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NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 79 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural MÉTODOS DE EXTENSÃO RURAL 5.1 INTRODUÇÃO Após explorar a natureza da comunicação no meio rural, suas modalidades e o papel vital que desempenha na disseminação de inovações tecnológicas em áreas rurais, o foco se volta agora para a prática, através das técnicas ou abordagens da extensão rural. As abordagens da extensão rural englobam um leque de estratégias e técni- cas fundamentais para fomentar o desenvolvimento sustentável e elevar a qualidade de vida no campo. Englobando uma variedade de práticas e técnicas, estas aborda- gens buscam criar uma conexão entre o saber técnico-científico e as comunidades rurais, incentivando a adesão a métodos de cultivo mais eficazes, sustentáveis e equi- tativos. A relevância das abordagens da extensão rural é inegável, uma vez que são essenciais para impulsionar o desenvolvimento rural abrangente e atenuar as dispari- dades sociais e econômicas nas áreas agrícolas. Por meio da transferência de sabe- res técnicos, práticos e sociais aos agricultores e suas famílias, essas técnicas são cruciais para ampliar a produção agrícola, otimizar a gestão de recursos naturais, di- versificar as atividades econômicas do campo e consolidar as associações comunitá- rias. Para alunos de agronomia, o domínio e a implementação das técnicas de ex- tensão rural são vitais por vários motivos. Primeiramente, elas são instrumentos es- senciais para enriquecer a educação acadêmica, oferecendo aos estudantes uma vi- são mais abrangente e prática dos desafios do setor agrícola. Ademais, ao aprimora- rem a habilidade de se comunicar de maneira efetiva com as comunidades rurais, os agrônomos em formação poderão atuar como facilitadores de mudanças, incentivando práticas de cultivo mais responsáveis e inclusivas. Dentro deste escopo, a presente aula visa aprofundar no estudo das técnicas de extensão rural, ressaltando sua significância para o avanço do setor rural e subli- AULA 5 mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 80 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural nhando a importância de sua compreensão e aplicação. Ao dominarem essas técni- cas, os futuros especialistas em extensão rural estarão melhor equipados para enca- rar os desafios das áreas rurais modernas e contribuir para o desenvolvimento de um futuro mais florescente e sustentável para as comunidades do campo. 5.2 – CLASSIFICAÇÕES DAS METODOLOGIAS EM EXTENSÃO RURAL Em todos os âmbitos, existe uma abordagem específica e ferramentas dedi- cadas, e a extensão rural segue esse princípio. A origem do termo "método" remonta ao grego, sendo uma combinação de "meta" (através de) e "hodos" (caminho ou via), podendo ser interpretado como o caminho para alcançar um resultado específico. Isso implica que há diversas maneiras de atingir um objetivo, não uma única forma. Cien- tificamente, um método é definido como um processo destinado a encontrar soluções para fenômenos ou questões sob investigação. As abordagens em extensão rural evoluíram com o tempo, notando-se um aumento na relevância das ferramentas participativas. Em contraste, as abordagens difusionistas foram dominantes durante a era produtivista da extensão rural. No en- tanto, na era de renovação da extensão rural, as metodologias participativas se torna- ram mais proeminentes. Com isso, podemos estabelecer uma classificação inicial des- sas abordagens em extensão rural em três categorias: difusionistas, participativas e mistas. Neste último grupo, encontram-se as abordagens que integram elementos tanto difusionistas quanto participativos. Este esquema de classificação é apresentado no Quadro 2, destacando as diferenças entre essas categorias. É importante notar que, nas abordagens difusionistas, o foco principal é no indivíduo que adota uma nova tecnologia, enquanto nas participativas, a ênfase está no engajamento de comunida- des, grupos ou associações, refletindo uma dinâmica distinta na atuação dos agentes de extensão rural entre os dois tipos de abordagens. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 81 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural Quadro 2 – Classificação das metodologias em Ater segundo o tipo de abordagem. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). A segunda maneira de classificar as abordagens na Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) é pelo seu nível de complexidade. De um lado, temos as me- todologias simples, e de outro, as complexas. Conforme delineado no Quadro 3, as metodologias simples são aquelas aplicadas de forma isolada, sem a necessidade de incorporar outros métodos para sua execução. Por exemplo, considere a realização de uma visita técnica a um produtor agrícola. O processo envolve simplesmente noti- ficar o produtor com antecedência por meio de telefone, e-mail ou mensagem eletrô- nica (como WhatsApp) e comparecer na data marcada. Por outro lado, a organização de um curso ou uma demonstração prática exige uma série de etapas adicionais, como o convite aos produtores, a organização das atividades e a preparação de ma- terial promocional, entre outros aspectos. Enquanto as metodologias simples podem ser executadas independentemente, as complexas requerem a combinação com ou- tras ações para que sejam efetivamente implementadas e atinjam seus objetivos es- tabelecidos. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 82 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural Quadro 3 – Classificação das metodologias em Ater segundo o grau de complexidade. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). Uma outra maneira de categorizar as abordagens em Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) diz respeito ao seu alcance, cobertura ou abrangência, con- forme ilustrado no Quadro 4. Estas se dividem em metodologias de alcance individual, grupal e indefinido. As metodologias de alcance individual são aquelas focadas em um único indivíduo ou estabelecimento rural específico. Por exemplo, isso pode incluir uma visita personalizada a uma propriedade, uma entrevista individual com um pro- dutor, ou um encontro casual entre o agente de ATER e um membro do público-alvo. Por sua vez, o alcance grupal é caracterizado por iniciativas destinadas a gru- pos ou coletividades. Isso poderia envolver, por exemplo, um curso oferecido a uma associação de produtores de ovinos, uma excursão de horticultores a um centro de pesquisa localizado em outra região do município, do estado ou mesmo fora do país. Assim, diversas atividades podem exemplificar o alcance grupal, evidenciando o es- forço de atender às necessidades de comunidades ou grupos específicos dentro do contexto da extensão rural. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 83 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural Quadro 4 – Classificação das metodologias em Ater segundo o alcance. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). O alcance indefinido, conforme sugerido pela nomenclatura, refere-se à situ- ação em que é incerto o número de pessoas impactadas. Este cenárioocorre, por exemplo, quando se participa de um programa de rádio ou televisão que fornece ori- entações sobre tipos específicos de cultivo, práticas ou atividades agropecuárias de maneira periódica. Seria desafiador, se não impossível, determinar quantas pessoas realmente assistiram ao programa e absorveram as informações transmitidas. Embora essa abordagem tenha o potencial de disseminar informações amplamente, é impor- tante notar que o conteúdo deve ser de natureza geral, considerando que se destina a um público heterogêneo com variados graus de conhecimento sobre o tema - abran- gendo desde indivíduos leigos ou desinteressados até aqueles mais instruídos na ma- téria. 5.3 ALGUNS MÉTODOS CLÁSSICOS UTILIZADOS PELA EXTENSÃO RURAL 5.3.1 Visita e contato A visita é um dos mais consagrados métodos usados pela extensão rural, por meio do qual o extensionista vai ao encontro do seu público na casa do produtor ou da família rural, estabelecendo um processo de comunicação face a face, pessoal e direta. Essa interação é geralmente precedida por algum aviso do extensionista agen- dando a visita. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 84 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural A visita representa um dos métodos mais tradicionais adotados pela extensão rural, caracterizando-se pelo encontro presencial do extensionista com seu público- alvo no local de residência do produtor ou da família rural. Essa abordagem promove uma comunicação pessoal e direta, frequentemente iniciada por um agendamento prévio feito pelo extensionista. Durante uma visita, o diálogo entre o agente de extensão e o público ocorre em um ambiente privado (o estabelecimento rural), propiciando um espaço onde as questões podem ser discutidas e examinadas com privacidade. Isso permite que o produtor e sua família se sintam confortáveis para compartilhar suas opiniões, uma vez que estão em seu próprio território. Diferenciando-se do contato casual, a visita é um procedimento que exige planeja- mento mínimo, ao contrário das interações es- pontâneas ou não planejadas que podem ocorrer, por exemplo, quando um agricultor en- contra um agente de extensão na sede do mu- nicípio e engaja em uma conversa informal tro- cando informações gerais. Como qualquer método utilizado na ATER, a visita possui seus prós e contras. Sua principal vantagem reside na capacidade de facilitar uma interação direta e in- tensa, minimizando significativamente as falhas de comunicação. Contudo, trata-se de um método dispendioso, que demanda não apenas tempo considerável para a pró- pria visita, mas também para o deslocamento entre o escritório e a propriedade rural. Considerando um município com 8.075 estabelecimentos rurais, dos quais 83% são de natureza familiar, levanta-se a questão sobre quais seriam os recursos necessários em termos de equipe técnica, veículos e combustível para que o escritório local da EMATER possa atender a esse vasto número de famílias rurais. Não se ar- gumenta contra a realização de visitas, mas enfatiza-se a necessidade de empregar esse método com criteriosa avaliação e discernimento, especialmente considerando que a extensão rural, seja através de entidades oficiais ou privadas, é sustentada por recursos públicos que devem ser geridos com extrema prudência. Figura 9 – Visita técnica. Fonte: Acervo fotográfico EMATER/RS. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 85 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural 5.3.2 Reunião A reunião, um método grupal amplamente adotado pela extensão rural, en- volve o agrupamento de pessoas para discutir questões técnicas ou de outra natureza em um espaço específico, sob a liderança do agente de extensão rural ou de outra pessoa. Embora pareça simples definir uma reunião dessa forma, é necessário con- siderar aspectos críticos como: o propósito da reunião, os objetivos a serem atingidos, o público-alvo, a escolha do dia, horário e local mais propícios, e os recursos a serem utilizados. É fundamental questionar se o facilitador tem um conhecimento básico so- bre o grupo e se os participantes já se conhecem entre si. Estas são apenas algumas das inúmeras questões importantes, destacando-se que a atividade extensionista re- quer planejamento cuidadoso, distanciando-se da improvisação e da falta de prepara- ção. Figura 10 – Reunião. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). Paulo Freire, renomado educador brasileiro, destacou a importância da pala- vra, do trabalho e da ação-reflexão na formação dos indivíduos, afirmando que não é no silêncio, mas nessas práticas que os homens se constroem. A reunião, portanto, é uma prática de interação direta em busca de soluções para problemas, de melhorias na qualidade de vida, de troca de informações e de estabelecimento de acordos que mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 86 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural beneficiem todos os participantes. Mesmo com foco técnico, é essencial que a reunião permita o acesso claro e eficiente à informação, considerando que a maioria das pes- soas no meio rural possui educação formal limitada, e algumas não sabem ler ou es- crever. No entanto, esses indivíduos, verdadeiros "heróis anônimos", são responsá- veis por produzir uma parcela significativa dos alimentos que consumimos. O compro- misso é fornecer a essas pessoas as informações de maneira acessível, superando barreiras de compreensão. A reunião é, sem dúvida, uma oportunidade para o agente de extensão estrei- tar ou reforçar laços com comunidades, associações e grupos variados, incluindo jo- vens, artesãos, mulheres, povos indígenas e quilombolas, visando construir um futuro promissor por meio da união de esforços e da harmonização de interesses. Muitas vezes, esses encontros podem abordar temas controversos, exigindo do facilitador habilidades para gerenciar tensões e conflitos, com o objetivo de alcançar um con- senso entre os participantes. Como método, a reunião serve a vários propósitos dentro da extensão rural, ilustrados por objetivos como: a) Fomentar o senso de coletividade e incentivar a cooperação entre os mem- bros; b) Aumentar a percepção sobre problemas compartilhados ou similares, pro- movendo a sensibilização e a mobilização; c) Consolidar as estruturas organizacionais já existentes; d) Organizar e motivar ações coletivas, engajando a comunidade ou grupos específicos; e) Estimular o interesse dos participantes em temas gerais ou particulares. A reunião apresenta diversas vantagens em comparação a outros métodos adotados na extensão rural, destacando-se por: a) Alcançar um número maior de pessoas de uma só vez, o que a torna uma opção mais econômica do que realizar visitas individuais a propriedades rurais; b) Estreitar os laços de confiança entre o público e o extensionista, quando conduzida eficazmente; c) Encorajar o envolvimento ativo de todos na busca por soluções; mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 87 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural d) Unificar a compreensão acerca de problemas comuns, conscientizando os participantes. Contudo, como qualquer outro método, a reunião apresenta suas limitações: a) Necessita de um planejamentocuidadoso antecipadamente; b) Exige do extensionista competência para gerir o encontro de maneira efi- caz; c) Requer engajamento pleno dos participantes para ser eficaz; d) Pode demandar uma quantidade significativa de tempo dos envolvidos; e) Pode não proporcionar a todos os presentes a chance de expressarem suas opiniões ou preocupações. Estes pontos destacam a importância de uma preparação meticulosa e de habilidades interpessoais por parte do extensionista para maximizar os benefícios de uma reunião, ao mesmo tempo em que se minimizam suas possíveis desvantagens. A questão da limitação em que nem todos conseguem se expressar durante uma reunião nos leva a considerar aspectos essenciais. Primeiramente, trata-se do desafio enfrentado por algumas pessoas que, por diversos motivos, como timidez, receio ou introspecção, sentem-se inibidas para participar ativamente, seja contribu- indo com suas ideias, engajando-se nas discussões ou até mesmo absorvendo os conhecimentos e informações que se pretende disseminar entre todos os presentes. Para superar essa barreira, é possível recorrer a várias técnicas de dinamização que incentivam a participação mais ativa e equitativa de todos. Entre essas técnicas, po- demos citar: • Grupos Pequenos: Dividir os participantes em subgrupos menores pode fa- cilitar a expressão de quem se sente intimidado em ambientes maiores. • Rodas de Conversa: Essa técnica incentiva todos a compartilharem suas perspectivas em um formato mais íntimo e circular, promovendo a igual- dade de voz entre os participantes. • Brainstorming (Tempestade de Ideias): Encoraja a contribuição espontânea de ideias de todos os membros, valorizando cada sugestão sem julgamento imediato. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 88 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural • Dinâmicas de Grupo: Atividades lúdicas ou interativas que promovem o en- gajamento e a colaboração, ajudando a quebrar o gelo e reduzir a ansie- dade. • Uso de Tecnologia: Ferramentas digitais, como aplicativos de votação ou fóruns online, podem permitir que participantes mais tímidos expressem suas opiniões anonimamente ou com menos pressão. • Perguntas Direcionadas: Direcionar perguntas específicas a indivíduos ou grupos pode incentivar aqueles menos inclinados a falar a participarem mais ativamente. • Feedback Anônimo: Permitir que os participantes forneçam feedback ou façam perguntas anonimamente por meio de caixas de sugestões ou apli- cativos pode ajudar a trazer à tona vozes que de outra forma permanece- riam silenciosas. Implementando essas técnicas, pode-se melhorar significativamente a inclu- são e o envolvimento de todos os participantes, assegurando que as reuniões sejam mais produtivas e que todos tenham a oportunidade de contribuir e se beneficiar das discussões. 5.3.3 Demonstração prática Promovida pelo profissional de extensão rural, a Demonstração Prática engaja diretamente os produtores rurais com o objetivo de ensinar uma técnica validada a um coletivo. Seu propósito é fomentar o desenvolvimento de competências e habilidades, adotando a máxima de "aprender fazendo". Requer tanto o conhecimento específico quanto a destreza por parte do apresentador e a participação ativa dos espectadores para atingir o sucesso esperado. Sem a devida interação, o interesse pelo conteúdo apresentado se perde e, consequentemente, a adesão à técnica mostrada não ocorre. Como ilustrado na figura 11, realiza-se uma Demonstração Prática com o in- tuito de instruir os agricultores de uma localidade no processo de poda em plantas mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 89 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural frutíferas. A imagem captura o momento de compartilhamento de informações, prevendo- se uma etapa subsequente na qual alguns dos presentes pratiquem, por si mesmos, a técnica sugerida. Questões que surgem são pronta- mente esclarecidas ao longo da atividade prá- tica. É aplicada junto a grupos de tamanho pequeno e médio de pessoas. Tem, portanto, um alcance limitado. Ampliar demasia- damente o tamanho do grupo pode comprometer a qualidade do trabalho na medida em que impede uma participação mais ativa dos envolvidos, bem como dos meandros do processo de aprendizagem e de implicação dos indivíduos. A questão aqui é primar pela qualidade na orientação prestada às pessoas. 5.3.4 Unidade demonstrativa A Unidade Demonstrativa (UD) representa uma abordagem coletiva e intrin- cada, demandando a integração de múltiplas técnicas, na qual extensionistas, pesqui- sadores e participantes colaboram na geração de conhecimento ou na condução de experimentos através de testagens e exibições, mensurando sua viabilidade e efeitos. Geralmente implementada em terras agrícolas de fácil acesso para os interessados, é crucial que o extensionista deposite total confiança no agricultor responsável pela área da UD, a fim de otimizar os recursos utilizados e assegurar a obtenção dos re- sultados desejados. Este vínculo é essencial para o sucesso do empreendimento. A implementação da UD de maneira colaborativa, com a participação ativa de to- dos os envolvidos na análise dos resultados, promove um entendimento direto do conhe- cimento produzido. Considere, por exemplo, uma UD que examina a eficácia de diferentes variedades de feijão em lotes de 100 m². É vital que o plantio em todas as parcelas ocorra simultaneamente e que os cuidados Figura 11 – Demonstração prática. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). Figura 12 – Unidade demonstrativa. Fonte: Acervo EPAMIG. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 90 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural providos (como preparo do solo e fertilização) sejam uniformemente aplicados, permi- tindo uma avaliação precisa da variedade mais adequada para uma região ou local específico. A figura 12 mostra uma Unidade Demonstrativa focada em tecnologias de horticultura em Teófilo Otoni, Minas Gerais, com o propósito principal de demonstrar diversos métodos utilizados (irrigação, arranjo das plantas, fertilização, manejo, pro- teção do solo, etc.) nesse contexto e em condições reais de campo. 5.3.5 Dia de campo O Dia de Campo emerge como uma das principais estratégias adotadas tanto pela extensão rural quanto por empresas envolvidas na produção agrícola e na cria- ção de animais. Trata-se de uma abordagem coletiva e detalhada, que necessita da combinação de diferentes técnicas e pode reunir dezenas a centenas de interessados. O ambiente selecionado para tais even- tos pode variar entre fazendas, centros de pesquisa ou outros locais apropria- dos. O principal objetivo do Dia de Campo é a promoção e divulgação de novas práticas, inovações tecnológicas, variedades de animais e plantas, propor- cionando aos participantes a oportuni- dade de experienciar de forma tangível aquilo que é apresentado. A capacidade de observar diretamente, discutir e avaliar as informações compartilhadas no evento é um de seus grandes diferenciais. Importa ressaltar que o foco está em suscitar inte- resse geral, fomentar o debate, a troca de experiências e a disseminação de conheci- mento entre os participantes. Este método também se caracteriza por ser grupal e multifacetado, exigindo a formação de uma equipe organizadora responsável pelo planejamento integral do evento. Isso inclui a definiçãode uma programação clara e específica, determinação do número de postos de atividade, bem como a organização logística para acolhi- Figura 13 – Dia de campo. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 91 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural mento e coordenação do evento. As condições meteorológicas devem ser cuidadosa- mente consideradas para facilitar o movimento dos participantes entre as diferentes estações. O uso de um gazebo (ou tenda) pode ser estratégico para oferecer abrigo em caso de condições climáticas adversas, como chuva ou sol intenso, protegendo tanto os participantes quanto os facilitadores. Contudo, caso haja previsão de tempo severo, a melhor decisão pode ser o reagendamento do evento para garantir a segu- rança de todos e a eficácia desejada. A logística de acolhimento e direcionamento dos participantes exige um time com experiência, capaz de gerenciar todas as atividades e distribuir eficientemente as tarefas. 5.3.6 Concurso O Concurso é um método que promove a competição entre agricultores com o intuito de evidenciar a superioridade de práticas agrícolas eficazes, o rendimento de culturas específicas e/ou a qualidade de determinadas raças animais. Um exemplo clássico é o concurso de produção leiteira realizado anualmente em feiras do setor agropecuário. Normalmente, a apuração dos resultados acontece durante grandes eventos, como feiras agropecuárias, com os ganhadores sendo homenageados em uma ceri- mônia aberta ao público. O tradicional "banho de leite" é um ritual que celebra a vitória dos competidores. No entanto, uma desvantagem desse método é que ele pode in- centivar a competitividade excessiva, levando a possíveis ressentimentos caso haja suspeitas ou dúvidas quanto aos critérios ou às decisões da Comissão de Avaliação. Por outro lado, quando conduzido com transparência, o concurso tem o potencial de fomentar um ambiente de companheirismo entre os concorrentes. 5.4 OUTROS RECURSOS E FERRAMENTAS UTILIZADOS PELA EXTENSÃO RU- RAL Programa de rádio mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 92 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural Num passado não muito distante, a única forma de comunicação entre as áreas urbanas e rurais era por meio do rádio. Existem relatos interessantes de pes- soas hospitalizadas que recorriam a este meio para transmitir notícias aos familiares distantes, ansiosos por informações. Atualmente, com um dispositivo móvel em mãos, é possível se conectar com indivíduos ao redor do globo, transformando o mundo numa verdadeira aldeia global. Antes, especulava-se que o rádio desapareceria com a chegada da televisão, que combina o visual e o auditivo para alcançar os locais mais remotos. Através de antenas parabólicas e outros meios, captam-se sinais de qual- quer parte do mundo, proporcionando acesso não apenas a entretenimento mas tam- bém a uma vasta gama de conhecimentos disponíveis ininterruptamente. No entanto, ao contrário do que muitos previram, o rádio não apenas sobrevi- veu como continua sendo uma parte essencial na vida de inúmeras famílias, tanto no campo quanto na cidade. Obviamente, os antigos aparelhos de válvula tornaram-se itens de coleção, não sendo mais utilizados. No entanto, as transmissões radiofônicas agora são acessíveis por meio de tecnologias modernas como smartphones, compu- tadores e tablets. As emissoras de rádio mantêm sua operação, oferecendo uma am- pla variedade de programas para todos os gostos e interesses. Dentro do contexto da extensão rural, o programa de rádio é considerado um meio de difusão ampla, capaz de alcançar um vasto número de ouvintes, incluindo aqueles que possuem dificuldades de leitura e escrita ou que vivem em áreas remotas. Representa uma alternativa econômica tanto para as comunidades rurais quanto para os profissionais de extensão, através da qual se disseminam informações relevantes. Por exemplo, para um pecuarista que precisa ir até a Secretaria de Desenvolvimento Rural para retirar vacinas contra a febre aftosa, ouvir no rádio que as doses já estão disponíveis pode economizar tempo e esforço. Além disso, programas de entrevistas com especialistas em ciências agrárias podem oferecer insights valiosos sobre gestão de propriedades, práticas de manejo e conservação do solo, entre outros temas. A participação de especialistas como convidados em programas de rádio, dis- cutindo tópicos de sua expertise, é comum. Contudo, a organização de um programa regular de rádio exige planejamento detalhado por parte dos responsáveis. É essen- cial utilizar uma linguagem simples e compreensível para a audiência. As rádios fre- mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 93 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural quentemente realizam edições de áudio para aprimorar a qualidade sonora das gra- vações. Em transmissões ao vivo, contudo, o processo é diferente e requer dinâmicas específicas. Um antigo ditado chinês nos lembra que três coisas nunca retornam: “a flecha disparada, a palavra dita e a oportunidade perdida”. A responsabilidade sobre as in- formações transmitidas pelo rádio é grande, assim como a escolha dos participantes dos programas. Estamos cientes dos danos que a disseminação de notícias falsas e desinformação pode causar à sociedade. A credibilidade da voz do extensionista é fundamental para estabelecer uma reputação sólida e confiável. Programas de televisão Discutir sobre conteúdo audiovisual, em vez de focar apenas em programas de televisão, reflete as mudanças significativas na rotina de pessoas tanto na zona rural quanto urbana. Ainda é comum encontrar famílias que se reúnem para assistir a programas televisivos juntos, mas o cenário da comunicação evoluiu consideravel- mente. Atualmente, existe uma vasta gama de opções audiovisuais disponíveis, com o streaming oferecendo conteúdo sob demanda adaptado aos interesses individuais. Com uma conexão à internet de qualidade, qualquer um pode acessar o conteúdo desejado em dispositivos variados, como smartphones, tablets, computadores ou Smart TVs. A velocidade com que as inovações ocorrem nesse setor sugere que o que é atual hoje pode se tornar obsoleto num futuro próximo. O conteúdo audiovisual, incluindo programas de TV, permanece como uma ferramenta valiosa de disseminação de informações para a extensão rural, funcio- nando como um meio de comunicação em massa eficaz, graças à combinação do visual com a palavra falada. Além disso, este meio facilita o acesso à informação para uma ampla gama de públicos, exigindo, assim como o rádio, um planejamento cuidadoso em termos de recursos utilizados, linguagem e objetivos a serem atingidos. A era da tecnologia promoveu o advento da "sociedade da informação", mar- cando o início de um novo paradigma social caracterizado pela troca rápida de uma grande quantidade de dados através de redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, entre outros. Extensionistas rurais e agricultores utilizam essas plataformas para compartilhar informações constantemente. Por exemplo, produtores mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 94 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural da região deGlorinha, na grande Porto Alegre, divulgam e vendem seus produtos em feiras locais, utilizando-se de celulares para mostrar aos consumidores o que será oferecido. Muitos clientes, inclusive, realizam pagamentos antecipados por produtos orgânicos que pretendem comprar. Essa realidade, impensável há alguns anos, des- taca como os meios de comunicação de massa se tornaram fundamentais no cotidi- ano, oferecendo aos profissionais de extensão rural inúmeras oportunidades para oti- mizar seu trabalho. A linguagem escrita O poder do conteúdo audiovisual é inegável. Confúcio, um sábio chinês que viveu 400 anos antes de Cristo, já dizia, de forma quase profética, que "uma imagem vale mais do que mil palavras", reconhecendo a potência da imagem na comunicação. Contudo, é essencial não subestimar o valor da linguagem escrita, nem considerar a imagem como um substituto completo da palavra. Enquanto as imagens constituem uma forma poderosa de comunicação, a palavra escrita desempenha um papel fun- damental na interação entre as pessoas. Neste contexto, a extensão rural emprega diversos meios de comunicação escrita, entre eles: • Folder: Este é um instrumento de comunicação verbal impresso em uma única folha de papel, que pode variar em tamanho, comumente em formato ofício ou meio ofício, e geralmente apresenta duas dobras, com as partes laterais dobradas sobre o centro. Pode ser impresso tanto em preto e branco quanto em cores, mas deve sempre incluir ilustrações para comple- mentar a mensagem, que deve ser apresentada de forma simples e direta. • Carta circular: A palavra "carta" tem origem no termo latino para uma folha de papel preparada para a escrita. As cartas têm sido usadas desde a an- tiguidade para diversos propósitos, primordialmente para comunicar men- sagens a indivíduos ou grupos específicos. Na extensão rural, a carta cir- cular é frequentemente utilizada para informar comunidades sobre temas relevantes, convidar para eventos ou transmitir orientações de maneira clara e objetiva. Assim como no folder, recomenda-se o uso de figuras ou ilustrações para enriquecer o conteúdo. Por exemplo, a figura 14 poderia mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 95 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural ilustrar uma carta circular enviada a avicultores da região de Pelotas, con- vidando-os para uma reunião técnica com o propósito de orientá-los sobre a seleção e o descarte adequado de poedeiras. Figura 14 – Exemplo de carta circular. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). Para criar uma carta circular eficaz e impactante, é crucial seguir algumas diretrizes essenciais. Estas orientações ajudam a garantir que a mensagem não ape- nas alcance o destinatário, mas também ressoe de maneira significativa: mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 96 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural • Empregar uma linguagem que seja ao mesmo tempo clara e acolhedora é fundamental. O objetivo é fazer com que o leitor se sinta diretamente en- volvido e considerado pela mensagem, criando um vínculo pessoal através das palavras. • Concentrar-se em um único tema ou ideia principal evita a dispersão da atenção e fortalece a comunicação. Incluir múltiplos pontos ou informações excessivas pode diluir a mensagem principal e confundir o destinatário. • A utilização de pronomes e expressões que remetam ao leitor de forma pessoal é uma estratégia valiosa. Isso ajuda a evitar que a carta soe im- pessoal ou demasiadamente formal, aproximando o remetente do destina- tário. • A economia de palavras é uma virtude. Recomenda-se que cada sentença seja concisa, idealmente com no máximo dez palavras, e que os parágrafos não ultrapassem 100 palavras. A clareza e a brevidade são cruciais, espe- cialmente considerando que, na maioria dos casos, a carta não deve exce- der uma página. • A inclusão de uma figura ou ilustração relevante pode significativamente aumentar o impacto da carta, atraindo a atenção para a mensagem e refor- çando o ponto de vista apresentado. Seguindo estas diretrizes, é possível elaborar cartas circulares que não ape- nas informam, mas também engajam e motivam o público-alvo de maneira eficaz. 5.5 METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS EM EXTENSÃO RURAL Desde a década de 1980, as metodologias participativas começaram a de- sempenhar um papel crucial no Brasil e em diversos países ao redor do mundo. Esse movimento, especialmente significativo em nações latino-americanas, está vinculado ao que ficou conhecido como “o repensar da extensão rural”. De maneira concisa, durante a era difusionista-produtivista, a extensão rural focava predominantemente na disseminação de inovações tecnológicas, negligenciando as reais necessidades e de- mandas dos agricultores. Em suma, os principais beneficiados pela extensão rural mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 97 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural nesse período não foram os agricultores, mas sim os conglomerados de capital finan- ceiro e agroindustrial associados ao agronegócio voltado para a exportação. As me- todologias participativas surgem, então, com a intenção de reconhecer e valorizar as vozes das famílias rurais, permitindo que expressassem suas opiniões, demandas e participassem ativamente nas decisões que influenciam suas vidas e futuros. Essencialmente, a adoção de metodologias participativas reflete uma trans- formação profunda nos conceitos anteriormente estabelecidos. Significa reconhecer os erros passados e adotar uma nova postura que coloca os agricultores no centro do processo decisório, atendendo às suas necessidades que transcendem a simples apli- cação de novas tecnologias. Essa abordagem subverte a dinâmica tradicional “de cima para baixo” e propõe a criação de novas trajetórias baseadas em uma interação dialógica “de baixo para cima”, comprometida com objetivos de longo prazo e o bem- estar dos agricultores. As metodologias participativas são enfocadas primordialmente nos agriculto- res, agricultoras, suas famílias e comunidades, ao invés de se concentrarem apenas na tecnologia. O tipo de participação visado aqui é essencial entender: não se trata de uma participação passiva, onde os envolvidos estão alienados do que está sendo discutido, nem uma participação puramente baseada em interesses materiais de curto prazo. A verdadeira participação é ativa, propositiva e visa contribuir significativa- mente para a melhoria das condições de vida tanto dos estabelecimentos individuais quanto da comunidade rural em geral. Tal participação envolve o debate responsável dos temas, a realização de acordos e a busca por um consenso. Inspirando-nos em Aristóteles, que afirmava ser o homem um "animal político" que se realiza plenamente na polis, através da interação com seus semelhantes e obedecendo às leis que regulamentam a sociedade, com- preendemos que discutir questões e encontrar soluções consensuais faz parte do te- cido da vida comunitária. Para isso, é necessário criar condições que permitam a to- dos participar de maneira livre, consciente, responsável e colaborativa nas discus- sões. Antes de abordar específicamente alguns métodos participativos, é importante destacar as diferenças fundamentais entre a extensão rural convencional e a extensão rural agroecológica que surgiu como resposta à crise dos anos 1980 e à necessidade mailto:secretariaead@funec.brNÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 98 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural de repensar a extensão rural. Essas diferenças podem ser observadas em vários as- pectos, tais como as bases teóricas, os objetivos principais, as metodologias empre- gadas, a forma de comunicação, a concepção educativa e o papel dos agentes de extensão rural, conforme detalhado no Quadro 5. Este quadro ilustra as contrastantes abordagens e filosofias entre esses dois modos de extensão rural, evidenciando uma evolução para práticas mais inclusivas, sustentáveis e orientadas à comunidade. Quadro 5 – Diferenças entre modelos de extensão rural segundo aspectos distintos. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). O Quadro 5 destaca o contraste significativo entre a Extensão Rural Conven- cional, que se concentra primordialmente na difusão de tecnologias e no aumento da produtividade, e a Extensão Rural Agroecológica, que ganhou força no século XXI. É relevante notar que determinadas ferramentas da Extensão Rural Convencional per- manecem úteis e devem ser utilizadas quando comprovadamente eficazes. O diferen- cial crucial reside na abordagem adotada na prática da extensão rural. A perspectiva agroecológica posiciona o agricultor — seja homem ou mulher — como protagonista dos processos, enquanto a visão convencional tende a tratá-lo mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 99 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural mais como um objeto passivo ou um mero destinatário das tecnologias. A adesão à abordagem agroecológica implica não apenas uma mudança de discurso, mas uma transformação profunda nas práticas, afastando-se dos equívocos e limitações histó- ricas associadas à extensão rural tradicional. Portanto, a transição para uma extensão rural agroecológica demanda um compromisso genuíno com novas metodologias e filosofias de trabalho, que valorizem o conhecimento, as necessidades e as capacidades dos agricultores, promovendo uma agricultura sustentável, resiliente e integrada ao ecossistema. Este movimento não somente reconhece os agricultores como agentes ativos e essenciais para o de- senvolvimento rural, mas também busca estabelecer uma relação mais equitativa e colaborativa entre todos os envolvidos no processo de extensão. 5.5.1 Diagnóstico rural participativo O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é uma abordagem compreensiva que transcende a ideia de um método isolado, representando uma metodologia que incor- pora uma diversidade de métodos e técnicas. Definido em um documento por várias organizações latino-americanas, o DRP é entendido como um processo através do qual os atores de um território específico identificam seus problemas, necessidades, potencialidades, sugestões e demandas, visando desenvolver soluções eficazes e al- cançar o sucesso desejado. A essência do DRP reside na participação ativa da comunidade ou coletivi- dade na identificação das causas e dos fatores que contribuem para a existência de determinados problemas ou situações. Assim, permite que, com base nas informa- ções coletadas, os membros da comunidade compreendam a realidade a partir de suas próprias perspectivas, sem que o agente de extensão rural imponha soluções preconcebidas ou diretrizes fixas. Uma abordagem que antecipa soluções sem a par- ticipação ativa da comunidade distorce o propósito central do DRP. O objetivo fundamental do DRP é promover a autodeterminação das comuni- dades por meio da participação ativa, incentivando processos que conduzam à eman- cipação coletiva, em contraponto a uma relação de dependência assistencialista. A dependência contínua de intervenções externas para resolver questões locais pode perpetuar práticas de clientelismo, caciquismo e estagnação. Embora originalmente mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 100 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural concebido para áreas rurais, o princípio e a prática do DRP podem ser igualmente aplicados em contextos urbanos, conhecido neste caso como Diagnóstico Urbano Participativo (DRUP), ampliando seu escopo e relevância para além das comunidades rurais. 5.5.1.1 Passos básicos do Diagnóstico Rural Participativo a) Motivação para realizar o DRP A realização de um Diagnóstico Rural Participativo (DRP) exige, antes de qualquer coisa, uma compreensão clara dos objetivos e motivações por trás da inici- ativa. Em geral, isso implica a identificação de um problema específico ou desafio enfrentado pela comunidade ou grupo em questão. Sem a existência de uma vontade política ou um genuíno desejo por transformação, avançar no processo seria ineficaz. Assim, é crucial questionar: O que se espera descobrir com o DRP? Qual é o foco principal da investigação? b) Montagem da equipe responsável por realizar o DRP A execução eficaz do DRP depende da formação de uma equipe competente e engajada. Isso pode envolver tanto os extensionistas de uma organização ou escri- tório específico quanto a participação de indivíduos externos que possam contribuir com sua experiência e compreensão da realidade local. A inclusão de líderes comu- nitários no processo não só é recomendada como pode ser fundamental para garantir a relevância e o impacto das ações propostas. c) Obtenção de informação secundária Uma etapa crítica do processo do DRP é a coleta de informações secundárias que possam fornecer um panorama geral do território ou comunidade em foco. Isso inclui dados sobre a população local, características geográficas, histórico de proble- mas ambientais como inundações devido ao assoreamento de rios, e outros aspectos relevantes. Essas informações, geralmente disponíveis através de estudos prévios ou registros públicos, são essenciais para construir uma base de conhecimento sobre a qual o diagnóstico participativo será desenvolvido. Essa etapa preparatória permite mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 101 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural não apenas a identificação de questões críticas, mas também facilita a contextualiza- ção das discussões e intervenções subsequentes dentro das realidades específicas da comunidade. d) Definição dos atores sociais participantes A seleção de participantes em um Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é crucial, pois não necessariamente todos os membros da comunidade desejarão ou poderão contribuir ativamente. No contexto de questões ambientais, por exemplo, é essencial envolver agricultores, associações locais, instituições acadêmicas, centros de pesquisa, ONGs e quaisquer outros grupos interessados tanto na fase de diagnós- tico quanto na proposição de soluções. A diversidade de perspectivas e a inclusão de uma ampla gama de atores sociais enriquecem o processo, promovendo uma abor- dagem colaborativa e multidisciplinar para identificar e abordar os desafios enfrenta- dos pela comunidade. e) Montagem dos instrumentos de coleta de dados primários Os dados primários são informações coletadas diretamente da fonte, através de métodos que podem ser qualitativos, como entrevistas detalhadas, ou quantitati- vos, como questionários estruturados. Perguntas sobre práticas de manejo do solo, impactos da erosão na produtividade agrícola e efeitos na qualidade da água são es- senciais paracompreender a realidade local sob a perspectiva dos próprios agriculto- res. Fotografias e outros registros visuais complementam essas informações, ofere- cendo uma imagem concreta das condições do território. Além disso, a etapa de coleta de dados pode se beneficiar de técnicas parti- cipativas para fomentar o debate entre os membros da comunidade sobre temas re- levantes, em reuniões ou workshops. Métodos como brainstorming e Phillips 66 faci- litam a geração de ideias e discussões coletivas. A Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats - Fortalezas, Fraquezas, Oportunidades, Amea- ças) é outra ferramenta valiosa, ajudando os participantes a identificar de maneira estruturada os pontos fortes e desafios da comunidade, bem como as oportunidades e ameaças ao seu desenvolvimento. Essas atividades são fundamentais para a cons- trução de uma compreensão compartilhada sobre a situação atual e para o planeja- mento de ações futuras baseadas em consenso e colaboração. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 102 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural Figura 15 – Matriz para análise FOFA (SWOT). Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). Nesse cenário, a organização das famílias rurais para comercializar sua pro- dução hortifrutícola orgânica a consumidores urbanos apresenta diversos aspectos a considerar: ▪ Fortalezas: Entre as principais vantagens do grupo estão a qualidade su- perior de sua produção orgânica e a localização estratégica da comuni- dade, que pode facilitar a logística de distribuição. Estes pontos fortes são fundamentais para o sucesso da iniciativa, oferecendo uma base sólida so- bre a qual construir a proposta de valor ao consumidor. ▪ Oportunidades: A crescente demanda dos consumidores por produtos or- gânicos representa uma oportunidade significativa para o grupo. A disposi- ção dos consumidores urbanos em adquirir toda a produção disponível abre caminho para estabelecer uma conexão direta e lucrativa entre produtores e consumidores, alinhada com tendências de consumo sustentável. ▪ Fraquezas: A falta de organização e o despreparo técnico para planejar e gerenciar uma produção diversificada surgem como desafios internos. Es- ses fatores podem comprometer a capacidade do grupo de atender consis- tentemente à demanda ou de expandir sua oferta de produtos de forma sustentável. ▪ Ameaças: Fatores externos, como mudanças na legislação ou exigências de certificação, representam ameaças sobre as quais o grupo tem pouco mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 103 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural controle direto. Tais desafios podem impor barreiras significativas ao cres- cimento ou à continuidade do projeto. A técnica da “Árvore de Problemas” ajuda a visualizar e compreender a estru- tura e dinâmica dos desafios enfrentados. Ao identificar o problema central da erosão do solo, suas causas (como manejo inadequado da terra e falta de cobertura do solo) e os efeitos decor- rentes (voçorocas, redução da produtividade, assoreamento de rios), os participantes podem elaborar estratégias mais eficazes de interven- ção. É importante que todos os envolvidos este- jam engajados desde o início e participem ativa- mente em todas as etapas do processo, garan- tindo que as soluções propostas sejam pertinen- tes, viáveis e sustentáveis. Esse envolvimento coletivo não apenas fortalece a iniciativa, mas também promove a capacitação e o empoderamento dos participantes, contribuindo para a resiliência e autossuficiência da comunidade. As falhas organizacionais e a falta de preparo das lideranças podem afetar negativamente a credibilidade de qualquer projeto, levando à possível desvinculação de membros da comunidade. No entanto, reconhecendo as ameaças de maneira clara e com antecedência, o grupo pode desenvolver estratégias para enfrentá-las efetiva- mente, reforçando a coesão e o propósito comum durante as fases do Diagnóstico Rural Participativo (DRP). f) Processamento e análise da informação levantada Os dados coletados pela equipe precisam ser sistematicamente organizados para sua apresentação e análise coletiva, englobando tanto informações primárias quanto secundárias. Elementos como entrevistas, mapas participativos e resultados de dinâmicas como a Análise SWOT ou Árvore de Problemas constituem a base de dados a ser examinada pelos extensionistas e pela comunidade, visando avançar na compreensão dos desafios e na formulação de soluções. Figura 16 – Exemplo de árvore de problemas. Fonte: Caldas e Dos Anjos (2021). mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 104 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural g) Priorização de problemas Com um conjunto robusto de informações à disposição, é essencial identificar e classificar as questões mais prementes. Esta etapa envolve uma decisão coletiva sobre quais problemas requerem atenção imediata, baseando-se na percepção e nas prioridades da própria comunidade. A priorização é um passo decisivo que direciona o foco e os recursos para as áreas de maior urgência, conforme reconhecido pelos próprios membros da comunidade. h) Apresentação da informação e validação do diagnóstico A apresentação dos resultados do diagnóstico à comunidade é um momento chave no processo do DRP. Essa fase permite não apenas a divulgação dos achados, mas também a inclusão de novas perspectivas e a validação coletiva das informações coletadas. É vital que essa apresentação seja realizada de forma clara, preferencial- mente com o auxílio de recursos audiovisuais, para facilitar a compreensão e engaja- mento de todos. A equipe responsável pelo diagnóstico deve estar aberta a feedbacks e críticas, enfatizando que o diagnóstico é um produto da contribuição coletiva e do esforço compartilhado. A validação por parte da comunidade garante que o diagnós- tico reflita fielmente a realidade e as necessidades locais, estabelecendo uma base sólida para ações futuras. i) Elaboração de um plano de ação Após a construção e validação de um diagnóstico com base em informações detalhadas e o envolvimento da comunidade, o próximo passo é a formulação de um Plano de Ação. Este plano deve ser desenvolvido de maneira participativa, definindo claramente quais problemas serão abordados e estabelecendo metas e indicadores que permitam monitorar o progresso em relação à situação inicial. A definição de ob- jetivos claros e a possibilidade de realizar ajustes conforme necessário são essenciais para alcançar os resultados desejados. A construção de consenso e o fortalecimento do comprometimento entre os participantes são fundamentais para a eficácia do plano. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 105 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural O processo do Diagnóstico Rural Participativo (DRP), apesar de ser mais com- plexo e exigente que outros métodos como Unidade Demonstrativa ou Dia de Campo, tem um potencial significativo de impacto e sustentabilidade. Isso se deve ao fato de ser baseado na participação ativa da comunidade, o que confere ao plano de ação uma legitimidade e aceitação que métodos mais diretivos muitas vezes não alcançam. A comunidade não só participa na identificaçãodos problemas e na elaboração das estratégias, mas também se envolve diretamente na implementação e na avaliação das ações, contribuindo para uma mudança efetiva e duradoura. Embora existam outros métodos participativos na extensão rural, como a In- vestigação-Ação Participativa, que combina pesquisa científica com intervenção prá- tica, o DRP é frequentemente escolhido por sua eficácia e aplicabilidade tanto por agências de extensão oficiais e privadas quanto por ONGs. A escolha pelo DRP reflete sua capacidade de engajar as comunidades no processo de desenvolvimento, priori- zando problemas e estratégias de ação de forma coletiva e informada, o que potenci- aliza a transformação social e ambiental das áreas rurais. ATIVIDADES DE FIXAÇÃO 1 - Como são classificadas as metodologias em ATER quanto ao seu alcance? a) Individual, grupal e coletivo. b) Pessoal, familiar e comunitário. c) Individual, grupal e indefinido. d) Simples, intermediário e complexo. 2 - O que caracteriza principalmente uma reunião no contexto da extensão rural? a) Um método individual focado exclusivamente no aumento da produtividade. Vá no tópico VÍDEO COMPLEMENTAR em sua sala virtual e acesse os vídeos “Metodologias participativas de extensão rural”. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 106 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Extensão Rural b) Um método grupal para discussão de questões técnicas ou de outra natureza. c) Uma abordagem que evita o envolvimento ativo dos participantes. d) Um encontro casual e espontâneo sem planejamento prévio. 3 - Quais são os principais objetivos da Demonstração Prática em extensão rural? a) Promover a independência dos produtores rurais de tecnologias externas. b) Ensinar técnicas validadas e fomentar o desenvolvimento de competências. c) Encorajar o uso de práticas agrícolas tradicionais sem inovações. d) Reduzir o envolvimento e a participação dos espectadores. 4 - No contexto da extensão rural, como os programas de rádio se destacam como um recurso? a) Por serem uma forma ultrapassada de comunicação com pouco impacto atual. b) Como um meio de difusão ampla capaz de alcançar ouvintes em áreas remotas. c) Somente como uma alternativa econômica para profissionais de extensão, sem benefícios para a comunidade. d) Exclusivamente para entretenimento, sem valor informativo ou educativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) CALDAS, Nádia Velleda; ANJOS, Flávio Sacco dos. Extensão rural: um manual para alunos de graduação. Pelotas: EFPel, 2021. 2) FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. mailto:secretariaead@funec.br