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FACULDADE PROJEÇÃO CURSO DE DIREITO ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS PENAIS BRASÍLIA/DF 2020 ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA A CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS PENAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado perante a Banca Examinadora do Curso de Direito do Centro Universitário Projeção Como pré-requisito para a aprovação na disciplina “TCC 2” e para obtenção do grau de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Constitucional Direito Penal e Processo Penal. Orientador: Professor Rodrigo Pelet Nascimento Aquino. BRASÍLIA/DF 2020 ELLEN CARVALHO DE ALENCAR SENA A CRIMINALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: TIPIFICAÇÃO NECESSÁRIA OU EXCESSO DE TIPOS PENAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado perante a Banca Examinadora do Curso de Direito do Centro Universitário Projeção Como pré-requisito para a aprovação na disciplina “TCC 2” e para obtenção do grau de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Constitucional Direito Penal e Processo Penal. Orientador: Professor Rodrigo Pelet Nascimento Aquino. DATA DE REALIZAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA: 15/07/2020 ___________________________________________________ Professor-Orientador Rodrigo Pelet Nascimento Aquino ___________________________________________________ Professor-examinador Heverton Mamede ___________________________________________________ Professor-examinador Timóteo Carneiro Ferreira RESUMO Está pesquisa tem como objetivo analisar o binômio necessidade versus possibilidade do Estado em legislar sobre matéria específica relacionado a violência obstétrica. Sendo conceituado o termo violência obstétrica, bem como sua origem e contextualização histórica. Analisando como o termo é tratado no âmbito jurídico e social brasileiro. Aborda-se também as práticas consideradas lesivas ao corpo da mulher durante a gravidez, o parto e o pós parto. Sendo observado o direcionamento que a ciência jurídica toma em relação ao assunto, bem como os posicionamentos adotados pelos tribunais do Brasil, versa também sobre Leis Estaduais como por exemplo a lei 17.097/2017 de Santa Catarina que trata sobre o tema e propostas de Leis Federais como o Projeto de Lei 7.633/2014 do deputado Jean Wyllys que sugere criminalizar a conduta da violência obstétrica. Verifica os tipos penais aplicáveis a conduta da violência obstétrica sendo observado acordãos que se enquadram nesse tema em específico. A metodologia utilizada no referido trabalho é teórica, descritiva e bibliográfica, onde foram utilizados livros, artigos jurídicos, legislação nacional, jurisprudência, e legislação específica sobre a temática, é tambem uma pesquisa exploratória quantitativa e qualitativa. Em suma, o trabalho aborda o que é violência obstétrica e se seria necessário o Estado legislar sobre a matéria do ponto de vista penal brasileiro. Palavras- chave: Violência Obstétrica; Direito Penal Brasileiro; Criminalização. ABSTRACT This research aims to analyze the binomial need versus possibility of the State to legislate on specific matter related to obstetric violence. The term obstetric violence is conceptualized, as well as its origin and historical context. Analyzing how the term is treated in the Brazilian legal and social sphere. It also addresses practices considered harmful to the woman's body during pregnancy, childbirth and postpartum. Being observed the direction that the legal science takes in relation to the subject, as well as the positions adopted by the courts of Brazil, it also deals with State Laws such as the law 17.097 / 2017 of Santa Catarina that deals with the subject and proposals of Federal Laws as Bill 7,633 / 2014 by deputy Jean Wyllys that suggests criminalizing the conduct of obstetric violence. It verifies the criminal types applicable to the conduct of obstetric violence, observing agreements that fit this specific theme. The methodology used in the referred work is theoretical, descriptive and bibliographic, where books, legal articles, national legislation, jurisprudence, and specific legislation on the subject were used, it is also a quantitative and qualitative exploratory research. In short, the paper addresses what obstetric violence is and whether the State would need to legislate on the matter from the Brazilian criminal point of view. Keywords: Obstetric Violence; Brazilian Criminal Law; Criminalization. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 1. CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ....... 8 1.1 Origem da violência obstétrica ................................................................................. 12 1.2 Violência obstétrica no mundo ................................................................................. 16 1.3 Violência obstétrica no brasil ................................................................................... 18 1.3.1 Definição ............................................................................................................... 21 1.3.2 Práticas consideradas abusivas .............................................................................. 23 2.VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O DIREITO ......................................................... 27 2.1 Projeto de Lei nº 7.633/142 ...................................................................................... 30 2.2 Lei estadual nº 17.097/2017 de Santa Catarina ........................................................ 31 2.3 A luz da jurisprudência ............................................................................................. 32 2.4 Acórdãos do STF e STJ ............................................................................................ 33 2.4.1 Resultados e discussões ......................................................................................... 34 3.RESPONSABILIDADE PENAL: TIPOS PENAIS APLICÁVEIS NOS CASOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ...................................................................................... 36 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 43 ANEXOS 1 .................................................................................................................... 48 ANEXO 2 ....................................................................................................................... 51 6 INTRODUÇÃO A presente pesquisa decorre de um reexame com base na literatura, que tem a intenção de investigar se a criminalização da violência obstétrica. Se faz necessária no cenário atual brasileiro, e ainda avaliar o que o ramo jurídico tem a dizer no tocante a esse tema. Foi observado que essa prática infringe os direitos fundamentais, a integridade física e psicológica das vítimas dentre outras vertentes do meio jurídico que serão explicitadas no decorrer do mesmo. De fato, essa é uma realidade que tem sido vivida nas maternidades brasileiras; as vítimas são submetidas a atos agressivos e desumanos, os quais ferem a autonomia, a integridade física, moral e psíquica da mulher. Nota-se ainda que esse tipo de violência não está tipificado no Direito Penal brasileiro e a ciência jurídica caminha a passos lentos na discussão dessa temática.É importante destacar também que tal prática se enquadra na categoria de crime, e há vários movimentos sociais, principalmente feministas que tentam demonstrar o caráter violento dos procedimentos citados, um exemplo comum é a episiotomia, que sem autorização pode ser interpretada como crime contra a integridade física, lesão corporal, art. 129, Código Penal brasileiro. Vale ressaltar que tal violência agride os direitos não apenas da mulher, mas também do nascituro que também é sujeito de direitos. A temática tem sido levada a tribunais internacionais como exemplo de violação do direito humano da mulher à dignidade pessoal e à sua integridade corporal. Logo a questão principal proposta no presente trabalho se assenta no reconhecimento de uma violência específica de gênero e direitos fundamentais sobre a violência contra a grávida, em todos seus aspectos. Demonstra a vulnerabilidade feminina e do nascituro na ocasião da parturiente e como fere os direitos fundamentais de ambos, tanto a mãe quanto a criança. A mulher é a protagonista, saber e decidir sobre o próprio corpo, a escolha deve ser da mulher, pois é sujeito de direitos, ela deve escolher se vai consentir com os procedimentos a que ela será submetida. É nítido que o sistema brasileiro tem se preocupado com a saúde das parturientes, já existe lei que a protegem de certas formas, existem diretos que abrange suas categorias, porém não se percebe a eficácia dessas normas, visto que muitas se encontram desamparadas quando mais necessitam, em seu maior momento de vulnerabilidade. 7 A discussão de uma lei especificamente para a área obstétrica não é recente, muitos já estudaram e debateram essa ideia, mas infelizmente ainda não há uma conclusão por meio de lei. É importante o enfrentamento das questões, e frisar a relevância do presente estudo, pois se trata de uma luta política para o reconhecimento desta violência no âmbito de seu direito reprodutivo. Além de necessário reconhecimento da mudança social de paradigma reconhecendo essa violência, em comparação ao erro que médico que é passível de indenização. Esse tipo de violência já está enraizado culturalmente em nosso país, por isso muitas mulheres não percebem que as práticas usadas pelos profissionais podem estar sendo abusivas e desrespeitosas, ou até mesmo quando percebem, preferem não denunciar por saber que o desamparo em relação a elas é real. Vários pontos serão debatidos no decorrer desse trabalho, a fim de ampliar a base científica do tema para colaborar com uma possível medida rigorosa cabível de punição para a erradicação ou pelo menos diminuição dessa prática delituosa. No decorrer do mesmo, muitas formas de violência obstétrica serão esclarecidas, com o objetivo de alcance a principalmente as vítimas desse ato, que são as mulheres, para que possam tomar conhecimento, e também estar cientes de que não estão sozinhas. Será analisado o que o sistema jurídico brasileiro tem falado a respeito, e os posicionamentos que já foram tomados no tocante ao tema, bem como fundamentos relevantes referente ao mesmo. 8 1. CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA A violência obstétrica é classificada como um ato agressivo cometido no decorrer do ato de assistência à gestante, à mulher no período de concepção de seu filho e também após. As vítimas nem sempre sabem que estão vivenciando essa condição, pois tal prática está institucionalizada nos serviços hospitalares. Pois existe um conceito cultural de que essa prática é algo normal, algo que acontece de geração para geração, o que torna o conhecimento ilícito cada vez mais distante da realidade. O termo “violência obstétrica” foi criado pelo Dr. Rogelio Pérez D’Gregório presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Venezuela, e desde então nomeou as lutas do movimento feminista pela eliminação e punição dos atos e procedimentos tidos como violentos realizados durante o atendimento e assistência ao parto.1 Percebe-se que a violência obstétrica não é um termo atual, o mesmo vem sendo discutido a algum tempo, porém até os dias atuais no Brasil não existe uma Lei Federal que puna devidamente seus praticantes. No curso da gestação, parto e pós-parto são recorrentes situações de maus tratos, abuso, desrespeito e negligência, as quais caracterizam a violência obstétrica. Esse tipo de violência é, portanto, resultado de tratamento desumanizado como xingamentos, humilhação, além de abuso de medicalização dos fenômenos naturais, durante o processo de assistência à gestante, no trabalho de parto, bem como em situação de abortamento e no puerpério. Esses atos podem ocasionar danos físicos, sexuais e psicológicos, sendo uma interferência direta na autonomia, liberdade sexual e reprodutiva da mulher com repercussão direta em sua qualidade de vida.2 O período gestacional de uma mulher é algo sonhado desde a infância para a maioria das mulheres, é um momento em que as mesmas se encontram em sua maior vulnerabilidade, e ter que passar por essa situação é algo traumatizante, desumano, desrespeitoso e cruel. Conforme preceitua Mariani, “Violência obstétrica ainda é um conceito em construção. Transita 1MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p.01. 2CIELLO, Cariny; CARVALHO, Cátia; KONDO, Cristiane; DELAGE, Deborah; Niy, Denise; WERNER, Lara; SANTOS, Sylvana Karla. Violência Obstétrica: Parirás com Dor. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência contra as Mulheres. Brasil.2012. 9 entre o desrespeito humano durante o cuidado ao nascimento até a prática de condutas médicas sem respaldo científico”.3 Trata-se de um evento antigo, no entanto, muitas pessoas não consideram essas ações violentas contra as mulheres como uma violência, e sim como procedimentos comuns e de rotina que devem ser realizados durante o parto. As mulheres que sofrem algum tipo de violência podem apresentar inúmeras sequelas e traumas, que provavelmente irão afetar sua saúde reprodutiva e sexual.4 A busca pelos direitos das mulheres é uma pauta atual, ano após ano os movimentos feministas aumentam, trazendo à tona assuntos muitas vezes esquecidos ou pouco notórios pela sociedade, a busca pela humanização do parto é uma delas. Segundo Cunha, o parto nem sempre foi um procedimento médico, no início dos tempos o parto era um evento inteiramente feminino. Porém, com o aparecimento das universidades, a prática médica transformou-se de um episódio espiritual e comum em um conhecimento científico e, predominante da elite. Gradativamente, as mulheres foram adentrando nos hospitais, na falsa concepção de que sua dor e também a mortalidade neonatal iriam diminuir.5 A medicina evolui dia após dia, o que se espera é que a cada procura médica se encontre segurança e até mesmo maior conforto em cada procedimento realizado, o que muitas vezes não acontece. De acordo com Souza: O parto e o nascimento é um momento marcante na vida da mulher, no entanto, muitas vezes é lembrado com traumas (sejam eles físicos ou psicológicos) que são causados por pessoas que deveriam dar total assistência. A falta de informação, ou “comodismo” de algumas equipes especializadas em obstetrícia acaba dando continuidade a procedimentos e técnicas que não surtem efeito nenhum pra determinada paciente, mais que mesmo assim são realizados rotineiramente, seja por despreparo ou até mesmo por uma visão lucrativa e produtiva, já que algumas técnicas podem acelerar o trabalho de parto trazendo assim menos dificuldade para o profissional, e consequentemente mais transtornos e consequências para mãe e feto.6 Mesmo recebendo assistências de pessoas combases científicas, o paradigma atual de partos é desanimador, pois a mulher é tida como um simples sujeito auxiliar no ato de 3MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p.01. 4SANTIAGO, Dayze Carvalho SOUZA Wanessa Kerlly VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: uma análise das consequências,2017m p, 149. 5CUNHA, Eliane, na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto em Minas Gerais, 2012, p.5. 6SOUZA, A.S.R.; COSTA, A.A.R.; COUTINHO, I.; NORONHA, N. C.; AMORIM, M.M.R. Indução do trabalho de parto: conceitos e particularidades. FEMINA, abril, vol. 38, nº 4, 2010. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf. Acesso: 10 de maio de 2020. http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf 10 nascimento da criança, sem atenção às suas necessidades e, que geralmente sofre com atos que ferem à sua integridade física e moral.7 A mãe no momento do parto perde todo o seu “protagonismo” para a criança, o que acaba sendo prejudicial para a mesma, pois suas vontades e desejos são praticamente anulados em busca da nova vida que está nascendo, fazendo com que sua própria opinião seja deixada de lado. Como essas ações violentas repercutem por muitos anos, acabou aprofundando-se na mente das pessoas de tal forma que muitas das vítimas que sofrem violência a ignoram, já que se transformou em algo “natural”. Mesmo que não exista no Brasil uma lei que enquadre a violência obstétrica, o quadro pode ser revertido com a busca na implantação efetiva do parto humanizado, no intuito de resguardar os direitos fundamentais das parturientes.8 Diniz e Duarte versam sobre o tema com o seguinte pensamento “Defendemos o direito à escolha informada por parte da mulher sobre a forma de dar à luz. Na área da saúde, isso constitui um direito humano e um direito reprodutivo”, ou seja, a escolha da mulher deve ser sempre respeitada e não descartada.9 Desprende – se Foneite, A violência é um fenômeno que está inserido na sociedade desde o primórdio dos tempos, em todas as suas formas, porém a violência contra o gênero feminino ganhou notoriedade devido à incidência corriqueira desse fato, que não seleciona vítima, abrangendo todas as mulheres, independente de sua classe, raça ou qualquer outra característica.10 A ausência do Estado também é uma grande preocupação popular. Rara as vezes em que se encontra pela cidade cartazes, ou propagandas pela televisão ou qualquer tipo de disseminação de conhecimento a respeito da violência obstétrica, a falha em políticas públicas é um erro estatal recorrente e prejudicial a sociedade. A Venezuela foi o primeiro país a tratar do tema e regulamentar legalmente a “violência obstétrica” como “apropriação do corpo das mulheres e do processo reprodutivo pelas equipes de saúde por tratamento desumano.”11 7SANTIAGO, Dayze Carvalho SOUZA Wanessa Kerlly VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: uma análise das consequências,2017m p, 149. 8CUNHA, Eliane, na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto em Minas Gerais, 2012, p.14. 9DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também) Editora UNESP, 2004, p. 12. 10FONEITE, Josmery; FEO, Alejandra; MERLO, Judith Toro. Grau de conhecimento da violência obstétrica pelo pessoal de saúde (Tradução Nossa) Original: Grado de conocimiento de violencia obstétrica por el personal de salud. 2012. 11DINIZ, Debora, CARINO, Giselle, Violência obstétrica, uma forma de desumanização das mulheres.2019. 11 A violência verbal (ameaças, xingamentos e humilhações), o abandono, a falta de privacidade, exames de toque vaginal abusivos, episiotomias de rotina e mutiladoras, separação mãe-bebê, restrições de acompanhante, o uso abusivo de medicamentos, manobra de Kristeller, dentre outras práticas que agridem a parturiente, mostram que a violência contra a mulher extrapola o ambiente doméstico, escopo da Lei Maria da Penha. Enraizada na cultura médica brasileira, a violência institucional contra a mulher em período perinatal é reproduzida nos hospitais, inclusive nos universitários, e apreendida pelos profissionais em formação como algo corriqueiro, cotidiano e normal.12 Esse tipo de violência de gênero não é seletivo com as mulheres, todas estão suscetíveis a passar por essa situação, independente de idade, raça, estado civil, ou classe social, basta estar em seu período gestacional que a probabilidade da mesma acontecer existe. Alguns Países já avançaram em legislações que criminalizam essa prática. Na Legislação da Argentina a Lei 26.485/2009, define violência obstétrica como: “aquela exercida pelos profissionais da saúde caracterizando-se pela apropriação do corpo e dos processos reprodutivos da mulher, através de um tratamento desumanizado, abuso da medicação e patologização dos processos naturais.”13 Os países que tipificam essa conduta o fizeram por perceber a gravidade e a necessidade de garantir os direitos da mulher que são gravemente lesionadas tanto no âmbito moral quanto fisicamente. Logo nota-se a necessidade dessa tipificação ser inserida no Código Penal Brasileiro, para dar o amparo necessário mediante uma lei específica que restitua seus direitos. A Lei do acompanhante foi uma grande conquista das parturientes, o que garante a elas o acesso de uma pessoa que a acompanhe durante todo o processo para garantir que nada de errado ocorra com ela ou com a criança, mas muitas vezes mesmo estando expresso em lei sua obrigatoriedade, muitos hospitais não o obedecem. No Paraná, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) criou a subcomissão de Violência Obstétrica para coletar informações e depoimentos de mulheres que sofreram abusos durante o parto”. A ideia é dialogar com o Conselho Regional de Medicina (CRM) e com o Ministério Público para desenvolver ações de conscientização e fiscalização. A coordenadora da subcomissão, a advogada Sabrina Ferraz, explica que o mais difícil é compreender a violência obstétrica. "Ela é silenciosa e institucional, e, por isso, acaba naturalizada e banalizada. As vítimas não se percebem como vítimas. As causas da violência se confundem com a dor do 12CUNHA, Eliane, Na denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa – Violência no Parto em Minas Gerais, 2012, p.10. 13LEI DE PROTEÇÃO INTEGRAL AS MULHERES, lei nº 26.485 abril 1 de 2009, (Tradução nossa) No Original: LEY DE PROTECCION INTEGRAL A LAS MUJERES, Ley nº 26.485, Ley de protección integral para prevenir, sancionar y erradicar la violencia contra las mujeres en los ámbitos en que desarrollen sus relaciones interpersonales, Sancionada: Marzo 11 de 2009, promulgada de Hecho: abril 1 de 2009. 12 trabalho de parto, pois vivemos uma cultura de que a dor é componente do parto. Mas não é.14 Outro problema comumente citado pelas mulheres que são vítimas da violência obstétrica é o descumprimento da lei 11.108/2005 - Lei do acompanhante, que apesar de estar em vigor é descumprida principalmente no âmbito da saúde pública.15 1.1 Origem da violência obstétrica A violência obstétrica teve sua origem a partir do momento em que as mulheres deixaram de ter seus filhos em casa com o auxílio de parteiras e passaram a ser assistidas nas instituições hospitalares. A mulher tornou-se um objeto de mercado e propriedade da instituição, os procedimentos realizados têm interesse e visão lucrativa tanto dos médicos como também dos hospitais, principalmente os particulares, como é o caso das cesarianas que sãoeconomicamente mais viáveis.16 Percebe-se desde então que não se trata de um acontecimento recente, pelo contrário, desde que a mulher deixou de ser atendida pela figura da parteira ela vem sendo submetida a estes acontecimentos. À medida que a sociedade se tornou mais e mais preocupada com as vidas de seus membros — pelo bem da uniformidade moral, da prosperidade econômica; da segurança nacional ou da higiene e da saúde — ela se tornou cada vez mais preocupada com o disciplinamento dos corpos e com as vidas sexuais dos indivíduos. Isso deu lugar a métodos intrincados de administração e de gerenciamento; a um florescimento de ansiedades morais, médicas, higiênicas, legais; e a intervenções voltadas ao bem-estar ou ao escrutínio científico, todas planejadas para compreender o eu através da compreensão e da regulação do comportamento sexual.17 Até o século XVIII, o parto era considerado um ritual entre as mulheres e não um ato médico, já que o momento ficava a cargo das parteiras. Já no final do século XIX, os obstetras passaram a transformar o parto em um evento controlado, o que só se efetivou na metade do século XX, no qual o cenário do parto domiciliar foi se alterando e sendo extinto na 14POMPEO, Carolina, especial para a Gazeta do Povo "Uma em cada quatro mulheres sofre violência obstétrica no Brasil". 2014. 15MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p. 50. 16REZENDE, Carolina Neiva Domingues Vieira de. Violência obstétrica: uma ofensa a direitos humanos ainda não reconhecida legalmente no brasil.2014, p. 45. 17WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade, In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 36. 13 sociedade. A criação de hospitais específicos para a realização do parto – as maternidades – foi um evento do fim do século XIX.18 Desde épocas passadas práticas abusivas em relação ao corpo da mulher são tratadas como comuns no âmbito social, ainda assim, juridicamente falando o tema é de fato recente. A construção de maternidades tinha como objetivo criar tanto um espaço de ensino e prática da medicina como um lugar onde as mulheres sentissem segurança para parir. No entanto, essa segurança para parir não tem sido uma realidade no Brasil. Isso porque, de acordo com a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto.19 O índice colhido na referida pesquisa é um índice alto comparado ao longo de um dia de partos em uma maternidade, visto que muitos partos são realizados em um único dia, mas não pode ser deixado de mencionar que a medicina tem avançado em medidas que buscam o maior conforto para a mulher grávida em seus atendimentos, maus comportamentos não devem ser generalizados. Esse número, provavelmente, é ainda maior. Isso porque a maior parte das mulheres não tem conhecimento dos seus direitos e não sabem ao certo o que pode ou não, ser considerada uma violência obstétrica. É considerada violência obstétrica desde a enfermeira que pede para a mulher não gritar na hora do parto normal até o médico que faz uma episiotomia indiscriminada – o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê.20 Essa prática é “comum” até os dias atuais, na maioria das vezes a mulher só toma conhecimento dessa lesão no momento de sua recuperação. Apesar de a Organização Mundial da Saúde - OMS determinar critérios e cautela para a adoção do procedimento, médicos fazem a prática de maneira rotineira. A obstetra Ana Cristina Duarte, do Grupo de Maternidade Ativa - GAMA, estima que entre 80% a 90% das brasileiras são cortadas durante o parto normal. “Sabemos que há evidências de que não é 18ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 2015, p. 641. 19HAMERMÜLLER Amanda, UCHÔA Thayse. Violência obstétrica atinge 1 em cada 4 gestantes no Brasil.2019. 20ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 2015, p. 641. 14 necessário mais cortar as mulheres. As mulheres são cortadas sem o consentimento delas e isso é uma violência obstétrica”, comenta.21 Com efeito, desde a década de 1950 há debates a respeito do tratamento recebido pela mulher durante o parto. Quando existe a má qualidade da assistência à saúde no parto, violando direitos fundamentais, surge a prática da violência obstétrica. O termo violência obstétrico causa muita polêmica, sendo, através dos anos, utilizadas outras expressões para simbolizar o mesmo fenômeno, tentando diluir a força deste termo, quais sejam, direitos humanos no parto, prevenção e eliminação de abusos no parto, maus-tratos no parto ou violência no parto. Independentemente do termo utilizado é preciso dar visibilidade a esta forma de violência contra a mulher.22 As ações médicas devem respeitar a decisão dos pacientes e valorizar a vida. Elas são baseadas em princípios, leis e fundamentos norteados pelo Código de Ética Médica.Todos os procedimentos em qualquer hipótese devem ser necessários, sem qualquer manobra que venha a facilitar ou até mesmo adiantar um parto, isso vem a ser prejudicial ao corpo da mulher que acaba passando por dores desnecessárias. Todavia, quando os médicos realizam procedimentos sem a expressa opinião das pacientes, com intervenções desnecessárias ao processo de parto, desrespeitam sua individualidade e as agridem com práticas que não reduzem os efeitos adversos ou indesejáveis das ações terapêuticas, violam esses princípios, sendo muitas vezes fator predisponente para aumentar os riscos da morbimortalidade materna e neonatal. Além disso, xingamentos, comentários abusivos, agressão física, tortura psicológica e discriminação racial e socioeconômica são relatados com frequência pelas mulheres agredidas. Procedimentos invasivos como a manobra de Kristeller, episiotomia, restrição da posição do parto e intervenções de verificação e aceleração do parto são classificados como Violência obstétrica.23 Assim, verifica-se o descumprimento das normas e princípios estabelecidos no Código de Ética Médica que rezam: 21ALVARENGA Sarah Pereira, KALIL José Helvécio, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: como o mito “parirás com dor” afeta a mulher brasileira. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, ago./dez. 2015, p. 642. 22PAES, Fabiana Dal'Mas Rocha, MP NO DEBATE, Estado tem o dever de prevenir e punir a violência obstétrica 2015, p.01. 23Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 15 Dos princípios fundamentais: II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. Capítulo V: Relação com Pacientes e Familiares É vedado ao médico: Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Art. 32. Deixarde usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar danos, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal. Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados. §1° Ocorrendo fatos que a seu critério prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder. §2° Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos seus familiares, o médico não abandonará o paciente por ser este portador de moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que para cuidados paliativos. Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá- lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. Art. 38. Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais.24 O atendimento desumanizado e degradante às gestantes no processo de parto faz com que a experiência seja traumática e negativa. A autonomia não é respeitada, visto que suas decisões e desejos, na maioria dos casos, são deixados de lado por meio de práticas que não maximizam os benefícios, de forma a não exercer o consagrado “primum non nocere” (primeiro não prejudicar), e ainda o descaso e a impaciência fazem com que o profissional não respeite o pudor, nem mesmo a individualidade de cada paciente, não entendendo suas dificuldades e limitações.25 Frente a isso, o médico deve prestar integral assistência à paciente, esclarecendo suas dúvidas e de seus familiares, agindo com o máximo de zelo e melhor da sua capacidade profissional, priorizando o bem-estar da parturiente e a valorização da vida.26 24BRASIL. Código de Ética Médica. 2010. Disponível em: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=category&id=9&Itemid=122. Acesso em 17 de junho. 2020. 25Ministério da Saúde. (2014). Cadernos Humaniza SUS - Volume 4: Humanização do parto e do nascimento. Brasília, DF: UECE/ Ministério da Saúde. Disponível: http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/ caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf. Acesso: 26 de maio de 2020. 26Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 16 1.2 Violência obstétrica no mundo Apesar de ser considerado um tema "recente" ou um "novo" campo de estudo, o sofrimento das mulheres com a assistência ao parto é registrada em diferentes momentos históricos, ainda que sob denominações diversas, encontrando respostas em distintos contextos, e frequentemente tendo um impacto importante na mudança das práticas de cuidado no ciclo gravídico-puerperal.27 Pode-se observar que a Organização Mundial de Saúde concorda, No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não-discriminação. Esta declaração convoca maior ação, diálogo, pesquisa e mobilização sobre este importante tema de saúde pública e direitos humanos.28 Por exemplo, no final da década de 1950, narrativas de violência no parto rompeu a barreira do silêncio nos EUA, quando a Ladies Home Journal, uma revista para donas de casa, publicou a matéria "Crueldade nas Maternidades". O texto descrevia como tortura o tratamento recebido pelas parturientes, submetidas ao sono crepuscular (twilight sleep, uma combinação de morfina e escopolamina), que produzia sedação profunda, não raramente acompanhada de agitação psicomotora e eventuais alucinações. Os profissionais colocavam algemas e amarras nos pés e mãos das pacientes para que elas não caíssem do leito e com frequência as mulheres no pós-parto tinham hematomas pelo corpo e lesões nos pulsos.29 Segundo a autora, essa não é uma recente questão, a mesma vem sendo relatada ao longo de anos, os tipos de ações vêm apenas sendo “modernizadas” para se adequarem ao cenário atual. A matéria relata ainda as lesões decorrentes dos fórceps usados de rotina nos primeiros partos, em mulheres desacordadas. Ela teve grande repercussão, com uma inundação de cartas à revista e a outros meios, com depoimentos semelhantes, motivando importantes 27DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.02. 28ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde, 2015. 29DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.02. 17 mudanças nas rotinas de assistência e a criação da Sociedade Americana de Psico-profilaxia em Obstetrícia.30 No Reino Unido, houve um movimento em 1958, quando foi criada uma Sociedade para Prevenção da Crueldade contra as Grávidas. A carta que convoca a fundação dessa sociedade, publicada originalmente no jornal Guardian, afirma: Nos hospitais, as mulheres têm que enfrentar a solidão, a falta de simpatia, a falta de privacidade, a falta de consideração, a comida ruim, o reduzido horário da visita, a insensibilidade, a ignorância, a privação de sono, a impossibilidade de descansar, a falta de acesso ao bebê, rotinas estupidamente rígidas, grosseria [...] as maternidades são muitas vezes lugares infelizes, com as memórias de experiências infelizes.31 Teóricas feministas como Adrienne Rich elaboraram sua revolta com a experiência vivida pelas mulheres de alta renda e educação na década de 1950: "Parimos em hospitais [...] negligentemente drogadas e amarradas contra nossa vontade, [...] nossos filhos retirados de nós até que outros especialistas nos digam quando podemos abraçar nosso recém-nascido.” As edições do clássico Ourbodies, Ourselves, assim como outros livros feministas das décadas de 1960 a 1980, reforçaram estas críticas com extensas narrativas, contribuindo para a sensibilização e inspiração de gerações de profissionais e ativistas no campo, denunciando a irracionalidade das práticas.32 É conhecido que a prevalência de cesáreas no Brasil é a mais alta do mundo, ficando próxima dos valores da China (46,2%), Turquia (42,7%), México (42%), Itália (38,4%) e Estados Unidos (32,3%), e muito superior à Inglaterra (23,7%), França (20%) e Finlândia (15,7%). Rebelo et al, cita que a proporção de cesarianas apresenta distribuição desigual no país, sendo maior nas mulheres com maior idade, escolaridade, primíparas, com assistênciapré- natal em serviços privados e residentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste.33 30Ibidem, p. 02. 31Ibidem, p. 02. 32Ibidem, p. 05. 33Rebelo F, Rocha CMM, Cortes TR, Dutra CL, Kac G. High cesarean prevalence in a ational population-based study in Brazil: the role of private practice. Acta Obstet Gynecol Scand 2010. Disponível: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2014001300017&script=sci_arttext. Acesso: 30 de maio de 2020. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2014001300017&script=sci_arttext 18 1.3 Violência obstétrica no brasil O tema já vinha sendo abordado no Brasil em trabalhos feministas, na academia e fora dela. O pioneiro Espelho de Vênus, do Grupo Ceres, na década de 1980, fazia uma etnografia da experiência feminina, descrevendo explicitamente o parto institucionalizado como uma vivência violenta.34 Esse grupo de pesquisadoras ativistas publicou depoimentos demonstrando que: A violência institucional nas maternidades públicas brasileiras é determinada, de certa forma, por uma violência de gênero, transformando diferenças, como ser pobre e mulher, em desigualdades. Isso resulta em uma relação hierárquica na qual as pacientes são vistas e tratadas como objetos de intervenção profissional, deixando de lado sua autonomia de decidir os procedimentos aos quais querem ser submetidas.35 Uma pesquisa realizada pelo SESC e pela Fundação Perseu Abramo, “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em agosto de 2010, ouviu-se a opinião de 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 unidades da federação, cobrindo as áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. Foi relatado que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto.36 Em São Paulo, outra pesquisa realizada em maternidades públicas, com 21 puérperas, revelou que algumas entrevistadas relataram e reconheceram práticas discriminatórias e grosseiras por parte da equipe durante a assistência nas maternidades. Segundo uma das puérperas a enfermeira teria ordenado que ficasse calada, sobre a ameaça de que poderia ser “judiada”, já que isso era comum de acontecer com grávidas que gritavam muito. 37 No entanto, as outras gestantes alegaram que a via cirúrgica era melhor devido à possibilidade de se planejar gestação, apesar de não terem tido o direito de escolher como preferiam que fosse o parto, apenas foram informadas sobre o dia do nascimento de seus filhos.38 34DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.03. 35SOUZA, A.S.R.; COSTA, A.A.R.; COUTINHO, I.; NORONHA, N. C.; AMORIM, M.M.R. Indução do trabalho de parto: conceitos e particularidades. FEMINA, abril, vol. 38, nº 4, 2010. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf. Acesso: 01 de junho de 2020, p. 59. 36PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 103. 37AGUIAR, JM, D’oliveira AFPL, Schraiber LB. Violência institucional, autoridade médica e poder nas maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde,2010. 38ANDRADE Briena, AGGIO Cristiane, Violência obstétrica atinge 1 em cada 4 gestantes no Brasil.2014. http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a003.pdf 19 O Brasil é um país que apresenta altos índices de cesárea. Segundo Pereira que cita uma pesquisa do Ministério da Saúde, que em 2010, aproximadamente 52% dos partos realizados foram cirúrgicos e essa taxa cresce a cada dia, sendo mais prevalente na rede privada.39 No entanto, pesquisas mostram que a maioria das mulheres que realizam cesáreas não participam do processo de decisão de qual procedimento será utilizado, e ainda afirmam ter preferência pelo parto normal.40 Muitas são as queixas relatadas sobre os efeitos desse procedimento cirúrgico e sua inadequada realização, e esse fato o torna uma violência contra as mulheres quando os recém nascidos são afastados de suas mães após o procedimento, impossibilitando o estabelecimento de um vínculo mãe-filho após o parto, além de que a anestesia é insuficiente em alguns casos, o que torna o processo em algo traumático para a mulher. Vale lembrar a existência de outras complicações que podem levar a morte tanto da mulher quando da criança.41 Não é apenas na relação sexual que a violência aparece marcando a trajetória existencial da mulher. Também na relação médico-paciente, ainda uma vez o desconhecimento de sua fisiologia é acionado para explicar os sentimentos de desamparo e desalento com que a mulher assiste seu corpo ser manipulado quando recorre à medicina nos momentos mais significativos da sua vida: a contracepção, o parto, o aborto.42 O sistema jurídico brasileiro não possui legislação específica sobre a temática “violência obstétrica”, apenas abordagem genérica. A pesquisa-ação coordenada pela Prefeitura de São Paulo, chamada "Violência - Um Olhar sobre a Cidade", mostrava que o atendimento aos partos era descrito como violento e usuárias relatavam que muitas vezes funcionários tinham posturas agressivas e intimidadoras, frequentemente humilhavam as pacientes e não respeitavam sua dor.43 A violência obstétrica já era tema também das políticas de saúde ao final da década de 1980: o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), por exemplo, reconhecia o tratamento impessoal e muitas vezes agressivo da atenção à saúde das mulheres. Porém, ainda que o tema estivesse na pauta feminista e mesmo na de políticas públicas, foi relativamente 39PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 105. 40MELLER FO, SCHAFER AA. Fatores associados ao tipo de parto em mulheres brasileiras,2006, p, 02. 41BARBOSA GP, GIFFIN K, Ângulo-Tuesta A, Gama AS, Chor D, D'orsi E, et al. Parto cesáreo: Quem o deseja? Em quais circunstâncias? 2003, p. 106. 42DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.05. 43Ibidem, p. 05. 20 negligenciado, diante da resistência dos profissionais e de outras questões urgentes na agenda dos movimentos, e do problema da falta de acesso das mulheres pobres a serviços essenciais.44 Mesmo assim, a violência obstétrica esteve presente em iniciativas como as capacitações para o atendimento a mulheres vítimas de violência, como nos cursos promovidos a partir de 1993 pelo Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde e pelo Departamento de Medicina Preventiva da USP. A partir deste projeto, foi publicado um pequeno manual sobre o tema. Já neste século, numerosos estudos no país documentam como são frequentes as atitudes discriminatórias e desumanas, nos setores privado e público.45 O interesse acadêmico se ampliou e a produção dos últimos anos inclui pesquisas sobre a formação dos profissionais e, mais recentemente, dados de base populacional, como a pesquisa de Venturi e colaboradores. Este último trabalho, a segunda rodada da pesquisa nacional "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado", contribuiu de forma inédita para a visibilidade do tema da violência obstétrica, despertando surpreendenteinteresse da grande mídia. Segundo o estudo, cerca de um quarto das mulheres que haviam passado pelo parto relatou alguma forma de violência na assistência, o que também foi referido por cerca da metade daquelas que passaram por um aborto. São evidências mais do que eloquentes quanto à magnitude e importância do tema na saúde materna e na saúde pública brasileira.46 No Brasil, como em outros países da América Latina, o termo "violência obstétrica" é utilizado para descrever as diversas formas de violência ocorridas na assistência à gravidez, ao parto, ao pós-parto e ao abortamento. Outros descritores também são usados para o mesmo fenômeno, como: violência de gênero no parto e aborto, violência no parto, abuso obstétrico, violência institucional de gênero no parto e aborto, desrespeito e abuso, crueldade no parto, assistência desumana/desumanizada, violações dos Direitos Humanos das mulheres no parto, abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto, entre outros.47 Em 1993, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento em sua carta de fundação, parte do reconhecimento das "circunstâncias da violência e constrangimento em que se dá a assistência". No entanto, a organização deliberadamente decidiu não falar abertamente sobre violência, favorecendo termos como "humanização do parto", "a promoção dos direitos 44DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.05. 45Ibidem, p. 06. 46Ibidem, p. 06. 47Ibidem, p. 07. 21 humanos das mulheres", temendo uma reação hostil dos profissionais sob a acusação de violência.48 Entende-se por violência obstétrica a apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres por profissional de saúde que se expresse por meio de relações desumanizadoras, de abuso de medicalização e de patologização dos processos naturais, resultando em perda de autonomia e capacidade de decidir livremente sobre seu corpo e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres.49 Nos últimos anos, diversos autores propuseram tipificações e classificações sobre a violência obstétrica, inclusive a Organização Mundial de Saúde - OMS, mais recentemente. Entre diversas tipificações da violência obstétrica, a síntese de Bowser e Hill sobre as formas de abuso e desrespeito tem se mostrado bastante explicativa, enumerando as principais categorias verificáveis nas instituições de saúde.50 1.3.1 Definição A definição de Violência obstétrica está em andamento, pois, com a evolução humana vão se descobrindo o que pode ou não ser melhorado em relação a saúde do corpo humano, ao se tratar do gênero feminino onde atualmente está sendo exigido o devido respeito e cuidado com as mulheres. Esse tema vem se tornando mais complexo no sentido de definição do mesmo, porém, será feito o possível para que as práticas abusivas em relação a mulher diminuam cada vez mais. Enquadram-se no conceito de violência obstétrica todos os atos praticados no corpo da mulher e do bebê sem o consentimento da mulher, além de procedimentos já superados pela medicina, porém ainda muito utilizados, principalmente no atendimento realizado pelo SUS, como a episiotomia (corte na região do períneo) e a manobra de Kristeler (quando a barriga é empurrada por enfermeiras), o enema (lavagem intestinal) uso da ocitocina sintética (hormônio acelerador das contrações), da anestesia, do fórceps, o jejum de comida e água, exames de toque 48DINIZ, Simone Grilo et al.(2015) Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua prevenção. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-2822015000300019&lng=pt&nrm=iso>.. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.106080. Acesso em 30 de maio de 2020, p.07. 49Ibidem, p. 08. 50Ibidem, p. 09. 22 frequentes (usados para conferir a dilatação e a descida do bebê), o rompimento artificial da bolsa e a posição horizontal da mulher.51 Essa violência de gênero abrange três momentos distintos do atendimento no serviço de saúde, quais sejam antes do parto, o próprio parto e após o parto. Nessa ótica existe a participação da mulher no processo decisório durante esses três momentos, há estudos que demonstram que o sentimento de não ser informada e não ter tido a oportunidade de participar nas decisões foram associados à insatisfação. De forma genérica a violência obstétrica decorre de procedimentos e condutas que desrespeitem e agridam a mulher na gestação, parto, nascimento ou pós-parto.52 Na prática, se considera violência obstétrica os atos agressivos tanto de forma psicológica quanto física, verbal, simbólica e/ou sexual, além de negligência, discriminação e/ou condutas excessivas ou desnecessárias ou desaconselhadas, muitas vezes prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas. Essas violentas práticas com gestantes e mães que estão dando à luz também podem consistir em rotinas e normas que já se sabe que são desnecessárias, mas são feitas mesmo que não respeitem os seus corpos.53 Essas práticas submetem mulheres a normas e rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e os seus ritmos naturais e as impedem de exercer seu protagonismo.54 A autora Duarte elabora de forma bem detalhada a descrição das seguintes condutas e atos de violência obstétrica: Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, familiar de seu círculo social; tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido; tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, tratando-a como incapaz; submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas; impedir a mulher de se comunicar com o "mundo exterior", tirando-lhe a liberdade de telefonar, usar celular, caminhar até a sala de espera ETC; fazer graça ou recriminar por qualquer característica ou ato físico como por exemplo obesidade, pelos, estrias, evacuação e outros; fazer graça ou recriminar por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter medo, vergonha etc.; fazer qualquer procedimento sem explicar antes o que é, por que está sendo oferecido e acima de tudo, SEM PEDIR PERMISSÃO; submeter a mulher a mais de um exame de toque (ainda assim quando estritamente necessário), especialmente por mais de um profissional, e sem o seu consentimento mesmo que 51MARIANI E NETO, Violência obstétrica como violência de gênero institucionalizada: Breves considerações a partir dos Direitos Humanos e do respeito às mulheres, 2016, p. 02. 52CIELLO, Cariny; CARVALHO, Cátia; KONDO, Cristiane; DELAGE, Deborah; Niy, Denise; WERNER, Lara; SANTOS, Sylvana Karla (2012). Violência Obstétrica: Parirás com Dor. Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência contra as Mulheres. Brasil.2012, p. 67. 53TINÉ, Luiza, “você sabe o que é violência obstétrica? 2017, p. 03. 54Ibidem, p. 04. https://www.minhavida.com.br/familia/tudo-sobre/34875-violencia-obstetrica 23 para ensino e treinamento de alunos, dar hormônios para tornar mais rápido e intenso um trabalho de parto que está evoluindo normalmente; cortara vagina (episiotomia) da mulher quando não há necessidade (discute-se a real necessidade em não mais que 5 a 10% dos partos); dar um ponto na sutura final da vagina de forma a deixá-la menor e mais apertada para aumentar o prazer do cônjuge ("ponto do marido"); subir na barriga da mulher para expulsar o feto. Submeter a mulher e/ou o bebê a procedimentos feitos exclusivamente para treinar estudantes e residentes; permitir a entrada de pessoas estranhas ao atendimento para "ver o parto", quer sejam estudantes, residentes ou profissionais de saúde, principalmente sem o consentimento prévio da mulher e de seu acompanhante com a chance clara e justa de dizer não, fazer uma mulher acreditar que precisa de uma cesariana quando ela não precisa, utilizando de riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados (o bebê é grande, a bacia é pequena, o cordão está enrolado); submeter uma mulher a uma cesariana desnecessária, sem a devida explicação dos riscos que ela e seu bebê estão correndo (complicações da cesárea, da gravidez subsequente, risco de prematuridade do bebê, complicações a médio e longo prazo para mãe e bebê); dar bronca, ameaçar, chantagear ou cometer assédio moral contra qualquer mulher/casal por qualquer decisão que tenha(m) tomado, quando essa decisão for contra as crenças, a fé ou os valores morais de qualquer pessoa da equipe, por exemplo: não ter feito ou feito inadequadamente o pré-natal, ter muitos filhos, ser mãe jovem (ou o contrário), ter tido ou tentado um parto em casa, ter tido ou tentado um parto desassistido, ter tentado ou efetuado um aborto, ter atrasado a ida ao hospital, não ter informado qualquer dado, seja intencional, seja involuntariamente; submeter bebês saudáveis a aspiração de rotina, injeções e procedimentos na primeira hora de vida, antes que tenham sido colocados em contato pele a pele e de terem tido a chance de mamar; separar bebês saudáveis de suas mães sem necessidade clínica.55 Como pode-se perceber a violência obstétrica normalmente acontece quando os interesses do profissionais de saúde ou até das instituições são colocados acima do direito da paciente, desrespeitando aos direitos da mulher, essa violência as vezes e silenciosa, e acaba passando despercebida, pois as mulheres no momento da gestação estão vulneráveis, mais fracas, e ficam caladas, inúmeras mulheres não sabem dos seus direitos, e nem sabem que estão passando pela violência, sabe-se que a dor do parto e certa, e existe, mas que o sofrimento do desrespeito não. 1.3.2 Práticas consideradas abusivas Um levantamento encomendado pela Organização Mundial da Saúde - OMS com a participação de 34 países, onde foi possível identificar os sete tipos de violência obstétrica e maus-tratos que podem acontecer durante o parto. Que são: abuso físico bater ou beliscar, por exemplo; o abuso sexual; abuso verbal linguagem rude ou dura; discriminação com base em idade, etnia, classe social ou condições médicas; o não cumprimento dos padrões profissionais de cuidado por exemplo, negligência durante o parto; mau relacionamento entre a gestante e a 55DUARTE. Ana Cristina, Violência obstétrica = violência contra a mulher e a criança,2013. 24 equipe falta de comunicação, falta de cuidado e retirada da autonomia e más condições do sistema de saúde a falta de recursos.56 Diante disso o autor Martins explica como devreia ser o momento sublime que é o parto. O momento do parto constitui um momento único na vida da mulher, é um momento recheado de grandes emoções e transformações. Nesse momento, a mulher deve ser acolhida e protegida pelos profissionais que a assiste. No entanto, em muitas maternidades do Brasil, não é exatamente isso que acontece, as mulheres sofrem no momento do parto por serem agredidas, por não terem a sua autonomia respeitada, e o momento que deveria ser único e sublime, é muitas vezes, traumático a ponto de muitas mulheres não quererem engravidar mais. O estudo objetivou identificar a violência obstétrica nas interfaces da assistência à saúde, além de avaliar o conhecimento das mulheres acerca do tema abordado, na tentativa de buscar ações e medidas para humanizar o parto, como forma de erradicar a violência obstétrica. Espera-se, com esse trabalho, conscientizar as mulheres a respeito da violência obstétrica, ajudando-as a identificar atos que possam ser considerados violência, bem como sensibilizar os profissionais a adotarem medidas para humanizar o parto, para proporcionar a essas mulheres o maior conforto possível durante o trabalho de parto e parto.57 Segundo um dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres existem alguns tipos de ações que configuram a violência obstétrica: 1) Violência obstétrica física: quando são realizadas práticas invasivas, administra-se medicações não justificadas pelo estado de saúde da parturiente ou de quem irá nascer, ou quando não se respeita o tempo ou as possibilidades de parto biológico; 2) Violência obstétrica psíquica: refere-se ao tratamento desumanizado, grosseiro, humilhação e discriminação. Além disso, cabe nesta classe a omissão de informações sobre a evolução do parto; 3) Violência obstétrica sexual: toda ação imposta à mulher que viole sua intimidade ou pudor, incidindo sobre seu senso de integridade sexual e reprodutiva, podendo ter acesso ou não aos órgãos sexuais e partes íntimas do seu corpo. 58 Outro fator que deve ser discutido e as situações que suprimem o bem-estar da parturiente como a indução à tricotomia (raspagem dos pelos pubianos); a lavagem intestinal; exame de toque vaginal (realizado várias vezes e por profissionais diferentes); a imobilização; a posição horizontal durante o trabalho de parto; utilização do soro com o objetivo de puncionar a veia para facilitar a posterior administração de medicamento; administração de ocitocina, 56ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde, 2015. 57MARTINS, Fabiana Lopes, SILVA, Bruno de Oliveira, VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: Uma expressão nova para um problema histórico, Revista Saúde em Foco – Edição nº 11 – Ano: 2019, p. 23. 58Rede Parto do Princípio. (2012). Violência Obstétrica “Parirás com dor” - Dossiê elaborado para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível: https://www.senado.gov.br/ comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367. Pdf. Acesso: 10 de maio de 2020, p. 102. 25 realizada para acelerar o trabalho de parto; episiotomia ´que é uma incisão cirúrgica na vulva, para diminuir o trauma dos tecidos do canal do parto e ajudar na saída do bebê.59 A episiotomia, um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns em obstetrícia é, no entanto, realizado muitas vezes sem qualquer consentimento específico da paciente. É uma intervenção ainda realizada rotineiramente e os profissionais de saúde, presos a conceitos e práticas que não contemplam evidências científicas atuais, insistem na realização deste procedimento, violando, assim, os direitos das mulheres. Como qualquer ato cirúrgico, essa prática tem também algumas complicações. Os riscos associados são, entre outros, a extensão da lesão, hemorragia significativa, dor no pós-parto, edema, infecções, hematoma, dispareunia, fístulas retovaginais e a endometriose da episiorrafia, embora este último seja raro.60 A manobra de Kristeller se enquadra em violência obstétrica e consiste em uma manobra na qual é exercida pressão sobre a porção superior do útero, no intuito de fazer o bebê sair mais rápido. Porém, essa tentativa de agilizar o processo pode trazer prejuízo tanto para a mãe quanto para o bebê. A mãe pode fraturar as costelas etambém pode haver descolamento da placenta, já o bebê pode sofrer traumas encefálicos.61 Essa manobra ainda é realizada com frequência na hora do parto, assim como outras intervenções inapropriadas realizadas em cadeia - condução para mesa de parto antes da dilatação completa, imposição de posição ginecológica prejudicial para a dinâmica do parto e oxigenação do bebê, comandos de puxo, mudança de ambiente, entre outros.62 Salienta-se que os próprios profissionais de saúde reconhecem que a manobra de Kristeller é proscrita, porém continuam a realizá-la, apesar de não a registrarem em prontuário. O tratamento desumanizado para com as mulheres suscita questionamento. Por que mulheres são constantemente vítimas de profissionais de saúde?63 Um artigo Brasileiro publicado pela Revista cientifica VER RENE intitulado Violência obstétrica na visão de enfermeiras obstetras exemplifica de forma clara e precisa a forma como essas violências ocorrem no meio hospitalar de acordo com a função de cada 59REIS AE, PATRÍCIO ZM. Aplicação das ações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o parto humanizado em um hospital de Santa Catarina 2015. 60BORGES, Bárbara Bettencourt; Serrano, Fátima; Pereira, Fernanda (2003). Episiotomia: Uso generalizado versus selectivo. Acta Médica Portuguesa,2003, p. 02. 61BALOGH, G. Mulheres Denunciam Violência Obstétrica; saiba se você foi vítima. Fórum Justiça. 2014,p.03. 62BORGES, Bárbara Bettencourt; Serrano, Fátima; Pereira, Fernanda (2003). Episiotomia: Uso generalizado versus selectivo. Acta Médica Portuguesa,2003, p. 02 63MENEZES, Daniela C.S.; LEITE, Iúri da C.; LEAL, Maria do Carmo; SCHRAMM, Joyce Mensdes. Avaliação da peregrinação anteparto numa amostra de puérperas no Município do Rio de Janeiro, Brasil, 1999/2001. Cad. Saúde Pública, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n3/10.pdf. Acesso: 01 de julho de 2020. http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n3/10.pdf 26 membro da equipe. Por meio desse relato de experiência de cinco enfermeiras obstétricas experientes e atuantes, considera-se que há inúmeras violências obstétricas, presenciadas e vivenciadas por elas em suas trajetórias profissionais e que se faz necessário mudanças no modelo da assistência obstétrica conforme anexo 1. 27 2.VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O DIREITO O sistema jurídico brasileiro já possui legislação genérica sobre violência obstétrica, embora não haja Lei específica. Contudo, existe o Projeto de Lei 7.633/2014, em trâmite no Congresso Nacional, que dispõe sobre as diretrizes e os princípios inerentes aos direitos da mulher grávida, pré-parto e pós parto e a erradicação desse ato. A legislação nacional brasileira contempla a proteção da mulher quanto à prática de violência obstétrica. Alguns casos de violência obstétrica são definidos como crimes tais como homicídio, lesão corporal, omissão de socorro e crimes contra a honra. A Constituição Federal de 1998 contém o princípio da igualdade, e dispõe sobre o direito à plena assistência à saúde. A Lei Maior enuncia de forma original o dever do Estado de coibir a violência contra as mulheres, incluindo, portanto, o dever de prevenir e punir a violência obstétrica. Em 1995, o Brasil ratificou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará). A Convenção destaca que a violência contra a mulher constitui grave violação aos direitos humanos e limita, absoluta ou parcialmente, o exercício dos demais direitos. Prevê essa convenção um importante catálogo de direitos a serem assegurados às mulheres, com a finalidade de que tenham uma vida livre de violência, não apenas no âmbito público, mas também privado. Consagra, portanto o dever do Brasil como Estado-parte, para que o mesmo adote políticas destinadas a prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher.64 As mulheres tem pleno direito à proteção no parto e de não serem vítimas de nenhuma forma de violência ou discriminação. A Convenção Belém do Pará determina em seu artigo 6º o seguinte: “O direito de toda mulher a ser livre de violência abrange, entre outros: o direito da mulher a ser livre de todas as formas de discriminação”65 Durante todo esse momento de gestação até o parto as mulheres possuem direitos que devem ser respeitados para que se tenha um atendimento integral e de qualidade. Assim, o Ministério da Saúde possui políticas que visam garantir os direitos sexuais, de cidadania e reprodutivos das mulheres, a fim de que elas conheçam seus direitos para que possam exigi-los e se prevenirem de abusos e desrespeito contra a sua dignidade. 64PIOVESAN, Flavia. Combate a cultura da violência, Violência contra a Mulher, O Globo,2017. 65BRASIL. Convenção Belém do Pará Disponível: http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm. Acesso: 30 de maio de 2020. http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm 28 É direito das usuárias dos serviços de saúde receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre as hipóteses diagnósticas, dos diagnósticos realizados e das ações terapêuticas, riscos, benefícios e inconveniências das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas, bem como direito ao planejamento familiar e a receber informações como métodos e técnicas para regulação da fecundidade ou prevenção da gravidez.66 A Agência Nacional de Saúde Suplementar, através da RN nº 36829, dispõe sobre o direito de acesso à informação das beneficiárias aos percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais, por operadora, por estabelecimento de saúde e por médico, e sobre a utilização do partograma, cartão da gestante e da carta de informação à gestante no âmbito da saúde suplementar.67 Além disso, a Lei Nº 11.108 de 7 de abril de 2005, obriga os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, ficam obrigados a deixar a presença, junto à parturiente, de 01 acompanhante, de sua indicação, durante todo o ato. As parturientes, ainda, devem ser submetidas a procedimentos com requisição prévia de sua opinião, evitando expô-las a sofrimentos desnecessários. O Brasil desenvolveu algumas políticas públicas, segundo Secretaria de política públicas para as mulheres - SPM, que visam um atendimento integral e de qualidade às mulheres durante a gestação, parto e puerpério de forma a desenvolver ações de prevenção e assistência à saúde.68 Diante da grande incidência de casos de violência obstétrica no Brasil, das mais diversas formas como já mencionado anteriormente, percebe-se que esses fatos vão muito além do descaso dos profissionais e falhas na realização de procedimentos, pois estes causam um impacto psicossocial marcante na vida das gestantes. No entanto, vale ressaltar as medidas a serem tomadas diante de uma situação de violência obstétrica. É notório a grande prevalência no Brasil, em seu sistema de saúde e embora seja mais explícita nos hospitais públicos, não há como descartar uma notável incidência na rede privada. São questionáveis os motivos pelos quais um médico ou qualquer outro profissional da saúde pratica atos de violência, porém é inegável que realizar vários partos cesáreas, por exemplo, é financeiramente mais interessante que realizar parto normal. Muitas vezes são 66DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também) Editora UNESP, 2004. 67PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 106. 68SEPM. Secretaria de política públicas para as mulheres Disponível: https://www.cfemea.org.br/plataforma25anos/_anos/2003.php?iframe=criacao_sepm. Acesso: 02 de junho de 2020.https://www.cfemea.org.br/plataforma25anos/_anos/2003.php?iframe=criacao_sepm 29 atitudes de profissionais da rede privada que fazem esse processo sem a permissão da mulher e sem esta apresentar uma gestação de risco, o que tornaria uma Cesária viável. Manobras como a de Kristeller, injeção de ocitocina, episiotomia e vários outros procedimentos realizados para acelerar o processo de parto são realizados de forma agressiva e não permitem o tempo fisiológico necessário. Esses métodos são muitas vezes frutos da intolerância e impaciência dos profissionais da saúde, uma vez que as maternidades no Brasil estão superlotadas e com infraestrutura bastante precária, além do déficit de profissionais obstetras e sua baixa remuneração no setor público.69 No entanto, a busca de serviços cada vez mais técnicos e novas evoluções deixam de lado uma formação médica humanizada e que valoriza e respeita a vida humana. Esse tipo de violência é negligenciado no ponto de vista penal, uma vez que não se encaixa nos tipos de lesões corporais a não há uma lei específica que puna essa violência. Já pelo Código de Ética Médica, as punições são desde advertência privada, até a cassação do direito de exercer a medicina. A respeito das punições jurídicas ou penais, quando existem, são de difícil apuração, pois é necessária perícia para se afirmar ou não se é preciso determinados procedimentos, além de escutar depoimentos de testemunhas que possam comprovar o que aconteceu dentro da sala de parto. Diante dessa dificuldade de comprovação dos atos de violência, deve-se investir em políticas que visem conscientizar a população, sobre os direitos das gestantes e os impactos que a violência obstétrica pode trazer para mãe e para a criança, buscando um parto cada vez mais humanizado. A fim de evitar uma maior incidência da violência obstétrica o Ministério da Saúde criou políticas que visam garantir os direitos das gestantes e fazer com que o parto seja humanizado e respeite a cidadania. Contudo, é necessário que as mulheres conheçam seus direitos, os exijam e denunciem quando não cumpridos. É imprescindível a formação de um profissional habilitado em prestar assistência integral de qualidade e de caráter mais humanizado.70 69PEREIRA, J. S. et al. Violência obstétrica: Ofensa à dignidade humana.2016, p. 106. 70BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência obstétrica. Brasília, DF, 2002. 30 2.1 Projeto de Lei nº 7.633/142 Trata-se de um assunto antigo, porém hodiernamente ainda há muita discussão em relação ao caráter lícito ou não dessa prática, o que reflete em um campo de pesquisa vasto, porém sem muitas conclusões.No Brasil existe um Projeto de lei proposto pelo então Deputado Jean Wyllys que trata sobre das diretrizes e dos princípios inerentes à grávida, antes, do parto, durante e após, e também do controle dos índices de cesarianas e das boas práticas obstétricas. O Projeto foi pensado pelo fato da relevância da temática e, ainda, na tentativa de coibir toda e qualquer violência de gênero, tratando da humanização da assistência à mulher e ao concepto, bem como de seus direitos no ciclo gravídico-puerperal, quer seja pela realidade mostrada pelos relatos de óbitos de parturientes e seus bebês, quer seja pela dificuldade de colocar-se efetivamente em prática uma política nacional atenta às recomendações e tratados internacionais dos quais o Brasil faz parte. O conceito dado pelo projeto de lei nº 7.633/142, do deputado Jean Wyllys: Art. 13 – Caracteriza-se a violência obstétrica como a apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos (as) profissionais de saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicalização e patologização dos processos naturais, que cause a perda da autonomia e capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres. Parágrafo único. Para efeitos da presente Lei, considera-se violência obstétrica todo ato praticado pelo (a) profissional da equipe de saúde que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes em trabalho de parto, em situação de abortamento e no pós-parto/puerpério.71 O também deputado Francisco Floriano dos democratas do Rio de Janeiro – RJ propôs em 2017 o projeto de Lei que nº 8.219, que trata da violência obstétrica sofrida pela mulher em trabalho de parto ou logo após. O Objetivo do Projeto de Lei nº8.219/2017, do deputado Francisco Floriano, in verbis: O objetivo desse Projeto de lei é impedir que a mulher em trabalho de parto ou logo em seguida sofra qualquer tipo de constrangimento ou tratamento vexatório por parte dos médicos e outros profissionais da saúde. No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas 71CÂMARA DOS DEPUTADOS Projeto de Lei nº 7.633/14, do deputado Jean Wyllys. 2014. Disponível: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=617546. Acesso; 02 d junho de 2020. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=617546 31 também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não discriminação. (BRASIL, 2017).72 Vale ressaltar que, de acordo com pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, de uma em cada quatro brasileira é vítima de violência obstétrica. No Brasil infelizmente existe a cultura de que a mulher tem que sofrer durante o parto e a gestação, senão “não é mãe o suficiente”. 73 É preciso atentar para a questão de que, a violência obstétrica traz em si uma discriminação de gênero e, como tal, deve ser combatida assim como vem sendo a violência doméstica através da aplicação da Lei Maria da Penha, a tipificação do crime de feminicídio no Código Penal e a declaração da OMS sobre violência obstétrica caminham no sentido de proteger a integridade física e a dignidade da mulher. Toda mulher tem direito ao melhor padrão atingível de saúde, o qual inclui o direito a um cuidado de saúde digno e respeitoso. Por ser de relevância social, peço o apoio dos nobres pares à aprovação deste Projeto de lei. 2.2 Lei estadual nº 17.097/2017 de Santa Catarina A proposta foi apresentada pela Deputada Federal Ângela Albino (PCdoB), quando esta era representante na Assembleia Legislativa do Estado. Publicada na edição 20.457 do Diário Oficial do Estado, em 19 de janeiro de 2017, a lei já está em vigor. Ao dispor da implantação de medidas para evitar a violência, a norma considera violência obstétrica todo ato praticado pelo médico, equipe hospitalar, familiar ou acompanhante que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes em trabalho de parto ou no período puerpério.74 Foi apresentado pela parlamentar em 2013 e aprovado em 13 de dezembro de 2016 pelos deputados, graças à mobilização de mulheres e entidades e profissionais ligadas ao combate à violência obstétrica e à promoção do parto humanizado, que contou com a participação da Comissão de Saúde da Assembleia. Em sua redação, a lei também determina a divulgação da Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal. Entre as demais medidas previstas, considera inaceitável 72CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº8.219/2017.Disponível: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2147144. Acesso: 01 de junho de 2020. 73BRASILIENSE, Jornal Correio, Saúde, Matéria sobre violência obstétrica, 2017. 74SANTA CATARINA, Lei estadual nº17.097/2017 de 19 de janeiro de 2017. Dispõe sobre a implantação de medidas para evitar
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