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CAPITULO 9: OS ANOS DOURADOS Foi nos últimos quarenta anos que Modena viu de fato o grande salto à frente. O período que vai da Unificação italiana até então fora uma longa era de espera, ou de lentas e intermitentes modificações, antes que a transformação se acelerasse até a velocidade do raio. As pessoas agora podem desfrutar um padrão de vida antes restrito a uma minúscula elite. Giuliano Muzzioli (1993, p. 323) Nenhum homem faminto e sóbrio pode ser convencido a gastar seu último dólar em outra coisa que não comida. Mas uma pessoa bem alimentada, bem vestida, bem abrigada e em tudo mais bem cuidada pode ser convencida a escolher entre um barbeador e uma escova de dentes elétrica. Juntamente com preços e custos, a demanda do consumidor se torna sujeita a administração. J. K. Galbraith, The new industrial State (1967, p. 24) Refere-se a um período de expansão econômica, estabilidade política e transformações sociais que ocorreu principalmente entre meados do século XIX e o início do século XX A designação do nome “Anos Dourados”, foi dada por ser uma época considerada brilhante contra o pano de fundo baço e escuro das posteriores Décadas de crise, foi um período de crescimento econômico e prosperidade que ocorreu principalmente durante os anos 1950-1960. Um primeiro-ministro conservador britânico disputou e venceu uma eleição geral em 1959 com o slogan “Você nunca esteve tão bem”, uma afirmação sem dúvida correta. Contudo, só depois que passou o grande boom, nos perturbados anos 70, à espera dos traumáticos 80, os observadores — sobretudo, para início de conversa, os economistas — começaram a perceber que o mundo, em particular o mundo do capitalismo desenvolvido, passara por uma fase excepcional de sua história; talvez uma fase única. Para EUA que dominaram a economia do mundo após a Segunda Guerra Mundial, ela não foi tão revolucionária assim, continuaram a expansão dos anos da guerra, que foram singularmente bondosos com aquele país, porém em um ritmo mais lento que todos os outros países. A diferença entre os Estados Unidos e outras nações diminuiu e a prosperidade foi mais amplamente compartilhada, visto que, outros países industrializados, incluindo muitos países da Europa Ocidental, também experimentaram taxas impressionantes de crescimento econômico, logo, economicamente e tecnologicamente, foi uma época mais de relativo retardo do que de avanço para os EUA. A verdadeira peculiaridade do período, não foi amplamente reconhecida até depois do fato. A década de 1970 trouxe desafios econômicos e sociais, e foi só então que observadores, especialmente economistas, começaram a entender as implicações significativas da "Era de Ouro". Inicialmente, muitas pessoas reconheceram essas melhorias, especialmente se comparadas às dificuldades anteriores à guerra, foi uma época caracterizada pelo crescimento econômico sustentado, aumento da produção industrial e melhores condições de vida, logo, frases como " os 30 anos gloriosos" e "idade de ouro" foram usadas para descrever esse período de prosperidade. A recuperação do pós-guerra foi o foco principal dos países europeus e do Japão, que mediram o sucesso em relação a marcos anteriores, em vez de olhar para o futuro. À medida que os benefícios do crescimento se tornaram mais aparentes, especialmente na década de 1960, a prosperidade foi cada vez mais vista como um padrão esperado e também na década de 1960 ficou claro que o capitalismo avançava mais que o comunismo. O texto também destaca o crescimento das populações do Terceiro Mundo durante a "Era de Ouro", mostrando que, apesar da prosperidade global, nem todos os países tiveram uma melhora substancial nas condições de vida. No entanto, em muitas partes do mundo em desenvolvimento, a produção de alimentos está crescendo mais rapidamente do que a população, levando a melhorias gerais na nutrição e na expectativa de vida, porém produzia tanto alimento que não sabia o que fazer com excedente. Sobre a década de 1970 e as disparidades econômicas entre diferentes partes do mundo pobre: Enquanto algumas regiões como o Extremo Oriente e a América Latina tiveram produção superior à taxa de crescimento populacional, a África experimentou um crescimento de produção alimentar muito lento. No mundo desenvolvido, a produção excessiva de alimentos levou à diminuição da plantação e ao excedente.A economia global estava em rápido crescimento em todos os lugares, seja no mundo capitalista, socialista ou no "Terceiro Mundo". Houve exemplos notáveis de revolução industrial, mesmo em regiões agrárias. No entanto, o crescimento econômico exacerbou questões ambientais, como poluição e deterioração ecológica. Mesmo no ocidente, o velho lema do homem de negócios do século xx “Onde tem lama, tem grana” (ou seja, poluição quer dizer dinheiro), ainda era convincente, assim, a década de 1960 provavelmente ficara como a mais desastrosa na história da urbanização humana. Embora tenha havido avanços em tecnologia e conscientização ecológica, a urbanização acelerada resultou em poluição e destruição ambiental em muitas áreas. O aumento na produção de alimentos foi notável, impulsionado principalmente pelo aumento da produtividade agrícola, mas a poluição e a degradação ambiental também aumentaram significativamente devido ao aumento do uso de combustíveis fósseis. A década de 1970 foi marcada por um crescimento econômico explosivo, mas também pela crescente preocupação com as consequências ambientais desse crescimento, incluindo a emissão de dióxido de carbono e a degradação da camada de ozônio. No período do grande boom mundial, houve um avanço tecnológico notável que impulsionou a produção em massa e a oferta de bens e serviços para um mercado amplo. O modelo de produção em massa de Henry Ford se espalhou globalmente, incluindo a construção de habitações e a indústria de fast food como o McDonald's. Bens e serviços antes restritos a minorias se tornaram acessíveis ao mercado de massa, como viagens a praias ensolaradas. A revolução tecnológica impulsionou produtos inovadores, como plásticos sintéticos e dispositivos como televisão e fita magnética. A pesquisa científica avançada foi aplicada rapidamente em novos produtos. A tecnologia transformou a vida cotidiana, criando produtos mais diversos e novidades se tornaram um recurso importante de vendas. No entanto, essas inovações eram de alta intensidade de capital e demandavam pouca mão-de-obra. A economia cresceu, o desemprego diminuiu e a oferta de bens e serviços se expandiu, elevando os padrões de vida nas economias desenvolvidas. A reestruturação do capitalismo e a expansão da internacionalização econômica foram fatores fundamentais na Era de Ouro. Embora a revolução tecnológica tenha tido seu papel, muitos dos avanços industriais nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial foram baseados em processos tradicionais disseminados para novos países. A tecnologia gerada por pesquisas teve um impacto mais substancial nas Décadas de Crise após 1973, quando ocorreram grandes inovações em tecnologia de informação e engenharia genética. As inovações no setor químico e farmacêutico foram fundamentais, afetando tanto a demografia quanto a cultura, com avanços na medicina e na contracepção. O capitalismo do pós-guerra passou por uma reformulação, combinando elementos de liberalismo econômico e democracia social, além de influências da planificação econômica soviética. A reação contra essas mudanças viria nas décadas de 1970 e 1980, quando as políticas reformadas enfrentaram desafios econômicos. A memória da Grande Depressão e a necessidade de prevenir crises econômicas influenciaram a reforma do capitalismo. A economia mista, que combinava elementos do mercado livre com orientação estatal, tornou-se uma característica proeminente. IV- Nas décadas de 1960 e 1970, uma economia global transnacional emergiu, transcendo as fronteiras nacionais e criando desafios. Isso trouxe à tona empresas transnacionais, uma nova divisão do trabalho internacional e o crescimento do financiamentooffshore. O termo "offshore" descreveu a prática de registrar empresas em territórios com impostos baixos. O surgimento das "euromoedas" impulsionou os mercados financeiros globais. Empresas multinacionais expandiram globalmente, com muitas se baseando nos EUA. O comércio interno dessas empresas reforçou a concentração de capital. A produção industrial migrou para fora dos países pioneiros, e o Terceiro Mundo começou a exportar manufaturas para os países desenvolvidos. Essa evolução moldou a economia global e desafiou a noção tradicional de Estados-nação. A nova divisão internacional do trabalho surgida na Era de Ouro levou a uma descentralização da produção, com indústrias do Terceiro Mundo entrando no mercado global. A empresa alemã Volkswagen exemplificou isso, estabelecendo fábricas em diversos países. A inovação da Era de Ouro foi a capacidade de dividir a produção globalmente, graças à revolução no transporte e comunicação. Fabricantes eletrônicos globalizaram-se, incluindo "zonas francas" e fábricas offshore para aproveitar mão-de-obra barata. Essa mudança diminuiu a importância das economias nacionais em favor de centros offshore e pequenos Estados. No entanto, isso também tornou os movimentos nacionalistas mais dependentes das entidades transnacionais. A presença de Estados anões ou sem Estado favoreceu as grandes empresas multinacionais. V- Durante a Era de Ouro, a indústria se deslocou para locais com mão-de-obra barata, beneficiando-se do crescimento econômico e da força de trabalho qualificada. A combinação "keynesiana" de crescimento econômico com pleno emprego e rendas em crescimento foi construída politicamente e apoiada por um consenso entre direita e esquerda. O boom da década de 1950 viu governos conservadores moderados, enquanto a década de 1960 trouxe uma mudança para a esquerda, com o surgimento de Estados de Bem-estar e um foco crescente na seguridade social. Isso marcou um período de estabilidade política e crescimento econômico, mas a virada para a esquerda foi posteriormente seguida por mudanças ainda mais notáveis nas décadas seguintes. Durante a Era de Ouro, a política nas economias desenvolvidas era relativamente tranquila, mas a explosão de radicalismo estudantil em 1968 surpreendeu políticos e intelectuais mais velhos. O equilíbrio econômico dessa época dependia da coordenação entre crescimento da produção e ganhos salariais para manter os lucros estáveis. No entanto, sinais de desgaste apareceram na década de 1960, com declínio na hegemonia dos EUA, queda do sistema monetário baseado no dólar-ouro e mudança no estado de espírito dos trabalhadores. A explosão de salários e a reação dos trabalhadores à percepção de que os aumentos salariais não acompanhavam o mercado contribuíram para a mudança. O fim da Era de Ouro foi marcado por eventos como o colapso do sistema de Bretton Woods e uma crise econômica em 1973. Apesar disso, a Era de Ouro trouxe uma revolução profunda e rápida nos assuntos humanos, dando origem a transformações significativas. Em resumo, Hobsbawm destacou que a Era Dourada também testemunhou mudanças sociais significativas, como a ascensão da classe média, a urbanização em larga escala, a melhoria das condições de vida para muitos e a disseminação de ideias políticas e culturais que moldaram o cenário da época. No entanto, também abordou as contradições e desafios subjacentes a esse período de prosperidade aparente. Ele argumentou que, embora tenha havido avanços notáveis, a Era Dourada não foi sem problemas, já que muitas das conquistas vieram à custa da exploração de trabalhadores e das desigualdades sociais. No geral, o conceito de Era Dourada de Hobsbawm se concentra em destacar as transformações econômicas, sociais e políticas que ocorreram durante o século XIX e início do século XX, reconhecendo tanto as realizações positivas quanto os desafios inerentes a esse período.