Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
136 A união faz a solda A soldagem está intimamente ligada às mais importantes ativida- des industriais que existem no mundo moderno: construção naval, ferroviária, aeronáutica e automobilística, caldeiraria, construção civil metálica, indústria metalúrgica, mecânica e elétrica. Na ver- dade, é rara, se é que existe, a indústria que pode prescindir da soldagem como processo de produção ou de manutenção. A soldagem como técnica e o conhecimento tecnológico a ela relacionado estão estreitamente ligados ao avanço das ciências como a física, a química, a eletricidade e a eletrônica. Avanços na metalurgia também obrigam a soldagem a procurar novas técni- cas e materiais que sejam compatíveis com as novas ligas cria- das. Portanto, é um processo que, apesar de importantíssimo, teve seu maior avanço nos últimos 100 anos. Então, ter conhecimento profundo sobre soldagem implica em ter conhecimentos sobre diversas áreas como a metalurgia, a mecâ- nica, a eletrotécnica, a eletrônica, a resistência dos materiais e ciências como a física e a química, que já citamos. Não, caro aluno, não se assuste! As aulas de soldagem deste curso não têm o objetivo de ir assim tão fundo. Aqui, vamos abor- dar os principais processos, seus materiais e técnicas, de modo que você possa ter uma boa idéia da importância deles no con- texto de indústria metal-mecânica. Serão nove aulas que desafiarão sua curiosidade e inteligência. Se você gostar e quiser saber mais, o primeiro empurrão já terá sido dado. O resto, é com você! 137 O que é soldagem? Na verdade, existem muitas definições de soldagem. Poderíamos apresentar várias delas aqui, mas os autores sempre acabam discordando entre si em um ponto ou outro. Por isso, escolhemos apenas uma: aquela que achamos a mais abrangente (ou ampla) de todas. É a definição da Associação Americana de Soldagem (American Welding Society - AWS), segundo a qual, soldagem é o “processo de união de materiais usado para obter a coalescên- cia (união) localizada de metais e não-metais, produzida por a- quecimento até uma temperatura adequada, com ou sem a utili- zação de pressão e/ou material de adição” (in Tecnologia da soldagem de Paulo Villani Marques, pág 352). Está difícil? Vamos explicar. Com a soldagem, você pode unir dois pedaços de material, usando calor com ou sem pressão. Nesse processo, você pode (ou não) ter a ajuda de um terceiro material, que vai funcionar como uma espécie de “cola“, que chamamos o material de adição. Fácil, não? “Que vantagem! Eu posso unir dois materiais parafusando, rebi- tando, colando!” Se você está pensando assim, tem até razão. Em parte... Esses métodos realmente servem para unir materiais. Porém, a grande “sacada” da soldagem é a possibilidade de obter uma união em que os materiais têm uma continuidade não só na aparência externa, mas também nas suas características e pro- priedades mecânicas e químicas, relacionadas à sua estrutura interna. Embora se possa empregar técnicas de soldagem para vidro e plástico, por exemplo, vamos manter nossa atenção voltada para os processos de soldagem das ligas metálicas, já que o foco de nosso estudo consiste nos processos de fabricação para a indús- tria metal-mecânica. E porque lidamos com metais, é necessário lembrar que há condições imprescindíveis para se obter uma sol- da: calor e/ou pressão. O calor é necessário porque grande parte dos processos de sol- dagem envolve a fusão dos materiais, ou do material de adição, 138 no local da solda. Mesmo quando se usa pressão e, às vezes, o ponto de fusão não é atingido, o aquecimento facilita a plasticida- de do metal e favorece a ação da pressão para a união dos me- tais. O primeiro processo de soldagem por fusão com aplicação prática foi patenteado nos Estados Unidos em 1885. Ele utilizava o calor gerado por um arco estabelecido entre um eletrodo de carvão e a peça. O calor do arco fundia o metal no local da junta e quando o arco era retirado, o calor fluía para as zonas adjacentes e provo- cava a solidificação do banho de fusão. Uma nova e significativa evolução aconteceu nesse processo alguns anos mais tarde, quando o eletrodo de carvão foi substitu- ído por um eletrodo metálico. O processo de aquecimento pas- sou, então, a ser acompanhado da deposição do metal fundido do eletrodo metálico na peça. A utilização do oxigênio e de um gás combustível permitiu a ob- tenção de chama de elevada temperatura que permitiu a fusão localizada de determinados metais e a formação de um banho de fusão que, ao solidificar, forma a “ponte” entre as peças a serem unidas. A soldagem por fusão inclui a maioria dos processos mais versáteis usados atualmente. Veja representação esquemática desse processo na ilustração ao lado. 139 Outros processos se baseiam na aplicação de pressões elevadas na região a ser soldada. O aquecimento das peças a serem uni- das facilita a ligação entre as partes. A evolução desses processos está ilustrada a seguir. Adaptado de: Processos de Soldadura por J. F. Oliveira Santos, Lisboa, Edições Técnicas do Instituto de Soldadura e Qualidade, 1993 Hoje a soldagem é o método mais importante para a união per- manente de metais. Neste módulo, você vai estudar os princí- pios básicos de alguns dos processos. O aprofundamento desse conhecimento vai depender do seu grau de interesse. Se você quiser saber mais, é só consultar a bibliografia que está no final deste livro. Solução sólida é a mistura completa dos átomos de dois metais, ou de um metal e um não-metal, que acontece quando os metais estão no estado líquido e continua a existir quando eles se solidi- ficam. 140 Pare! Estude! Responda! Exercício 1. Responda às seguintes perguntas. a) Diga, com suas palavras, o que você entende por solda- gem. b) De acordo com o que você leu nesta primeira parte da lição, cite ao menos duas vantagens da soldagem. c) Observe as coisas ao seu redor e dê o nome de ao menos três produtos que você usa diariamente e que sejam sol- dados. Soldabilidade Para obter a solda, não basta apenas colocar duas peças metáli- cas próximas, aplicar calor com ou sem pressão. Para que a sol- dagem realmente se realize, os metais a serem unidos devem ter uma propriedade imprescindível: a soldabilidade. Soldabilidade é a facilidade que os materiais têm de se unirem por meio de soldagem e de formarem uma série contínua de so- luções sólidas coesas, mantendo as propriedades mecânicas dos materiais originais. O principal fator que afeta a soldabilidade dos materiais é a sua composição química. Outro fator importante é a capacidade de formar a série contínua de soluções sólidas entre um metal e outro. Assim, devemos saber como as diferentes ligas metáli- cas se comportam diante dos diversos processos de soldagem. É preciso saber que, em se tratando de soldagem, cada tipo de material exige maior ou menor cuidado para que se obtenha um solda de boa qualidade. Se o material a ser soldado exigir muitos cuidados, tais como controle de temperatura de aquecimento e de interpasse, ou tratamento térmico após soldagem, por exemplo, dizemos que 141 o material tem baixa soldabilidade. Por outro lado, se o material exigir poucos cuidados, dizemos que o material tem boa solda- bilidade. O quadro a seguir resume o grau de soldabilidade de alguns dos materiais metálicos mais usados na indústria mecâ- nica. Soldabilidade Materiais Ótima Boa Regular Difícil Aço baixo carbono X Aço médio carbono X X Aço alto carbono X Aço inox X X Aços-liga X Ferro fundido cinzento X Ferro fundido maleável e nodular X Ferro fundidobranco X Liga de alumínio X Liga de cobre X Como se vê, a soldabilidade mútua dos metais varia de um mate- rial metálico para outro, de modo que as juntas soldadas nem sempre apresentam as características mecânicas desejáveis para determinada aplicação. Metalurgia da solda O simples fato de se usar calor nos processos de soldagem impli- ca em alterações na microestrutura do material metálico. Na ver- dade, na maioria dos casos, a soldagem reproduz no local da solda os mesmos fenômenos que ocorrem durante um processo de fundição. Ou seja, do ponto de vista da estrutura metalográfi- ca, o material apresenta características de metal fundido. 142 Por isso, não podemos nos esquecer de que, às vezes, o metal após sofrer aquecimento, tem suas características mecânicas afetadas. Assim, a junta soldada pode se tornar relativamente frágil. Na zona afetada termicamente, a estrutura do metal pode ser modificada pelo aquecimento e rápido resfriamento durante o processo de soldagem. A composição química fica, entretanto, praticamente inalterada. Dependendo do processo de soldagem que se use, e da natureza dos metais que estão sendo soldados, teremos um maior ou me- nor tamanho da zona afetada termicamente. Por exemplo, na sol- dagem manual ao arco com eletrodos revestidos finos, a zona afetada termicamente é menor do que na soldagem a gás. É nes- sa zona que uma série de fenômenos metalúrgicos ocorrem. Na região próxima à junta soldada, está a zona de ligação, na qual se observa uma transição entre a estrutura do metal fundido e a do metal de base. Próximo a essa faixa, está a zona afetada termicamente na qual o metal é superaquecido de modo que haja um aumento do ta- manho do grão e, portanto, uma alteração das propriedades do material. Essa faixa é normalmente a mais frágil da junta soldada. À medida que aumenta a distância da zona fundida, praticamente não há diferenças na estrutura do material porque as temperatu- ras são menores. 143 Pare! Estude! Responda! Exercício 2. Assinale as alternativas corretas. a) Para realizar uma boa soldagem, deve-se: 1. ( ) Colocar as peças juntas e aplicar calor. 2. ( ) Usinar o material antes de soldar. 3. ( ) Verificar a soldabilidade dos materiais antes de realizar a solda. 4. ( ) Pintar os locais a serem soldados. b) Na ilustração a seguir, as regiões assinaladas são: 1. ( ) zona de ligação (a), zona fundida (b), zona afetada termicamente (c) 2. ( ) zona afetada termicamente (a), zona do metal base (b), zona de união (c) 3. ( ) zona de adição (a), zona de solda (b), zona de me- tal base (c). 4. ( ) zona afetada termicamente (a), zona fundida (b), zona de ligação (c). Segurança em primeiro lugar Os principais riscos das operações de soldagem são: incêndios e explosões, queimaduras, choque elétrico, inalação de fumos e gases nocivos e radiação. Do ponto de vista do soldador que utiliza o equipamento de sol- dagem, este deve proteger-se contra perigos das queimaduras provocadas por fagulhas, respingos de material fundido e partícu- las aquecidas. Deve se proteger, também, dos choques elétricos e das radiações de luz visível ou invisível (raios infravermelhos e 144 ultravioleta) sempre presentes nos diversos processos de solda- gem. Assim, quando estiver operando um equipamento, ou seja, duran- te a soldagem, o operador deve proteger: • as mãos, com luvas feitas com raspas de couro; • o tronco, com um avental de raspa de couro, ou aluminizado; • os braços e os ombros com mangas e ombreiras também feitas de raspas de couro; • a cabeça e o pescoço, protegidos por uma touca; • os pés e as pernas, com botinas de segurança providas de biqueira de aço e perneiras com polainas que, ao cobrir o peito dos pés, protegem contra fagulhas ou respingos que possam entrar pelas aberturas existentes nas botinas. • dependendo do processo de soldagem, o rosto deve ser prote- gido com máscaras ou escudos de proteção facial dotados de lentes que filtram as radiações infravermelhas e ultravioleta, a- lém de atenuar a intensidade luminosa. No processo oxiaceti- lênico, usam-se, para esse mesmo fim, óculos com lentes es- curas ao invés de máscara; • as vias respiratórias, com máscaras providas de filtros, toda a vez que se trabalhar em locais confinados ou com metais que geram vapores tóxicos como o chumbo e o mercúrio. As roupas do soldador devem ser de tecido não inflamável, e de- vem estar sempre limpas, secas e isentas de graxa e óleo para evitar que peguem fogo com facilidade. Além desses cuidados com a proteção individual, o operador de- ve ficar sempre atento para evitar acidentes que podem ocorrer 145 no armazenamento, no uso e no manuseio do equipamento. Para isso, algumas precauções devem ser tomadas: • Manter o local de trabalho sempre limpo. • Retirar todo o material inflamável do local de trabalho antes de iniciar a soldagem. • Manter o local de trabalho bem ventilado. • Restringir o acesso de pessoas estranhas ao local da solda- gem, isolando-o por meio de biombos. • Usar sempre o equipamento de proteção individual. Finalmente, deve-se também cuidar para que o trabalho do sol- dador não seja prejudicado pela fadiga. Além de aumentar a pos- sibilidade de haver um acidente, a fadiga causa a baixa qualidade da solda e baixos níveis de produção. Para superar esse fator, as seguintes providências devem ser tomadas: 1. Posicionar a peça a ser soldada de modo que a soldagem seja executada na posição plana, sempre que possível. 2. Usar o menor tamanho possível de maçarico/tocha adequado à junta que se quer soldar. 3. Usar luvas leves e flexíveis. 4. Usar máscaras com lentes adequadas que propiciem boa vi- sibilidade e proteção. 5. Garantir ventilação adequada. 6. Providenciar ajuda adicional para a realização de operações como limpeza e goivagem. 7. Colocar a mesas de trabalho e os gabaritos de modo que o soldador possa se sentar durante a soldagem. Nossa primeira aula sobre soldagem termina aqui. Foi apenas uma introdução geral ao assunto. Nas próximas aulas, trataremos de processos específicos com mais detalhes. Por enquanto, faça os exercícios a seguir. 146 Pare! Estude! Responda! Exercício 3. Responda às seguintes questões. a) Com base no que você estudou nesta aula sobre a solda- gem, escreva que tipos de riscos de acidentes você ima- gina que um soldador pode sofrer? b) Com base em sua resposta anterior, justifique o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI). Gabarito 1. a) É um processo utilizado para unir peças, materiais e ele- mentos de máquinas (metais e não metais) com ou sem material de adição. b) Melhor aparência a diversidade de recursos com a possi- bilidade de se obter uma união em que os materiais não sofram a alteração em sua estrutura. c) Lata porta-lápis – compasso externo – estrutura de aço da escrivaninha. 2. a) 3) ( x ) b) 4) ( x ) 3. a) Queimaduras, choques elétricos, radiações de luz. b) Luvas de couro, avental de raspa de couro ou aluminiza- do, perneiras com polainas, máscara, ombreiras etc. A união faz a solda O que é soldagem? condições imprescindíveis primeiro processo de soldagem por fusão Solução sólida Exercício Soldabilidade Metalurgia da solda zona de ligação zona afetada termicamente Exercício Segurança em primeiro lugar Exercício Gabarito
Compartilhar