de vontades arbitrárias. (KANT, Immanuel, p.134 e 141,2006.).
		
Logo, a Dignidade além de ser um princípio baseado nos direitos fundamentais da Pessoa humana, conforme Kant, ela é uma característica de pessoa, intrínseca à vontade e autonomia do Ser, que não deve ser um meio para omissão de vontades arbitrárias. Logo, o profissional da saúde não pode impor sua vontade à parturiente, sem o prévio consentimento e conhecimento desta sobre os procedimentos que estão sendo adotados, ressalvo quando for estritamente necessário à proteção de sua vida. 
De acordo com a Lei nº 10.778 de 24 de novembro de 2003, da Presidência da República, que estabelece e dispõe sobre a violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados:
Art. 1º § 1º Para os eitos desta lei entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado. (Redação dada pela Lei nº 12.288 de 2010) - Vigência. Art. 5º A inobservância das obrigações estabelecidas nesta Lei constitui infração da legislação referente à saúde pública, sem prejuízo das sanções penais cabíveis. (BRASIL, 2003, on-line)
Nota-se que, a mesma lei que discerne sobre a violência contra a mulher no âmbito da saúde, deixa claro que o agente que a praticar não está isento das sanções penais cabíveis; geralmente aos profissionais da saúde que cometem tais condutas delitivas é atribuído o crime culposo, ao qual o Código Penal vigente estabelece nos termos do dispositivo legal como sendo:
Art. 18 Diz-se o crime: Crime culposoII – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (BRASIL, 1940, on-line)
Entende-se que, a lei não define crime culposo quanto ao que ele é, mas delimita os meios para que este ocorra, por imprudência, negligência e imperícia. Segundo GRECO, Rogério. Curso de direito Penal, p. 203, 2011:
Imprudência seria a conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. (...) Negligência, ao contrário, é um deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha. É o caso, por exemplo, do motorista que não conserta os freios já gastos de seu automóvel. (...) Fala-se em imperícia quando ocorre uma inaptidão, momentânea ou não do agente para o exercício de arte, profissão ou ofício. Diz-se que a imperícia está ligada, basicamente, à atividade profissional do agente.
È importante atentar que a definição do tipo culposo ainda fica aberta, pois a mesma não está completa. Tanto a lei quanto a doutrina não especificam criteriosamente como se caracteriza tal conduta, ao contrário do que ocorre na maioria dos crimes dolosos. Portanto cabe ao juiz a análise do caso concreto, baseado na jurisprudência e doutrina majoritária para julgar este tipo de crime. È importante salientar que, de acordo com as definições de imprudência, negligência e imperícia, o agente não tem a intenção de causar dano à terceiro, não é proposital, ele apenas deixa de tomar o cuidado necessário e devido. O que é típico dos crimes omissivos próprios, conforme descreve Bitencourt, Cezar Roberto (2010, p.253).
Já o crime omissivo próprio consiste no fato de o agente deixar de realizar determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo; configura-se com a simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realizá-la, independentemente do resultado. A inatividade constitui em si mesma, crime (omissão de socorro). No crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão, a omissão é o meio através do qual o agente produz um resultado. Nestes crimes, o agente responde não pela omissão simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava, juridicamente, obrigado a impedir. 		
Quando se trata de violência física contra a mulher, podemos enquadrá-la, a depender do caso concreto nesses dois tipos de crimes, culposo e/ou omissivo conforme a doutrina descreve e o Código Penal prevê, Do Crime:
Art. 13 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (BRASIL, 1940).
Casos como uma cesariana realizada de forma arriscada à mãe e à criança, corte do períneo realizado de maneira que posteriormente cause dor à mulher, e qualquer outra ação de caráter físico sobre o corpo da mulher, de potencial lesivo, que poderia ser evitada, ou que era obrigação do profissional da saúde ter o devido cuidado para impedi-la, pode ser atendida por estes tipos penais. Cabe às vítimas registrar a ocorrência primeiramente na unidade hospitalar e posteriormente procurar os órgãos competentes, podendo recorrer à ação judicial com o máximo de provas, testemunhas, e registros possíveis, para o Magistrado de direito mediante o caso concreto estipule as penalidades e as sanções cabíveis ao agente que cometer tais crimes.
4VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: A VITIMIZAÇÃO DAS PARTURIENTES EM RAZÃO DA CONDUTA DESVIADA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NO PARTO.
Há anos vem a vitimologia, que é objeto da criminologia, estudando a vítima e suas relações, seja como infrator, seja com o sistema. Desde o início dos trabalhos dos considerados pais da vitimologia, Benjamin Mendelsohn e Von Hentig, reclama-se que a vítima foi neutralizada, ao contar do momento em que o Estado monopolizou a distribuição da justiça. (2010, p.480)
Devido neutralização da vítima, Gomes e Molina, afirmam:
O tradicional menosprezo pela vítima configura uma prova eloquente de quanto à política criminal praticada pelo Estado tem cunho mais “vingativo” (retributivo) que reconciliador. (2010, p.480) 
O processo de vitimização e a sua construção apresentam três aspectos: a vitimização primária, vitimização secundária e vitimização terciária. Salomão Shecaira, (2012, p.52) aponta de maneira breve esses aspectos:
Considera-se haver vítima primária quando um sujeito é diretamente atingido pela prática do ato delituoso. A vítima secundária é um derivativo das relações existentes entre as vítimas primárias e o Estado em face do aparato repressivo (polícia, burocratização do sistema, falta de sensibilidade dos operadores do direito envolvidos com algum processo bastante delicado, etc.). Já a vítima terciária é aquela que mesmo possuindo um envolvimento com o fato delituoso, tem um sofrimento excessivo, além daquele determinado pela lei do país.
No contexto da violência obstétrica, a vitimização primária, é onde se instala a agressão direta à vítima, há um contato com o agressor na situação de abuso, expondo a mulher parturiente a um trauma, decorrente do delito.
Vitimização secundária, por sua vez, é provocada pelo próprio sistema; quando a vítima efetua a denúncia nos órgãos competentes, os profissionais que são responsáveis pelo controle social, provocam na vítima lembranças do crime, fazendo-a sofrer novamente. A vítima, diante da situação de exposição contínua ao agressor, no reconhecimento do delinquente, no julgamento, enfim na tramitação legal do processo penal, é abandonada, largada para segundo plano, tendo que encarar sozinha os efeitos dessa nova vitimização e a vitimização terciária, refere-se ao excesso do sofrimento da vítima. A falha do sistema em punir os agressores, o descaso, provoca o descrédito no Estado. Em muitos casos devido a essa problemática, torna a mulher vitimada, suscetível a acreditar que ela é culpada pelo que a ocorreu. Nesse aspecto, não somente a vítima sofre, mas todo o círculo de relacionamento, a família, os amigos, enfim, todos são penalizados. (SHECAIRA, 2012)
4.1 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Neste momento, os gráficos do resultado da pesquisa de campo, irão apontar esse processo de vitimização na cidade de Barreiras, localizada na região Oeste da Bahia. Foi elaborado um questionário para as mulheres mães da faixa etária de 25 a 50 anos de idade, retratando como se deu o parto delas. 
Gráfico 1: Condição do Parto
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
O gráfico 1 aponta que 50% das mulheres, mães que foram entrevistadas optaram pelo parto normal e as demais 50% pelo parto Cesária. Assim, esse percentual apontado no gráfico, confirma a preocupação da OMS (Organização Mundial de Saúde), quanto à quantidade exagerada de cesárias no país. 
No Brasil, se inclui como rotina a abertura cirúrgica da musculatura e tecido erétil da vulva e vagina (episiotomia), e em muitos serviços como os hospitais-escola, a extração do bebê com fórceps nas primíparas. Este é o modelo aplicado à maioria das pacientes do SUS hoje em dia. Para a maioria das mulheres do setor privado, esse sofrimento pode ser prevenido, por meio de uma cesárea eletiva. (DINIZ, 2005)
Conforme dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres – Violência Obstétrica: “Parirás com dor” (2012, p.112):
Os riscos e complicações dessa cirurgia devem ser esclarecidos à mulher, já que, possuía um ente considerável de mortalidade e morbidade grave para mãe e bebê comparados a um parto normal com assistência adequada.
Na cidade de Barreiras – Bahia, a taxa elevada de cesárias na população feminina não é diferente do cenário nacional. Cada vez mais, as parturientes têm optado em realizar um parto indolor e programado, do que o processo normal do nascimento, provocando assim efeitos na saúde da criança, e uma intervenção cirúrgica evitável.
Gráfico 2: Realização do parto em rede pública ou privada
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
Quando questionadas sobre a rede em que o parto foi realizado, 72% das mulheres, mães entrevistadas responderam que foi ela rede pública, e apenas 28% em rede privada. Devido as condições econômicas das gestantes da região oeste da Bahia, é mais viável optar por um acompanhamento na rede pública do que comprometer uma grande parcela da renda familiar para a realização dos procedimentos. Muitas ao responderem, optaram por fazer somente parte dos exames em rede privada, mas o parto propriamente dito foi em rede pública, em razão do preço elevado do parto Cesária na rede privada. 
Gráfico 3: Acompanhante no trabalho de parto
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
Sabe que desde 7 de abril de 2005, foi criada a lei 11.108,conhecida como lei do parto. Esta garante às parturientes a presença de um acompanhante, de sua escolha durante todo o trabalho de parto, parto e pós-parto, tanto no Sistema único de Saúde, quanto nas redes privadas. Contudo, na região oeste, essa lei não é respeitada pelas instituições hospitalares, privando assim, as gestantes em trabalho de parto de terem esse direito, adquirido através da legislação brasileira, resguardado e respeitado, causando a elas uma exposição ao risco de sofrerem possíveis agressões dos profissionais de saúde. Esse gráfico apresenta um dado alarmante, da realidade da cidade de Barreiras, quanto ao desrespeito às normas; faltam fiscalização e providência do governo em promover mudança nesse cenário.
Quando há o impedimento de que a mulher tenha acompanhante, ou de alguma maneira impor que o acompanhante seja uma mulher, determinando os horários específicos que essa pessoa pode ficar com a gestante, são exemplos de violência institucional no parto ou violência obstétrica, caracterizando o processo primário de vitimização. (CARTILHA - VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA É VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, p.5, 2014)
Gráfico 4: conhecimento sobre a violência obstétrica
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
As entrevistadas quando questionadas sobre o conhecimento do crime da violência obstétrica, 60% disseram que não sabem o que é, e 40% responderam que sim, pesar de não conseguirem conceituar exatamente o que ela é. O fato da população materna de Barreiras não ter o conhecimento dessa agressão, levanta uma questão preocupante, pois possivelmente essas 60% que não sabe o que é a violência obstétrica, podem ter sofrido a violação de sua intimidade no parto sem ao menos saberem que isso se configura crime. Esse dado possibilita a reincidência dessas mulheres como vítimas das agressões obstétricas. 
A equipe Parto do Princípio na cartilha - violência obstétrica é violência contra a mulher(2014, p.3) declara o seguinte:
O termo violência obstétrica é relativamente novo, embora as mulheres sejam desrespeitadas quando procuram atendimento a sua saúde sexual e reprodutiva há muito tempo. Isso porque existe a tendência a tratar qualquer tipo de violência contra a mulher como algo natural, que é assim mesmo. Então, se a mulher reclama do tratamento rude de um profissional de saúde, dizem que ela mereceu ou que ela provocou a situação. Ou, ainda, que o profissional estava estressado ou cansado e que a mulher deve relevar a violência sofrida. Independentemente das desculpas que a sociedade dá a violência contra a mulher não deve ser tolerada. 
Percebe-se que, sem a devida promoção do conteúdo das leis, é pouco provável obtermos a melhora desse quadro. A sociedade tem o papel de resguardar o direito, mas se o Estado não produz políticas públicas para que seja acessível à população os seus direitos, não tem sentido a existência da lei.
Gráfico 5: vítimas de agressãoFonte: Pesquisa de Campo (2015)
Vários foram os relatos de desrespeito durante o parto nas instituições de saúde, com uma taxa maior na rede pública de atendimento. 42% das mulheres abordadas para a entrevista disseram que sofreram algum tipo de agressão no parto, seja ela física, psicológica ou verbal. 
Ao observar esse dado, o processo de vitimização primária, caracterizada pelos procedimentos não consentidos, humilhação, comentários desrespeitosos, falta de esclarecimento na medicação aplicada, exposição da intimidade da gestante, partos mal feitos, enfim situação onde a vida da parturiente e do bebê foi colocada em risco foi concretizada nessas 42%. Uma das vítimas, R.M. nos relatou que seu filho nasceu no chão. A médica que a atendeu não só a humilhou como também a culpou do fato, falando-lhe da seguinte forma: “A culpa é sua, de não ter fechado as pernas quando ele apontou! Agora vou ter que reparar o seu erro. Você está toda rasgada”.
“Infelizmente a Drª. Não reparou o dano, mas causou um dano ainda maior; costurou o ânus da R.M. de maneira errada, o que até hoje causa dores na vítima, uma sequela física da violência obstétrica.”
Quando a médica afirma que a culpada é a mãe do fato ter ocorrido como ocorreu, inicia-se outro processo da vitimização, o terciário. A parturiente passa a sofrer a autoculpabilização, acreditando sinceramente que contribuiu para que essa agressão ocorresse a ela e a sua criança e o conjunto de custos da penalização de quem suporta diretamente a agressão ou terceiros envolvidos, deveria ser ponderado com a penalização do agente agressor. (MOLINA; GOMES. 2010)
A equipe Parto do Princípio na cartilha - violência obstétrica é violência contra a mulher(2014, p.7,9) afirma que:
Destratar a mulher, fazer julgamentos a seu respeito, quebrar o sigilo profissional, negar atendimento a ela ou deixá-la esperando atendimento são situações de violência no atendimento obstétrico. (...) Todas as mulheres têm direito ao acolhimento respeitoso nos serviços de saúde, livre de qualquer discriminação e livre de qualquer violência. Tratamento grosseiro, piadas, chacotas e broncas constituem exemplos de violência institucional no parto.
Os sistemas de saúde devem ser responsáveis pela maneira com que as mulheres são tratadas durante o parto, garantindo o desenvolvimento e implementação de políticas claras sobre direitos e normas éticas. Os profissionais de saúde em todos os níveis precisam de apoio e treinamento para garantir que as mulheres grávidas sejam tratadas com compaixão e dignidade. (OMS, 2014)
Gráfico 6: Agressão sofrida
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
A porcentagem mais elevada, foi referente a agressão física, essa tem sido a maior queixa das mulheres da cidade de Barreiras-.BA, em relação ao parto. Seus corpos foram marcados pela brutalidade dos profissionais de saúde, e a falta de cuidado dessas pessoas. A vítima chamada A.M. relatou que o médico subiu em cima da barriga dela forçando a saída de sua filha, mesmo sabendo que ela não tinha condições naquele momento de ter a criança. 
Já é de conhecimento que essas intervenções realizadas rotineiramente para acelerar o trabalho de parto e parto podem provocar diversas complicações para mãe e bebê, inclusive aumentam o risco de morbimortalidade de ambos. Essa abordagem que mais se assemelha a uma linha de montagem não considera as necessidades e diferenças de cada indivíduo, não considera a fisiologia do parto e nascimento além de submeter mãe e bebê a riscos desnecessários. (DOSSIÊ ELABORADO PELA REDE PARTO DO PRINCÍPIO PARA A CPMI DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES – 2012)
Uma outra mulher também vítima de uma agressão física expôs a sua cicatriz da cesariana, revelando as marcas da violência. Maria, contou que logo após sair do período de resguardo, procurou uma médica ginecologista para avaliar a cirurgia cesária, pois sentia dores no local do corte constantemente. A médica que a atendeu disse a seguinte frase a ela: “Quem fez isso com você? Ele te costurou como um animal. Você tem camadas de peles como babados em seu corpo.”
A OMS (2014, p.1) fez a seguinte declaração:
“Toda mulher tem direito ao melhor padrão atingível de saúde, o qual inclui o direito a um cuidado de saúde digno e respeitoso.”
Assim como a agressão física deixa sequelas terríveis, a psicológica e a verbal, também afetam a vítima, danos que podem ser ainda piores de se conviver, pois provocam traumas profundos e insegurança nas mulheres que estão em uma condição de vulnerabilidade no parto.
A vítima G.R. optou em realizar seu parto em rede privada, porém em razão do bebê nascer de 7 meses, não teve outra escolha a não ser ir para a rede pública. G.R. disse que quando foi atendida pela equipe do hospital do Oeste, foi maltratada e agredida verbalmente e psicologicamente, com termos agressivos, palavras de desrespeito e desumanidade, ela alega ter sido humilhada em toda aquela situação, tendo que aguentar tudo calada. Outra vítima, dona Fátima, disse que as enfermeiras a mandavam calar a boca, e deixar de escândalo, pois ali não era um circo. 
Múltiplos fatores podem determinar a gravidade do dano psíquico produzido pela violência na mulher traumatizada. Entre esses múltiplos fatores, os aspectos subjetivos têm grande participação, os quais vão além da agressão e intensidade do fato real. (COLTRO; ZIMERMAN, 2008)
Os aspectos subjetivos podem aprisionar a vítima em um estado de tensão constante, de neurose e grande estresse diante do trauma. Em um estágio mais profundo, muitas mulheres vítimas da violência obstétrica, entram em um processo progressivo de depressão em que se isolam da família e demais pessoas de seu convívio, ou optam por não ter mais filho, devido à agressão psicológica derivada da agressão. 
Dependendo do grau de violação da intimidade, da estrutura psicológica da pessoa e do apoio emocional, os resultados podem ser diferentes nas vítimas da violência.
Gráfico 7: Realização de denúncia
Fonte: Pesquisa de Campo (2015)
Frequentemente a vítima não registra queixa na polícia, nos órgãos competentes, para evitar nova humilhação e exposição da intimidade de seu corpo. O silêncio torna-se cada vez mais pesado, e a vítima isolada, com sua mente sequestrada por dores terríveis. (COLTRO; ZIMERMAN, 2008)
Outro motivo das vítimas não prestar queixa, ou denunciar a violência obstétrica é que, mesmo depois de ocorrer o evento vitimizador, a vítima precisa continuar a se relacionar com outras pessoas, podendo ainda se defrontar com o próprio agente agressor ou violador, nos procedimentos de reconhecimento, depoimentos ou audiências. Essa situação não bem conduzida pode levar ao segundo estágio do processo de vitimização. Devido a essa possibilidade, as agências de cuidados sanitários e judiciais devem estar adequadamente aparelhadas, para evitar a revitimização, ou minimizá-la. (TRINDADE, 2007)
Encontra-se no gráfico 7, a relação das vítimas para com o sistema. Ao serem questionadas posteriormente sobre a razão de não buscar denunciar os agressores, todas afirmaram que não adiantaria nada procurar fazê-la, pois não seriam atendidas como deveriam, tão pouco a situação seria solucionada. As vítimas entrevistadas, afirmaram que, preferem não ter de lembrar mais do fato. Diante disso, o processo de vitimização é efetivado, como terciário; a impunidade, a descrença no poder judiciário provocou o fechamento do clico da vitimização, nas mulheres parturientes de Barreiras-BA. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência obstétrica ainda é um tabu em meio às mulheres, não somente na cidade de Barreiras, como no país, conforme as pesquisas bibliográficas realizadas. A maioria sofre condutas delitivas de caráter verbal, físico e psicológico e de acordo com a pesquisa de campo, 100% das entrevistadas que foram vítimas não denunciaram aos órgãos competentes, e 60% não sabem o que caracteriza este tipo de violência. 
Nas unidades da saúde, a conduta dos profissionais que atendem as parturientes ainda não condizcom os procedimentos corretos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, ANVISA e demais Legislações Brasileiras, que garantem o cuidado necessário e humanitário no atendimento e tratamento direcionado às mulheres. De acordo com os dados coletados, 42% das mulheres afirmam ter sofrido violência obstétrica, assinalando um quantitativo relevante uma vez que são condutas proibidas e passíveis de sanções penais.
No município de Barreiras – Bahia há morosidade do Poder Público quanto à eficácia mediante o que ocorre na Rede Pública de Saúde, e de adotar medidas para impedir tais atos delitivos, como propagar o tema com programas socioeducativos que instruam as mulheres quanto aos seus direitos no momento do parto. Para que o problema seja minimizado, é necessário que haja mais atividades preventivas, divulgação do assunto através da mídia, escolas, unidades básicas de saúde e outros locais de acesso direto à sociedade, para que esta não seja passiva quando for lesada quanto aos seus bens jurídicos fundamentais, protegidos por nossa Carta Magna.
REFERÊNCIAS
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123456. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm
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123456. LEI Nº 10.778, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2003 que Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. Disponível no site: 
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123456. Portaria GM nº 2.418 de 2 de dezembro de 2005 Regulamenta, em conformidade com o art. 1º da Lei nº 11.108 de 7 de abril de 2005, a presença de acompanhante. Disponível no site: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt2418_02_12_2005.htmlAcesso em 28 de outubro de 2015.
123456. LEI Nº 11.108, DE 7 DE ABRIL DE 2005. Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11108.htmAcesso em 29 de outubro de 2015.
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TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do direito, 2ºed. Rev. ampl. Porto Alegre, Livraria do advogado editora, 2007. 
DEPOIMENTO
Glenda Raquel Vanderlei
No dia 03 de Novembro de 2013, eu estava com 32 semanas e acordei com cólica e perdendo líquido. Liguei para a ginecologista que me acompanhou no pré-natal, e com a devida atenção ela me pediu para realizar um exame de urina, e que levasse em seu consultório ou que mostrasse para o Dr. H. que é especialista em líquido amniótico. Optei pela segunda opção, não sendo a melhor delas.
No consultório do Dr. H. levei o exame, relatei o que estava sentindo e fui interrompida de forma grosseira, sendo muito mal atendida. Pedi para que ele avaliasse o exame, mas ele afirmou que não era necessário, que o ultrassom mostraria como eu e o bebê estava. Assim o fez, e em seguida me mandou de volta para casa, dizendo que tudo estava bem e que somente teria meu filho na data prevista, podendo continuar a minha rotina normalmente.
Após a péssima consulta, fui trabalhar normalmente, fiz compras no supermercado e marquei um encontro com as amigas, na casa de minha prima. Quando me levantei para retornar a minha residência, percebi que minha bolsa tinha rompido. Entrei em desespero, por que de fato fui acompanhada mês a mês na gestação e sempre com indícios de uma gravidez tranquila e saudável, exceto pela falta de atenção e profissionalismo do médico que me atendeu naquele dia. Caso o Dr. H. tivesse observado meu exame, notaria que eu estava perdendo líquido, me pediria repouso e aplicaria uma injeção para acelerar o amadurecimento do pulmão de meu filho. Portanto diante dessa situação, não tive alternativa a não ser ir para o H.O., pois meu filho poderia necessitarda UTI neonatal, por ser prematuro. 
Apavorada com tudo o que estava acontecendo, cheguei ao Hospital do Oeste e me deparei exatamente com o mesmo doutor que não me examinou como deveria; vendo-o perguntei, lembra-se de mim doutro? Ele indiferente me respondeu que sim, e saiu. A partir desse momento perdi minhas forças, me senti totalmente refém desse sistema desumano, sem forças para discutir, reclamar, já estava muito fragilizada, e sem orientação de como seria o procedimento do parto prematuro piorava ainda a situação. 
Diante de tudo o que estava acontecendo, precisava de carinho, mas não foi isso o que aconteceu. Ao entrar na sala de preparação, não permitiram que meu marido me acompanhasse, todos ficaram do lado do hospital sem qualquer informação sobre mim e meu filho; não tive opção de escolha da modalidade do parto, seria normal e pronto; e fui encaminhada para uma sala sem nenhuma instrução dos procedimentos, sendo submetida a exame do toque sem cuidado ou delicadeza. Como foi o meu primeiro parto, não sabia como proceder quando as contrações vinham, então gritava de dor, e as enfermeiras vinham e falavam exatamente assim: “cala a boca que você não está sozinha.”. 
Após o último toque, o Dr. H. falou que já estava na hora do parto, então tive que sair de uma maca alta sem qualquer tipo de ajuda e me dirigir caminhando sozinha para o centro cirúrgico. Ao chegar à sala de cirurgia, iniciei o trabalho de parto e de tanta dor, gritei, o médico me repreendeu e falou que ali não era novela, outro doutor zombava de mim e sorriam do meu sofrimento. Na mais profunda dor tanto física quanto emocional, somente escutava.
Quando o meu filho já estava para nascer, o ferro que segurava minhas pernas caiu no chão, o Dr. H, começou a discutir com a enfermeira, uma tremenda confusão, ao recolocarem o ferro novamente no lugar, após alguns instantes ele caiu novamente e meu filho ficou preso no meu canal. Os médicos que estavam ali me falaram que se eu não colocasse muita força, o meu filho morreria; foi terrível. Coloquei tanta força para salvá-lo que uma veia do meu olho rompeu. Enfim, Miguel nasceu, mas não chorava, e estava todo roxo. Levaram-me para o quarto sem me explicar o que estava acontecendo e tive que passar toda a noite longe do meu bebê.
Por quinze dias meu filho ficou internado e precisou ser entubado. Apesar de todo o sofrimento, não tive tempo de pensar em processos judiciais, ou direitos humanos violados, queria meu filho nos braços e graças a Deus, hoje posso dizer que o fato dele estar vivo foi um milagre.
Esse questionário faz parte de uma pesquisa de campo elaborada pelos acadêmicos de direito do 4º semestre da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), com o intuito de fazer um levantamento sobre a violência obstétrica sofrida pelas mulheres da região Oeste da Bahia.
QUESTIONÁRIO
PESQUISA DE CAMPO
1. Seu parto foi Normal ou Cesária?
____________________________
2. Foi realizado pela rede pública ou privado?
____________________________
3. Você pôde ser acompanhada no trabalho de parto e pós-parto?
( ) sim ( ) não 
3. Você sabe o que é violência obstétrica?
( ) sim ( ) não
4. Em seu trabalho de parto, sofreu algum tipo de agressão?
( ) sim ( ) não
5. Qual foi a agressão sofrida. Física, psicológica ou verbal?
________________________________________________
6. Você recorreu aos órgãos competentes para realizar alguma denúncia, após a violência sofrida?
( ) sim ( ) não
30
Gráf1
	0.5
	0.5
Parto
Cesária
 50%
Normal 
50%
Plan1
		Parto
	cesária	50%
	Normal	50%
Gráf1
	0.72
	0.28
Parto
Pública
 72%
Privada 
28%
Plan1
		Parto
	Pública	72%
	Privada	28%
Gráf1
	0.44
	0.56
Parto
NÃO 56%
SIM 44%
Plan1
		Parto
	SIM	44%
	NÃO	56%
Gráf1
	0.4
	0.6
Colunas1
NÃO 60%
SIM 40%
Plan1
		Colunas1
	SIM	40%
	NÃO	60%
Gráf1
	0.42
	0.58
Colunas1
Agressão no parto
NÃO 58%
SIM 42%
Plan1
		Colunas1
	SIM	42%
	NÃO	58%
Gráf1
	0.57
	0.43
Colunas1
Das 42% das vítimas de agressão
FÍSICA 57%
Psicológica
Verbal 43%
Plan1
		Colunas1
	Física	57%
	Psicológica e Verbal	43%
Gráf1
	0
	1
Colunas1
Das 42% vitimas da violência obstétrica
Sim 0%
Não 100%
Plan1
		Colunas1
	Sim	0%
	Não	100%

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