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Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 1 Aline Lemos – amrlemos@gmail.com Rogério Greco - Direito Penal Volume 1 e 2 Júlio Fabrinio Mirabet César Roberto Bitencurt Guilherme Nucci - Livro Direito Penal – Parte Geral - Paulo Cézar Busato VT escrito e apresentação. A nota do trabalho escrito é do grupo, a nota da apresentação oral é individual. Todos tem que apresentar, cada grupo vaio falar sobre um princípio do Direito Penal. Tem que ter pelo menos um caso real associado ao princípio. Pode ser mais de um casco real. Cada equipe terá 30 minutos para a apresentação. Escrito de acordo com as normas ABNT. Pelo menos 5 folhas incluindo o caso real. Incluir fonte de pesquisa, pelo menos dois livros - bussato e ... enviar o trabalho escrito para o e-mail da turma ANTENÇÃO: o conteúdo destas notas de aulas reflete a minha compreensão sobre o que foi ministrado em sala de aula. Ao estudar por apontamentos de outro aluno, você estará lendo o entendimento deste, e não necessariamente o que foi dito pelo professor. Ademais, as notas de aulas podem sofrer alterações na esquematização, na ordem, bem como acréscimos de outras fontes de pesquisa (geralmente transcritas usando fonte itálica). 04/02/2014 Aula 1 – Direito Penal 1 - Conceito – Segundo Cézar Roberto Bittencourt, o Direito Penal “é um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas correspondentes”. O Estado proíbe determinadas condutas (ações e omissões), sob a ameaça de sanção penal, penas para quem cometeu um crime e é imputável, ou seja, maiores de 18 anos e com mente sã, e medidas de segurança para aqueles que são inimputáveis, isto é, têm problemas mentais por doença ou retardo mental. Infração penal é gênero. As espécies são crime e contravenção. Ambos são negativos para a sociedade. A diferença entre ambos está na sanção. A contravenção recebe pena de prisão simples onde o regime inicial pode ser aberto ou semiaberto e geralmente se consegue um acordo para pena alternativa. Quando o acordo não ocorre e o delinquente é preso ele ficará num local de baixo teor de segurança. A lei 3688/41 de contravenções penais descreve quais são estas infrações. O crime tem a pena de detenção e reclusão com regime inicial aberto, semiaberto ou fechado. 2 - Finalidade – proteção de bens importantes para a sobrevivência da sociedade através de cominação, aplicação e execução da pena. Estes bens são enquadrados como bens jurídicos. Cominar (ameaçar, estabelecer), aplicar e executar a pena, são os três momentos do processo penal. Com o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens que, por Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 2 serem extremamente valiosos, não do ponto de vista econômico, mas sim político, não podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do Direito. Quando dissemos ser político o critério de seleção dos bens a serem tutelados pelo Direito Penal, é porque a sociedade, dia após dia, evolui. Bens que em outros tempos eram tidos como fundamentais e, por isso, mereciam a proteção do Direito Penal, hoje, já não gozam desse status. - ROGÉRIO GRECO - Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1 (2012) 3. O crime 3.1 - Enfoque formal – é aquele que está estabelecido em uma norma penal incriminadora sob ameaça de pena. As normas geralmente são de forma geral. 3.2 - Enfoque material – é o comportamento humano, causador de lesão ou de perigo de lesão ao bem jurídico tutelado passível de sanção penal. 3.3 - Enfoque analítico – toma por base os elementos que compõem a infração penal, prevalecendo que o crime é composto de: fato típico, ilicitude e culpabilidade isto de acordo com a corrente majoritária, a corrente minoritária apresenta apenas os dois primeiros elementos. O fato típico envolve vários elementos: conduta, resultado, nexo de causalidade (nexo causal, isto é, relação de causa e feito entre a conduta e o resultado), tipicidade (formal = a lei, o dispositivo legal, o dispositivo ou artigo. Material = valor da conduta, se é importante, significativo ou não, como sendo positivo ou negativo). Ilicitude – presume-se que todo fato típico é ilícito. Porém, é possível justificar o fato típico tornando-o lícito, isto é conhecido como justificante ou excludente de ilicitude. São quatro: legitima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal. Culpabilidade - Juízo de reprovação que se faz sobre a conduta do agente. Serão observados três pontos: se o individuo é imputável, se tem potencial consciência da ilicitude, ou seja, reconhece que sua ação é reprovável, e a inexigibilidade de conduta diversa, não é exigido uma conduta diferente (exemplo do sequestro da família de um gerente de banco). Quando não tem um desses fatores existe uma exculpante da ilicitude. 4. Direito penal objetivo e subjetivo Direito penal objetivo – conjunto de normas que define os crimes e as contravenções, bem como outras questões de natureza penal. Direito penal subjetivo – é o direito que o Estado tem de punir quem praticou a infração penal. É chamado “ius puniendi”. O “ius puniendi” nasce com a lei penal em vigor, depois ele tem a sua concretização quando há violação efetiva da norma penal. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 3 Por último, o Estado vai executar a pena que foi imposta. Os três momentos do processo penal: Direito de ameaçar com penas; cominação. Direito de impor com penas; imposição ou aplicação da pena. Direito de realizar a execução da pena; depois de transitado em julgado. 11-02-2014 5 – O Direito Penal como controle social Há uma pressão social incrível para que seja criado um novo crime, ou se ele já existe, busca-se que aumente a pena. O controle feito pelo Direito Penal deve ser subsidiário. Trata-se interferência do Estado nos direitos fundamentais, como a liberdade. 6 – O Direito Penal e os outros ramos do ordenamento jurídico Direito Penal e constitucional – a constituição estabelece a base para o Direito Penal Direito Penal e Processo Penal – processo é a via para instrumentalizar o Direito Penal. É através deste que se analisará a condenação ou não de alguém. Direito Penal e Processo Civil – em caso de indenização, danos materiais e morais serão através do processo civil. Direito Penal e Tributário - 7 – Fontes de produção do Direito Penal A única fonte é o Estado, através do poder legislativo. CF - Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; 8 – Fontes de conhecimento Lei e a medida provisória quando for benéfica para o agente. A reserva legal (princípio) aceita apenas crimes e sanções criadas pelo poder legislativo. A medida provisória pode ser usada para não incriminar Fonte do conhecimento é de onde vai se extrair o Direito, a Pena, essa será retirada da lei. A doutrina mostra outras possíveis fontes como a jurisprudência, os costumes e os princípios gerais. Se houver uma súmula o juiz pode segui-la ou não, mas se for uma súmula vinculante esta deverá ser seguida. Há forte tendência nos tribunais em aceitar Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 4 outros casos já julgados, por isso a jurisprudência também é considerada fonte de conhecimento. Os costumes não têm o poder de abolir o crime devido ao princípio da legalidade, porém, alguns doutrinadores ainda apontam o costume como fonte do conhecimento. Quando há um determinado costume em uma localidade o que pode ocorrer é não iniciar o processo. Princípios quando expressos na lei já são normas, os implícitosdependem da interpretação do magistrado. Aula II – Classificação das infrações penais. 1 – classificação bipartida e tripartida – esta classificação é doutrinadora, não está na lei. Uma classificação não exclui a outra. Tripartida - crimes, delitos e contravenções – esta não é adotada no Brasil Bipartida – crimes e contravenções 2 – Crime doloso, culposo e preterdoloso Doloso – quando o agente quis o resultado (dolo direto – exemplo: Suzane Richthofen) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual – projeta o resultado e age com indiferença ao bem jurídico) Culposo – quando o agente deu causa ao resultado por negligência, imprudência ou imperícia. Não há intensão de gerar o resultado. Negligencia = deixa de fazer algo que gera o resultado, não toma o devido cuidado ao fazer algo, não tomar a devida precaução. Imprudência = é o excesso. Imperícia está ligada a atividade profissional. Alguns doutrinadores classificam, de forma diferente. A diferenciação não influi no resultado da pena. Preterdoloso – é o crime cujo resultado total é mais grave que o pretendido pelo agente. Há uma conjugação de dolo (antecedente) e culpa (consequente). 3 – Crime comissivo, omissivo ou comissivo-omissivo 3.1 - Comissivo – realizado com uma ação visando resultado tipicamente ilícito, ou seja, no fazer o que a lei proíbe. Via de regra, a lei exige para a configuração do crime um comportamento ativo do agente. 3.2 - Omissivo ou omissivo próprio - O agente deixou de fazer uma conduta, tendo obrigação jurídica de fazer. É a simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realizá-la. Exemplo: omissão de socorro. Se esse dever de agir se referir à generalidade das pessoas, teremos o crime omissivo próprio, puro ou simples. Nesse caso, temos um crime de mera conduta: basta a ausência de ação para a consumação Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 5 do crime, que ocorre no primeiro momento em que o agente poderia agir e não agiu. O crime omissivo próprio também é crime de perigo, por isso, sua existência independe da ocorrência de dano. Exemplo: a omissão de socorro (art. 135) se consuma no primeiro momento em que o agente poderia socorrer a pessoa em perigo e não o faz. O crime estará consumado mesmo que ele mude de ideia e volte posteriormente para socorrer a vítima e mesmo que a vítima não sofra nenhuma lesão. http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais 13/02/12014 3.3 - Comissivo-omissivo ou omissivo impróprio - A omissão é o meio através do qual o agente produz o resultado. Nestes crimes, o agente não responde pela omissão simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava obrigado a impedir. Exemplo: mãe que não cuida do filho. Existem situações em que o agente tem o dever de evitar o resultado lesivo ao bem jurídico protegido, assumindo o papel de garantidor da não ocorrência da lesão. Nesses casos, temos os crimes omissivos impróprios, qualificados, subsidiariedade comissivos por omissão ou comissivo-omissivos. A posição de garantidor pode ocorrer nas seguintes situações previstas no art. 13, § 2º: a) o agente tem a obrigação legal de cuidado, proteção e vigilância (exemplo: pais com relação aos filhos menores); b) quem assumiu a responsabilidade de evitar o resultado (exemplo: salva-vidas com relação aos banhistas em uma piscina); c) quem criou o risco de ocorrência do resultado (exemplo: causador de um incêndio com relação às vítimas deste). Os crimes omissivos impróprios não estão previstos expressamente na lei, utilizando-se da definição típica dos crimes comissivos. São crimes materiais, pois sempre requerem a existência de um resultado naturalístico. Parte da doutrina considera que existem também os crimes omissivos por comissão: existe uma ordem legal de atuar, mas o agente impede que outrem execute essa ordem. Exemplo: marido impede a intervenção médica que salvaria a vida da mulher. Tal como nos crimes comissivos, existe nexo causal entre a conduta e o resultado e é possível a tentativa. Por fim, denominam-se crimes de conduta mista aqueles que têm uma fase inicial positiva e uma posterior omissão. Exemplo: apropriação indébita de coisa achada (art. 169, parágrafo único): o agente primeiramente se apodera da coisa achada (conduta comissiva) e posteriormente deixa de devolvê-la no prazo de quinze dias (conduta omissiva). - http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais 18/02/2014 4 – Crime de dano e crime de perigo Dano - É aquele que para a consumação é necessária a superveniência da lesão efetiva ao bem jurídico. Também chamado de ‘resultado naturalístico’. Um exemplo é a lesão corporal leve, grave ou gravíssima: Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 6 Dano físico - Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Dano psicológico - Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002). Pena - reclusão, de um a três anos. Dano físico - Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. O crime de perigo é aquele que se consuma com a simples criação de perigo, sem produzir um dano objetivo. No crime de perigo a lesão não aparece, basta haver a possibilidade de gerar o dano. Para a configuração do crime, a lei requer apenas a probabilidade de dano e não a sua ocorrência efetiva. O artigo 130 descreve a exposição da vítima ao perigo de contaminação, mas não houve a contaminação, portanto, crime de perigo. Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 5 – Crime Material, Formal e Crimes de mera conduta Material – descreve a conduta cujo resultado naturalístico descreve o próprio tipo penal, isto é, para a sua consumação é necessário um dano objetivo. São crimes de dano. Todos os crimes lesionam ou põem em risco bens jurídicos. Esse é o resultado jurídico ou normativo, indispensável na consumação de todos os crimes. Alguns crimes têm como consequência outra espécie de resultado, denominado naturalístico: é a modificação da realidade física. Tais crimes só se consumam se ocorrer essa alteração material, por isso são conhecidos como crimes materiais ou de resultado. Assim, o homicídio se consuma dom a morte da vítima e o furto com a retirada do bem da posse da vítima. Só se pode falar em nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (CP, art.13) nos crimes materiais. - http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das- infracoes-penais Formal – descreve um resultado que, contudo, não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. Basta a conduta do agente, descrita na lei, para a consumação ocorrer. Exemplo: ameaça, a conduta verbalizada independe da consumação. Outro exemplo: o artigo 130, não havendo o contágio. Também o Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de naturezagrave, e triplicada, se resulta a morte. Os crimes formais podem exaurir para outro crime como a ameaça que pode exaurir-se para o resultado almejado. Outro exemplo é o artigo 135 onde o crime formal de Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 7 omissão pode exaurir-se para um crime material num caso de resultar em lesão corporal ou morte. Os crimes formais se consumam com a simples prática da conduta prevista em lei. O resultado, apesar de também ser previsto em lei, é dispensável para a consumação do crime e configura mero exaurimento dele. Por isso, são chamados também de crimes de consumação antecipada. Assim, a concussão (art. 316) se consuma com a exigência, pelo funcionário público, de vantagem indevida. O efetivo recebimento da vantagem é mero exaurimento do crime que apenas influi na fixação da pena. A distinção entre consumação e exaurimento é essencial quando se trata de prisão em flagrante, que só é possível no momento da consumação. No exemplo acima, o funcionário público só pode ser preso em flagrante no momento da exigência, nunca no recebimento do valor indevido. - http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais Crimes de mera conduta – alguns doutrinadores incluem essa classificação. Existem muitas críticas a seu respeito, é uma classificação problemática, muitos doutrinadores não a aceitam. Nela é descrito apenas a conduta, que gera a consumação. O dano não aparece. É semelhante ao crime formal em que basta a conduta para caracterizar o crime. Porém, nesta forma de classificação, o crime não exaure, ou seja, se o crime formal evoluir para outro crime, como no exemplo da omissão, não há explicação nesta classificação. Os crimes de mera conduta ou de simples atividade também se consumam com a simples prática do ato. Ao contrário dos crimes formais, não chega a haver previsão legal de qualquer resultado naturalístico. Desse modo, a calúnia (art. 138) afeta a honra objetiva da vítima (bem jurídico), mas não modifica a realidade física. Todos os crimes omissivos próprios são delitos de mera conduta. Os crimes de mera conduta são uma subdivisão dos crimes formais e por isso também são chamados de crimes puramente formais. A jurisprudência costuma utilizar indistintamente os dois termos. - http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais 6 – Crime Unissubjetivo e Plurissubjetivo Unissubjetivo - é aquele que pode ser praticado pelo agente individualmente ou por diversos agentes. Exemplo: homicídio pode ser praticado por uma pessoa ou por várias. Plurissubjetivo – só pode ser praticado em concurso de pessoas, isto é, por mais de um agente. Exemplo: bigamia, uma pessoa apenas não pode cometer bigamia, assim como o crime de formação de quadrilha. Também temos como exemplo a rixa (briga generalizada), neste tipo de crime em que todos batem e apanham não há como identificar um agente e não pode haver rixa apenas com uma ou duas pessoas. - Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 8 7 – Crime Unissubsistente e Plurissubsistente Unissubsistente – constitui-se de ato único. O processo executivo é unitário e não enseja fracionamento. Os crimes formais, em regra, são unissubsistentes. Exemplo: injuria racial, apenas um ato trouxe o resultado imediatamente. Impossível, por esta razão, a tentativa. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997) Plurissubsistente – A execução pode desdobrar-se em vários atos sucessivos, de modo que a ação e o resultado típico se separam. Ocorre nos crimes materiais. É aquele que constituído por vários atos, que fazem parte de uma única conduta. Exemplos: estupro (violência ou constrangimento ilegal + conjunção carnal com a vítima), roubo (violência ou constrangimento ilegal + subtração); lesão corporal (violência + integridade corporal ou saúde física ou mental de outrem), etc. - Texto de: Luciano Vieiralves Schiappacassa. Data de publicação: 10/02/2009 http://ww3.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090209105337439&mode=print 20/02/2014 8 – Crime comum, próprio e de mão própria. Comum - é o que pode ser praticado por qualquer pessoa. Próprio – é o que exige determinada qualidade ou condição do agente, a legislação especifica quais são estas qualidades. Pode ser auxiliado, ou ter a participação de outra pessoa (interposta pessoa). Os crimes próprios ou especiais só podem ser cometidos por pessoas que contem com determinada qualificação. De acordo com Damásio Evangelista de Jesus, essa qualificação pode ser "jurídica (acionista, funcionário público); profissional (comerciante, empregador, empregado, médico, advogado); de parentesco (pai, mãe, filho); ou natural (gestante, homem)". Assim, o auto-aborto (CP, art. 124) só pode ser cometido pela gestante e o infanticídio (art. 123) é praticado pela mãe. Art. 123. - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais Os crimes funcionais são uma espécie de crimes próprios, pois só podem ser cometidos por funcionários públicos, tal como definidos no art. 327 do Código Penal. Crimes funcionais próprios são aqueles cuja ausência da qualidade de funcionário público torna o fato atípico (exemplo: prevaricação - art. 319). Já nos crimes funcionais impróprios ou mistos, a ausência dessa qualidade faz com que o fato seja enquadrado em outro tipo penal (exemplo: concussão - art. 316; se o sujeito ativo não for Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 9 funcionário público, o crime é de extorsão - art. 158). http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes-penais Crime de mão própria é aquele que só pode ser praticado pelo agente pessoalmente. Este tipo de crime não admite a participação de outra pessoa. Também neste tipo de crime existe a especificação na lei, mas a qualidade do agente não é exigida e sim a unicidade. A distinção entre o crime próprio e o crime de mão própria consiste no fato de que, nos crimes próprios, o sujeito pode determinar a outrem a execução do crime. Existe a possibilidade de participação, mas não de coautoria. Assim, somente a testemunha em pessoa pode ser autora do crime de falso testemunho (art. 342), não podendo pedir que terceiro o faça em seu lugar, mas o terceiro pode influenciá-la a mentir, respondendo pelo crime como partícipe. Diferenciam-se dos crimes próprios, em que o sujeito ativo específico pode utilizar-se de outra pessoa em sua execução. Exemplo: o funcionário público pode determinar a um particular que cometa o crime de peculato (art. 312). http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1000051/classificacao-das-infracoes- penais 9 – Crimes de ação única ou múltipla Única – Contém somente uma modalidade de conduta. Um só verbo. Art. 121. - Matar alguém. Ação múltipla – o conteúdo é variado, ou seja, vários verbos. Art. 122. - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. Em ambos os casos tem que ser observado a letra da lei, quantosverbos tem que determinam a ação. 10 – Crime Instantâneo e permanente Instantâneo – é o crime que se esgota com a ocorrência do resultado. Não significa praticado rapidamente, mas que uma vez realizados os seus elementos nada mais poderá se fazer para impedir a sua ocorrência. Exemplo homicídio. Permanente – é aquele que a consumação se prolonga no tempo. Assim, depende da vontade do agente, que poderá cessar quando quiser a conduta. Exemplo sequestro. Obs. Crime permanente não significa instantâneo de efeitos permanentes, cuja permanência não depende da continuidade da ação do agente. 11 – Crime de forma livre e de forma vinculada Livre – é praticado por qualquer meio de execução. Pode ser exercido de qualquer maneira. Exemplo: Artigo 121 Vinculada – a lei já descreve a maneira pelo qual o crime é cometido. Art. 284. - Exercer o curandeirismo: Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 10 Atividade De acordo com as onze classificações da teoria do crime, classifique as infrações as seguintes: 1 - Art. 121 - Matar alguém: 3º - Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 1= crime, 2= culposo, 3= omissivo impróprio, 4= dano, 5= material, 6= unissubjetivo, 7= plurissubsistente, 8= comum, 9= único, 10= instantâneo, 11= livre 2 - Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. 1= crime, 2= doloso, 3= comissivo, 4= dano, 5= material, 6= unissubjetivo, 7= plurissubsistente, 8= comum, 9= único, 10= instantâneo, 11= livre 3 – Art. 135-A - Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). 1= crime, 2= doloso, 3= comissivo, 4= perigo, 5= formal, 6= unissubjetivo, 7= unissubsistente, 8= próprio, 9= único, 10= instantâneo, 11= vinculado 4 - Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. 1= crime, 2= preterdoloso, 3= comissivo, 4= dano, 5= material, 6= plurissubjetivo, 7= plurissubsistente, 8= comum, 9= múltiplo, 10= permanente, 11= livre 5 - Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998) 1= crime, 2= doloso, 3= comissivo, 4= perigo, 5= formal, 6= unissubjetivo, 7= unissubsistente, 8= comum, 9= único, 10= permanente, 11= livre 06/03/2012 Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 11 Aula III – Norma Penal 1 – Introdução De acordo com o princípio da legalidade, em Direito Penal, pode-se fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. A conduta do agente pode até ser reprovável socialmente, mas se não houver lei que proíba não há como se aplicar a sanção penal. Incesto, “furar” filas são alguns exemplos. 2 – A teoria de Binding O autor afirma que o legislador na esfera penal se utiliza de uma técnica diferente. Ele descreve uma conduta que, se praticada, poderá levar a uma condenação. Em virtude disso, Binding afirma que ao praticar uma conduta descrita no tipo penal, o agente não infringia a lei e sim a norma penal. Para Binding a lei descreve a conduta e a norma o caráter proibitivo, interpretativo. A interpretação da lei é a extração da norma. Lei é diferente de norma. Exemplo: Art. 121. Matar alguém. O agente, ao matar alguém está cumprindo a lei, está fazendo o que a lei diz. A norma é a interpretação da lei, ou seja, ao ler o artigo 121 se entende que a conduta requerida é não matar. Outro exemplo: Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. O objetivo, ou a norma, era que ninguém ajudasse um suicida, era evitar o suicídio. 3 – Classificação das normas penais 3.1 – Normas penais incriminadoras Definem a infração penal, proibindo ou impondo condutas sobre ameaça de pena. Dentro do código penal há muitas normas incriminadoras e outras não, às vezes abordando o mesmo assunto. Exemplo? Provocar um aborto, é uma norma incriminadora. Sob o mesmo tema o artigo 128 reza: Não se pune o aborto praticado por médico. Esta é uma norma não incriminado: Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante. O que é proibido ra, traz a exceção ao mesmo ato proibido no artigo 126. Outro exemplo de norma incriminadora: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. 3.1.1 - Preceitos da norma penal: a) Preceito primário - é aquele que descreve detalhadamente a conduta que se procura proibir ou impor. Exemplo: Art. 123. - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após. b) Preceito secundário – cabe a tarefa de cominar a pena em abstrato, é o valor ou margem em que o magistrado pode começar a trabalhar a pena. Porém existem outros detalhes (agravante, atenuante, marjorante, minorante, etc.) que podem fazer com que a Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 12 pena ultrapasse o limite da pena estabelecido na lei ou a reduza a um valor abaixo do mínimo. Esta é a pena em concreto. Exemplo: alguém sentenciado com base no artigo 123 pode receber uma pena menor que dois anos ou maior que seis anos. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. O Artigo 126 tem dois preceitos primários e dois preceitos secundários. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (preceito primário) Pena - reclusão, de um a quatro anos. (Preceito secundário) Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (preceito primário) A pena do artigo 125 (preceito secundário). Pena - reclusão, de três a dez anos. 3.2 – normas penais não incriminadoras Possuem as seguintes finalidades: a) Tornar lícitas determinadas condutas (justificantes) exclui o 2º elemento do crime. Exemplo: Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito b) Afastar a culpabilidade do agente, estabelecendo a isenção de pena (exculpante). Retira o 3º elemento do crime. Exemplo: caput do Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 11/03/2014 c) Esclarecer determinados conceitos (explicativas), são artigos que dao conceitos, não são incriminadores. ex. art. 150 § 4º (também art. 327) Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: § 4º - A expressão "casa" compreende:I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) d) Fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal (complementares), é uma norma principiológica, apontam os princípios envolvidos para orientar o juiz a dosar a pena. Exemplo: art. 59 que explica o principio da culpabilidade Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 13 4 – Norma penal em branco 4.1 – Introdução - São aquelas que necessitam de complementação para entender exatamente o que se quer. Há necessidade de outro diploma legal para que possa compreender o âmbito de aplicação do preceito primário (detalhamento da conduta), pode ser outra lei, decreto, portaria, resolução, etc. Sem esse complemento não é possível a sua aplicação. Exemplo: lei de drogas 11.343/06 e portaria da ANVISA. 20/03/2014 4.2 – Classificação - As normas penais em branco podem ser: a) Homogêneas – o mesmo diploma legal, da mesma natureza, irá complementá-la. Exemplo art. 237 do CP e código civil b) Heterogêneas – o complemento é dado por fonte de produção diferente. Ex.: lei de drogas e portaria da ANVISA. As normas heterogêneas são constitucionais? Sim, o complemento não descreve a essência do crime, mas apenas um detalhe do crime já tipificado. c) Normas penais incompletas ou imperfeitas - São normas que o tipo penal nos remete a outro texto de lei para que possamos conhecer a sanção imposta. Ex.: art. 304. 25/03/2014 5 – Conflito aparente de normas Ocorre quando para um único fato, aparentemente, há mais de uma norma que sobre ele poderá incidir. Mais de uma lei pode se aplicar ao mesmo caso. O conflito é aparente, pois os princípios, a interpretação destes, resolve o conflito. a) Principio da especialidade – norma especial afasta a aplicação da norma geral. Ex.: homicídio e infanticídio. Ambos causam dano ao mesmo bem, a vida, porém, o crime de infanticídio é específico e o homicídio é genérico. b) Principio da alternatividade – quando houver crimes de ação múltipla, ou seja, com vários verbos, o agente será punido somente uma vez, mesmo que tenha praticado vários núcleos. Art. 122 – Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. c) Princípio da subsidiariedade - Há uma relação de primariedade e subsidiariedade entre duas normas quando descrevem graus de violação de um mesmo bem jurídico, de forma que a norma subsidiária é afastada pela aplicabilidade da norma principal. Acata a norma que descreve melhor a violação do bem jurídico e descarta a outra. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 14 Segundo Nelson Hungria, a norma fica como uma espécie de “soldado reserva” da outra norma. A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Ex.: art. 132 CP = expressa – exemplo de alimento, afasta esta e aplica a 129. Art. 163 CP = tácita, neste caso, se o furto foi para uso e não para destruir, a norma que se aplica é o 155. 01/04/2014 Princípio da consunção - Um fato definido como crime atua como fase de preparação, execução de exaurimento de outro crime mais grave, ficando por ele absorvido. A diferença entre o princípio da consunção e o da subsidiariedade é que neste enfocam-se as normas e no princípio da consunção enfocam-se os fatos. O crime maior absorve o crime menor, é a passagem ou meio de um crime para outro e não crimes em épocas diferentes ou sem ligação. Não confundir com absolvição ou consumação. Exemplo: lesão seguida de morte. No caso do goleiro Bruno, que sequestrou e depois cometeu o homicídio, foram dois crimes distintos. Existem algumas hipóteses em que se aplica o princípio da consunção, quais sejam: 1 – crime progressivo - O agente, desde o início, deseja a produção de um resultado mais grave e mediante diversos atos realiza sucessivas e crescentes violações ao bem jurídico. Ex.: para matar alguém, precisa antes que a pessoa fique lesionada. O agente só vai responder pelo resultado final. 2 – progressão criminosa - O agente desejando um resultado, pratica novo crime, produzindo um resultado mais grave. Ex.: o agente deseja lesionar, porém muda de ideia e comete um homicídio. • O “antefactum” impunível Fato menos grave praticado pelo agente antes de um fato mais grave. O fato menos grave é meio necessário para se atingir o maior. Exemplo: subtrair uma folha de cheque em branco para depois falsificar a assinatura e sacar o dinheiro. • “Post factum” impunível É um fato menos grave praticado contra o mesmo bem jurídico após praticar o fato mais grave. Esse fato posterior (menos grave) não será punível. Exemplo: alguém furta a bicicleta e depois a destrói. 6 – O crime complexo É aquele que resulta da união de dois ou mais crimes autônomos. Só responde por um crime, que é o crime complexo. Exemplo: latrocínio = roubo + homicídio. Extorsão mediante sequestro = extorsão + sequestro. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 15 Aula IV– V2 O Direito Penal na História O surgimento do Direito Penal se conjuga com o surgimento da própria sociedade. Ele nasce em meio ao sentimento de vingança e não de justiça. 1 – Período Primitivo As normas iniciais eram tradições, superstições e costumes misticamente observados pelos membros do grupo. Vem daí a ideia de proteção totêmica e das leis do tabu. A reação desse grupo primitivo contra o infrator visava estabelecer a proteção sacral, perdida com a ofensa causada pela infração à norma tabu. O crime era um atentado contra os deuses. 2 – Período Antigo Iniciado por volta de 4000 a.C. é marcado pelo aparecimento das primeiras civilizações, com organização sócio-política-econômica e a figura do poder soberano. É o tempo da Lei do Talião 3 – O Direito Penal Romano Não bastava a força física, era necessário um avançado sistema jurídico que mantivesse a ordem. Os romanos faziam uma distinção entre os crimes públicos e os privados. Principais características: Afirmação do caráter público e social do Direito Penal Doutrina da culpabilidade, imputabilidade e suas excludentes Elemento subjetivo doloso era analisado Teoria da tentativa, justificantes, concurso de pessoas. 03/04/2014 4 – Direito Penal Germânico É um Direito composto pelo caráter consuetudinário e não por leis escritas. Os bárbaros que compuseram os povos germânicos trouxeram para a Europa Ocidental seus costumes, tradições, religiões e também o sistema jurídico. O período inicial foi marcado por um sistema primitivo de caráter religioso. A perda da paz gerava a expulsão do infrator e consequente morte. A vingança privada era aceita Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 16 pelos povos germânicos, eram as chamadas vinganças de sangue. Só tardiamente os povos germânicos adotaram a lei do talião. 5 – O Direito Penal Canônico A influência do cristianismo no Direito Penal é muito significativa. Primitivamente, o Direito Penal Canônico teve caráter disciplinar. Aos poucos, com a crescente influência da igreja católica, foi-se estendendo a religiosos e leigos,desde que os fatos tivessem conotação religiosa. Contribuiu para o surgimento da prisão moderna, especialmente com as ideias de reforma do delinquente. Trouxe a ideia de humanização para o Direito Penal, embora politicamente visasse obter o predomínio do papado e proteção dos interesses religiosos. As penas tinham o objetivo de promover o arrependimento e a correção do delinquente. 6 – Direito Penal Comum Grande mistura entre as normas do Direito Romano, germânico, canônico, bem como normas dos Estados nascentes por volta do século XII. A grande maioria das penas importavam em castigos corporais terríveis (aflitivos), quais sejam, arrancamento de vísceras, forca, fogueira, afogamento, arrastamento, mutilações de pés, mãos, língua, castração, etc. Este clima de terror gerou uma oposição representada pela revolução francesa e que se observou posteriormente com o período humanitário. 7 – Período Humanitário e Movimento Codificador Van Liszt deu início à luta sobre os fundamentos do Direito Penal, dando à pena um caráter racional. Beccaria parte da ideia do contrato social para afirmar que o fim da pena é evitar que o criminoso cause novos males aos demais cidadãos. O iluminismo pregava os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. 15/05/2014 8 – Escolas Penais 8.1 – Escola clássica – Abordava os direitos do homem e do cidadão contra a prepotência do Estado. Nesta escola existem dois períodos: a) Filosófico ou teórico – Beccaria proclama a necessidade de se atribuir um novo fundamento à justiça penal, que seja essencialmente utilitário, que deve ser modificado e limitado pela moral. b) Jurídico ou prático – seu maior expoente foi Carrara. Para ele, o criminoso é portador de direitos e, portanto, submetido ao juízo penal. Ele só pode ser condenado quando se reconhece sua culpa e não pode sofrer um mal maior que o exigido pela necessidade da tutela jurídica. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 17 Principais ideias: O direito tem natureza transcendente, segue a uma ordem imutável da lei natural. O direito é congênito ao homem porque foi dado por Deus à humanidade. O direito é a liberdade. A ciência criminal é o supremo código da liberdade, que vai ajudar o homem a se livrar da tirania de si mesmo e de suas paixões. O delito é um ente jurídico, já que se constitui numa violação de um direito, isto é, a contradição entre um fato e a lei. 8.2 – Escola positiva (social) – A escola se dizia socialista e se ergueu contra o iluminismo da escola clássica. O direito é resultado da vida em sociedade e sujeito a variações no tempo e espaço. Pregava a supremacia da investigação experimental. Os principais doutrinadores são: Spencer, Lamark, Darwin, Lombroso. A teoria Lombrosiana cometeu exageros ao afirmar o crime como fenômeno biológico, apontando o criminoso que apresenta sinais físicos (barba escassa, orelhas em asa, assimetria craniana, cabelos abundantes, etc.). Todavia, os criminosos passionais poderiam não apresentar estas características. 8.3 – Escola crítica – chamada de 3ª escola, procurava conciliar as outras duas. Afastaram a sociologia do Direito Penal e as discussões metafísicas. Afirmavam: o homem está determinado ao crime pelos seus motivos. Aos que não possuem tal capacidade são inimputáveis e deve ser aplicada a medida de segurança. A pena tem função defensiva ou preservadora da sociedade. Principais pensadores: Cornevale, Alimena, Merkeil, Stenn. 8.4 – Escola moderna alemã - surgiu na Alemanha por iniciativa de Von Liszt. Deu ao direito penal uma nova e completa estrutura. O crime é fato típico, ilícito e culpável. 20/05/2014 9 – Garantismo de Luige Ferrayoli Garantia dos direitos fundamentais do cidadão contra as agressões do Estado e de outros associados. O Estado não pode punir excessivamente, e para isto, o preso tem garantias, como recorrer da sentença, falar no processo, presunção de inocência, etc. Tem dupla função preventiva: a primeira função indica o limite mínimo e a segunda o limite máximo. O Estado pode punir, porém dentro dos limites que não extrapolem as garantias. O garantismo no Brasil surgiu devido às situações abusivas que ocorreram durante o período em que esteve em vigor a constituição de 1967, como a tortura. 10 – Direito Penal Mínimo Limitado às situações de absoluta necessidade, ideal de nacionalidade e certeza. Assim, não terá lugar a intervenção penal caso sejam incertos ou indeterminados os seus pressupostos. É necessário um lastro probatório mínimo para dar início a um processo Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 18 penal, diferentemente dos outros ramos do Direito em que é possível dar início a um processo de forma simples. 11 – Direito Penal do Inimigo É a teoria de Gunther Jakobs. A tese é assentada em três pilares: a) Antecipação da punição; b) Desproporcionalidade das penas e relativização e/ou supressão de certas garantias; c) Criação de leis mais severas direcionada à clientela (terroristas, traficantes, criminosos violentos, etc.). Aula 5 – O Fato Típico É o primeiro elemento do crime, que é composto pelo fato típico, ilicitude e culpabilidade. No fato típico serão analisados: conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade (formal e material). 1 – A conduta É o agir humano ou o deixar de agir, de forma consciente e voluntária. A conduta deve ser concebida como um ato de consciência e vontade ou intensão, assim deverá ser culposa ou dolosa. Consciência não está ligada a sanidade mental, mas ao trabalho mental. Exemplo: alguém em estado de coma levanta o braço e bate em outra pessoa, este ato foi apenas um reflexo e não uma ação ativa, pensante. Já um esquizofrênico tem consciência dentro do seu mundo. Vontade, o querer realizar determinada conduta. Exemplo: dirigir acima da velocidade permitida. Existiu a vontade, não de cometer o crime, mas de ultrapassar o limite velocidade. 1.1 – Formas de Conduta - Duas são as formas de conduta: a) Ação - movimento-corpóreo ou comportamento ativo. Exemplo: matar, subtrair, constranger. Os verbos dão a ideia de ação. b) Omissão - abstenção de um comportamento. O crime omissivo próprio basta a ausência de conduta, a lei atribuiu apenas a omissão, independente do resultado, como crime. Exemplo: omissão de socorro. Já o crime omissivo impróprio necessita da ausência de conduta e do resultado. Porém, este crime só ocorre se o agente podia e devia agir, isto é, o agente é o garantidor conforme o art. 13 § 2º. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 19 b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 22/05/2014 1.2 – Ausência de conduta 1.2.1 – Coação física irresistível – pode ser por força da natureza ou ação de um terceiro. Exemplo: o sujeito é levado por uma correnteza vindo a lesionar um terceiro. O sujeito A domina totalmente o sujeito B e coloca uma faca em sua mão. Em seguida, segura o braço e a mão de B e empurra a faca no coração de C. a coação física irresistível é diferente da coação moral irresistível, a coação física exclui aconduta e exclui o fato típico. Já a coação moral exclui a culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. 1.2.2 – Inconsciência – é a falta de capacidade psíquica de vontade que faz desaparecer a conduta. Ex. movimentos praticados em estado de sonambulismo, hipnose, desmaio, crise epiléptica, estado de coma, etc. A inconsciência não deve ser confundida com a hipótese de consciência perturbada, pois nesse caso existe a conduta e na inconsciência não existe conduta. Inconsciência não tem conduta, perturbado tem vontade, é consciente, mas não tem culpabilidade. 2 – Resultado 2.1 - Teoria naturalística – para a teoria, o resultado é a modificação do mundo exterior causada pela conduta. Existem crimes que se consumam sem resultado. Essa modificação pode ser: alteração física (exemplo: destruição de um objeto – art. 163), alteração fisiológica (exemplo: morte art. 121), alteração psicológica (exemplo: percepção da ofensa art. 140). 2.2 – Teoria normativa ou jurídica – segundo esta teoria, o resultado é a lesão ou a possibilidade de lesão a um bem jurídico tutelado por uma norma penal. Segundo a teoria normativa, todo crime possui um resultado, seja ele naturalístico ou jurídico (em tese). Já para a teoria naturalística, nem todo crime possui resultado. 29/05/2014 3 – Nexo de Causalidade – a conduta pode ser a causa de um resultado naturalístico. Quando isso ocorre tem-se a relação de causalidade. O código adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais, mas o regresso não é infinito. Exemplo: “A” desfere uma facada em “B” e em decorrência dos ferimentos ocasionados pela facada “B”, morre. Ligação entre conduta e resultado, se há relação de causa e efeito há nexo de causalidade. Teoria da equivalência dos antecedentes causais. O regresso para verificar a culpa não é infinito, tem que ser observado a culpa ou dolo na conduta. Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 20 É o que acontece com o fabricante da faca pode ser responsabilizado? E o vendedor? É necessário avaliar se o agente, ao realizar a conduta, possuía dolo ou culpa. 3.1 – Outras causas que podem concorrer ou não para o resultado 3.1.1 – Causas absolutamente independentes em relação à conduta do agente. – nas três hipóteses abaixo, haverá a exclusão do nexo causal, haja vista que a conduta do agente não possui relação com o resultado morte este responderá pelos atos praticados, nos exemplos, responderá por tentativa de homicídio. a) Causa pré-existente absolutamente independente em relação à conduta do agente – “A” fere mortalmente “B”, que vem a morrer exclusivamente pelos efeitos do veneno que havia ingerido antes da conduta do agente. Não há relação entre a conduta do agente e a morte da vítima. Não há ligação entre a facada e o veneno que causou a morte. É pré-existente, pois ocorreu antes do fato. b) Causa concomitante (ao mesmo tempo) absolutamente independente em relação à conduta do agente. “A” fere mortalmente “B” no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente pelo disparo de arma de “C”, que, por sua vez, desconhecia a conduta de “A”. c) Causa superveniente absolutamente em relação à conduta do agente. “A” ministra veneno na refeição de “B”. Entretanto, antes de o veneno produzir efeito letal, “B” vem a morrer exclusivamente de um colapso cardíaco. 3.1.2 – Causas relativamente independentes em relação à conduta do agente. Nas causas preexistentes, concomitantes ou supervenientes relativamente independentes, o agente responderá pelo resultado causado, já que a causa que ocorreu para o resultado encontra-se na mesma linha de desdobramento natural da conduta. a) Causa preexistente relativamente independente em relação à conduta do agente. “A” desfere facadas em “B”, portador de hemofilia, que vem a falecer em consequências do ferimento, aliado ao seu estado de hemofilia. O agente é responsabilizado pela morte. b) Causa concomitante relativamente independente em relação à conduta do agente. “A” desfere facadas em “B”, no exato instante em que este está sofrendo um ataque cardíaco. Prova-se que os ferimentos contribuíram para a morte. c) Causa superveniente relativamente independente em relação à conduta do agente. “A”, com intensão de matar, golpeia gravemente “B”, que levado a um hospital vem a falecer em virtude de ter contraído broncopneumonia durante o tratamento, em virtude de seu precário estado de saúde causada pelas lesões praticadas por “A”. d) Causa superveniente relativamente independente em relação à conduta do agente que, por si só, produziu o resultado. (art. 13 §1). Nos termos do referido artigo a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação, quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores imputam-se a quem os praticou. O nexo de Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 21 causalidade é quebrado, não há ligação. Exemplo: 1 - “A” golpeia “B”, que é levado a um hospital e vem a falecer, exclusivamente, em virtude dos ferimentos oriundos de um desabamento. Exemplo 2 – “A” golpeia “B”, que é colocado em uma ambulância. No caminho do hospital, o veiculo se envolve em um acidente. “B” sofre um ferimento que, por si só causa sua morte. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º- A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 04/06/2014 4 - Tipicidade Formal é a Capacidade É a conformidade entre o fato praticado e o tipo penal. É a adequação do fato ao tipo penal. Exemplo: João subtraiu para si o carro de Maria. Esse fato amolda-se ao art. 155, caput. Se devolvido o carro, não cabe o crime de furto. Outro exemplo: alguém pega um celular e joga no chão para destruir, não é roubo. Art. 163. O dolo ou a culpa aparecem expressamente no texto da lei. Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Maria matou José: esse fato amolda-se ao art. 121 caputs. Art. 121. Matar alguém: 5 – Tipicidade Material Segundo predomina na doutrina penal e na jurisprudência do SFT e STJ, para que ocorra o fato típico, não basta a adequação típica, deve ser analisado o desvalor da conduta e se houve dano ao bem jurídico. Exemplo: João subtraiu para si um lápis de Maria. A lesão é relevante ou insignificante? Não há uma forma exata para a tipicidade material, deve ser analisado o caso concreto e também não está na lei, mas a jurisprudência é aceita. Exemplo do lápis. 6 – Teoria da Imputação Objetiva Em verdade não é uma teoria, mas sim um conjunto de princípios orientadores que visam delimitar e complementar o nexo de causalidade. Não é aceita em nosso sistema jurídico, mas tem alguns precedentes aceitos pela doutrina. Um resultado, só pode ser imputado ao agente quando: Notas de aulas - Direito Penal 1 André Teles Página 22 a) Conduta cria ou incrementa um risco não permitido – o risco é proibido ou permitido? Exemplo: Jovem que morreu na piscina em uma festa, estava bêbado. Dar uma festa a maiores de idade servindo bebida alcoólica é um risco permitido, assim não há nexo de causalidade. b) O risco se realiza no resultado concreto; c) o resultado se encontra dentro do alcance do tipo. Neste exemplo há os dois últimos,mas não o primeiro: “A” desejando matar “B” presenteia-o com um pacote turístico a uma localidade com alto índice de violência, inclusive de homicídio, esperando que “B” seja uma das vítimas. “B” viaja e vem a realmente ser vítima de um homicídio. Para a teoria da imputação objetiva, não haverá responsabilidade, pois o risco criado foi permitido. Para a teoria da equivalência dos antecedentes causais “A” deu causa ao resultado, pois atuou com dolo.
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