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Governador Rodrigo Garcia Secretário de Agricultura Francisco Maturro Secretário-executivo Adriano Quercia Soares Chefe de Gabinete Ricardo Lorenzini Subsecretário de Agricultura Orlando Melo de Castro Coordenador da CATI Alexandre Manzoni Grassi GUIA DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL – CATI novembro/2022 Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva G. Blanco EDIÇÃO E PUBLICAÇÃO Departamento de Extensão Rural – Dextru Centro de Comunicação Rural – Cecor Diretora: Bárbara Beraquet Editoras Responsáveis: Cleusa Pinheiro / Graça D’Auria Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo Designer Gráfico: Paulo Santiago Capa: Mariana Ahnelli Fotografias: Banco de Imagens CATI Distribuição: Cecor (CATI) BLANCO, Maria Cláudia Silva Garcia. Guia de Plantas Medicinais e Aromáticas, Campinas, CATI, 2022. 79p. 29,7cm (Impresso Especial). CDD 633.88 SUMÁRIO GUIA DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... i AS PLANTAS MEDICINAIS E SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS ....................................... 1 ÁCIDOS URÔNICOS (GOMAS E MUCILAGENS) ...................................................... 1 TANINOS ................................................................................................................... 2 GLICOSÍDEOS ........................................................................................................... 2 SAPONINAS .............................................................................................................. 3 ALCALOIDES ............................................................................................................. 4 ÓLEOS ESSENCIAIS .................................................................................................. 4 COMPONENTES MINERAIS ..................................................................................... 5 VITAMINAS ............................................................................................................... 6 LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 6 HORTA MEDICINAL ................................................................................................... 7 RECEITAS MEDICINAIS ............................................................................................... 10 SISTEMA PRODUTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS ..................................................... 13 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14 PRÁTICAS AGRÍCOLAS RECOMENDADAS PARA A PRODUÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS ................................................................................................ 15 PLANTIO E MANEJO CULTURAL ................................................................................. 19 COLHEITA ................................................................................................................... 23 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 26 PROPAGAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS ............................................................. 27 PROPAGAÇÃO SEXUADA EM PLANTAS MEDICINAIS ............................................ 28 PROPAGAÇÃO ASSEXUADA EM PLANTAS MEDICINAIS ........................................ 29 SUBSTRATO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS ............................................................ 33 LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 34 CONTROLE NATURAL DE MATO, PRAGAS E DOENÇAS NA HORTA MEDICINAL ...... 35 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 36 PRINCIPAIS PRAGAS DA HORTA MEDICINAL ......................................................... 37 ÁCAROS .................................................................................................................... 37 COCHONILHAS ......................................................................................................... 37 FORMIGAS ................................................................................................................ 37 LAGARTAS ................................................................................................................. 37 LAGARTAS-DO-MARACUJÁ ...................................................................................... 38 LARVA-MINADORA .................................................................................................. 38 LESMA E CARACOL .................................................................................................. 38 PULGÕES .................................................................................................................. 38 VAQUINHAS ............................................................................................................. 38 PRINCIPAIS DOENÇAS ............................................................................................. 38 PLANTAS INFESTANTES OU DANINHAS.................................................................. 39 PLANTAS COMPANHEIRAS E PRODUTOS NATURAIS DE CONTROLE ................... 40 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 42 SECAGEM E ARMAZENAMENTO DE PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS ........... 43 SECAGEM CASEIRA .................................................................................................. 46 CONSERVAÇÃO – ATÉ QUANDO GUARDAR? ......................................................... 47 LITERATURA CONSULTADA ..................................................................................... 47 DESCRIÇÃO DE PLANTAS ........................................................................................ 48 ARNICAS .................................................................................................................... 49 ARNICA ...................................................................................................................... 49 ARNICA-BRASILEIRA .................................................................................................. 50 ARNICA-MINEIRA ...................................................................................................... 50 ARNICA-PAULISTA ...................................................................................................... 51 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................................... 51 AROEIRA-MANSA OU AROEIRA-PIMENTEIRA ......................................................... 53 ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 53 FÓRMULA .................................................................................................................. 54 ORIENTAÇÕES PARA O PREPARO ............................................................................... 55 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 55 vii BABOSA ..................................................................................................................... 56 ASPECTOS AGRONÔMICOS ........................................................................................ 56 BENEFICIAMENTO ..................................................................................................... 57 USO MEDICINAL ........................................................................................................ 57 RECEITASconsiste na separação de brotações ou perfilhos enraizados da planta- -matriz bem desenvolvida/entouceirada. As divisões devem ocorrer, preferencialmente, após o término do período de florescimento da planta-matriz, possibilitando o máximo desenvolvimento vegetativo das novas plantas. Recomendam-se cortar as folhas e eliminar o excesso de raízes (toalete) no momento do plantio dos perfilhos em recipientes ou no campo. Parte de touceira Perfilho Perfilhos mudas 2.1.4. Rizomas (exemplos: hortelã, mil-folhas, poejo, açafrão-da-terra ou cúrcuma, gengibre). Os rizomas são caules subterrâneos que acumulam reservas para a planta. Podem ser carnosos − como no açafrão-da-terra e no gengibre − ou delgados − como no poejo e na hortelã. Podem ser plantados em local definitivo, sem passar por formação de mudas, entretanto torna-se conveniente o preparo de mudas para reposição daqueles que não enraizarem no campo. Rizomas carnosos: gengibre e cúrcuma 32 Rizomas delgados: hortelãs 2.1.5. Estolões (exemplos: morangueiro, hortelãs). São caules que crescem horizontalmente ao solo, cujos “nós” possuem gemas que formam raízes e folhas, ou seja, em cada nó é formada uma pequena muda. Morangueiro Hortelã pimenta 2.2. Micropropagação Além de proporcionar um meio de produzir cópias idênticas de uma planta, a micropropagação também proporciona meios para a obtenção de plantas isentas de doenças, especialmente de viroses. Isso se deve à descontaminação dos explantes (pedaços de tecido vegetativo da planta), às condições estéreis empregadas (micropropagação in vitro) e, principalmente, ao uso da técnica de meristemas e ápices vegetativos (explantes de tecido sem diferenciação de células e isentos de contaminantes). Após a fase de micropropagação em laboratório, as mudas são colocadas em vasos com substrato e aclimatadas em viveiro antes de irem para campo. Essa técnica tem custo elevado, por isso é utilizada principalmente para limpeza (eliminação de doenças) de plantas que serão matrizes para produção de mudas por meio do sistema convencional, como ocorre, por exemplo, para a cultura do morango. 33 Esquema simplificado da micropropação do morangueiro Cuidados para propagação vegetativa • Obtenção de propágulos de espécies com identificação botânica. • Obtenção de propágulos de plantas sadias e produtivas (biomassa e p. a.). • Produzir mudas em viveiro ou telado (sombreamento 50% - 65%). • Utilizar substrato adequado. Para a produção de mudas, tanto por meio de sementes como de propágulos vegetativos, deve-se usar substrato adequado em recipientes (tubetes, bandejas, sacos plásticos etc.) e produzir em condições de viveiro (sombreamento 50% - 65%). Oficina agrícola do H. Cândido Ferreira − Campinas (SP) Viveiro Municipal − Itatiba (SP) 3. SUBSTRATO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS Muitos materiais (terra, húmus, areia, vermiculita etc.) e misturas de diferentes fontes são usados como substrato para a germinação de sementes e enraizamento de estacas. Uma mistura muito utilizada para semeadura e enraizamento de estacas é a de três partes de terra + duas partes de areia + uma parte de húmus ou esterco bem curtido. No caso de sementes miúdas ou exigentes quanto às condições ideais para a germinação, é recomendado o uso de substrato industrializado. Para a obtenção de bons resultados, as seguintes características devem ser observadas: • o substrato deve ser suficientemente firme e denso, para manter as estacas e sementes nos recipientes (tubetes, sacos, bandejas etc.) durante o enraizamento ou germinação; • deve reter umidade suficiente para que as irrigações não precisem ser constantes; • deve ser poroso, para promover uma drenagem eficiente; 34 • deve ser isento de sementes de ervas, de nematoides e de substâncias tóxicas; • deve ter baixo nível de salinidade; • deve poder ser esterilizado sem que suas características sejam alteradas; • precisa ter uma adequada disponibilidade de nutrientes. • a acidez do substrato também influencia o enraizamento de algumas espécies. O ideal é a manutenção do pH entre 5,5 e 6,5. 4. LITERATURA CONSULTADA BLANCO, M. C. S. G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas-SP, CATI, 2007 (Boletim técnico 247). CAPELLARI Jr. L. e outros. Guia de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Piracicaba: Facile, 2011. 168 p. CARVALHO, J. M. F. C. e outros. Fatores Inerentes à Micropropagação, Campina Grande, 2006. 28p. (Embrapa Algodão. Documentos, 148) CORREA Jr.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Curitiba: Emater-Paraná. 1991. 162 p. RODRIGUES, V. G. S. Cultivo, uso e manipulação de plantas medicinais. - Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2004. 35 CONTROLE NATURAL DE MATO, PRAGAS E DOENÇAS 36 __________ 1 Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA. 2 Eng. Agrônomo Pesq.Cient., Instituto Biológio/SAA. CONTROLE NATURAL DE MATO, PRAGAS E DOENÇAS NA HORTA MEDICINAL Maria Cláudia Silva G. Blanco1 Flávio M. Garcia Blanco2 1. INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, recebemos frequentes dúvidas de como acabar com o ataque de pragas e doenças em pequenas lavouras e hortas. Primeiramente, torna-se importante esclarecer que nunca acabamos com estes organismos, todavia controlamos sua população para que ela não ocasione danos significativos ao desenvolvimento das culturas. A palavra-chave para isso é “convivência”. Outro ponto relevante é saber que plantas saudáveis são mais resistentes a esses ataques e, por isso, o controle começa no solo que irá recebê-las, o qual deve ser vivo, rico em organismos e micro-organismos responsáveis pordisponibilizar nutrientes para as plantas, com bom teor de matériaorgânica, sem contaminantes químicos (exemplo: agrotóxicos e metais pesados) e biológicos (alta concentração de organismos fitopatogênicos). Após a conscientização a respeito desses dois pontos, podemos iniciar a orientação para um manejo integrado com diversas práticas agronômicas, para evitar a proliferação da população dos insetos- pragas, dos agentes de doenças e do mato formado por plantas espontâneas, as quais surgem no sistema e competem com as culturas por luz, água e nutrientes. 1.1. Manejo fitossanitário A Horta Medicinal deve ser conduzida em sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção, pois promovem o bom desenvolvimento das culturas, favorecendo o teor e a composição das substâncias bioativas responsáveis pelas propriedades terapêuticas. O maior equilíbrio do agroecossistema, promovido pelas técnicas do manejo agroecológico, minimiza a pressão das populações de insetos, micro-organismos ou plantas capazes de prejudicar as culturas. Porémqualquer desequilíbrio no sistema produtivo pode favorecer essas populações, por talmotivo o controle fitossanitário deve ser realizado adotando-se um manejo complexo constituídode várias práticas. • Práticas culturais e preventivas Seleção da área, uso desementes e mudas sadias, rotação de culturas, controle da erosão, adubação equilibrada, cobertura do solo, adubação verde, usode biofertilizantes, policultivo com plantas companheiras e plantasarmadilhas ou repelentes. 37 • Práticas mecânicas Catação manual de pragas, eliminação de plantas doentes e uso de armadilhas (placas coloridas, atrativas e adesivas, luminosas e outras). • Práticas biológicas Emprego de inimigosnaturais (predadores eparasitas). • Práticas químicas Uso de produtos permitidos pela legislação federal, utilização de substânciasquímicas naturais com baixo nível toxicológico, como enxofre, caldas bordalesa e sulfocálcica, sulfato de alumínio e extratos de plantas (chás e alcoolaturas de plantas consideradas medicinais, como,por exemplo, camomila e cavalinha). Importante lembrar que o aplicador desses produtos deve usar equipamento de proteção individual (EPI). 2. PRINCIPAIS PRAGAS DA HORTA MEDICINAL 2.1. Ácaros São aracnídeos sugadores, na maioriainvisíveis a olho nu. Sua presença é notadapela presença de teias na parte inferior das folhas, em brotações novas, flores e frutos. Plantas como o cravo-de- defunto (Tagetes sp), coentro e alho podem ser repelentes. 2.2. Cochonilhas São insetos sugadoresminúsculos, podem ou não ter carapaça e se encontram na parte inferior defolhas, ramos, perfilhos e raízes. Sugam a seiva das plantas, excretam substância açucarada e, por isso, geralmente atraem formigas. Joaninhas e vespas são seus inimigos naturais. 2.3. Formigas São insetos que, quando cortadeiras, podem desfolhar drasticamente as culturas. O tanaceto (Tanacetumvulgare) é uma planta usada para repelir formigas. 2.4. Lagartas São a fase jovem das borboletas e mariposas, umas podem ser urticantes, outras verdes da cor da folha e, dessa forma, difíceis de serem percebidas. São insetos mastigadores os quais causam grande prejuízo para a parte aérea das plantas. Para controle, fazer catação manual (utilizar luvas adequadas). O alecrim (Rosmarinusofficinalis) pode repelir algumas espécies de lagartas. 38 2.5. Lagartas-do-maracujá Existem duas espécies, uma que vive em grupo (Dione junojuno) e outra solitária (Agraulisvanilae), ambas desfolham o maracujazeiro, comprometendo a produção. Em áreas pequenas da cultura, recomenda-se a catação manual dos ovos e das lagartas e o plantio próximo às matas nativas, para aumentar os inimigos naturais. Alguns percevejos e vespas são predadores dessas lagartas. 2.6. Larva-minadora Na fase jovem, alguns insetos formam galerias nas folhas. Para controle, eliminar as folhas afetadas e usar armadilhas amarelas e adesivas. O alho pode repelir esses insetos. 2.7. Lesma e caracol São moluscos que atacam raízes e folhas. A maior infestação ocorre na época das chuvas e em solos com deficiência de drenagem. Seu controle é realizado com uso de armadilhas atrativas (estopas embebidas com leite ou cerveja) para captura e posterior eliminação (enterrio profundo ou queima). 2.8. Pulgões São insetos sugadores de multiplicação muito rápida. Apresentam coloração variada. Sugam, preferencialmente, as brotações dos meristemas apicais e a face inferior das folhas. Produzem substância açucarada que atrai as formigas. As joaninhas são inimigas naturais e podem ser atraídas pelo mentrasto (Ageratumconyzoides). Armadilhas adesivas de coloração amarela são utilizadas para seu controle e o cravo-de-defunto pode ser plantado em meio àcultura, agindo como repelente. 2.9. Vaquinhas São besouros pequenos, rajados, que se alimentam das folhas. Mentrasto (A. conyzoides) e erva- de-santa-maria (Chenopodiumambrosioides) são plantas repelentes. O uso de armadilhas, como as placas amarelas adesivas,também é recomendado. 3. PRINCIPAIS DOENÇAS Os fungos causam as principais doençasnas plantas medicinais, seguidos das bactérias e dos vírus. O manejo equilibrado da adubação e da irrigação são muito importantes para o controle das doenças, também é recomendada a eliminação das plantas doentes e o controle dos insetos vetores de viroses. Plantas medicinais como a cavalinha, rica em sílica, é usada para aumentar a resistência das plantas. A perpétua, que é uma planta antiviral, pode ser usada na produção de mudas, sendo este um estágio crítico das plantas em relação ao contágio por vírus. 39 4. PLANTAS INFESTANTES OU DANINHAS São chamadas plantas infestantes ou daninhas as espécies que se desenvolvem no sistema produtivo sem terem sido semeadas e que, dependendo da sua quantidade e conforme o estágio de desenvolvimento das plantas cultivadas, podem prejudicar, significamente, sua produtividade. Por isso, também devem ser controladas, mantendo-se uma população dessas plantas que não proporcione grandes danos para as culturas. Cabe salientar que muitas desssespécies de plantas são medicinais e/ou são atrativas de insetos, atuando como armadilhas e companheiras (ex.: mentrasto, erva-de-santa-maria, tanaceto e picão- -preto). 4.1. Controle recomendado • Escolher a área para instalação da horta, evitando locais com presença de plantas que podem se problemáticas – perenes, como a tiririca (Cyperusrotundus), trapoeraba (Commelinabenghalensis) egrama-seda (Cynodondactylon). • Preferir o sistema de cultivo mínimo ou plantio direto. • Usar cobertura do solo com palhadas e outros materiais. • Utilizar mudas, sementes, substratos e cobertura vegetal livres de propágulos destas plantas, incluindo o maquinário e a ferramenta. • Antes do plantio, realizar preparo prévio do solo, permitindo que ocorram os primeiros fluxos de germinação dessas plantas e depois eliminar as suas plântulas com uma grade leve ou capina. • Em áreas já infestadas, realizar plantio de adubos verdes, com corte e incorporação no solo, no momento anterior àmaturação de suas sementes. • Utilizar o espaçamento mínimo permitido (cultivo adensado), para que o sombreamento das entrelinhas da cultura ocorra o mais breve possível, controlando o desenvolvimento dessas plantas, devido àcompetição por luz. • Utilizar plantio de plantas em consórcio, ocupando, assim, o solo com outras culturas, ou seja, diminuindo o espaço disponível para essas plantas que podem ser danosas. • Sempre aplicar a adubação e a irrigação próximas ao colo da planta medicinal, favorecendo, dessa forma, a sua competição em relação às plantas infestantes. • Realizar o controle mecânico por meio de enxadas, cultivadores, roçadeiras, logo após o início do plantio, até que a cultura cresça e ocupe os espaços das entrelinhas. • Não utilizar as roçadeiras quando as plantas infestantes estiverem no estágio de formação de sementes, pois pode ocasionar uma chuva de sementes, aumentado significativamente seu número no solo. • NUNCA realizar roçadas em áreas com a presença de tiririca (Cyperusrotundus) egrama-seda (Cynodondactylon) na época das chuvas, primavera/verão (região Sudeste), pois acarretará aquebra de dormência dos rizomas e estolões, pela ação mecânica das capinas, resultando na consequente ‘explosão’ das populações dessas espécies. 40 5. PLANTAS COMPANHEIRAS E PRODUTOS NATURAIS DE CONTROLE 5.1. Plantas companheiras Plantas como citronela (Cymbopogon winterianus), arruda (Rutagra veolins), mentrasto (Ageratum conyzoides), capuchinha (Tropaelum majus) e cravo-de-defunto (Tagetes sp) são exemplos de plantas que repelem ou atraem para si insetos e devem ser cultivadas no meio da horta medicinal, ajudando no controle de pragas. O plantio pode ser em faixas, nas bordaduras ou entre os canteiros. Além de protegerem, podem ser exploradas economicamente em função de suas qualidades terapêuticas. 5.2. Produtos naturais A aplicação desses produtos deve ser complementar às práticas preventivas e realizada somente quando for necessária, respeitando-se as dosagens, as frequências de aplicação e o uso doequipamento de proteção individual (EPI). A seguir, algumas receitas desses produtos naturais. Chá de cravo-de-defunto (Tagetes minuta e Tagetes erecta) Indicação: pulgões, ácaros e algumas lagartas. Ingredientes:1kg de folhas de cravo-de-defunto, 10 litros de água. Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e fervê-los por meia hora ou deixa-los macerando durante dois dias. Coar e pulverizar sobre as plantas. Chá de losna (Artemisia absinthium) Indicação: lagartas e lesmas. Ingredientes: 30 gramas de folhas secas de losna, 1 litro de água. Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e fervê-lospor 10 minutos. Para utilizar, adicionar o chá em 10 litros de água e pulverizar no início da infestação. 41 Preparado de pimenta (Capsicum spp) Indicação: vaquinhas. Ingredientes: 500 gramas de pimenta vermelha, quatro litros de água, cinco colheres de sopa de sabão de coco em pó. Preparo e aplicação: bater bem as pimentas em liquidificador com dois litros de água. Coar o preparado e misturá-lo com sabão em pó, acrescentando os dois litros de água restantes. Pulverizar sobre as plantas atacadas. Preparado com pimenta-do-reino (Piper nigrum) Indicação: pulgões, ácarose cochonilhas. Ingredientes: 100 gramas de pimenta-do-reino; 60 gramas de sabão de coco, um litro de álcool e um litro de água. Preparo e aplicação: colocar a pimenta no álcool durante sete dias; dissolver o sabão de coco em água fervente; retirar do fogo e acrescentar o álcool com pimenta já macerado durantesete dias. Utilizar um copo cheio para 10 litros de água, fazendo três pulverizações, uma a cada três dias. Chá de camomila (Chamomilla recutita) Indicação: doenças fúngicas de sementeira. Ingredientes: uma xícara de flores de camomila e um litro de água fria. Preparo e aplicação: misturar os ingredientes e deixa-losmacerando durante um ou dois dias. Pulverizar as plantas da sementeira diariamente, de forma preventiva. Preparado com cavalinha (Equisetum sp) Indicação: doenças fúngicas. Ingredientes: 300 gramas de cavalinha seca, 10 litros de água. Preparo e aplicação: ferver a cavalinha na água por 10 minutos. Coar e efetuar diluição na proporção de 1:10. Aplicar sobre as plantas. 42 Preparado com arruda (Rutagra veolins) Indicação: pulgões, formigas. Ingredientes: 100 gramas de folhas picadas da arruda, um litro de água fervente. Preparo e aplicação: adicionar a água fervente sobre as folhas picadas e abafar. Deixar em infusão por 24 horas. Coar, diluir em 10 litros de água e pulverizar as plantas atacadas. Para controlar formigas, pode-se colocar o filtrado dentro dos formigueiros. Chá de perpétua (Alternanthera brasiliana) Indicação: resistência a viroses. Ingredientes: 50 gramas de folhas de perpétua, um litro de água fervente. Preparo e aplicação: adicionar a água fervente sobre as folhas picadas e abafar. Deixar em infusão até esfriar. Coar, acrescentar um litro de água pura e aplicar sobre as mudas das plantas. Repetir a aplicação a cada sete dias. 6. CONCLUSÃO A adoção de Boas Práticas Agrícolas (BPA) – iniciando já no preparo de solo com práticas de conservação e de adubação equilibrada, passando pela utilização de sementes e mudas sadias e pelo desenvolvimento de um manejo agroecológico, aplicando-se tecnologias apropriadas para cada cultura − já garante a produção de plantas sadias e resistentes a possíveis pressões desses agentes que podem afetar sua produtividade. Como muitas plantas medicinais atuam beneficamente na proteção da saúde do agroecossistema, o policultivo, incluindo essas espécies companheiras, torna-se fundamental para o controle fitossantário da horta medicinal e contribui para uma exploração sustentável. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU Jr., H. (coord.) Práticas de controle de pragas e doenças na agricultura: coletâneade receitas. Campinas, SP: EMOPI, 1998. BLANCO, M. C. S. G. et. al. Cultivo de plantas aromáticase medicinais. Campinas, CATI, 2007. (Boletim técnico247). GELMINI, G. A. Receituário caseiro para controle de pragas. Campinas: CATI, 1998, 29 p. (Impresso Especial). 43 Secagem e ARMAZENAMENTO DE PLANTAS 44 SECAGEM E ARMAZENAMENTO DE PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco As plantas aromáticas e medicinais são utilizadas como matéria-prima em várias indústrias do setor de alimentos, químico e farmacêutico. O preparo após a colheita das plantas para o uso nessas indústrias dependerá do produto final ao qual se destinam. Algumas indústrias se dedicam às plantas desidratadas e moídas para serem usadas em alimentos prontos, semi-processados, congelados, refrigerados, em chás ou, ainda, na elaboração de extratos, tinturas ou outras preparações farmacêuticas. Para a obtenção de plantas secas é fundamental que a secagem seja realizada ainda na propriedade rural, pois dessa forma se mantém a qualidade do produto colhido por meio da paralisação do processo enzimático responsável pelo metabolismo da planta o qual, após a colheita, promove sua decomposição. Portanto, a paralisação deste processo por meio da secagem é fundamental para a integridade física do material vegetal e para a manutenção dos teores das substâncias bioativas que conferem as propriedades aromáticas, condimentares ou medicinais do produto final. Entende-se por qualidade do produto a preservação ao máximo da cor natural, dos princípios ativos e a das características organolépticas da espécie em questão. Para tal, deve-se antes da secagem fazer uma seleção do material, eliminando restos de outras plantas presentes e partes inadequadas da planta que estejam sujas ou doentes. Também se faz necessário promover a eliminação de terra, pedras e outras sujidades. Outro fator primordial é atentar para que plantas aromáticas de espécies diferentes não sejam secadas no mesmo dia, evitando-se assim, a contaminação dos aromas. A secagem pode ser natural, em local protegido da luz e da poeira, mas bem arejado. Para tal, são utilizadas, preferencialmente, bandejas de tela plástica ou de nylon finas ou, ainda, bandejas de aço inoxidável. Dependendo do volume do produto, recomenda-se a utilização de exaustores e/ ou desumidificadores que favorecerão a circulação de ar e a dissipação ou a retirada da umidade do ambiente, acelerando o processo da secagem natural. Pode-se também usar para tal fim, secadores que captam a energia solar. Captação de energia solar 45 Desumidificador de ar Para o caso de grandes volumes, a recomendação é que se faça a secagem artificialmente, utilizando-se secadores a gás, a lenha ou eletricidade com controle de temperatura que não deve ser superior a 40oC para folhas e flores e nem superior a 70oC para cascas e raízes. Importante em todos os casos é fazer camadas finas, de até 5cm, para não criar condições de mofo. O tempo de secagem pode variar até 10 dias, dependendo das características da planta, das condições climáticas e do tipo de secador. De um modo geral, reduz-se a 1/3 o peso do material colhido e a umidade final máxima permitida fica em torno de 15%, pois a partir deste teor tem início, principalmente, o desenvolvimento de fungos. Por outro lado, uma secagem excessiva poderá fazer com que a planta se esfarele, comprometendo a qualidade do produto. Bandejas inoxidáveis para secagem Secador a gás - Emater-PR 46 Desidratador elétrico ou a gás A embalagem mais adequada para o acondicionamento e a conservação do produto seco é a de polietileno atóxico, que deverá ser fechado hermeticamente. Cada embalagem deve possuir um rótulo contendo: o nome do produtor, os nomes botânico e comum da planta, a parte colhida (folha, flor, ramos etc.), a data da colheita, a temperatura e período de secagem e o peso do produto final. O armazenamento do produto seco na propriedade deve ser em local adequado: escuro, limpo e periodicamente desinfetado. As embalagens devem ser colocadas sobre estrados e o tempo de armazenamento deve ser o menor possível, evitando-se contaminações e perdas normais no teor das substâncias bioativas advindas com o passar do tempo e capazes de depreciar o produto a ser comercializado. Para o transporte a longas distâncias é recomendado que a embalagem de polietileno seja revestida por outra de papel tipo ‘Kraft’ para evitar a incidência de luz no produto, capaz de alterar sua coloração e diminuir seu valor comercial. 1. SECAGEM CASEIRA Muita gente produz ervas aromáticas e medicinais em quintais, jardins e até mesmo em vasos e quando chega a época de colheita precisam realizar a secagem para poderem usá-las ao longo do tempo, conforme a necessidade. Como o volume é pequeno, o recomendado é a realização da secagem natural, adotando-se os seguintes cuidados: • Escolha de local adequado, arejado, à sombra e protegido (ex.: área de serviço, varanda coberta ou local similar); • Fazer a separação das partes das plantas a serem secas (ex.: separar folhas e flores dos ramos e secar cada parte da planta separadamente). • Utilizar peneiras ou assadeiras e nestas dispor as plantas em camadas de até 3cm, revolvendo-as periodicamente); sacos/sacolas de papel; sacos de “filó” (estes devem ser penduradosem varais em local com boa circulação de ar) ou outros tipos de recipiente que permitam que o ar circule e a umidade seja dissipada; 47 • Logo ao término da secagem, acondicionar em vidros ou sacos de polietileno bem fechados para manter o material seco e guardar em local escuro, ao abrigo da luz, evitando a oxidação do produto. 2. CONSERVAÇÃO – ATÉ QUANDO GUARDAR? A manutenção da qualidade da planta seca depende de vários fatores, que vão desde a forma como foi cultivada, as condições de colheita e de secagem entre outros aspectos. É recomendável que neste processo sejam observadas as características do produto como cor, aroma, sabor, assim como a presença de mofo ou de insetos. Havendo alteração significativa das características em relação ao produto obtido logo após o término da secagem ou a ocorrência de fungos ou insetos o produto deve ser descartado, pois ficará impróprio para o consumo. 3. LITERATURA CONSULTADA BLANCO, M.C.S.G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas-SP, CATI, 2007 (Boletim técnico 247). CORREA Jr., C.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. 1 ed. Curitiba: EMATER-Paraná. 1991. 162 p. 48 Descrição de PLANTAS 49 DESCRIÇÃO DE PLANTAS Maria Cláudia Silva G. Blanco1 maria.blanco@sp.gov.br ARNICAS A identificação botânica das espécies medicinais é muito importante, pois muitas plantas diferentes possuem o mesmo nome comum, geralmente adotado por razão de usos semelhantes. Um exemplo típico é o das plantas denominadas ‘arnicas’. Neste guia descrevemos a identificação e as principais características de algumas delas na tentativa de elucidar os frequentes questionamen- tos que os extensionistas rurais recebem acerca destas plantas medicinais. 1. ARNICA Arnica montana L. Conhecida como arnica europeia, arnica-da-montanha, ar- nica-verdadeira. É uma planta herbácea de 20cm a 60cm de altura, com as folhas basais dispostas em roseta e flores amarelas reunidas em capítulos isolados sobre um caule ereto. É nativa em regiões montanhosas do norte da Europa e não é cultivada no Brasil. Planta medicinal de uso tradi- cional, fazendo parte de várias farmacopeias, inclusive da brasileira, nas formas de preparação extemporânea (chá), tintura, gel e pomada. Ações farmacológicas: anti-inflamatória, analgésica, antis- séptica e cicatrizante. Composição química: óleos essenciais, lactonas, taninos, ácidos fenólicos, flavonoides e outros. Partes usadas: flores. Usos: contusões, traumatismos, entorses, distensões musculares e dores reumáticas, por meio de uso tópico. Também é usada em fitocosméticos e na homeopatia. __________ 1 Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA 50 2. ARNICA-BRASILEIRA Solidago chilensis Meyen É conhecida também como arnica, arnica-do-campo, arnica-silvestre, erva-lanceta, erva-de-lagarto, espiga-de-ouro, macela-miúda, rabo-de- --rojão. É um subarbusto de 0,8m a 1,2m de altura, ereto, perene, entouceirado, rizomatoso, com folhas simples, alternas, ásperas ao tato. Capítulos florais pequenos, de cor amarela, reunidos em inflorescências na extremidade dos ramos. É nativa da parte meridional da América do Sul, incluindo o Sul e o Sudeste do Brasil. Trata-se de planta de crescimento vigoroso e persistente em pastagens, beiras de estrada e terrenos baldios. Multiplica-se por sementes e prin- cipalmente pelos rizomas. Composição química: flavonoides, quercetina, taninos, saponinas, resinas e óleo essencial. Partes usadas: folhas, flores e rizomas. Uso popular: contusão, escoriações e traumatismos. Uso tópico. Uso tópico: termo usado quando o uso é externo. É geralmente administrada na forma de compressa, banho, cataplasma, tintura, pomada, unguento, gel. Seu uso é localizado na parte do corpo afetada, após higienização prévia do local. Curiosidade: no Brasil, uma preparação muito popular à base de arnica é a garrafada, por isso, muitas vezes, a denominação ‘arnica’ é usada para a garrafada, a qual pode ter, também, outras plantas adicionadas. 3. ARNICA-MINEIRA Lychnophora pinaster M. É também conhecida, popularmente, como arnica-de- -minas, arnica-do-cerrado, arnica-do-campo, candeia, candeião e canela-de-ema. É um arbusto que pode atingir até 3m de altura; possui folhas rígidas aciculares dispostas em espiral ao redor de um caule circular. Sua inflorescência é um capítulo de flores hermafroditas e tubulosas com cores variadas (lilás, púrpura e branca), fruto tipo aquênio. A planta é restrita (endêmica) em algumas localidades de Minas Gerais e vive em ambientes acima de 900m de altitude, como campos rupestres, campos sujos e campos limpos de altitudes de regiões de Cerrado do Alto do Rio Grande. É considerada vulnerável à extinção. 51 Lychnophora pinaster é muito próxima de Lychnophora ericoides, sendo a separação entre elas difícil. Ambas são bastante polimór- ficas em porte, diâmetro dos ramos, forma, comprimento e largura das folhas. Alguns autores as consideram a mesma espécie e outros como espécies diferentes. A primeira é endêmica de Minas Gerais e a outra, conhecida como arnica-da-serra, ocorre em Minas Gerais, Goiás e na Bahia. Partes usadas: ramos, folhas e flores. Uso popular: contusão, inchaço, inflamação, hematomas, trau- matismos, picadas de inseto e varizes. Uso tópico, não deve ser usada internamente. Composição química: flavonoides, friedelina, quercetina, áci- do lienofoico (derivado do cariofileno), 15-desoxigoiazenolídeo (lactonases quiterpênica), glicosídeo. 4. ARNICA-PAULISTA Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass É conhecida também como arnica, arnica-do-mato, couvinha, couve-cravinho, cravorana. É uma erva anual, com até 1,2m de altura, bem ramificada, com folhas membranáceas, elípticas, de cor cinza-azulada, aro- máticas e com margens crenadas. Inflorescências em capítulos alongados, esbranquiçados, solitários e com flores discretas. Nativa nas regiões tropicais do Brasil. Cresce espontaneamente em terrenos lavrados, pomares e terrenos urbanos. Bem popular no Estado de São Paulo. Propaga-se exclusivamente por sementes. Composição química: flavonoides, taninos e alcaloides. Partes usadas: folhas e planta inteira. Uso popular: contusões, hematomas, traumatismos e picadas de inseto. Uso tópico. 5. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco- peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. HARAGUCHI, L. M. M.; CARVALHO, O. B. (Org.). Plantas Medicinais: do curso de plantas medicinais. São Paulo: Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, 2010. 248p. 52 KINUPP, V. F., LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: Ins- tituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014. LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2002. RODRIGUES, V. E. G., CARVALHO, D. A. Plantas medicinais no domínio dos cerrados. Lavras: UFLA, 2001. 180 p. il. 53 AROEIRA-MANSA OU AROEIRA-PIMENTEIRA A aroeira-vermelha é uma espécie perenifólia que, quando jo- vem, apresenta de 5m a 10m de altura e diâmetro à altura do peito (DAP) entre 20cm e 30cm. Os indivíduos adultos chegam a alcançar 15m de altura e 60cm de DAP. Família: Anacardiaceae. Nome científico: Schinus terebinthifolius Raddi. Nomes populares: aroeira-mansa, aroeira-da-praia, aroeira- -vermelha, aroeira-pimenteira, aroeira-de-remédio. Folhas: compostas, imparipinadas, trifoliadas, com ráquis alada, com 8-11 folíolos membranáceos, ápice agudo e base obtusa. Flores: tanto as flores masculinas como as femininas são actinomorfas, pentâmeras, díclinas, com cinco sépalas verdes, cinco pétalas brancas e disco nectarífero amarelo-ouro. Frutos: drupáceos, globosos. Utilizados como substitutos da pimenta-do-reino. Com sabor suave, levemente apimentado, sendo utilizados grãos inteirosou moídos. Floração: setembro-janeiro. Frutificação: janeiro-julho. Polinização: abelhas e pequenos insetos. Dispersão: zoocórica, por aves e formigas. Paisagístico: árvore ornamental, com flores brancas e frutos vermelhos, pode ser usada com suces- so na ornamentação das cidades. Utilização: espécie da qual se extraem compostos utilizados como inseticidas e em perfumes. Sua madeira é usada como mourões para pomares, construção civil, palanques. Para a apicultura, a flo- rada abundante oferta grande quantidade de pólen e uma produção significativa de néctar para a entomofauna, muito visitada por abelhas (Apis mellifera). Apícola: as flores da aroeira-vermelha são melíferas. Ocorrência: em várias formações vegetais de Pernambuco, até o Mato Grosso e Rio Grande do Sul. 1. ASPECTOS AGRONÔMICOS Fazer a semeadura logo após coleta das sementes, sem qualquer tratamento, em canteiros a pleno sol, contendo substrato argiloso. Quando o recipiente for tubete plástico de 280cm³, pode-se usar como substrato uma mistura de solo com composto orgânico, na proporção de 1:1. Recomendam- -se colocar, no mínimo, duas sementes por recipiente. As mudas estarão aptas para irem ao campo, aproximadamente, 120 dias após a semeadura. 54 Quando houver previsão de estiagem, recomendam-se colocar na cova 2,5g de hidrogel hidratado por cova, diluído em 1L de água. Os espaçamentos devem ser sempre quadrados, variando de 4,5m x 4,5m até no máximo 6m x 6m. Como a produção de frutos é dependente da floração dos indivíduos masculinos, recomenda-se que plantios destinados a esse objetivo contemplem um maior número de plantas masculinas, entre 10% a 15% do total das árvores plantadas. É importante destacar que plantas masculinas não devem ser podadas, até porque não são produtivas. Colheita e corte dos galhos: envolvem duas etapas. Na primeira, é feito o corte do terço externo dos galhos mais finos, onde ocorre a maior produção de frutos. O corte é realizado em bisel, com auxílio de facão bem afiado ou de tesoura de poda. Na segunda etapa, os galhos mais grossos são cortados com o auxílio de facão e/ou serrote florestal. Após os cortes, são feitas a catação de frutos e a derriça dos galhos. Nas áreas de plantio, após o procedimento da derriça, que encerra a colheita em si, os galhos que permaneceram nas árvores são desfolhados, deixando a árvore totalmente desnuda, o que localmente se chama “suruca”. Todos os resíduos descartados − como galhos, folhas e frutos verdes − são espalhados próximo das árvores e nas ruas de plantio ou podem ser utilizados para fins medicinais após seleção de partes sem danos e sujidades. Composição química: catequinas, esteroides, chalconas, flavonas e terpenos. Uso medicinal: a casca tem propriedades depurativas, é usada contra afecções uterinas em geral. Utilizada no tratamento de diarreias e nas hemoptises. O chá da casca é utilizado contra dor ciática, gota, reumatismo e infecções bacterianas como edema do tipo erisipela. A casca cozida também é usada para banhos contra edemas das pernas. Os ramos são utilizados no tratamento de doenças respiratórias e doenças das vias urinárias. As folhas têm propriedades balsâmicas usadas na forma de infusão, banhos tônicos e loções no tratamento de úlceras, erupções e feridas. Dos folíolos obtêm-se substâncias cicatrizantes; os frutos têm propriedades diuréticas. O cozimento das folhas com folhas de batatas é usado para gargarejos e afecções das cordas vocais. Curiosamente, todas as partes dessa árvore possuem fins medicinais. A aroeira-mansa (Schinus terebinthifolius Raddi) é uma das plantas da Farmacopeia Brasileira, constando do Formulário de Fitoterápicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da seguinte forma: 2. FÓRMULA Componentes Quantidade cascas do caule secas 1g água q.s.p. 150mL 55 3. ORIENTAÇÕES PARA O PREPARO Preparar por decocção, considerando a proporção indicada na fórmula. Advertência: em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso. Indicações: anti-inflamatório e cicatrizante ginecológico. Modo de usar: uso externo. Fazer banho de assento, de três a quatro vezes ao dia. 4. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco- peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. COLETTO, L. M. M., PEREIRA, B. M. R., CARDOSO Jr., E. L. C. Plantas medicinais nativas dos remanes- centes florestais do oeste do Paraná. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009. Cultivo da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) para produção de pimenta-rosa. [re- curso eletrônico] / Edinelson José Maciel Neves ... [et al.]. - Colombo: Embrapa Florestas, 2016. LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de estudos da Flora, 2002. 56 BABOSA Originária da África, a babosa pertence à família botânica Xanthorrhoeaceae. Seu nome botânico Aloe vera L. se origina do hebraico halal, que significa amargo, e da palavra vera do latim, que signi- fica verdadeira. Sinonímia: Aloe barbadensis Mill. A babosa tem vários nomes comuns, dependendo da região, pode ser conhecida como aloé, babosa- grande, babosa-medicinal, erva-de-azebre, caraguatá, aloé-do-cabo. Aclimatada no Brasil há mais de 100 anos, é encontrada em muitos jardins e quintais e é explorada comercialmente para extração das substâncias bioativas: aloína (composto antraquinônico) e mucilagem (polissacarídeo aloeferon). Em sua composição, também contém sais minerais (K, Na, Cl, Ca, Mn, mg, Cu, P, Fe) e vitaminas (A, B1, B2, B6, C, E). A babosa é uma planta herbácea que atinge até um metro de altura, com folhas grossas, suculentas (parênquima de reserva), marginadas por espinhos, dispostas em roseta e presas num caule curto. As flores são tubulosas e de cor amarelada. Cresce em regiões de clima tropical e subtropical secos. É uma planta heliófita e xerófita, não tole- rando ventos frios e geadas. 1. ASPECTOS AGRONÔMICOS A sua propagação ocorre por meio de rebentos ou brotações laterais que podem ser plantadas dire- to no local definitivo ou em recipientes para enraizamento das mudas em viveiro. A época de plantio vai de setembro a fevereiro e a planta tem preferência por solos arenosos ou areno-argilosos, per- meáveis, bem drenados, com boa M.O.% e com pH em torno de 7. A babosa deve ser cultivada em locais que fiquem a pleno sol, no espaçamento de 0,5m – 1m X 0,5m – 1m. A adubação de plantio se faz com 1kg de composto + 150g de fosfato natural por planta. É necessária uma irrigação diária nos três primeiros meses para “pegamento” das mudas e depois basta irrigar uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias, conforme a região. Um dos cuidados é realizar a ‘amontoa’ para favorecer a brotação lateral e adubação de cobertura com composto orgânico. Retirar os perfilhos quando atingirem entre 10cm e 15cm, para não com- petirem com a planta-mãe. 57 As folhas são as partes usadas da planta e devem ser colhidas nas épocas de outono e inverno. A co- lheita ocorre após um ano de idade da cultura (plantas adultas) e de plantas não floridas. Devem-se colher as folhas externas com 50cm a 60cm (cinco ou seis folhas), da parte de baixo da planta, usan- do um instrumento afiado (cinco a seis folhas/planta). Para usar na forma fresca, retirar a mucilagem logo após colheita, evitando a oxidação. Produtividade: cerca de 70t/ha de folhas adultas frescas. 2. BENEFICIAMENTO A extração industrial do gel envolve mesa de lavagem, separação do látex, desfibrador, prensa e evaporadores. Todos os equipamentos que mantêm contato com as folhas e o gel devem ser de aço inoxidável, para evitar oxidação. FLUXOGRAMA INDUSTRIAL 3. USO MEDICINAL A babosa é utilizada tanto pela indústria de cosméticos quanto pela farmacêutica devido às suas ati- vidades farmacológicas como cicatrizante, anti-inflamatória, antimicrobiana, antisséptica, antialérgi- ca, bem como pelaação imunomoduladora. A babosa é planta da Farmacopeia Brasileira, constando do Formulário de Fitoterápicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo indicada para uso externo como cicatrizante nos casos de ferimentos leves, desordens inflamatórias na pele, incluindo queimaduras (de 1.o e 2.o graus), escoriações e abrasões. O gel fresco das folhas pode ser usado puro ou incorporado a um gel base até a homogeneização completa e deve ser aplicado nas áreas afetadas até três vezes ao dia. Alguns cuidados devem ser tomados para não rasgar a casca verde, que pode contaminar o gel com exsudato de folha, de coloração amarelada e rica em heterosídeos antracênicos. Preparações caseiras com babosa – Aloe vera 58 4. RECEITAS Oficina do minicurso sobre babosa da XIV Semana de Fitoterapia Prof. Walter R. Accorsi, Campinas (SP) 1. SABONETE EMOLIENTE E HIDRATANTE Ingredientes • 1 quilo de base glicerinada transparente ou branca. • 2 colheres de sopa de lauril líquido (lauril éter sulfato de sódio de 27% a 30%). É um produto tensoativo e que produz espumas. • 2 colheres de sopa de mel puro. • 3 colheres de sopa de gel de babosa (folha de babosa - Aloe vera, somente gel transparente, sem a casca e sem o suco amarelo). • 20 gotas de óleo essencial. • Borrifador (spray) com álcool. Preparo no fogão Corte a base glicerinada em pedaços pequenos para derreter bem em banho-maria. Não deixe ferver ou cozinhar; retire do fogo. Misture em um recipiente separado, o gel de babosa, o mel, o óleo essencial e o lauril líquido. Quando a base glicerinada estiver em temperatura suportável na mão, acrescente a mistura, mexa e coloque nas forminhas. O spray com álcool é aplicado para evitar a formação de bolhas. Após endurecer, tire das formas, embrulhe com filme plástico e coloque etiqueta. Modo de usar: para lavar o corpo ou as mãos ressecadas. 2. GEL CONGELADO – contra queimaduras, assaduras e fissura anal Ingredientes • Folha fresca de babosa (de planta adulta, + 50cm). Preparo Pegue uma seringa descartável de 5mL e corte o bico. Tire os espinhos da folha de babosa, lave-a na água corrente e deixe escorrer a resina amarela por umas seis horas. Corte em pedaços de 5cm e introduza a seringa no gel transparente tirando pedaços cilíndricos de gel. Enrole cada pedaço em papel-alumínio e guarde no congelador até a hora do uso. Modo de usar: como supositório (para maiores de 12 anos) no tratamento de fissuras anais. Para o caso de queimaduras e assaduras, passar o gel congelado ou fresco diretamente no local lesionado. 59 Nota: existem outras espécies de babosa encontradas no Brasil. Destaca-se a Aloe arborescens, comum no sul do país, a qual tem um porte arbustivo e ramificado, flores vermelhas e menor produção de mucilagem (gel) e por isso não tem o mesmo interesse comercial e industrial como o da espécie Aloe vera. Aloe arborescens 5. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco- peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de estudos da Flora, 2002. SAA-CATI – oficina do minicurso sobre babosa da XIV Semana de Fitoterapia Prof. Walter R. Accorsi, Campinas – SP. 2016. SILVA JÚNIOR, A. A. Plantas bioativas – Babosa de botica (Aloe vera). Epagri: Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006. 60 CIDREIRAS O nome cidreira é utilizado para várias espécies de plantas e, na maioria das vezes, pelo motivo de as tais terem ações calmantes ou sedativas semelhantes às da erva-cidreira Melissa officinalis, planta medicinal de várias farmacopeias, especialmente da Europa, sendo utilizada, desde a Antiguidade, na medicina tradicional e, até hoje, na medicina moderna. Por isso, muitas pessoas a chamam também de cidreira-verdadeira. Os nomes comuns, no entanto, variam conforme a cultura de cada local e adjetivos como falso ou verdadeiro e nomes iguais para diferentes espécies apenas indicam que há uma espécie base que tem uso mais antigo e ações mais estudadas que inspiram o nome popular de outras plantas usadas de forma semelhante ou para o mesmo fim terapêutico. No caso das cidreiras, a opção foi por selecionar três espécies mais utilizadas pela população brasileira, destacando sua identificação botânica, seu cultivo e os usos terapêuticos na saúde e pela alimentação. 1. ERVA-CIDREIRA Melissa officinalis L. A erva-cidreira Melissa officinalis L. é de origem europeia e foi trazida ao Brasil pelos colonizadores, sendo uma planta das Farmacopeias de vários países da Europa. Planta herbácea de até 60cm de altura, perene, aromática, ramificada desde a base, com folhas rugo- sas, de 3cm a 6cm de comprimento e coberta por tricomas glandulares, cujas flores são em racemos e de cor creme (dificilmente floresce no Brasil). Princípios ativos: óleos voláteis (citral, citronelal, citronelol, linalol, geraniol, neral etc.), taninos, flavonoides e ácidos fenólicos. Nomes comuns: melissa, cidreira-verdadeira, cidreira. Recomendações para plantio da Melissa officinalis Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas. 0,6m x 0,4m. Mudas por sementes ou estacas. Mudas prontas para plantio com cerca de 10cm de altura. Gosta de clima ameno, mas não tolera geadas. 61 Recomendações para colheita e pós-colheita da Melissa officinalis Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Folhas. A partir de seis meses da semeadura. Usada fresca ou seca à sombra ou em secador a 35oC. Corte feito a 10cm acima do solo. 1.1. Uso medicinal e preparações caseiras com erva-cidreira Melissa officinalis 1. CHÁ DE CIDREIRA – Antiespasmódico, digestivo, ansiolítico e sedativo leve. Ingredientes • 1 a 4g de folhas secas (1 a 3 colheres de chá). • 150mL de água potável e filtrada. Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar por 15 minutos e coar. Modo de usar: indivíduos acima de 12 anos de idade − tomar 150mL do infuso, logo após o preparo, de duas a três vezes ao dia. Advertências: não deve ser utilizado nos casos de hipotireoidismo. Cuidado, pois pode baixar a pressão arterial. 2. SUCO DE ABACAXI COM ERVA-CIDREIRA – Função: o abacaxi tem propriedades digestivas e é também rico em vitamina C, que auxilia no fortalecimento do sistema imunológico. A erva-cidreira tem propriedades calmantes e relaxantes. Ingredientes • 1 pedaço de abacaxi. • 1 ramo de erva-cidreira. • 2 cubos de gelo. • 300mL de água. Preparo Bater tudo no liquidificador. Não precisa ser coado. 2. CIDREIRA-BRASILEIRA Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Ex Britton & P. Wilson A cidreira nativa do Brasil apresenta ampla variedade genética em suas populações, por isso, foi classificada em vários tipos botânicos separados em função de suas características morfológicas e químicas, sendo três os tipos mais comuns. 62 1. Com folhas largas e ásperas, inflorescências com até oito flores liguladas externas em torno de flores centrais fechadas e óleo essencial rico em citral e mirceno. Indicação: calmante e antiespasmódica. 2. Com folhas e ramos mais delicados que o tipo 1, disco central de flores rodeado de três a cinco flores liguladas e óleo essencial rico em citral e limoneno. Indicação: calmante, antiespasmódica, sedativa e ansiolítica. 3. Morfologicamente parecido com o tipo 2, porém com óleo essencial rico em carvona e limoneno. Indicação: mucolítica facilitadora da expectoração de secreções. Nomes comuns: cidreira-de-rama, lipia, cidreira em rama, cidreira-do-brasil, melissa-de-mulher. Princípios ativos: óleo essencial, saponinas, taninos, flavonoides e alcaloides. Recomendações para plantio da Lippia alba Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com três nós. Podeser plantada diretamente no canteiro ou em viveiro (mudas). Recomendações para colheita e pós-colheita da Lippia alba Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Folhas e ramos floridos. A partir de cinco a seis meses após o plantio. Usada fresca ou seca em secador a 40oC. Até duas colheitas anuais. Cortes de 10cm a 20cm do solo. 2.1. Uso medicinal e preparação caseira com cidreira-brasileira Lippia alba 1. CHÁ DE CIDREIRA – calmante, digestivo, contra cólicas e flatulência (Formulário de Fitoterápicos. Anvisa, 2011) Ingredientes • 1g a 3g de folhas secas (1 a 3 colheres de chá). • 150mL de água potável e filtrada. Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar por 15 minutos e coar. 63 Modo de usar: indivíduos de três a sete anos de idade – tomar 35mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro vezes ao dia. Entre sete e 12 anos de idade: tomar 75mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro vezes ao dia. Acima de 12 anos de idade: tomar 150mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro vezes ao dia. Maiores de 70 anos de idade: tomar 75mL do infuso, logo após o preparo, de três a quatro vezes ao dia. Advertência: doses acima das recomendadas podem causar irritação no estômago e queda de pressão. 3. CAPIM-CIDREIRA Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. O capim-cidreira é nativo da Ásia tropical, especialmente da Índia. É planta herbácea, perene, aromática, cresce em forma de moita, estolonífera, com folhas amplexicaules linear-lanceoladas, com tricomas nas margens. Inflorescências do tipo panícula, de cor amarela (não floresce no Brasil). Nomes comuns: capim-cidreira, capim-limão, chá-de-estrada, capim santo, erva-príncipe (Portugal). Princípios ativos: óleo essencial (citral, geraniol, metileugenol, mirceno, citronelal). Recomendações para plantio do Cymbopogon citratus Necessidade de luz Necessidade de água Espaçamento Propagação Observações Pleno sol. Regas moderadas e frequentes. 1m x 0,5m. Divisão de touceira. Prefere solos areno-argilosos. Recomendações para colheita e pós-colheita do Cymbopogon citratus Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Folhas. A partir de seis meses após o plantio. Usado fresco ou seco à sombra ou a 40oC. Corte na altura de 10cm do solo. De dois a três cortes anuais. O óleo essencial é extraído por meio da destilação das folhas. 64 3.1. Uso medicinal e preparação caseira com capim-cidreira Cymbopogon citratus 1. CHÁ DE CAPIM-CIDREIRA – cólicas intestinais e uterinas, calmante suave e contra ansiedade e insônia leves. Ingredientes • 3g de folhas secas • 150mL água potável e filtrada Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 5 a 10 minutos e coar. Modo de usar: para indivíduos maiores de 12 anos de idade – tomar 150mL, cinco minutos após o preparo, de duas ou três vezes ao dia. Advertência: pode aumentar o efeito de outros calmantes. 2. SUCO DE CAPIM–CIDREIRA COM LIMÃO (calmante) Ingredientes • 6 folhas compridas de erva-cidreira (capim-santo). • 1 xícara (café) de suco de limão. • açúcar a gosto. • água filtrada gelada (até completar o copo do liquidificador + 1,5L). Preparo Bater a erva-cidreira com água no liquidificador. Coar em pano ou peneira fina. Colocar o suco de limão e bater mais. Adoçar com o açúcar. Servir gelado. 3. DOCINHO DE CAPIM-CIDREIRA (relaxante) Ingredientes • 1 xícara de chá de leite (desnatado ou integral). • 25 folhas de capim-cidreira (aproximadamente). • 1 lata de leite condensado. • 1 colher de maisena ou 1 colher de leite em pó. • 1 colher de sopa de manteiga. • Açúcar cristal ou coco ralado, para enrolar os docinhos. Preparações com capim-cidreira em oficina de plantas medicinais na zona rural de Nazaré Paulista. 65 Preparo Bater no liquidificador a cidreira com o leite. Em uma peneira, coe a mistura, acrescente a maisena ou o leite em pó e dissolva. Coloque em uma panela com o leite condensado e a margarina, apure até dar o ponto (desprender do fundo da panela), em fogo baixo. Depois da mistura fria, enrole e passe em açúcar cristal fino ou coco ralado. Coloque em forminhas de papel para servir. Observação: preparações com açúcar não podem ser consumidas por diabéticos. 4. LITERATURA CONSULTADA BLANCO, M. C. S. G. e outros. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas-SP, CATI, 2007 (Boletim Técnico 247). BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2002. Medicina Verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu (SP): Agricultores/Lin Chau Ming; Coord. Marcio G. campos. Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2015. 46 p. PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto, UNAERP, 2011. SAA-CATI. Apostila da aula prática de plantas medicinais do Módulo 2 da capacitação em plantas aromáticas e medicinais da Rede CATI. 2015. 66 ERVA-BALEEIRA Varronia curassavica Jacq. Folhas Flores Frutos A partir de uma preparação caseira da erva-baleeira, utilizada numa contusão pelo empresário Victor Siaulys, do Laboratório farmacêutico Aché, foram iniciados no Brasil, no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA-Unicamp), estudos das ações terapêuticas desta planta, culminando no desenvolvimento do primeiro fitomedicamento brasileiro, a pomada acheflan. Esta conquista prova o quanto o conhecimento popular sobre plantas medicinais pode ser importante para a Indústria farmacêutica, para a pesquisa nacional, bem como para a conservação da biodiversidade brasileira. Família: Boraginaceae Gênero: Varronia Espécie: Varronia curassavica Jacq. Sinonímias: Varronia verbenacea (DC.) Borhidi, Cordia verbenacea DC Nomes populares: Erva-baleeira, catinga-de-barão, maria-milagrosa, salicínia, erva-preta. Ocorrência: Planta da Mata Atlântica, distribuída ao longo da região costeira do Brasil. Descrição botânica: Arbusto perene, ereto, muito ramificado, aromático, com a extremidade dos ramos um tanto pendentes, hastes revestidas por casca fibrosa, de 1,5-3m de altura. Folhas: Simples, alternas, ásperas, aromáticas, bordas denteadas, de coloração verde-escura, com 5-9cm de comprimento. Inflorescência: Flores pequenas, brancas, dispostas em inflorescências racemosas terminais, de 10- 15cm de comprimento. Floração e Frutificação: Pode ocorrer durante o ano todo, principalmente nos meses mais quentes da primavera/verão. Polinização: Insetos – abelhas, vespas e besouros. Frutos: Os frutos são pequenos, tipo cariopse esférica, de cor vermelho-escura. Atrai muitos passarinhos que realizam a dispersão das sementes. 67 Observação: importante fonte de recursos florais, principalmente para abelhas e vespas, pelo seu longo período de florescimento. 1. ASPECTOS AGRONÔMICOS PROPAGAÇÃO A propagação ocorre por estacas de ponteiro (+ 10cm) ou por sementes, após retirada do arilo em água. Deve ser semeada em sacos plásticos contendo substrato de solo, areia e esterco na proporção 3:2:1 e a 1cm de profundidade. Após três meses de viveiro, as mudas ficam prontas para o transplante no campo. Espaçamento: 1,6m x 0,5 metros. Colheita: As folhas devem ser colhidas pela manhã, efetuando-se o corte acima de 40cm do solo. A época de colheita vai de maio até novembro, ocorrendo a partir de seis a 12 meses do plantio; e, depois, a cada quatro meses. Extração de óleo essencial (OE): destilação por arraste a vapor. Secagem: Natural, à sombra, em local arejado e protegido (pequena quantidade) ou em secador a 35oC. Composição química: Flavonoides (artemetina), alantoína, açúcares e óleo essencial. O óleo essencial é composto principalmentepor mono e sesquiterpenos e seus principais constituintes são α-pineno, trans-cariofileno, allo aromadendreno e também α-humuleno que é o marcador padrão para o fitomedicamento. 2. USO MEDICINAL A erva-baleeira possui propriedades antiinflamatórias naturais. Diferentes espécies deste gênero botânico são usadas na medicina popular como agente antinflamatória em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo. Na medicina tradicional, suas folhas são usadas como antirreumáticas, antinflamatórias, analgésicas, antiartríticas, tônicas, antiulcerogênicas, redutoras de edemas e contra dores musculares e das costas, em diferentes formas de preparo, tais como extrato alcoólico (popular garrafada), decocção e infusão (via oral ou tópica em compressas) ou ainda em cataplasmas. O Formulário Nacional Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira descreve o uso tópico das folhas de Varronia verbenacea como antinflamatório por meio de duas formulações: 68 A. FORMA DE INFUSO, COMO COMPRESSA FÓRMULA Componentes Quantidade folhas secas 3g água q.s.p. 150mL Preparo: Preparar por infusão considerando a proporção indicada na fórmula. Modo de uso: Uso externo. Aplicar compressa na região afetada, duas ou três vezes ao dia. Advertência: Em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso. Indicação: Antinflamatório. B. FORMA DE GEL, USO TÓPICO FÓRMULA Componentes Quantidade Extrato hidroetílico das folhas 10mL Gel base q.s.p. 100g Preparo: Preparar o extrato hidroetílico de folhas secas por percolação, utilizando como líquido extrator álcool etílico a 70%, seguindo a RDE 1:2. Transferir o extrato hidroetílico para recipiente adequado. Incorporar no gel base e misturar até homogeneização completa. Modo de uso: Uso externo. Aplicar nas áreas afetadas, três vezes ao dia. Advertência: Em caso de aparecimento de alergia, suspender o uso. Indicação: Antinflamatório. 3. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2 ed., 2021.217p. MING, L. C. Medicina verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu (SP). Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2015, 46p. 69 LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2002. PANIZZA, S. T.; VEIGA, R. S. ; ALMEIDA, M. C. Uso tradicional de plantas medicinais e fitoterápicos. 1. ed. São Luis: Conbrafito, 2012. 267p. PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto, UNAERP, 2011. 70 ERVAS-DOCES Muitas plantas possuem nomes comuns ou populares iguais, apesar de serem plantas de espécies diferentes. Por isso, é comum ocorrerem dúvidas em relação à sua identificação. As ervas-doces são um bom exemplo. No Brasil, temos duas plantas conhecidas como erva-doce, a Pimpinella anisum L.,de origem asiática e sem cultivo expressivo no Brasil, sendo, portanto, produto essencialmente importado, e aquela também conhecida por funcho, que possui duas variedades cultivadas em várias regiões brasileiras, uma delas a Foeniculum vulgare Miller subsp. vulgare var. vulgare, para produção de frutos para uso aromático e medicinal, e outra, a Foeniculum vulgare Miller subsp. vulgare var. dulce (Miller) Thellung, cujo bulbo − ou cabeça − é comercializado como hortaliça. Uma terceira espécie, que conhecemos como anis ou anis-estrelado (Iliciumverum Hook.f.), pode também causar confusão, pois, na Europa, a planta conhecida como anis é a Pimpinella anisum L., aqui denominada de erva-doce. Este guia tem o intuito de elucidar as diferenças dessas plantas, auxiliando na sua identificação botânica e nos usos corretos de cada uma. No caso do funcho, também são descritas informações técnicas de cultivo, para sua adequada produção. 1. ERVA-DOCE Pimpinella anisum L. Família: Apiaceae. Nomes populares: erva-doce, anis, anis-verde, pimpinela- -branca. Planta tradicional da culinária e medicina europeia e asiática, a erva-doce é de clima temperado. Sua produção no Brasil é inexpressiva, sendo encontrada, especialmente, no Sul do País. Flores Frutos 71 Origem: Ásia, regiões temperadas. Descrição botânica: erva aromática, ereta, que atinge até 50cm de altura. As folhas são compostas de formas variadas e fendidas. As flores pequenas, de cor branca, são dispostas em umbelas com- postas. Os frutos são ovoides, com dois aquênios, de sabor adocicado e aromático. Composição química: óleo essencial (anetol – 90 a 95%), glicosídeos, cumarinas, flavonoides e es- teroides. Uso alimentício: os frutos são usados como aromatizantes de bebidas e de preparações culinárias, como doces e artigos de panificação. Uso medicinal: o fruto é usado como digestivo, contra perda de apetite, cólicas, resfriado, tosse, febre e bronquite e como estimulante da lactação. É uma planta da farmacopeia brasileira, sendo indicada como antidispéptica e antiespasmódica, na forma de chá por infusão (7g de frutos secos e amassados para 150mL de água fervente). Observação: as folhas da erva-doce e do funcho também podem ser usadas na forma de chá, porém são menos aromáticas que os frutos, tornando a bebida mais suave. 2. FUNCHO Foeniculum vulgare Mill. Família: Apiaceae. Nomes populares: erva-doce, erva-doce-de-cabeça, falsa erva-doce, falso anis, funcho-italiano, funcho-vulgar, erva-doce- -brasileira, fiolho, entre outros. Possui inúmeras variedades e cultivares, sendo que a variedade dulce é hortícola e forma “cabeça”, que é o produto comercial. Flores Frutos Bulbo ou cabeça 72 Origem: Europa mediterrânea, sendo cultivada em todo o mundo, inclusive no Brasil. Descrição botânica: erva anual ou bienal, aromática, formação levemente entouceirada e que atin- ge entre 40cm e 90cm de altura. As folhas são compostas pinadas, de formas variadas, dependendo da cultivar ou variedade. As flores são pequenas, hermafroditas, de cor amarela, dispostas em um- belas compostas. Os frutos são oblongos, com dois aquênios aromáticos. Composição química: óleo essencial (anetol – 60 a 95%, funchona, foeniculina, metilchavicol, entre outros), cumarinas, flavonoides e esteroides. Uso alimentício: os frutos são usados como aromatizantes de bebidas e de preparações culinárias, como doces e artigos de panificação. O bulbo ou cabeça, da variedade hortícola, é usado em saladas, quiches etc. Uso medicinal: o fruto é usado principalmente como digestivo, carminativo (contra gases intesti- nais), antiespasmódico, para estimular a lactação e como expectorante. É planta da Farmacopeia Brasileira, sendo indicada como auxiliar no tratamento sintomático de queixas gastrintestinais leves, tais como cólicas, distensão abdominal e flatulência, na forma de chá por infusão (7g de frutos secos para 150mL de água fervente). Como auxiliar no alívio de sintomas dispépticos, antiespasmódico e antiflatulento, é usado na forma de tintura por percolação (10g e frutos secos para 100mL de álcool etílico 40% q.s.p.). 2.1. ASPECTOS AGRONÔMICOS Propagação: sementes, por meio de semeadura em linhas no local definitivo (de 3kg a 5kg de se- mentes/ha) ou produção de mudas em recipientes. Época de plantio: ano todo, em regiões de clima ameno; de março a abril, em regiões mais quentes. O plantio deve ser feito em locais a pleno sol. Espaçamento: 1,2m x 0,8m. Desenvolve-se melhor em regiões de clima ameno, em plantio a pleno sol e em solos bem drenados, profundos, leves e férteis. Adubação: a adubação nitrogenada aumenta o teor de óleos essenciais, por isso, recomenda-se aplicar no plantio 10kg/ha de N e, em cobertura, 50kg/ha de N, parcelando em duas vezes, aos 20 e aos 60 dias após o plantio, repetindo nos anos seguintes. Fontes de N sugeridas: composto orgânico, torta de mamona, estercos bem curtidos. Doenças: pode ocorrer podridão bacterianae doenças fúngicas por Fusarium, Phytium, Cercospora e Alternaria. Pragas: suscetível ao ataque de pulgões e cochonilhas. Colheita: em torno do quinto mês, quando os frutos estão com os aquênios bem desenvolvidos e de coloração esverdeada a parda. Logo após a colheita, devem ser colocados para secar, pendurados ou sobre tela a sombra ou, quando necessário, no secador no máximo a 35oC. Rendimento: de 0,8 a 2 toneladas de frutos secos/ha. 73 3. ANIS-ESTRELADO Illicium verum Hook.f. Família: Magnoliaceae. No Brasil, a planta Ilicium verum é conhecida como anis- -estrelado; porém, no resto do mundo, a denominação anis ou anis-verde é dada à planta Pimpinella anisum, que, no Brasil, é chamada de ‘erva-doce’. Origem: China e Vietnã. Não é cultivada no Brasil, sendo importada principalmente da Europa e Ásia. Descrição botânica: o anis-estrelado é uma árvore que pode chegar até 18m de altura em estado nativo, mas, em cultivos, procura-se manter a planta com um porte bem mais baixo, entre 3m e 4m. Possui folhas largas e de verde intenso. As flores, solitárias, são hermafroditas, e a coloração vai de branca até vermelha. Os frutos têm o formato de estrela, consistindo em oito carpelos arranjados em torno de um centro. Cada carpelo é rígido, com o formato de barca, contendo cada um uma se- mente marrom, ovoide, brilhante e muito aromática, ou seja, rica em óleo essencial. Composição química: óleo essencial (anetol, felandreno, safrol, terpinol, 1,4 cineol). Uso alimentício: aromatizante de bebidas e preparações culinárias. Uso medicinal: usado principalmente como digestivo, carminativo e antiespasmódico. Também foi utilizado para fabricação do medicamento Tamiflu, indicado como antiviral. 4. LITERATURA CONSULTADA BLANCO, M. C. S. G. et al. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Boletim Técnico 247, Campi- nas-SP, CATI, 2007. BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmaco- peia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. HARAGUCHI, L. M. M.; CARVALHO, O. B. (Org.). Plantas Medicinais: do curso de plantas medicinais. São Paulo: Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, 2010. 248p. LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2002. 74 MING, L. C. Medicina verde: programa municipal de plantas medicinais e fitoterápicos de Botucatu (SP). Botucatu: Prefeitura Municipal de Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2015, 46 p. Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Illicium_verum 75 GUACOS Mikania glomerata Spreng e Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker Mikania laevigata Mikania glomerata No bioma brasileiro da Mata Atlântica ocorrem duas espécies de guaco, cujas propriedades medi- cinais foram comprovadas e, por isso, as duas espécies foram incluídas na Farmacopeia Brasileira. Ambas possuem ação broncodilatadora, sendo indicadas como expectorante, e têm como princípio ativo principal a cumarina. Família: Asteraceae. Gênero: Mikania. Espécies: Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker e Mikania glomerata Sprengel. Nome popular: guaco, guaco-de-cheiro, guaco-trepador, cipó-catinga, cipó-sucuriju, coração-de- -jesus, erva-de-cobra. 76 1. DESCRIÇÃO BOTÂNICA Ambas as espécies são subarbustos trepadores perenes, de grande porte, possuindo ramos lenhosos, cilíndricos, ramificados e glabros. As folhas são opostas, ovaladas, de consistência rígida, pecioladas, simples, com três a cinco nervuras bem evidentes, carnosas, na cor verde- -brilhante na parte superior. Para ter certeza sobre a qual espécie pertence, basta observar as características e as diferenças entre as folhas de cada planta. Principais diferenças genéticas e morfológicas entre as duas espécies de guaco. Características M. glomerata M. laevigata Genéticas 2n = 36 2n = 38 Morfológicas Folhas têm medidas de comprimento e largura muito próximas, com base hastada e os dentes laterais muito evidentes. Folhas de comprimento maior que a largura (ou seja, mais compridas e estreitas do que as de M. glomerata), base não hastada e dentes laterais, quando presentes, pouco evidentes. Flores: branco-creme, reunidas em capítulos. Floração: julho e agosto. Polinização: abelhas. Ocorrência: nativa da região Sul do Brasil, sendo cultivada em outros estados. Composição química: cumarina (princípio ativo principal), ácidos cafeoilquínicos (clorogênico e di- cafeoilquínico), terpenos (ácido caurenoico). 2. ASPECTOS AGRONÔMICOS Planta trepadeira, sendo recomendável conduzir em espaldeira ou latada no sentido N/S. Para a produção de mudas, utilizar estacas medianas ou basais com três gemas ou nós e um par de 1/2 folhas. Enterrar duas gemas ou dois nós da estaca e deixar uma gema para fora com um par de folhas cortadas ao meio. 77 Espaçamento: 1m – 1,5m x 2m. Desenvolve-se bem em solos com muita matéria orgânica e tolera solos ácidos. Adubação de plantio: 2kg de composto + 150g de fosfato natural + 300g de cinza vegetal por planta. Adubação de cobertura: realizar anualmente com composto e cinzas na dosagem do plantio. Pode ser cultivado a pleno sol ou à meia-sombra, sendo que o sombreamento favorece a produção de cumarina, o que indica que seu plantio em Sistema Agroflorestal (SAF) é positivo e recomendado. Irrigação: realizada em dias alternados; planta exigente em água. Doenças: já foi documentada a ocorrência de antracnose (Colletotrichum spp), doença fúngica que ocasiona manchas nas folhas, e do fungo Macrophomina sp., típico de solo, que ocorre em rebolei- ras, prefere período de pouca chuva e as temperaturas elevadas infectam a raiz da planta, que seca e morre. Pragas: podem ocorrer larvas formadoras de galhas nas folhas e lagartas nas inflorescências.O con- trole das doenças e pragas deve ser natural, com práticas preconizadas pelo sistema orgânico ou agroecológico de produção. Colheita: a partir de oito a 12 meses do plantio. E depois, a cada seis meses. Colher 60% de ra- mos das brotações secundárias (mais novas) e na pré-floração, pois os maiores teores de cumarina (principal princípio ativo e mais significativo) são observados, segundo Castro et al. (2006), em fo- lhas jovens (5,2mg.g-1 de matéria seca), seguidos por flores (1,04mg.g-1 de matéria seca), caules (1,05mg.g-1 de matéria seca) e raízes (0,11mg.g-1 de matéria seca). Rendimento anual: entre 1,5 e 2,5 toneladas/ha de massa seca. A secagem deve ser realizada em secador a 45oC, por 36 horas. Uso medicinal: age em gripes e resfriados, bronquites alérgica e infecciosa e como expectorante. Tem ação broncodilatadora confirmada pela Central de Medicamentos (Ceme), fazendo parte da Farmacopeia Brasileira e da RDC 10/2010, que trata das drogas vegetais. É uma das plantas selecionadas pelo Projeto Farmácia Viva de Campinas/Sistema Único de Saúde (SUS), com as seguintes orientações contidas na cartilha municipal, conforme indicações da Anvisa, segundo o Formulário dos Fitoterápicos (2011): Nome científico: Mikania laevigata Sch. Bip. Ex Baker. Nome popular: guaco-de-cheiro. Parte utilizada: folhas. Constituintes principais: cumarina (princípio ativo principal), ácidos cafeoilquínicos (clorogênico e dicafeoilquínico), terpenos (ácido caurenoico). Indicações: alívio sintomático de afecções produtivas das vias aéreas superiores (expectorante e broncodilatador). 78 Uso interno: infusão - uma colher de sopa (3g) de folhas secas para uma xícara de chá (150mL) de água. Acima de 12 anos de idade: duas vezes ao dia, logo após o preparo. RECEITA DE XAROPE CASEIRO • 25 folhas frescas picadas para uma e ½ xícara de chá (255g) de açúcar e uma xícara de chá (150mL) de água. Em calor brando (60°C a 80°C), preferencialmente em banho-maria, dissolver o açúcar na água até formar uma calda fina; em seguida, colocar as folhas, misturar e tampar. Ao levantar fervura, desligar o fogo e deixar em repouso por uma hora tampado.Coar. Colocar em recipiente higienizado, de preferência em vidro âmbar. Armazenar em geladeira ou em local fresco. Essa pre- paração não pode ser usada por mais de sete dias e deve-se verificar frequentemente se o xarope não fermentou (azedou). Crianças de três a seis anos de idade: tomar uma colher de chá (5mL), duas vezes ao dia. Crianças de sete a 12 anos: tomar uma colher de sobremesa (10mL), três vezes ao dia. Acima de 12 anos: tomar uma colher de sopa (15mL), três vezes ao dia. Agitar antes de usar. Atenção: contraindicado a pacientes portadores de diabetes mellitus, gestantes, lactantes e crianças menores de dois anos de idade. Cuidados: não utilizar em caso de tratamento com anticoagulante. A utilização pode interferir na coagulação sanguínea. Doses acima das recomendadas podem provocar vômitos e diarreia. RECEITAS DE PREPARAÇÕES CASEIRAS COM GUACO Algumas preparações caseiras com guaco foram testadas na Cozinha Experimental da Departamento de Extensão Rural (Dextru/CATI/SAA) e podem ser conferidas via links: 1. Xarope de guaco com açúcar https://www.youtube.com/watch?v=IpjWh5FqO_8 2. Xarope de guaco com mel https://www.youtube.com/watch?v=PQ9Mw2vhRSQ 3. Bala de guaco com mel (contra tosse) https://www.youtube.com/watch?v=zz8mhUgetms 3. LITERATURA CONSULTADA BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011. 126p. CASTRO, E. M. et al. Coumarin contents in young Mikania glomerata plants (Guaco) under different radiation levels and photoperiod. Acta Farmacêutica Bonaerense, v. 25, n. 3, p. 387-92, 2006. COLETTO, L. M. M., PEREIRA, B. M. R., CARDOSO Jr., E. L. C. Plantas medicinais nativas dos remanes- centes florestais do oeste do Paraná. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009. 79 LORENZI, H. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de estudos da Flora, 2002. PEREIRA, A. M. S. Manual prático de multiplicação e colheita de plantas medicinais. Ribeirão Preto, UNAERP, 2011. SUS - Prefeitura de Campinas. Cartilha de plantas medicinais, Campinas, 2019..................................................................................................................... 58 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 59 CIDREIRAS ................................................................................................................. 60 ERVA-CIDREIRA .......................................................................................................... 60 CIDREIRA-BRASILEIRA ................................................................................................ 61 CAPIM-CIDREIRA ....................................................................................................... 63 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 65 ERVA-BALEEIRA ........................................................................................................ 66 ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 67 USO MEDICINAL ....................................................................................................... 67 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 68 ERVAS-DOCES ............................................................................................................ 70 ERVA-DOCE ................................................................................................................ 70 FUNCHO .................................................................................................................... 71 ASPECTOS AGRONÔMICOS ........................................................................................ 72 ANIS-ESTRELADO ....................................................................................................... 73 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 73 GUACOS .................................................................................................................... 75 DESCRIÇÃO BOTÂNICA .............................................................................................. 76 ASPECTOS AGRONÔMICOS ....................................................................................... 76 LITERATURA CONSULTADA ........................................................................................ 78 APRESENTAÇÃO A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) já vinha trabalhando, desde a década de 1990, em projetos com plantas medicinais e aromáticas junto aos produtores rurais, grupo de mulheres e de jovens, em arranjos produtivos locais e em parceria com órgãos municipais das áreas da agricultura, saúde e educação. Durante todo esse período, continuamos a receber várias perguntas deste público conquistado ao longo dos anos, tanto em relação à identificação botânica das espécies quanto ao sistema de cultivo, aos tipos de beneficiamento, à obtenção das substâncias bioativas e até mesmo sobre o uso seguro dessas plantas. Diante disso, vimos a necessidade de atender a essas demandas e, para sistematizar, foram criados diversos informes técnicos em resposta às dúvidas. Recentemente, selecionamos os mais frequentes com o objetivo de elaborar uma coletânea com estas informações. Assim nasceu o presente Guia sobre Plantas Aromáticas e Medicinais. Um Guia porque ele está sendo disponibilizado de forma on-line no site da instituição e contará com a possibilidade de ser frequentemente atualizado com o acréscimo de novos informes. Esperamos que este Guia seja útil a todos os públicos interessados em saber mais sobre as plantas medicinais e aromáticas e, com a facilidade de ser encontrado em nosso site, se torne bastante utilizado. Outras dúvidas e/ou sugestões podem contribuir para que este Guia tenha cada vez mais informações. Trata-se de mais um material com a qualidade da CATI para consulta de técnicos, produtores e da população em geral, interessados em cultivar essas espécies visando à atividade econômica ou apenas para adquirir saúde por meio de sua utilização correta. Boa leitura, bom entretenimento e bons conhecimentos, porque a troca e a disseminação de informações são sempre bem-vindas, fundamentais e saudáveis! Maria Cláudia Silva G. Blanco Engenheira agrônoma (CATI/SAA) ix As Plantas Medicinais e SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS 1 AS PLANTAS MEDICINAIS E SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco As plantas medicinais são aquelas que vêm sendo usadas, no decorrer da história da humanidade, para prevenir e curar dores e males que afetam a saúde e o bem-estar. Produzem substâncias químicas capazes de agir no nosso organismo proporcionando saúde, alívio de sintomas e cura de diversas doenças. Essas substâncias são denominadas princípios ativos ou substâncias bioativas. Existem muitos princípios ativos conhecidos e classificados, mas, uma vez que a biodiversidade das plantas ainda tem muito a ser estudada, acredita-se que novos princípios ativos serão descobertos e descritos conforme o avanço da ciência. Comentamos, a seguir, sobre os principais grupos destas substâncias produzidas pelas plantas medicinais. 1. ÁCIDOS URÔNICOS (GOMAS E MUCILAGENS) As gomas são constituídas de polissacarídeos e ácido urônico. Formam soluções adesivas quando são colocadas em água quente. As soluções aquosas são neutras ou ligeiramente ácidas e possuem propriedades emulsionantes e estabilizantes. As mucilagens são semelhantes às gomas do ponto de vista químico, mas com água formam uma solução coloidal viscosa e não adesiva. Possuem ação anti-inflamatória da mucosa, pois formam uma camada protetora, diminuindo as irritações locais. Em contato com a água aumentam de volume, manifestando um efeito laxativo. As mucilagens não devem sofrer ebulição prolongada, pois o calor diminui a atividade biológica. Exemplos de plantas produtoras de ácidos urônicos: tanchagem (Plantago sp), babosa (Aloe sp), folha-da-fortuna (Bryophyllum pinnatum). A tanchagem é uma planta medicinal contemplada em várias farmacopeias, inclusive a brasileira, onde a Plantago major é indicada como auxiliar no tratamento sintomático de irritações orais e da faringite associada à tosse seca, sendo bastante recomendada pelos dentistas e conhecida como planta protetora das mucosas, devido às propriedades emoliente e anti-inflamatória de sua mucilagem. É considerada uma planta alimentícia não convencional (PANC), sendo cultivada e consumida como hortaliça em diversas regiões do Brasil no preparo de refogados, sopas e saladas. 2 A folha-da-fortuna é usada na medicina popular como cicatrizante e contra acidez estomacal e gastrite. É considerada uma PANC. O suco verde feito com suas folhas batidas com sucos de frutas ou com legumes, verduras e/ou frutas é recomendado por ser nutritivo e funcional, por causa dos princípios ativos disponíveis. Também é uma planta bastante ornamental em virtude do formato de suas folhas e da beleza das inflorescências. 2. TANINOS São substâncias encontradas na maioria das plantas medicinais. Sua propriedade terapêutica resulta da adstringência que se manifesta por uma retração do tecido lesado e precipitação de proteínas, formando uma camada protetora que possibilita o processo de cicatrização, associado a uma ação hemostática e antidiarreica. São bastante solúveis no álcool e na água. Não devem sofrer fervura prolongada e podem ser usados externa ou internamente. Exemplos de plantas que produzem tanino: goiabeira (Psidium guajava), espinheira-santa (Maytenus sp), barbatimão (Stryphnodendron adstringens). A espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) é uma planta nativa da Mata Atlântica do Brasil e uma das primeiras plantas estudadas pela Central de Medicamentos na década de 1990, obtendo-se, nos estudos clínicos, excelentesresultados contra gastrite e na cicatrização de úlcera gástrica. Faz parte da Farmacopeia Brasileira e é uma das principais plantas recomendadas pela Fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS), pois é segura, eficaz e usada na forma de chá. 3. GLICOSÍDEOS São substâncias compostas por uma fração de açúcar e outra não açúcar, denominada genina. De acordo com a estrutura da genina, os glicosídeos são classificados em cardiotônicos, antraquinônicos, sulfurados, salicílicos, flavonoides, cianogenéticos e cumarínicos. Com amplo espectro de ação terapêutica e em alguns casos, podendo ser tóxicos para o organismo do homem, exigem maior cuidado ao serem utilizados. Exemplos de plantas produtoras: babosa (Aloe sp), guaco (Mikania glomerata, M. laevigata), calêndula (Calendula officinalis), soja (Glicine max) e uva. 3 A calêndula possui flavonoides, carotenoides (substâncias bioativas antioxidantes que conferem a pigmentação do amarelo ao vermelho), óleo essencial, mucilagens, saponinas e resinas. Indicada contra vários males, na Farmacopeia Brasileira é recomendada como auxiliar no tratamento de inflamações da mucosa oral e orofaringe e nas inflamações leves da pele, como queimaduras de sol e assaduras. Os flavonoides atuam como antioxidantes, anti-inflamatórios, antitumorais, entre outras ações terapêuticas e podem estar associados a pigmentos. As antocianinas são flavonoides que conferem a coloração azul, roxa ou violeta para frutas e flores, como a uva, amora e a berinjela e atuam principalmente como antioxidantes. A isoflavona da soja é um outro exemplo de flavonoide e possui ação hormonal. 4. SAPONINAS Substâncias que, quando agitadas com água, fazem espuma persistente e que não se desfaz rapidamente. Suas principais ações terapêuticas são: expectorante, diaforética, depurativa e especialmente aceleradora da absorção pelo organismo de outro princípio ativo associado a ela. Exemplos de plantas produtoras de alcaloides: salsaparrilha (Smilax sp); ginseng brasileiro ou fáfia (Pfaffia glomerata e P. paniculata). As raízes de salsaparrilha possuem propriedades depurativas do sangue e são usadas como remédio caseiro contra reumatismo, gota e artrite. Estudos indicam que a salsaparrilha atua evitando problemas de pele, como acne e psoríase. A fáfia é conhecida também como ginseng-brasileiro porque é planta nativa do Brasil e possui ações terapêuticas semelhantes ao ginseng oriental. Suas raízes são usadas na medicina popular como tônica do organismo atuando contra estresse, cansaço físico e mental e como afrodisíaca. Pessoas hipertensas devem usar com supervisão médica. 4 5. ALCALOIDES Geralmente, toda planta que contém alcaloide é amarga. Os alcaloides são compostos orgânicos nitrogenados que muitas vezes apresentam ação terapêutica pronunciada que pode estar associada a uma elevada toxicidade, sendo que vários alcaloides atuam no sistema nervoso central. Por isso, as plantas que contêm alcaloides com potencial tóxico devem ser usadas sob controle médico. Exemplos de plantas produtoras: jaborandi (Pilocarpus microphyllus); café (Coffea sp); trombeteira (Datura stramonium). O jaborandi é uma planta nativa do Brasil que produz a pilocarpina, alcaloide importante para a indústria farmacêutica na fabricação de colírio contra glaucoma. Quase foi extinta, pois sofreu um extrativismo desenfreado antes do estabelecimento de seu manejo sustentável ou cultivo. A pilocarpina ainda não é totalmente sintetizada em laboratório e, portanto, só é obtida sendo extraída diretamente da planta. 6. ÓLEOS ESSENCIAIS São misturas de substâncias orgânicas muito voláteis, de consistência semelhante ao óleo. São insolúveis em água e solúveis em álcool. As plantas que os produzem são denominadas aromáticas. São extraídos das plantas, principalmente pelo processo de destilação por arraste de vapor ou por hidrodestilação. A maioria dos óleos essenciais (OE) possui aroma agradável, o que faz com que muitas plantas aromáticas sejam utilizadas como temperos, na aromatização de ambientes e na fabricação de perfumes. Suas propriedades terapêuticas são muito variadas e dentre elas temos as ações: antisséptica, antiparasitária, expectorante, diurética, depurativa, antiespasmódica, emenagoga, antiviral, carminativa, estomáquica, analgésica, antirreumática e anti-inflamatória. A aromaterapia é um tipo de terapêutica que utiliza estes óleos essenciais de várias formas como para inalação, massagem etc. Exemplos de plantas aromáticas: capim-cidreira – Cymbopogon citratus (citral), hortelã – Mentha piperita (mentol), erva-baleeira – Varronia curassavica (α-humuleno), alecrim – Salvia rosmarinus (cânfora, 1,8 cineol), tomilho – Thymus vulgare (timol), alfazema – Lavandula angustifolia (linalol e acetato de linalila). O alecrim é uma planta multifuncional, presente na cultura de diversas populações; é usado em rituais como benzimentos e purificações. Seu OE possui inúmeras propriedades importantes para as indústrias farmacêuticas, de alimentos e bebidas, de sanitizantes, higiene e limpeza, bem como para a perfumaria e cosmética. É usado na culinária, na fitoterapia e na aromaterapia. Dentre os benefícios medicinais, destacam-se as ações antioxidante, antimicrobiana, cardiotônica, estimulante da memória, estomáquica, antiespasmódica e contra males respiratórios. Na Farmacopeia Brasileira, é indicado contra problemas espasmódicos do trato gastrointestinal. 5 A erva-baleeira é planta nativa da Mata Atlântica e está na Farmacopeia Brasileira. A partir de seu OE foi desenvolvido o primeiro fitomedicamento totalmente brasileiro numa parceria entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o laboratório nacional Aché. Seu OE é anti-inflamatório e formulações como chá das folhas, pomadas e unguentos são usadas externamente no tratamento de processos inflamatórios, em contusões e entorces. 7. COMPONENTES MINERAIS Os minerais são indispensáveis aos processos vitais do organismo humano, atuam na atividade enzimática, fazem parte de tecidos e outros componentes do corpo humano, como o cálcio, fundamental para a formação de ossos e dentes, o fósforo, essencial para o sistema nervoso, e o ferro, cuja ausência no sangue provoca anemia. Exemplos de plantas ricas em minerais: ora-pro- -nóbis (Pereskia aculeata), dente-de-leão (Taraxacum officinale), bertalha (Basella alba). O dente-de-leão é uma planta da medicina tradicional usada na fitoterapia de diversos povos. Também é uma PANC, consumida como remineralizante. Na fitoterapia, suas raízes e folhas são usadas contra distúrbios digestivos e como diurético, as raízes para afecções de pele e suas flores para inapetência. Na culinária, as folhas jovens são usadas em refogados, omeletes, sopas, pães etc. Na Farmacopeia Brasileira, é indicado como auxiliar no alívio de sintomas dispépticos, tais como sensação de plenitude, flatulência e digestão lenta e auxiliar no aumento do fluxo urinário. A bertalha também conhecida como espinafre tropical e espinafre-da-índia é planta alimentícia não convencional (PANC) muito apreciada pelo sabor suave e textura tenra das folhas. Por causa da sua riqueza mineral (Ca, Fe, Zn, P, K, Mg) e presença de vitaminas A e C, são nutritivas e funcionais, podendo ser consumidas em omeletes, refogados, bolinhos e outras receitas substituindo o espinafre. As folhas novas podem ser consumidas cruas compondo saladas. Seus frutos possuem o pigmento betalaína (antioxidante) e podem ser consumidos in natura ou batidos em sucos. 6 8. VITAMINAS São substâncias não produzidas pelo organismo humano, porém essenciais para o crescimento e a manutenção da saúde, sendo que sua ausência provoca várias enfermidades. São fornecidas por plantas e alimentos, de preferência frescos e crus; quando houver necessidade de cozimento, deve ser feito no vapor, com pouca água. Exemplos: capuchinha (Tropaeolum majus); tanchagem (Plantago sp); acerola (Malpighiapunicifolia). Planta medicinal e alimentícia não convencional, a capuchinha é rica em vitamina C e flavonoides presentes especialmente na pigmentação de suas flores. As folhas e flores possuem sabor picante que lembra o do agrião e são consumidas em saladas, patês, bolinhos e refogados. O fruto verde pode ser usado em conservas, sendo chamado de falsa-alcaparra. Prefira consumi-la crua para aproveitar melhor a vitamina C e utilize suas flores enfeitando e enriquecendo as saladas. Na fitoterapia, é indicada contra afecções pulmonares, como diurética, desinfetante das vias urinárias e para prevenção de queda de cabelo e fortalecimento do couro cabeludo. Os frutos da acerola, também conhecida como cereja- -das-antilhas, possuem elevado teor de vitamina C, podendo chegar a até 5.000 miligramas por 100 gramas de polpa (1 a 5g/100mL de suco puro). Teores que podem vir a ser 100 vezes superiores ao da laranja ou 10 vezes maiores do que os da goiaba e do caju. Por isso, é uma das plantas do Projeto Farmácia Viva do Ceará, idealizado pelo Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos. A vitamina C aumenta a resistência contra infecções e sua ação antioxidante retarda o envelhecimento. Um copo de suco de acerola, recentemente preparado, fornece a quantidade diária de vitamina C para manter o nível normal desta vitamina para um indivíduo adulto; por isso, deve ser consumido regularmente. 9. LITERATURA CONSULTADA CORREA Jr.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Curitiba: Emater-Paraná. 1991. 162 p. MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas Medicinais; guia de seleção e emprego de plantas usadas em fitoterapia e no nordeste do Brasil, Fortaleza, ÍCONE, 1988. VOL II PANIZZA, S. Plantas que curam - cheiro de mato. São Paulo: IBRASA, 1997. 7 Horta MEDICINAL 8 Maria Cláudia Silva Garcia Blanco 1 Beatriz Cantusio Pazinato 2 Cultivar saúde implica cuidar do corpo, da mente e do espírito. Nesse sentido, a prática de plantar e manejar uma horta é uma terapia para se obter essa saúde integral, pois produz alimentos e re- médios, promove atividades saudáveis para o corpo com a importante exposição ao sol, principal fonte de vitamina D, e proporciona momentos de reflexão, meditação, contemplação e de sensações (aromas e sabores) que beneficiam a mente e o espírito. Ter uma horta medicinal pode significar ter plantas medicinais cultivadas junto com hortaliças ou no meio do pomar, no jardim ou no quintal ou até mesmo em recipientes como vasos, garrafas PET, caixotes, entre outros. Para iniciar essa atividade produtiva deve-se, primeiramente, conhecer um pouco sobre cada planta medicinal que se pretende cultivar: • sua identificação botânica; • seu tipo de crescimento ou porte (erva, arbusto, trepadeira, árvore etc.); • sua necessidade de luz (pleno sol, meia sombra ou sombra); • sua necessidade de água (regas abundantes, regas moderadas, frequentes ou pouca água). Com essas informações, escolher o tipo e tamanho do recipiente (quanto maior o porte da planta, maior o recipiente); o local adequado de incidência solar e o modo e a frequência das regas, que vai depender da época do ano, da textura do solo e das necessidades de cada tipo de planta. Após isso, devemos preparar o solo para receber as sementes ou mudas que precisam ser sadias e de boa procedência. __________ 1 Engenheira agrônoma, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA. 2 Nutricionista, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA. HORTA MEDICINAL Uma farmácia viva ao seu lado 9 • Para cultivo direto no solo: fazer canteiros com cerca de 30cm de altura para proporcionar a drenagem, utilizar 100g/m2 de calcário para correção da acidez do solo e cerca de 3 a 5kg/m2 de húmus ou composto orgânico para adubar e proporcionar boa textura ao solo. • Para cultivo em recipientes: utilizar uma mistura de terra, composto orgânico/húmus ou torta de mamona nas seguintes proporções: terra : húmus = 1 : 1 ou terra : torta de mamona = 3 : 1 ou terra : areia : húmus = 1 : 1 : 1, quando a terra for muito argilosa. Ao montar os vasos, colocar no fundo pedriscos, cacos ou argila expandida para drenar o excesso de água. Após colocar a mistura de terra, fazer a semeadura que deve ser realizada na profundidade exigida; quanto menor a semente, mais superficial é a semeadura. No caso de mudas, retirar do recipiente e colocá-las em buracos na terra, apertando levemente com as mãos ao seu redor. As mudas podem ser adquiridas no mercado ou produzidas em recipientes como copinhos ou sacos plásticos, em local sombreado (viveiro) por meio de sementes, estacas de galhos ou a partir de ou- tras estruturas propagativas como os rizomas e os rebentos, dependendo de cada planta. Para completar, regar bem sem encharcar e cobrir o solo do canteiro ou do vaso com capim seco, casca de arroz ou outra cobertura, evitando a erosão e os respingos de terra nas plantas quando forem regadas. Adubar com composto orgânico ou torta de mamona a cada dois ou três meses, para o bom desen- volvimento das plantas. É importante evitar o contato de animais domésticos em sua Farmácia Viva. Colher sempre usando instrumentos limpos e afiados, na época certa e do modo adequado. Seguem informações sobre seis plantas medicinais que não podem faltar em sua horta medicinal. Recomendações para plantio Planta medicinal Necessidade de luz Necessidade de água * Espaçamento e propagação Observações Alecrim Rosmarinus officinalis L Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,6m. Mudas por ementes ou estacas apicais com 10cm a 15cm. Arbusto aromático e perene. Transplantar quando a muda tiver de 20cm a 25cm. Babosa Aloe vera (L.) Burm. f. Pleno sol. Pouca água. 1m x 0,6m. Rebentos. Erva perene. Os rebentos podem ser plantados diretamente no local definitivo.** Boldo Plectranthus barbatus Andrews Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com três nós. Arbusto perene. Pode ser plantado diretamente no local definitivo ou em viveiro (mudas). Capim-cidreira Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Divisão de touceira. Erva aromática. Prefere solos areno-argilosos. Pode ser plantada diretamente no local efinitivo. 10 Planta medicinal Necessidade de luz Necessidade de água * Espaçamento e propagação Observações Hortelã comum Mentha x villosa L. Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas. 0,3m x 0,3m. Estolões ou rizomas com 10cm ou sementes. Erva aromática perene. Mudas são produzidas em viveiro. Prefere solo orgânico. Manjericão Ocimum basilicum L. Pleno sol. Regas moderadas. 0,6m x 0,25m. Sementes ou estacas apicais com 10cm a 15cm. Erva aromática perene. Plantio de sementes ou mudas na primavera. Planta muito visitada por abelhas (melífera). Podem-se cortar as primeiras florações para aumentar o número de folhas e o ciclo da planta. * Verificar a aparência da planta: se estiver murcha, precisa de mais água. Nunca encharcar o solo, pois as raízes podem apodrecer. ** local definitivo = canteiro, vaso ou outro recipiente. Recomendações para colheita e pós-colheita Planta medicinal Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Alecrim Folhas Primeira colheita após um a dois anos do plantio, quando bem formado. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. Pode-se colher duas vezes/ano no outono (metade superior da planta) e na primavera (a 50cm do solo) ou uma vez por ano na primavera (a 15cm do solo). Babosa Folhas maiores que 50cm A partir de um ano do plantio, após primeira florada. Usada fresca, manter refrigerada. Colher cinco ou seis folhas externas/planta. Após colheita, fazer amontoa (chegar terra no pé da planta). Boldo Folhas A partir de quatro a seis meses do plantio. Usada fresca ou seca em secador a 40oC. Colheitas a cada quatro meses. Durante a secagem, revolver as folhas a cada duas horas. Capim-cidreira Folhas A partir de seis meses do plantio. Usada frescaou seca à sombra ou a 40oC. Corte na altura de 10cm do solo. Dois a três cortes anuais. Hortelã comum Parte aérea A partir de três meses do plantio. Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 40oC. Cortar a 5cm do solo. Até quatro cortes anuais, conforme o desenvolvimento. Manjericão Folhas Após dois a quatro meses do plantio. Usada fresca ou seca a sombra ou em secador a 40oC. Cortes realizados a 15cm do solo, colher preferencialmente de manhã. 1. RECEITAS MEDICINAIS 1. CHÁ DAS FOLHAS DE ALECRIM – anti-inflamatório, antisséptico, cicatrizante, antioxidante e contra má digestão e distúrbios circulatórios. Ingredientes • 2g de folhas secas ou uma colher de chá de folhas frescas. • 150mL de água potável e filtrada. 11 Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 15 minutos e coar. Modo de usar: uso interno acima de 12 anos de idade: tomar 150mL do infuso, 15 minutos após o preparo, três a quatro vezes entre as refeições. Uso tópico ou externo: aplicar no local afetado duas vezes ao dia. Advertências: não usar em pessoas com gastroenterites e histórico de convulsões. Não utilizar em gestantes. Doses acima das recomendadas podem causar nefrite e distúrbios gastrointestinais. Não usar em pessoas alérgicas ou com hipersensibilidade ao alecrim. 2. GEL CONGELADO DE BABOSA – contra queimaduras e assaduras. Ingredientes • Folha fresca de babosa (de planta adulta, +- 50cm). Preparo Tire os espinhos da folha de babosa, lave-a na água corrente e deixe escorrer a resina amarela por umas seis horas. Retire toda a casca e corte a massa de gel transparente em pedaços de dois a três centímetros enrolando cada pedaço em papel alumínio, e guarde no congelador até o momento do uso. Modo de usar: para o tratamento de queimaduras e assaduras, passar o gel congelado ou fresco diretamente no local lesionado. 3. CHÁ DE BOLDO – digestivo e contra mal-estar ocasionado por intoxicação alcoólica Ingredientes • 1g a 3g de folhas secas ou uma folha fresca. • 150mL de água potável e filtrada. Preparo Com folhas secas ─ preparar por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta e abafar por 15 minutos e coar. Com folha fresca - preparar por maceração, ou seja, picar e socar a folha, acrescentar água fria e deixar macerando (“de molho”) por alguns minutos. Modo de usar: tomar 150mL duas ou três vezes ao dia, logo após o preparo. Atenção: somente para maiores de 12 anos de idade. Advertências: não indicado para gestantes, lactantes, crianças e pessoas com hepatite ou obstrução das vias biliares e hipotensas (seu uso pode diminuir a pressão arterial). Doses acima das recomendadas e por período de tempo maior podem causar irritação no estômago. 4. CHÁ DE CAPIM-CIDREIRA ─ cólicas intestinais e uterinas, calmante suave e contra ansiedade e insônia leves. Ingredientes • 3g de folhas secas. • 150mL água potável e filtrada. 12 Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 5 a 10 minutos e coar. Modo de usar: para maiores de 12 anos de idade ─ tomar 150mL, cinco minutos após o preparo, de duas a três vezes ao dia. Advertência: pode aumentar o efeito de outros calmantes. 5. PÓ DE HORTELÃ ─ antiparasitário (ameba e giárdia) Ingredientes • Folhas de hortelã. Preparo Secar à sombra ou em secador a 40oC e triturar até a forma de pó. Modo de usar: usar o pó na dose de 1/2 colher de café, três vezes ao dia, durante cinco dias. Pode ser misturado ao mel ou amassado com frutas. Para menores de 12 anos de idade: usar 1/4 da co- lher de café do pó. Observação: o tratamento deve ser repetido após 10 dias, devendo-se observar, durante e depois, os cuidados na higiene pessoal e de toda família. 6. CHÁ DAS FOLHAS DE MANJERICÃO ─ contra distúrbios digestivos e sintomas da gripe e antioxidante Ingredientes • 3g de folhas ou uma colher de sobremesa. • 150mL de água potável e filtrada. Preparo Por infusão, acrescentando a água fervente sobre a planta, abafar por 15 minutos e coar. Modo de usar: tomar uma xícara (150mL) antes das principais refeições ou de duas a três vezes ao dia para combater os sintomas de gripes. 13 Sistema PRODUTIVO 14 __________ 1 Engenheira agrônoma Dr.a, Departamento de Extensão Rural (Dextru)/CATI/SAA SISTEMA PRODUTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco 1 1. INTRODUÇÃO As plantas medicinais têm um diferencial em sua produção, já que o interesse comercial ou terapêutico do seu produto é em função da sua composição química, ou seja, da quantidade e qualidade dos princípios ativos (p.a.) ou substâncias bioativas contidos nas partes da planta a serem utilizadas. Exemplos: Cultura Produto colhido Princípio ativo Camomila – Chamomilla recutita Flores Óleo essencial Cúrcuma – Curcuma longa Rizomas Curcuminoides Guaco – Mikania laevigata Folhas Cumarina Diante disto, o sistema produtivo empregado, além de propiciar um bom rendimento de biomassa (folhas, flores, raízes etc.), deve também potencializar a composição química da planta medicinal; por isso, as práticas agronômicas adotadas devem priorizar uma nutrição muito rica, a qual forneça nutrientes importantes para a produção de biomassa e de princípios ativos e que fortaleça a cultura para que, caso ocorra alguma intempérie, proporcionando doenças ou pragas, estas possam ser controladas com práticas menos impactantes e que não utilizem agrotóxicos, pois estes são compostos químicos que, em contato com as plantas, podem alterar seu metabolismo e, consequentemente, as substâncias químicas por elas produzidas. A produção de biomassa é resultado do metabolismo primário (de crescimento) das plantas. Já os princípios ativos dependem de metabólitos gerados pelo metabolismo primário, mas são produzidos, em sua maioria, pelo metabolismo secundário (de regulação fisiológica e de resposta a estímulos ambientais), responsável pela proteção contra agentes externos nocivos, pela atração de polinizadores, entre outras respostas aos processos de relacionamento entre plantas e ambiente. É importante que o sistema produtivo possibilite o equilíbrio entre esses metabolismos, favorecendo a produtividade e qualidade desejadas. 15 A produção natural e a agroecológica ou orgânica são as mais recomendadas para o cultivo das espécies medicinais, pois se destacam pelo cuidado especial com o preparo do solo, sua estrutura física, química e biológica e por não utilizarem agrotóxicos. São sistemas produtivos que proporcionam maior equilíbrio entre os metabolismos primário e secundário, favorecendo a produtividade da cultura medicinal. Havendo interesse na certificação orgânica da produção, agregando maior valor ainda ao produto medicinal, o produtor deve seguir a legislação brasileira: Lei n.o 10.831, de 23 de dezembro de 2003, e suas normativas e portarias publicadas. 2. PRÁTICAS AGRÍCOLAS RECOMENDADAS PARA A PRODUÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS 2.1. Material de propagação e produção de mudas É importante o uso de sementes ou propágulos vegetativos de boa procedência e isentos de pragas, de doenças e de substâncias tóxicas; bem como o uso de sementes orgânicas, quando disponíveis no mercado, e de substratos indicados para agricultura natural. Para a produção de mudas, uma mistura de substrato recomendada é com a proporção 3:2:1 de terra: areia: húmus ou composto orgânico. As mudas são produzidas em telados com sombreamento entre 50 % e 65 %. As principais formas de propagação são apresentadas no capítulo Propagação de Plantas Medicinais deste Guia (pág. 28). Viveiro de plantas medicinais da CATI, Campinas (SP) 2.2. Preparo e manejo do solo 2.2.1. Escolha da área: para o cultivo de plantas medicinais, escolher área com solo isento de contaminantes microbiológicos e químicos e com disponibilidade de água de boa qualidade. 2.2.2. Descompactação do solo: eliminação de camadas compactadas para aumento da aeração e da infiltração de água no solo. Em grandes áreas, pode ser feitamecanicamente por meio da escarificação, que é o rompimento da camada compactada do solo, até no máximo 25cm a 30cm ou por meio da subsolagem, quando a profundidade for superior a 30cm – 35cm. 16 A maneira ideal para resolver o problema da compactação do solo seria por meio do manejo cultural, adotando-se a rotação de culturas com adubos verdes de sistemas radiculares profundos e capazes de romper a camada impermeável do solo, solucionando, assim, problemas da sua compactação. 2.2.3. Conservação do solo: realizar, obrigatoriamente, todas as práticas necessárias para a conservação do solo da área, evitando a erosão. Curvas de nível ou cordões vegetados podem receber capins medicinais e aromáticos de interesse comercial, cujas raízes permitem a contenção do solo e a infiltração da água, evitando erosão (exemplos: capim-cidreira e citronela). 2.2.4. Fertilidade do solo: realizar análise química do solo para diagnosticar as correções necessárias a serem sanadas com a calagem e adubação de plantio. Uma das correções indicadas é em relação à acidez do solo por meio da calagem, ou seja, adição de calcário na área, aumentando, quando necessário, a saturação de bases (V%) para 60 % a 70 %. A calagem deve ser realizada três meses antes do plantio. Nem sempre encontramos em literatura técnico-científica recomendações de adubação para todas as culturas medicinais; por isso, é necessário analisar o solo da área de produção e estudar as características das plantas e, com a ajuda de um técnico da área agrícola, conseguir uma recomendação de adubação adequada. A fertilidade do solo, no sistema agroecológico, pode ser corrigida com fosfato natural, pó de rocha, adubos orgânicos de diversos tipos como húmus de minhoca, composto orgânico, tortas vegetais, entre outros. Na tabela 1, apresentamos a recomendação de adubação orgânica para grupos de hortaliças, que pode ser utilizada para algumas culturas medicinais herbáceas, quando não houver outra recomendação técnica específica para as mesmas. A adubação orgânica deve ser realizada 20 dias antes do plantio da cultura. Cabe destacar que os estercos devem ser bem curtidos e de boa procedência e utilizados somente no plantio, pois em cobertura podem ocasionar alguma contaminação microbiológica no produto colhido. Tabela 1 – Recomendação de adubos orgânicos para o cultivo de hortaliças (em kg/m2) Grupo de hortaliças Composto orgânico ou esterco bovino Esterco de galinha/frango, suínos e ovinos Torta de mamona Folhosas 2 - 4 0,5 - 1 0,1 – 0,2 Frutos 2 - 4 0,5 - 1 0,1 – 0,2 Bulbos e raízes 1 - 2 0,25 – 0,5 0,02 – 0,05 Fonte: cartilha da 3.a Semana da Agricultura Orgânica de Campinas, 2002 Composto orgânico: é um adubo humificado produzido pela fermentação natural de resíduos orgânicos, processo denominado de compostagem. Na página da CATI, está disponibilizado um fôlder técnico sobre compostagem: https://www.cati.sp.gov.br/portal/themes/unify/arquivos/produtos-e-servicos/ cartilhas-e-folderes/Compostagem/Compostagem.pdf 17 2.2.5. Adubação verde: é uma prática agrícola que consiste no plantio de culturas específicas (geralmente leguminosas) em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas principais, para serem incorporadas ou não ao solo, visando à melhoria de suas características físicas, químicas e biológicas. Também beneficia as culturas em vários aspectos como na redução da ocorrência de plantas infestantes, no controle ou na repelência de algumas pragas e na maior disponibilidade de água e de nutrientes, especialmente o nitrogênio. É importante enfatizar que os adubos verdes são incorporados à área quando ainda imaturos, no estágio em que estão com alta biomassa e desprovidos de sementes viáveis, ou seja, do início de sua fase reprodutiva (florescimento), até no máximo o início da frutificação. Na Tabela 2, apresentamos a relação de adubos verdes recomendados para anteceder o cultivo de plantas medicinais por época de plantio. Tabela 2 – Recomendação de espécies de adubos verdes para culturas conforme a época do ano. Culturas Adubos verdes Épocas de plantio do adubo verde De primavera – verão Aveias branca e preta, chícharo, ervilhacas e tremoço branco Outono – inverno De outono – inverno Crotalárias, girassol, guandu, milho, milheto e sorgo-forrageiro Verão – outono Fonte: Boletim Técnico 249 – CATI, 2009 A base do cultivo orgânico é o preparo do solo: adubos orgânicos de excelência devem ser incorporados ao solo visando à qualidade (física, química e biológica) necessária para a implantação das culturas. Destacam-se o composto orgânico e os adubos verdes por permitirem menor infestação de ervas não desejáveis e de micro-organismos patogênicos do que os estercos de animais, os quais devem ser usados somente quando bem curtidos. 2.2.6. Formação de canteiros: para espécies herbáceas – como ervas aromáticas e medicinais de pequeno porte como tanchagem, capuchinha, calêndula, hortelãs – é comum o plantio em canteiros. Em pequenas áreas, para formação de canteiros, é necessário o afofamento do solo com enxadão e posterior levantamento dos canteiros com cerca de 30cm de altura e um metro de largura. O comprimento do canteiro varia conforme o tamanho da área. Em grandes áreas, o preparo dos canteiros é mecanizado. Passo a passo para formação do canteiro Passo 1: demarcação do canteiro 18 Passo 2: afofamento e elevação do solo Passo 3: nivelamento do canteiro Passo 4: contenção das laterais do canteiro A contenção das laterais auxilia na manutenção do formato e da altura dos canteiros. Pode ser realizada com tábuas, tijolos, garrafas PET ou apenas “batendo” a enxada nas laterais para compactar e conter o desmonte do canteiro. 2.2.7. Cultivo mínimo: é uma prática que reduz uma ou mais operações de preparo do solo. Procura- -se não revolver ou tombar o solo, por isso uma das operações que é suprimida é a aração. Uma recomendação para este tipo de cultivo é o plantio em sulcos em cima da palhada dos adubos verdes. 19 2.3. PLANTIO E MANEJO CULTURAL Após o preparo do solo, as práticas de plantio podem ser realizadas seguindo as recomendações técnicas para cada cultura. 2.3.1. Espaçamento entre linhas e entre plantas: depende do porte da cultura e da fertilidade do solo. Quanto maior a planta e mais fértil o solo, maiores distâncias devem ser adotadas. Atualmente, pode ser adotado, em alguns casos, o cultivo adensado, diminuindo o espaçamento entre plantas. Esta prática permite que as entrelinhas se fechem mais rapidamente, diminuindo a formação de mato, porém o adensamento pode proporcionar um microclima úmido que pode favorecer a ocorrência de doenças. A observação técnica e do produtor torna-se importante na adoção de espaçamentos adequados para cada cultura. 2.3.2. Época de plantio: respeitar a época de plantio recomendada para cada cultura. Existem plantas que podem ser cultivadas o ano inteiro, desde que haja irrigação na área, outras precisam de temperaturas específicas (de frio ou de calor) para que seus propágulos germinem ou brotem, sendo, portanto, propagadas (semeadura ou produção de mudas) no outono-inverno ou primavera- -verão, conforme a necessidade da espécie. 2.3.3. Condução da cultura: as plantas medicinais que são trepadeiras (ex.: guaco e maracujá) precisam de tutores para sua condução. Dentre os tipos de tutores, os mais comuns são as espaldeiras, latadas e os caramanchões. Maracujá conduzido em espaldeira 20 2.3.4. Plantio em faixas: a produção agroecológica valoriza a biodiversidade do sistema, por isso é recomendada a realização de policultivos que, para facilitar as operações de plantio e de manejo, podem ser cultivados em faixas. Policultivo em faixas de alecrim e capim-cidreira. Projeto Aromas do Vale, Região do Vale do Paraíba (SP) Foto: Sandra Maria Pereira da Silva 2.3.5. Cobertura do solo ou mulching: a cobertura do solo dos canteiros pode ser feita com diversos tipos de palhadas (bagacilho de cana, capim Napier, aparasde podas e de grama, entre outros). Dentre os benefícios desta cobertura citamos a diminuição da matocompetição, a manutenção da umidade e da estabilização da temperatura do solo. Cobertura do solo em cultivo de alecrim 2.3.6. Irrigação: reduzir ao máximo o consumo de água de irrigação é uma das prioridades na adoção de Boas Práticas Agrícolas, por isso, manter a cobertura do solo e usar sistema de irrigação por gotejamento ou por microaspersão são práticas que devem ser adotadas. Outra medida é observar as necessidades hídricas de cada cultura, irrigando somente quando for necessário. 2.3.7. Adubação de cobertura: para as culturas herbáceas recomenda-se adubar com composto orgânico (1kg/m2) ou torta de mamona (0,3-0,5kg/m2) a cada dois a três meses, para o bom desenvolvimento das plantas. Para culturas arbustivas e arbóreas, recomenda-se repetir a adubação de plantio anualmente, ou conforme indicação técnica específica. 21 2.3.8. Rotação de culturas: plantar adubos verdes ou outras culturas de forma alternada ou em sucessão a cultura medicinal, respeitando o intervalo de dois a quatro anos entre plantios de uma mesma espécie no mesmo local. Um dos benefícios da rotação de culturas é a manutenção da sanidade do sistema produtivo pela redução de agentes patogênicos ou infestantes. 2.3.9. Manejo fitossanitário ou controle de pragas e doenças: o maior equilíbrio do sistema solo – água – ambiente, adquirido com as técnicas do manejo natural, agroecológico ou orgânico ou com a adoção de Boas Práticas Agrícolas, minimizam a pressão das populações dos organismos fitopatogênicos; mas, de qualquer forma, as culturas sempre estão sujeitas ao ataque de pragas e doenças. O controle das pragas e doenças deve ser realizado adotando-se um manejo complexo constituído de várias práticas, por isso dedicamos um capítulo exclusivo para este tema neste Guia de Plantas Medicinais (pág. 35). Na Tabela 3, são apresentadas algumas recomendações técnicas para plantio e manejo de espécies medicinais de interesse comercial ou fitoterápico. Tabela 3 – Recomendações para plantio e manejo de algumas espécies medicinais. Planta medicinal Necessidade de luz Necessidade de água* Espaçamento e propagação Observações Açafrão-da-terra ou Cúrcuma Curcuma longa L. Pleno sol. Regas moderadas. 0,7m x 0,3m. Rizomas com três gemas. Erva rizomatosa, prefere solos arenosos e bem drenados. Pode ser plantada diretamente no local definitivo** em sulcos de 10 a 15cm de profundidade cobertos com 5cm a 10cm de terra ou em viveiro (mudas). Alecrim Rosmarinus officinalis L. Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,6m. Mudas por sementes ou estacas apicais com 10cm a 15m. Arbusto aromático e perene. Não tolera solo encharcado. Transplantar quando a muda tiver de 20cm a 25cm. Alfavaca-cravo Ocimum gratissimum L. Pleno sol. Regas moderadas. 0,8m x 0,4m. Sementes ou estacas apicais com 10cm a 15cm. Planta perene. Plantio de sementes ou mudas na primavera. Podem-se cortar as primeiras florações para aumentar o número de folhas. Arruda Ruta graveolens L. Pleno sol. Regas moderadas e frequentes. 0,6cm x 0,5m. Sementes e estacas de ramos. Pode ser plantada em canteiros ou em vasos. Produzir mudas em viveiro. Prefere solos orgânicos e bem drenados. Babosa Aloe vera (L.) Burm.f. Pleno sol. Pouca água. 0,5-1m X 0,5-1m Rebentos Erva perene. Os rebentos podem ser plantados diretamente no local definitivo. Bálsamo Sedum dendroideum Moc. & Sessé ex DC Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas. 0,3cm x 0,3m Estaca dos ramos (15cm, enterrando duas gemas no substrato) ou folhas e brotações laterais. Planta perene. Prefere solos com muita matéria orgânica, não tolera solo encharcado e tolera seca e geada. Boldo Plectranthus barbatus Andrews Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com três nós. Arbusto perene. Pode ser plantado diretamente no local definitivo ou em viveiro (mudas). Capim-limão Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Divisão de touceira. Erva aromática. Prefere solos areno-argilosos. Pode ser plantada diretamente no local definitivo. 22 Planta medicinal Necessidade de luz Necessidade de água* Espaçamento e propagação Observações Capuchinha Tropaeolum majus L. Meia-sombra e pleno sol. Regas moderadas e frequentes. 0,5m x 0,6m. Sementes ou estacas dos ramos. Planta anual. Mudas produzidas em viveiro, por sementes, estarão prontas para plantio em local definitivo quando tiverem quatro a seis folhas definitivas e por estaca quando tiverem quatro folhas bem desenvolvidas. Cidreira brasileira Lippia alba (Mill.) N.E.Br. Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com três nós. Arbusto pendente, aromático e perene. Pode ser plantado diretamente no local definitivo. Dente-de-leão Taraxacum officinale Weber ex F.H.Wig. Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas e espaçadas. 0,3m x 0,3m. Sementes e divisão de touceira. Erva perene. Prefere solos leves e bem drenados. As sementes precisam de luz para germinar, por isso não podem ser enterradas. Mudas prontas após dois meses. Erva-baleeira Varronia verbenácea Jacq. Pleno sol e meia-sombra. Regas moderadas. 1,6m x 0,5m. Mudas por sementes ou estacas de ponteiro. Arvoreta aromática. Necessidade de irrigação somente até completar seis meses. Erva-de-santa- -maria Chenopodium ambrosioides L. Pleno sol. Regas moderadas e frequentes. 0,3m x 0,5m. Sementes. Semeadura bem superficial. Muda pronta apos 40 dias, com cerca de 5cm. Fáfia Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen Pleno sol. Regas moderadas. 1m x 0,5m. Estacas com dois a três nós ou sementes. Planta perene. Estacas mais próximas da base da planta são mais recomendadas para formação de mudas. Na semeadura, cobrir as sementes com uma camada fina de areia. Funcho Foeniculum vulgare Mill. Pleno sol. Regas moderadas. 1,2m x 0,8m. Sementes. Erva aromática perene ou bienal. Pode ser semeada diretamente no local de cultivo. Plantar longe do coentro. Gengibre Zingiber officinale Roscoe Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas. 1m x 0,4m. Rizomas de 5cm a 10 cm com gemas túrgidas. Erva rizomatosa e aromática, prefere solos arenosos e bem drenados. Pode ser plantada diretamente no local definitivo, em sulcos de 10cm a 15cm de profundidade cobertos com 5cm a 10cm de terra. Guaco Mikania laevigata Sch.Bip. ex Baker Pleno sol e meia-sombra. Regas moderadas. 1-1,5m x 2m. Estacas medianas ou basais com três gemas e um par de folhas cortadas ao meio. Planta trepadeira, conduzir em espaldeira ou cerca no sentido N/S. Para produção de mudas, enterrar duas gemas da estaca e deixar uma gema para fora, com um par de folhas cortadas ao meio. Hortelã comum Mentha x villosa L. e Mentha crispa Pleno sol ou meia-sombra. Regas moderadas. 0,3m x 0,3m. Estolões ou rizomas com 10cm ou sementes. Erva aromática perene. Mudas são produzidas em viveiro. Prefere solo orgânico. Lavanda Lavandula dentata Pleno sol. Pouca água. 0,3m x 0,3m. Sementes ou estacas de 10cm e deixar três a cinco folhas cortadas ao meio na ponta da estaca. Erva aromática perene. Não tolera solos encharcados. 23 Planta medicinal Necessidade de luz Necessidade de água* Espaçamento e propagação Observações Malvarisco Plectranthus amboinicus (lour.) Spreng Pleno sol. Regas moderadas. 0,5m x 0,5m. Estacas de galho com três nós. Erva perene e aromática. Deve ser renovada anualmente para melhor desenvolvimento. Manjericão Ocimum basilicum L. Pleno sol. Regas moderadas. 0,6m x 0,25m. Sementes ou estacas apicais com 10cm a 15cm. Plantio de sementes ou mudas na primavera. Planta muito visitada por abelhas (melífera). Podem-se cortar as primeiras florações para aumentar o número de folhas e o ciclo da planta. Melissa ou erva-cidreira Melissa officinalis L. Pleno sol oumeia-sombra. Regas moderadas. 0,6m x 0,4m. Mudas por sementes ou estacas. Erva aromática e perene. Mudas prontas para plantio com cerca de 10cm de altura. Gosta de clima ameno, mas não tolera geadas. Perpétua Alternanthera brasiliana (L.) O. Kuntze Pleno sol. Regas moderadas. 0,7m x 0,7m. Estacas com três nós. Planta perene. Pode ser plantada diretamente no canteiro. Poejo Mentha pulegium L. Meia-sombra. Regas moderadas e frequentes. 0,50m x 0,30m. Rizomas com 10cm. Planta perene. Mudas produzidas em viveiro, prontas após 40 dias. * Verificar a aparência da planta: se estiver murcha, precisa de mais água. Nunca encharcar o solo, pois as raízes podem apodrecer. ** local definitivo = canteiro, sulco, vaso ou outro recipiente. 3.4. COLHEITA A colheita deve ser realizada de forma cuidadosa, rejeitando as plantas (ou partes delas) que estiverem doentes e/ou com ataque de insetos. Plantas com muitas partículas de solo aderidas também devem ser descartadas. O ponto de colheita é definido pela época de máxima produção do binômio “biomassa - princípio ativo”, observando-se a parte da planta a ser colhida (folhas, flores, frutos, sementes etc.) e as recomendações técnicas para cada espécie. De um modo geral, não havendo indicação técnica específica, para se obter maior produção de biomassa e princípio ativo, recomendam-se colher: • flores – quando recém-abertas; • folhas e plantas inteiras – na pré-floração (flores em botão); • cascas e raízes – no outono e início de inverno, de plantas adultas; • frutos – quando bem maduros; • sementes – quando bem desenvolvidas. Outros cuidados importantes são colher com tempo seco e após a seca do orvalho e utilizar ferramentas adequadas, limpas e afiadas, que não danifiquem o material colhido e nem as plantas no campo que produzem mais de um corte, para que permaneçam sadias, desenvolvendo-se bem para próxima colheita. 24 Após a colheita, o material deve ser levado a um local protegido para se realizarem a limpeza e seleção, retirando partes indesejáveis e material inadequado; a seguir, pode ser encaminhado para higienização e embalagem quando for produto fresco ou para secagem, caso precisar ser conservado para comercialização ou utilização futura. A Tabela 4 descreve informações úteis referentes à colheita e pós-colheita de algumas culturas medicinais, destacando a secagem, por ser o principal processo de beneficiamento visando à conservação do produto por um prazo maior de tempo. A secagem é uma prática importante, pois se mal-realizada, pode ocorrer perda de todo o teor de princípio ativo existente na planta. Neste Guia, há um capítulo exclusivo sobre esta temática, incluindo dicas para realização da secagem caseira. Tabela 4 – Recomendações técnicas para colheita e pós-colheita de algumas espécies medicinais. Planta medicinal Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Açafrão-da-terra ou Cúrcuma Curcuma longa L. Rizomas. A partir de 10 a 12 meses do plantio. Quando as folhas secam. Usado fresco ou seco ao sol ou em secador a 60oC. Os rizomas devem ser lavados e fatiados antes da operação de embalagem ou secagem. Alecrim Rosmarinus officinalis L. Folhas. Primeira colheita após um a dois anos do plantio, quando bem formado. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. Podem-se colher duas vezes/ ano no outono (metade superior da planta) e na primavera (a 50cm do solo) ou uma vez por ano na primavera (a 15cm do solo). Alfavaca-cravo Ocimum gratissimum L. Folhas ou toda parte aérea. Após cinco a seis meses após o plantio, na pré-floração. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. O óleo essencial pode ser extraído por destilação. Colher de manhã, preferencialmente entre 11 e 13 horas para obter maior teor de eugenol (analgésico). Colher pela manhã, logo após a seca do orvalho ou próximo às 17 horas para obter maior teor de 1,8 cineol (ação expectorante). Arruda Ruta graveolens L. Ramos. Após um ano do plantio, quando os ramos estiverem na pré-floração (com botões). Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 40oC. Pode ser colhida duas vezes no ano. Babosa Aloe vera (L.) Burm.f. Folhas maiores que 50 cm. A partir de um ano do plantio, após a primeira florada. Usada fresca, manter refrigerada. Colher cinco a seis folhas externas/planta. Após colheita, fazer amontoa (chegar terra no pé da planta). Bálsamo Sedum dendroideum Moc.& Sessé ex DC Folhas. A partir de 10 a 12 meses do plantio. Usada fresca, podendo após lavagem e antes do uso, deixar secar por seis horas, para diminuir o teor de água nas folhas. Corte a 10cm do solo, em estações não chuvosas. Boldo Plectranthus barbatus Andrews Folhas. A partir de quatro a seis meses do plantio. Usada fresca ou seca em secador a 40oC. Colheitas a cada quatro meses. Durante a secagem, revolver as folhas a cada duas horas. 25 Planta medicinal Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Capim-limão Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Folhas. A partir de seis meses do plantio. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. Corte na altura de 10cm do solo. Dois a três cortes anuais. Capuchinha Tropaeolum majus L. Folhas, flores e frutos. A partir de 50 dias do plantio, em plena floração ou frutos ainda verdes. Usada fresca. A colheita perdura até cerca de 100 dias. Deixar um pedaço da área para colheita de sementes. Cidreira brasileira Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson Folhas e ramos floridos. A partir de cinco a seis meses do plantio. Usada fresca ou seca em secador a 40oC. Até duas colheitas anuais. Cortes a 10-20cm do solo. Dente-de-leão Taraxacum officinale Weber ex F.H.Wig. Folhas e raízes. Folhas na época do início do florescimento e raízes após dois anos do plantio. Folhas – frescas. Raízes – frescas ou secas em secador a 40oC. As raízes devem ser colhidas na lua minguante e devem ser bem lavadas antes da secagem. Erva baleeira Varronia verbenacea (DC.) Borhidi. Folhas. A partir seis meses do plantio e, depois, a cada quatro meses. Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 35oC. Colher a parte aérea a 40cm do solo. Erva-de-santa-maria Chenopodium ambrosioides L. Folhas. No início do florescimento. Usada fresca. Colher a 15cm acima do solo. Fáfia Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen Raízes. A partir de um a dois anos do plantio. Secagem ao sol ou em secador a 65oC. Colheita no final do inverno. Lavar bem as raízes, fatiar ou rasurar e levar para secar. Para obter pó, usar moinhos de faca. Funcho Foeniculum vulgare Mill. Frutos. A partir de quatro a seis meses da semeadura. Secar as hastes com frutos à sombra ou em secador a 35oC. Colher as hastes com frutos ainda verdes, começando a ficar pardo-acinzentados. Gengibre Zingiber officinale Roscoe Rizomas. A partir de sete a nove meses do plantio. Usado fresco ou seco ao sol ou secador a 50oC. Colher quando as folhas ficarem amarelas. Lavar bem os rizomas para tirar a terra e fatiar antes da secagem. Guaco Mikania laevigata Sch.Bip. ex Baker Folhas e ramos. A partir de oito meses do plantio; e depois, a cada seis meses. Usada fresca ou seca à sombra ou a 45oC. Colher 60% de ramos das brotações secundárias na pré-floração. Hortelã comum Mentha x villosa L. Parte aérea. A partir de três meses do plantio. Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 40oC. Cortar a 5cm do solo. Até quatro cortes anuais, conforme o desenvolvimento. Lavanda Lavandula dentata Folhas e flores. Folhas – na pré- -floração. Flores – na floração. Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 45oC. Colher as folhas de ramos laterais a 15cm do solo, até 1/3 do volume total da planta. Malvarisco Plectranthus amboinicus (lour.) Spreng Folhas. A partir de três meses do plantio. Usada fresca. Colher as folhas mais velhas. Até quatro colheitas anuais. Manjericão Ocimumbasilicum L. Folhas. Após dois a quatro meses do plantio. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. Cortes realizados a 15cm do solo; colher preferencialmente de manhã. Melissa ou erva- -cidreira Melissa officinalis L. Folhas. A partir de seis meses da semeadura. Usada fresca ou seca à sombra ou secador a 35oC. Corte feito a 10cm acima do solo. 26 Planta medicinal Parte colhida Época de colheita Pós-colheita Observações Perpétua Alternanthera brasiliana (L.) O. Kuntze Folhas e flores. A partir de dois a três meses do plantio. Usada fresca ou seca à sombra ou a 40oC. Várias colheitas, cortes anuais. Poejo Mentha pulegium L. Parte aérea. A partir de dois a três meses do plantio. Usada fresca ou seca ao natural ou em secador a 40oC. Pode ser colhida mensalmente. 3. LITERATURA CONSULTADA BIASI, L. A., DESCHAMPS, C. Plantas aromáticas – do cultivo à produção de óleo essencial. Curitiba: Layer Studio Gráfico e Editora Ltda, 2009. BLANCO, M.C.S.G. et. al. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais. Campinas, CATI, 2007. (Boletim técnico 247). Cartilha da 3.a Semana da Agricultura Orgânica de Campinas. Campinas, 2002. Anais do Seminário de Agricultura Orgânica & Familiar. Coordenadora Assistência Técnica Integral. Campinas nov. 2001. CORREA J. R. C., MING, L. C., SCHEFFER, M. C. Cultivo de plantas medicinais, condimentares e aromáticas. 1 ed. Curitiba: Emater – Paraná, 1991. 162 p. HERTWIG, I. F. V. Plantas aromáticas e medicinais: plantio, colheita, secagem, comercialização. 2 ed. São Paulo: Ícone, 1991. 414 p. PEREIRA, A. M. S. Manual prático de Multiplicação e Colheita de Plantas Medicinais. Ribeirão Preto: UNAERP, 2011. 280 p. SILVA JUNIOR, A. A. Essentia herba – Plantas bioativas. Florianópolis: Epagri, 2003. (volumes 1 e 2). WUTKE, E. B. e outros. Adubação Verde no Estado de São Paulo. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI, 2009. 89 p. (Boletim Técnico 249) 27 Propagação de PLANTAS 28 PROPAGAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS Eng. Agr. Dra. Maria Cláudia Silva Garcia Blanco A propagação de plantas é o primeiro passo para iniciar um sistema produtivo de qualquer cultura, mas, no caso das plantas medicinais, logo nos vêm à cabeça onde e como conseguir sementes e mudas, pois muitas delas não são encontradas facilmente no mercado agropecuário. Portanto, a produção de sementes e mudas se torna um gargalo desta cadeia produtiva, sendo considerada um problema para os produtores e uma oportunidade para os viveiristas de plantas. Assim sendo, dominar a arte da propagação de plantas se torna essencial para o sucesso do empreendimento agrícola, seja para produção de culturas medicinais ou para a implantação de viveiro de mudas. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS A propagação de plantas pode ser realizada por meio de várias técnicas agronômicas e utilizando diversas estruturas ou propágulos reprodutivos como as sementes (propagação sexuada) e as estruturas vegetativas dotadas de gemas reprodutivas (propagação assexuada ou vegetativa). 1. PROPAGAÇÃO SEXUADA EM PLANTAS MEDICINAIS 1.1. Espécies silvestres No caso de espécies não domesticadas e/ou não melhoradas por tecnologias agronômicas (melhoramento genético), a propagação por meio de sementes multiplica uma população com variabilidade genética (indivíduos diferentes entre si e em relação aos seus pais), o que dificulta o cultivo por causa da desuniformidade populacional (indivíduos com desenvolvimento vegetativo e com potenciais produtivos de bioativos diferentes), desfavorecendo a estimativa da produção almejada. Exemplo: espécies nativas de polinização cruzada, cujas sementes são obtidas na mata ou no campo. Nesse caso, muitas vezes o produtor tem que obter os propágulos na mata da propriedade, o que requer cuidados especiais. Cuidados na propagação e coleta de sementes de espécies silvestres • Obter sementes de espécies com identificação botânica. • Colher de plantas sadias e produtivas em relação à biomassa e ao princípio ativo (p. a.). • Colher com tempo seco (baixa umidade). • Observar se há necessidade de quebra de “dormência” para germinação; se sim, realizar o tratamento necessário. • Observar se há exigência em relação à luz para germinação, indicando que a semeadura tem que ser superficial e sem cobrir as sementes (ex.: tanchagem e embaúba). 29 Dormência A dormência de sementes pode ser física (por impermeabilidade do tegumento) ou fisiológica (por imaturidade ou presença de inibidores). Tratamentos • Escarificação mecânica: lixar ou cortar o tegumento sem danificar o embrião. • Escarificação química: usar ácido sulfúrico e água quente. • Estratificação: por meio de umidade + alta ou baixa temperatura. 1.2. Espécies agronômicas No caso das sementes de plantas geneticamente melhoradas – as quais são variedades agronômicas, cultivares ou híbridos –, ocorre germinação uniforme, pois as sementes não apresentam dormência e as características morfológicas e fisiológicas apresentam semelhança. Assim, os indivíduos se desenvolvem e atingem a maturação ao mesmo tempo, facilitando os processos de manejo cultural e de colheita, o que possibilita maior garantia na estimativa de produção. Exemplo: cultivares de camomila, manjericão e outras espécies comercializadas por empresas de sementes. População sem variabilidade genética População com variabilidade genética 2. PROPAGAÇÃO ASSEXUADA EM PLANTAS MEDICINAIS Por meio de partes ou estruturas da planta que possuem gemas vegetativas. Neste tipo de propagação, os novos indivíduos são idênticos à planta-mãe (clones), o que proporciona produtividade uniforme de biomassa e de princípios ativos. Porém a falta de variabilidade genética pode vir a ser um problema, aumentando o risco de danos e perdas de produtividade caso ocorram mudanças climáticas adversas, patógenos ou pragas que prejudiquem a cultura. 2.1. Principais propágulos vegetativos 2.1.1. Estacas de galhos ou ramos (guaco, malvarisco e alecrim), estacas de folhas (folha-da-fortuna) ou de raiz (casos raros como o exemplo da espinheira-santa, que também é propagada por sementes). 30 Estacas de ramos A coleta das estacas de ramos deve ser nas primeiras horas do dia para evitar perda excessiva de água. As estacas semilenhosas e herbáceas devem apresentar folhas na parte superior, o corte da estaca deve ser feito imediatamente abaixo de um nó. Quando as folhas da estaca forem muito grandes, deve- -se cortá-las ao meio, no sentido transversal à nervura principal, visando diminuir a transpiração. O comprimento das estacas normalmente é em torno de 7cm a 15cm, mas varia bastante conforme a espécie. Vários produtos químicos, denominados fitorreguladores ou hormônios de enraizamento, foram desenvolvidos para estimular o enraizamento mais rápido em estacas de galhos. Entre eles, podemos destacar as auxinas, como o ácido-indolacético (AIA), ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftalenoácetico (ANA). Estacas de folhas Em relação às estacas de folhas, essas são destacadas da planta-matriz e deixadas sobre ou parcialmente enterradas com o pecíolo para baixo em recipiente com areia, até a formação da parte aérea e sistema radicular (brotações) nas gemas, as quais, na folha da fortuna, se encontram ao redor de toda margem da folha. As brotações são destacadas e, posteriormente, colocadas em recipientes com substrato até atingirem porte ade- quado para o transplante no campo. 2.1.2. Rebentos (exemplo: babosa). Os rebentos brotam da planta-mãe ou planta-matriz e são destacados para formar uma nova planta. Os maiores e bem desenvolvidos podem ser plantados em local definitivo, porém é conveniente o preparo de mudas em saquinho ou outro recipiente para reposição daqueles que não enraizarem no campo. Os menores, com pouca emissão de raízes, devem passar pela formação de mudas em viveiro. 31 2.1.3. Divisão de touceira (exemplos: capim-cidreira e citronela). A divisão de touceira