Buscar

MONOGRAFIA- ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA-ORIENTADOR RODRIGO PELET. (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FACULDADE PROJEÇÃO 
CURSO DE DIREITO 
ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: 
TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS 
PENAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA/DF 
2020 
ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA 
 
 
 
 
 
 
A CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: 
TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS 
PENAIS 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado perante 
a Banca Examinadora do Curso de Direito do Centro 
Universitário Projeção Como pré-requisito para a 
aprovação na disciplina “TCC 2” e para obtenção do 
grau de bacharel em Direito. 
 
Área de concentração: Direito Constitucional Direito 
Penal e Processo Penal. 
 
Orientador: Professor Rodrigo Pelet Nascimento 
Aquino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA/DF 
2020 
ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA 
 
 
 
 
 
A CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: 
TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS 
PENAIS 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado perante 
a Banca Examinadora do Curso de Direito do Centro 
Universitário Projeção Como pré-requisito para a 
aprovação na disciplina “TCC 2” e para obtenção do 
grau de bacharel em Direito. 
 
Área de concentração: Direito Constitucional Direito 
Penal e Processo Penal. 
 
Orientador: Professor Rodrigo Pelet Nascimento 
Aquino. 
 
 
DATA DE REALIZAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA: 15/07/2020 
 
___________________________________________________ 
Professor-Orientador 
Rodrigo Pelet Nascimento Aquino 
 
___________________________________________________ 
Professor-examinador 
Heverton Mamede 
 
___________________________________________________ 
Professor-examinador 
Timóteo Carneiro Ferreira 
 
 
 
RESUMO 
 
Está pesquisa tem como objetivo analisar o binômio necessidade versus possibilidade do Estado 
em legislar sobre matéria específica relacionado a violência obstétrica. Sendo conceituado o 
termo violência obstétrica, bem como sua origem e contextualização histórica. Analisando 
como o termo é tratado no âmbito jurídico e social brasileiro. Aborda-se também as práticas 
consideradas lesivas ao corpo da mulher durante a gravidez, o parto e o pós parto. Sendo 
observado o direcionamento que a ciência jurídica toma em relação ao assunto, bem como os 
posicionamentos adotados pelos tribunais do Brasil, versa também sobre Leis Estaduais como 
por exemplo a lei 17.097/2017 de Santa Catarina que trata sobre o tema e propostas de Leis 
Federais como o Projeto de Lei 7.633/2014 do deputado Jean Wyllys que sugere criminalizar a 
conduta da violência obstétrica. Verifica os tipos penais aplicáveis a conduta da violência 
obstétrica sendo observado acordãos que se enquadram nesse tema em específico. A 
metodologia utilizada no referido trabalho é teórica, descritiva e bibliográfica, onde foram 
utilizados livros, artigos jurídicos, legislação nacional, jurisprudência, e legislação específica 
sobre a temática, é tambem uma pesquisa exploratória quantitativa e qualitativa. Em suma, o 
trabalho aborda o que é violência obstétrica e se seria necessário o Estado legislar sobre a 
matéria do ponto de vista penal brasileiro. 
 
Palavras- chave: Violência Obstétrica; Direito Penal Brasileiro; Criminalização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research aims to analyze the binomial need versus possibility of the State to legislate on 
specific matter related to obstetric violence. The term obstetric violence is conceptualized, as 
well as its origin and historical context. Analyzing how the term is treated in the Brazilian legal 
and social sphere. It also addresses practices considered harmful to the woman's body during 
pregnancy, childbirth and postpartum. Being observed the direction that the legal science takes 
in relation to the subject, as well as the positions adopted by the courts of Brazil, it also deals 
with State Laws such as the law 17.097 / 2017 of Santa Catarina that deals with the subject and 
proposals of Federal Laws as Bill 7,633 / 2014 by deputy Jean Wyllys that suggests 
criminalizing the conduct of obstetric violence. It verifies the criminal types applicable to the 
conduct of obstetric violence, observing agreements that fit this specific theme. The 
methodology used in the referred work is theoretical, descriptive and bibliographic, where 
books, legal articles, national legislation, jurisprudence, and specific legislation on the subject 
were used, it is also a quantitative and qualitative exploratory research. In short, the paper 
addresses what obstetric violence is and whether the State would need to legislate on the matter 
from the Brazilian criminal point of view. 
 
Keywords: Obstetric Violence; Brazilian Criminal Law; Criminalization. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 
1. CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ....... 8 
1.1 Origem da violência obstétrica ................................................................................. 12 
1.2 Violência obstétrica no mundo ................................................................................. 16 
1.3 Violência obstétrica no brasil ................................................................................... 18 
1.3.1 Definição ............................................................................................................... 21 
1.3.2 Práticas consideradas abusivas .............................................................................. 23 
2.VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O DIREITO ......................................................... 27 
2.1 Projeto de Lei nº 7.633/142 ...................................................................................... 30 
2.2 Lei estadual nº 17.097/2017 de Santa Catarina ........................................................ 31 
2.3 A luz da jurisprudência ............................................................................................. 32 
2.4 Acórdãos do STF e STJ ............................................................................................ 33 
2.4.1 Resultados e discussões ......................................................................................... 34 
3.RESPONSABILIDADE PENAL: TIPOS PENAIS APLICÁVEIS NOS CASOS DE 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ...................................................................................... 36 
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 40 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 43 
ANEXOS 1 .................................................................................................................... 48 
ANEXO 2 ....................................................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa decorre de um reexame com base na literatura, que tem a 
intenção de investigar se a criminalização da violência obstétrica. Se faz necessária no cenário 
atual brasileiro, e ainda avaliar o que o ramo jurídico tem a dizer no tocante a esse tema. Foi 
observado que essa prática infringe os direitos fundamentais, a integridade física e psicológica 
das vítimas dentre outras vertentes do meio jurídico que serão explicitadas no decorrer do 
mesmo. 
De fato, essa é uma realidade que tem sido vivida nas maternidades brasileiras; as 
vítimas são submetidas a atos agressivos e desumanos, os quais ferem a autonomia, a 
integridade física, moral e psíquica da mulher. Nota-se ainda que esse tipo de violência não está 
tipificado no Direito Penal brasileiro e a ciência jurídica caminha a passos lentos na discussão 
dessa temática.É importante destacar também que tal prática se enquadra na categoria de crime, e 
há vários movimentos sociais, principalmente feministas que tentam demonstrar o caráter 
violento dos procedimentos citados, um exemplo comum é a episiotomia, que sem autorização 
pode ser interpretada como crime contra a integridade física, lesão corporal, art. 129, Código 
Penal brasileiro. 
Vale ressaltar que tal violência agride os direitos não apenas da mulher, mas 
também do nascituro que também é sujeito de direitos. A temática tem sido levada a tribunais 
internacionais como exemplo de violação do direito humano da mulher à dignidade pessoal e à 
sua integridade corporal. 
Logo a questão principal proposta no presente trabalho se assenta no 
reconhecimento de uma violência específica de gênero e direitos fundamentais sobre a violência 
contra a grávida, em todos seus aspectos. 
 Demonstra a vulnerabilidade feminina e do nascituro na ocasião da parturiente e 
como fere os direitos fundamentais de ambos, tanto a mãe quanto a criança. A mulher é a 
protagonista, saber e decidir sobre o próprio corpo, a escolha deve ser da mulher, pois é sujeito 
de direitos, ela deve escolher se vai consentir com os procedimentos a que ela será submetida. 
É nítido que o sistema brasileiro tem se preocupado com a saúde das parturientes, 
já existe lei que a protegem de certas formas, existem diretos que abrange suas categorias, 
porém não se percebe a eficácia dessas normas, visto que muitas se encontram desamparadas 
quando mais necessitam, em seu maior momento de vulnerabilidade. 
7 
 
A discussão de uma lei especificamente para a área obstétrica não é recente, muitos 
já estudaram e debateram essa ideia, mas infelizmente ainda não há uma conclusão por meio de 
lei. É importante o enfrentamento das questões, e frisar a relevância do presente estudo, pois se 
trata de uma luta política para o reconhecimento desta violência no âmbito de seu direito 
reprodutivo. 
Além de necessário reconhecimento da mudança social de paradigma reconhecendo 
essa violência, em comparação ao erro que médico que é passível de indenização. Esse tipo de 
violência já está enraizado culturalmente em nosso país, por isso muitas mulheres não percebem 
que as práticas usadas pelos profissionais podem estar sendo abusivas e desrespeitosas, ou até 
mesmo quando percebem, preferem não denunciar por saber que o desamparo em relação a elas 
é real. 
Vários pontos serão debatidos no decorrer desse trabalho, a fim de ampliar a base 
científica do tema para colaborar com uma possível medida rigorosa cabível de punição para a 
erradicação ou pelo menos diminuição dessa prática delituosa. 
No decorrer do mesmo, muitas formas de violência obstétrica serão esclarecidas, 
com o objetivo de alcance a principalmente as vítimas desse ato, que são as mulheres, para que 
possam tomar conhecimento, e também estar cientes de que não estão sozinhas. Será analisado 
o que o sistema jurídico brasileiro tem falado a respeito, e os posicionamentos que já foram 
tomados no tocante ao tema, bem como fundamentos relevantes referente ao mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1. CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 
 
A violência obstétrica é classificada como um ato agressivo cometido no decorrer 
do ato de assistência à gestante, à mulher no período de concepção de seu filho e também após. 
As vítimas nem sempre sabem que estão vivenciando essa condição, pois tal prática está 
institucionalizada nos serviços hospitalares. Pois existe um conceito cultural de que essa prática 
é algo normal, algo que acontece de geração para geração, o que torna o conhecimento ilícito 
cada vez mais distante da realidade. 
O termo “violência obstétrica” foi criado pelo Dr. Rogelio Pérez D’Gregório 
presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Venezuela, e desde então nomeou as 
lutas do movimento feminista pela eliminação e punição dos atos e procedimentos tidos como 
violentos realizados durante o atendimento e assistência ao parto.1 
Percebe-se que a violência obstétrica não é um termo atual, o mesmo vem sendo 
discutido a algum tempo, porém até os dias atuais no Brasil não existe uma Lei Federal que 
puna devidamente seus praticantes. 
No curso da gestação, parto e pós-parto são recorrentes situações de maus tratos, 
abuso, desrespeito e negligência, as quais caracterizam a violência obstétrica. Esse tipo de 
violência é, portanto, resultado de tratamento desumanizado como xingamentos, humilhação, 
além de abuso de medicalização dos fenômenos naturais, durante o processo de assistência à 
gestante, no trabalho de parto, bem como em situação de abortamento e no puerpério. Esses 
atos podem ocasionar danos físicos, sexuais e psicológicos, sendo uma interferência direta na 
autonomia, liberdade sexual e reprodutiva da mulher com repercussão direta em sua qualidade 
de vida.2 
O período gestacional de uma mulher é algo sonhado desde a infância para a maioria 
das mulheres, é um momento em que as mesmas se encontram em sua maior vulnerabilidade, 
e ter que passar por essa situação é algo traumatizante, desumano, desrespeitoso e cruel. 
Conforme preceitua Mariani, “Violência obstétrica ainda é um conceito em construção. Transita 
 
1MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a 
partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p.01. 
2CIELLO, Cariny; CARVALHO, Cátia; KONDO, Cristiane; DELAGE, Deborah; Niy, Denise; WERNER, Lara; 
SANTOS, Sylvana Karla. Violência Obstétrica: Parirás com Dor. Dossiê elaborado pela Rede Parto do 
Princípio para a CPMI da Violência contra as Mulheres. Brasil.2012. 
 
9 
 
entre o desrespeito humano durante o cuidado ao nascimento até a prática de condutas médicas 
sem respaldo científico”.3 
Trata-se de um evento antigo, no entanto, muitas pessoas não consideram essas 
ações violentas contra as mulheres como uma violência, e sim como procedimentos comuns e 
de rotina que devem ser realizados durante o parto. As mulheres que sofrem algum tipo de 
violência podem apresentar inúmeras sequelas e traumas, que provavelmente irão afetar sua 
saúde reprodutiva e sexual.4 A busca pelos direitos das mulheres é uma pauta atual, ano após 
ano os movimentos feministas aumentam, trazendo à tona assuntos muitas vezes esquecidos ou 
pouco notórios pela sociedade, a busca pela humanização do parto é uma delas. 
Segundo Cunha, o parto nem sempre foi um procedimento médico, no início dos 
tempos o parto era um evento inteiramente feminino. Porém, com o aparecimento das 
universidades, a prática médica transformou-se de um episódio espiritual e comum em um 
conhecimento científico e, predominante da elite. Gradativamente, as mulheres foram 
adentrando nos hospitais, na falsa concepção de que sua dor e também a mortalidade neonatal 
iriam diminuir.5 
A medicina evolui dia após dia, o que se espera é que a cada procura médica se 
encontre segurança e até mesmo maior conforto em cada procedimento realizado, o que muitas 
vezes não acontece. De acordo com Souza: 
 
O parto e o nascimento é um momento marcante na vida da mulher, no entanto, muitas 
vezes é lembrado com traumas (sejam eles físicos ou psicológicos) que são causados 
por pessoas que deveriam dar total assistência. A falta de informação, ou 
“comodismo” de algumas equipes especializadas em obstetrícia acaba dando 
continuidade a procedimentos e técnicas que não surtem efeito nenhum pra 
determinada paciente, mais que mesmo assim são realizados rotineiramente, seja por 
despreparo ou até mesmo por uma visão lucrativa e produtiva, já que algumas técnicas 
podem acelerar o trabalho de parto trazendo assim menos dificuldade para o 
profissional, e consequentemente mais transtornos e consequências para mãe e feto.6 
 
Mesmo recebendo assistências de pessoas combases científicas, o paradigma atual 
de partos é desanimador, pois a mulher é tida como um simples sujeito auxiliar no ato de 
 
3MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a 
partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p.01. 
4SANTIAGO, Dayze Carvalho SOUZA Wanessa Kerlly VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: uma análise das 
consequências,2017m p, 149. 
5CUNHA, Eliane, na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto 
em Minas Gerais, 2012, p.5. 
6SOUZA, A.S.R.; COSTA, A.A.R.; COUTINHO, I.; NORONHA, N. C.; AMORIM, M.M.R. Indução do trabalho 
de parto: conceitos e particularidades. FEMINA, abril, vol. 38, nº 4, 2010. Disponível em: 
http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf. Acesso: 10 de maio de 2020. 
 
http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf
10 
 
nascimento da criança, sem atenção às suas necessidades e, que geralmente sofre com atos que 
ferem à sua integridade física e moral.7 A mãe no momento do parto perde todo o seu 
“protagonismo” para a criança, o que acaba sendo prejudicial para a mesma, pois suas vontades 
e desejos são praticamente anulados em busca da nova vida que está nascendo, fazendo com 
que sua própria opinião seja deixada de lado. 
Como essas ações violentas repercutem por muitos anos, acabou aprofundando-se 
na mente das pessoas de tal forma que muitas das vítimas que sofrem violência a ignoram, já 
que se transformou em algo “natural”. Mesmo que não exista no Brasil uma lei que enquadre a 
violência obstétrica, o quadro pode ser revertido com a busca na implantação efetiva do parto 
humanizado, no intuito de resguardar os direitos fundamentais das parturientes.8 
Diniz e Duarte versam sobre o tema com o seguinte pensamento “Defendemos o 
direito à escolha informada por parte da mulher sobre a forma de dar à luz. Na área da saúde, 
isso constitui um direito humano e um direito reprodutivo”, ou seja, a escolha da mulher deve 
ser sempre respeitada e não descartada.9 Desprende – se Foneite, 
 
A violência é um fenômeno que está inserido na sociedade desde o primórdio dos 
tempos, em todas as suas formas, porém a violência contra o gênero feminino ganhou 
notoriedade devido à incidência corriqueira desse fato, que não seleciona vítima, 
abrangendo todas as mulheres, independente de sua classe, raça ou qualquer outra 
característica.10 
 
A ausência do Estado também é uma grande preocupação popular. Rara as vezes 
em que se encontra pela cidade cartazes, ou propagandas pela televisão ou qualquer tipo de 
disseminação de conhecimento a respeito da violência obstétrica, a falha em políticas públicas 
é um erro estatal recorrente e prejudicial a sociedade. A Venezuela foi o primeiro país a tratar 
do tema e regulamentar legalmente a “violência obstétrica” como “apropriação do corpo das 
mulheres e do processo reprodutivo pelas equipes de saúde por tratamento desumano.”11 
 
 
 
7SANTIAGO, Dayze Carvalho SOUZA Wanessa Kerlly VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: uma análise das 
consequências,2017m p, 149. 
8CUNHA, Eliane, na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto 
em Minas Gerais, 2012, p.14. 
9DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também) 
Editora UNESP, 2004, p. 12. 
10FONEITE, Josmery; FEO, Alejandra; MERLO, Judith Toro. Grau de conhecimento da violência obstétrica pelo 
pessoal de saúde (Tradução Nossa) Original: Grado de conocimiento de violencia obstétrica por el personal de 
salud. 2012. 
11DINIZ, Debora, CARINO, Giselle, Violência obstétrica, uma forma de desumanização das mulheres.2019. 
 
11 
 
A violência verbal (ameaças, xingamentos e humilhações), o abandono, a falta de 
privacidade, exames de toque vaginal abusivos, episiotomias de rotina e mutiladoras, 
separação mãe-bebê, restrições de acompanhante, o uso abusivo de medicamentos, 
manobra de Kristeller, dentre outras práticas que agridem a parturiente, mostram que 
a violência contra a mulher extrapola o ambiente doméstico, escopo da Lei Maria da 
Penha. Enraizada na cultura médica brasileira, a violência institucional contra a 
mulher em período perinatal é reproduzida nos hospitais, inclusive nos universitários, 
e apreendida pelos profissionais em formação como algo corriqueiro, cotidiano e 
normal.12 
 
Esse tipo de violência de gênero não é seletivo com as mulheres, todas estão 
suscetíveis a passar por essa situação, independente de idade, raça, estado civil, ou classe social, 
basta estar em seu período gestacional que a probabilidade da mesma acontecer existe. Alguns 
Países já avançaram em legislações que criminalizam essa prática. 
Na Legislação da Argentina a Lei 26.485/2009, define violência obstétrica como: 
“aquela exercida pelos profissionais da saúde caracterizando-se pela apropriação do corpo e dos 
processos reprodutivos da mulher, através de um tratamento desumanizado, abuso da 
medicação e patologização dos processos naturais.”13 
Os países que tipificam essa conduta o fizeram por perceber a gravidade e a 
necessidade de garantir os direitos da mulher que são gravemente lesionadas tanto no âmbito 
moral quanto fisicamente. Logo nota-se a necessidade dessa tipificação ser inserida no Código 
Penal Brasileiro, para dar o amparo necessário mediante uma lei específica que restitua seus 
direitos. 
A Lei do acompanhante foi uma grande conquista das parturientes, o que garante a 
elas o acesso de uma pessoa que a acompanhe durante todo o processo para garantir que nada 
de errado ocorra com ela ou com a criança, mas muitas vezes mesmo estando expresso em lei 
sua obrigatoriedade, muitos hospitais não o obedecem. 
 
No Paraná, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) criou a subcomissão de 
Violência Obstétrica para coletar informações e depoimentos de mulheres que 
sofreram abusos durante o parto”. A ideia é dialogar com o Conselho Regional de 
Medicina (CRM) e com o Ministério Público para desenvolver ações de 
conscientização e fiscalização. A coordenadora da subcomissão, a advogada Sabrina 
Ferraz, explica que o mais difícil é compreender a violência obstétrica. "Ela é 
silenciosa e institucional, e, por isso, acaba naturalizada e banalizada. As vítimas não 
se percebem como vítimas. As causas da violência se confundem com a dor do 
 
12CUNHA, Eliane, Na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto 
em Minas Gerais, 2012, p.10. 
13LEI DE PROTEÇÃO INTEGRAL AS MULHERES, lei nº 26.485 abril 1 de 2009, (Tradução nossa) No 
Original: LEY DE PROTECCION INTEGRAL A LAS MUJERES, Ley nº 26.485, Ley de protección integral 
para prevenir, sancionar y erradicar la violencia contra las mujeres en los ámbitos en que desarrollen sus 
relaciones interpersonales, Sancionada: Marzo 11 de 2009, promulgada de Hecho: abril 1 de 2009. 
 
12 
 
trabalho de parto, pois vivemos uma cultura de que a dor é componente do parto. Mas 
não é.14 
 
 
Outro problema comumente citado pelas mulheres que são vítimas da violência 
obstétrica é o descumprimento da lei 11.108/2005 - Lei do acompanhante, que apesar de estar 
em vigor é descumprida principalmente no âmbito da saúde pública.15 
 
1.1 Origem da violência obstétrica 
 
A violência obstétrica teve sua origem a partir do momento em que as mulheres 
deixaram de ter seus filhos em casa com o auxílio de parteiras e passaram a ser assistidas nas 
instituições hospitalares. A mulher tornou-se um objeto de mercado e propriedade da 
instituição, os procedimentos realizados têm interesse e visão lucrativa tanto dos médicos como 
também dos hospitais, principalmente os particulares, como é o caso das cesarianas que sãoeconomicamente mais viáveis.16 
Percebe-se desde então que não se trata de um acontecimento recente, pelo 
contrário, desde que a mulher deixou de ser atendida pela figura da parteira ela vem sendo 
submetida a estes acontecimentos. 
 
À medida que a sociedade se tornou mais e mais preocupada com as vidas de seus 
membros — pelo bem da uniformidade moral, da prosperidade econômica; da 
segurança nacional ou da higiene e da saúde — ela se tornou cada vez mais 
preocupada com o disciplinamento dos corpos e com as vidas sexuais dos indivíduos. 
Isso deu lugar a métodos intrincados de administração e de gerenciamento; a um 
florescimento de ansiedades morais, médicas, higiênicas, legais; e a intervenções 
voltadas ao bem-estar ou ao escrutínio científico, todas planejadas para compreender 
o eu através da compreensão e da regulação do comportamento sexual.17 
 
Até o século XVIII, o parto era considerado um ritual entre as mulheres e não um 
ato médico, já que o momento ficava a cargo das parteiras. Já no final do século XIX, os 
obstetras passaram a transformar o parto em um evento controlado, o que só se efetivou na 
metade do século XX, no qual o cenário do parto domiciliar foi se alterando e sendo extinto na 
 
14POMPEO, Carolina, especial para a Gazeta do Povo "Uma em cada quatro mulheres sofre violência obstétrica 
no Brasil". 2014. 
15MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a 
partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p. 50. 
16REZENDE, Carolina Neiva Domingues Vieira de. Violência obstétrica: uma ofensa a direitos humanos ainda 
não reconhecida legalmente no brasil.2014, p. 45. 
17WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade, In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado: pedagogias da 
sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 36. 
 
13 
 
sociedade. A criação de hospitais específicos para a realização do parto – as maternidades – foi 
um evento do fim do século XIX.18 Desde épocas passadas práticas abusivas em relação ao 
corpo da mulher são tratadas como comuns no âmbito social, ainda assim, juridicamente 
falando o tema é de fato recente. 
A construção de maternidades tinha como objetivo criar tanto um espaço de ensino 
e prática da medicina como um lugar onde as mulheres sentissem segurança para parir. No 
entanto, essa segurança para parir não tem sido uma realidade no Brasil. Isso porque, de acordo 
com a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 
2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de 
violência durante o parto.19 
O índice colhido na referida pesquisa é um índice alto comparado ao longo de um 
dia de partos em uma maternidade, visto que muitos partos são realizados em um único dia, 
mas não pode ser deixado de mencionar que a medicina tem avançado em medidas que buscam 
o maior conforto para a mulher grávida em seus atendimentos, maus comportamentos não 
devem ser generalizados. 
Esse número, provavelmente, é ainda maior. Isso porque a maior parte das mulheres 
não tem conhecimento dos seus direitos e não sabem ao certo o que pode ou não, ser considerada 
uma violência obstétrica. É considerada violência obstétrica desde a enfermeira que pede para 
a mulher não gritar na hora do parto normal até o médico que faz uma episiotomia 
indiscriminada – o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê.20 Essa prática é 
“comum” até os dias atuais, na maioria das vezes a mulher só toma conhecimento dessa lesão 
no momento de sua recuperação. 
 Apesar de a Organização Mundial da Saúde - OMS determinar critérios e cautela 
para a adoção do procedimento, médicos fazem a prática de maneira rotineira. A obstetra Ana 
Cristina Duarte, do Grupo de Maternidade Ativa - GAMA, estima que entre 80% a 90% das 
brasileiras são cortadas durante o parto normal. “Sabemos que há evidências de que não é 
 
18ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com 
dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 
2015, p. 641. 
19HAMERMÜLLER Amanda, UCHÔA Thayse. Violência obstétrica atinge 1 em cada 4 gestantes no Brasil.2019. 
20ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com 
dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 
2015, p. 641. 
14 
 
necessário mais cortar as mulheres. As mulheres são cortadas sem o consentimento delas e isso 
é uma violência obstétrica”, comenta.21 
 
Com efeito, desde a década de 1950 há debates a respeito do tratamento recebido pela 
mulher durante o parto. Quando existe a má qualidade da assistência à saúde no parto, 
violando direitos fundamentais, surge a prática da violência obstétrica. O termo 
violência obstétrico causa muita polêmica, sendo, através dos anos, utilizadas outras 
expressões para simbolizar o mesmo fenômeno, tentando diluir a força deste termo, 
quais sejam, direitos humanos no parto, prevenção e eliminação de abusos no parto, 
maus-tratos no parto ou violência no parto. Independentemente do termo utilizado é 
preciso dar visibilidade a esta forma de violência contra a mulher.22 
 
As ações médicas devem respeitar a decisão dos pacientes e valorizar a vida. Elas 
são baseadas em princípios, leis e fundamentos norteados pelo Código de Ética Médica.Todos 
os procedimentos em qualquer hipótese devem ser necessários, sem qualquer manobra que 
venha a facilitar ou até mesmo adiantar um parto, isso vem a ser prejudicial ao corpo da mulher 
que acaba passando por dores desnecessárias. 
Todavia, quando os médicos realizam procedimentos sem a expressa opinião das 
pacientes, com intervenções desnecessárias ao processo de parto, desrespeitam sua 
individualidade e as agridem com práticas que não reduzem os efeitos adversos ou indesejáveis 
das ações terapêuticas, violam esses princípios, sendo muitas vezes fator predisponente para 
aumentar os riscos da morbimortalidade materna e neonatal. 
 Além disso, xingamentos, comentários abusivos, agressão física, tortura 
psicológica e discriminação racial e socioeconômica são relatados com frequência pelas 
mulheres agredidas. Procedimentos invasivos como a manobra de Kristeller, episiotomia, 
restrição da posição do parto e intervenções de verificação e aceleração do parto são 
classificados como Violência obstétrica.23 Assim, verifica-se o descumprimento das normas e 
princípios estabelecidos no Código de Ética Médica que rezam: 
 
 
 
 
 
21ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com 
dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 
2015, p. 642. 
22PAES, Fabiana Dal'Mas Rocha, MP NO DEBATE, Estado tem o dever de prevenir e punir a violência obstétrica 
2015, p.01. 
23Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ 
comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 
15 
 
Dos princípios fundamentais: 
II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da 
qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. 
Capítulo V: Relação com Pacientes e Familiares É vedado ao médico: 
Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir 
livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso 
de iminente risco de morte. 
Art. 32. Deixarde usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, 
cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. 
Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os 
objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar danos, 
devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal. 
Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados. §1° Ocorrendo fatos que a seu critério 
prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho 
profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que 
comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da 
continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico 
que lhe suceder. 
§2° Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos seus familiares, o médico 
não abandonará o paciente por ser este portador de moléstia crônica ou incurável e 
continuará a assisti-lo ainda que para cuidados paliativos. 
Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, 
salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-
lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. 
 Art. 38. Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais.24 
 
O atendimento desumanizado e degradante às gestantes no processo de parto faz 
com que a experiência seja traumática e negativa. A autonomia não é respeitada, visto que suas 
decisões e desejos, na maioria dos casos, são deixados de lado por meio de práticas que não 
maximizam os benefícios, de forma a não exercer o consagrado “primum non nocere” (primeiro 
não prejudicar), e ainda o descaso e a impaciência fazem com que o profissional não respeite o 
pudor, nem mesmo a individualidade de cada paciente, não entendendo suas dificuldades e 
limitações.25 
Frente a isso, o médico deve prestar integral assistência à paciente, esclarecendo 
suas dúvidas e de seus familiares, agindo com o máximo de zelo e melhor da sua capacidade 
profissional, priorizando o bem-estar da parturiente e a valorização da vida.26 
 
 
 
24BRASIL. Código de Ética Médica. 2010. Disponível em: 
http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=category&id=9&Itemid=122. Acesso em 17 de 
junho. 2020. 
25Ministério da Saúde. (2014). Cadernos Humaniza SUS - Volume 4: Humanização do parto e do nascimento. 
Brasília, DF: UECE/ Ministério da Saúde. Disponível: http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/ 
caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf. Acesso: 26 de maio de 2020. 
26Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ 
comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 
16 
 
1.2 Violência obstétrica no mundo 
 
Apesar de ser considerado um tema "recente" ou um "novo" campo de estudo, o 
sofrimento das mulheres com a assistência ao parto é registrada em diferentes momentos 
históricos, ainda que sob denominações diversas, encontrando respostas em distintos contextos, 
e frequentemente tendo um impacto importante na mudança das práticas de cuidado no ciclo 
gravídico-puerperal.27 Pode-se observar que a Organização Mundial de Saúde concorda, 
 
No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante 
o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das 
mulheres ao cuidado respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à 
integridade física e à não-discriminação. Esta declaração convoca maior ação, 
diálogo, pesquisa e mobilização sobre este importante tema de saúde pública e direitos 
humanos.28 
 
Por exemplo, no final da década de 1950, narrativas de violência no parto rompeu 
a barreira do silêncio nos EUA, quando a Ladies Home Journal, uma revista para donas de casa, 
publicou a matéria "Crueldade nas Maternidades". O texto descrevia como tortura o tratamento 
recebido pelas parturientes, submetidas ao sono crepuscular (twilight sleep, uma combinação 
de morfina e escopolamina), que produzia sedação profunda, não raramente acompanhada de 
agitação psicomotora e eventuais alucinações. Os profissionais colocavam algemas e amarras 
nos pés e mãos das pacientes para que elas não caíssem do leito e com frequência as mulheres 
no pós-parto tinham hematomas pelo corpo e lesões nos pulsos.29 
Segundo a autora, essa não é uma recente questão, a mesma vem sendo relatada ao 
longo de anos, os tipos de ações vêm apenas sendo “modernizadas” para se adequarem ao 
cenário atual. A matéria relata ainda as lesões decorrentes dos fórceps usados de rotina nos 
primeiros partos, em mulheres desacordadas. Ela teve grande repercussão, com uma inundação 
de cartas à revista e a outros meios, com depoimentos semelhantes, motivando importantes 
 
27DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.02. 
28ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos 
durante o parto em instituições de saúde, 2015. 
29DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.02. 
17 
 
mudanças nas rotinas de assistência e a criação da Sociedade Americana de Psico-profilaxia em 
Obstetrícia.30 
No Reino Unido, houve um movimento em 1958, quando foi criada uma Sociedade 
para Prevenção da Crueldade contra as Grávidas. A carta que convoca a fundação dessa 
sociedade, publicada originalmente no jornal Guardian, afirma: 
 
Nos hospitais, as mulheres têm que enfrentar a solidão, a falta de simpatia, a falta de 
privacidade, a falta de consideração, a comida ruim, o reduzido horário da visita, a 
insensibilidade, a ignorância, a privação de sono, a impossibilidade de descansar, a 
falta de acesso ao bebê, rotinas estupidamente rígidas, grosseria [...] as maternidades 
são muitas vezes lugares infelizes, com as memórias de experiências infelizes.31 
 
 
Teóricas feministas como Adrienne Rich elaboraram sua revolta com a experiência 
vivida pelas mulheres de alta renda e educação na década de 1950: "Parimos em hospitais [...] 
negligentemente drogadas e amarradas contra nossa vontade, [...] nossos filhos retirados de nós 
até que outros especialistas nos digam quando podemos abraçar nosso recém-nascido.” As 
edições do clássico Ourbodies, Ourselves, assim como outros livros feministas das décadas de 
1960 a 1980, reforçaram estas críticas com extensas narrativas, contribuindo para a 
sensibilização e inspiração de gerações de profissionais e ativistas no campo, denunciando a 
irracionalidade das práticas.32 
É conhecido que a prevalência de cesáreas no Brasil é a mais alta do mundo, ficando 
próxima dos valores da China (46,2%), Turquia (42,7%), México (42%), Itália (38,4%) e 
Estados Unidos (32,3%), e muito superior à Inglaterra (23,7%), França (20%) e Finlândia 
(15,7%). Rebelo et al, cita que a proporção de cesarianas apresenta distribuição desigual no 
país, sendo maior nas mulheres com maior idade, escolaridade, primíparas, com assistênciapré-
natal em serviços privados e residentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste.33 
 
 
 
30Ibidem, p. 02. 
31Ibidem, p. 02. 
32Ibidem, p. 05. 
33Rebelo F, Rocha CMM, Cortes TR, Dutra CL, Kac G. High cesarean prevalence in a ational population-based 
study in Brazil: the role of private practice. Acta Obstet Gynecol Scand 2010. Disponível: 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2014001300017&script=sci_arttext. Acesso: 30 de maio de 
2020. 
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2014001300017&script=sci_arttext
18 
 
1.3 Violência obstétrica no brasil 
 
O tema já vinha sendo abordado no Brasil em trabalhos feministas, na academia e 
fora dela. O pioneiro Espelho de Vênus, do Grupo Ceres, na década de 1980, fazia uma 
etnografia da experiência feminina, descrevendo explicitamente o parto institucionalizado 
como uma vivência violenta.34 Esse grupo de pesquisadoras ativistas publicou depoimentos 
demonstrando que: 
 
A violência institucional nas maternidades públicas brasileiras é determinada, de certa 
forma, por uma violência de gênero, transformando diferenças, como ser pobre e 
mulher, em desigualdades. Isso resulta em uma relação hierárquica na qual as 
pacientes são vistas e tratadas como objetos de intervenção profissional, deixando de 
lado sua autonomia de decidir os procedimentos aos quais querem ser submetidas.35 
 
Uma pesquisa realizada pelo SESC e pela Fundação Perseu Abramo, “Mulheres 
brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em agosto de 2010, ouviu-se a 
opinião de 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 unidades da 
federação, cobrindo as áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. Foi relatado 
que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto.36 
Em São Paulo, outra pesquisa realizada em maternidades públicas, com 21 
puérperas, revelou que algumas entrevistadas relataram e reconheceram práticas 
discriminatórias e grosseiras por parte da equipe durante a assistência nas maternidades. 
Segundo uma das puérperas a enfermeira teria ordenado que ficasse calada, sobre a ameaça de 
que poderia ser “judiada”, já que isso era comum de acontecer com grávidas que gritavam 
muito. 37 
 No entanto, as outras gestantes alegaram que a via cirúrgica era melhor devido à 
possibilidade de se planejar gestação, apesar de não terem tido o direito de escolher como 
preferiam que fosse o parto, apenas foram informadas sobre o dia do nascimento de seus 
filhos.38 
 
34DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.03. 
35SOUZA, A.S.R.; COSTA, A.A.R.; COUTINHO, I.; NORONHA, N. C.; AMORIM, M.M.R. Indução do 
trabalho de parto: conceitos e particularidades. FEMINA, abril, vol. 38, nº 4, 2010. Disponível em: 
http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf. Acesso: 01 de junho de 2020, p. 59. 
36PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 103. 
37AGUIAR, JM, D’oliveira AFPL, Schraiber LB. Violência institucional, autoridade médica e poder nas 
maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde,2010. 
38ANDRADE Briena, AGGIO Cristiane, Violência obstétrica atinge 1 em cada 4 gestantes no Brasil.2014. 
http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf
19 
 
 O Brasil é um país que apresenta altos índices de cesárea. Segundo Pereira que cita 
uma pesquisa do Ministério da Saúde, que em 2010, aproximadamente 52% dos partos 
realizados foram cirúrgicos e essa taxa cresce a cada dia, sendo mais prevalente na rede 
privada.39 No entanto, pesquisas mostram que a maioria das mulheres que realizam cesáreas 
não participam do processo de decisão de qual procedimento será utilizado, e ainda afirmam ter 
preferência pelo parto normal.40 
Muitas são as queixas relatadas sobre os efeitos desse procedimento cirúrgico e sua 
inadequada realização, e esse fato o torna uma violência contra as mulheres quando os recém 
nascidos são afastados de suas mães após o procedimento, impossibilitando o estabelecimento 
de um vínculo mãe-filho após o parto, além de que a anestesia é insuficiente em alguns casos, 
o que torna o processo em algo traumático para a mulher. Vale lembrar a existência de outras 
complicações que podem levar a morte tanto da mulher quando da criança.41 
Não é apenas na relação sexual que a violência aparece marcando a trajetória 
existencial da mulher. Também na relação médico-paciente, ainda uma vez o desconhecimento 
de sua fisiologia é acionado para explicar os sentimentos de desamparo e desalento com que a 
mulher assiste seu corpo ser manipulado quando recorre à medicina nos momentos mais 
significativos da sua vida: a contracepção, o parto, o aborto.42 
O sistema jurídico brasileiro não possui legislação específica sobre a temática 
“violência obstétrica”, apenas abordagem genérica. A pesquisa-ação coordenada pela Prefeitura 
de São Paulo, chamada "Violência - Um Olhar sobre a Cidade", mostrava que o atendimento 
aos partos era descrito como violento e usuárias relatavam que muitas vezes funcionários 
tinham posturas agressivas e intimidadoras, frequentemente humilhavam as pacientes e não 
respeitavam sua dor.43 
A violência obstétrica já era tema também das políticas de saúde ao final da década 
de 1980: o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), por exemplo, reconhecia 
o tratamento impessoal e muitas vezes agressivo da atenção à saúde das mulheres. Porém, ainda 
que o tema estivesse na pauta feminista e mesmo na de políticas públicas, foi relativamente 
 
39PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 105. 
40MELLER FO, SCHAFER AA. Fatores associados ao tipo de parto em mulheres brasileiras,2006, p, 02. 
41BARBOSA GP, GIFFIN K, Ângulo-Tuesta A, Gama AS, Chor D, D'orsi E, et al. Parto cesáreo: Quem o deseja? 
Em quais circunstâncias? 2003, p. 106. 
42DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.05. 
43Ibidem, p. 05. 
20 
 
negligenciado, diante da resistência dos profissionais e de outras questões urgentes na agenda 
dos movimentos, e do problema da falta de acesso das mulheres pobres a serviços essenciais.44 
 Mesmo assim, a violência obstétrica esteve presente em iniciativas como as 
capacitações para o atendimento a mulheres vítimas de violência, como nos cursos promovidos 
a partir de 1993 pelo Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde e pelo Departamento de Medicina 
Preventiva da USP. A partir deste projeto, foi publicado um pequeno manual sobre o tema. Já 
neste século, numerosos estudos no país documentam como são frequentes as atitudes 
discriminatórias e desumanas, nos setores privado e público.45 
O interesse acadêmico se ampliou e a produção dos últimos anos inclui pesquisas 
sobre a formação dos profissionais e, mais recentemente, dados de base populacional, como a 
pesquisa de Venturi e colaboradores. Este último trabalho, a segunda rodada da pesquisa 
nacional "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado", contribuiu de forma 
inédita para a visibilidade do tema da violência obstétrica, despertando surpreendenteinteresse 
da grande mídia. Segundo o estudo, cerca de um quarto das mulheres que haviam passado pelo 
parto relatou alguma forma de violência na assistência, o que também foi referido por cerca da 
metade daquelas que passaram por um aborto. São evidências mais do que eloquentes quanto à 
magnitude e importância do tema na saúde materna e na saúde pública brasileira.46 
No Brasil, como em outros países da América Latina, o termo "violência obstétrica" 
é utilizado para descrever as diversas formas de violência ocorridas na assistência à gravidez, 
ao parto, ao pós-parto e ao abortamento. Outros descritores também são usados para o mesmo 
fenômeno, como: violência de gênero no parto e aborto, violência no parto, abuso obstétrico, 
violência institucional de gênero no parto e aborto, desrespeito e abuso, crueldade no parto, 
assistência desumana/desumanizada, violações dos Direitos Humanos das mulheres no 
parto, abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto, entre outros.47 
Em 1993, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento em sua carta de 
fundação, parte do reconhecimento das "circunstâncias da violência e constrangimento em que 
se dá a assistência". No entanto, a organização deliberadamente decidiu não falar abertamente 
sobre violência, favorecendo termos como "humanização do parto", "a promoção dos direitos 
 
44DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.05. 
45Ibidem, p. 06. 
46Ibidem, p. 06. 
47Ibidem, p. 07. 
21 
 
humanos das mulheres", temendo uma reação hostil dos profissionais sob a acusação de 
violência.48 
Entende-se por violência obstétrica a apropriação do corpo e dos processos 
reprodutivos das mulheres por profissional de saúde que se expresse por meio de relações 
desumanizadoras, de abuso de medicalização e de patologização dos processos naturais, 
resultando em perda de autonomia e capacidade de decidir livremente sobre seu corpo e 
sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres.49 
 Nos últimos anos, diversos autores propuseram tipificações e classificações sobre 
a violência obstétrica, inclusive a Organização Mundial de Saúde - OMS, mais recentemente. 
Entre diversas tipificações da violência obstétrica, a síntese de Bowser e Hill sobre as formas 
de abuso e desrespeito tem se mostrado bastante explicativa, enumerando as principais 
categorias verificáveis nas instituições de saúde.50 
 
 1.3.1 Definição 
 
A definição de Violência obstétrica está em andamento, pois, com a evolução 
humana vão se descobrindo o que pode ou não ser melhorado em relação a saúde do corpo 
humano, ao se tratar do gênero feminino onde atualmente está sendo exigido o devido respeito 
e cuidado com as mulheres. Esse tema vem se tornando mais complexo no sentido de definição 
do mesmo, porém, será feito o possível para que as práticas abusivas em relação a mulher 
diminuam cada vez mais. 
Enquadram-se no conceito de violência obstétrica todos os atos praticados no corpo 
da mulher e do bebê sem o consentimento da mulher, além de procedimentos já superados pela 
medicina, porém ainda muito utilizados, principalmente no atendimento realizado pelo SUS, 
como a episiotomia (corte na região do períneo) e a manobra de Kristeler (quando a barriga é 
empurrada por enfermeiras), o enema (lavagem intestinal) uso da ocitocina sintética (hormônio 
acelerador das contrações), da anestesia, do fórceps, o jejum de comida e água, exames de toque 
 
48DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, 
definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. 
http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.07. 
49Ibidem, p. 08. 
50Ibidem, p. 09. 
22 
 
frequentes (usados para conferir a dilatação e a descida do bebê), o rompimento artificial da 
bolsa e a posição horizontal da mulher.51 
Essa violência de gênero abrange três momentos distintos do atendimento no 
serviço de saúde, quais sejam antes do parto, o próprio parto e após o parto. Nessa ótica existe 
a participação da mulher no processo decisório durante esses três momentos, há estudos que 
demonstram que o sentimento de não ser informada e não ter tido a oportunidade de participar 
nas decisões foram associados à insatisfação. De forma genérica a violência obstétrica decorre 
de procedimentos e condutas que desrespeitem e agridam a mulher na gestação, parto, 
nascimento ou pós-parto.52 
Na prática, se considera violência obstétrica os atos agressivos tanto de forma 
psicológica quanto física, verbal, simbólica e/ou sexual, além de negligência, discriminação 
e/ou condutas excessivas ou desnecessárias ou desaconselhadas, muitas vezes prejudiciais e 
sem embasamento em evidências científicas. Essas violentas práticas com gestantes e mães que 
estão dando à luz também podem consistir em rotinas e normas que já se sabe que são 
desnecessárias, mas são feitas mesmo que não respeitem os seus corpos.53 
Essas práticas submetem mulheres a normas e rotinas rígidas e muitas vezes 
desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e os seus ritmos naturais e as impedem de 
exercer seu protagonismo.54 A autora Duarte elabora de forma bem detalhada a descrição das 
seguintes condutas e atos de violência obstétrica: 
 
Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, familiar de 
seu círculo social; tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não 
empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo 
tratamento recebido; tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes 
infantilizados e diminutivos, tratando-a como incapaz; submeter a mulher a 
procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, 
raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas; impedir a 
mulher de se comunicar com o "mundo exterior", tirando-lhe a liberdade de telefonar, 
usar celular, caminhar até a sala de espera ETC; fazer graça ou recriminar por qualquer 
característica ou ato físico como por exemplo obesidade, pelos, estrias, evacuação e 
outros; fazer graça ou recriminar por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter 
medo, vergonha etc.; fazer qualquer procedimento sem explicar antes o que é, por que 
está sendo oferecido e acima de tudo, SEM PEDIR PERMISSÃO; submeter a mulher 
a mais de um exame de toque (ainda assim quando estritamente necessário), 
especialmente por mais de um profissional, e sem o seu consentimento mesmo que 
 
51MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações 
a partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p. 02. 
52CIELLO, Cariny; CARVALHO, Cátia; KONDO, Cristiane; DELAGE, Deborah; Niy, Denise; WERNER, Lara; 
SANTOS, Sylvana Karla (2012). Violência Obstétrica: Parirás com Dor. Dossiê elaborado pela Rede Parto do 
Princípio para a CPMI da Violência contra as Mulheres. Brasil.2012, p. 67. 
53TINÉ, Luiza, “você sabe o que é violência obstétrica? 2017, p. 03. 
54Ibidem, p. 04. 
 
https://www.minhavida.com.br/familia/tudo-sobre/34875-violencia-obstetrica
23 
 
para ensino e treinamento de alunos, dar hormônios para tornar mais rápido e intenso 
um trabalho de parto que está evoluindo normalmente; cortara vagina (episiotomia) 
da mulher quando não há necessidade (discute-se a real necessidade em não mais que 
5 a 10% dos partos); dar um ponto na sutura final da vagina de forma a deixá-la menor 
e mais apertada para aumentar o prazer do cônjuge ("ponto do marido"); subir na 
barriga da mulher para expulsar o feto. Submeter a mulher e/ou o bebê a 
procedimentos feitos exclusivamente para treinar estudantes e residentes; permitir a 
entrada de pessoas estranhas ao atendimento para "ver o parto", quer sejam estudantes, 
residentes ou profissionais de saúde, principalmente sem o consentimento prévio da 
mulher e de seu acompanhante com a chance clara e justa de dizer não, fazer uma 
mulher acreditar que precisa de uma cesariana quando ela não precisa, utilizando de 
riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados (o bebê é grande, a bacia é 
pequena, o cordão está enrolado); submeter uma mulher a uma cesariana 
desnecessária, sem a devida explicação dos riscos que ela e seu bebê estão correndo 
(complicações da cesárea, da gravidez subsequente, risco de prematuridade do bebê, 
complicações a médio e longo prazo para mãe e bebê); dar bronca, ameaçar, 
chantagear ou cometer assédio moral contra qualquer mulher/casal por qualquer 
decisão que tenha(m) tomado, quando essa decisão for contra as crenças, a fé ou os 
valores morais de qualquer pessoa da equipe, por exemplo: não ter feito ou feito 
inadequadamente o pré-natal, ter muitos filhos, ser mãe jovem (ou o contrário), ter 
tido ou tentado um parto em casa, ter tido ou tentado um parto desassistido, ter tentado 
ou efetuado um aborto, ter atrasado a ida ao hospital, não ter informado qualquer dado, 
seja intencional, seja involuntariamente; submeter bebês saudáveis a aspiração de 
rotina, injeções e procedimentos na primeira hora de vida, antes que tenham sido 
colocados em contato pele a pele e de terem tido a chance de mamar; separar bebês 
saudáveis de suas mães sem necessidade clínica.55 
 
 
 Como pode-se perceber a violência obstétrica normalmente acontece quando os 
interesses do profissionais de saúde ou até das instituições são colocados acima do direito da 
paciente, desrespeitando aos direitos da mulher, essa violência as vezes e silenciosa, e acaba 
passando despercebida, pois as mulheres no momento da gestação estão vulneráveis, mais 
fracas, e ficam caladas, inúmeras mulheres não sabem dos seus direitos, e nem sabem que estão 
passando pela violência, sabe-se que a dor do parto e certa, e existe, mas que o sofrimento do 
desrespeito não. 
 
 
 1.3.2 Práticas consideradas abusivas 
 
 
Um levantamento encomendado pela Organização Mundial da Saúde - OMS com 
a participação de 34 países, onde foi possível identificar os sete tipos de violência obstétrica e 
maus-tratos que podem acontecer durante o parto. Que são: abuso físico bater ou beliscar, por 
exemplo; o abuso sexual; abuso verbal linguagem rude ou dura; discriminação com base em 
idade, etnia, classe social ou condições médicas; o não cumprimento dos padrões profissionais 
de cuidado por exemplo, negligência durante o parto; mau relacionamento entre a gestante e a 
 
55DUARTE. Ana Cristina, Violência obstétrica = violência contra a mulher e a criança,2013. 
 
24 
 
equipe falta de comunicação, falta de cuidado e retirada da autonomia e más condições do 
sistema de saúde a falta de recursos.56 Diante disso o autor Martins explica como devreia ser o 
momento sublime que é o parto. 
 
O momento do parto constitui um momento único na vida da mulher, é um momento 
recheado de grandes emoções e transformações. Nesse momento, a mulher deve ser 
acolhida e protegida pelos profissionais que a assiste. No entanto, em muitas 
maternidades do Brasil, não é exatamente isso que acontece, as mulheres sofrem no 
momento do parto por serem agredidas, por não terem a sua autonomia respeitada, e 
o momento que deveria ser único e sublime, é muitas vezes, traumático a ponto de 
muitas mulheres não quererem engravidar mais. O estudo objetivou identificar a 
violência obstétrica nas interfaces da assistência à saúde, além de avaliar o 
conhecimento das mulheres acerca do tema abordado, na tentativa de buscar ações e 
medidas para humanizar o parto, como forma de erradicar a violência obstétrica. 
Espera-se, com esse trabalho, conscientizar as mulheres a respeito da violência 
obstétrica, ajudando-as a identificar atos que possam ser considerados violência, bem 
como sensibilizar os profissionais a adotarem medidas para humanizar o parto, para 
proporcionar a essas mulheres o maior conforto possível durante o trabalho de parto 
e parto.57 
 
Segundo um dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres existem alguns tipos de ações que configuram a violência 
obstétrica:  
 
1) Violência obstétrica física: quando são realizadas práticas invasivas, administra-se 
medicações não justificadas pelo estado de saúde da parturiente ou de quem irá nascer, 
ou quando não se respeita o tempo ou as possibilidades de parto biológico;  
2) Violência obstétrica psíquica: refere-se ao tratamento desumanizado, grosseiro, 
humilhação e discriminação. Além disso, cabe nesta classe a omissão de informações 
sobre a evolução do parto; 
3) Violência obstétrica sexual: toda ação imposta à mulher que viole sua intimidade 
ou pudor, incidindo sobre seu senso de integridade sexual e reprodutiva, podendo ter 
acesso ou não aos órgãos sexuais e partes íntimas do seu corpo. 58 
 
 
 Outro fator que deve ser discutido e as situações que suprimem o bem-estar da 
parturiente como a indução à tricotomia (raspagem dos pelos pubianos); a lavagem intestinal; 
 exame de toque vaginal (realizado várias vezes e por profissionais diferentes); a imobilização; a 
posição horizontal durante o trabalho de parto; utilização do soro com o objetivo de puncionar 
a veia para facilitar a posterior administração de medicamento; administração de ocitocina, 
 
56ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos 
durante o parto em instituições de saúde, 2015. 
57MARTINS, Fabiana Lopes, SILVA, Bruno de Oliveira, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: Uma expressão nova para 
um problema histórico, Revista Saúde em Foco – Edição nº 11 – Ano: 2019, p. 23. 
58Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da 
Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ 
comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 
25 
 
realizada para acelerar o trabalho de parto; episiotomia ´que é uma incisão cirúrgica na 
vulva, para diminuir o trauma dos tecidos do canal do parto e ajudar na saída do bebê.59 
A episiotomia, um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns em obstetrícia é, no 
entanto, realizado muitas vezes sem qualquer consentimento específico da paciente. É uma 
intervenção ainda realizada rotineiramente e os profissionais de saúde, presos a conceitos e 
práticas que não contemplam evidências científicas atuais, insistem na realização deste 
procedimento, violando, assim, os direitos das mulheres. Como qualquer ato cirúrgico, essa 
prática tem também algumas complicações. Os riscos associados são, entre outros, a extensão 
da lesão, hemorragia significativa, dor no pós-parto, edema, infecções, hematoma, dispareunia, 
fístulas retovaginais e a endometriose da episiorrafia, embora este último seja raro.60 
 A manobra de Kristeller se enquadra em violência obstétrica e consiste em uma 
manobra na qual é exercida pressão sobre a porção superior do útero, no intuito de fazer o bebê 
sair mais rápido. Porém, essa tentativa de agilizar o processo pode trazer prejuízo tanto para a 
mãe quanto para o bebê. A mãe pode fraturar as costelas etambém pode haver descolamento 
da placenta, já o bebê pode sofrer traumas encefálicos.61 
Essa manobra ainda é realizada com frequência na hora do parto, assim como outras 
intervenções inapropriadas realizadas em cadeia - condução para mesa de parto antes da 
dilatação completa, imposição de posição ginecológica prejudicial para a dinâmica do parto e 
oxigenação do bebê, comandos de puxo, mudança de ambiente, entre outros.62 
Salienta-se que os próprios profissionais de saúde reconhecem que a manobra de 
Kristeller é proscrita, porém continuam a realizá-la, apesar de não a registrarem em prontuário. 
O tratamento desumanizado para com as mulheres suscita questionamento. Por que mulheres 
são constantemente vítimas de profissionais de saúde?63 
Um artigo Brasileiro publicado pela Revista cientifica VER RENE intitulado 
Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras exemplifica de forma clara e precisa a 
forma como essas violências ocorrem no meio hospitalar de acordo com a função de cada 
 
59REIS AE, PATRÍCIO ZM. Aplicação das ações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o parto 
humanizado em um hospital de Santa Catarina 2015. 
60BORGES, Bárbara Bettencourt; Serrano, Fátima; Pereira, Fernanda (2003). Episiotomia: Uso generalizado 
versus selectivo. Acta Médica Portuguesa,2003, p. 02. 
61BALOGH, G. Mulheres Denunciam Violência Obstétrica; saiba se você foi vítima. Fórum Justiça. 2014,p.03. 
62BORGES, Bárbara Bettencourt; Serrano, Fátima; Pereira, Fernanda (2003). Episiotomia: Uso generalizado 
versus selectivo. Acta Médica Portuguesa,2003, p. 02 
63MENEZES, Daniela C.S.; LEITE, Iúri da C.; LEAL, Maria do Carmo; SCHRAMM, Joyce Mensdes. Avaliação 
da peregrinação anteparto numa amostra de puérperas no Município do Rio de Janeiro, Brasil, 1999/2001. Cad. 
Saúde Pública, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n3/10.pdf. Acesso: 01 de julho de 2020. 
 
http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n3/10.pdf
26 
 
membro da equipe. Por meio desse relato de experiência de cinco enfermeiras obstétricas 
experientes e atuantes, considera-se que há inúmeras violências obstétricas, presenciadas e 
vivenciadas por elas em suas trajetórias profissionais e que se faz necessário mudanças no 
modelo da assistência obstétrica conforme anexo 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
2.VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O DIREITO 
 
O sistema jurídico brasileiro já possui legislação genérica sobre violência 
obstétrica, embora não haja Lei específica. Contudo, existe o Projeto de Lei 7.633/2014, em 
trâmite no Congresso Nacional, que dispõe sobre as diretrizes e os princípios inerentes aos 
direitos da mulher grávida, pré-parto e pós parto e a erradicação desse ato. A legislação nacional 
brasileira contempla a proteção da mulher quanto à prática de violência obstétrica. Alguns casos 
de violência obstétrica são definidos como crimes tais como homicídio, lesão corporal, omissão 
de socorro e crimes contra a honra. 
A Constituição Federal de 1998 contém o princípio da igualdade, e dispõe sobre o 
direito à plena assistência à saúde. A Lei Maior enuncia de forma original o dever do Estado de 
coibir a violência contra as mulheres, incluindo, portanto, o dever de prevenir e punir a violência 
obstétrica. 
Em 1995, o Brasil ratificou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e 
Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará). A Convenção destaca que 
a violência contra a mulher constitui grave violação aos direitos humanos e limita, absoluta ou 
parcialmente, o exercício dos demais direitos. Prevê essa convenção um importante catálogo de 
direitos a serem assegurados às mulheres, com a finalidade de que tenham uma vida livre de 
violência, não apenas no âmbito público, mas também privado. Consagra, portanto o dever do 
Brasil como Estado-parte, para que o mesmo adote políticas destinadas a prevenir, punir e 
erradicar a violência contra a mulher.64 
 As mulheres tem pleno direito à proteção no parto e de não serem vítimas de 
nenhuma forma de violência ou discriminação. A Convenção Belém do Pará determina em seu 
artigo 6º o seguinte: “O direito de toda mulher a ser livre de violência abrange, entre outros: o 
direito da mulher a ser livre de todas as formas de discriminação”65 
Durante todo esse momento de gestação até o parto as mulheres possuem direitos 
que devem ser respeitados para que se tenha um atendimento integral e de qualidade. Assim, o 
Ministério da Saúde possui políticas que visam garantir os direitos sexuais, de cidadania e 
reprodutivos das mulheres, a fim de que elas conheçam seus direitos para que possam exigi-los 
e se prevenirem de abusos e desrespeito contra a sua dignidade. 
 
64PIOVESAN, Flavia. Combate a cultura da violência, Violência contra a Mulher, O Globo,2017. 
65BRASIL. Convenção Belém do Pará Disponível: 
http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm. Acesso: 30 de maio de 2020. 
http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm
28 
 
É direito das usuárias dos serviços de saúde receber informações claras, objetivas e 
compreensíveis sobre as hipóteses diagnósticas, dos diagnósticos realizados e das ações 
terapêuticas, riscos, benefícios e inconveniências das medidas diagnósticas e terapêuticas 
propostas, bem como direito ao planejamento familiar e a receber informações como métodos 
e técnicas para regulação da fecundidade ou prevenção da gravidez.66 
A Agência Nacional de Saúde Suplementar, através da RN nº 36829, dispõe sobre 
o direito de acesso à informação das beneficiárias aos percentuais de cirurgias cesáreas e de 
partos normais, por operadora, por estabelecimento de saúde e por médico, e sobre a utilização 
do partograma, cartão da gestante e da carta de informação à gestante no âmbito da saúde 
suplementar.67 
Além disso, a Lei Nº 11.108 de 7 de abril de 2005, obriga os serviços de saúde do 
Sistema Único de Saúde - SUS, ficam obrigados a deixar a presença, junto à parturiente, de 01 
acompanhante, de sua indicação, durante todo o ato. As parturientes, ainda, devem ser 
submetidas a procedimentos com requisição prévia de sua opinião, evitando expô-las a 
sofrimentos desnecessários. O Brasil desenvolveu algumas políticas públicas, segundo 
Secretaria de política públicas para as mulheres - SPM, que visam um atendimento integral e 
de qualidade às mulheres durante a gestação, parto e puerpério de forma a desenvolver ações 
de prevenção e assistência à saúde.68 
Diante da grande incidência de casos de violência obstétrica no Brasil, das mais 
diversas formas como já mencionado anteriormente, percebe-se que esses fatos vão muito além 
do descaso dos profissionais e falhas na realização de procedimentos, pois estes causam um 
impacto psicossocial marcante na vida das gestantes. No entanto, vale ressaltar as medidas a 
serem tomadas diante de uma situação de violência obstétrica. É notório a grande prevalência 
no Brasil, em seu sistema de saúde e embora seja mais explícita nos hospitais públicos, não há 
como descartar uma notável incidência na rede privada. 
São questionáveis os motivos pelos quais um médico ou qualquer outro profissional 
da saúde pratica atos de violência, porém é inegável que realizar vários partos cesáreas, por 
exemplo, é financeiramente mais interessante que realizar parto normal. Muitas vezes são 
 
66DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também) 
Editora UNESP, 2004. 
67PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 106. 
68SEPM. Secretaria de política públicas para as mulheres Disponível: 
https://www.cfemea.org.br/plataforma25anos/_anos/2003.php?iframe=criacao_sepm. Acesso: 02 de junho de 
2020.https://www.cfemea.org.br/plataforma25anos/_anos/2003.php?iframe=criacao_sepm
29 
 
atitudes de profissionais da rede privada que fazem esse processo sem a permissão da mulher e 
sem esta apresentar uma gestação de risco, o que tornaria uma Cesária viável. 
 Manobras como a de Kristeller, injeção de ocitocina, episiotomia e vários outros 
procedimentos realizados para acelerar o processo de parto são realizados de forma agressiva e 
não permitem o tempo fisiológico necessário. Esses métodos são muitas vezes frutos da 
intolerância e impaciência dos profissionais da saúde, uma vez que as maternidades no Brasil 
estão superlotadas e com infraestrutura bastante precária, além do déficit de profissionais 
obstetras e sua baixa remuneração no setor público.69 
 No entanto, a busca de serviços cada vez mais técnicos e novas evoluções deixam 
de lado uma formação médica humanizada e que valoriza e respeita a vida humana. Esse tipo 
de violência é negligenciado no ponto de vista penal, uma vez que não se encaixa nos tipos de 
lesões corporais a não há uma lei específica que puna essa violência. 
Já pelo Código de Ética Médica, as punições são desde advertência privada, até a 
cassação do direito de exercer a medicina. A respeito das punições jurídicas ou penais, quando 
existem, são de difícil apuração, pois é necessária perícia para se afirmar ou não se é preciso 
determinados procedimentos, além de escutar depoimentos de testemunhas que possam 
comprovar o que aconteceu dentro da sala de parto. 
Diante dessa dificuldade de comprovação dos atos de violência, deve-se investir em 
políticas que visem conscientizar a população, sobre os direitos das gestantes e os impactos que 
a violência obstétrica pode trazer para mãe e para a criança, buscando um parto cada vez mais 
humanizado. 
A fim de evitar uma maior incidência da violência obstétrica o Ministério da Saúde 
criou políticas que visam garantir os direitos das gestantes e fazer com que o parto seja 
humanizado e respeite a cidadania. Contudo, é necessário que as mulheres conheçam seus 
direitos, os exijam e denunciem quando não cumpridos. É imprescindível a formação de um 
profissional habilitado em prestar assistência integral de qualidade e de caráter mais 
humanizado.70 
 
 
 
 
69PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 106. 
70BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência obstétrica. Brasília, DF, 2002. 
 
30 
 
 2.1 Projeto de Lei nº 7.633/142 
 
Trata-se de um assunto antigo, porém hodiernamente ainda há muita discussão em 
relação ao caráter lícito ou não dessa prática, o que reflete em um campo de pesquisa vasto, 
porém sem muitas conclusões.No Brasil existe um Projeto de lei proposto pelo então Deputado 
Jean Wyllys que trata sobre das diretrizes e dos princípios inerentes à grávida, antes, do parto, 
durante e após, e também do controle dos índices de cesarianas e das boas práticas obstétricas. 
O Projeto foi pensado pelo fato da relevância da temática e, ainda, na tentativa de 
coibir toda e qualquer violência de gênero, tratando da humanização da assistência à mulher e 
ao concepto, bem como de seus direitos no ciclo gravídico-puerperal, quer seja pela realidade 
mostrada pelos relatos de óbitos de parturientes e seus bebês, quer seja pela dificuldade de 
colocar-se efetivamente em prática uma política nacional atenta às recomendações e tratados 
internacionais dos quais o Brasil faz parte. O conceito dado pelo projeto de lei nº 7.633/142, do 
deputado Jean Wyllys: 
 
Art. 13 – Caracteriza-se a violência obstétrica como a apropriação do corpo e dos 
processos reprodutivos das mulheres pelos (as) profissionais de saúde, através do 
tratamento desumanizado, abuso da medicalização e patologização dos processos 
naturais, que cause a perda da autonomia e capacidade das mulheres de decidir 
livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente na 
qualidade de vida das mulheres. Parágrafo único. Para efeitos da presente Lei, 
considera-se violência obstétrica todo ato praticado pelo (a) profissional da equipe de 
saúde que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes em trabalho de 
parto, em situação de abortamento e no pós-parto/puerpério.71 
 
 O também deputado Francisco Floriano dos democratas do Rio de Janeiro – RJ 
propôs em 2017 o projeto de Lei que nº 8.219, que trata da violência obstétrica sofrida pela 
mulher em trabalho de parto ou logo após. O Objetivo do Projeto de Lei nº8.219/2017, do 
deputado Francisco Floriano, in verbis: 
 
O objetivo desse Projeto de lei é impedir que a mulher em trabalho de parto ou logo em 
seguida sofra qualquer tipo de constrangimento ou tratamento vexatório por parte dos 
médicos e outros profissionais da saúde. No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem 
abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal 
tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas 
 
71CÂMARA DOS DEPUTADOS Projeto de Lei nº 7.633/14, do deputado Jean Wyllys. 2014. Disponível: 
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=617546. Acesso; 02 d junho de 
2020. 
 
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=617546
31 
 
também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não discriminação. 
(BRASIL, 2017).72 
 
 Vale ressaltar que, de acordo com pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, de 
uma em cada quatro brasileira é vítima de violência obstétrica. No Brasil infelizmente existe a 
cultura de que a mulher tem que sofrer durante o parto e a gestação, senão “não é mãe o 
suficiente”. 73 
É preciso atentar para a questão de que, a violência obstétrica traz em si uma 
discriminação de gênero e, como tal, deve ser combatida assim como vem sendo a violência 
doméstica através da aplicação da Lei Maria da Penha, a tipificação do crime de feminicídio no 
Código Penal e a declaração da OMS sobre violência obstétrica caminham no sentido de 
proteger a integridade física e a dignidade da mulher. Toda mulher tem direito ao melhor padrão 
atingível de saúde, o qual inclui o direito a um cuidado de saúde digno e respeitoso. Por ser de 
relevância social, peço o apoio dos nobres pares à aprovação deste Projeto de lei. 
 
2.2 Lei estadual nº 17.097/2017 de Santa Catarina 
 
A proposta foi apresentada pela Deputada Federal Ângela Albino (PCdoB), quando 
esta era representante na Assembleia Legislativa do Estado. Publicada na edição 20.457 do 
Diário Oficial do Estado, em 19 de janeiro de 2017, a lei já está em vigor. Ao dispor da 
implantação de medidas para evitar a violência, a norma considera violência obstétrica todo ato 
praticado pelo médico, equipe hospitalar, familiar ou acompanhante que ofenda, de forma 
verbal ou física, as mulheres gestantes em trabalho de parto ou no período puerpério.74 
Foi apresentado pela parlamentar em 2013 e aprovado em 13 de dezembro de 2016 
pelos deputados, graças à mobilização de mulheres e entidades e profissionais ligadas ao 
combate à violência obstétrica e à promoção do parto humanizado, que contou com a 
participação da Comissão de Saúde da Assembleia. 
Em sua redação, a lei também determina a divulgação da Política Nacional de 
Atenção Obstétrica e Neonatal. Entre as demais medidas previstas, considera inaceitável 
 
72CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº8.219/2017.Disponível: 
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2147144. Acesso: 01 de junho de 
2020. 
73BRASILIENSE, Jornal Correio, Saúde, Matéria sobre violência obstétrica, 2017. 
74SANTA CATARINA, Lei estadual nº17.097/2017 de 19 de janeiro de 2017. Dispõe sobre a implantação de 
medidas para evitar

Continue navegando