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Química Orgânica: Histórico Fórmulas Estruturais 1 Introdução à Química Orgânica 1 Introdução 2 Química orgânica é a química dos compostos de carbono. Compostos de carbono são fundamentais à vida em nosso planeta. As moléculas de DNA, que contêm nossa informação genética; as proteínas, que catalisam as reações em nosso corpo e se constituem em compostos essenciais do sangue, músculos e pele são exemplos de compostos orgânicos. Compostos orgânicos fornecem a energia que sustenta a vida e movimenta os veículos que usamos. Constituem a quase totalidade dos compostos usados para tratar doenças, compõem as fibras das roupas e vários materiais que usamos modernamente. Não é exagero, portanto, afirmar que a química orgânica está associada com quase todos os aspectos da nossa existência. 2 A apresentação do conteúdo desse tópico do programa segue abordagem histórica, mostrando a evolução de conceitos fundamentais da química orgânica. Química Orgânica3 Indinavir Estrutura 3-D da Mioglobina Torre de destilação Petróleo Metano 3 Desenvolvimento da Química Orgânica Como Ciência 4 Pode-se afirmar que os seres humanos desde os primórdios de sua existência vêm usando reações em que se empregam compostos orgânicos, como as que ocorrem na geração de fogo e na preparação de vinho. O desenvolvimento da química orgânica como ciência é bem mais recente, porém. Os historiadores apontam para o início do século dezenove como a época do surgimento da química orgânica como ciência. Química orgânica é, portanto, uma ciência relativamente nova. Com um pouco mais de 200 anos de existência, a química orgânica iniciou seu desenvolvimento com o Vitalismo. 4 O Início - Vitalismo 5 Compostos inorgânicos eram os obtidos de fontes inanimadas Compostos orgânicos eram aqueles que, então, eram obtidos de organismos vivos e fontes naturais Por volta de 1780 os químicos já distinguiam entre compostos orgânicos e inorgânicos 5 Vitalismo 6 Juntamente com essa diferenciação surge o vitalismo, uma doutrina que predominou no início do século XIX, que preconizava ser necessária uma força vital para a preparação de um composto orgânico. Em meados do século XIX a teoria da força vital se tornara insustentável, já havia inúmeros compostos orgânicos preparados em laboratório, inclusive a partir de fontes inorgânicas. A síntese de uréia, composto orgânico presente na urina de mamíferos, realizada por Friedrich Wöhler em 1828 pelo aquecimento e evaporação de solução de cianato de amônio, marca o fim do vitalismo. 6 A Síntese de Wöhler 7 Friedrich Wöhler nascido em Frankfurt, Alemanha, em 1800 foi químico e pedagogo . Além de precursor no campo da química orgânica, isolou dois elementos químicos: o alumínio e berílio. Foi professor da Universidade de Göttingen, cidade em que faleceu em 1882. 7 cianato de amônio Uréia H2N NH2 O calorNH4 + NCO- Do Vitalismo à Teoria Estrutural 8 Em 1784, Antoine Lavoisier havia mostrado que compostos orgânicos apresentavam carbono, a maioria tinha hidrogênio e muito frequentemente apresentavam oxigênio, além de outros elementos.* Entre 1811 e 1831, métodos quantitativos para a determinação da composição de compostos orgânicos foram desenvolvidos por Justus Liebig, J.J. Berzelius e J.B.A. Dumas. Em 1860, Stanislao Canizzaro mostrou que a hipótese de Amadeo Avogadro (1811) podia ser usada para distinguir entre fórmulas empíricas e fórmulas moleculares, o que permitiu diferenciar inúmeros compostos que apresentavam a mesma fórmula empírica. Por exemplo, eteno (C2H4), ciclopentano (C5H10) e ciclo-hexano (C6H12)têm a mesma fórmula empírica: CH2 . (Revisão fórmulas químicas - Fórmulas Químicas.ppt) *A característica que distingue os compostos orgânicos é que todos têm carbono. 8 Teoria Estrutural da Química Orgânica 9 Entre 1858 e 1861, August Kekulé, Archibald S. Couper e Alexander M. Butlerov, trabalhando independentemente, lançaram as bases da teoria estrutural, fundamental para o avanço da química orgânica. August Kekulé Archibald S. Couper Alexander M. Butlerov 9 Teoria Estrutural da Química Orgânica 10 A teoria estrutural apresentava duas premissas centrais: 1. Nos compostos orgânicos, os elementos estabelecem um número fixo de ligações. A medida dessa habilidade de combinação foi chamada de valência. Carbono é tetravalente, ou efetua quatro ligações. Oxigênio é divalente; hidrogênio e os halogênios, (mais comumente), são monovalentes. C O H Cl Carbono Oxigênio Hidrogênio e Halogênios Tetravalente Divalente Monovalente 10 Teoria Estrutural da Química Orgânica 11 2. Átomos de carbono podem usar uma ou mais de suas valências para formar ligações com outros átomos de carbono. As ligações carbono- carbono podem ser simples ou múltiplas:CH H C H H H H CC H H HH C C HH Simples Dupla Tripla Etano Eteno Etino 11 Teoria Estrutural Fórmulas Estruturais 12 O assinalamento de fórmulas estruturais para os compostos orgânicos é uma importante consequência da teoria estrutural. Por ocasião da publicação da teoria estrutural, a distinção entre compostos fundamentalmente diferentes mas que apresentavam a mesma fórmula molecular era uma questão ainda sem solução para os químicos. Fórmulas estruturais permitiram a distinção entre isômeros, já que possibilitam evidenciar as diferenças estruturais. 12 ISÔMEROS São compostos distintos com a mesma fórmula molecular. 13 13 Isomeria 14 Os dois compostos abaixo apresentam propriedades muito diferentes e possuem a mesma fórmula molecular C2H6O. A mais notável dessas diferenças é que um deles é líquido à temperatura ambiente e o outro é um gás. As diferentes propriedades são resultado de diferenças estruturais importantes que a fórmula estrutural evidencia: C H H H C H H O H C O C H H H H H H Álcool etílico Éter dimetílico Ponto de ebulição (oC) 78,5 -24,9 Ponto de fusão (oC) -117,3 -138 14 Isômeros Constitucionais 15 Álcool etílico e éter dimetílico têm estruturas distintas. Elas diferem na conectividade, ou seja, na ordem das ligações. Isômeros com essa característica são chamados de isômeros constitucionais. Modelos de bola e vareta mostram as estruturas do álcool etílico (A) e do éter dimetílico (B). A B 15 Isômeros Constitucionais 16 Isômeros são compostos distintos que apresentam a mesma fórmula molecular. Isômeros constitucionais são compostos diferentes que têm a mesma fórmula molecular e apresentam diferenças na conectividade, ou seja, na sequência em que os átomos estão ligados. Isômeros constitucionais geralmente apresentam diferentes constantes físicas (ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade e outras) e propriedades químicas. Essas diferenças, porém, podem não ser tão marcantes quanto as que observamos para álcool etílico e éter dimetílico. 16 Isômeros Constitucionais 17 Isômeros constitucionais podem apresentar: cadeias carbônicas diferentes, como butano e isobutano: C H H H C C C H H H H H H H C H H H C C H H H H CH H H Butano IsobutanoC4H10 C4H10 17 Isômeros Constitucionais 18 Grupos funcionais diferentes, como no exemplo introdutório: C H H H C H H O H C O C H H H H H H Álcooletílico Éter dimetílico C2H6O C2H6O 18 Isômeros Constitucionais 19 Diferença na localização de um mesmo grupo funcional na cadeia carbônica: C H H H C C O H H H H H C H H H C C H O H H H H 1-Propanol 2-Propanol C3H8O C3H8O 19 Isomeria 20 Vimos nos exemplos acima de que modo a isomeria constitucional pode se apresentar. Mais adiante, estudaremos um outro tipo de isomeria, a estereoisomeria. Estereoisômeros são isômeros que apresentam diferenças em sua estrutura tridimensional, embora apresentem a mesma conectividade. Vejamos a seguir a chave de classificação dos isômeros. 20 21 21 Is ô m e ro s Constitucionais - Diferenças na conectividade, Estereoisômeros Mesma conectividade Estruturas tridimensionais distintas Enantiômeros Diastereoisômeros Geralmente apresentam propriedades físicas e químicas diferentes. São imagens especulares. Não são imagens especulares. FÓRMULAS ESTRUTURAIS A Representação Gráfica de Fórmulas Químicas 22 22 Fórmulas do Traço de Ligação ou Estruturas de Kekulé 23 As fórmulas estruturais usadas até agora são chamadas de fórmulas de traço de ligação ou, ainda, de fórmulas de Kekulé. Nelas, todas as ligações são explicitas, como nos exemplos abaixo. 23 CH H H C C C C H H H H H H H H H 2-Metilbutano C C C C H H H H H H H H HCl 2-Clorobutano C C C C H H H H H H H H HH Butano H C C C H H O H H HH H 2-Propanol Fórmulas Estruturais Condensadas 24 Os textos de química orgânica também usam outras representações gráficas para as moléculas orgânicas, entre elas as fórmulas estruturais condensadas. Nelas, as ligações covalentes simples podem ser todas, ou em parte, omitidas. Os substituintes são escritos após cada carbono e se empregam índices subscritos para indicar o número de substituintes idênticos. 24 C C C C H H H H H H H H HH CH3CH2CH2CH3 Fórmula de Kekulé CH3(CH2)2CH3 Fórmulas Estruturais Condensadas Butano Fórmulas Estruturais Condensadas 25 Mais alguns exemplos: CH H H C C C C H H H H H H H H H 2-Metilbutano Fórmula de Kekulé Fórmulas Estruturais Condensadas CH3CH(CH3)CH2CH3 CH3CHCH3CH2CH3 CH3CHCH2CH3 CH3 25 Fórmulas Estruturais Condensadas 26 26 C C C C H H H H H H H H HCl 2-Clorobutano Fórmula de Kekulé Fórmulas Estruturais Condensadas CH3CHClCH2CH3 CH3CHCH2CH3 Cl Fórmulas Estruturais Condensadas 27 H C C C H H O H H HH H 2-Propanol CH3CH(OH)CH3 CH3CHOHCH3 (CH3)2CHOH CH3CHCH3 OH Fórmula de Kekulé Fórmulas Estruturais Condensadas 27 Fórmulas Estruturais Condensadas 28 Nas fórmulas estruturais condensadas as ligações múltiplas devem ser explícitas, não podem ser omitidas: 28 C C C C H H H H H H H H H2C CHCH2CH3 1-Buteno Fórmula de Kekulé Fórmula Estrutural Condensada C C C C H H H H H H 2-Butino Fórmula de Kekulé Fórmula Estrutural Condensada CH3C CCH3 Fórmulas de Linha de Ligação ou de Esqueleto Carbônico 29 As fórmulas de linha de ligação ou de esqueleto carbônico introduzem simplificação ainda maior das estruturas de moléculas orgânicas, como podemos ver abaixo: 29 CH3CH2CH2CH3 Butano H3C CH2 CH2 CH3 Simplifica-se Fórmula de linha de ligação Entre colchetes, as informações implícitas na fórmula de linha de ligação. Fórmulas de Linha de Ligação ou de Esqueleto Carbônico 30 Características das fórmulas de esqueleto carbônico: A cadeia carbônica é representada por uma linha angulada (pregueada), em que cada vértice corresponde a um carbono; São omitidos os carbonos e os hidrogênios ligados a carbonos. 30 2-Metilbutano CH3CHCH2CH3 CH3 H3C CH CH2 CH3 CH3 Fórmulas de Linha de Ligação ou de Esqueleto Carbônico 31 Heteroátomos e hidrogênios a eles ligados devem ser explicitados: 31 CH3CHClCH2CH3 Cl torna-se CH3CH2CH2CH2OH OHtorna-se CH3CH2CH2NCH2CH3 H torna-se N H Fórmulas de Linha de Ligação ou de Esqueleto Carbônico 32 Ligações múltiplas são representadas nas estruturas como traços múltiplos: 32 H2C CHCH2CH3 torna-se CH3C CCH3 torna-se 1-Buteno 2-Butino Fórmulas de Linha de Ligação ou de Esqueleto Carbônico 33 Estruturas cíclicas e policíclicas são preferencialmente representadas por fórmulas de linha de ligação, vejamos alguns exemplos: 33 OH O Ciclopentano Metilciclo-hexano Testosterona O Carbono Tetraédrico 34 Em 1874, as fórmulas estruturais, desenvolvidas anteriormente por Kekulé, Couper e Butlerov, puderam ser concebidas como estruturas tridimensionais a partir do trabalho independente de J. H. van’t Hoff e J. A. Le Bel. 34 J.H. van’t Hoff J. A. Le Bel O Carbono Tetraédrico 35 Esses cientistas propuseram que as quatro ligações do átomo de carbono no metano se orientam para os vértices de um tetraedro regular, cujo centro é ocupado pelo carbono. Ângulo de 109,5o entre as ligações O Carbono Tetraédrico 36 A determinação da ordem em que os átomos ligam nas moléculas e seu arranjo espacial são fundamentais para a compreensão da química orgânica. 36 Fórmulas Tridimensionais 37 Nenhuma das fórmulas apresentadas até agora informa a orientação espacial dos átomos nas estruturas. Algumas fórmulas estruturais são usadas com a finalidade de informar o arranjo tridimensional das moléculas. A fórmula em perspectiva mais usada nos textos de química orgânica tem as seguintes características: 37 C H H H H Ligações no plano da página são desenhadas com traços simples, com ângulo aproximado de 109o. Ligações para a frente do plano da página são desenhadas em forma de cunha em negrito. Ligações que estão para trás do plano da página são desenhadas como uma cunha tracejada. Fórmulas Tridimensionais 38 Vejamos alguns exemplos de fórmulas tridimensionais: 38 C H H H H C H H H Metano ou H C H Br H H C H HH Br ou C Br HH H ou Bromometano Carbono tetraédrico C C H H H H H H C C H HH H H H ou Etano Fórmulas Tridimensionais ou em Perspectiva 39 Fórmulas tridimensionais são fundamentais para assinalamento das diferenças de arranjo espacial entre estereoisômeros como, por exemplo, enantiômeros. Enantiômeros têm estruturas que são imagens especulares não sobreponíveis uma da outra. A causa mais comum de ocorrência de enantiômeros é haver na molécula um carbono ligado a quatro substituintes diferentes, como ocorre na molécula abaixo: 39 C F Br ClH Fórmulas Tridimensionais 40 Para essa molécula há dois arranjos espaciais possíveis, que são imagens especulares e não podem ser sobrepostos. As fórmulas tridimensionais mostram os dois arranjos possíveis: 40 C Cl F Br H C Cl F Br H Enantiômeros 41 As fórmulas tridimensionais distinguem os dois arranjos, como poderemos confirmar com os modelos de bola e vareta. 41 Imagens de espelho uma da outra Tentativa de sobreposição Não é possível sobrepor exatamente todos os substituintes, pois são estruturas diversas Enantiômeros 42 A ocorrência deenantiômeros é possível sempre que em uma molécula houver um carbono tetraédrico ligado a quatro substituintes diferentes. Esse carbono é chamado de carbono assimétrico ou carbono quiral. A molécula com essas características é assimétrica ou quiral (termo relacionado à cheir, mão em grego). Enantiômeros apresentam todas as propriedades físicas idênticas, exceto o desvio da luz polarizada. Além disso, apresentam diferenças marcantes em propriedades que se relacionam ao arranjo tridimensional dos átomos, como por exemplo, interações com receptores e centros enzimáticos. Segue-se uma chave de classificação dos estereoisômeros. 42 43 43 Estereoisômeros Átomos ligados na mesma ordem, diferenças na orientação espacial Enantiômeros Imagens especulares Diastereoisômeros Não são imagens especulares Diastereoisômeros Cis-trans Diastereoisômeros Configuracionais Estereoquímica é um tópico independente em nosso programa. Propriedades físicas idênticas, exceto desvio da luz polarizada Propriedades físicas diferentes 44 A química hoje é unificada. A característica comum a todos os compostos orgânicos é que contêm o elemento carbono. Química orgânica é, então,o estudo dos compostos de carbono. Veremos nas próximas aulas a evolução dos conceitos de estrutura atômica que são a base necessária para entendermos as ligações nos compostos orgânicos. Referências 45 Solomons, T. W. G., Organic Chemistry, 10a Ed.; John Wiley & Sons, Inc. (2009), ISBN-13: 978-0470401415. McMurry, J., Organic Chemistry, 7ª Ed., Brooks/Cole Publishing Company (2007). Carey. F. A., Organic Chemistry, 8ª Ed., McGraw Hill Science, New York (2010), ISBN- 13: 978-0077354770.
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