Prévia do material em texto
AULA 2 ÉTICA, PRIVACIDADE E NOVAS TECNOLOGIAS NAS ORGANIZAÇÕES Profa Karen Freme Duarte SturzeneggerTEMA 1 PRIVACIDADE DIGITAL O direito digital é uma área do direito que se concentra nos aspectos legais relacionados às tecnologias da informação e comunicação, abordando questões como privacidade, segurança cibernética, proteção de dados, crimes cibernéticos e liberdade de expressão na era digital. Com avanço da tecnologia e a crescente digitalização de nossas vidas, direito digital desempenha um papel crucial na proteção de nossos direitos e liberdades no ambiente digital. Inicialmente, direito à proteção dos dados pessoais teve origem com conceito de privacidade, evoluindo ao longo do tempo. Em 1890, o artigo "The Right to Privacy" estabeleceu a privacidade como um direito de ser deixado só, incluindo a intimidade, a honra e as informações pessoais. Antes disso, a privacidade era vista como um direito de propriedade inviolável, protegido contra intromissões arbitrárias do Estado (Magalhães; Oliveira, 2021). Com o passar do tempo, a privacidade passou a ser reconhecida como um direito fundamental, garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (Magalhães; Oliveira, 2021). Cartas normativas internacionais ampliaram o conceito, incluindo informações pessoais e direito de controle sobre os próprios dados. Os avanços tecnológicos influenciaram essa evolução, incorporando informações pessoais às discussões, devido à necessidade de uso automatizado de dados nas tecnologias e nas relações sociais atuais. Uma das principais áreas de preocupação no direito digital é a privacidade e a proteção de dados pessoais. Com a coleta massiva de informações e a proliferação de dispositivos conectados, nossos dados pessoais estão cada vez mais expostos a riscos de uso indevido, violações de segurança e violações de privacidade. Nesse contexto, leis e regulamentos de proteção de dados, como Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) na União Europeia, são fundamentais para garantir que nossas informações sejam tratadas com cuidado e que tenhamos controle sobre como são coletadas, usadas e compartilhadas (Pinheiro, 2008). Outro aspecto importante do direito digital é a segurança cibernética. Com a rápida evolução das ameaças cibernéticas, é essencial ter leis e medidas em vigor para proteger indivíduos, organizações e infraestruturas digitais contra ataques e intrusões. Isso envolve a criação de leis para punir crimes cibernéticos, o estabelecimento de padrões de segurança para empresas e a promoção da conscientização sobre boas práticas de segurança cibernética. Além disso, 2direito digital abrange a liberdade de expressão e acesso à informação na era digital. A internet e as plataformas digitais oferecem uma ampla gama de possibilidades para a livre expressão de ideias, mas também apresentam desafios, como controle de conteúdo, a disseminação de desinformação e a censura on-line. Nesse sentido, direito digital busca encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a proteção contra abusos, incentivando a responsabilidade das plataformas digitais e garantindo que os direitos fundamentais sejam preservados no ambiente on-line (Nissenbaum, 2020). Para Castro (2021), à medida que a tecnologia continua a evoluir, o direito digital enfrenta constantes desafios e demanda uma abordagem ágil e adaptável. A legislação e as regulamentações devem ser atualizadas para lidar com questões emergentes, como inteligência artificial, Internet das Coisas e blockchain, garantindo que os direitos individuais e coletivos sejam protegidos no ambiente digital. No contexto do direito digital e da privacidade digital, essa lógica se manifesta por meio da coleta massiva de dados pessoais e da vigilância digital. Com avanço das tecnologias de monitoramento e a proliferação de dispositivos conectados, nossas atividades on-line e offline são monitoradas e registradas por uma variedade de atores, como governos, empresas e até hackers. Essa constante vigilância digital cria uma sensação de exposição e controle, semelhante à experiência de ser observado no panóptico. As informações coletadas sobre nós, como histórico de navegação, preferências pessoais, localização geográfica e até dados biométricos, são utilizadas para análises, marketing direcionado, tomadas de decisão automatizadas e outros fins. Foucault (2005) explica que a lógica central do panóptico é a vigilância constante e a sensação de estar sendo observado, mesmo quando não há uma autoridade presente de fato. Essa vigilância cria um efeito disciplinar, levando os indivíduos a internalizarem a ideia de que estão sendo constantemente monitorados, que, por sua vez, influencia seu comportamento e os leva a se autorregular. Essa lógica do panóptico no contexto digital levanta questões importantes sobre direito à privacidade e a proteção de dados pessoais. Existem várias dimensões da privacidade digital que devem ser consideradas. A primeira é a privacidade dos dados pessoais. Isso se refere às informações identificáveis individualmente, como nome, endereço, número de 3telefone, informações financeiras e de saúde, entre outras. Os usuários devem ter o direito de decidir quais dados pessoais desejam compartilhar, com quem desejam compartilhá-los e como essas informações serão usadas (Solove, 2004). Além disso, a privacidade digital também se refere à privacidade nas comunicações on-line. Isso envolve a segurança das comunicações eletrônicas, como e-mails, mensagens instantâneas e chamadas de vídeo. As pessoas devem poder se comunicar livremente na Internet sem se preocupar com a interceptação ou vigilância indesejada de suas conversas. Acquisti, John e Loewenstein (2013) informam outro aspecto importante da privacidade digital, que é a privacidade nas atividades de navegação na web. As empresas coletam uma quantidade significativa de informações sobre os usuários enquanto eles navegam na Internet, como histórico de navegação, preferências, cliques e localização geográfica. Esses dados são frequentemente usados para fins de publicidade direcionada e análise de comportamento do usuário. No entanto, os usuários devem ter direito de optar por não serem rastreados e de terem controle sobre quais informações são coletadas sobre eles durante sua atividade on-line. A proteção da privacidade digital é essencial para garantir a segurança dos usuários e evitar abusos. A divulgação inadequada ou o acesso não autorizado a informações pessoais pode resultar em vários problemas, como roubo de identidade, fraude financeira e violações da privacidade pessoal. Além disso, a falta de privacidade pode levar a um ambiente on-line em que as pessoas se sintam inibidas e relutantes em expressar suas opiniões e compartilhar informações pessoais. A privacidade digital abrange uma variedade de conceitos e princípios importantes, conforme citado abaixo: Dados pessoais: são informações que identificam ou podem ser usadas para identificar uma pessoa, como nome, endereço, número de telefone, endereço de e-mail, histórico de navegação na web e até informações de localização. Proteger esses dados contra acesso não autorizado e uso indevido é fundamental para a privacidade digital. Consentimento informado: esse conceito defende que os usuários devem ser informados de como suas informações serão coletadas, usadas e compartilhadas antes de fornecerem esses dados. consentimento informado implica que os indivíduos têm direito de tomar decisões 4conscientes sobre sua privacidade e de ter controle sobre uso de suas informações pessoais. Anonimato e pseudonimato: anonimato refere-se à capacidade de realizar atividades on-line sem revelar sua identidade real. pseudonimato, por sua vez, envolve uso de um nome fictício ou pseudônimo para proteger a identidade pessoal. Ambos são mecanismos que buscam preservar a privacidade digital dos usuários. Segurança da informação: a segurança da informação é um componente essencial da privacidade digital. Isso envolve medidas técnicas e organizacionais para proteger os dados pessoais contra acessos não autorizados, como uso de criptografia, firewalls e políticas de proteção de dados. Direito ao esquecimento: o direito ao esquecimento refere-se ao direito de uma pessoa de ter informações pessoais irrelevantes, desatualizadas ou inadequadas removidas dos resultados de busca on-line. Esse conceito destaca a importância de controlar a disponibilidade contínua de informações pessoais na era digital. Para proteger a privacidade digital, é importante adotar medidas de segurança e implementar políticas adequadas de proteção de dados. Isso inclui uso de criptografia para proteger as comunicações on-line, a adoção de políticas de privacidade transparentes por parte das empresas, a obtenção de consentimento explícito dos usuários antes de coletar seus dados e a implementação de práticas seguras de armazenamento e gerenciamento de informações pessoais (Magalhães; Oliveira, 2021). Além disso, os governos desempenham um papel crucial na proteção da privacidade digital por meio da legislação e da regulamentação adequada. Leis de proteção de dados, como Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) na União Europeia e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, estabelecem diretrizes e requisitos para tratamento adequado das informações pessoais. TEMA 2 DIREITO À PRIVACIDADE NA ERA DIGITAL avanço tecnológico e a era digital trouxeram consigo inúmeras facilidades e transformações significativas na forma como interagimos com mundo ao nosso redor. No entanto, essa nova realidade também levanta questões 5complexas e desafiadoras, principalmente quando se trata do direito à privacidade. O filósofo Han (2018) salienta que nesta era digital, somos constantemente bombardeados por uma infinidade de dispositivos conectados e aplicativos que coletam, armazenam e analisam uma quantidade imensa de dados pessoais. Se, por um lado, isso pode trazer benefícios em termos de personalização de serviços e otimização de recursos, por outro lado, coloca em risco a nossa privacidade. Meireles (2016) ressalta que a privacidade digital é um direito fundamental que nos permite controlar nossas informações pessoais e decidir como elas são coletadas, armazenadas, usadas e compartilhadas por terceiros. No entanto, a constante vigilância digital muitas vezes coloca em risco essa privacidade, levando à erosão de nossos direitos individuais e à falta de autonomia sobre nossos próprios dados. Para responder a essa dinâmica de poder e proteger nossa privacidade digital, é fundamental que existam marcos legais e regulatórios sólidos (Brasil, 2014), como a legislação de proteção de dados, que estabeleçam diretrizes claras para o uso e a coleta de informações pessoais. Além disso, é importante que os indivíduos estejam conscientes de suas opções de proteção, como o uso de ferramentas de criptografia, redes privadas virtuais (VPNs) e configurações de privacidade em dispositivos e serviços on-line. A privacidade como um direito que garante a liberdade individual está intrinsecamente ligada à capacidade de controlar o acesso e o uso de informações pessoais, como dados financeiros, registros médicos, preferências de consumo e até nossas comunicações mais íntimas. No entanto, no cenário digital atual, a privacidade está cada vez mais ameaçada. Empresas e governos têm acesso facilitado a uma quantidade impressionante de informações sobre nossas vidas, muitas vezes sem nosso conhecimento ou consentimento adequado. Algoritmos de inteligência artificial são capazes de traçar perfis detalhados, revelando nossos hábitos, preferências e comportamentos, que pode resultar em práticas discriminatórias ou invasivas (Han, 2018). Além disso, compartilhamento de dados entre empresas e a falta de regulamentação adequada criam um ambiente propício para vazamentos e violações de segurança, expondo nossas informações pessoais a riscos significativos, como roubo de identidade e manipulação de dados. Diante desse 6contexto, é fundamental discutir e garantir a proteção do direito à privacidade na era digital (Magalhães; Oliveira, 2021). É preciso estabelecer um equilíbrio entre a utilização dos avanços tecnológicos e respeito aos direitos individuais, promovendo a transparência, a responsabilidade e a conscientização sobre o uso dos dados pessoais. Para isso, é necessário desenvolvimento de legislações adequadas que regulamentem a coleta, armazenamento e o uso de dados pessoais, bem como estabelecimento de mecanismos eficazes de controle e fiscalização. Segundo Nissenbaum (2020), é essencial investir em tecnologias que garantam a segurança e a proteção dos dados, como a criptografia e anonimato, além de promover a educação digital e a conscientização dos usuários sobre seus direitos e responsabilidades. Garantir o direito à privacidade na era digital é um desafio complexo, mas necessário para preservar a dignidade humana, a liberdade individual e a confiança nas tecnologias. Somente com ações conjuntas, envolvendo governos, empresas e sociedade civil, poderemos construir um ambiente digital mais seguro e respeitoso, onde a privacidade seja valorizada e protegida como um direito fundamental de todos. TEMA 3 MARCO CIVIL DA INTERNET: LEI N. 12.965/2014 advento da internet revolucionou a forma como nos comunicamos, compartilhamos informações e interagimos no mundo contemporâneo. Com o objetivo de regulamentar as relações na esfera digital, garantindo direitos e responsabilidades, Brasil promulgou o Marco Civil da Internet, Lei n. 12.965/2014 (Brasil, 2014). Marco Civil da Internet representa um marco regulatório fundamental, estabelecendo princípios, direitos e deveres que norteiam uso da internet no país. Sua principal finalidade é proteger a liberdade de expressão, a privacidade, a neutralidade da rede e promover a democratização do acesso à informação. Um dos pontos centrais do Marco Civil é a garantia da neutralidade da rede, que assegura que todo conteúdo e serviço na internet devem ser tratados de forma igualitária, sem discriminação ou priorização por parte dos provedores de acesso. Isso impede a formação de um cenário em que alguns conteúdos ou serviços tenham vantagens ou privilégios em detrimento de outros, garantindo a 7igualdade de oportunidades e a livre concorrência no ambiente digital (Magalhães; Oliveira, 2021). A Lei n. 12.965/2014 Marco Civil da Internet, estabelece uma série de princípios, direitos e deveres para a regulamentação do uso da internet no Brasil. A lei é dividida em capítulos que abordam diferentes aspectos relacionados ao ambiente digital, como: Neutralidade da rede: a neutralidade da rede é um dos pilares fundamentais do Marco Civil. Ela garante que todo o tráfego de dados na internet deve ser tratado de forma igualitária, sem discriminação ou priorização por parte dos provedores de acesso. Isso significa que todos os conteúdos, serviços e aplicativos devem ser acessíveis de maneira equitativa, sem restrições ou bloqueios injustificados. Privacidade e proteção de dados pessoais: o Marco Civil estabelece a proteção à privacidade e aos dados pessoais dos usuários da internet. Ele determina que provedores de internet e serviços on-line devem adotar medidas de segurança e sigilo das informações coletadas. Além disso, a coleta, armazenamento e o compartilhamento desses dados devem ser realizados com consentimento do usuário ou por determinação legal, respeitando os princípios da finalidade, adequação e necessidade. Responsabilidade dos provedores de internet: a lei aborda a responsabilidade dos provedores de internet em relação ao conteúdo disponibilizado por terceiros. Ela estabelece que os provedores não podem ser responsabilizados pelo conteúdo gerado por usuários, a menos que não tomem as medidas necessárias para retirar o conteúdo após ordem judicial específica. Isso busca conciliar a liberdade de expressão com a responsabilidade de combater abusos e violações de direitos. Liberdade de expressão: o Marco Civil assegura a liberdade de expressão dos usuários na internet, garantindo que eles possam se manifestar livremente, desde que não violem a legislação em vigor. A lei proíbe a remoção arbitrária de conteúdos e estabelece que a retirada de conteúdo somente pode ocorrer mediante ordem judicial específica. Crime cibernético e segurança da informação: o Marco Civil prevê medidas para combate ao crime cibernético e a proteção da segurança da informação. Ele estabelece que provedores de internet devem guardar registros de acesso dos usuários por determinado período, a fim de auxiliar 8investigações criminais. Além disso, a lei determina a necessidade de implementação de medidas de segurança para proteger a integridade e a confidencialidade das informações. Democratização do acesso à internet: Marco Civil busca promover a universalização do acesso à internet no Brasil, incentivando a ampliação da infraestrutura e dos serviços de conexão em todas as regiões do país. A lei estabelece diretrizes para a prestação de serviços de conexão e determina que o acesso à internet é essencial para exercício da cidadania e desenvolvimento social e econômico. Além disso, Marco Civil estabelece a proteção à privacidade e aos dados pessoais dos usuários, determinando que provedores de internet e serviços on- line devem adotar medidas de segurança e sigilo das informações coletadas. Também estabelece que a coleta, o armazenamento e compartilhamento desses dados devem ser realizados com consentimento do usuário ou por determinação legal, respeitando os princípios da finalidade, adequação e necessidade. A lei também aborda a responsabilidade dos provedores de internet em relação ao conteúdo disponibilizado por terceiros. Estabelece que os provedores não podem ser responsabilizados pelo conteúdo gerado por usuários, a menos que não tomem as medidas necessárias para retirar o conteúdo após ordem judicial específica. Isso busca conciliar a liberdade de expressão com a responsabilidade de combater abusos e violações de direitos (Pinheiro, 2018). Segundo Castro (2021), Magalhães e Oliveira (2021), Marco Civil da Internet é uma importante conquista legislativa que visa promover o desenvolvimento sustentável da internet no Brasil, garantindo direitos fundamentais e equilibrando interesses diversos. Ao estabelecer princípios como neutralidade da rede, privacidade e responsabilidade, a lei busca criar um ambiente digital que respeite os direitos individuais, fomente a inovação e estimule a participação ativa dos cidadãos na sociedade da informação. Busca-se, assim, promover a confiança e a integridade nas interações e transações realizadas na internet. 4 LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS: LEI N. 13.709/2018 A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), instituída pela Lei n. 13.709/2018 (Brasil, 2018), representa um marco importante na legislação 9brasileira no que diz respeito à proteção e privacidade de dados pessoais. Essa lei estabelece diretrizes e regulamentações para o tratamento de informações pessoais por organizações públicas e privadas, com objetivo de garantir a segurança e a privacidade dos dados dos cidadãos. A LGPD foi inspirada por leis semelhantes em vigor em outros países, como Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia. Ela foi criada em resposta às preocupações crescentes sobre a coleta, o armazenamento e o uso indevido de informações pessoais por empresas e organizações, especialmente no contexto digital. A nova legislação estabelece uma série de direitos para os titulares dos dados, tais como direito de acesso, retificação, exclusão e portabilidade das informações pessoais. Além disso, impõe obrigações às empresas, como a adoção de medidas técnicas e organizacionais para proteger os dados, a realização de avaliações de impacto sobre a privacidade e a nomeação de um encarregado de proteção de dados. Cots e Oliveira (2018) informam que a LGPD também estabelece bases legais para tratamento de dados pessoais, exigindo o consentimento do titular em muitos casos, mas permitindo também processamento em situações específicas, como para cumprimento de obrigações legais, proteção da vida ou exercício regular de direitos. Segue alguns dos principais conceitos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) de acordo com a Lei n. 13.709/2018 (Brasil, 2018): Dados pessoais: são todas as informações que se referem a uma pessoa física identificada ou identificável. Isso inclui dados como nome, endereço, CPF, RG, dados biométricos, dados de localização, entre outros. Tratamento de dados: refere-se a qualquer operação realizada com os dados pessoais, como coleta, armazenamento, utilização, compartilhamento, transferência, entre outras atividades. Titular dos dados: é a pessoa física a quem os dados pessoais se referem, ou seja, é o indivíduo a quem os dados pertencem e sobre qual são tratados. é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que toma as decisões sobre tratamento dos dados pessoais, definindo como, quando e por que os dados serão processados. O controlador é responsável por garantir a conformidade com a LGPD. 10Operador: é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o tratamento dos dados em nome do controlador. operador atua conforme as instruções do controlador e deve garantir a segurança e a privacidade dos dados pessoais. Consentimento: é a manifestação livre, informada e inequívoca do titular dos dados concordando com o tratamento de suas informações pessoais para uma finalidade específica. consentimento deve ser obtido de forma clara e transparente, podendo ser revogado a qualquer momento pelo titular. Encarregado de proteção de dados (DPO): é a pessoa indicada pelo controlador para atuar como ponto de contato entre a organização, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). DPO tem a função de orientar e monitorar o cumprimento das normas da LGPD pela empresa. Anonimização: é processo pelo qual os dados pessoais são modificados de forma a não serem mais atribuíveis a um indivíduo específico, impossibilitando sua identificação. Dados anonimizados não são considerados dados pessoais pela LGPD. A entrada em vigor da LGPD representa uma mudança significativa na cultura de proteção de dados no Brasil. Ela busca promover a transparência, a segurança e a responsabilidade no tratamento das informações pessoais, fortalecendo a confiança dos cidadãos e aprimorando as relações entre as organizações e seus clientes. 5 PRIVACIDADE, MARKETING DIGITAL E REDES SOCIAIS A sociedade contemporânea e a era digital estão profundamente interligadas, moldando a forma como vivemos e interagimos. A tecnologia digital revolucionou a forma como nos comunicamos, permitindo uma conexão instantânea e global. As redes sociais, os aplicativos de mensagens e as plataformas de compartilhamento de conteúdo tornaram-se parte integrante da vida cotidiana, facilitando a disseminação de informações e a interação entre as pessoas. A era digital transformou os padrões de consumo e comércio. As transações on-line se tornaram comuns, facilitando a compra de produtos e serviços de forma conveniente e rápida. comércio eletrônico expandiu as 11opções disponíveis aos consumidores e permitiu surgimento de novos modelos de negócios. No entanto, a sociedade contemporânea enfrenta desafios nesse contexto digital. A dependência excessiva da tecnologia pode levar ao isolamento social, à diminuição da interação face a face e ao aumento da ansiedade relacionada ao uso constante de dispositivos eletrônicos. Além disso, surgiram preocupações relacionadas à privacidade e à segurança dos dados pessoais, à disseminação de notícias falsas e ao uso indevido da tecnologia (Nissenbaum, 2020; Santos; Batista, 2021). Diante desses desafios, é fundamental que a sociedade contemporânea desenvolva um olhar crítico e ético em relação à era digital. É necessário equilibrar o uso da tecnologia com a preservação de valores humanos essenciais, como a privacidade, a intimidade, a interação social e respeito mútuo. desenvolvimento de habilidades digitais e a conscientização sobre os impactos da tecnologia são fundamentais para garantir que a era digital seja utilizada de forma responsável e benéfica para todos. Ao discutir sobre privacidade, marketing digital e redes sociais, é possível refletir sobre as consequências dessa dinâmica na sociedade atual. Han (2017; 2018) nos alerta para a importância de preservar espaços de intimidade e de proteger a privacidade em meio à cultura de exposição e autopromoção característica das redes sociais, desenvolvendo uma relação equilibrada com a tecnologia, utilizando-a de forma consciente e reflexiva, a fim de preservar nossa autonomia e bem-estar em meio ao enxame digital. Ainda na perspectiva de Han (2015; 2018), o filósofo alerta para a importância de estabelecer limites e encontrar momentos de desconexão para preservar nossa privacidade, atenção e saúde mental. Nos convida a questionar e repensar a forma como nos relacionamos com essas plataformas e a buscar um equilíbrio entre a conexão digital e a preservação da privacidade como um elemento essencial para indivíduo. A busca constante pela produtividade, a sobrecarga de informações, as expectativas sociais e a pressão para sucesso pessoal e profissional geram uma sensação de cansaço e esgotamento. A sociedade atual, marcada pela cultura da performance e do individualismo, contribui para a exaustão física e psicológica dos indivíduos. A constante conexão digital e acesso ilimitado às informações intensificam a demanda por desempenho e contribuem para o cansaço generalizado (Han, 2015). 12Importante ressaltar que a tecnologia prometia facilitar a vida e criar mais tempo livre, mas na realidade, ela contribui para o aumento da carga de trabalho e da pressão por produtividade. E a lógica do marketing digital incentiva a exposição constante, gerando uma sensação de vigilância e a necessidade de autopublicidade para obter validação e aceitação social. Dessa forma, a privacidade pode ser considerada uma vítima do atual sistema de vigilância e autopromoção presente nas redes sociais (Acquisti, 2013; Nissenbaum, 2020). marketing digital revolucionou a maneira como as empresas se comunicam e interagem com os consumidores. Por meio das redes sociais, é possível alcançar muitas pessoas de forma rápida e direcionada. No entanto, essa estratégia muitas vezes depende da coleta de dados pessoais dos usuários, como preferências, histórico de compras, localização e até informações demográficas. Embora o marketing digital ofereça muitas vantagens, é essencial equilibrar o uso dos dados com a privacidade dos usuários. As redes sociais se tornaram plataformas em que as pessoas compartilham informações pessoais e interagem com conteúdo de diversas empresas. Nesse contexto, é fundamental que as organizações estejam cientes das leis e regulamentos de proteção de dados, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) na União Europeia. Os usuários têm direito de saber como suas informações estão sendo utilizadas e de ter controle sobre elas. As empresas devem ser transparentes em relação ao uso dos dados e obter consentimento explícito dos usuários para o tratamento de suas informações pessoais. Além disso, é importante adotar medidas de segurança adequadas para proteger os dados contra acessos não autorizados e garantir a sua integridade. Para Solove (2004), Meireles e Oliveira (2016), encontrar equilíbrio entre marketing eficaz e a proteção da privacidade é um desafio para as empresas atualmente. É necessário adotar práticas responsáveis de coleta e uso de dados, respeitando os direitos dos usuários. Ao fazer isso, as organizações podem estabelecer uma relação de confiança com seu público, proporcionando uma experiência positiva e personalizada, sem comprometer a privacidade dos indivíduos. 13REFERÊNCIAS ACQUISTI, A.; JOHN, L. K.; LOEWENSTEIN, G. What Is Privacy Worth? The Journal of Legal Studies, V. 42, n. 2, p. 249-274, 2013. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. BRASIL. Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. CASTRO, Direito digital na era da Internet das coisas: o direito à privacidade e sancionamento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Caderno Âmbito Jurídico, V. 26, 2021. Disponível em: protecao-de-dados-pessoais>. Acesso em: 21 jul. 2023. COTS, M.; OLIVEIRA, R. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais Comentada. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 2005. E- book. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. HAN, Sociedade do cansaço. Vozes, 2015. Sociedade da transparência. Editora, 2017. No enxame: perspectivas do digital. Vozes, 2018. MAGALHÃES, R. A.; OLIVEIRA, E. C. R. N. direito à privacidade na era digital. Revista Jurídica da FA7, V. 18, n. 1, 55-70, 2021. NISSENBAUM, H. Privacy In Context: Technology, Policy, And The Integrity Of Social Life. Stanford University Press, 2020. Disponível em: 14Acesso em: 21 jul. 2023. PINHEIRO, P.P. Direito digital. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Proteção de dados pessoais: comentários à Lei n. 13.709/2018 (LGPD). São Paulo: Saraiva Jur, 2018. SANTOS, C. C. A.; BATISTA, C. Enfrentamento das fake news no processo eleitoral a partir das leis de proteção de dados. In: ENAJUS, 2021. Anais... SILVA, A. R. A proteção de dados no Brasil: A tutela do direito à privacidade na sociedade da informação. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Juiz de Fora, 2017. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. SOLOVE, D. J. The Digital Person: Technology And Privacy In The Information Age (Full Text Of Book). Gwu Law School Public Law Research Paper, V. 5, 2017. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. VIEIRA, T.M. Direito a privacidade da sociedade da informação. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Brasília. 2007. Disponível em: Acesso em: 21 jul. 2023. 15