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Universidade Federal de Ouro Preto
Departamento de Direito
Disciplina: Teoria Geral do Processo – Prof. Thais Pimenta Moreira
Resumo e Atividades de Fixação
UNIDADE 07 - TGP - TEORIA GERAL COISA JULGADA
CONSIDERAÇÕES GERAIS
	Com a publicação, a sentença se torna irretratável: a sentença não poderá ser modificada ou revogada pelo mesmo órgão jurisdicional que a proferiu, ou seja, o juiz cumpre e acaba o seu ofício, atuando a vontade da lei e compondo a lide. Mas o Estado não disse, ainda, a última palavra sobre a causa, pois a impugnação da sentença por meio dos “recursos” proporcionará novo julgamento da lide, podendo a decisão de segundo grau reformar a de primeiro grau. Isso porque a primeira sentença ainda não transitou em julgado. Enquanto sujeita a recurso, a sentença constitui simples situação jurídica. A doutrina tradicional via na coisa julgada um dos efeitos da sentença, até que Liebman, na sua obra, “Eficácia e Autoridade da Sentença”, veio provocar verdadeira revolução nesse conceito, ao sustentar que os efeitos da sentença eram aqueles tradicionalmente reconhecidos pela moderna doutrina (declaratórios, condenatórios e constitutivos), e que a coisa julgada era somente uma qualidade especial daqueles efeitos.
COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL
	Proferida uma sentença de mérito, a parte interessada na sua reforma pode impugná-la por meio de recurso. Enquanto pendente o prazo recursal, a sentença poderá ser modificada. Mas chegará um momento em que não mais são admissíveis quaisquer recursos, ou porque não foram utilizados nos respectivos prazos ou porque não caibam ou não haja mais recursos a serem interpostos. A sentença, então, não podendo ser impugnada, porque não podem mais ser interpostos recursos, transita em julgado, quer dizer, torna-se imutável, como ato processual, dentro do mesmo processo em que foi proferida, tornando-se impossível a averiguação da justiça ou injustiça da decisão. A esse fenômeno, que imprime imutabilidade à sentença em decorrência da preclusão do prazo para recurso, dá-se o nome de coisa julgada formal.
	Imutável a sentença como ato processual (por força da coisa julgada formal), ocorre, em conseqüência, a imutabilidade do conteúdo do ato, cujo comando, nele inserido, torna-se estável, definitivo, inatacável, projetando-se além do processo em que foi praticado, não podendo ser desconhecido fora dele. Quer dizer, os efeitos da sentença (declaratórios, condenatórios e constitutivos ou mesmo quando a demanda é julgada improcedente) tornam-se também imutáveis e a sentença será a lei reguladora da espécie decidida. A esse fenômeno denomina-se coisa julgada material (ou substancial), que consiste no fenômeno pelo qual a imperatividade do comando emergente da sentença adquire força de lei entre as partes. Em virtude dela, nem o juiz pode voltar a julgar, nem as partes a litigar, nem o legislador a regular diferentemente a relação jurídica. Com efeito, dispõe o art. 467 do CPC: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário”. Nesse sentido diz-se que o comando adquire autoridade de coisa julgada, a impedir que a relação de direito material, entre as mesmas partes, seja reexaminada e decidida no mesmo ou em outro processo, pelo mesmo ou outro juiz ou tribunal.
	A coisa julgada formal é pressuposto da coisa julgada material, isto é, a coisa julgada formal pode existir sozinha em determinado caso, como ocorre nas sentenças terminativas, que apenas extinguem o processo sem julgar a lide. Mas a coisa julgada material só pode ocorrer de par com a coisa julgada formal, ou seja, toda sentença para transitar materialmente em julgado deve, também passar em julgado formalmente.
	Só as sentenças de mérito (CPC, art. 269), que decidem a causa acolhendo ou rejeitando a pretensão do autor, produzem a coisa julgada material. Não tem essa autoridade (embora se tornem imutáveis pela preclusão) as sentenças que não representam a solução do conflito de interesses deduzido em juízo, ou seja, as que põem fim à relação processual sem julgamento de mérito (CPC, art. 267), as proferidas em procedimento de jurisdição voluntária, as sentenças proferidas em processos cautelares, ainda por que revogáveis ou modificáveis a qualquer tempo (art. 807), assim como as decisões interlocutórias, ou seja, só produzem coisa julgada formal. Igualmente não fazem coisa julgada os despachos de mero expediente, que, aliás, nem são recorríveis.
LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA
	A sentença compõe-se de três partes, a saber: relatório, fundamentação (ou motivação) e dispositivo (ou decisão). Quando a doutrina traça os limites objetivos da coisa julgada, determina que parte da sentença transita em julgado (formal e materialmente). Ninguém jamais negou que o relatório não transita em julgado, da mesma forma que nunca se contestou que o dispositivo transita em julgado. O problema reside, todo ele, na motivação da sentença, ou seja, se os motivos transitam ou não em julgado.
	Os motivos, ainda que relevantes para fixação do dispositivo da sentença, limitam-se ao plano lógico da elaboração do julgado. Influenciam em sua interpretação, mas não se recobrem do manto de intangibilidade que é próprio da res iudicata. O julgamento, que se torna imutável e indiscutível, é a resposta dada ao pedido do autor, não o “porquê” dessa resposta.
LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA
	Fixar os limites subjetivos da coisa julgada significa responder à pergunta: quem é atingido pela autoridade da coisa julgada material? Aqui a resposta é dada expressamente pelo art. 472 do CPC: a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Entende-se terceiro juridicamente prejudicado toda pessoa que, sem ter sido parte no processo, for titular de alguma relação jurídica material afetada pela decisão da causa.
	Não se pode dizer que os estranhos possam ignorar a coisa julgada. “Como todo ato jurídico relativamente às partes entre as quais intervém, a sentença existe e vale com respeito a todos.” Não é certo, portanto, dizer que a sentença só prevalece ou somente vale entre as partes. O que ocorre é que, apenas a imutabilidade e a indiscutibilidade da sentença não podem prejudicar, nem beneficiar, estranhos ao processo em que foi proferida a decisão trânsita em julgado.
	
	A limitação da coisa julgada às partes, bastante difusa no processo moderno, obedece a razões técnicas ligadas à própria estrutura do ordenamento jurídico, em que a coisa julgada tem o mero escopo de evitar a incompatibilidade prática entre os comandos e não o de evitar decisões inconciliáveis no plano lógico. Mas o principal fundamento para a restrição da coisa julgada às partes é de índole política: quem não foi sujeito do contraditório, não tendo a possibilidade de produzir suas provas e suas razoes e assim influir sobre a formação do convencimento do juiz não pode ser prejudicado pela coisa julgada.
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