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Professora Dr. Claudinéia Conationi da Silva Franco PLANEJAMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE 2025 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2025. Os autores. Copyright C Edição 2025 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel DIREÇÃO DE INOVAÇÃO Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal DIREÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosisnski NÚCLEO DE APOIO PSICOLÓGICO E PSICOPEDAGÓGICO Bruna Tavares Fernandes BIBLIOTECÁRIA Tatiane Viturino Oliveira PESQUISADOR INSTITUCIONAL Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO (CONPEx) – MODALIDADE PRESENCIAL Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO (CONPEx) – MODALIDADE EaD Prof. Me. Bruno Eckert Bertuol COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Isabelly Oliveira Fernandes de Souza Jéssica Eugênio Azevedo Louise Ribeiro Marcelino Fernando Rodrigues Santos Maria Clara da Silva Costa Stephanie Rodrigues da Mota Vieira Vinicius Rovedo Bratfisch PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Carlos Firmino de Oliveira Lucas Patrick Rodrigues Ferreira Estevão Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Felipe Souza Oliveira Leandro Tenório Maria Beatriz Paula da Silva Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP F825p Franco, Claudinéia Conationi da Silva Planejamento urbano / Claudinéia Conationi da Silva Franco. Paranavaí: EduFatecie, 2025. 102 p. : il. Color. 1.Planejamento urbano. 2. Urbanização. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. II. Título. CDD: 23. ed. 711.4 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas do banco de imagens Shutterstock . 3 AUTORA • Pós-Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). • Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). • Mestra em Genética e Melhoramento pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). • Bacharel e licenciada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia pela Universidade Paranaense (UNIPAR). • Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Paraíso do Norte (Fapan – UNIBF). • Professora de graduação da UniFatecie e UNIBF. • Professora de Pós-Graduação da União Brasileira de Faculdades (UNIBF). • Avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis). • Procuradora Institucional da União Brasileira de Faculdades (UNIBF). • Membro do Conselho Editorial da Editora Edufatecie - UniFatecie. • Representante docente de grupo de pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná – UniFatecie. Atualmente, possui colaboração com o grupo de pesquisa do Laboratório de Biologia Celular da Secreção da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Também possui ampla experiência na área de Gestão Ambiental. Informações e contato: Currículo Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/0128915207763182. Professora Dr. Claudinéia Conationi da Silva Franco http://lattes.cnpq.br/0128915207763182. 4 APRESENTAÇÃO Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto dessa disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, com você, construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais do planejamento urbano e meio ambiente. Além de conhecer seus principais conceitos e definições, vamos explorar as mais diversas aplicações das ferramentas do planejamento urbano. Na Unidade I, iniciaremos nossos estudos pelo conceito de planejamento urbano. Refletiremos sobre o planejamento urbano ambiental, faremos uma breve discussão sobre a história das cidades, até a revolução industrial e a primeira legislação urbanística (sanitária). Essa noção é necessária para podermos trabalhar a segunda unidade da apostila, que versará sobre Técnicas de Planejamento. Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre as Técnicas de Planejamento. Para isso, vamos estudar o pré-urbanismo e as cidades modelos, os conceitos de urbanismo, a estrutura socioeconômica da cidade moderna, segregação urbana. Por fim, também abordaremos sobre o Plano Diretor, que pode ser considerado a principal política pública de ordenamento do território urbano. Depois, nas Unidades III e IV, vamos tratar especificamente da metodologia para elaboração de planos urbanos e do plano diretor e das diretrizes básicas. Ao longo da Unidade III, vamos discursar sobre o diagnóstico de problemas urbanos ambientais e o Estatuto das cidades. Na Unidade IV vamos estudar a intervenção urbana como controle e ordenação do crescimento e componente de saúde ambiental. Além de discutirmos a infraestrutura como componente do plano diretor. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! 5 SUMÁRIO Plano Diretor: Diretrizes Básicas Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos Técnicas de Planejamento Planejamento Urbano Ambiental Professora Dr. Claudinéia Conationi da Silva Franco PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTAL1UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 7 Plano de Estudos • Introdução e Conceitos. • Planejamento Urbano Ambiental: Questões para Reflexão. • Breve história das cidades: até a revolução industrial. • Primeira legislação urbanística (sanitária). Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar planejamento urbano. • Compreender a importância do planejamento urbano. • Relacionar os principais objetivos do planejamento ambiental urbano. • Estabelecer a importância da legislação urbana. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 8 INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), nesta unidade você irá estudar sobre o planejamento urbano, sua importância e objetivos, assim como irá conhecer a primeira legislação urbanística. O planejamento urbano é um ramo da arquitetura e, como tal, a forma e a função são tão importantes em uma cidade quanto na concepção dese desenvolvendo. É necessário analisar alguns aspectos essenciais, como: abastecimento d’água, energia elétrica, infraestrutura existente (sistema viário, rede telefônica, saneamento, etc.), potencialidades econômicas, mobilidade e acessibilidade e compatibilidade de uso do território por meio da elaboração de mapas temáticos (Scopel, 2018). Segundo sua potencialidade econômica, cada município deve adotar as diretrizes e instrumentos necessários ao fortalecimento da economia local, por exemplo: municípios com predominância no agronegócio podem tratar das questões relacionadas às vias de escoamento da produção. Além disso, podem também criar um programa que destina áreas para as agroindústrias coletivas ou individuais nas comunidades rurais. Já no caso de municípios turísticos, podem discutir sobre temas ligados à preservação do patrimônio histórico ou natural, entre outros. 43 Le Corbusier foi um arquiteto atuante no século XX, não só no campo teórico-acadêmico, mas também como profissional da arquitetura, deixando inúmeras obras de arquitetura e urbanismo que, até hoje, são paradigmáticas: suscitam muitas críticas ao mesmo tempo que ainda servem de modelo para as cidades. Os cinco pontos da Carta de Atenas de 1933 (Habitação, Lazer, Trabalho, Circulação e Patrimônios históricos das cidades) e o modelo teórico da Ville Radieuse podem ser considerados síntese do seu pensamento. A Ville Radieuse, em português, cidade radiosa, é um projeto urbano teórico não construído, mas que servia de base para a exposição material dos conceitos que, três anos mais tarde, se encontrariam na Carta de Atenas. O modelo recebeu o nome de cidade radiosa porque tinha uma preocupação central com as condições de salubridade da habitação, portanto, essas deveriam receber a maior quantidade de luz solar possível. Os edifícios habitacionais projetados por Corbusier, denominados unidade habitacional, configuravam-se como arranha-céus de 50 metros de altura, de alta densidade, similares entre si, pré-fabricados, isolados um dos outros, organizados em uma grade cartesiana que deveria estar em volta de um grande espaço verde, além de se situar em uma zona da cidade apenas dedicada à habitação. Essas unidades deveriam acomodar 2.700 habitantes e se portariam como um edifício autossuficiente, com equipamentos de serviços no próprio edifício, como refeitório e lavanderia coletivos, escola de educação infantil e piscina (Giambastiani et al., 2019). SAIBA MAIS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 44 Ao término desta unidade, pudemos observar que enquanto para os urbanistas progressistas, a geometria era tomada como uma verdade salvadora do espaço e da sociedade, para os urbanistas culturalistas, a irregularidade é que conseguiria humanizar o espaço. Essa polêmica, então, marca o pertencimento dos urbanistas a formações discursivas diferentes. Afinal, o urbanismo é a expressão de um posicionamento político, pois prepara o espaço da cidade para o desenvolvimento do capitalismo industrial, inclusive garantindo a reprodução da força de trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 45 MATERIAL COMPLEMENTAR • FILME/VÍDEO • Título: Gran Horizonte: Around the Day in 80 Worlds. • Ano: 2014. • Sinopse: Num mundo onde sete bilhões de não-arquitetos constroem as cidades [...], a linguagem do arquiteto, para se referir ao projeto e à construção da cidade, está obsoleta. Através da compilação do material recolhido por Urban-Think Tank durante o período de três anos, este documentário, dirigido por Martin Schwartz & Daniel Anderson, retrata a realidade da informalidade urbana em todo o mundo, estruturado numa viagem irreal pelo mundo em apenas um dia. Fazendo perguntas ao invés de apresentar respostas, Grande Horizonte pretende ampliar a perspectiva dos espectadores sobre o mundo em que vivem e o mundo que poderiam ajudar a criar. O filme é baseado na filosofia de que o futuro do desenvolvimento urbano reside na colaboração entre os arquitetos, os governos, a empresa privada e a população mundial dos bairros marginais. • LIVRO • Título: Planejamento urbano e regional: dimensionamento. • Autor: Gabriel Lima Giambastiani et al. • Editora: SAGAH. • Sinopse: Esse livro traz os aspectos da dinâmica da rede urbana, formas de dimensionamento da cidade e reconhecimento dos tempos de formação urbana e preceitos espaciais. Também traz outras abordagens fundamentais, como tipologia dos bairros, zoneamento, elementos da estrutura urbana e intervenções no espaço urbano idealizadas por Le Corbusier e o Movimento Moderno para grandes metrópoles, além da diversidade de algumas malhas urbanas existentes no mundo. TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 Professora Dr Claudinéia Conationi da Silva Franco METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOS3UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 47 Plano de Estudos • Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos: Coleta, Estruturação e Análise de Dados Urbanos. • Diagnósticos de Problemas Urbanos Ambientais: Definição de Diretrizes e Planos de Ação. • Estatuto das Cidades: Conceitos e Conteúdo. • O Plano Diretor sob a ótica do Estatuto da Cidade e a Abordagem de Intervenção Urbana pela Engenharia Ambiental. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos: Coleta, Estruturação e Análise de Dados Urbanos. • Compreender os tipos de diagnósticos de Problemas Urbanos Ambientais: Definição de Diretrizes e Planos de Ação. • Estabelecer a importância do Estatuto das Cidades e do Plano Diretor. METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 48 Ao analisarmos a literatura, a elaboração de planos urbanos, tendo como base o Estatuto da Cidade, pode gerar benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao estimular a instalação da população de baixa renda em áreas dotadas de infraestrutura, evitando, assim, a ocupação de áreas consideradas ambientalmente frágeis, como encostas de morros, zonas inundáveis e mangues. Com a aprovação do Estatuto da Cidade, a Lei Federal n.º 10.257, de 10 de julho de 2001, uma série de instrumentos foram criados para a cidade poder buscar seu desenvolvimento urbano, sendo o principal deles o plano diretor, que proporciona a articulação da implementação de planos diretores participativos, definindo uma série de instrumentos urbanísticos que têm no combate à especulação imobiliária e na regularização fundiária dos imóveis urbanos. Além do Estatuto, definir uma nova regulamentação para o uso do solo urbano, ele também prevê a cobrança de IPTU progressivo de até 15% para terrenos ociosos, ou seja, inocupados, a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a aumentar a oferta de lotes, a recuperação e a proteção do meio ambiente urbano (Brasil, 2001). INTRODUÇÃO METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 49 METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOS: COLETA, ESTRUTURAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS URBANOS1 TÓPICO Com a aprovação do Estatuto da Cidade, Lei Federal n.º 10.257, de 10 de julho de 2001, o Plano Diretor passou a ser o instrumento legal básico da política de desenvolvimento e expansão urbanos (Brasil, 2001). Apesar de já estar instituído na Constituição Federal Brasileira de 1988, no Capítulo II, artigo 182 e 183, a elaboração do Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, considerado o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. Também são estabelecidas pela Constituição algumas diretrizes a serem observadas pelos Estados e Municípios, como a garantia do bem-estar de seus habitantes, o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, a participação popular e a proteção ao meio ambiente, histórico e cultural. Para elaboração e revisão de Planos Diretores Municipais, tão importante quanto a lei em si é a forma de sua elaboração,contando com a participação efetiva da população e das entidades organizadas, segundo expresso no artigo 43, da gestão democrática do Estatuto da Cidade, consolidando, desta forma, um compromisso de todos na execução das diretrizes e ações estratégicas incluídas no plano. As Constituições Federal e Estadual destacam nitidamente esta importância, ficando a cargo da Administração Municipal promover a participação ampla da população. Para a elaboração do Plano Diretor, é indispensável ouvir a opinião de moradores das diferentes regiões da cidade e partes organizadas da sociedade. As diferentes visões sobre a cidade construída organizadamente por segmentos devem ser apresentadas, trazendo para a esfera pública os interesses que embasam as visões. O morador observa o METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 50METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 conjunto dos bairros a partir do lugar onde vive. No entanto, o desafio maior é sensibilizar a população para o assunto e obter a opinião do maior número de moradores sobre os anseios de conquista e as expectativas em relação à cidade, rompendo com a não visualização dos processos urbanos que acontecem nas periferias e revelando a diversidade e a desigualdade nas diferentes partes que compõem uma cidade. Dessa forma, as pautas assim levantadas orientam a definição das propostas (Harvey, 2011). Ao sistematizar a proposta e definir a estrutura do plano diretor, a próxima etapa é a elaboração e aprovação da metodologia descrita no plano que é composta essencialmente pelos respectivos itens: diagnóstico que considera duas leituras, uma técnica realizada por equipe especializada, com a participação dos membros da comissão e a leitura comunitária. A leitura técnica pode conter dimensões especiais, como os estudos de caracterização socioeconômica e demográfica, estudos acerca do desenvolvimento econômico e do turismo e os estudos de caracterização físico-espacial. A leitura comunitária é dedicada à participação da comunidade. Durante o processo de discussão participativa de um Plano Diretor, muitas pessoas são envolvidas, inclusive: sociedade civil organizada, movimentos sociais e Executivo. No âmbito dos delegados, são claras as divergências de ideias e de interesses, que, durante o processo, diluem-se e ganham força por meio da aproximação entre segmentos distintos e consensos que vão se construindo durante a discussão. Na esfera do governo, duas frentes se mostram na correlação de forças políticas entre governantes e partidos. Governos de coalizão que reúnem legendas partidárias de posições extremas entram em rota de colisão nesses processos, divergindo sobre aspectos técnicos da proposta do Plano Diretor. A ideologia do patrimonialismo reflete-se no serviço público, no comportamento dos técnicos e nos procedimentos administrativos que ainda trazem a antiga compreensão da propriedade privada no Brasil, aceitando como natural a soberania do direito do proprietário sobre a função social da cidade e da propriedade. Segundo Fernandes (2013, p. 223): Esse processo de mercantilização das cidades tem demandado o reforço da cultura jurídica individualista e patrimonialista tradicional, vigente e dominante pré-Estatuto da Cidade, com a propriedade imobiliária concebida quase que exclusivamente como mercadoria, seu valor de troca prevalecendo sobre qualquer valor de uso, e a possibilidade de usar/gozar/dispor do bem imóvel sendo também interpretada como a possibilidade livre de não usar/gozar/ dispor do bem — em outras palavras, de especular. 51METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 As alianças formadas em função do voto, dentro e fora do Executivo, polarizam decisões incluídas no Plano Diretor, mudando rumos das propostas. O prefeito tem o papel central de decisão, no sentido de mediar o diálogo intersetorial, decidindo quando há divergências, administrando conflitos entre secretarias. Em relação ao processo sobre questões trazidas pelos setores econômicos e sociedade, relacionadas à utilização e à ocupação do solo, o prefeito também tem o aval, remetendo-as à esfera pública de discussão. O Judiciário também exerce papel de extrema importância, enquanto, acompanhando o processo, pode ser chamado para garantir sua continuidade. Processos com essa grandeza exigem equipes qualificadas, dedicadas exclusivamente à condução do Plano Diretor. É necessário investimento em construir um processo de elaboração dos documentos técnicos contando com equipes multidisciplinares, mas também processos de discussão pública que envolvam profissionais especializados para essa tarefa e que conheçam os conteúdos relacionados ao planejamento urbano. Dessa forma, caso haja contratação de profissionais para essa tarefa, deve-se definir uma equipe mínima especializada nos temas de gestão urbana e do planejamento, do direito urbanístico e da participação social. Infelizmente, no Brasil, ainda existe a cultura de pouca importância às atividades de planejamento, gerando estruturas e equipes fracas e restrição de recursos para contratação de consultorias. A experiência da consultoria para processos, e não somente para produtos, tem resultado na melhoria dos quadros técnicos das Prefeituras, sem que esse resultado seja formalmente reconhecido pelos gestores, muitas vezes inexperientes ou pouco habituados ao planejamento territorial. 52 O crescimento das cidades brasileiras de maneira desordenada, sem o devido planejamento, principalmente a partir da segunda metade do século XX, propicia o aumento dos impactos ambientais negativos, tais como o excesso de resíduos sólidos e de ruídos, deterioração da qualidade dos recursos hídricos e o aumento da geração e lançamento de esgotos nos cursos d’água (Mota, 1999). No entanto, é comum no Brasil comentários de que a legislação urbana é moderna, mas, de fato, na sociedade poucos integrantes sabem como funciona todo esse aparato do planejamento urbano e como esses mecanismos podem contribuir para conduzir os centros urbanos para um futuro melhor e mais sustentável, garantindo uma mínima condição de vida aos habitantes (Souza, 2004). Durante a primeira metade do século XX a mudança de um Brasil rural para o urbano caminhou com o desenvolvimento industrial e a crise agrícola. A partir da década de 50, mais da metade da população foi para as cidades, totalizando em torno de 85% dos brasileiros que vivem até hoje. Logo, os municípios não estavam preparados para essa transição, faltando planejamento, estrutura administrativa e até mesmo instrumentos jurídicos para lidar com toda essa modificação. Essa modificação de cenário e falta de planejamento estrutural fizeram surgir a ocupação de espaços, na maioria das vezes sem acesso ao serviço básico, como: educação, lazer, cultura, saneamento básico, saúde e transporte. Ações buscando ordenamento jurídico e administrativo sobre o processo da urbanização vinham se fortalecendo desde 1970, mas apenas em 1988, na Assembleia Nacional Constituinte, é que ocorreu a inclusão da função social da propriedade na DIAGNÓSTICOS DE PROBLEMAS URBANOS AMBIENTAIS: DEFINIÇÃO DE DIRETRIZES E PLANOS DE AÇÃO2 TÓPICO METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 53METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Constituição Federal. O artigo 182 foi o mecanismo formal para a transição de um conceito de propriedade privada, tido como absoluto e incondicional, para o direito público, que privilegia os interesses coletivos, estabelecendo os Planos Diretores como instrumentos para cumpri-lo no âmbito municipal. Mais de uma década se passou e, somente em 2001, os artigos 182 e 183 da Constituição Federal foram regulamentados pelo Estatuto da Cidade (lei 10.257), que garantirá o direito a cidades sustentáveis, com participação social nas decisões, cooperação entre o setor público e privado no processode urbanização, planejamento, controle do uso do solo para evitar especulação imobiliária, preocupação com impactos ambientais, mecanismos para o Estado recuperar investimentos em infraestrutura que valorize terrenos e imóveis privados, regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por pessoas de baixa renda. Com o estabelecimento do Estatuto das Cidades, as gestões municipais ganharam as ferramentas e mecanismos para melhor administrar o seu território, garantir o interesse coletivo sobre o privado e, com a participação da população, construir uma visão de cidade para ser trabalhada através do planejamento. Em 2003, também foi criado no Brasil o Ministério das Cidades, fortalecendo a capacidade do governo federal de planejar e orientar as questões urbanas em âmbito local e regional. Logo após a criação do Estatuto das Cidades (2001) e do Ministério das Cidades (2003), surgiram as políticas nacionais por setores, primeiro a Política Nacional de Habitação (2005), depois a de Saneamento Básico (2007), de Resíduos Sólidos (2010) e a de Mobilidade Urbana (2012). Todas elas exploram em detalhes, atualizam alguns aspectos do Estatuto da Cidade e estabelecem a exigência para os municípios de elaboração de planos setoriais. Em 2015 é lançado o Estatuto da Metrópole, lei que estabelece as diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução das funções públicas de interesse comum, tanto em regiões metropolitanas quanto em aglomerações urbanas instituídas pelos estados, para completar a legislação urbana brasileira. Segundo o Estatuto da Cidade (2001), o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana dos municípios é o Plano Diretor. No entanto, somente o Plano Diretor não garante um bom planejamento, que inclui a integração e a obrigatória compatibilização com os planos setoriais e o planejamento metropolitano no caso do município que faz parte de uma Região Metropolitana ou aglomeração urbana. 54METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Dessa forma, faz-se necessário discutirmos a seguir os diferentes planos de ação e como eles se comunicam. Por exemplo, os Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado deve se comunicar com os Planos Diretores dos vários municípios da Região Metropolitana envolvida, assim como os Planos Setoriais de cada município devem ser compatíveis com seus Planos Diretores. O Plano Diretor é um instrumento de planejamento urbano municipal que apresenta como principal objetivo ordenar o desenvolvimento da cidade do ponto de vista urbanístico, econômico e social. É fundamental para regular a ocupação dos espaços urbanos em benefício da população, estabelecendo estratégias para garantir a qualidade de vida, tornando viável a função social da propriedade urbana (pública e privada). Os demais planos setoriais desenvolvidos pelos municípios devem estar necessariamente compatibilizados com seu respectivo Plano Diretor. O Plano Diretor deve ser criado por municípios com mais de 20 mil habitantes, integrantes de Regiões Metropolitanas e aglomerações urbanas, integrantes de áreas de especial interesse turístico, inseridos em área de influência de empreendimentos com significativo impacto ambiental, etc. Sendo o prazo estabelecido pelo Estatuto da Cidade: cinco anos para os municípios publicarem seus planos, sendo depois adiado para 2008. Os planos devem ser revisados a cada dez anos e, em 2018, se encerrou o prazo mínimo de dez anos para diversos municípios. O não cumprimento dos prazos pelos prefeitos pode resultar em improbidade administrativa, assim como o não atendimento a alguns requisitos do processo, como a participação da população, a publicação dos documentos e informações produzidas e o acesso a isso por qualquer cidadão interessado. Outro plano de ação é o Plano de Mobilidade Urbana, um instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, baseada em princípios como o desenvolvimento sustentável das cidades, equidade no acesso dos cidadãos ao transporte coletivo e uso do espaço público de circulação. Apresenta como diretrizes importantes: a prioridade dos modos de transporte ativos sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual; a mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos (custos externos) dos deslocamentos urbanos, em especial do tráfego rodoviário; além do incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis menos poluentes. Inclui uma visão para a mobilidade urbana do município, com metas de curto, médio e longo prazo. Também é um plano que deve ser feito por municípios com mais de 20 mil habitantes e demais exigidos por lei a terem Planos Diretores. 55METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Essa Lei Federal de Mobilidade Urbana entrou em vigor a partir de janeiro de 2012 e estabeleceu um prazo de três anos para os municípios elaborarem seus planos. Após ser prorrogado para 2018 e logo mais adiado para abril de 2019, conforme estabelecido pela Lei 13.640, de 2018. Igual aos Planos Diretores, precisa ser revisada a cada dez anos. O não cumprimento desta lei impede os municípios de acessar verbas federais para a área de mobilidade, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou o recente Avançar Cidades. Outro instrumento é o Plano Local de Habitação de Interesse Social, aplicado no nível local da Política Nacional de Habitação, que entre suas diretrizes a principal é garantir o direito à moradia digna e o princípio da função social da propriedade, estabelecido na Constituição e no Estatuto da Cidade, além de promover ações coordenadas no território para garantir acesso à moradia e a própria cidade, ser realizado com participação social, garantir atendimento prioritário à população de baixa renda e realizar ações voltadas à ampliação e universalização do acesso à terra urbanizada. Não há um prazo estabelecido para a entrega do plano. Depende do interesse dos municípios de aderir ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. Qualquer município que queira participar do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e acessar recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social pode participar. Os municípios que não realizarem seus Planos Locais de Habitação de Interesse Social não poderão aderir ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social nem ter acesso aos recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. Já o Plano Municipal de Saneamento Básico é um diagnóstico do saneamento básico do município para planejar metas de curto, médio e longo prazo para a universalização do acesso a serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos. É o instrumento de efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, ou seja, é baseado em quatro pilares: abastecimento de água, esgoto sanitário, limpeza urbana e Manejo de Resíduos Sólidos e Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas. Essa Lei Federal de Saneamento Básico tem como principal objetivo a busca pela universalização regular do acesso com segurança e qualidade, promoção da saúde pública, segurança da vida e do patrimônio e proteção do meio ambiente, adoção de tecnologias apropriadas conforme as características locais e regionais, soluções graduais e progressivas, integradas com a gestão eficiente dos recursos hídricos, com sustentabilidade econômica e eficiência. 56METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Todos os municípios brasileiros devem cumprir essa lei. O prazo inicial era dezembro de 2013. No entanto, após diversas prorrogações, a data final seria 31 de dezembro de 2019. Em decorrência do compromisso com o Saneamento Básico, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério das Cidades firmaram um acordo em prol do MeioAmbiente e Saneamento Básico, que consiste em um conjunto de ações em curso a serem estruturadas para atingir metas intermediárias preconizadas pela Lei de Saneamento Básico até o ano de 2020. Visando construir e contribuir para a definição conjunta de ações e programas de grande relevância para o setor de saneamento, o acordo resulta de uma ampla reflexão sobre as tendências e os desafios atuais do saneamento básico no Brasil. O não cumprimento desta lei acarreta o não recebimento de recursos da União para investimentos em saneamento básico aos municípios que tiverem um Plano de Saneamento Básico. O Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é outro instrumento que planeja a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos no nível local. Uma das inovações da lei é que o escopo de planejamento não deve tratar apenas dos resíduos sólidos urbanos (domiciliares e limpeza urbana), mas de uma ampla variedade de resíduos sólidos, conforme descritos no art. 13 da Lei: domiciliares; de limpeza urbana; de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços; dos serviços públicos de saneamento; industriais; de serviços de saúde; da construção civil; agrossilvopastoris; de serviços de transportes e de mineração. O Plano exigido dos municípios deve abranger um diagnóstico do tratamento dos resíduos gerados, definir diretrizes, metas e estratégias a serem alcançadas, incluindo desde a geração dos resíduos até a disposição final adequada, tendo como prioridade soluções capazes de minimizar os efeitos negativos para o ambiente. Todos os municípios acima de 20 mil habitantes devem elaborar o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. O prazo para a elaboração foi julho de 2018 para capitais e municípios de região metropolitana, julho de 2019 para municípios com mais de 100 mil habitantes, julho de 2020 para municípios entre 50 e 100 mil habitantes e julho de 2021 para municípios com menos de 50 mil habitantes. Os municípios que não realizarem sua elaboração ficam impedidos de acessar recursos ou incentivos da União destinados a serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos. O Plano de Resíduos Sólidos pode estar inserido no Plano de Saneamento Básico caso considere o conteúdo mínimo previsto na lei. 57METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Outro instrumento é o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado, estabelecido pelo Estatuto da Metrópole para definir as diretrizes de desenvolvimento urbano das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas brasileiras. Esse instrumento estabelece as bases de atuação conjunta entre estados e municípios nesses territórios. Ao propor uma governança inter federativa, institui-se a gestão compartilhada de funções públicas de interesse comum, visando tornar serviços urbanos mais eficientes e capazes de atender mais pessoas. A criação de um plano de desenvolvimento integrado não isenta os municípios de elaborarem seus respectivos planos diretores. Além disso, os planos diretores locais devem ser obrigatoriamente compatibilizados com o plano de desenvolvimento integrado. O Estatuto da Metrópole, que entrou em vigor em 2015, estabeleceu o prazo de três anos para a entrega do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado. Recentemente, este prazo foi alterado para 2021. Além disso, todas as Regiões Metropolitanas e aglomerações urbanas brasileiras, de maneira cooperada entre Estados e Municípios, devem elaborar o plano. Uma medida provisória publicada em 2018 adiou os prazos de entrega e retirou as possíveis sanções de improbidade administrativa por omissão de governadores que não tomassem as medidas cabíveis para elaborar os planos. Como se pode observar, os desafios de planejamento e a complexidade das exigências para os municípios são grandes. Embora não haja um método consolidado sobre como fazer a integração entre esses instrumentos de planejamento, é fundamental que todos apontem para uma visão comum de desenvolvimento, estabelecida de forma democrática e participativa, visando uma cidade mais equitativa, que promova o desenvolvimento social e econômico de maneira eficiente e sustentável. Ainda que isso seja obrigatório, é importante ressaltar que um bom planejamento necessita de uma compatibilização entre todos os planos, especialmente o Plano Diretor, que ordena e orienta o desenvolvimento em todo o território municipal. Algumas dificuldades são comuns a muitas cidades, como falta de equipe dedicada, de recursos técnicos e financeiros, de dados, dificuldades políticas e de trabalhar com uma legislação complexa. Mas uma delas se sobressai: a ausência de uma cultura de planejamento, capaz de orientar as ações e investimentos para curto, médio e longo prazo. As urgências cotidianas das cidades acabam consumindo os recursos e orientando as ações das administrações municipais em detrimento de políticas e medidas estratégicas mais duradouras. As sistemáticas prorrogações de todos os prazos apresentados anteriormente 58METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 são um indicativo desse cenário de dificuldades e de pressão para a flexibilização das exigências. Muitos municípios carecem de um planejamento a longo prazo que ultrapasse mandatos, assim como uma integração maior entre as secretarias, que deveriam trabalhar juntas em muitos casos. O planejamento urbano deve orientar os investimentos e o crescimento, que precisam ser baseados em estratégias setoriais integradas, definidas com a participação de toda a sociedade. São desafios que o Brasil precisa enfrentar agora para evitar que essa falta de cultura de planejamento se perpetue e as cidades continuem crescendo de forma desordenada e ineficiente. Só assim o país terá cidades economicamente prósperas, socialmente justas e ambientalmente sustentáveis. Entre os critérios mais importantes de avaliação da sustentabilidade urbana estão os indicadores de desempenho ambiental. Indicadores da qualidade ambiental urbana, principalmente em associação com outros indicadores de qualidade de vida como os referentes à infraestrutura urbana, características demográficas e socioeconômicas, podendo ainda representar uma enorme contribuição no controle dos problemas ambientais e também auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas ligadas a diversos assuntos (Gehl, 2013). 59 Em 1988, o senador Pompeu de Sousa (1914 - 1991) propôs a criação do Estatuto da Cidade como projeto, apresentado no plenário do Senado, em junho de 1989, aprovado e remetido à Câmara Federal no ano seguinte. No entanto, esse projeto só saiu da gaveta quando o então deputado e ex-senador Inácio Arruda assumiu a presidência da Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior, em 1999, sendo aprovado apenas em 2001, mais de 12 anos depois – e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 10 de julho do mesmo ano. O Estatuto da Cidade hoje é a denominação oficial da lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Foi criada para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Brasileira, que tratam da política de desenvolvimento urbano (planejamento participativo) e da função social da propriedade (Brasil, 2001). A União regulamentou as disposições constitucionais acerca de desenvolvimento urbano com base em competência prevista na própria constituição. O Estatuto da Cidade é uma forma de buscar a democratização da gestão das cidades brasileiras mediante instrumentos de gestão, no qual podemos destacar o Plano Diretor, instrumento obrigatório para toda a cidade com mais de 20 mil habitantes ou aglomerados urbanos. O principal objetivo da utilização dos instrumentos de gestão expostos pelo Estatuto da Cidade é a efetivação dos princípios constitucionais de participação popular da comunidade da cidade e da garantia da função social da propriedade, que se constitui na proposição de uma nova interpretação para o princípio individualistado Código Civil, entre outros princípios. ESTATUTO DAS CIDADES: CONCEITOS E CONTEÚDO3 TÓPICO METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 60METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 A função social da propriedade é uma das questões mais polêmicas e essenciais elencadas pelo Estatuto. Conforme essa lei, é dever do município a promoção e controle do desenvolvimento urbano conforme a legislação urbanística e a fixação das condições e prazos para o parcelamento, edificação ou utilização compulsória da propriedade (ou do solo), sendo não edificado, subutilizado ou não utilizado. O Estatuto da Cidade é dividido em cinco capítulos a seguir: I - Diretrizes Gerais (artigos 1º a 3º); II - Dos instrumentos da Política Urbana (artigos 4º a 38); III - Do Plano Diretor (artigos 39 a 42); IV - Da Gestão Democrática da Cidade (artigos 43 a 45); e V - Disposições Gerais (artigos 46 a 58). O primeiro capítulo do Estatuto refere-se às diretrizes gerais para a execução da política urbana, pelo qual o objetivo é ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Quando tratamos da execução da política urbana, podemos destacar a gestão democrática, cooperação entre governos, planejamento das cidades e a garantia do direito a cidades sustentáveis, dentre as diretrizes gerais. Em seguida, o Estatuto trata dos instrumentos da política urbana, como: o plano diretor, disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo, zoneamento ambiental, plano plurianual, gestão orçamentária participativa, diretrizes orçamentárias e orçamento anual, etc. A partir do Estatuto da Cidade, uma série de instrumentos foram criados para a cidade poder buscar seu desenvolvimento urbano, sendo o principal deles o plano diretor, que proporciona a articulação da implementação de planos diretores participativos, definindo uma série de instrumentos urbanísticos que têm no combate à especulação imobiliária e na regularização fundiária dos imóveis urbanos. Além do Estatuto, definir uma nova regulamentação para o uso do solo urbano, ele também prevê a cobrança de IPTU progressivo de até 15% para terrenos ociosos, ou seja, inocupados, a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a aumentar a oferta de lotes, a recuperação e a proteção do meio ambiente urbano (Brasil, 2001). Ao analisarmos a literatura, o Estatuto da Cidade pode gerar benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao estimular a instalação da população de baixa renda em 61METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 áreas dotadas de infraestrutura, evitando, assim, a ocupação de áreas consideradas ambientalmente frágeis, como encostas de morros, zonas inundáveis e mangues. O Estatuto propõe como diretriz para as prefeituras a adoção de medidas ambientalmente sustentáveis para o planejamento urbano e prevê normas, como a obrigatoriedade de estudos de impacto urbanístico para grandes obras, por exemplo, a construção de shopping centers. Além de listar entre os instrumentos do planejamento a gestão orçamentária participativa (Brasil, 2001). 62 Conforme o Estatuto da Cidade (Brasil, 2001, artigo 40), o Plano Diretor é “o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”, obrigatório para municípios com mais de 20 mil habitantes, que sejam integrantes de área de especial interesse turístico ou área em que haja atividades com significativo impacto ambiental, que queiram utilizar de edificação, parcelamento, ou utilização compulsórios de imóvel. O Estatuto da Cidade estabeleceu um prazo de cinco anos para os municípios encaixados nas especificações descritas desenvolverem seus Planos Diretores. No entanto, devido à grande complexidade de todo processo, muitos municípios não cumpriram o prazo de cinco anos dado pelo Estatuto para criarem seus planos diretores. Logo, diante do exposto, foi promulgada a lei 11.673 em 2008, adiando o fim do prazo para 30 de junho de 2008. O Estatuto requer que o Plano Diretor delimite ao menos as áreas em que se poderão aplicar (Brasil, 2001, Art. 42): • Parcelamento, edificação e utilização compulsória de imóvel; • Direito de preempção; • Direito de outorga onerosa do direito de construir; • Direito de alterar onerosamente o uso do solo; • Operações urbanas consorciadas; • Direito de transferir o direito de construir. O PLANO DIRETOR SOB A ÓTICA DO ESTATUTO DA CIDADE E A ABORDAGEM DE INTERVENÇÃO URBANA PELA ENGENHARIA AMBIENTAL4 TÓPICO METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 63METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Em relação ao parcelamento, edificação e utilização compulsória, o Plano Diretor de um município pode estabelecer coeficientes de aproveitamento para certas áreas da cidade (Brasil, 2001, Art. 28). O administrador público pode exigir, por meio de lei específica, que o proprietário que tenha imóvel subutilizado, ou seja, com ocupação inferior ao coeficiente (Brasil, 2001, Art. 5º, parágrafo 1º), realize o parcelamento, edificação ou a utilização deste imóvel. Assim, o proprietário deve ser notificado da subutilização pela prefeitura e, no prazo máximo de um ano, apresentar projeto de utilização para enquadrar-se no Plano Diretor. Após a apresentação do projeto, este deve ser iniciado em até dois anos (Brasil, 2001, Art. 5º, parágrafo 4º), podendo ser excepcionalmente realizado em etapas. Caso não ocorra a adequação da propriedade conforme estabelecido pela Lei, o município poderá aumentar progressivamente a alíquota do IPTU sobre o imóvel nos próximos cinco anos, não podendo cobrar mais do que o dobro exigido no ano anterior, até o teto de 15% (Brasil, 2001, Art. 7º). Se as determinações feitas pela prefeitura em relação ao imóvel subutilizado não forem cumpridas pelo proprietário, este poderá tê-lo desapropriado, sendo indenizado com títulos da dívida pública, no regime de precatórios (Brasil, 2001, Art. 8º). Caso o município tenha interesse especial em adquirir imóveis em determinada região, poderá delimitá-la em lei específica e, nos cinco anos seguintes, terá direito de preempção, ou seja, preferência na compra de qualquer imóvel que seja vendido naquela área. Sendo que a lei poderá ser reeditada após um ano do esgotamento da vigência da anterior (Brasil, 2001, Art. 25 e 26). Em relação à usucapião especial de imóvel urbano, foi criada uma espécie nova de usucapião pelo legislador, exigindo menor prazo prescricional do que a usucapião comum, regida pelo código civil: 5 anos, em vez de 15 (Brasil, 2001, Art. 9, Código Civil, 2002, Art. 1.238). Também foi criada a modalidade usucapião especial coletiva, com o intuito de oferecer maior segurança aos moradores de favela, através do qual uma coletividade adquire a titularidade de uma área, cabendo a cada indivíduo uma fração ideal, a exemplo do que acontece com o condomínio (Brasil, 2001, Art. 10). A intervenção urbana é um processo de mudança, que na maioria das vezes ocorre nos grandes centros urbanos, com objetivo de trazer soluções para atender novas exigências do bem-estar da vida cotidiana, bem como aos novos padrões estéticos que surgem, recuperar uma cidade e resolver as mudanças de padrão da sociedade, sejam elas 64METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 culturais ou demográficas. É fundamental que as propostas de intervenção sigam a legislação ambiental pertinente e colaborem para a manutenção do equilíbrio no ecossistema local. As intervenções, quando sugeridas, envolvem linhas de atuação diferentes conforme o cenário, tipo de modificação e/ou alteração do ambiente natural, necessidades e localização da área onde elas serão aplicadas. Temos como exemplos de intervenções o zoneamento, a recuperação de áreas degradadas, sistema viário entre outras, ambas diferentes entre si, no entanto, complementares. Os parâmetros de definição das zonaspodem ser as características ambientais, o adensamento populacional e o nível de carência de infraestrutura urbana. Por meio do zoneamento do território, é possível identificar diversas áreas e suas diferentes funções sociais enquanto uso do solo urbano, dentre elas estão as zonas de preservação ambiental e Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Art. 101 - As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são porções do território que devem receber tratamento diferenciado para viabilizar ações de urbanização, regularização fundiária, habitação e permitir a melhoria das condições para a permanência da população local (Belém, 2008, p. 66). A Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) consiste em devolver o equilíbrio para determinado ecossistema que sofreu impactos negativos de atividades antrópicas. A realização de Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) consistem na solução técnica adequada e consolidada para o ramo da mineração, porém vêm sendo empregados atualmente em várias outras atividades, abrangendo diretamente os aspectos referentes ao solo e vegetação e indiretamente ao ar, água, fauna e os benefícios humanos (Attanasio et al., 2006). As etapas do PRAD são: • Planejamento: zoneamento, levantamento em campo, geoprocessamento, inspeção ambiental (fotos, inventário físico, químico e biológico); • Pesquisas e decisões sobre as medidas corretivas e preventivas; • Execução: recuperação do solo, plantio de espécies, entre outros; • Preparo do solo: recomposição topográfica, diminuição da erosão, adubação verde, calagem (aplicação de calcário e correção do pH); • Monitoramento: avaliação de efeitos das medidas mitigadoras. Os projetos de intervenção urbana são estudos técnicos essenciais para promover o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de 65 Conforme a Confederação Nacional de Municípios (2015, p.13): É papel do prefeito iniciar o processo de elaboração e revisão do Plano Diretor. Cabe aos Poderes Legislativo e Executivo municipais a obrigação de convocação de audiências públicas com os vários segmentos da comunidade, bem como a garantia do acesso público a qualquer documento, informação, além da publicação de todas as etapas de elaboração e revisão do Plano Diretor. A elaboração e a revisão do Plano Diretor são construídas de forma articulada com a equipe técnica e política da Prefeitura, Câmara de Vereadores e Sociedade Civil. O Plano Diretor é construído de forma participativa. SAIBA MAIS REFLITA Segundo comenta José Afonso da Silva (2000, p. 93): O Plano Diretor é um instrumento que elabora os objetivos a serem alcançados, o prazo em que estes devem ser atingidos (muito embora o plano, em geral, não precise fixar prazo no que concerne às diretrizes básicas), as atividades a serem implementadas e quem deve executá-las. É diretor por fixar as diretrizes do desenvolvimento urbano do município. É por meio do plano que se define o melhor modo de ocupar um município ou região, prever as áreas onde se localizarão os pontos de lazer, as atividades industriais e todos os usos do solo, não somente no presente, mas também no futuro. Isso permitirá a consolidação de valores com vista à qualidade de vida urbana. METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 transformação. São necessários em crises nas áreas urbanas, nas quais os governos encontram dificuldades para entregar, a uma população crescente, serviços urbanos básicos, como habitação e transporte de qualidade. Elaborados pelo poder público e originados a partir de premissas do Plano Diretor, projetos de intervenção urbana têm a finalidade de sistematizar e criar mecanismos urbanísticos que possibilitam o melhor aproveitamento da terra e a infraestrutura urbana, aumentando as densidades demográficas e construtivas, além de proporcionar o desenvolvimento de novas atividades econômicas, como: geração de empregos, produção de habitação de interesse social e equipamentos públicos para a população. Esses projetos podem ser desenvolvidos a partir da definição dos eixos de estruturação da transformação urbana, pela rede hídrica e ambiental e pela rede de estruturação local. Essas são as áreas fundamentais para o reordenamento social e econômico da cidade e onde, em âmbito local, são necessários projetos urbanos que integrem e garantam a qualidade das intervenções feitas para a renovação de sua infraestrutura. 66 Sabemos que diversos municípios necessitam de um planejamento a longo prazo que ultrapasse mandatos, assim como uma integração maior entre as secretarias, que deveriam trabalhar juntas em muitos casos. O planejamento urbano deve orientar os investimentos e o crescimento, que precisam ser baseados em estratégias setoriais integradas, definidas com a participação de toda a sociedade. São desafios que o Brasil precisa enfrentar agora para evitar que essa falta de cultura de planejamento se perpetue e as cidades continuem crescendo de forma desordenada e ineficiente. Só assim o país terá cidades economicamente prósperas, socialmente justas e ambientalmente sustentáveis. Entre os critérios mais importantes de avaliação da sustentabilidade urbana estão os indicadores de desempenho ambiental. Indicadores da qualidade ambiental urbana, principalmente em associação com outros indicadores de qualidade de vida, como os referentes à infraestrutura urbana, características demográficas e socioeconômicas, podendo ainda representar uma enorme contribuição no controle dos problemas ambientais e também auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas ligadas a diversos assuntos. CONSIDERAÇÕES FINAIS METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 67 LEITURA COMPLEMENTAR FREITAS, E. L. H. de; BUENO, L. M. de M. Processos participativos para elaboração de Planos Diretores Municipais: inovações em experiências recentes. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 10, n. 2, p. 304 - 321, maio/ ago., 2018. METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 68 MATERIAL COMPLEMENTAR • FILME/VÍDEO • Título: 74 Metros Quadrados. • Ano: 2012. • Sinopse: É um documentário que retrata a travessia das líderes de 150 famílias em Valparaíso para conseguir a casa própria. A equipe liderada pela direção de Tiziana Panizza e Paola Castillo acompanhou essas mulheres durante sete anos, abordando o tema da integração social no novo bairro, as divisões na comunidade e os desastres provocados pelas chuvas nas novas residências. • “Iselsa e Cathy decidiram fazer parte de um projeto único, desenhando por líderes da arquitetura social, que lhes entregarão sua casa própria integrada a um bairro de classe média. O documentário observa o processo durante 7 anos: a falta de recursos, a integração a um bairro que os rejeita, problemas na construção e o desastre provocado pelas chuvas de inverno. O desafio ainda mais difícil será superar a divisão da comunidade” (Archdaily, 2020). • LIVRO • Título: Planejamento Urbano. • Autor: Vanessa Scopel et al. • Editora: SAGAH • Sinopse: Este livro traz as definições e os objetivos aplicados ao planejamento ambiental urbano. Entendendo que a busca pelo desenvolvimento sustentável é a chave para o planejamento mais adequado dos centros urbanos a partir da criação e utilização dos instrumentos adequados. METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOSUNIDADE 3 Professora Dr. Claudinéia Conationi da Silva PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICAS4UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 70 Plano de Estudos • Infraestrutura como componente do Plano Diretor - diretrizes básicas. • Intervenção urbana como controle e ordenação do crescimento e componente de saúde ambiental. • Desenho urbano ambiental e morfologia urbana. • O desafio das cidades sustentáveis e a Agenda 21. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar a Infraestrutura como componente do Plano Diretor, enfatizando as diretrizes básicas.• Compreender a diferença dos conceitos de planejamento urbano e desenho urbano. • Estabelecer a importância das cidades sustentáveis e a Agenda 21. • Entender como a construção de cidades mais sustentáveis é um desafio que só pode ser alcançado com base em modelos modernos e inovadores. PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 71 No Brasil, assim como em todos os outros países subdesenvolvidos, as cidades foram crescendo desordenadamente, gerando o aparecimento de alguns problemas, como a degradação do meio ambiente, os longos deslocamentos, a falta de saneamento básico, entre outros aspectos que fazem a política urbana induzir o desenvolvimento inclusivo, sustentável e equilibrado, de modo a corrigir esses problemas históricos. Dessa forma, o planejamento urbano deve ir além dos aspectos físicos e territoriais, visualizando e considerando o ordenamento do território como um meio para cumprir objetivos com proporções maiores, como: garantia do direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações, entre outros. Devemos visualizar os centros urbanos não somente como espaços que promovam a circulação eficiente de pessoas e mercadorias, mas também como ambientes de enriquecimento cultural, em que as atividades humanas possam ser integradas em torno dos pilares do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida. INTRODUÇÃO PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 72 A INFRAESTRUTURA COMO COMPONENTE DO PLANO DIRETOR - DIRETRIZES BÁSICAS1 TÓPICO PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 No Brasil, como já estudamos nas unidades anteriores, as bases para o planejamento das cidades estão estabelecidas no Estatuto da Cidade (lei 10.257/2001). O Estatuto da Cidade pode ser considerado a principal Lei para o marco legal do desenvolvimento das cidades, junto à Constituição de 1988, de onde originam seus princípios e diretrizes fundamentais. Estabelecendo as normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem-estar dos cidadãos, da segurança, do bem coletivo, bem como do equilíbrio ambiental. O Estatuto da Cidade, no seu artigo 2º, dispõe que “a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana” (Brasil, 2001). Essa colocação nos remete a duas situações: a propriedade urbana, embora privada, deve ter uma função social, por exemplo, o dono de um terreno baldio tem o direito de fazer dele o que preferir, no entanto, se a região onde o terreno se encontra for exclusivamente residencial, é legítimo que o poder público fixe a obrigação de que apenas moradias sejam instaladas ali. Com isso, a propriedade continua sendo privada, porém, sua função social será garantida pela exigência que a lei impõe sobre seu uso. No Brasil, assim como em todos outros países subdesenvolvidos, as cidades foram crescendo desordenadamente, gerando alguns problemas, como a degradação do meio ambiente, os longos deslocamentos, a falta de saneamento básico, entre outros, fazendo da política urbana induzir o desenvolvimento inclusivo, sustentável e equilibrado, de modo a corrigir esses problemas históricos. Dessa forma, o planejamento urbano deve ir além dos 73PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 aspectos físicos e territoriais, enxergando e considerando o ordenamento do território como um meio para cumprir objetivos com proporções maiores, como, por exemplo: • Garantia do direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; • Oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais; • Evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente. É a partir desse ponto que o plano diretor é introduzido como ferramenta central do planejamento de cidades no Brasil. Conforme os artigos 39º e 40º do Estatuto da Cidade, o plano diretor é “o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. É ele quem deve promover o diálogo entre os aspectos físicos, territoriais e os objetivos sociais, econômicos e ambientais que temos para a cidade, devendo ter como objetivo a distribuição dos riscos e benefícios da urbanização, induzindo um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável. A importância legal atribuída a esse instrumento fica ainda mais evidente quando consideramos três fatores: 1) Legalidade: o plano diretor é um instrumento estabelecido na Constituição Federal de 1988, regulamentado pelo Estatuto da Cidade. Os demais instrumentos de planejamento de governo, o plano plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual, devem incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. 2) Abrangência: o plano diretor deve abranger o território do município todo. Não está restrito a bairros ou partes específicas da cidade. 3) Obrigatoriedade: sua realização é obrigatória para municípios com mais de 20 mil habitantes, o que significa afirmar que para quase ⅓ (31,6%) dos municípios brasileiros o plano diretor não é uma opção, é uma obrigação. Mais importante ainda, significa afirmar que pelo menos 84,2% da população do país vive em municípios que, em tese, deveriam ter seu desenvolvimento econômico, social e ambiental regido por um plano diretor (Braga, 1995). Assim, cabe destacar que o Estatuto da Cidade mantém a divisão de competências entre os três níveis de governo (Federal, Estadual, Municipal), concentrando na esfera municipal as atribuições de legislar em matéria urbana. 74PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 O plano diretor é uma lei municipal, elaborada pelo poder executivo (Prefeitura) aprovada pelo poder legislativo (Câmara de Vereadores), que estabelece regras, parâmetros, incentivos e instrumentos para o desenvolvimento da cidade, atuando em sentidos diferentes, porém complementares: 1 - Obrigando aos privados (empresas, cidadãos) o cumprimento de certas exigências (por exemplo, restringindo os usos permitidos para os terrenos ou imóveis). 2 - Incentivando ou induzindo os privados a tomarem certas ações (por exemplo, estabelecendo incentivos tributários para a instalação de empresas em certos locais). 3 - Comprometendo o poder público municipal a realizar investimentos, intervenções urbanas e afins (por exemplo, ampliando a infraestrutura urbana ou a oferta de equipamentos públicos em determinadas regiões). Para a elaboração dos planos diretores, existe um guia basilar publicado pelo próprio Ministério das Cidades que estabelece uma série de etapas para sua elaboração, priorizando a participação social durante todo o processo. Inicia-se com o estabelecimento de um núcleo gestor, com participação de lideranças dos diferentes segmentos da sociedade (governo, empresas, sindicatos, movimentos sociais), segue com a realização de uma leitura (tanto da perspectiva técnica quanto da perspectiva comunitária) da cidade como é hoje, passa à elaboração e discussão de uma minuta de lei e, finalmente, a aprovação na Câmara Municipal. Nesse ponto, é importante considerarmos dois aspectos centrais do plano diretor: o político e o democrático. Em relação ao aspecto político, é preciso equilibrar aspectos políticos e técnicos, pois planejar é fazer política. Um plano tecnicamente bom pode ser politicamente inviável, e um plano politicamente justo pode ser tecnicamente impraticável. Vivemos em uma democracia, em que aspectos técnicos sempre passam por uma discussão política (Carvalho, 2001). Já no aspecto democrático, como o próprio nome diz, o plano diretor é considerado um instrumento democrático, uma vez queconjectura a realização de audiências públicas abertas, com ampla participação da comunidade. A comunidade deve ser convocada a participar do debate sobre a cidade que os moradores almejam. Como o Plano Diretor é o instrumento básico de planejamento do município, que estabelece as bases para uma cidade inclusiva, equilibrada e sustentável para promoção da qualidade de vida a todos os seus cidadãos, reduzindo os riscos do crescimento desordenado e distribuindo justamente os custos e benefícios da urbanização, além de fornecer transparência para a política de planejamento urbano, ao instituí-la em forma de lei, os demais planos devem estar em perfeita harmonia e compatibilidade com ele. A 75PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 eficácia da aplicação do plano diretor e a efetividade dependem da integração com alguns instrumentos, como: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O PPA é um instrumento de planejamento orçamentário que determina, de forma regionalizada, diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública municipal para as despesas de capital e outras decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. É um plano que possibilita a visualização daquilo que o governo se propõe a fazer a médio prazo, cuja realização está vinculada ao uso de recursos orçamentários. Esse é um plano elaborado e proposto pelo Poder Executivo, cujo prazo de abrangência é de quatro anos, sendo que sua elaboração e apresentação à câmara municipal ocorrem sempre no primeiro ano de mandato do prefeito, até o dia 31 de agosto, exceto se a Lei Orgânica do Município (LOM) dispuser outra data. A vigência do PPA tem início no segundo ano de mandato e se estende por mais três exercícios. A LOM atua como uma Constituição Municipal, sendo considerada a lei mais importante que rege os municípios e o Distrito Federal. Cada município brasileiro pode determinar as suas próprias leis orgânicas, desde que estas não infrinjam a constituição e as leis federais e estaduais. No PPA deve constar diagnóstico da situação encontrada pelo governo. As diretrizes, metas e objetivos devem ser apresentados claramente, de tal modo que possibilitem interligar as diretrizes e objetivos do Plano Diretor, para que ele seja compatível com o Estatuto das Cidades. A LDO também é um instrumento de planejamento orçamentário que engloba as metas e prioridades da Administração Pública municipal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientando a elaboração da LOA e dispondo sobre as alterações na legislação tributária. É uma lei de iniciativa do Poder Executivo, devendo ser encaminhada à câmara municipal a cada ano até o dia 15 de abril, segundo o inciso II, do § 2º, do artigo 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (Brasil, 1988). No entanto, é aconselhável, a exemplo do PPA, verificar o prazo estabelecido na LOM. O prazo de abrangência da LDO é contado a partir da sua aprovação para as ações envolvendo orientações para a elaboração da LOA, e do dia 1º de janeiro até 31 de dezembro do exercício financeiro seguinte à sua aprovação, no que se refere às orientações para execução orçamentária e financeira e à realização de metas e prioridades (CEPAM, 2005). O projeto de LDO, a ser encaminhado para a câmara municipal, é constituído pelos seguintes documentos: Mensagem; Projeto de lei; Anexo de Metas Físicas e Prioridades; 76PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Anexo de Metas Fiscais; Anexo de Riscos Fiscais. No aspecto que envolve o Plano Diretor direta ou destacam-se indiretamente as seguintes previsões: metas físicas de curto prazo (um ano); resultados fiscais (composto de receitas); despesas; resultado primário; resultado nominal; saldo da dívida pública. Conforme os resultados fiscais apresentados pelo município, as diretrizes e objetivos do Plano Diretor são afetados, pois pode haver um maior ou menor nível de investimentos no período. Já a LOA é a lei que estima as receitas e fixa as despesas para determinado exercício. Também é de iniciativa do Executivo e tem o prazo para apresentação do projeto à câmara municipal, estipulado até o dia 31 de agosto de cada exercício financeiro, conforme dispõe o inciso I, do § 2º, do artigo 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A exemplo do PPA e da LDO, a LOM necessita ser consultada, pois poderá ter definido outro prazo. Geralmente, o Regimento Interno da Câmara Municipal prevê que a sua aprovação se dará até meados do mês de dezembro, antes do início do recesso parlamentar, valerá por todo o ano seguinte (CEPAM, 2005). A Proposta da LOA é composta pelos seguintes documentos: Mensagem; Projeto de Lei; anexos relativos à receita pública e anexos relativos à despesa pública. A estimativa das receitas e a autorização das despesas na LOA são mais detalhadas que nos planos que deram suporte à sua apresentação (PPA e LDO). Na LOA, as despesas são agrupadas detalhadamente, chegando até o nível de ações que serão realizadas, discriminando as despesas por grupo da seguinte maneira: pessoal e encargos sociais; juros e encargos da dívida; outras despesas correntes; Investimentos; Inversões financeiras; Amortização da dívida (CEPAM, 2005). É possível observar que as despesas fixadas na LOA são destinadas à manutenção e conservação dos serviços já existentes e à criação, expansão e aprimoramento da ação governamental, com base nas diretrizes, objetivos e metas aprovadas no PPA e na LDO, isto é, despesas diretamente relacionadas com a execução do Plano Diretor e despesas do dia-a-dia, ou seja, corriqueiras. Para averiguar a integração do Plano Diretor à LOA, é preciso analisar se algumas despesas, em especial aquelas referentes aos investimentos, são compatíveis com suas diretrizes e objetivos. As despesas são apresentadas nas LOAs através dos Anexos de Detalhamento. A convergência entre as estruturas do PPA, da LDO e da LOA, no caso das despesas, é feita a partir do programa que representa o elo integrador entre os instrumentos do sistema orçamentário. Essa identificação destina os programas do sistema orçamentário às diretrizes e aos objetivos do Plano Diretor. 77 INTERVENÇÃO URBANA COMO CONTROLE E ORDENAÇÃO DO CRESCIMENTO E COMPONENTE DE SAÚDE AMBIENTAL2 TÓPICO PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Quando pensamos em intervenção nos centros urbanos, não imaginamos apenas avaliar o patrimônio e a herança histórica, o caráter funcional e a posição relativa na estrutura urbana, mas, sobretudo, verificar o porquê de se fazer necessária a intervenção. A ideia da intervenção é sustentada na identificação do processo de deterioração urbana, devido ao rápido crescimento demográfico e expansão das cidades sem o devido planejamento. Deterioração e degradação urbana são causas quase sempre relacionadas à perda de sua função, ao dano ou à ruína das estruturas físicas, ou ao rebaixamento do nível do valor econômico de determinado lugar. Deteriorar é o mesmo que estragar, piorar e inferiorizar. Já a degradação significa desmoronamento, aviltamento e rebaixamento. Em relação aos espaços degradados, acontece quando, além das estruturas físicas, também se observa o efeito da mesma situação nos grupos sociais, o que enxergamos como a condição de empobrecimento e de marginalização. Esse processo de degradação intensificou-se após a década de 50, causado, principalmente, pelo crescimento e expansão do espaço urbano. Ao mesmo tempo, em que as atividades se intensificam nos grandes centros, a concorrência por outros locais aumenta e tornam-se mais interessantes para morar e viver. No entanto, isso leva ao surgimento de atividades de menor rentabilidade, informais e, por vezes, ilegais e praticadas por usuários e moradores com menor ou quase nenhum poder aquisitivo. Como resultado, a arrecadação de impostos éreduzida e o poder público diminui a sua atuação nos serviços de limpeza e segurança públicas (Balsas, 2000; Garay, 2003). 78PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Os efeitos causados pela degradação afetam diversas pessoas, de maneiras diferentes, segundo seus respectivos interesses e circunstância local. Logo, uma maneira para amenizar os problemas causados pela deterioração e principalmente pela degradação é a intervenção urbana. As intervenções urbanas realizadas com o propósito de conter esse processo têm mostrado diferentes estratégias e objetivos com resultados, muitas vezes, surpreendentes, inesperados ou até mesmo nem atingem os objetivos iniciais, nos levando a pensar qual a importância da recuperação dos centros urbanos. Significa nada mais que recuperar e melhorar a imagem da cidade, que, ao longo da sua história, cria um espírito de comunidade e pertencimento, promover a reutilização de seus edifícios, alcançando valorização do patrimônio construído, otimizar o uso da infraestrutura estabelecida, dinamizar o comércio com o qual tem uma relação de origem, gerar novos empregos. Enfim, a intervenção urbana visa implementar ações buscando atrair investimentos, moradores, usuários e turistas que incentivam a economia urbana, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, valorizando também a gestão urbana que executa a intervenção. A seguir são elencados alguns motivos e suas respectivas características pelo qual a recuperação dos centros das cidades acontece, por meio da intervenção urbana: Referência e identidade: Os centros têm um papel essencial quanto à identidade e à referência de seus cidadãos e visitantes. História urbana: O centro é o lugar onde se encontram as sedimentações e as estratificações da história de uma cidade. Sociabilidade e diversidade: A variedade de atividades e a tolerância às diversidades reforçam o caráter singular dos centros urbanos em relação aos subcentros mais recentes. Infraestrutura existente: Nos centros das cidades, geralmente, há um sistema viário consolidado, saneamento básico, energia e serviços de telefonia, transporte coletivo, equipamentos sociais e culturais de diversas naturezas. O descarte dessa infraestrutura, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, é injustificável. Mudanças nos padrões sociodemográficos: Alterações como maior expectativa de vida e consequente envelhecimento da população; redução do número de componentes da família; ampliação do trabalho feminino, entre outros aspectos, facilitam e reconduzem ao retorno de habitações nas áreas centrais. Deslocamentos pendulares: Estatisticamente, o centro de muitas cidades ainda concentra um maior número de postos de emprego. O retorno do uso residencial para o centro diminui sensivelmente a necessidade de movimento pendular diário moradia-trabalho. Distribuição e abastecimento: Durante muitas décadas, vem ocorrendo a dispersão locacional dos negócios. Em diversas escalas, entretanto, os centros ainda retêm uma parcela da distribuição de bens e serviços (Vargas; Castilho, 2015, p. 5, adaptado). 79PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Por todo o século XX e, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), surgem os questionamentos sobre a vida urbana e, como consequência, sobre a atividade nos centros urbanos. Conforme a literatura, o processo de intervenção em centros urbanos é marcado por três períodos principais: Renovação Urbana, relativo às décadas de 50 e 60; Preservação Urbana, desenvolvido nas décadas de 70 e 80; e Reinvenção Urbana, nascido por volta da década de 90 até os dias atuais; bem como Resiliência Urbana, termo que vem ganhando projeção na segunda década dos anos 2000. No entanto, é preciso destacar que esses períodos não são rigorosos em suas delimitações nem separados entre si. Durante o período da Renovação Urbana (1950 - 1970), o processo de intervenção em áreas urbanas assumiu a preferência pelo novo. O ideal de centro urbano era promover e facilitar contatos interpessoais. Durante o período da Preservação Urbana (1970 - 1990), o processo de mudança da fase da renovação para a fase da preservação urbana trouxe consigo a negação do movimento anterior: o modernismo. O estilo internacional fora criado nas bases do socialismo europeu, refletindo a visão de igualdade que tanto incomodava a elite detentora do capital, abastecida do desejo pela diferenciação. A Preservação Urbana foi um período que atribuiu a importância da preservação das vizinhanças e a restauração histórica de edifícios considerados significativos, como os novos símbolos de status e distinção. Ao englobar a preservação e a restauração de edifícios históricos, os projetos do período de 1970 a 1990 aproximaram-se mais da versão europeia de intervenção, fazendo uso nesse processo das antigas estruturas industriais, armazéns, estações de trem, mercados e teatros, introduzindo nesses espaços o comércio e os serviços varejistas, as atividades de lazer e a cultura. Logo, naquele momento, segundo Huyssen (2000, p. 14), iniciava-se o processo da: [...] chamada restauração historicizante de velhos centros urbanos, cidades, museus e paisagens inteiras, empreendimentos patrimoniais e heranças nacionais, a onda da nova arquitetura de museus [...], o boom das modas retrô e dos utensílios reprô, a comercialização em massa da nostalgia, a obsessiva auto-musealização através da câmera de vídeo, a literatura memorialística e confessional, o crescimento dos romances autobiográficos e históricos pós- modernos [...]. A Reinvenção Urbana compreendida nas décadas de 1980 a 2000, é o reflexo de um novo modo de produção (flexível), é um período que mostrava que, através do uso da microeletrônica, era possível criar vantagens extras com a diversidade de produtos, sem 80PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 o sacrifício das vantagens econômicas, respondendo adequadamente ao custo, tempo e qualidade, a demandas diferenciadas de dimensões menores. Além disso, uma imensa diversificação de estilos de vida aparece, na qual se apresentam grupos de todos os tipos, como hippies, vegetarianos, atletas, ambientalistas, entre outros. A revolução nos meios de comunicações, aliada às técnicas mais sofisticadas de indução do consumidor (propaganda), desencadeou uma transformação na relação das atividades econômicas com o território, tornando-as mais independentes do espaço físico, ao mesmo tempo, em que aumentou sensivelmente a visibilidade do território. Essa maior capacidade de comunicação proporcionou ao território transformar-se em mercadoria para ser consumida por cidadãos de alta renda, investidores e turistas, deixando de ser principalmente o locus da produção para ser o locus do consumo. A ideia de cidade, de destino e permanência para o lugar dos fluxos foi mudada pela globalização. Segundo Vargas e Castilho (2015, p. 31): O capital imobiliário e o poder público local tornaram-se grandes parceiros nesse processo. O primeiro foi capaz de criar localizações privilegiadas e induzir à demanda por intermédio da oferta. O segundo buscou a valorização positiva da imagem da cidade para a captação de investimentos externos destinados ao desenvolvimento da economia urbana. Juntos, adotaram o planejamento de mercado e introduziram as técnicas de marketing urbano (city marketing). [...] O exemplo paradigmático desse período foram as obras para os Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona. Além de promover uma completa transformação das suas áreas portuárias deterioradas e abandonadas, tornaram-nas mundialmente conhecidas e cobiçadas por meio da sua divulgação. Durante essa fase da intervenção, o objetivo era recuperar ou até mesmo criar a base econômica das cidades, com o intuito de gerar emprego e renda, preocupação antes do poder central, que se desloca gradualmente para o poder local. Logo, os setores público e privado unem-se, especificamenteos empreendedores imobiliários, a fim de reinventar ou reconstruir o ambiente já construído. No entanto, pode ser atribuída à fase de intervenção, durante 1980 a 2000, a intensificação dos projetos arquitetônicos e urbanísticos como forma de promoção político-partidária, mais um propósito que de alguma forma também esteve presente nos dois períodos anteriores. Entretanto, durante os anos 1980 a 2000, é dada ênfase à gestão urbana, reconhecida como uma política de governo, e ao grande projeto urbanístico como elemento catalisador. Tudo isso devido a algumas ferramentas que foram aperfeiçoadas, e a cidade 81PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 passou a ser pensada como um empreendimento a ser gerenciado, mediante a adoção de princípios do planejamento estratégico e o uso de seu mais eficiente instrumento, o city marketing, ou seja, o marketing da cidade, promovendo, assim, uma cidade ou distrito dentro dela, visando incentivar certas atividades a serem realizadas no local. O marketing da cidade é usado para alterar as percepções externas de uma cidade, a fim de incentivar a atração da migração interna de moradores, o turismo ou permitir a realocação de negócios. Áreas muitas vezes consideradas quase que totalmente desvalorizadas são alvo das atenções do poder público, que se une ao capital imobiliário para a reconquista de tal espaço e melhoria da imagem dos centros das cidades. Edificações industriais desativadas, leitos ferroviários, áreas portuárias e orlas marítimas e de rios são as primeiras eleitas no processo de intervenção. Essas ações sugerem que a arquitetura e o planejamento urbano também se tornaram dirigidos por estratégias de marketing, destinadas a estruturar a mudança da economia urbana de base produtiva para a base do consumo. No entanto, segundo Vargas e Castilho (2015, p. 43): Enquanto a imagem da cidade pode ser um elemento importante para atrair capital e pessoas, em um período de intensa competição urbana, lugares espetaculares e festivais públicos servem também para ofuscar fortes conflitos sociais e desigualdades. A sociedade pós-moderna provê sua população, como os antigos imperadores romanos provinham, de panem et circensus, ou pão e circo, para sustentar a ordem capitalista […]. 82 DESENHO URBANO AMBIENTAL E MORFOLOGIA URBANA3 TÓPICO PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 O planejamento urbano aborda uma série de processos, estudos e até mesmo áreas diferentes, mostrando, sobretudo, como ocorrerá o crescimento de uma cidade. Todo esse detalhamento é fundamental, a fim de promover o bem-estar e segurança de toda a população e impedir o crescimento desordenado da malha urbana. O planejamento urbano está totalmente ligado ao plano diretor. A partir desse pressuposto, é possível traçar diretrizes em relação ao zoneamento, ocupação e expansão da área urbana. Além disso, devemos destacar que o plano diretor não se limita somente ao espaço urbano propriamente dito, já que ele também intervém e delimita o que é o rural. Embora semelhantes, os conceitos de planejamento urbano e desenho urbano são diferentes. Entre as diversas etapas do projeto está o desenho urbano, trata-se de uma atividade que remete muitas dúvidas entre estudantes e até mesmo profissionais. No entanto, isso é até comum, pois até mesmo entre estudiosos não existe um consenso sobre o que é o desenho urbano, em qual estágio do projeto ele surge, entre outras questões. O Desenho Urbano, de forma simples, é um campo de conhecimento multidisciplinar que abrange as áreas de urbanismo, paisagismo e arquitetura. Está diretamente ligado ao planejamento urbano e constitui-se em quatro atividades básicas: 1 - Análise visual da área urbana; 2 - Percepção do meio ambiente; 3 - Identificação do comportamento ambiental; 4 - Composição da morfologia urbana. 83PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Em geral, podemos dizer que o desenho urbano é um estudo que busca a harmonia entre o espaço construído e as interações humanas. É através desse estudo que são levantadas informações que possibilitam identificar qual será a relação das construções com o espaço livre da cidade, permitindo ainda determinar quais são as atividades econômicas do local, o uso social, a relação com o ambiente natural, entre outras características. Assim, o desenho urbano pode ser considerado um instrumento fundamental para a realização de um planejamento urbano das cidades. Desenho urbano é um conceito que originou a partir dos anos 60, porém, para entendermos sua origem, precisamos retroceder ao final dos anos 40. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os países iniciaram a reconstrução de suas cidades com a construção de conjuntos habitacionais, processo este nomeado como planejamento urbano modernista. A Unité d’Habitation de Marseille, de Le Corbusier, um dos mais importantes urbanistas progressistas, Charles-Édouard Jeanneret, é um exemplo. Já que a partir do desenho urbano é possível identificar a relação das edificações com o espaço livre da cidade, uma cidade que apresenta um plano diretor que delimita uma área do município atualmente não ocupada, e que poderá ter destinação de bairro misto (residencial e comercial) urbano, nos próximos anos, por exemplo, é um caso típico da atuação do desenho urbano. É aí que especialistas em arquitetura e urbanismo, a partir da década de 60, começaram a criticar como o planejamento urbano pós-guerra havia sido realizado. A partir desse pressuposto, algumas construções começaram a ser derrubadas, especificamente em áreas de baixa renda, pois o planejamento urbano modernista alegava que a cidade não favorecia o bem-estar da comunidade. Sendo estabelecidos vários parâmetros para o desenvolvimento de cidades que, até hoje, são considerados importantes para vários urbanistas. Foi a partir desse momento que o modelo de intervenção urbana nos EUA e na Europa mudou. Havendo, assim, a necessidade de encontrar um consenso entre a criação de edifícios e obras no geral e o planejamento urbano, referente às suas questões socioeconômicas. Diante desse contexto, nasceu o desenho urbano. Enquanto o planejamento urbano foca no crescimento das cidades e organização dos espaços, os projetos de arquitetura pensam na criação das edificações. Já para a definição do traçado das ruas, bairros, malhas viárias, questões relacionadas ao solo e ao meio ambiente, temos o desenho urbano que ajuda a organizar todos os elementos e oferece segurança, praticidade e bem-estar aos habitantes do local. É o que está acontecendo 84PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 nos últimos anos, grandes cidades estão mudando seu desenho urbano para facilitar a mobilidade urbana ou organizar o trânsito. O desenho urbano pode ser utilizado como um instrumento para minimizar impactos negativos causados no meio ambiente natural, físico e cultural, auxiliando a identificar de que forma novos elementos devem ser incluídos em determinado espaço, sem ameaçar a sua integridade. Sendo assim, ele é considerado parte fundamental do planejamento urbano. Segundo Lang (2005), existem diferentes tipos de desenho urbano: desenho urbano total; desenho urbano all of a piece; desenho urbano piece by piece e desenho urbano plug- in, com as seguintes definições: • Desenho Urbano total é quando uma única equipe controla todo o projeto. Não sendo muito comum no Brasil. • Desenho Urbano all of a piece é um tipo de desenho urbano, em que uma equipe cria um plano geral que orienta a ação dos empreendedores que desejam construir na cidade. • No desenho urbano piece by piece a produção das edificações é feita a partir de centenas ou milhares de decisões individuais, que devem obedecer a um conjunto de normas gerais. Assim, a construção de edificações é controlada por zoneamentos, incentivos e penalidades. • Desenho Urbano plug-in acompanha o conceito da arquitetura urbana, sendo um conjuntoum novo edifício. Planejamento Urbano é o estudo ou profissão que lida com o crescimento e funcionamento de cidades e vilas, incluindo preocupações ambientais, áreas urbanas, infraestrutura, entre outros. Assim, o planejamento busca oferecer aos cidadãos uma vida agradável, segura e organizada, seja ela doméstica e profissional, para os moradores de cidades novas ou já estabelecidas. Atualmente, os aspectos mais preocupantes do planejamento urbano são: o aspecto de uma cidade, a construção de locais, o zoneamento e o transporte. Além disso, uma das preocupações do planejamento é focar na preservação do ambiente natural local, tentando eliminar as áreas degradadas e/ou impedindo seu desenvolvimento. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 9 INTRODUÇÃO E CONCEITOS 1 TÓPICO 1 A palavra planejamento é oriunda do verbo planejar, que significa prever com antecedência um conjunto de ações a serem realizadas. Trata-se de uma organização antecipada de atividades futuras para evitar ou resolver problemas. Em outras palavras, o planejamento urbano nada mais é do que uma atividade que se preocupa em planejar para melhorar a qualidade das cidades. É um conceito que abrange muito mais do que o simples desenhar espaços nas cidades, compreendendo aspectos de infraestrutura, investimentos, leis, zoneamento, impactos sociais do ambiente urbano, entre outros. O planejamento urbano é o processo que lida com o controle e o desenvolvimento das cidades e vilas, por meio de regulamentações locais e intervenções diretas, buscando atender alguns objetivos, como qualidade de vida, sustentabilidade e mobilidade, ou seja, o planejamento urbano é uma parte da arquitetura que estuda a organização de áreas metropolitanas. Devido aos diversos problemas ocasionados pela crescente expansão das cidades sem planejamento, desenvolveu-se essa prática formada por diferentes áreas, desde engenharia até ciências sociais. O planejamento da cidade busca oferecer aos cidadãos uma vida agradável, segura e organizada, seja ela doméstica ou profissional, para os moradores de cidades novas e estabelecidas. Atualmente, os aspectos mais preocupantes do planejamento urbano são: o aspecto de uma cidade, a construção de locais, o zoneamento e o transporte. Além de focar na preservação do ambiente natural local, tentando eliminar as áreas degradadas e/ ou impedindo seu desenvolvimento. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 10 Até a metade do século XIX as cidades metropolitanas eram criadas de maneira dispersa, por exemplo, Londres, Paris e Tóquio iniciaram como pequenas cidades e foram crescendo à medida que as pessoas se mudavam para elas. Dessa forma, como não existia um planejamento, as ruas e os endereços nas partes mais antigas dessas cidades podem ser confundidos, até mesmo pelos nativos, pois foram criados sem a devida reflexão sobre como a área poderia mudar e crescer no futuro. Como as pessoas sempre se instalaram nas cidades ou até mesmo em organizações das cidades, seja em lugares mais altos, buscando alto autodefesa, ou próximo a corpos d'água, pensando na melhor forma de sobrevivência, o final do século XIX é quando o planejamento urbano começou a se desenvolver e, como quase em todas as disciplinas, foi criado para resolver um problema. O governo local, em parcerias com engenheiros e arquitetos, iniciará a busca pela resolução de problemas existentes em áreas urbanas, a fim de impedi-los de se desenvolver em outras novas áreas. Quando uma cidade não é organizada em setores industriais, áreas habitacionais, área hospitalar e escolar, por exemplo, podem existir problemas em relação à saúde e segurança das pessoas que ali residem, como as cidades mais antigas. Apesar da grande dificuldade em encontrar soluções para os diferentes problemas existentes nas cidades, seja muito mais complicado do que planejar uma nova cidade ou área urbana do zero, ambas são situações igualmente importantes da área. No planejamento urbano, a especificação de determinadas áreas em uma cidade, como a localização dos edifícios, zonas residenciais, áreas comerciais e setores industriais, é extremamente importante. Por exemplo, a instalação de um hospital em um local central de uma cidade pode literalmente salvar vidas, enquanto a instalação de uma estação de tratamento de água traria muitos problemas às pessoas ali vizinhas. A criação de um bom planejamento urbano considera todos esses fatores e muitos outros ao determinar os locais para os edifícios e estabelecer as zonas apropriadas de acordo. Além da determinação de todas essas áreas supracitadas, a existência de estradas e rodovias suficientes, assim como o transporte público de fácil acesso, também é uma prioridade do planejamento urbano, por exemplo, para que a equipe de socorristas e policiais seja eficaz, eles precisam conseguir chegar a qualquer lugar da cidade em questão de minutos, dessa forma as estradas devem ser projetadas para tornar a locomoção em qualquer lugar o mais rápido possível, ainda não esquecendo de mencionar que as estações necessitam estar localizadas centralmente e espalhadas por toda a área da cidade. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 11 Os planejadores urbanos geralmente consideram como o crescimento futuro afetará o fluxo de tráfego, assim, prever o crescimento e as necessidades de tráfego para uma cidade grande é extremamente importante. Com essa informação, eles geralmente tentam eliminar possíveis pontos problemáticos antes que se tornem um problema. Com a expansão das cidades e/ou criação de novas, o planejamento para o transporte público também é importante, especialmente à medida que as principais áreas metropolitanas avançam para práticas que visam à sustentabilidade do ambiente. Em relação aos aspectos ambientais, além de garantir a saúde e a segurança dos moradores, o planejamento urbano também considera o aspecto da cidade, desde projetos de construção específicos até a incorporação de espaços verdes e paisagísticos à área, buscando tornar a expansão sustentável e prática. Ao planejar as estradas, a qualidade do ar e a poluição sonora são dois aspectos que podem ser considerados, visando criar empreendimentos habitacionais menores para limitar o impacto que os moradores têm em seu ambiente imediato. Atualmente, cidades recém-planejadas buscam incorporar espaços verdes e o uso de fontes de energia ecologicamente corretas e transporte. O mesmo pode ser pensado pelos gestores ao planejar a expansão das cidades já existentes. A base do planejamento urbano é uma combinação de diferentes áreas, como arquitetura, economia, relações humanas e engenharia. Por esse motivo, existem diferentes teorias sobre o desenvolvimento de favelas e a ocorrência de decadência urbana. As favelas, definidas como superlotadas, atropelam seções de uma cidade ocupada por pessoas na faixa socioeconômica mais baixa, frequentemente estão na vanguarda do campo. Um dos grandes desafios das autoridades municipais e planejadores urbanos é a busca pela eliminação ou melhoria das favelas existentes e ainda garantir que novas não se desenvolvam. Entretanto, existem muitos fatores sociais, políticos e econômicos envolvidos não só no desenvolvimento de tais áreas, mas em sua existência continuada. Com o intuito de eliminar ou melhorar áreas de moradias precárias, várias medidas diferentes são propostas. Uma delas é tentar eliminar toda a área degradada de uma cidade, substituindo as habitações antigas, em condições precárias, por habitações modernas financiadas pelo governo ou por organizações privadas. No entanto, alguns países apresentam problemas com os “direitos de posseiros”, o que significa que a polícia não pode exigir que os habitantes das favelas se mudem para a área poder ser limpa. Ainda no quesito de melhorias das favelas, os planejadores urbanos frequentemente trabalham para localizar escolas, hospitais e outrosde ações pontuais, visando incentivar o desenvolvimento sustentável das cidades. O desenho urbano auxilia a organizar os elementos construtivos urbanos, para oferecer bem-estar, segurança e praticidade aos habitantes do local. Outras funções do desenho urbano são a de fornecer uma análise virtual da área urbana, verificar a composição da morfologia urbana e a identificação do comportamento ambiental. Com o desenho urbano, é mais fácil planejar as atividades econômicas de um local, o uso social e a relação com o meio ambiente. Ocorre uma troca de informações e definições que transformam o desenho urbano em um instrumento essencial para a execução do planejamento urbano. De modo geral, o planejamento urbano estuda, orienta e dimensiona o crescimento e a expansão de uma cidade, em consonância também com o meio rural. Já o desenho urbano é a execução desse planejamento. O desenho urbano regula a arquitetura das 85PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 edificações, do traçado das ruas e avenidas, da melhor disposição de equipamentos urbanos e da relação com o meio ambiente e a sustentabilidade. Assim, a estrutura urbana é composta pelos seguintes elementos: o traçado viário, o quarteirão, o lote (ou parcela fundiária) e o edifício. Logo, um estudo morfológico é válido, pois além de descrever estes elementos, investiga sua interdependência. A partir daí, outros fatores, como os regulamentos de construção, as técnicas construtivas, a cultura de profissionais, como arquitetos, engenheiros, construtores e artesãos, são considerados. Essa análise consegue elucidar a vigência de determinadas formas e o conceito de tipo adquire, então, valor instrumental no sentido de indicar a origem dos edifícios e suas relações com os outros elementos operantes na forma urbana, assinalando, assim, sua armação histórica. Morfologia é uma palavra utilizada para designar o estudo da configuração e da estrutura exterior de um objeto. É a ciência que estuda as formas, interligando-as com os fenômenos que lhes deram origem. Portanto, a morfologia urbana é o estudo da forma do meio urbano, nas suas partes físicas exteriores, na sua produção e transformação no tempo. Ela ocupa-se da divisão do meio urbano em partes e da articulação destes entre si, tendo a necessidade de identificação e clarificação dos elementos morfológicos, leitura ou análise do espaço, quer em ordem à concepção ou produção, considerando os níveis de produção do espaço urbano. Logo, podemos conceituar a forma urbana: modo como os elementos morfológicos se organizam, que constituem e estabelecem o espaço urbano, relativo aos aspectos quantitativos que se referem a uma organização quantitativa, como densidade, superfícies, fluxos, etc.; aspectos de organização funcional, relacionados às atividades humanas, como habitar, instruir-se, comerciar, tratar-se, etc. e aspectos qualitativos referentes ao conforto e comodidade do usuário e tratamento dos espaços. No meio urbano, pode ser relacionado à adaptação ao clima, à acessibilidade, ao estado dos pavimentos, etc. Nos diversos contextos, os elementos morfológicos, como rua, praça, edifícios, fachadas, planos marginais e monumentos isolados, são semelhantes, a diferença está na maneira como eles se posicionam, se organizam e se articulam, constituindo o espaço urbano. A dimensão espacial na morfologia urbana coloca-se a níveis diferentes conforme a leitura e concepção, existindo as seguintes dimensões: Dimensão Setorial, sendo a unidade mais pequena ou porção de espaço urbano; Dimensão Urbana, que pressupõe 86PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores e Dimensão Territorial, cuja forma estrutura-se através da articulação de diferentes formas à Dimensão Urbana. No espaço urbano, temos os considerados elementos morfológicos, como o solo, os edifícios, o lote, o quarteirão, a fachada, o logradouro, o traçado da rua, a praça, o monumento, a árvore e a vegetação, e o mobiliário urbano. Ainda na morfologia, temos os níveis de produção do espaço, no qual a prática do planejamento se organiza em níveis de atuação determinados pela própria natureza dos métodos, conteúdos e objetivos, escala dos problemas e dimensão geográfica das intervenções. Podemos diferenciar três níveis de produção do espaço, a saber: Nível de Planejamento - Programação - Planificação: fase de determinação de objetivos socioeconômicos, a programação é a etapa preliminar das ações do urbanismo, pois prevê o que será executado no futuro. Nível urbanístico - O plano refere-se à precisão dos objetivos no espaço e no tempo e de conferir características espaciais com detalhes na execução dos propósitos anteriores, ou seja, ocorre a definição das morfologias urbanas e a consideração das perspectivas físicas do território. Nível de construção - O projeto: fase de construção do território, conforme os objetivos e programas definidos. 87 O DESAFIO DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS E A AGENDA 214 TÓPICO PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 A Agenda 21 é um documento que propunha novos modelos políticos para o mundo em busca do desenvolvimento sustentável. Foi o principal documento que resultou da Conferência Rio 92, evento este que reuniu representantes de todos os países do mundo para discutir e divulgar a nova concepção de Desenvolvimento Sustentável. Esse evento significou para o Brasil ter que enfrentar a crise ambiental e, ao mesmo tempo, retomar o desenvolvimento, fortalecendo a democracia e a estabilidade da economia. O problema do desenvolvimento deveria ser finalmente resolvido sob uma ótica ambiental e socialmente sustentável. Constituída de programas que podem ser considerados instrumento fundamental para a elaboração de políticas públicas em todos os níveis e que privilegiavam a iniciativa local. É composta por 40 capítulos, apresentando questões como Desenvolvimento Sustentável, Biodiversidade, Mudanças Climáticas, Águas (doces e oceanos) e Resíduos (tóxicos e nucleares). Essas questões tornaram-se os problemas do planeta e da humanidade e assumiram o novo centro da temática ambiental, agora abordados em seus capítulos. Entretanto, a Agenda 21 não teve a força de lei das convenções e precisava aproximadamente de 600 bilhões de dólares anuais para ser implantada no mundo. Além de sofrer com o denominador mínimo instigado pelo consenso exigido nos encontros internacionais, o que tornou o texto frequentemente vago, sem prazos, nem compromissos. No entanto, mesmo com algumas indefinições, a Agenda 21 apresenta uma série de programas, que a torna um instrumento considerável para a criação de políticas em todas as áreas. 88PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 Em meio a tantas mudanças climáticas, para existir prosperidade e uma sobrevivência digna, diversas transformações devem ocorrer. Imaginando uma cidade do futuro, estas necessitam voltar a atenção para as pessoas vulneráveis, buscando diminuir a desigualdade. As cidades do futuro devem buscar práticas a fim de alcançar uma pegada de carbono próxima de zero, diminuir ao extremo e até mesmo alcançar o fim da dependência de combustíveis fósseis e conseguir resolver eventos extremos, encontrando ao mesmo tempo, formas de cuidar de grupos já marginalizados e vulneráveis. No entanto, para enxergarmos tais cidades, necessitamos exigir muito mais da nossa imaginação coletiva. A criação e edificação de cidades mais sustentáveis é um desafio que só pode ser alcançado com base em modelos modernos e inovadores, capazes de construir instrumentos de congregação dos esforços da esfera pública, em especial, neste caso, em sua dimensão municipal, com as forças da sociedade civil e da iniciativa empresarial. Diante de tal situação, o Conselho Empresarial Brasileiro, para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), lançou, no dia 27 de abril de 2017, no IV Encontro dosMunicípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS), realizado em Brasília, a publicação Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades sobre como os municípios brasileiros podem se adequar ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela ONU para Cidades (ODS 11) e se tornarem cidades mais sustentáveis. Esse documento trata da Agenda sobre Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades, apresentando um compilado de importantes iniciativas de organizações do setor empresarial e da sociedade civil, que objetivam estabelecer uma agenda sustentável nas cidades. A ideia da Agenda Cidades é mostrar aos prefeitos a relação da cidade com os ODS formulados pela ONU, que devem ser trabalhados durante o mandato, em que muitos desses objetivos são previamente abordados na legislação brasileira, por exemplo: já existe uma política nacional para trabalhar com a mudança climática, oficializada em dezembro de 2009. Da mesma maneira, também existe a política federal para gestão de recursos hídricos e saneamento básico. São todas ações ao nível nacional que interferem diretamente na gestão municipal. Durante a elaboração da agenda, a preocupação foi a de apresentar projetos de sucesso, que pudessem ser replicados nas cidades e estimulados por parcerias público-privadas (PPP). Logo, para a criação da Agenda, foi primeiramente realizado um levantamento federal e verificadas as principais políticas públicas brasileiras referentes ao tema do desenvolvimento urbano sustentável, relativas às iniciativas da publicação e que 89PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 refletem em obrigações dos municípios quanto aos ODS. Logo após, foi elencada uma série de ações concretas desenvolvidas em âmbito privado e público. A seleção inclui iniciativas internas do CEBDS, de associados, de órgãos públicos parceiros e até ideias já colocadas em prática em alguns municípios. A Agenda foi pensada contemplando os prefeitos e gestores municipais, incluindo aqueles que têm pouca intimidade com o assunto. Foram elencados todos os ODS, principalmente o objetivo 11, que aborda sobre Cidades e Comunidades Sustentáveis, que trata justamente sobre a questão da sustentabilidade urbana. Para que todos os prefeitos possam ter uma visão do que devem fazer para se adequar à política nacional de sustentabilidade, foram mapeadas as principais leis atuais que preveem a adoção de práticas sustentáveis ao nível federal e que precisam ser contempladas nos municípios brasileiros. Assim, foram mostradas novas maneiras dos governos municipais atuarem em parceria com a sociedade e como os diferentes setores podem trabalhar juntos na promoção do desenvolvimento urbano sustentável, a partir da demonstração de iniciativas e projetos já desenvolvidos em cidades brasileiras. Existem inúmeras sugestões que podem auxiliar os prefeitos no trabalho de propor melhorias sustentáveis para a cidade. A proposta é servir como inspiração para a sustentabilidade urbana e modelo para a materialização de parcerias público-privadas para este fim. Além de abrir espaço para diretrizes para o desenvolvimento urbano sustentável no âmbito global e nacional. 90 A Lei n.º 10.257/01, denominada Estatuto da Cidade, obriga que todo município com mais de 20 mil habitantes e com estâncias turísticas elabore seu Plano Diretor, que deve orientar os planos plurianuais, as leis de diretrizes orçamentárias e de orçamentos anuais, ou seja, os instrumentos de planejamento financeiro do município (Duarte, 2013). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a Agenda 21 é um instrumento de planejamento para a construção de cidades sustentáveis, que concilia métodos voltados para eficiência econômica, justiça social e proteção ambiental. A Agenda 21 é parte integrante do Plano Plurianual do Governo Federal (PPA) 2008/2011 e se fundamenta na execução de três ações: elaboração e implementação das Agenda 21, formação continuada em Agenda 21 e fomento a projetos voltados para a Agenda 21. Fonte: Brasil (2001). Os Planos de Bairro estão inseridos no Sistema de Planejamento do Município, subordinado ao Plano Diretor da cidade, à Lei de Uso e Ocupação do Solo e aos Planos Regionais das subprefeituras, mas podem influenciar diretamente o desenvolvimento do Plano Diretor Estratégico da cidade. Eles deverão ser considerados na revisão dos Planos Regionais das subprefeituras. Fonte: Brasil (2001). REFLITA SAIBA MAIS PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 91 Diretrizes urbanas sempre existirão, a diferença é que o plano diretor deixa as informações claras e nitidamente expressas, disponíveis ao cidadão para criticar, compreender e atuar sob as decisões. Com a existência do plano diretor, o cidadão pode decidir qual é o melhor local para comprar uma casa para morar e o empresário pode escolher melhor o local onde investir em um novo negócio. De modo geral, o planejamento urbano estuda, orienta e dimensiona o crescimento e a expansão de uma cidade, em consonância também com o meio rural. Já o desenho urbano é a execução desse planejamento. O desenho urbano é o desenho das edificações, do traçado das ruas e avenidas, da melhor disposição de equipamentos urbanos e da relação com o meio ambiente e a sustentabilidade. Sendo o desenho urbano parte prática do planejamento urbano, é imprescindível conhecer sobre economia urbana, política e teoria social, para, assim, atingirmos o desenvolvimento sustentável. CONSIDERAÇÕES FINAIS PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 92 LEITURA COMPLEMENTAR CEBDS. Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades. 2017. Disponível em: https://cebds.org/sustentabilidade-urbana/#.XqmTX2hKjIU. Com esta leitura, você poderá: • Conhecer as principais políticas públicas brasileiras para o desenvolvimento urbano sustentável; • Ter conhecimento de cerca de vinte iniciativas do setor empresarial e sociedade civil selecionadas para exemplificar casos em diferentes áreas consideradas relevantes para o desenvolvimento urbano sustentável; • Entender como a construção de cidades mais sustentáveis é um desafio que só pode ser alcançado com base em modelos modernos e inovadores. PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 https://cebds.org/sustentabilidade-urbana/#.XqmTX2hKjIU 93 MATERIAL COMPLEMENTAR • FILME/VÍDEO • Título: Megatendências. • Ano: 2018. • Sinopse: O filme Megatendências discute o que acontecerá no mundo nos próximos 20 anos, mostrando a opinião de especialistas. O documentário aponta que a tendência do século XXI é enxergar os centros urbanos não apenas como meros espaços eficientes de circulação de pessoas e mercadorias, mas também como ambientes de enriquecimento cultural — em que as atividades humanas devem ser integradas em torno dos pilares do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida. Patrocinado pela Deloitte e coproduzido pela UNESCO, o documentário Megatendências traz uma reflexão sobre a vida nas grandes cidades e o papel da tecnologia e de soluções inovadoras para enfrentar os principais desafios dos próximos anos. A produção permeia temas como mudanças climáticas e demográficas, globalização e urbanização para analisar, de forma sistêmica, como estamos nos preparando para o futuro. • LIVRO • Título: Sustentabilidade Urbana: Uma nova agenda para as cidades. • Autor: CEBDS. • Editora: CEBDS. • Sinopse: O documento apresenta um compilado de importantes iniciativas de organizações do setor empresarial e da sociedade civil que visam estabelecer uma agenda sustentável nas cidades, servindo como inspiração e modelo para a concretização de parcerias público-privadas para este fim. O documento também dá espaço a diretrizes para o desenvolvimento urbano sustentável, no âmbito global e nacional. PLANO DIRETOR: DIRETRIZES BÁSICASUNIDADE 4 94 CONCLUSÃO GERAL Prezado(a) aluno(a), Nesse material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeitodo planejamento urbano e meio ambiente. Para tanto abordamos as definições teóricas e, neste aspecto, acreditamos que tenha ficado claro para você a importância do planejamento urbano para ordenar o crescimento e funcionamento de uma cidade quanto a concepção de um novo edifício, incluindo preocupações ambientais, infraestrutura, entre outros. Destacamos também que o planejamento busca oferecer aos cidadãos uma vida agradável, segura e organizada, seja ela doméstica ou profissional, para os moradores de cidades novas ou já estabelecidas. Mostramos também que os aspectos mais preocupantes do planejamento urbano na atualidade são: o aspecto de uma cidade, a construção de locais, o zoneamento e o transporte, além de focar na preservação do ambiente natural local, tentando eliminar as áreas degradadas e/ou impedindo seu desenvolvimento. Também levantamos aspectos relacionados à desigualdade existente devido a fatores financeiros ou de distribuição de renda, que também proporcionam a divisão da cidade, concretizando o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela existência das desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, pois quanto maiores as diferenças socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação aos seguintes aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida. Afinal, o urbanismo é a expressão de um posicionamento político, pois prepara o espaço da cidade para o desenvolvimento do capitalismo industrial, inclusive garantindo a reprodução da força de trabalho. No entanto, também verificamos que ao analisarmos a literatura, o Estatuto da Cidade pode gerar benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao estimular a instalação da população de baixa renda em áreas dotadas de infraestrutura, evitando, assim, a ocupação de áreas consideradas ambientalmente frágeis, como encostas de morros, zonas inundáveis e mangues. Portanto, pudemos verificar que o Estatuto propõe como diretriz para as prefeituras a adoção de medidas ambientalmente sustentáveis para o planejamento urbano e prevê normas, como a obrigatoriedade de estudos de impacto urbanístico para grandes obras, como, por exemplo, a construção de shopping centers. Além de listar entre os instrumentos do planejamento a gestão orçamentária participativa. 95 A partir de agora, acreditamos que você já está preparado(a) em relação ao planejamento urbano, sabendo quais são as diretrizes e a importância de um Plano Diretor; quais são os quesitos para a cidade ter um plano diretor; como e se a comunidade deve participar da elaboração do plano diretor. Enfim, todo o conhecimento básico e necessário sobre o planejamento urbano e sua funcionalidade. Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada! 96 ABIKO, A. K.; ALMEIDA, M. A. P. de; BARREIROS, M. A. F. Urbanismo: história e desenvolvimento. São Paulo: EPUSP, 1995. ARRUDA, J. J. A. História antiga e medieval. 16. ed. São Paulo: Ática, 1993. ASCHER, F. Novos princípios do urbanismo: novos compromissos urbanos. Lisboa: Livros Horizonte, 2012. ATTANASIO, C. M. et al. Adequação ambiental de propriedades rurais, recuperação de áreas degradadas e restauração de matas ciliares. 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O termo Desenvolvimento Sustentável, no final do século XX, passou a representar uma peça fundamental na soma de todas as metas de planejamento. Fatores como equidade social, crescimento econômico, sensibilidade ambiental e apelo estético são as demandas conflitantes que os planejadores contemporâneos buscam equilibrar no planejamento. O planejamento pode ser um plano mestre formal para uma cidade inteira ou área metropolitana, ou um conjunto de alternativas de política. A implementação de um plano bem-sucedido geralmente requer ações empreendedoras e habilidades políticas por parte dos planejadores e de seus patrocinadores, apesar dos esforços para isolar o planejamento da política. No entanto, mesmo baseado no governo, o planejamento envolve cada vez mais a participação do setor privado em “parcerias público-privadas”. Pensando na origem do planejamento urbano como uma disciplina acadêmica, ele surgiu nos anos 1900. Na Grã-Bretanha, o primeiro programa de planejamento acadêmico começou na Universidade de Liverpool em 1909 e o primeiro programa norte-americano foi estabelecido na Universidade de Harvard em 1924. É ensinado principalmente no nível de pós-graduação, seu currículo varia muito de uma universidade para outra. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 13 Atualmente, o aumento da expansão dos aglomerados urbanos e o surgimento de novas cidades propiciam a evolução das discussões e pesquisas na área ambiental. Por outro lado, a expansão urbana está fortemente relacionada com desenvolvimento econômico do homem, e necessita cada vez mais de espaços maiores para desenvolver suas relações político-econômicas, sociais e culturais, gerando um confronto com o meio ambiente quando o desenvolvimento sustentável não é considerado. Dessa forma, esse confronto pode provocar desequilíbrios na natureza. as práticas sociais especialmente no que se refere ao processo econômico e tecnológico, vem imprimindo também, de maneira generalizada, uma marca especial no meio urbano, o desrespeito à base natural e, como consequência, ambientes desequilibrados ecologicamente (Milano; Dalcin, 2000, p. 6). A partir da década de 70, grandes conferências ambientais foram realizadas como resposta às discussões e pesquisas ambientais contemporâneas. Atualmente, essas conferências ocorrem regularmente, devido à intensificação de ocorrência dos problemas ambientais. Segundo Scotto, Carvalho e Guimarães (2010) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (2001), a primeira conferência que discute sobre o homem e o meio ambiente foi realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo, na Suíça, no ano de 1972. Nessa conferência, foram criados 26 princípios para a melhoria e preservação do meio ambiente. Logo após, em 1988, no Canadá, foi realizada a primeira conferência a nível PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTAL: QUESTÕES PARA REFLEXÃO2 TÓPICO PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 14 global sobre o clima, que resultou na criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que objetiva avaliar o risco das mudanças climáticas influenciadas pela atividade humana. Em 1990, em Genebra, na Suíça, foi divulgado o primeiro relatório do IPCC, que evidenciou que a temperatura do planeta estaria aumentando, determinando a necessidade de um acordo climático internacional, que resultou em um encontro no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, denominado de Eco-92 e originou os tratados da Agenda 21. Logo após essas conferências, outras vieram, chamadas de Conferência das Partes (COP), que consistem em um foro internacional anual de negociação das regras e políticas sobre mudanças climáticas através da criação de metas e diretrizes, que buscam a melhor maneira de interação entre a sociedade e a natureza. A primeira COP (COP-1) foi realizada em Berlim, na Alemanha, no ano de 1995, e a mais recente (COP-25), em Madrid, Espanha, no ano de 2019. Das 25 conferências realizadas, destaca-se a COP-3, no ano de 1997, em Quioto, no Japão. Nessa conferência, foi firmado entre a comunidade internacional um acordo denominado de Protocolo de Quioto, o qual sugeriu a redução de emissões de gases do efeito estufa nos países que assinaram o acordo. Também vale destacar a Rio+20 ocorrida em 2012 no Rio de Janeiro, 20 anos depois da realização da Eco-92, em que setores privados, representantes de governos, organizações não governamentais (ONGs) e outras organizações trabalharam para a segurança ambiental ser assegurada em um planeta que sofre com o crescimento populacional e urbano. Até a conferência Rio-92, foi possível observar apenas discussões referentes a problemas ambientais e alterações climáticas em escala global, não sendo considerados até então os problemas de degradação ambiental que ocorriam em escalas locais. Na conferência de 1992, com a criação da Agenda 21, um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis a nível local foi idealizado e formulado. Assim, pela primeira vez, a escala local passou a ser discutida nos fóruns ambientais de maneira intensificada, como, por exemplo, a discussão sobre a importância que as áreas verdes exercem a nível local nos grandes centros urbanos, assim como a nível global se a quantidade fosse uma fração considerável nas grandes metrópoles. Isso não ocorre, infelizmente, pois a implementação e ampliação das áreas verdes é uma das alternativas mais baratas e viáveis para reduzir a poluição proveniente dos combustíveis fósseis e a formação das ilhas de calor. Segundo Mazzei, Colesanti e Santos (2007, p. 36), “Tais discussões e situações só reafirmam a necessidade de áreas protegidas nos (e entre os) espaços intensa ou medianamente urbanizados, não só para o equilíbrio ecológico”. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 15 Além dos motivos supracitados sobre a valorização das áreas protegidas em relação ao quesito ambiental e social, existe também a importância em função dos interesses econômicos oriundos ICMS ecológico, um mecanismo tributário criado para recompensar os municípios que contribuem conservando ou produzindo serviços ambientais (áreas verdes) por meio de maneiras que ajudam com a manutenção de bioma, proporcionando aos órgãos municipais parcelas maiores de arrecadação. Ao falarmos da necessidade de expansão urbana e consequentemente do crescimento econômico, não podemos esquecer da importância das áreas verdes com ênfase nas unidades de conservação de proteção integral, que sempre existiram no local antes de qualquer sinal de civilização, no entanto, só não eram reconhecidas com tal importância. A partir do evidente crescimento da urbanização, as áreas florestais foram sendo reduzidas a pequenas manchas de mata nativa, que, por necessidade, foram incluídas no programa nacional de conservação dos remanescentes florestais, denominado de Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (Brasil, 2000). Até 1950, o Brasil era um país com uma população quase que totalmente rural, e em um período de 20 anos se tornou, primordialmente, urbana. Essa mudança de cenário de forma não planejada provocou alterações no meio natural, originando impactos negativos de degradação que modificaram a paisagem (Nunes; Costa,2010; Rubira, 2014, 2016ab). O crescimento contínuo das áreas urbanas, muitas vezes de forma desordenada, vem ocorrendo em detrimento da paisagem, causando a deterioração do meio natural. Nas cidades, a cor cinza do concreto substitui o verde da vegetação que compunha, anteriormente, a paisagem local, contribuindo para um ambiente desconfortável no ponto de vista natural (Pancher; Ávila, 2012, p. 1663). Atualmente a valorização imobiliária no entorno das áreas verdes tem se mostrado como atrativo para valorização de terreno, tendo como marketing a ideia de se vender o verde, deixando, assim, o homem mais uma vez de agir de maneira ecologicamente correta, pensando só no financeiro, ou seja, no econômico, mas não de forma viável e ambientalmente vivível. Troppmair (2008, p. 138) afirma que “as áreas verdes desempenham um papel importante no mosaico urbano, porque constituem em espaço encravado no sistema urbano cujas condições ecológicas mais se aproximam das condições normais da natureza”. Para a sustentabilidade ser alcançada de modo a promover a qualidade ambiental, é necessário que ocorra “um equilíbrio entre elementos da paisagem urbana através de PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 16 um ordenamento do espaço, conciliando principalmente os benefícios da vegetação com os diversos tipos de usos do solo através de um planejamento” (Lima; Amorim, 2005, p. 748). Logo, para ocorrer a conservação e a manutenção das áreas verdes, principalmente para as unidades de conservação de proteção integral, a elaboração de plano de manejo é imprescindível para poderem desenvolver suas funções quanto à melhoria da qualidade ambiental. Loboda (2003, p. 32) menciona que: As áreas verdes urbanas possuem uma importância de caráter fundamental, devendo estar relacionada entre os elementos básicos da moderna estruturação das cidades. A disponibilidade de áreas verdes urbanas para as mais variadas atividades, a conservação e manutenção de todos os elementos que compõem nossas praças e parques urbanos devem merecer atenção continuada de nossos órgãos públicos, responsáveis diretamente pela gestão dessas áreas. Falando sobre a conservação e manutenção das áreas verdes, não podemos deixar de salientar sobre a importância de um planejamento urbano. Segundo Mazzei, Colesanti e Santos (2007, p. 32), “O planejamento urbano deve sempre prever a existência de locais destinados ao descanso e ao contato com o meio ambiente, permitindo a integração completa entre sociedade e natureza”. Sem deixarmos de mencionar ainda que a manutenção do verde em áreas urbanas é extremamente importante, uma vez que suas condições ecológicas estão relacionadas aos níveis de poluição do ar, ou seja, podem influenciar diretamente na composição atmosférica urbana, no conforto térmico e refúgio para a fauna e flora, no equilíbrio solo-clima-vegetação, na redução dos níveis dos ruídos e na melhoria da estética urbana (Troppmair, 2008). Além disso, é possível afirmar que a presença das áreas verdes no meio urbano influencia diretamente a saúde física e mental da população. A existência das áreas verdes em centros urbanos pode trazer inúmeros benefícios, como, por exemplo: • Controle da poluição do ar e índice de umidade no ar e acústica; • Aumento do conforto ambiental; • Estabilização de superfícies por meio da fixação do solo pelas raízes das plantas; • Interceptação das águas da chuva no subsolo, reduzindo o escoamento superficial; • Abrigo à fauna; PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 17 • Proteção das nascentes e dos mananciais; • Organização e composição de espaços no desenvolvimento das atividades humanas; • Valorização visual e ornamental do ambiente; • Recreação; • Diversificação da paisagem construída; • A vegetação tem efeitos diretos sobre a saúde mental e física da população. Apesar dos vários benefícios citados, proporcionados pelas áreas verdes, a maioria da população infelizmente não percebe a importância que exercem e, na maioria das vezes, não solicita e exigem melhor conservação, manutenção e fiscalização do Poder Público. Em alguns casos, as áreas verdes, quando não protegidas, ao invés de proporcionarem o bem-estar da população, acabam promovendo situações adversas que podem originar problemas sociais e até mesmo ambientais, como, por exemplo: quando são consideradas locais de risco de disseminação de vetores contagiosos devido ao depósito indiscriminado de resíduos sólidos por empresas e até mesmo obras privadas, como casas em processo de construção e locais para a prática do uso de drogas ilícitas, entre outros exemplos, que, quando mal gerenciadas, tornam essas áreas uma ameaça para a população, ao invés de exercerem suas funções. Contudo, para que estes problemas possam ser evitados é importantíssimo a existência de um plano de uso e manejo, atuando juntamente com uma fiscalização por parte do poder público, para que essas áreas possam exercer função de preservação de recursos naturais e de melhoria de vida dos habitantes limítrofes. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 18 Para estudarmos sobre a origem das cidades não podemos deixar de falar um pouquinho sobre a história do aparecimento do homem na Terra há vários milhões de anos e como ele foi se adaptando aos diferentes períodos da história da civilização humana, coletando seu próprio alimento e buscando abrigo no ambiente natural. A história da civilização humana, segundo a arqueologia, começa na pré-história e continua na história até os dias atuais. Realizar uma análise sobre a evolução do homem na conquista pelo ambiente durante todo esse período histórico é complicado, pois o estudo da Pré-História, por exemplo, depende da análise de documentos não escritos, como desenhos, pinturas, restos de armas, utensílios de uso diário, entre outros. Conforme a literatura, os estudiosos costumam diferenciar duas grandes etapas na evolução do homem. A Pré-história: a antiga Idade da Pedra ou Paleolítico Inferior (500000 - 30000 a.C.) e o Paleolítico Superior (30000 - 18000 a.C.); nova Idade da Pedra ou Neolítico (18000 – 5000 a.C.) e a Idade dos Metais (5000 – 4000 a.C.) (Arruda, 1993). O marco na divisão entre História e Pré-História foi a invenção da escrita, ocorrida por volta do ano 4000 a.C. No período da Idade da Pedra (Paleolítico Inferior), o homem vivia da caça, pesca e alimentos recolhidos da própria natureza. Nesse período inicia-se a fabricação dos primeiros instrumentos (arcos e setas, objetos de pedra, etc.). Durante o período Paleolítico Superior, o hábito da alimentação à base de carne é diminuído, em consequência possivelmente de períodos extremos de frio e calor, secas e chuva que marcaram esse período. Dessa forma, para sobreviver, o homem passa a BREVE HISTÓRIA DAS CIDADES: ATÉ A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL3 TÓPICO PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 19 realizar a atividade de colheita em grupos. Logo, a necessidade do homem em conseguir seu alimento, devido às condições inóspitas citadas, leva essas comunidades a deixarem de realizar a prática do nomadismo para a fixação em locais específicos. Esse período já é marcado por um progresso considerável na fabricação de instrumentos, segundo escavações realizadas, e utensílios encontrados que pertenciam a essa época. Assim, quando o homem começa a desenvolver técnicas de pastoreio e agricultura, sai do estágio da colheita, inicia-se o período neolítico ou a nova Idade da Pedra. No período neolítico, o homem começa a domesticar um pequeno número de animais, a fabricar utensílios de cerâmica, preparar o solo, irrigar o solo, selecionar sementes, cultivar algumas plantas comestíveis e conhecer as estações do ano, ou seja, organiza o espaço em que vive e, consequentemente, começa a modificar o meio ambiente. No final do período Paleolítico Superior, existiu uma fase de transição para o período Neolítico, chamada Mesolítico.Nesse período, a precisão dos trabalhos em osso aumentou, predispondo a verdadeira revolução que ocorreria na fase neolítica. A Idade dos Metais (5000 - 4000 a.C.) iniciou com a descoberta da técnica de fundição dos metais, quando o homem abandonou de maneira progressiva as ferramentas de pedra. Essa fase foi marcada inicialmente com a produção de cobre, do estanho e do bronze (3000 a.C. no Egito e Mesopotâmia). Mais tarde (1500 a.C.) apareceu o ferro na Ásia Menor, ganhando preferência na fabricação das armas. Com todas essas conquistas, descobertas e evolução, ficou difícil realizar as atividades agrícolas e a criação de gado na mesma área. Logo, houve a necessidade de as atividades pastoreiras da agricultura, o que marcou a primeira divisão social do trabalho, pastor e agricultor. Essa divisão social do trabalho proporcionou o aparecimento de locais para troca, permitindo que pastores e agricultores permutassem os seus produtos, pois o pastor necessitava dos produtos agrícolas e o agricultor, por outro lado, precisava dos produtos animais. No entanto, nem sempre a troca podia acontecer, pois muitas das vezes não era época de colheita ou os produtos animais não estavam disponíveis. Pode-se afirmar que a escrita e a moeda foram criadas durante essa fase, pela necessidade de registros e facilitação das trocas combinadas e entregas de produtos, respectivamente. No início do período histórico, fim do período neolítico, ou seja, cerca de 4000 a.C., os primeiros agrupamentos humanos começam a se formar, com características de cidade. O aumento da densidade demográfica foi lentamente transformando as antigas aldeias em cidades, tendo como resultado alterações na esfera da organização social. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 20 Segundo Benevolo (1993, citado por Abiko; Almeida; Barreiros, 1995, p. 7), a cidade – local de estabelecimento aparelhado, diferenciado e ao mesmo tempo privilegiado, sede da autoridade – nasce da aldeia, mas não é apenas uma aldeia que cresceu. Ela se forma quando os serviços já não são executados pelas pessoas que cultivam a terra, mas por outras que não têm esta obrigação, e que são mantidas pelas primeiras com o excedente do produto total. Nasce, assim, o contraste entre dois grupos sociais, dominantes e subalternos: os serviços já podem se desenvolver através da especialização, e a produção agrícola pode crescer utilizando estes serviços. A sociedade se torna capaz de evoluir e de projetar a sua evolução. A cidade, centro maior desta evolução, não só é maior do que a aldeia, mas se transforma com uma velocidade muito maior. Com o crescimento populacional, junto à consolidação da prática da agricultura intensiva, surge um novo estilo de vida, que provocou mudanças fundamentais na economia e nas ordens social, tecnológica, ambiental e ideológica. A cidade, considerada núcleo dessa evolução, não é apenas maior que a aldeia, ela apresenta uma velocidade de transformação muito maior, determinando um salto civilizador e a conquista de novos horizontes para a sociedade, com mudanças significativas da composição e das atividades da classe dominante, que influem sobre toda a sociedade. Os principais locais de surgimento das cidades foram ao longo dos vales dos rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia; do Nilo, no Egito; do rio Indo, na Índia; do Yang-Tsé- Kiang e Hoang-HO na China; e do San Juan, na Meso-América. Devido à complexidade de atividades executadas a partir da criação das cidades, foi necessário criar Estados para a defesa militar e a construção de grandes obras (de irrigação, templos, canais, etc.), culminando no processo de formação das civilizações. A primeira civilização destaque no território europeu foi a grega, cujos registros das cidades-Estado remontam aos séculos VIII a VI a.C. Na América pré-colombiana, podemos destacar as cidades de Cusco e Machu Picchu, no Peru, e a antiga cidade de Tenochtitlán, onde está localizada hoje a cidade do México. Com o renascimento comercial e urbano no interior do continente europeu, no final da Idade Média, as cidades voltaram a se desenvolver a partir dos burgos (centros comerciais e culturais), período que assistiu ao desenvolvimento do capitalismo industrial. No caso dos ingleses, as cidades cresceram em decorrência dos cercamentos que expulsaram os camponeses de suas terras, forçando-os a se articularem nas nascentes indústrias urbanas. O Brasil, assim como os demais países da América Latina sofreram intenso processo de urbanização, especialmente na segunda metade do século XX, o que fez surgir uma grande PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 21 quantidade de construção de cidades, parte delas feita fora da lei, sem a participação dos governos, sem recursos técnicos e financeiros significativos. A Revolução Industrial, juntamente à centralização da administração do Estado, favoreceu a rápida urbanização de vastos espaços territoriais, surgindo a necessidade da criação de políticas de planejamento e urbanização, com objetivo de sanar problemas de deslocamento, habitacionais e sanitários, e como forma do Estado evitar e combater distúrbios sociais oriundos da vida urbana contemporânea. O desenvolvimento proporcionado pelo capitalismo fez surgir as metrópoles (grandes cidades de importância nacional e regional) e megalópoles (espaços de união de metrópoles). No ano 2000, metade da população mundial vivia em cidades e a ONU esboça para o ano de 2050 a existência de dois terços de população urbana. O planejamento urbano garante que os empreendimentos habitacionais da cidade sejam montados corretamente para maximizar os benefícios para os moradores e evitar problemas de saúde e segurança (Mazzei; Colesanti; Santos, 2007). SAIBA MAIS PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 22 O surgimento dos serviços sanitários estaduais no Brasil, principalmente em São Paulo, teve forte influência da Proclamação da República; condição já existente desde o primeiro Código Sanitário, datado de 1894, e implantada pelo Decreto n.º 233, de 2 de março de 1894, constituída de 520 artigos que regulava aspectos relacionados às condições sanitárias das moradias, cortiços e hotéis; da produção de alimentos; do esgoto e das águas; do abastecimento; do atendimento à saúde; das condições do ambiente de trabalho, do trabalho noturno e infantil; das escolas, teatros e do lazer; entre outros. Esse código, alterado e com emendas, foi a base da legislação sanitária que atravessou a virada para o século XX e acompanhou as grandes transformações da sociedade paulista no início do século, porém tornou-se, com o passar do tempo, ultrapassado. No dia 9 de abril de 1918, pelo Decreto Estadual n.º 2918, foi promulgado o novo Código Sanitário do Estado de São Paulo, constituído de 800 artigos e de nítida inspiração no modelo de polícia médica praticado na Alemanha nos séculos XVIII e XIX, conforme Rosen (1980). Esses 800 artigos, divididos em títulos e subdivididos nos capítulos e seções, procuravam regular a vida das pessoas nas cidades e na zona rural do estado de São Paulo. Pelo que se observa da sua composição, essa lei regulava o serviço sanitário estadual e municipal, bem como as questões urbanas e rurais. Porém, era contrastante com uma infraestrutura de Estado insuficiente para fiscalizar seu efetivo cumprimento, pois o Serviço Sanitário do Estado, nessa época, contava apenas com pouco mais de 400 funcionários, distribuídos na Capital, nos vários Hospitais e nas seis delegacias de saúde existentes (Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Botucatu, Guaratinguetá e São Carlos). PRIMEIRA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA (SANITÁRIA)4 TÓPICO PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 23 Toda a legislação urbanística no Brasil era baseada nos Códigos de Posturas de origem colonial e somente em 1920 é que começa a ser substituída por códigos de obras e por leis de zoneamento urbano. As mudanças na legislaçãourbanística brasileira ao longo do século XX não integraram os instrumentos urbanísticos como instrumento de regulação dos conflitos sociais urbanos, apenas desenvolveram mecanismos de preservação e regulações internas direcionadas para o mercado imobiliário. Em 1971, ocorreu a atualização da legislação urbanística no Brasil, por meio de ato institucional, como estratégia política defendida pelo governo militar de instrumentalização das administrações metropolitanas diante do marcado crescimento explosivo das cidades durante o chamado “milagre econômico”. A década de 70 também foi marcada pela produção das seguintes leis: lei de parcelamento do solo urbano (6766/77), lei de zoneamento industrial (1817/78) e o projeto de lei (775/83) que tratava do desenvolvimento urbano. O projeto de lei (775/83) encontrou dificuldade de aprovação pelo fato de introduzir vários instrumentos urbanísticos, como o controle da especulação imobiliária, ficando arquivado até a convocação da Assembleia Constituinte, em 1987. Cabe aqui explicar o significado dessas leis, porque, por um lado, abriram espaço para uma atualização da legislação urbanística, mas não sugeriram nada a respeito da regulação social e da habitação popular e social. Todavia o início da década de 80 ainda foi marcado pela necessidade de introduzir instrumentos urbanísticos e uma legislação que conseguisse estabelecer um mínimo de ordenamento ao crescimento das cidades, especificamente em função dos altos custos da infraestrutura urbana, como saneamento, abastecimento de água, transportes públicos e habitação. Com a elaboração da Constituição de 1988, a legislação urbanística volta à agenda política, porém a influência do mercado imobiliário domina a Subcomissão da Política Urbana e Transportes, sendo o setor imobiliário um dos líderes entre eles. Assim, a Constituição de 1988, por meio do artigo 182, coloca o Plano Diretor como o instrumento regulador da função social da cidade, ficando esse artigo amarrado a um projeto de lei para a sua regulamentação. A regulamentação desse artigo deu origem ao projeto de lei 5.788/90 (Estatuto da Cidade). Mais tarde, foi aprovada a Lei 10.257/01, O Estatuto da Cidade (nome original). Dessa forma, O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, é estabelecido com um século de atraso em relação às experiências europeias no que se refere à utilização de PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 24 instrumentos urbanísticos para regular socialmente o mercado imobiliário e fazer políticas de compensação social através da política urbana. Planejadores urbanos estudam muitas teorias relacionadas ao desenvolvimento de favelas, de modo a evitar seu crescimento no futuro (Maricato, 2000). REFLITA PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 25 Podemos verificar que, em resposta ao rápido crescimento populacional, as áreas verdes foram sendo cada vez mais degradadas. Conforme ocorre a substituição da vegetação natural por construções urbanas, o meio ambiente é alterado negativamente, produzindo, como consequência, impactos ambientais de diferentes ordens, que originam processos de degradação ambiental, os quais podem afetar a sociedade novamente. No entanto, devemos concordar que mudanças no meio devem sim ocorrer, mas não em detrimento do meio ambiente, por isso a grande importância do planejamento. O homem, na maioria das vezes, com exceção em casos de fenômenos naturais, provoca/origina o impacto, inicia o processo de degradação, gerando problemas ambientais que poderão atingir a própria sociedade. É possível verificar que toda ação produz uma reação. Cabe aos órgãos públicos a recuperação das áreas verdes que se encontram degradadas, não basta apenas implementar decretos legislativos que tornem os fragmentos de áreas verdes em unidades de conservação e não realizarem um programa de acompanhamento. É necessário, então, que após a efetivação do decreto ocorra a proteção de maneira integral, que haja total fiscalização, manutenção e conservação dessas áreas ao longo dos anos, para poderem cumprir sua principal função nos grandes centros urbanos, o de melhoria de qualidade de vida da população local. CONSIDERAÇÕES FINAIS PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 26 BARGOS, D. C.; MATIAS, L. F. Áreas verdes urbanas: um estudo de revisão e propostas conceituais. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba, v. 6, n. 3, p. 172 - 188, 2011. LEITURA COMPLEMENTAR PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 27 MATERIAL COMPLEMENTAR • FILME/VÍDEO • Título: City of Trees. • Ano: 2015. • Sinopse: Filmado ao longo de dois anos, City of trees é um documento audiovisual dos paradoxos enfrentados pelas sociedades urbanas. O diretor Brandon Kramer mostra o trabalho do ativista Steve Coleman, da organização sem fins lucrativos Washington Parks & People. Coleman precisa contratar 150 desempregados para auxiliarem no plantio de milhares de árvores em Washington D.C. e, ao mesmo tempo, treinar essas pessoas para esse tipo de trabalho. A Washington Parks & People foi criada em 1990 visando diminuir feridas sociais por meio da criação e manutenção de áreas verdes nas comunidades mais pobres e violentas. O filme discute os problemas vividos nas grandes cidades e a relação humana com a natureza. • LIVRO • Título: História da Cidade. • Autor: Leonardo Benevolo. • Editora: Perspectiva. • Sinopse: A cidade é uma criação histórica particular; nem sempre existiu, mas começou em certo momento da evolução social e pode acabar ou ser radicalmente transformada em outro momento. Não existe por uma necessidade natural, mas por uma necessidade histórica, que tem um início e pode ter um término. Torna-se, portanto, importante explicar a origem da cidade no mundo antigo, também, dentro do possível, o seu destino na hora atual. PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTALUNIDADE 1 Professora Dr. Claudinéia Conationi da Silva Franco TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO2UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 29 Plano de Estudos • O pré-urbanismo e as cidades modelos. • Conceitos do urbanismo: carta de Atenas, carta dos Andes e escola de Chicago. • A estrutura socioeconômica da cidade moderna (classes sociais e a segregação) e a problemática ambiental. • Abordagens sobre as técnicas de planejamento: plano diretor (história e resultados). Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar o pré-urbanismo e as cidades modelos. • Estabelecer a importância da carta de Atenas, carta dos Andes e a escola de Chicago. • Compreender a estrutura socioeconômica da cidade moderna e a problemática ambiental. • Reconhecer o Plano Diretor como um instrumento de ordenamento territorial. TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 30 O planejamento urbano aborda uma série de processos, estudos e até mesmo áreas diferentes, mostrando sobretudo como ocorrerá o crescimento de uma cidade. Todo esse detalhamento é fundamental, a fim de promover o bem-estar e segurança de toda a população e impedir o crescimento desordenado da malha urbana. O planejamento urbano está totalmente ligado ao plano diretor. A partir desse pressuposto, é possível traçar diretrizes em relação ao zoneamento, ocupação e expansão da área urbana. O crescimento da população, com o da própria cidade, desencadeiam uma certa precariedade em relação ao todo da malha urbana pelo fato dos habitantes se apresentarem apenas na região que se relacionam com o cotidiano das pessoas, ou seja, local de residência, trabalho, escola, entre outros lugares de convívio, e não ocuparem a cidade por inteiro, devido também à divisão da estrutura urbanística existente. Além dos fatores supracitados, a desigualdade existente devido a fatores financeiros ou de distribuição de renda também proporcionam a divisão da cidade, concretizando o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela existência das desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, poisquanto maiores as diferenças socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação aos seguintes aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida. INTRODUÇÃO TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 31 O PRÉ-URBANISMO E AS CIDADES MODELOS1 TÓPICO O advento da Revolução Industrial provocou um crescimento acelerado das cidades durante o século XIX, desencadeando várias transformações no espaço urbano e até mesmo reflexões sobre esse tema. Assim sendo, surge um conjunto de reflexões e propostas de pensadores políticos sociais do século XIX para o problema da cidade, associando o questionamento sobre a estrutura e o significado da relação social denominado de pré-urbanismo. São contribuições anteriores ao surgimento da palavra Urbanismo. No momento do pré-urbanismo, no século XIX, o estudo da cidade assume dois aspectos diferentes: aspectos descritivos, em que se observam os fatos isoladamente, tentando ordená-los quantitativamente (estatística), e aspectos polêmicos, que reúnem informações, integrando-as num quadro de polêmica. Consideram a cidade como um câncer. Esse último teve inspiração humanística ao denunciar as condições de vida dos proletários (denunciam o estado de deterioração física e moral em que vivem), contribuindo, assim, para gerar toda uma legislação voltada para o trabalho e para a habitação. Mas os polemistas constituem-se, também, de pensadores políticos e sua crítica inclui as questões da exploração e alienação do trabalhador, associadas à nova ordem industrial (Choay, 1998). Ou seja, denunciam as condições da cidade (situação da classe trabalhadora, distância para o trabalho). A reflexão sobre propostas de ordenamentos urbanos para a desordem da cidade industrial resultou em modelos espaciais, exemplares e reprodutíveis. Um deles assumiu a forma de uma utopia progressista e o outro, a forma de uma utopia nostálgica. O modelo progressista fundamenta sua crítica à cidade industrial na situação de alienação do indivíduo. TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 32TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 Por outro lado, nesse modelo, o indivíduo é tomado como um ser com necessidades, as quais o progresso técnico deveria prover os meios para atender. O tema-chave nesse modelo é a higiene, por isso o espaço progressista é aberto e rompido por espaços vazios ou verdes que garantem a exposição das edificações ao sol. O traçado é definido em conformação com as funções urbanas: habitação, trabalho, cultura e lazer, separadas devidamente, o que, sugere-se, resulta em bem-estar e progresso social. Nesse modelo, a beleza é associada à lógica racional, não aceitando nenhuma herança artística do passado para submeter-se às leis de uma geometria “natural”. Arranjos novos, simples e racionais, substituem as disposições e ornamentos tradicionais. Dessa forma, a cidade adquire certa rigidez e, nesse aspecto, se filia à utopia. Entre os tipos de edifícios, o alojamento tem lugar privilegiado, ou seja, a habitação coletiva e unifamiliar é considerada modelo. O modelo progressista se caracteriza pela fragmentação (blocos repetidos), baixa densidade, enfim, tudo o que se opõe a uma atmosfera urbana, ou seja, tem que ser um espaço com uma disposição simples que impressione os olhos e os satisfaça, com abundância de verde e vazios, excluindo uma atmosfera precisamente urbana (cidade campo). Embora esse modelo tenha sido originado como consequência de preocupações sociais, trata-se de um modelo autoritário e orientado no sentido do rendimento máximo. A outra forma de utopia nostálgica é representada pelo modelo culturalista, que prioriza o agrupamento humano (cidade) em detrimento do indivíduo. O grande diferencial desse modelo em relação ao modelo progressista é o desaparecimento da antiga unidade orgânica da cidade sob a pressão desintegradora da industrialização. O ponto-chave desse modelo é a busca pela cultura, como o próprio nome diz, e não a ideia de progresso, mas fazer o melhor do passado reviver. Assim, o planejamento da cidade será menos rigoroso e não tão determinista. No entanto, a cidade deve ser restrita a limites precisos, que estabeleçam contraste com a natureza e ter dimensões modestas. No modelo culturalista, o estético ocupa o lugar que a higiene ocupava no modelo progressista. A irregularidade e a assimetria são valorizadas enquanto as marcas de organicidade são identificadas com a potência geradora da vida. No interior da cidade nenhum traço de geometrismo é existente, pois o geometrismo é considerado tabuleiros, prisões para a alma. Trata-se de uma estética totalmente ligada à tradição, que não propõe padrões ou modelos. A edificação valorizada é aquela de uso cultural e o clima da cidade é propriamente urbano. Se analisarmos do ponto de vista econômico, o modelo de cidade culturalista é anti-industrial e a produção beneficia a relação harmoniosa entre os indivíduos, que gozam 33TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 de uma vida feliz e plena de lazeres, ao invés do rendimento. Entretanto, esse modelo é tão fechado quanto o progressista, pois também não considera as transformações próprias à temporalidade: propõe uma cidade que não sofre transformação no tempo. O que faz, nesse aspecto, também se aproximar da utopia. Nos dois modelos descritos, os pensadores imaginam a cidade do futuro idealmente. Ao invés de ser pensada como um problema ou processo a ser resolvido, é sempre colocada como uma coisa, um objeto reprodutível, sendo tirada da temporalidade concreta e torna-se utópica, quer dizer, de lugar nenhum. Alguns exemplos foram realizados, mas fracassaram, principalmente por seu rompimento com a realidade socioeconômica contemporânea e pelo caráter limitador e repressivo de sua organização. 34 CONCEITOS DO URBANISMO: CARTA DE ATENAS, CARTA DOS ANDES E ESCOLA DE CHICAGO2 TÓPICO TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 O urbanismo difere do pré-urbanismo essencialmente porque não é obra de pensadores (filósofos, economistas, historiadores, entre outros), mas de especialistas, de profissionais que visam colocar em prática suas ideias, geralmente arquitetos. No entanto, conserva-se o lugar do imaginário, já que a cidade mesma é substituída por uma ideia, fazendo do urbanismo um herdeiro direto do momento anterior, mantendo, inclusive, as duas tendências ideológicas, o urbanismo progressista e o urbanismo culturalista. Mas, a despeito de estar fundado no pensamento socialista do século XIX, o discurso do urbanismo é essencialmente despolitizado. Entre os Urbanistas Progressistas temos: Tony Garnier, Walter Gropius e Charles- Edouard Jeanneret (Le Corbusier - mais importante dos urbanistas progressistas). Esses urbanistas buscavam adaptar a cidade às necessidades modernas, englobando a indústria e o novo modo de vida. No Urbanismo Culturalista temos: Camillo Sitte, Ebenezer Howard, Raymond Unwin, que buscavam uma nova forma de vida, resgatando valores e costumes passados (Choay, 1992). No Brasil, ao final da década de 30 e início da década de 60, ocorreu um processo de redefinição da habitação enquanto questão urbanística. O controle sanitário e policial das moradias das classes pobres começa a ser repensado e alterado. A associação entre habitação e planejamento passa a ser formulada, tendo como base as especificidades da urbanização dos grandes centros latino-americanos. Assim, essa nova formulação foi o fator determinante para a inserção do Brasil no circuito da cooperação interamericana promovida por organismos internacionais. Além dos documentos utilizados como base, 35TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 como a Carta de Atenas, Carta dos Andes e Escola de Chicago, ao dar linhas de orientação sobre o exercício e o papel do urbanismo na sociedade, servindo de inspiração à arquitetura contemporânea. A Carta de Atenas é um documento de compromisso, datado de 1933, elaborado e assinado por grandesarquitetos e urbanistas internacionais do início do século XX, entre os quais se destaca Le Corbusier, que na época já se apresentava como um dos mais importantes idealizadores da arquitetura e urbanismo modernos. A Carta foi escrita como conclusão do Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos que teve lugar em Atenas, na Grécia, em outubro de 1931 (Infopédia, 2020). O início do século XX foi marcado por uma série de reuniões e conferências visando identificar os itens fundamentais que dariam forma a uma concepção comum do conceito de cidade. Dessa forma, um diagnóstico da situação das cidades foi realizado por urbanistas e arquitetos de renome, identificando debilidades e problemas, bem como as respectivas soluções. Foram redigidas normas a respeitar a partir de um diagnóstico prévio. Durante esse diagnóstico, 33 cidades de diferentes latitudes e climas do mundo foram analisadas para responder aos problemas causados pelo rápido crescimento dos centros urbanos, devido às mudanças nos sistemas de transportes e à mecanização. Considera-se que a Carta de Atenas assentava em quatro funções básicas na cidade: habitação, trabalho, diversão e circulação. A Carta de Atenas propunha, em termos sociais, que cada indivíduo tivesse acesso às alegrias fundamentais, ao bem-estar do lar e à beleza da cidade. Em 1998, foi elaborada pelo Conselho Europeu de Urbanistas (composto por representantes de Portugal, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália e Reino Unido) a Nova Carta de Atenas. A redação da Nova Carta de Atenas pretendeu ser mais adequada às gerações vindouras do que as de 1933, dando o papel principal ao cidadão na hora de tomar decisões organizativas. Segundo a nova carta, a evolução das cidades deve resultar da combinação de distintas forças sociais e das ações dos principais representantes da vida cívica. O papel dos urbanistas profissionais passou a ser o de proporcionar e coordenar o desenvolvimento. A Carta dos Andes é um documento com as conclusões e recomendações resultantes do Seminário de Técnicos e Funcionários do planejamento urbano que expressa o processo que ocorre nos programas de cooperação interamericanas a partir do final da década de 30 até o final da década de 50 (Mello, 1960). 36TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 A carta dos Andes corrobora a ideia de que o planejamento é a ferramenta mais adequada para superar as grandes dificuldades em consequência do baixo nível de desenvolvimento econômico, político, social e cultural. Características do planejamento regional, metropolitano e urbano na América Latina: o processo geral de renovação urbana e Habilitação de áreas subdesenvolvidas são os três itens da Carta, pelo qual a realidade da metrópole da América Latina e América Central é analisada, onde as altas taxas de crescimento demográfico, a migração, a expansão urbana dos grandes centros, a especulação, a formação de favelas e habitações precárias e a falta de serviços públicos são problemas que podem ser superados por meio da combinação de políticas de planejamento e habitação. Ainda no campo das investigações dos fenômenos sociais que ocorriam especificamente no meio urbano em todo território mundial e na grande metrópole norte- americana, surge, como resposta, a Escola de Chicago, nos Estados Unidos, na década de 10, por iniciativa de sociólogos americanos que faziam parte do corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundada pelo historiador e sociólogo Albion W. Small. Tanto o Departamento de Sociologia, como a Universidade de Chicago receberam inestimável ajuda financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre 1915 e 1940 a Escola de Chicago produziu um vasto e diversificado conjunto de pesquisas em relação aos fenômenos sociais, como: o crescimento da criminalidade, da delinquência juvenil, o aparecimento de gangues de marginais, os bolsões de pobreza e desemprego, a imigração e, com ela, a formação de várias comunidades segregadas (os guetos) que aconteciam em resposta ao processo de expansão urbana e crescimento demográfico da cidade de Chicago no início do século XX, resultado do acelerado desenvolvimento industrial das metrópoles do Meio-Oeste norte-americano. O mais importante é evidenciar que os estudos dos problemas sociais proporcionaram a elaboração de novos procedimentos metodológicos e o surgimento de novas teorias e conceitos sociológicos. 37 A ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA DA CIDADE MODERNA (CLASSES SOCIAIS E A SEGREGAÇÃO) E A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL3 TÓPICO TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 No mundo contemporâneo, as diferentes áreas que compõem os grandes centros urbanos apresentam-se de maneira fragmentada, isso nos remete à ideia de um arranjo espacial, composto por vários fragmentos, cada qual com suas características e aspectos diferenciados, mas que, juntos, constituem o todo. Nas cidades, essa distribuição é definida com base na atuação de cada área, por exemplo, centros comerciais, bairros industriais, financeiros, residenciais, bairros com grande número de casas, além de bairros que abrigam uma grande quantidade de estabelecimentos de diversão, como boates, bares e restaurantes. Em uma grande cidade, a estrutura é composta por vários polos, e cada um deles é considerado uma região constituída de um centro e uma rua com maior evidência por apresentar muitas atividades ali desenvolvidas, como comércio, serviços, entre outros. O crescimento da população, com o da própria cidade, desencadeia uma certa precariedade em relação ao todo da malha urbana, pelo fato dos habitantes se apresentarem apenas na região que se relaciona com o cotidiano pessoal, ou seja, local de residência, trabalho, escola, entre outros lugares de convívio, e não ocuparem a cidade por inteiro, devido também à divisão da estrutura urbanística existente. Além dos fatores supracitados, a desigualdade existente devido a fatores financeiros ou de distribuição de renda também proporcionam a divisão da cidade, concretizando o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela existência das desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, pois quanto maiores as diferenças 38TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação aos seguintes aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida. Ao analisarmos desse ângulo, podemos dizer que a população de baixa renda depende exclusivamente da qualidade dos serviços públicos nos diferentes setores, sejam eles na área da saúde, transporte coletivo, educação, entre outros, para que possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, para que esses serviços ocorram adequadamente e de maneira mais humana possível, é necessário existir uma organização, visando requisitar as necessidades comunitárias, ou dificilmente este cenário será mudado. A segregação socioespacial, também chamada de segregação urbana, diz respeito à marginalização ou discriminação de alguns grupos sociais, ou pessoas por determinados fatores, como: econômicos, culturais, históricos e até raciais no espaço das cidades. No Brasil, habitações em áreas irregulares, como próximo a cursos d'água, a formação de favelas, cortiços e áreas de invasão são alguns exemplos mais comuns de segregação urbana. Essas áreas são constituídas por pessoas com baixos salários, poucas condições de renda e que não possuem outra opção a não ser se instalarem em locais desprovidos de infraestrutura, caracterizando a segregação urbana. Ou seja, a segregação urbana é a reprodução dos imperativos sociais em relação à transformação do espaço das cidades. Logo, podemos afirmar que a segregação urbana é a reprodução espacial e geográfica da segregação social, fato esse quase sempre relacionado com o processo de divisãode classes sociais, em que a população menos favorecida acaba se instalando em áreas menos acessíveis e mais afastadas dos grandes centros econômicos. Além disso, esses espaços segregados são desprovidos ou apresentam baixa disponibilidade de infraestruturas, como pavimentação, saneamento básico, espaços de lazer, entre outros. Para explicar a causa da segregação urbana, o principal modelo apontado pela literatura especializada afirma que parte da oposição entre centro e periferia e constitui-se a partir da formação de novas centralidades, expandindo-se a partir de então. Dessa forma, as classes economicamente mais favorecidas tendem a se instalar próximas desse centro, uma vez que esses espaços são mais caros e valorizados. No entanto, com o tempo, esses centros principais se tornam sobrecarregados e graças a evolução de técnicas permitem que práticas e serviços migrem a partir de novos subcentros, fazendo com que estes se tornem mais valorizados, encarecendo os preços dos terrenos e elevando os custos sociais, proporcionando a ocupação desse espaço pela população mais rica e leva ao afastamento da população mais pobre. 39TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 Nesse aspecto, o estado atua oferecendo a esses centros as melhores condições de infraestrutura, com uma maior diversidade de transportes, praças, áreas de lazer, entre outras, proporcionando para essas áreas: maior empregabilidade, mobilidade e atividade em seus espaços do que as demais, incluindo os trabalhadores que moram nas periferias e que precisam deslocar-se em grandes distâncias para exercerem seus trabalhos. O crescimento desordenado dos bairros periféricos, além das favelas e das casas em áreas irregulares, representa a segregação involuntária, aquela que não ocorre planejadamente por parte de seus atores, mas é forjada pelas condições sociais e econômicas da população. Esse tipo de segregação não pode ser confundido com a autossegregação, também chamada de segregação voluntária, sendo aquela praticada por grupos economicamente favorecidos que se afastam do inchamento das cidades, residindo em locais mais ou menos isolados, geralmente em grandes condomínios residenciais luxuosos. Portanto, a segregação urbana, como podemos observar, mostra as contradições econômicas e sociais da sociedade contemporânea sobre o espectro do espaço geográfico. 40 ABORDAGENS SOBRE AS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO: PLANO DIRETOR (HISTÓRIA E RESULTADOS)4 TÓPICO TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 O rápido crescimento das cidades sem nenhum planejamento fez surgir preocupações em relação ao bem-estar dos cidadãos. Alguns fatos, como a ocupação desordenada em área de risco, a falta de cuidados com os recursos naturais, a poluição do ar, água e paisagens, falta de infraestrutura, saneamento, saúde, transporte de qualidade, associados à falta de planejamento, colaboram ainda mais para agravar a situação. Diante desse cenário surgem discussões de políticas públicas que têm por objetivo o equilíbrio das práticas econômicas, sociais e ecológicas no território urbano, possibilitando a implantação de um instrumento denominado Plano Diretor, “[...] previsto constitucionalmente e regulamentado no Estatuto da Cidade, mostrando como esse instrumento de planejamento urbano pode ser um importante aliado na gestão ambiental e na promoção da sustentabilidade do espaço urbano” (Sayago; Pinto, 2005, p. 2). Segundo Ascher (2012, p. 14), o Plano Diretor pode ser considerado a principal política pública de ordenamento do território urbano: A complexidade do tecido urbano em expansão necessita de diretrizes para se ordenar o espaço urbano conforme os diferentes usos do solo (residencial, lazer, equipamentos urbanos, comercial, industrial, entre outros), que abarca a dinâmica do espaço urbano em constante incerteza, essa própria do processo de mundialização do capital, o que fomenta a necessidade de um compromisso urbano. Conforme Sayago e Pinto (2005, p. 9), o Plano Diretor é um documento que visa “[...] balizar o desenvolvimento e a expansão do espaço construído, de modo a mudar a 41TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 realidade urbana, trazendo melhor qualidade de vida à população.” Ele está previsto no art. 182, §1º da Constituição Federal de 1988 e deve englobar toda a área do município, urbana ou rural, sendo considerado um importantíssimo instrumento básico da política urbana e fundamental para o planejamento das cidades. O Plano Diretor é um instrumento que elabora os objetivos a serem alcançados, o prazo em que estes devem ser atingidos (muito embora o plano, em geral, não precise fixar prazo no que concerne às diretrizes básicas), as atividades a serem implementadas e quem deve executá-las. É diretor por fixar as diretrizes do desenvolvimento urbano do município. É por meio do plano que se define o melhor modo de ocupar um município ou região, prever as áreas onde se localizarão os pontos de lazer, as atividades industriais e todos os usos do solo, não somente no presente, mas também no futuro. Isso permitirá a consolidação de valores com vista à qualidade de vida urbana (Silva, 2000, p. 93). O Plano Diretor trata do ordenamento do espaço municipal (aspecto físico), do aspecto social, ligado à melhoria da qualidade de vida das cidades, e do aspecto administrativo, que se refere à atuação do poder público. Conforme o Estatuto da Cidade (Brasil, 2001), o Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana e deve ser aprovado por lei municipal. § 1º O Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. § 2º O Plano Diretor deverá englobar o território do Município como um todo. § 3º A lei que instituir o Plano Diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. § 4º No processo de elaboração do Plano Diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos (Brasil, 2001). Ainda devemos frisar que o Plano é obrigatório para cidades com as seguintes características: I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no 4º do art. 182 da Constituição Federal; 42 REFLITA O relatório sobre o aumento da população urbana, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), destaca que em 2030, duas a cada três pessoas no mundo irão morar em cidades, ultrapassando a proporção de 2015, que era uma a cada duas. Tóquio, a maior potência econômica global, apesar das restrições geográficas, é a cidade mais populosa do mundo e, conforme o estudo da ONU, continuará sendo por, no mínimo, mais 15 anos (Giambastiani et al., 2019). TÉCNICAS DE PLANEJAMENTOUNIDADE 2 IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico; V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional (Brasil, 2001). Além disso, segundo a lei (Brasil, 2001, art. 42), o plano deve conter, no mínimo, “[...] a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsória, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para utilização [...]”. Para o plano diretor poder ser um instrumento útil ao desenvolvimento local, é preciso identificar e mapear as atividades econômicas existentes na zona urbana e rural e verificar em que condições essas atividades estão