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<p>Planejamento Urbano</p><p>e Meio Ambiente</p><p>Professora Dra. Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>Diretor Geral</p><p>Gilmar de Oliveira</p><p>Diretor de Ensino e Pós-graduação</p><p>Daniel de Lima</p><p>Diretor Administrativo</p><p>Renato Valença Correia</p><p>Coordenador NEAD - Núcleo</p><p>de Educação a Distância</p><p>Jorge Van Dal</p><p>Coordenador do Núcleo de Pesquisa</p><p>Victor Biazon</p><p>Secretário Acadêmico</p><p>Tiago Pereira da Silva</p><p>Projeto Gráfico e Editoração</p><p>André Dudatt</p><p>Revisão Textual</p><p>Beatriz Longen Rohling</p><p>Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante</p><p>Caroline da Silva Marques</p><p>Geovane Vinícius da Broi Maciel</p><p>Jéssica Eugênio de Azevedo</p><p>Kauê Berto</p><p>Web Designer</p><p>Thiago Azenha</p><p>UNIFATECIE Unidade 1</p><p>Rua Getúlio Vargas, 333,</p><p>Centro, Paranavaí-PR</p><p>(44) 3045 9898</p><p>UNIFATECIE Unidade 2</p><p>Rua Candido Berthier</p><p>Fortes, 2177, Centro</p><p>Paranavaí-PR</p><p>(44) 3045 9898</p><p>UNIFATECIE Unidade 3</p><p>Rua Pernambuco, 1.169,</p><p>Centro, Paranavaí-PR</p><p>(44) 3045 9898</p><p>UNIFATECIE Unidade 4</p><p>BR-376 , km 102,</p><p>Saída para Nova Londrina</p><p>Paranavaí-PR</p><p>(44) 3045 9898</p><p>www.unifatecie.edu.br/site</p><p>As imagens utilizadas neste</p><p>livro foram obtidas a partir</p><p>do site ShutterStock</p><p>FICHA CATALOGRÁFICA</p><p>UNIFATECIE - CENTRO UNIVERSITÁRIO EAD.</p><p>Núcleo de Educação a Distância;</p><p>FRANCO, Claudinéia Conationi da Silva.</p><p>Planejamento Urbano e Meio Ambiente.</p><p>Claudinéia. Conationi da Silva Franco.</p><p>Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 95 p.</p><p>Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária</p><p>Zineide Pereira dos Santos.</p><p>AUTORA</p><p>Professora Dra. Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>● Pós Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual de</p><p>Maringá (UEM).</p><p>● Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual de Maringá</p><p>(UEM).</p><p>● Mestra em Genética e Melhoramento pela Universidade Estadual de Maringá</p><p>(UEM).</p><p>● Bacharel e licenciada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia pela</p><p>Universidade Paranaense (UNIPAR).</p><p>● Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Paraíso do Norte (Fapan – UNIBF).</p><p>● Professora de graduação da UniFatecie e UNIBF.</p><p>● Professora de Pós-Graduação da União Brasileira de Faculdades (UNIBF).</p><p>● Avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis).</p><p>● Procuradora Institucional da União Brasileira de Faculdades (UNIBF).</p><p>● Membro do Conselho Editorial da Editora Edufatecie - UniFatecie.</p><p>● Representante docente de grupo de pesquisa da Faculdade de Tecnologia e</p><p>Ciencias do Norte do Paraná – UniFatecie.</p><p>Atualmente possui colaboração com o grupo de pesquisa do Laboratório de Biologia</p><p>Celular da Secreção da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Também possui ampla</p><p>experiência na área de Gestão Ambiental.</p><p>Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0128915207763182</p><p>APRESENTAÇÃO DO MATERIAL</p><p>Seja muito bem-vindo(a)!</p><p>Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto dessa disciplina, isso já é</p><p>o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto</p><p>com você, construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais do planejamento</p><p>urbano e meio ambiente. Além de conhecer seus principais conceitos e definições, vamos</p><p>explorar as mais diversas aplicações das ferramentas do planejamento urbano.</p><p>Na Unidade I iniciaremos nossos estudos pelo conceito de planejamento urbano.</p><p>Refletiremos sobre o planejamento urbano ambiental, faremos uma breve discussão sobre</p><p>a história das cidades, até a revolução industrial e primeira legislação urbanística (sanitária).</p><p>Essa noção é necessária para que possamos trabalhar a segunda unidade da apostila, que</p><p>versará sobre Técnicas de Planejamento.</p><p>Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre as Técnicas de Pla-</p><p>nejamento. Para isso, vamos estudar o pré-urbanismo e as cidades modelos, os conceitos</p><p>de urbanismo, a estrutura socioeconômica da cidade moderna, segregação urbana. Por fim,</p><p>também abordaremos sobre o Plano Diretor que pode ser considerado a principal política</p><p>pública de ordenamento do território urbano.</p><p>Depois, nas Unidades III e IV vamos tratar especificamente da metodologia para</p><p>elaboração de planos urbanos e do plano diretor e as diretrizes básicas. Ao longo da Unidade</p><p>III, vamos discursar sobre o diagnóstico de problemas urbanos ambientais e o Estatuto das</p><p>cidades. Na Unidade IV vamos estudar a intervenção urbana como controle e ordenação do</p><p>crescimento e componente de saúde ambiental. Além de discutirmos a infraestrutura como</p><p>componente do plano diretor.</p><p>Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada</p><p>de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em</p><p>nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.</p><p>Muito obrigado e bom estudo!</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE I ...................................................................................................... 6</p><p>Planejamento Urbano Ambiental</p><p>UNIDADE II ................................................................................................... 26</p><p>Técnicas de Planejamento</p><p>UNIDADE III .................................................................................................. 43</p><p>Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>UNIDADE IV .................................................................................................. 65</p><p>Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>6</p><p>Plano de Estudo:</p><p>• Introdução e Conceitos.</p><p>• Planejamento Urbano Ambiental: Questões para Reflexão.</p><p>• Breve história das cidades: até a revolução industrial.</p><p>• Primeira legislação urbanística (sanitária).</p><p>Objetivos de Aprendizagem:</p><p>• Conceituar e contextualizar planejamento urbano.</p><p>• Compreender a importância do planejamento urbano.</p><p>• Relacionar os principais objetivos do planejamento ambiental urbano.</p><p>• Estabelecer a importância da legislação urbana.</p><p>UNIDADE I</p><p>Planejamento Urbano Ambiental</p><p>Professora Doutora Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>7UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Caro(a) aluno(a), nesta unidade você irá estudar sobre o planejamento urbano, sua</p><p>importância e objetivos, assim como irá conhecer a primeira legislação urbanística.</p><p>O planejamento urbano é um ramo da arquitetura e, como tal, a forma e a função</p><p>são tão importantes em uma cidade quanto na concepção de um novo edifício. Planejamen-</p><p>to Urbano é o estudo ou profissão que lida com o crescimento e funcionamento de cidades</p><p>e vilas, incluindo preocupações ambientais, áreas urbanas, infraestrutura, entre outros.</p><p>Assim, o planejamento busca oferecer aos cidadãos uma vida agradável, segura e</p><p>organizada, seja ela doméstica e profissional, para os moradores de cidades novas ou já</p><p>estabelecidas. Atualmente os aspectos mais preocupantes do planejamento urbano são: o</p><p>aspecto de uma cidade, a construção de locais, o zoneamento e o transporte. Além disso,</p><p>uma das preocupações do planejamento é focar na preservação do ambiente natural local,</p><p>tentando eliminar as áreas degradadas e/ou impedindo seu desenvolvimento.</p><p>8UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS</p><p>A palavra planejamento é oriunda do verbo planejar, que significa prever com</p><p>antecedência um conjunto de ações a serem realizadas. Trata-se de uma organização an-</p><p>tecipada de atividades futuras com a finalidade de evitar ou resolver problemas. Em outras</p><p>palavras, o planejamento urbano nada mais é do que uma atividade que se preocupa em</p><p>planejar para melhorar a qualidade das cidades. É um conceito que abrange muito mais do</p><p>que o simples desenhar espaços nas cidades, compreendendo aspectos de infraestrutura,</p><p>investimentos, leis, zoneamento, impactos sociais do ambiente urbano, entre outros.</p><p>O planejamento urbano é o processo que lida com o controle e o desenvolvimento</p><p>das cidades e vilas, por meio de regulamentações locais e intervenções diretas, buscando</p><p>atender alguns objetivos, como qualidade de vida, sustentabilidade e mobilidade, ou seja,</p><p>o planejamento urbano é uma parte da arquitetura que estuda a organização de áreas</p><p>metropolitanas. Devido aos</p><p>de 50 metros de altura, de alta densidade,</p><p>similares entre si, pré-fabricados, isolados um dos outros, organizados em uma grade</p><p>cartesiana que deveria estar em volta de um grande espaço verde, além de se situar em</p><p>uma zona da cidade apenas dedicada à habitação. Essas unidades deveriam acomodar</p><p>2.700 habitantes e se portariam como edifício autossuficiente, com equipamentos de</p><p>serviços no próprio edifício, como refeitório e lavanderia coletivos, escola de educação</p><p>infantil e piscina (GIAMBASTIANI et al., 2019).</p><p>REFLITA</p><p>O relatório sobre aumento da população urbana, divulgado pela Organização das Na-</p><p>ções Unidas (ONU), destaca que em 2030 duas a cada três pessoas no mundo irão mo-</p><p>rar em cidades, ultrapassando a proporção de 2015, que era uma a cada duas. Tóquio,</p><p>a maior potência econômica global, apesar das restrições geográficas, é a cidade mais</p><p>populosa do mundo e, conforme o estudo da ONU, continuará sendo por, no mínimo,</p><p>mais 15 anos (GIAMBASTIANI et al., 2019).</p><p>41UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ao término desta unidade pudemos observar que enquanto para os urbanistas pro-</p><p>gressistas a geometria era tomada como uma verdade salvadora do espaço e da sociedade,</p><p>para os urbanistas culturalistas a irregularidade é que seria capaz de humanizar o espaço.</p><p>Essa polêmica, então, marca o pertencimento dos urbanistas a formações discursivas</p><p>diferentes.</p><p>Afinal, o urbanismo é a expressão de um posicionamento político, pois prepara o</p><p>espaço da cidade para o desenvolvimento do capitalismo industrial, inclusive ga-</p><p>rantindo a reprodução da força de trabalho.</p><p>42UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>• Título: Planejamento urbano e regional: dimensionamento</p><p>• Autor: Gabriel Lima Giambastiani et al.</p><p>• Editora: SAGAH</p><p>• Sinopse: Esse livro traz os aspectos da dinâmica da rede ur-</p><p>bana, formas de dimensionamento da cidade e reconhecimento</p><p>dos tempos de formação urbana e preceitos espaciais. Também</p><p>traz outras abordagens fundamentais, como tipologia dos bairros,</p><p>zoneamento, elementos da estrutura urbana e intervenções no es-</p><p>paço urbano idealizadas por Le Corbusier e o Movimento Moderno</p><p>para grandes metrópoles, além da diversidade de algumas malhas</p><p>urbanas existentes no mundo.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>• Título: Gran Horizonte: Around the Day in 80 Worlds</p><p>• Ano: 2014</p><p>• Sinopse: Num mundo onde sete bilhões de não-arquitetos cons-</p><p>troem as cidades [...] a linguagem do arquiteto, para se referir ao</p><p>projeto e construção da cidade está obsoleta. Através da compila-</p><p>ção do material recolhido por Urban-Think Tank durante o período</p><p>de três anos, este documentário, dirigido por Martin Schwartz &</p><p>Daniel Andersson, retrata a realidade da informalidade urbana em</p><p>todo o mundo, estruturado numa viagem irreal pelo mundo em</p><p>apenas um dia.</p><p>Fazendo perguntas ao invés de apresentar respostas, Grande Ho-</p><p>rizonte tem como objetivo ampliar a perspectiva dos espectadores</p><p>sobre o mundo em que vivem e o mundo que poderiam ajudar</p><p>a criar. O filme é baseado na filosofia de que o futuro do desen-</p><p>volvimento urbano radica na colaboração entre os arquitetos, os</p><p>governos, a empresa privada e a população mundial dos bairros</p><p>marginais.</p><p>43</p><p>Plano de Estudo:</p><p>• Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos: Coleta, Estruturação e Análise</p><p>de Dados Urbanos.</p><p>• Diagnósticos de Problemas Urbanos Ambientais: Definição de Diretrizes e Planos de Ação.</p><p>• Estatuto das Cidades: Conceitos e Conteúdo.</p><p>• O Plano Diretor sob a Ótica do Estatuto da Cidade e a Abordagem de Intervenção Urbana</p><p>pela Engenharia Ambiental.</p><p>Objetivos de Aprendizagem:</p><p>• Conceituar e contextualizar Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos: Coleta,</p><p>Estruturação e Análise de Dados Urbanos.</p><p>• Compreender os tipos de Diagnósticos de Problemas Urbanos Ambientais: Definição de</p><p>Diretrizes e Planos de Ação.</p><p>• Estabelecer a importância do Estatuto das Cidades e do Plano Diretor.</p><p>UNIDADE III</p><p>Metodologia para Elaboração de</p><p>Planos Urbanos</p><p>Professora Doutora Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>44UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Ao analisarmos a literatura, a elaboração de planos urbanos, tendo como base</p><p>o Estatuto da Cidade, pode gerar benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao</p><p>estimular a instalação da população de baixa renda em áreas dotadas de infraestrutura, evi-</p><p>tando, assim, a ocupação de áreas consideradas ambientalmente frágeis, como encostas</p><p>de morros, zonas inundáveis e mangues.</p><p>Com a aprovação do Estatuto da Cidade, a Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de</p><p>2001, uma série de instrumentos foram criados para que a cidade pudesse buscar seu de-</p><p>senvolvimento urbano, sendo o principal deles o plano diretor, que proporciona a articulação</p><p>da implementação de planos diretores participativos, definindo uma série de instrumentos</p><p>urbanísticos que têm no combate à especulação imobiliária e na regularização fundiária dos</p><p>imóveis urbanos.</p><p>Além do Estatuto definir uma nova regulamentação para o uso do solo urbano, ele</p><p>também prevê a cobrança de IPTU progressivo de até 15% para terrenos ociosos, ou seja,</p><p>inocupados, a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, de</p><p>modo a aumentar a oferta de lotes, a recuperação e a proteção do meio ambiente urbano</p><p>(BRASIL, 2001).</p><p>45UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>1 METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE PLANOS URBANOS: COLETA, ESTRUTU-</p><p>RAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS URBANOS</p><p>Com a aprovação do Estatuto da Cidade Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de</p><p>2001, o Plano Diretor passou a ser o instrumento legal básico da política de desenvolvimento</p><p>e expansão urbanos (BRASIL, 2001). Apesar de já estar instituído na Constituição Federal</p><p>Brasileira de 1988, no Capítulo II, artigo 182 e 183, a elaboração do Plano Diretor, aprovado</p><p>pela Câmara Municipal, obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, sendo</p><p>considerado como o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.</p><p>Também são estabelecidas pela Constituição algumas diretrizes a serem observa-</p><p>das pelos Estados e Municípios, como a garantia do bem-estar de seus habitantes, o pleno</p><p>desenvolvimento das funções sociais da cidade, a participação popular e a proteção ao</p><p>meio ambiente, histórico e cultural.</p><p>Para elaboração e revisão de Planos Diretores Municipais, tão importante quanto</p><p>a lei em si é a forma de sua elaboração, contando com a participação efetiva da população</p><p>e das entidades organizadas, segundo expresso no artigo 43, da gestão democrática do</p><p>Estatuto da Cidade, consolidando, desta forma, um compromisso de todos na execução</p><p>das diretrizes e ações estratégicas incluídas no plano. As Constituições Federal e Estadual</p><p>destacam nitidamente esta importância, ficando a cargo da Administração Municipal promo-</p><p>ver a participação ampla da população.</p><p>46UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>Para a elaboração do Plano Diretor, é indispensável ouvir a opinião de moradores</p><p>das diferentes regiões da cidade e partes organizadas da sociedade. As diferentes visões</p><p>sobre a cidade construída de forma organizada por segmentos devem ser apresentadas,</p><p>trazendo para a esfera pública os interesses que embasam as visões. O morador observa</p><p>o conjunto dos bairros a partir do lugar onde vive. No entanto, o desafio maior é sensibilizar</p><p>a população para o assunto e obter a opinião do maior número de moradores sobre os</p><p>anseios de conquista e as expectativas em relação à cidade, rompendo com a não visuali-</p><p>zação dos processos urbanos que acontecem nas periferias e revelando a diversidade e a</p><p>desigualdade nas diferentes partes compõem uma cidade. Dessa forma, as pautas assim</p><p>levantadas orientam a definição das propostas (HARVEY, 2011).</p><p>Ao sistematizar a proposta e definir a estrutura do plano diretor, a próxima etapa é a</p><p>elaboração e aprovação da metodologia descrita no plano que é composta essencialmente</p><p>pelos respectivos itens: diagnóstico que considera duas leituras, uma técnica realizada por</p><p>equipe especializada, com a participação dos membros da comissão e a leitura comunitária.</p><p>A leitura técnica pode conter dimensões especiais como: os estudos de caracteri-</p><p>zação socioeconômica e demográfica, estudos acerca do desenvolvimento econômico e do</p><p>turismo e os estudos de caracterização físico-espacial. A leitura comunitária é dedicada à</p><p>participação da comunidade.</p><p>Durante o processo de discussão participativa de um Plano Diretor, muitas pessoas</p><p>são envolvidas, inclusive: sociedade civil organizada, movimentos sociais e Executivo. No</p><p>âmbito dos delegados, são claras as divergências de ideias e de interesses, que, durante o</p><p>processo, diluem-se e ganham força por meio da aproximação entre segmentos distintos e</p><p>consensos que vão se construindo durante a discussão. Na esfera do governo, duas frentes</p><p>se mostram na correlação de forças políticas entre governantes e partidos. Governos de</p><p>coalizão que reúnem legendas partidárias de posições extremas entram em rota de colisão</p><p>nesses processos, divergindo sobre aspectos técnicos da proposta do Plano Diretor. A ideo-</p><p>logia do patrimonialismo reflete-se no serviço público, no comportamento dos técnicos e</p><p>nos procedimentos administrativos que ainda trazem a antiga compreensão da propriedade</p><p>privada no Brasil, aceitando como natural a soberania do direito do proprietário sobre a</p><p>função social da cidade e da propriedade.</p><p>Segundo Fernandes (2013, p. 223):</p><p>Esse processo de mercantilização das cidades tem demandado o reforço da</p><p>cultura jurídica individualista e patrimonialista tradicional, vigente e dominan-</p><p>te pré-Estatuto da Cidade, com a propriedade imobiliária concebida quase</p><p>que exclusivamente como mercadoria, seu valor de troca prevalecendo sobre</p><p>qualquer valor de uso, e a possibilidade de usar/gozar/dispor do bem imóvel</p><p>47UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>sendo também interpretada como a possibilidade livre de não usar/gozar/</p><p>dispor do bem — em outras palavras, de especular.</p><p>As alianças formadas em função do voto, dentro e fora do Executivo, polarizam</p><p>decisões incluídas no Plano Diretor, mudando rumos das propostas.</p><p>O prefeito tem o papel central de decisão, no sentido de mediar o diálogo inter-</p><p>secretarial, decidindo quando há divergências, administrando conflitos entre secretarias.</p><p>Em relação ao processo sobre questões trazidas pelos setores econômicos e sociedade,</p><p>relacionadas a utilização e à ocupação do solo, o prefeito também tem o aval, remetendo-as</p><p>à esfera pública de discussão.</p><p>O Judiciário também exerce papel de extrema importância, na medida em que,</p><p>acompanhando o processo, pode ser chamado para garantir sua continuidade.</p><p>Processos com essa grandeza exigem equipes qualificadas, dedicadas exclusiva-</p><p>mente à condução do Plano Diretor. É necessário investimento em construir um processo</p><p>de elaboração dos documentos técnicos contando com equipes multidisciplinares, mas</p><p>também processos de discussão pública que envolvam profissionais especializados para</p><p>essa tarefa e que conheçam os conteúdos relacionados ao planejamento urbano. Dessa</p><p>forma, caso haja contratação de profissionais para essa tarefa, deve-se definir uma equipe</p><p>mínima especializada nos temas de gestão urbana e do planejamento, do direito urbanístico</p><p>e da participação social.</p><p>Infelizmente, no Brasil, ainda existe a cultura de pouca importância às atividades de</p><p>planejamento, gerando estruturas e equipes fracas e restrição de recursos para contratação</p><p>de consultorias. A experiência da consultoria para processos, e não somente para produtos,</p><p>tem resultado na melhoria dos quadros técnicos das Prefeituras, sem que esse resultado</p><p>seja formalmente reconhecido pelos gestores, muitas vezes inexperientes ou pouco habi-</p><p>tuados ao planejamento territorial.</p><p>48UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>2 DIAGNÓSTICOS DE PROBLEMAS URBANOS AMBIENTAIS: DEFINIÇÃO DE DIRE-</p><p>TRIZES E PLANOS DE AÇÃO</p><p>O crescimento das cidades brasileiras de maneira desordenada, sem o devido</p><p>planejamento, principalmente a partir da segunda metade do século XX, tem propiciado</p><p>o aumento dos impactos ambientais negativos, tais como o excesso de resíduos sólidos</p><p>e de ruídos, deterioração da qualidade dos recursos hídricos e o aumento da geração e</p><p>lançamento de esgotos nos cursos d’água (MOTA, 1999). No entanto é comum no Brasil</p><p>comentários de que a legislação urbana é moderna, mas, de fato, na sociedade poucos</p><p>integrantes sabem como funciona todo esse aparato do planejamento urbano e como esses</p><p>mecanismos podem contribuir para conduzir os centros urbanos para um futuro melhor e</p><p>mais sustentável, garantindo uma mínima condição de vida aos habitantes (SOUZA, 2004).</p><p>Durante a primeira metade do século XX a mudança de um Brasil rural para o</p><p>urbano caminhou junto com o desenvolvimento industrial e a crise agrícola. A partir da</p><p>década de 50, mais da metade da população foi para as cidades, totalizando em torno de</p><p>85% dos brasileiros que vivem até hoje. Logo, ,os municípios não estavam preparados para</p><p>essa transição, faltando planejamento, estrutura administrativa e até mesmo instrumentos</p><p>jurídicos para lidar com toda essa modificação.</p><p>Essa modificação de cenário e falta de planejamento estrutural fez surgir a ocu-</p><p>pação de espaços, na maioria das vezes sem acesso ao serviço básico, como: educação,</p><p>lazer, cultura, saneamento básico, saúde e transporte.</p><p>49UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>Ações buscando ordenamento jurídico e administrativo sobre o processo da urbani-</p><p>zação vinham se fortalecendo desde 1970, mas apenas em 1988, na Assembleia Nacional</p><p>Constituinte, é que ocorreu a inclusão da função social da propriedade na Constituição</p><p>Federal. O artigo 182 foi o mecanismo formal para a transição de um conceito de proprie-</p><p>dade privada, tido como absoluto e incondicional, para o direito público, que privilegia os</p><p>interesses coletivos, estabelecendo os Planos Diretores como instrumentos para cumpri-lo</p><p>no âmbito municipal.</p><p>Mais de uma década se passou e, somente em 2001, os artigos 182 e 183 da Cons-</p><p>tituição Federal foram regulamentados pelo Estatuto da Cidade (lei 10.257), que procura</p><p>garantir o direito a cidades sustentáveis, com participação social nas decisões, cooperação</p><p>entre o setor público e privado no processo de urbanização, planejamento, controle do</p><p>uso do solo para evitar especulação imobiliária, preocupação com impactos ambientais,</p><p>mecanismos para o Estado recuperar investimentos em infraestrutura que valorize terrenos</p><p>e imóveis privados, regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por pessoas</p><p>de baixa renda.</p><p>Com o estabelecimento do Estatuto da Cidades, as gestões municipais ganharam</p><p>as ferramentas e mecanismos para melhor administrar o seu território, garantir o interesse</p><p>coletivo sobre o privado e, com a participação da população, construir uma visão de cidade</p><p>para ser trabalhada através do planejamento. Em 2003, também foi criado no Brasil o Mi-</p><p>nistério das Cidades, fortalecendo a capacidade do governo federal de planejar e orientar</p><p>as questões urbanas em âmbito local e regional.</p><p>Logo após a criação do Estatuto da Cidades (2001) e do Ministério das Cidades</p><p>(2003) surgiram as políticas nacionais por setores, primeiro a Política Nacional de Habita-</p><p>ção (2005), depois a de Saneamento Básico (2007), de Resíduos Sólidos (2010) e a de</p><p>Mobilidade Urbana (2012). Todas elas exploram em detalhes, atualizam alguns aspectos do</p><p>Estatuto da Cidade e estabelecem a exigência para os municípios de elaboração de planos</p><p>setoriais.</p><p>Em 2015 é lançado o Estatuto da Metrópole, lei que estabelece as diretrizes gerais</p><p>para o planejamento, a gestão e a execução das funções públicas de interesse comum, tan-</p><p>to em regiões metropolitanas quanto em aglomerações urbanas instituídas pelos estados,</p><p>para completar</p><p>a legislação urbana brasileira.</p><p>Segundo o Estatuto da Cidade (2001), o instrumento básico da política de desen-</p><p>volvimento e de expansão urbana dos municípios é o Plano Diretor. No entanto somente</p><p>o Plano Diretor não garante um bom planejamento, que inclui a integração e a obrigatória</p><p>50UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>compatibilização com os planos setoriais e o planejamento metropolitano, no caso do mu-</p><p>nicípio que faz parte de uma Região Metropolitana ou aglomeração urbana.</p><p>Dessa forma, faz-se necessário discutirmos a seguir os diferentes planos de ação</p><p>e como eles se comunicam. Por exemplo, os Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado</p><p>devem se comunicar com os Planos Diretores dos vários municípios da Região Metropoli-</p><p>tana envolvida, assim como os Planos Setoriais de cada município devem ser compatíveis</p><p>com seus Planos Diretores.</p><p>O Plano Diretor é um instrumento de planejamento urbano municipal que apresenta</p><p>como principal objetivo ordenar o desenvolvimento da cidade sob o ponto de vista urba-</p><p>nístico, econômico e social. É fundamental para regular a ocupação dos espaços urbanos</p><p>em benefício da população, estabelecendo estratégias para garantir a qualidade de vida,</p><p>tornando viável a função social da propriedade urbana (pública e privada). Todos os demais</p><p>planos setoriais desenvolvidos pelos municípios devem necessariamente estar compatibili-</p><p>zados com seu respectivo Plano Diretor.</p><p>O Plano Diretor deve ser criado por municípios com mais de 20 mil habitantes,</p><p>integrantes de Regiões Metropolitanas e aglomerações urbanas, integrantes de áreas de</p><p>especial interesse turístico, inseridos em área de influência de empreendimentos com sig-</p><p>nificativo impacto ambiental etc. Sendo o prazo estabelecido pelo Estatuto da Cidade: cinco</p><p>anos para que os municípios publiquem seus planos, sendo depois adiado para 2008. Os</p><p>planos devem ser revisados a cada dez anos e em 2018 se encerrou o prazo mínimo de</p><p>dez anos para diversos municípios.</p><p>O não cumprimentos dos prazos pelos prefeitos pode resultar em improbidade</p><p>administrativa, assim como o não atendimento a alguns requisitos do processo, como a</p><p>participação da população, a publicação dos documentos e informações produzidas e o</p><p>acesso a isso por qualquer cidadão interessado.</p><p>Um outro plano de ação é o Plano de Mobilidade Urbana, um instrumento de efeti-</p><p>vação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, baseada em princípios como o desenvol-</p><p>vimento sustentável das cidades, equidade no acesso dos cidadãos ao transporte coletivo</p><p>e uso do espaço público de circulação. Apresenta como diretrizes importantes: a prioridade</p><p>dos modos de transporte ativos sobre os motorizados e dos serviços de transporte público</p><p>coletivo sobre o transporte individual; a mitigação dos custos ambientais, sociais e econômi-</p><p>cos (custos externos) dos deslocamentos urbanos, em especial do tráfego rodoviário; além</p><p>do incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis</p><p>menos poluentes. Inclui uma visão para a mobilidade urbana do município, com metas de</p><p>51UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>curto, médio e longo prazo. Também é um plano que deve ser feito por municípios com mais</p><p>de 20 mil habitantes e demais exigidos por lei a terem Planos Diretores.</p><p>Essa Lei Federal de Mobilidade Urbana entrou em vigor a partir de janeiro de 2012</p><p>e estabeleceu um prazo de três anos para os municípios elaborarem seus planos. Após ser</p><p>prorrogado para 2018 e logo mais adiado para abril de 2019, conforme estabelecido pela</p><p>Lei 13.640, de 2018. Igual aos Planos Diretores, precisa ser revisada a cada dez anos.</p><p>O não cumprimento desta lei impede os municípios de acessar verbas federais</p><p>para área de mobilidade, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou o</p><p>recente Avançar Cidades.</p><p>Outro instrumento é o Plano Local de Habitação de Interesse Social, aplicado no</p><p>nível local da Política Nacional de Habitação, que entre suas diretrizes a principal é garantir</p><p>o direito à moradia digna e o princípio da função social da propriedade, estabelecido na</p><p>Constituição e no Estatuto da Cidade, além de promover ações coordenadas no território</p><p>para garantir acesso a moradia e a própria cidade, ser realizado com participação social,</p><p>garantir atendimento prioritário à população de baixa renda e realizar ações voltadas à</p><p>ampliação e universalização do acesso à terra urbanizada.</p><p>Não há um prazo estabelecido para a entrega do plano. Depende do interesse</p><p>dos municípios de aderir ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. Qualquer</p><p>município que queira participar do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e</p><p>acessar recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social pode participar.</p><p>Os municípios que não realizarem seus Planos Locais de Habitação de Interesse</p><p>Social não poderão aderir ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social nem ter</p><p>acesso aos recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.</p><p>Já o Plano Municipal de Saneamento Básico é um diagnóstico do saneamento</p><p>básico do município para planejar metas de curto, médio e longo prazo para a universali-</p><p>zação do acesso a serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem</p><p>e manejo de águas pluviais urbanas, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos. É o</p><p>instrumento de efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, ou seja, é baseado em</p><p>quatro pilares: Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Limpeza Urbana e Manejo</p><p>de Resíduos Sólidos e Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas.</p><p>Essa Lei Federal de Saneamento Básico tem como principal objetivo a busca pela</p><p>universalização regular do acesso com segurança e qualidade, promoção da saúde pública,</p><p>segurança da vida e do patrimônio e proteção do meio ambiente, adoção de tecnologias</p><p>apropriadas de acordo com as características locais e regionais, soluções graduais e pro-</p><p>52UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>gressivas, integradas com a gestão eficiente dos recursos hídricos, com sustentabilidade</p><p>econômica e eficiência.</p><p>Todos os municípios brasileiros devem cumprir essa lei. O prazo inicial era dezem-</p><p>bro de 2013. No entanto, após diversas prorrogações, a data final seria 31 de dezembro de</p><p>2019.</p><p>Em decorrência do compromisso com o Saneamento Básico, o Ministério do Meio</p><p>Ambiente e o Ministério das Cidades firmaram um acordo em prol do Meio Ambiente e</p><p>Saneamento Básico, que consiste em um conjunto de ações em curso a serem estrutura-</p><p>das para atingir metas intermediárias preconizadas pela Lei de Saneamento Básico até o</p><p>ano de 2020. Com o objetivo de construir e contribuir para a definição conjunta de ações</p><p>e programas de grande relevância para o setor de saneamento, o acordo resulta de uma</p><p>ampla reflexão sobre as tendências e os desafios atuais do saneamento básico no Brasil.</p><p>O não cumprimento desta lei acarreta o não recebimento de recursos da União</p><p>para investimentos em saneamento básico aos municípios que tiverem um Plano de Sa-</p><p>neamento Básico.</p><p>O Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é um outro Instrumento que</p><p>planejamento a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos no nível local. Uma</p><p>das inovações da lei é que o escopo de planejamento não deve tratar apenas dos resíduos</p><p>sólidos urbanos (domiciliares e limpeza urbana), mas de uma ampla variedade de resíduos</p><p>sólidos, conforme descritos no art. 13 da Lei: domiciliares; de limpeza urbana; de estabe-</p><p>lecimentos comerciais e prestadores de serviços; dos serviços públicos de saneamento;</p><p>industriais; de serviços de saúde; da construção civil; agrossilvopastoris; de serviços de</p><p>transportes e de mineração.</p><p>O Plano exigido dos municípios deve abranger um diagnóstico do tratamento dos</p><p>resíduos gerados, definir diretrizes, metas e estratégias a serem alcançadas, incluindo des-</p><p>de a geração dos resíduos até a disposição</p><p>final adequada, tendo como prioridade soluções</p><p>capazes de minimizar os efeitos negativos para o ambiente. Todos os municípios acima de</p><p>20 mil habitantes devem elaborar o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.</p><p>O prazo para a elaboração foi julho de 2018 para capitais e municípios de região</p><p>metropolitana, julho de 2019 para municípios com mais de 100 mil habitantes, julho de 2020</p><p>para municípios entre 50 e 100 mil habitantes e julho de 2021 para municípios com menos</p><p>de 50 mil habitantes.</p><p>Os municípios que não realizarem sua elaboração ficam impedidos de acessar</p><p>recursos ou incentivos da União destinados a serviços relacionados à limpeza urbana e ao</p><p>53UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>manejo de resíduos sólidos. O Plano de Resíduos Sólidos pode estar inserido no Plano de</p><p>Saneamento Básico desde que considere o conteúdo mínimo previsto na lei.</p><p>Um outro instrumento é o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado, estabele-</p><p>cido pelo Estatuto da Metrópole para definir as diretrizes de desenvolvimento urbano das</p><p>regiões metropolitanas e aglomerações urbanas brasileiras.</p><p>Esse instrumento estabelece as bases de atuação conjunta entre estados e municí-</p><p>pios nesses territórios. Ao propor uma governança interfederativa, institui a gestão compar-</p><p>tilhada de funções públicas de interesse comum com o objetivo de tornar serviços urbanos</p><p>mais eficientes e capazes de atender mais pessoas. A criação de um plano de desenvolvi-</p><p>mento integrado não isenta os municípios de elaborarem seus respectivos planos diretores.</p><p>Além disso, os planos diretores locais devem obrigatoriamente ser compatibilizados com o</p><p>plano de desenvolvimento integrado.</p><p>O Estatuto da Metrópole, que entrou em vigor em 2015, estabeleceu o prazo de três</p><p>anos para a entrega do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado. Recentemente este</p><p>prazo foi alterado para 2021. Além disso, Todas as Regiões Metropolitanas e aglomerações</p><p>urbanas brasileiras, de maneira cooperada entre Estados e Municípios, devem elaborar o</p><p>plano. Uma medida provisória publicada em 2018 adiou os prazos de entrega e retirou as</p><p>possíveis sanções de improbidade administrativa por omissão a governadores que não</p><p>tomassem as medidas cabíveis para elaborar os planos.</p><p>Como se pode observar, os desafios de planejamento e a complexidade das exigên-</p><p>cias para os municípios são grandes. Embora não haja um método consolidado sobre como</p><p>fazer a integração entre esses instrumentos de planejamento, é fundamental que todos</p><p>apontem para uma visão comum de desenvolvimento, estabelecida de forma democrática e</p><p>participativa, visando uma cidade mais equitativa, que promova o desenvolvimento social e</p><p>econômico de maneira eficiente e sustentável. Ainda que isso seja obrigatório, é importante</p><p>ressaltar que um bom planejamento necessita de uma compatibilização entre todos os</p><p>planos, especialmente o Plano Diretor, que ordena e orienta o desenvolvimento em todo o</p><p>território municipal.</p><p>Algumas dificuldades são comuns a muitas cidades, como falta de equipe dedi-</p><p>cada, de recursos técnicos e financeiros, de dados, dificuldades políticas e de trabalhar</p><p>com uma legislação complexa. Mas uma delas se sobressai: a ausência de uma cultura</p><p>de planejamento, capaz de orientar as ações e investimentos para curto, médio e longo</p><p>prazo. As urgências cotidianas das cidades acabam consumindo os recursos e orientando</p><p>as ações das administrações municipais em detrimento de políticas e medidas estratégicas</p><p>54UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>mais duradouras. As sistemáticas prorrogações de todos os prazos apresentados anterior-</p><p>mente são um indicativo desse cenário de dificuldades e de pressão para a flexibilização</p><p>das exigências.</p><p>Muitos municípios carecem de um planejamento a longo prazo que ultrapasse</p><p>mandatos, assim como uma integração maior entre as secretarias, que deveriam trabalhar</p><p>juntas em muitos casos. O planejamento urbano deve orientar os investimentos e o cres-</p><p>cimento, que precisam ser baseados em estratégias setoriais integradas, definidas com a</p><p>participação de toda a sociedade. São desafios que o Brasil precisa enfrentar agora para</p><p>evitar que essa falta de cultura de planejamento se perpetue e as cidades continuem cres-</p><p>cendo de forma desordenada e ineficiente. Só assim o país terá cidades economicamente</p><p>prósperas, socialmente justas e ambientalmente sustentáveis.</p><p>Entre os critérios mais importantes de avaliação da sustentabilidade urbana estão</p><p>os indicadores de desempenho ambiental. Indicadores da qualidade ambiental urbana, prin-</p><p>cipalmente em associação com outros indicadores de qualidade de vida como os referentes</p><p>à infraestrutura urbana, características demográficas e socioeconômicas, podendo ainda</p><p>representar uma enorme contribuição no controle dos problemas ambientais e também au-</p><p>xiliar no desenvolvimento de políticas públicas ligadas a diversos assuntos (GEHL, 2013).</p><p>55UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>3 ESTATUTO DAS CIDADES: CONCEITOS E CONTEÚDO</p><p>Em 1988, o senador Pompeu de Sousa (1914-1991) propôs a criação do Estatuto</p><p>da Cidade como projeto, que foi apresentado no plenário do Senado, em junho de 1989,</p><p>aprovado e remetido à Câmara Federal no ano seguinte. No entanto esse projeto só saiu</p><p>da gaveta quando o então deputado e ex-senador Inácio Arruda assumiu a presidência da</p><p>Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior, em 1999, sendo aprovado apenas em</p><p>2001, mais de 12 anos depois – e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso,</p><p>em 10 de julho do mesmo ano.</p><p>O Estatuto da Cidade hoje é a denominação oficial da lei 10.257, de 10 de julho</p><p>de 2001. Foi criada para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Brasileira,</p><p>que tratam da política de desenvolvimento urbano (planejamento participativo) e da função</p><p>social da propriedade (BRASIL, 2001). A União regulamentou as disposições constitucio-</p><p>nais acerca de desenvolvimento urbano com base em competência prevista na própria</p><p>constituição.</p><p>O Estatuto da Cidade é uma forma de buscar a democratização da gestão das</p><p>cidades brasileiras através de instrumentos de gestão, no qual podemos destacar o Plano</p><p>Diretor, instrumento obrigatório para toda a cidade com mais de 20 mil habitantes ou aglo-</p><p>merados urbanos. O principal objetivo da utilização dos instrumentos de gestão expostos</p><p>pelo Estatuto da Cidade é a efetivação dos princípios constitucionais de participação popular</p><p>da comunidade da cidade e da garantia da função social da propriedade, que se constitui na</p><p>56UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>proposição de uma nova interpretação para o princípio individualista do Código Civil, entre</p><p>outros princípios.</p><p>A função social da propriedade é umas das questões mais polêmicas e essenciais</p><p>elencadas pelo Estatuto. Conforme essa lei, é dever do município a promoção e controle do</p><p>desenvolvimento urbano de acordo com a legislação urbanística e a fixação das condições</p><p>e prazos para o parcelamento, edificação ou utilização compulsória da propriedade (ou do</p><p>solo), sendo não edificado, subutilizado ou não utilizado.</p><p>O Estatuto da Cidade é dividido em cinco capítulos a seguir:</p><p>● I - Diretrizes Gerais (artigos 1º a 3º);</p><p>● II - Dos Instrumentos da Política Urbana (artigos 4º a 38);</p><p>● III - Do Plano Diretor (artigos 39 a 42);</p><p>● IV - Da Gestão Democrática da Cidade (artigos 43 a 45); e</p><p>● V - Disposições Gerais (artigos 46 a 58).</p><p>O primeiro capítulo do Estatuto refere-se às diretrizes gerais para a execução da</p><p>política urbana, pelo qual o objetivo é ordenar o desenvolvimento das funções sociais da ci-</p><p>dade e da propriedade urbana. Quando tratamos da execução da política urbana podemos</p><p>destacar a gestão democrática, cooperação entre governos, planejamento das cidades e a</p><p>garantia do direito a cidades sustentáveis, dentre as diretrizes gerais.</p><p>Em seguida, o Estatuto trata dos</p><p>instrumentos da política urbana, como: o plano</p><p>diretor, disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo, zoneamento ambiental,</p><p>plano plurianual, gestão orçamentária participativa, diretrizes orçamentárias e orçamento</p><p>anual etc.</p><p>A partir do Estatuto da Cidade, uma série de instrumentos foram criados para que</p><p>a cidade pudesse buscar seu desenvolvimento urbano, sendo o principal deles o plano</p><p>diretor, que proporciona a articulação da implementação de planos diretores participativos,</p><p>definindo uma série de instrumentos urbanísticos que têm no combate à especulação imo-</p><p>biliária e na regularização fundiária dos imóveis urbanos.</p><p>Além do Estatuto definir uma nova regulamentação para o uso do solo urbano, ele</p><p>também prevê a cobrança de IPTU progressivo de até 15% para terrenos ociosos, ou seja,</p><p>inocupados, a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, de</p><p>modo a aumentar a oferta de lotes, a recuperação e a proteção do meio ambiente urbano</p><p>(BRASIL, 2001).</p><p>57UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>Ao analisarmos a literatura, o Estatuto da Cidade pode gerar benefícios ambientais</p><p>aos grandes centros urbanos ao estimular a instalação da população de baixa renda em</p><p>áreas dotadas de infraestrutura, evitando, assim, a ocupação de áreas consideradas am-</p><p>bientalmente frágeis, como encostas de morros, zonas inundáveis e mangues.</p><p>O Estatuto propõe como diretriz para as prefeituras a adoção de medidas ambien-</p><p>talmente sustentáveis para o planejamento urbano e prevê normas, como a obrigatoriedade</p><p>de estudos de impacto urbanístico para grandes obras, por exemplo, a construção de sho-</p><p>pping centers. Além de listar entre os instrumentos do planejamento a gestão orçamentária</p><p>participativa (BRASIL, 2001).</p><p>58UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>4 O PLANO DIRETOR SOB A ÓTICA DO ESTATUTO DA CIDADE E A ABORDAGEM DE</p><p>INTERVENÇÃO URBANA PELA ENGENHARIA AMBIENTAL</p><p>De acordo com o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001, artigo 40), o Plano Diretor</p><p>é “o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”, obrigatório</p><p>para municípios com mais de 20 mil habitantes, que sejam integrantes de área de especial</p><p>interesse turístico ou área em que haja atividades com significativo impacto ambiental, que</p><p>queiram utilizar de edificação, parcelamento, ou utilização compulsórios de imóvel.</p><p>O Estatuto da Cidade estabeleceu um prazo de cinco anos para os municípios</p><p>que se encaixam nas especificações descritas desenvolverem seus Planos diretores. No</p><p>entanto devido à grande complexidade de todo processo, muitos municípios não cumpriram</p><p>o prazo de cinco anos dado pelo Estatuto para criarem seus planos diretores. Logo, diante</p><p>do exposto, foi promulgada a lei 11.673 em 2008, adiando o fim do prazo para 30 de junho</p><p>de 2008.</p><p>O Estatuto requer que o Plano Diretor delimite ao menos as áreas em que se pode-</p><p>rão aplicar (BRASIL, 2001, Art. 42:</p><p>● parcelamento, edificação e utilização compulsórios de imóvel;</p><p>● direito de preempção;</p><p>● direito de outorga onerosa do direito de construir;</p><p>● direito de alterar onerosamente o uso do solo;</p><p>● operações urbanas consorciadas;</p><p>● direito de transferir o direito de construir.</p><p>59UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>Em relação ao parcelamento, edificação e utilização compulsórios, o Plano Diretor</p><p>de um município pode estabelecer coeficientes de aproveitamento para certas áreas da</p><p>cidade (BRASIL, 2001, Art. 28). O administrador público pode exigir, por meio de lei es-</p><p>pecífica, que o proprietário que tenha imóvel subutilizado, ou seja, com ocupação inferior</p><p>ao coeficiente (BRASIL, 2001, Art. 5º, parágrafo 1º), realize o parcelamento, edificação ou</p><p>a utilização deste imóvel. Assim o proprietário deve ser notificado da subutilização pela</p><p>prefeitura e, no prazo máximo de um ano, apresentar projeto de utilização de forma a</p><p>enquadrar-se no Plano Diretor. Após a apresentação do projeto, este deve ser iniciado</p><p>em até dois anos (BRASIL, 2001, Art. 5º, parágrafo 4º), podendo ser excepcionalmente</p><p>realizado em etapas.</p><p>Caso não ocorra a adequação da propriedade conforme estabelecido pela Lei,</p><p>o município poderá aumentar progressivamente a alíquota do IPTU sobre o imóvel nos</p><p>próximos cinco anos, não podendo cobrar mais do que o dobro exigido no ano anterior, até</p><p>o teto de 15% (BRASIL, 2001, Art. 7º).</p><p>Se as determinações feitas pela prefeitura em relação ao imóvel subutilizado não</p><p>forem cumpridas pelo proprietário, este poderá tê-lo desapropriado, sendo indenizado com</p><p>títulos da dívida pública, no regime de precatórios (BRASIL, 2001, Art. 8º).</p><p>Caso o município tenha interesse especial em adquirir imóveis em determinada</p><p>região, poderá delimitá-la em lei específica e, nos cinco anos seguintes, terá direito de</p><p>preempção, ou seja, preferência na compra de qualquer imóvel que venha a ser vendido</p><p>naquela área. Sendo que a lei poderá ser reeditada após um ano do esgotamento da vigên-</p><p>cia da anterior (BRASIL, 2001, Art. 25 e 26).</p><p>Em relação à usucapião especial de imóvel urbano foi criada uma espécie nova de</p><p>usucapião pelo legislador, exigindo menor prazo prescricional do que a usucapião comum,</p><p>regida pelo código civil: 5 anos, em vez de 15 (BRASIL, 2001, Art. 9, Código Civil, 2002,</p><p>Art. 1.238).</p><p>Também foi criada a modalidade usucapião especial coletiva, com o intuito de ofe-</p><p>recer maior segurança aos moradores de favela, através do qual uma coletividade adquire</p><p>a titularidade de uma área, cabendo a cada indivíduo uma fração ideal, a exemplo do que</p><p>acontece com o condomínio (BRASIL, 2001, Art. 10).</p><p>A intervenção urbana é um processo de mudança, que na maioria das vezes ocorre</p><p>nos grandes centros urbanos, com objetivo de trazer soluções para atender novas exigên-</p><p>cias do bem estar da vida cotidiana, bem como aos novos padrões estéticos que surgem,</p><p>recuperar uma cidade e resolver as mudanças de padrão da sociedade, sejam elas cultu-</p><p>60UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>rais ou demográficas. É fundamental que as propostas de intervenção sigam a legislação</p><p>ambiental pertinente e colaborem para a manutenção do equilíbrio no ecossistema local.</p><p>As intervenções quando sugeridas envolvem linhas de atuação diferentes de acor-</p><p>do com o cenário, tipo de modificação e/ou alteração do ambiente natural, necessidades</p><p>e localização da área onde elas serão aplicadas. Temos como exemplos de intervenções</p><p>o zoneamento, a recuperação de áreas degradadas, sistema viário entre outras, ambas</p><p>diferentes entre si, no entanto complementares. Os parâmetros de definição das zonas</p><p>podem ser as características ambientais, o adensamento populacional e o nível de carência</p><p>de infraestrutura urbana.</p><p>Por meio do zoneamento do território é possível identificar diversas áreas e suas</p><p>diferentes funções sociais enquanto uso do solo urbano, dentre elas estão as zonas de</p><p>preservação ambiental e Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS).</p><p>Art. 101 - As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são porções do</p><p>território que devem receber tratamento diferenciado para viabilizar ações</p><p>de urbanização, regularização fundiária, habitação e permitir a melhoria das</p><p>condições para a permanência da população local (BELÉM, 2008. p. 66).</p><p>A Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) consiste em devolver o equilíbrio</p><p>para determinado ecossistema que sofreu impactos negativos de atividades antrópicas. A</p><p>realização de Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) consistem na solução</p><p>técnica adequada e consolidada para o ramo da mineração, porém vêm sendo empregados</p><p>atualmente em várias outras atividades, abrangendo diretamente os aspectos referentes ao</p><p>solo e vegetação e indiretamente ao ar, água, fauna e os benefícios humanos (ATTANASIO</p><p>et al., 2006).</p><p>As etapas do PRAD são:</p><p>1. planejamento: zoneamento, levantamento em campo, geoprocessamento, ins-</p><p>peção ambiental</p><p>(fotos, inventário físico, químico e biológico);</p><p>2. pesquisas e decisões sobre as medidas corretivas e preventivas;</p><p>3. execução: recuperação do solo, plantio de espécies, entre outros;</p><p>4. preparo do solo: recomposição topográfica, diminuição da erosão, adubação</p><p>verde, calagem (aplicação de calcário e correção do pH);</p><p>5. monitoramento: avaliação de efeitos das medidas mitigadoras;</p><p>Os projetos de intervenção urbana são estudos técnicos essenciais para promover</p><p>o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de trans-</p><p>formação. São necessários em situações de crise nas áreas urbanas, no qual os governos</p><p>61UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>encontram dificuldades para entregar, a uma população crescente, serviços urbanos bási-</p><p>cos, como habitação e transporte de qualidade.</p><p>Elaborados pelo poder público e originados a partir de premissas do Plano Dire-</p><p>tor, projetos de intervenção urbana têm a finalidade de sistematizar e criar mecanismos</p><p>urbanísticos que possibilitam o melhor aproveitamento da terra e a infraestrutura urbana,</p><p>aumentando as densidades demográficas e construtivas, além de proporcionar o desen-</p><p>volvimento de novas atividades econômicas, como: geração de empregos, produção de</p><p>habitação de interesse social e equipamentos públicos para a população.</p><p>Esses projetos podem ser desenvolvidos a partir da definição dos eixos de estrutu-</p><p>ração da transformação urbana, pela rede hídrica e ambiental e pela rede de estruturação</p><p>local. Essas são as áreas fundamentais para o reordenamento social e econômico da</p><p>cidade e onde, em âmbito local, são necessários projetos urbanos que integrem e garanta</p><p>a qualidade das intervenções feitas para a renovação de sua infraestrutura.</p><p>REFLITA</p><p>Segundo comenta José Afonso da Silva (2000, p. 93):</p><p>O Plano Diretor é um instrumento que elabora os objetivos a</p><p>serem alcançados, o prazo em que estes devem ser atingi-</p><p>dos (muito embora o plano, em geral, não precise fixar prazo</p><p>no que concerne às diretrizes básicas), as atividades a serem</p><p>implementadas e quem deve executá-las. É diretor por fixar</p><p>as diretrizes do desenvolvimento urbano do município. É por</p><p>meio do plano que se define o melhor modo de ocupar um</p><p>município ou região, prever as áreas onde se localizarão os</p><p>pontos de lazer, as atividades industriais e todos os usos do</p><p>solo, não somente no presente, mas também no futuro. Isso</p><p>permitirá a consolidação de valores com vista à qualidade de</p><p>vida urbana.</p><p>62UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>SAIBA MAIS</p><p>De acordo com a Confederação Nacional de Municípios (2015, p.13):</p><p>É papel do prefeito iniciar o processo de elaboração e revisão</p><p>do Plano Diretor. Cabe aos Poderes Legislativo e Executivo</p><p>municipais a obrigação de convocação de audiências públi-</p><p>cas com os vários segmentos da comunidade, bem como a</p><p>garantia do acesso público a qualquer documento, informa-</p><p>ção, além da publicação de todas as etapas de elaboração</p><p>e revisão do Plano Diretor. A elaboração e a revisão do Pla-</p><p>no Diretor são construídas de forma articulada com a equi-</p><p>pe técnica e política da Prefeitura, Câmara de Vereadores e</p><p>Sociedade Civil. O Plano Diretor é construído de forma par-</p><p>ticipativa.</p><p>63UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Sabemos que diversos municípios necessitam de um planejamento a longo prazo</p><p>que ultrapasse mandatos, assim como uma integração maior entre as secretarias, que</p><p>deveriam trabalhar juntas em muitos casos.</p><p>O planejamento urbano deve orientar os investimentos e o crescimento, que preci-</p><p>sam ser baseados em estratégias setoriais integradas, definidas com a participação de toda</p><p>a sociedade. São desafios que o Brasil precisa enfrentar agora para evitar que essa falta de</p><p>cultura de planejamento se perpetue e as cidades continuem crescendo de forma desorde-</p><p>nada e ineficiente. Só assim o país terá cidades economicamente prósperas, socialmente</p><p>justas e ambientalmente sustentáveis.</p><p>Entre os critérios mais importantes de avaliação da sustentabilidade urbana estão os</p><p>indicadores de desempenho ambiental. Indicadores da qualidade ambiental urbana, princi-</p><p>palmente em associação com outros indicadores de qualidade de vida, como os referentes</p><p>à infraestrutura urbana, características demográficas e socioeconômicas, podendo ainda</p><p>representar uma enorme contribuição no controle dos problemas ambientais e também</p><p>auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas ligadas a diversos assuntos.</p><p>64UNIDADE III Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>FREITAS, E. L. H. de; BUENO, L. M. de M. Processos participativos para elaboração de</p><p>Planos Diretores Municipais: inovações em experiências recentes. Revista Brasileira de</p><p>Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 10, n. 2, p. 304-321, maio/</p><p>ago., 2018.</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>• Título: Planejamento Urbano</p><p>• Autor: Vanessa Scopel et al.</p><p>• Editora: SAGAH</p><p>• Sinopse: Este livro traz as definições e os objetivos aplicados</p><p>ao planejamento ambiental urbano. Entendendo que a busca pelo</p><p>desenvolvimento sustentável é a chave para o planejamento mais</p><p>adequado dos centros urbanos a partir da criação e utilização dos</p><p>instrumentos adequados.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>• Título: 74 Metros Quadrados</p><p>• Ano: 2012</p><p>• Sinopse: É um documentário que retrata a travessia das líderes</p><p>de 150 famílias em Valparaíso para conseguir a casa própria. A</p><p>equipe liderada pela direção de Tiziana Panizza e Paola Castillo</p><p>acompanhou essas mulheres durante sete anos, abordando o tema</p><p>da integração social no novo bairro, as divisões na comunidade e</p><p>os desastres provocados pelas chuvas nas novas residências.</p><p>“Iselsa e Cathy decidiram fazer parte de um projeto único, dese-</p><p>nhando por líderes da arquitetura social, que lhes entregarão sua</p><p>casa própria integrada ao um bairro de classe média. O documen-</p><p>tário observa o processo durante 7 anos: a falta de recursos, a</p><p>integração a um bairro que os rejeita, problemas na construção e</p><p>o desastre provocado pelas chuvas de inverno. O desafio ainda</p><p>mais difícil será superar a divisão da comunidade” (ARCHDAILY,</p><p>2020).</p><p>65</p><p>Plano de Estudo:</p><p>• Infraestrutura como componente do Plano Diretor - diretrizes básicas.</p><p>• Intervenção urbana como controle e ordenação do crescimento e componente</p><p>de saúde ambiental.</p><p>• Desenho urbano ambiental e morfologia urbana.</p><p>• O desafio das cidades sustentáveis e a Agenda 21.</p><p>Objetivos de Aprendizagem:</p><p>• Conceituar e contextualizar a Infraestrutura como componente do Plano Diretor,</p><p>enfatizando as diretrizes básicas.</p><p>• Compreender a diferença dos conceitos de planejamento urbano e desenho urbano.</p><p>• Estabelecer a importância das cidades sustentáveis e a Agenda 21.</p><p>• Entender como a construção de cidades mais sustentáveis é um desafio que só pode</p><p>ser alcançado com base em modelos modernos e inovadores.</p><p>UNIDADE IV</p><p>Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>Professora Doutora Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>66UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>No Brasil, assim como em todos os outros países subdesenvolvidos, as cidades</p><p>foram crescendo de modo desordenado, gerando o aparecimento de alguns problemas,</p><p>como a degradação do meio ambiente, os longos deslocamentos, a falta de saneamento</p><p>básico, entre outros aspectos que fazem a política urbana induzir o desenvolvimento in-</p><p>clusivo, sustentável e equilibrado, de modo a corrigir esses problemas históricos. Dessa</p><p>forma, o planejamento urbano deve ir além dos aspectos físicos e territoriais, visualizando</p><p>e considerando o ordenamento do território como um meio para cumprir objetivos com</p><p>proporções maiores, como: garantia do direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento</p><p>ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao</p><p>lazer, para as presentes e futuras gerações, entre outros.</p><p>Devemos visualizar os centros urbanos não somente</p><p>como espaços que promo-</p><p>vam a circulação eficiente de pessoas e mercadorias, mas também como ambientes de</p><p>enriquecimento cultural, em que as atividades humanas possam ser integradas em torno</p><p>dos pilares do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida.</p><p>67UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>1 A INFRAESTRUTURA COMO COMPONENTE DO PLANO DIRETOR - DIRETRIZES</p><p>BÁSICAS</p><p>No Brasil, como já estudamos nas unidades anteriores as bases para o planeja-</p><p>mento das cidades estão estabelecidas no Estatuto da Cidade (lei 10.257/2001). O Estatuto</p><p>da Cidade pode ser considerado a principal Lei para o marco legal do desenvolvimento</p><p>das cidades, junto à Constituição de 1988, de onde originam seus princípios e diretrizes</p><p>fundamentais. Estabelecendo as normas de ordem pública e interesse social que regulam</p><p>o uso da propriedade urbana em prol do bem-estar dos cidadãos, da segurança, do bem</p><p>coletivo, bem como do equilíbrio ambiental.</p><p>O Estatuto da Cidade, no seu artigo 2º, dispõe que “a política urbana tem por obje-</p><p>tivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urba-</p><p>na” (BRASIL, 2001). Essa colocação nos remete a duas situações: a propriedade urbana,</p><p>embora privada, deve ter uma função social, por exemplo, o dono de um terreno baldio tem</p><p>o direito de fazer dele o que preferir, no entanto, se a região onde o terreno se encontra for</p><p>exclusivamente residencial, é legítimo que o poder público fixe a obrigação de que apenas</p><p>moradias sejam instaladas ali. Com isso, a propriedade continua sendo privada, porém sua</p><p>função social será garantida pela exigência que a lei impõe sobre seu uso.</p><p>No Brasil, assim como em todos outros países subdesenvolvidos, as cidades foram</p><p>crescendo de modo desordenado, gerando alguns problemas, como a degradação do meio</p><p>ambiente, os longos deslocamentos, a falta de saneamento básico, entre outros, o que faz</p><p>68UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>da política urbana induzir o desenvolvimento inclusivo, sustentável e equilibrado, de modo</p><p>a corrigir esses problemas históricos. Dessa forma, o planejamento urbano deve ir além dos</p><p>aspectos físicos e territoriais, enxergando e considerando o ordenamento do território como</p><p>um meio para cumprir objetivos com proporções maiores, como, por exemplo:</p><p>● Garantia do direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à</p><p>infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao</p><p>lazer, para as presentes e futuras gerações;</p><p>● Oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos</p><p>adequados aos interesses e necessidades da população e às características</p><p>locais;</p><p>● Evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos</p><p>sobre o meio ambiente</p><p>É a partir desse ponto que o plano diretor é introduzido como ferramenta central do</p><p>planejamento de cidades no Brasil. Conforme os artigos 39º e 40º do Estatuto da Cidade, o</p><p>plano diretor é “o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”.</p><p>É ele quem deve promover o diálogo entre os aspectos físicos, territoriais e os objetivos</p><p>sociais, econômicos e ambientais que temos para a cidade, devendo ter como objetivo a</p><p>distribuição dos riscos e benefícios da urbanização, induzindo um desenvolvimento mais</p><p>inclusivo e sustentável. A importância legal atribuída a esse instrumento fica ainda mais</p><p>evidente quando consideramos três fatores:</p><p>1) Legalidade: o plano diretor é um instrumento estabelecido na Constituição</p><p>Federal de 1988, regulamentado pelo Estatuto da Cidade. Os demais instrumentos de pla-</p><p>nejamento de governo, o plano plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias e o orçamento</p><p>anual devem incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.</p><p>2) Abrangência: o plano diretor deve abranger o território do município como um</p><p>todo. Não está restrito a bairros ou partes específicas da cidade.</p><p>3) Obrigatoriedade: sua realização é obrigatória para municípios com mais de 20</p><p>mil habitantes, o que significa afirmar que para quase ⅓ (31,6%) dos municípios brasileiros</p><p>o plano diretor não é uma opção, é uma obrigação. Mais importante ainda, significa afirmar</p><p>que pelo menos 84,2% da população do país vive em municípios que (em tese) deveriam ter</p><p>seu desenvolvimento econômico, social e ambiental regido por um plano diretor (BRAGA,</p><p>1995).</p><p>69UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>Assim, cabe destacar que o Estatuto da Cidade mantém a divisão de competências</p><p>entre os três níveis de governo (Federal, Estadual, Municipal), concentrando na esfera</p><p>municipal as atribuições de legislar em matéria urbana.</p><p>O plano diretor é uma lei municipal, elaborada pelo poder executivo (Prefeitura)</p><p>aprovada pelo poder legislativo (Câmara de Vereadores), que estabelece regras, parâme-</p><p>tros, incentivos e instrumentos para o desenvolvimento da cidade, atuando em sentidos</p><p>diferentes, porém complementares:</p><p>1 - Obrigando aos privados (empresas, cidadãos) o cumprimento de certas exigên-</p><p>cias (por exemplo, restringindo os usos permitidos para os terrenos ou imóveis).</p><p>2 - Incentivando ou induzindo os privados a tomarem certas ações (por exemplo,</p><p>estabelecendo incentivos tributários para a instalação de empresas em certos locais).</p><p>3 - Comprometendo o poder público municipal a realizar investimentos, intervenções</p><p>urbanas e afins (por exemplo, ampliando a infraestrutura urbana ou a oferta de equipamen-</p><p>tos públicos em determinadas regiões).</p><p>Para a elaboração dos planos diretores existe um guia basilar publicado pelo</p><p>próprio Ministério das Cidades que estabelece uma série de etapas para sua elaboração,</p><p>priorizando a participação social durante todo o processo. Inicia-se com o estabelecimento</p><p>de um núcleo gestor, com participação de lideranças dos diferentes segmentos da socieda-</p><p>de (governo, empresas, sindicatos, movimentos sociais), segue com a realização de uma</p><p>leitura (tanto da perspectiva técnica quanto da perspectiva comunitária) da cidade como é</p><p>hoje, passa à elaboração e discussão de uma minuta de lei e, finalmente, a aprovação na</p><p>Câmara Municipal. Nesse ponto, é importante considerarmos dois aspectos centrais do</p><p>plano diretor: o político e o democrático.</p><p>Em relação ao aspecto político, é preciso equilibrar aspectos políticos e técnicos,</p><p>pois planejar é fazer política. Um plano tecnicamente bom pode ser politicamente inviável, e</p><p>um plano politicamente justo pode ser tecnicamente impraticável. Vivemos em uma demo-</p><p>cracia, em que aspectos técnicos sempre passam por uma discussão política (CARVALHO,</p><p>2001).</p><p>Já no aspecto democrático, como o próprio nome diz, o plano diretor é considerado</p><p>como um instrumento democrático, uma vez que conjectura a realização de audiências pú-</p><p>blicas abertas, com ampla participação da comunidade. A comunidade deve ser convocada</p><p>a participar do debate sobre a cidade que os moradores almejam.</p><p>Como o Plano Diretor é o instrumento básico de planejamento do município, que</p><p>estabelece as bases para uma cidade inclusiva, equilibrada e sustentável para promoção</p><p>70UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>da qualidade de vida a todos os seus cidadãos, reduzindo os riscos do crescimento de-</p><p>sordenado e distribuindo de forma justa os custos e benefícios da urbanização, além de</p><p>fornecer transparência para a política de planejamento urbano, ao instituí-la em forma de</p><p>lei, todos os demais planos devem estar em perfeita harmonia e compatibilidade com ele. A</p><p>eficácia da aplicação do plano diretor e a efetividade dependem da integração com alguns</p><p>instrumentos, como: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a</p><p>Lei Orçamentária Anual (LOA).</p><p>O PPA é um instrumento de planejamento orçamentário que determina, de forma</p><p>regionalizada, diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública municipal para as</p><p>despesas de capital e outras decorrentes e para as relativas aos programas de duração</p><p>continuada.</p><p>É um plano que possibilita a visualização daquilo que o governo se propõe a</p><p>fazer em médio prazo, cuja realização está vinculada ao uso de recursos orçamentários.</p><p>Esse é um plano elaborado e proposto pelo Poder Executivo, cujo prazo de abran-</p><p>gência é de quatro anos, sendo que sua elaboração e apresentação à câmara municipal</p><p>ocorrem sempre no primeiro ano de mandato do prefeito, até o dia 31 de agosto, exceto</p><p>se a Lei Orgânica do Município (LOM) dispuser outra data. A vigência do PPA tem início no</p><p>segundo ano de mandato e se estende por mais três exercícios. A LOM atua como uma</p><p>Constituição Municipal, sendo considerada a lei mais importante que rege os municípios e o</p><p>Distrito Federal. Cada município brasileiro pode determinar as suas próprias leis orgânicas,</p><p>desde que estas não infrinjam a constituição e as leis federais e estaduais.</p><p>No PPA deve constar diagnóstico da situação encontrada pelo governo. As diretri-</p><p>zes, metas e objetivos devem ser apresentados de forma clara, de tal modo que possibilitem</p><p>interligar as diretrizes e objetivos do Plano Diretor, para que ele seja compatível com o</p><p>Estatuto das Cidades.</p><p>A LDO também é um instrumento de planejamento orçamentário que engloba as</p><p>metas e prioridades da Administração Pública municipal, incluindo as despesas de capital</p><p>para o exercício financeiro subsequente, orientando a elaboração da LOA e dispondo sobre</p><p>as alterações na legislação tributária.</p><p>É uma lei de iniciativa do Poder Executivo, devendo ser encaminhada à câmara</p><p>municipal a cada ano até o dia 15 de abril, segundo o inciso II, do § 2º, do artigo 35 do Ato</p><p>das Disposições Constitucionais Transitórias (BRASIL, 1988). No entanto é aconselhável, a</p><p>exemplo do PPA, verificar o prazo estabelecido na LOM. O prazo de abrangência da LDO é</p><p>contado a partir da sua aprovação para as ações envolvendo orientações para a elaboração</p><p>da LOA, e do dia 1º de janeiro até 31 de dezembro do exercício financeiro seguinte à sua</p><p>71UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>aprovação, no que se refere às orientações para execução orçamentária e financeira e à</p><p>realização de metas e prioridades (CEPAM, 2005).</p><p>O projeto de LDO, a ser encaminhado para a câmara municipal, é constituído pelos</p><p>seguintes documentos: Mensagem; Projeto de lei; Anexo de Metas Físicas e Prioridades;</p><p>Anexo de Metas Fiscais; Anexo de Riscos Fiscais. No aspecto que envolve o Plano Diretor</p><p>direta ou indiretamente destacam-se as seguintes previsões: Metas físicas de curto prazo</p><p>(um ano); Resultados fiscais (composto de receitas); Despesas; Resultado primário; Resul-</p><p>tado nominal; Montante da dívida pública.</p><p>De acordo com os resultados fiscais apresentado pelo município, as diretrizes e</p><p>objetivos do Plano Diretor são afetados, pois pode haver um maior ou menor nível de</p><p>investimentos no período.</p><p>Já a LOA é a Lei que estima as receitas e fixa as despesas para determinado exer-</p><p>cício. Também é de iniciativa do Executivo e tem o prazo para apresentação do projeto à</p><p>câmara municipal, estipulado até o dia 31 de agosto de cada exercício financeiro, conforme</p><p>dispõe o inciso I, do § 2º, do artigo 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.</p><p>A exemplo do PPA e da LDO, a LOM necessita ser consultada, pois poderá ter definido outro</p><p>prazo. Geralmente, o Regimento Interno da Câmara Municipal prevê que a sua aprovação</p><p>se dará até meados do mês de dezembro, antes do início do recesso parlamentar, e valerá</p><p>por todo o ano seguinte (CEPAM, 2005).</p><p>A Proposta da LOA é composta pelos seguintes documentos: Mensagem; Projeto</p><p>de lei; Anexos relativos à receita pública e Anexos relativos à despesa pública.</p><p>A estimativa das receitas e a autorização das despesas na LOA são mais deta-</p><p>lhadas que nos planos que deram suporte à sua apresentação (PPA e LDO). Na LOA,</p><p>as despesas são agrupadas detalhadamente, chegando até o nível de ações que serão</p><p>realizadas, discriminando as despesas por grupo da seguinte maneira: Pessoal e encargos</p><p>sociais; Juros e encargos da dívida; Outras despesas correntes; Investimentos; Inversões</p><p>financeiras; Amortização da dívida (CEPAM, 2005).</p><p>É possível observar que as despesas fixadas na LOA são destinadas à manutenção</p><p>e conservação dos serviços já existentes e à criação, expansão e aprimoramento da ação</p><p>governamental, com base nas diretrizes, objetivos e metas aprovadas no PPA e na LDO,</p><p>isto é, despesas diretamente relacionadas com a execução do Plano Diretor e despesas do</p><p>dia-a-dia, ou seja, corriqueiras.</p><p>Para averiguar a integração do Plano Diretor à LOA é preciso analisar se algumas</p><p>despesas, em especial aquelas referentes aos investimentos, são compatíveis com suas</p><p>72UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>diretrizes e objetivos. As despesas são apresentadas nas LOAs através dos Anexos de</p><p>Detalhamento.</p><p>A convergência entre as estruturas do PPA, da LDO e da LOA, no caso das despe-</p><p>sas, é feita a partir do programa que representa o elo integrador entre os instrumentos do</p><p>sistema orçamentário. Essa identificação destina os programas do sistema orçamentário às</p><p>diretrizes e aos objetivos do Plano Diretor.</p><p>73UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>2 INTERVENÇÃO URBANA COMO CONTROLE E ORDENAÇÃO DO CRESCIMENTO E</p><p>COMPONENTE DE SAÚDE AMBIENTAL</p><p>Quando pensamos em intervenção nos centros urbanos não imaginamos apenas</p><p>avaliar o patrimônio e a herança histórica, o caráter funcional e a posição relativa na estru-</p><p>tura urbana, mas, sobretudo, verificar o porquê de se fazer necessária a intervenção.</p><p>A ideia da intervenção é sustentada na identificação do processo de deterioração</p><p>urbana, devido o rápido crescimento demográfico e expansão das cidades sem o devido</p><p>planejamento.</p><p>Deterioração e degradação urbana são causas quase sempre relacionadas à perda</p><p>de sua função ao dano ou à ruína das estruturas físicas, ou ao rebaixamento do nível do</p><p>valor econômico de determinado lugar.</p><p>Deteriorar é o mesmo que estragar, piorar e inferiorizar. Já a degradação significa</p><p>desmoronamento, aviltamento e rebaixamento. Em relação aos espaços degradados,</p><p>acontece quando, além das estruturas físicas, também se observa o efeito da mesma</p><p>situação nos grupos sociais, o que enxergamos como a condição de empobrecimento e</p><p>de marginalização. Esse processo de degradação intensificou-se após a década de 50,</p><p>causado, principalmente, pelo crescimento e expansão do espaço urbano.</p><p>Ao mesmo tempo em que as atividades se intensificam nos grandes centros, a</p><p>concorrência por outros locais aumenta e tornam-se mais interessantes para morar e viver.</p><p>No entanto, isso leva ao surgimento de atividades de menor rentabilidade, informais e, por</p><p>74UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>vezes, ilegais e praticadas por usuários e moradores com menor ou quase nenhum poder</p><p>aquisitivo. Como resultado, a arrecadação de impostos é reduzida e o poder público diminui</p><p>a sua atuação nos serviços de limpeza e segurança públicas (BALSAS, 2000; GARAY,</p><p>2003).</p><p>Os efeitos causados pela degradação afetam diversas pessoas, de maneiras dife-</p><p>rentes, segundo seus respectivos interesses e circunstância local. Logo, uma maneira para</p><p>amenizar os problemas causados pela deterioração e principalmente pela degradação é a</p><p>intervenção urbana.</p><p>As intervenções urbanas realizadas com o propósito de conter esse processo têm</p><p>mostrado diferentes estratégias e objetivos com resultados, muitas vezes, surpreendentes,</p><p>inesperados ou até mesmo nem atingem os objetivos iniciais, nos levando a pensar qual</p><p>a importância da recuperação dos centros urbanos. Significa nada mais que recuperar e</p><p>melhorar a imagem da cidade, que, ao longo da sua história, cria um espírito de comunida-</p><p>de e pertencimento, promover a reutilização de seus edifícios, alcançando valorização do</p><p>patrimônio construído, otimizar o uso da infraestrutura estabelecida, dinamizar o comércio</p><p>com o qual tem uma relação de origem, gerar novos empregos. Enfim, a intervenção</p><p>urba-</p><p>na visa implementar ações buscando atrair investimentos, moradores, usuários e turistas</p><p>que incentivam a economia urbana, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida,</p><p>valorizando também a gestão urbana que executa a intervenção. A seguir são elencados</p><p>alguns motivos e suas respectivas características pelo qual a recuperação dos centros das</p><p>cidades acontece, por meio da intervenção urbana:</p><p>Referência e identidade: Os centros têm um papel essencial quanto à identi-</p><p>dade e à referência de seus cidadãos e visitantes.</p><p>História urbana: O centro é o lugar onde se encontram as sedimentações e</p><p>as estratificações da história de uma cidade.</p><p>Sociabilidade e diversidade: A variedade de atividades e a tolerância às</p><p>diversidades reforçam o caráter singular dos centros urbanos em relação aos</p><p>subcentros mais recentes.</p><p>Infraestrutura existente: Nos centros das cidades, geralmente, há um siste-</p><p>ma viário consolidado, saneamento básico, energia e serviços de telefonia,</p><p>transporte coletivo, equipamentos sociais e culturais de diversas naturezas.</p><p>O descarte dessa infraestrutura, tanto do ponto de vista econômico quanto</p><p>ambiental, é injustificável.</p><p>Mudanças nos padrões sociodemográficos: Alterações como maior expectati-</p><p>va de vida e consequente envelhecimento da população; redução do número</p><p>de componentes da família; ampliação do trabalho feminino, entre outros as-</p><p>pectos, facilitam e reconduzem ao retorno de habitações nas áreas centrais.</p><p>Deslocamentos pendulares: Estatisticamente, o centro de muitas cidades</p><p>ainda concentra um maior número de postos de emprego. O retorno do uso</p><p>residencial para o centro diminui sensivelmente a necessidade de movimento</p><p>pendular diário moradia-trabalho.</p><p>Distribuição e abastecimento: Durante muitas décadas, vem ocorrendo a</p><p>dispersão locacional dos negócios. Em diversas escalas, entretanto, os cen-</p><p>tros ainda retêm uma parcela da distribuição de bens e serviços (VARGAS;</p><p>CASTILHO, 2015, p. 5, adaptado).</p><p>75UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>Por todo o século XX e, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial (1939-</p><p>1945), surgem os questionamentos sobre a vida urbana e, como consequência, sobre a</p><p>atividade nos centros urbanos.</p><p>De acordo com a literatura, o processo de intervenção em centros urbanos é mar-</p><p>cado por três períodos principais: Renovação Urbana, relativo às décadas de 50 e 60;</p><p>Preservação Urbana, desenvolvido nas décadas de 70 e 80; e Reinvenção Urbana, nascido</p><p>por volta da década de 90 até os dias atuais; bem como Resiliência Urbana, termo que vem</p><p>ganhando projeção na segunda década dos anos 2000. No entanto, é preciso destacar que</p><p>esses períodos não são rigorosos em suas delimitações nem separados entre si.</p><p>Durante o período da Renovação Urbana (1950-1970), o processo de intervenção</p><p>em áreas urbanas assumiu a preferência pelo novo. O ideal de centro urbano era promover</p><p>e facilitar contatos interpessoais.</p><p>Durante o período da Preservação Urbana (1970-1990), o processo de mudança</p><p>da fase da renovação para a fase da preservação urbana trouxe consigo a negação do mo-</p><p>vimento anterior: o modernismo. O estilo internacional fora criado nas bases do socialismo</p><p>europeu, refletindo a visão de igualdade que tanto incomodava a elite detentora do capital,</p><p>abastecida do desejo pela diferenciação.</p><p>A Preservação Urbana foi um período que atribuiu a importância da preservação</p><p>das vizinhanças e a restauração histórica de edifícios considerados significativos, como</p><p>os novos símbolos de status e distinção. Ao englobar a preservação e a restauração de</p><p>edifícios históricos, os projetos do período de 1970 a 1990 aproximaram-se mais da versão</p><p>europeia de intervenção, fazendo uso nesse processo das antigas estruturas industriais, ar-</p><p>mazéns, estações de trem, mercados e teatros, introduzindo nesses espaços o comércio e</p><p>os serviços varejistas, as atividades de lazer e a cultura. Logo, naquele momento, segundo</p><p>Huyssen (2000, p. 14), iniciava-se o processo da:</p><p>[...] chamada restauração historicizante de velhos centros urbanos, cidades,</p><p>museus e paisagens inteiras, empreendimentos patrimoniais e heranças na-</p><p>cionais, a onda da nova arquitetura de museus [...], o boom das modas retrô</p><p>e dos utensílios reprô, a comercialização em massa da nostalgia, a obsessiva</p><p>auto-musealização através da câmera de vídeo, a literatura memorialística</p><p>e confessional, o crescimento dos romances autobiográficos e históricos</p><p>pós-modernos [...].</p><p>A Reinvenção Urbana compreendida nas décadas de 1980 a 2000, é o reflexo de</p><p>um novo modo de produção (flexível), é um período que mostrava que, através do uso da</p><p>microeletrônica, era possível criar vantagens extras com a diversidade de produtos, sem</p><p>o sacrifício das vantagens econômicas, respondendo adequadamente ao custo, tempo e</p><p>76UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>qualidade, a demandas diferenciadas de dimensões menores. Além disso, uma imensa</p><p>diversificação de estilos de vida aparecem, na qual se apresentam grupos de todos os</p><p>tipos, como hippies, vegetarianos, atletas, ambientalistas, entre outros.</p><p>A revolução nos meios de comunicações, aliada às técnicas mais sofisticadas de</p><p>indução do consumidor (propaganda), desencadeou uma transformação na relação das</p><p>atividades econômicas com o território, tornando-as mais independentes do espaço físico,</p><p>ao mesmo tempo em que aumentou sensivelmente a visibilidade do território. Essa maior</p><p>capacidade de comunicação proporcionou ao território transformar-se em mercadoria para</p><p>ser consumida por cidadãos de alta renda, investidores e turistas, deixando de ser princi-</p><p>palmente o locus da produção para ser o locus do consumo. A ideia de cidade, de destino</p><p>final e permanência para o lugar dos fluxos foi mudada pela globalização.</p><p>Segundo Vargas e Castilho (2015, p. 31):</p><p>O capital imobiliário e o poder público local tornaram-se grandes parceiros</p><p>nesse processo. O primeiro foi capaz de criar localizações privilegiadas e</p><p>induzir à demanda por intermédio da oferta. O segundo buscou a valorização</p><p>positiva da imagem da cidade para a captação de investimentos externos</p><p>destinados ao desenvolvimento da economia urbana. Juntos, adotaram o</p><p>planejamento de mercado e introduziram as técnicas de marketing urbano</p><p>(city marketing).</p><p>[...]</p><p>O exemplo paradigmático desse período foram as obras para os Jogos</p><p>Olímpicos de 1992, em Barcelona. Além de promover uma completa transfor-</p><p>mação das suas áreas portuárias deterioradas e abandonadas, tornaram-nas</p><p>mundialmente conhecidas e cobiçadas por meio da sua divulgação.</p><p>Durante essa fase da intervenção, o objetivo era recuperar ou até mesmo criar a</p><p>base econômica das cidades, com o intuito de gerar emprego e renda, preocupação antes</p><p>do poder central que se desloca gradualmente para o poder local. Logo, os setores público</p><p>e privado unem-se, especificamente os empreendedores imobiliários, a fim de reinventar ou</p><p>reconstruir o ambiente já construído. No entanto pode ser atribuída à fase de intervenção,</p><p>durante 1980 a 2000, a intensificação dos projetos arquitetônicos e urbanísticos como forma</p><p>de promoção político-partidária, mais um propósito que de alguma forma também esteve</p><p>presente nos dois períodos anteriores.</p><p>Entretanto, durante os anos 1980 a 2000, é dado ênfase à gestão urbana, reco-</p><p>nhecida como uma política de governo e ao grande projeto urbanístico como elemento</p><p>catalisador. Tudo isso devido a algumas ferramentas que foram aperfeiçoadas, e a cidade</p><p>passou a ser pensada como um empreendimento a ser gerenciado, mediante a adoção</p><p>de princípios do planejamento estratégico e o uso de seu mais eficiente instrumento, o</p><p>city marketing, ou seja, o marketing da cidade, promovendo, assim, uma cidade ou distrito</p><p>dentro dela, com o objetivo de incentivar certas atividades a serem realizadas no local. O</p><p>77UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>marketing da cidade é usado para alterar as percepções externas de uma cidade,</p><p>a fim de</p><p>incentivar a atração da migração interna de moradores, o turismo, ou permitir a realocação</p><p>de negócios.</p><p>Áreas muitas vezes consideradas quase que totalmente desvalorizadas vêm a ser</p><p>alvo das atenções do poder público, que se une ao capital imobiliário para a reconquista de</p><p>tal espaço e melhoria da imagem dos centros das cidades. Edificações industriais desativa-</p><p>das, leitos ferroviários, áreas portuárias e orlas marítimas e de rios são as primeiras eleitas</p><p>no processo de intervenção. Essas ações sugerem que a arquitetura e o planejamento</p><p>urbano também se tornaram dirigidos por estratégias de marketing, destinadas a estruturar</p><p>a mudança da economia urbana de base produtiva para a base do consumo.</p><p>No entanto, segundo Vargas e Castilho (2015, p. 43):</p><p>Enquanto a imagem da cidade pode ser um elemento importante para atrair</p><p>capital e pessoas, em um período de intensa competição urbana, lugares</p><p>espetaculares e festivais públicos servem também para ofuscar fortes confli-</p><p>tos sociais e desigualdades. A sociedade pós-moderna provê sua população,</p><p>como os antigos imperadores romanos provinham, de panem et circensus, ou</p><p>pão e circo, para sustentar a ordem capitalista […].</p><p>78UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>3 DESENHO URBANO AMBIENTAL E MORFOLOGIA URBANA</p><p>O planejamento urbano aborda uma série de processos, estudos e até mesmo</p><p>áreas diferentes, mostrando, sobretudo, como ocorrerá o crescimento de uma cidade. Todo</p><p>esse detalhamento é fundamental, a fim de promover o bem-estar e segurança de toda a</p><p>população e impedir o crescimento desordenado da malha urbana.</p><p>O planejamento urbano está totalmente ligado ao plano diretor. A partir desse pressu-</p><p>posto, é possível traçar diretrizes em relação ao zoneamento, ocupação e expansão da área</p><p>urbana. Além disso, devemos destacar que o plano diretor não se limita somente ao espaço</p><p>urbano propriamente dito, já que ele também intervém e delimita o que vem a ser o rural.</p><p>Embora semelhantes, os conceitos de planejamento urbano e desenho urbano são</p><p>diferentes. Entre as diversas etapas do projeto está o desenho urbano, trata-se de uma ati-</p><p>vidade que remete muitas dúvidas entre estudantes e até mesmo profissionais. No entanto,</p><p>isso é até comum, pois até mesmo entre estudiosos não existe um consenso sobre o que é</p><p>o desenho urbano, em qual estágio do projeto ele surge, entre outras questões.</p><p>O Desenho Urbano, de forma simples, é um campo de conhecimento multidiscipli-</p><p>nar que abrange as áreas de urbanismo, paisagismo e arquitetura. Está diretamente ligado</p><p>ao planejamento urbano e constitui-se em quatro atividades básicas:</p><p>● 1 - Análise visual da área urbana;</p><p>● 2 - Percepção do meio ambiente;</p><p>● 3 - Identificação do comportamento ambiental;</p><p>● 4 - Composição da morfologia urbana.</p><p>79UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>Em geral, podemos dizer que o desenho urbano é um estudo que busca a harmonia</p><p>entre o espaço construído e as interações humanas. É através desse estudo que são le-</p><p>vantadas informações que possibilitam identificar qual será a relação das construções com</p><p>o espaço livre da cidade, permitindo ainda determinar quais são as atividades econômicas</p><p>do local, o uso social, a relação com o ambiente natural, entre outras características. Assim,</p><p>o desenho urbano pode ser considerado um instrumento fundamental para a realização de</p><p>um planejamento urbano das cidades.</p><p>Desenho urbano é um conceito que originou a partir dos anos 60, porém, para</p><p>entendermos sua origem, precisamos retroceder ao final dos anos 40. Após o término</p><p>da Segunda Guerra Mundial, os países iniciaram a reconstrução de suas cidades com a</p><p>construção de conjuntos habitacionais, processo este nomeado como planejamento urbano</p><p>modernista. A Unité d’Habitation de Marseille, de Le Corbusier, um do mais importante</p><p>urbanista progressista, Charles-Edouard Jeanneret, é um exemplo,</p><p>Já que a partir do desenho urbano é possível identificar a relação das edificações</p><p>com o espaço livre da cidade, uma cidade que apresenta um plano diretor que delimita uma</p><p>área do município atualmente não ocupada, e que poderá vir a ter destinação de bairro</p><p>misto (residencial e comercial) urbano, nos próximos anos, por exemplo, é um caso típico</p><p>da atuação do desenho urbano. É aí que especialistas em arquitetura e urbanismo, a partir</p><p>da década de 60, começaram a criticar a forma como o planejamento urbano pós-guerra</p><p>havia sido realizado. A partir desse pressuposto, algumas construções começaram a ser</p><p>derrubadas, especificamente em áreas de baixa renda, pois o planejamento urbano moder-</p><p>nista alegava que a cidade não favorecia o bem-estar da comunidade. Sendo estabelecido</p><p>vários parâmetros para o desenvolvimento de cidades que, até hoje, são considerados im-</p><p>portantes para vários urbanistas. Foi a partir desse momento que o modelo de intervenção</p><p>urbana nos EUA e Europa mudou.</p><p>Havendo, assim, a necessidade de encontrar um consenso entre a criação de</p><p>edifícios e obras no geral e o planejamento urbano, referente às suas questões socioeco-</p><p>nômicas. Diante desse contexto, nasceu o desenho urbano.</p><p>Enquanto o planejamento urbano foca no crescimento das cidades e organização</p><p>dos espaços, os projetos de arquitetura pensam na criação das edificações. Já para a</p><p>definição do traçado das ruas, bairros, malhas viárias, questões relacionadas ao solo e ao</p><p>meio ambiente temos o desenho urbano que ajuda a organizar todos os elementos e ofere-</p><p>ce segurança, praticidade e bem-estar aos habitantes do local. É o que está acontecendo</p><p>80UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>nos últimos anos, grandes cidades estão mudando seu desenho urbano com o objetivo de</p><p>facilitar a mobilidade urbana ou organizar o trânsito.</p><p>O desenho urbano pode ser utilizado como um instrumento para minimizar impac-</p><p>tos negativos causados no meio ambiente natural, físico e cultural, auxiliando a identificar</p><p>de que forma novos elementos devem ser incluídos em determinado espaço, sem ameaçar</p><p>a sua integridade. Sendo assim, ele é considerado parte fundamental do planejamento</p><p>urbano.</p><p>Segundo Lang (2005), existem diferentes tipos de desenho urbano: Desenho Urba-</p><p>no total; Desenho Urbano all of a piece; Desenho urbano piece by piece e Desenho Urbano</p><p>plug-in, com as seguintes definições:</p><p>● Desenho Urbano total é quando uma única equipe controla todo o projeto. Não</p><p>sendo muito comum no Brasil.</p><p>● Desenho Urbano all of a piece é um tipo de desenho urbano, em que uma equi-</p><p>pe cria um plano geral que orienta a ação dos empreendedores que desejam</p><p>construir na cidade.</p><p>● No desenho urbano piece by piece a produção das edificações é feita a partir</p><p>de centenas ou milhares de decisões individuais, que devem obedecer um</p><p>conjunto de normas gerais. Assim, a construção de edificações é controlada por</p><p>zoneamentos, incentivos e penalidades.</p><p>● Desenho Urbano plug-in acompanha o conceito da arquitetura urbana, que é</p><p>um conjunto de ações pontuais, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento</p><p>sustentável das cidades.</p><p>O desenho urbano auxilia a organizar os elementos construtivos urbanos, com o</p><p>objetivo de oferecer bem-estar, segurança e praticidade aos habitantes do local. Outras</p><p>funções do desenho urbano são a de fornecer uma análise virtual da área urbana, verificar</p><p>a composição da morfologia urbana e a identificação do comportamento ambiental.</p><p>Com o desenho urbano é mais fácil planejar as atividades econômicas de um local,</p><p>o uso social e a relação com o meio ambiente. Ocorre uma troca de informações e defini-</p><p>ções que transformam o desenho urbano em um instrumento essencial para a execução do</p><p>planejamento urbano.</p><p>De modo geral, o planejamento urbano estuda, orienta e dimensiona o crescimento</p><p>e a expansão de uma cidade, em consonância também com o meio rural. Já o desenho</p><p>urbano é a execução desse planejamento. O desenho urbano regula a arquitetura das edi-</p><p>81UNIDADE IV</p><p>diversos problemas ocasionados pela crescente expansão das</p><p>cidades sem planejamento, desenvolveu-se essa prática formada por diferentes áreas,</p><p>desde engenharia até ciências sociais.</p><p>O planejamento da cidade busca oferecer aos cidadãos uma vida agradável, segu-</p><p>ra e organizada, seja ela doméstica ou profissional, para os moradores de cidades novas</p><p>e estabelecidas. Atualmente os aspectos mais preocupantes do planejamento urbano são:</p><p>o aspecto de uma cidade, a construção de locais, o zoneamento e o transporte. Além de</p><p>9UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>focar na preservação do ambiente natural local, tentando eliminar as áreas degradadas e/</p><p>ou impedindo seu desenvolvimento.</p><p>Até a metade do século XIX as cidades metropolitanas eram criadas de maneira</p><p>espalhadas, por exemplo, Londres, Paris e Tóquio iniciaram como pequenas cidades e</p><p>foram crescendo à medida que as pessoas se mudavam para elas. Dessa forma, como não</p><p>existia um planejamento, as ruas e os endereços nas partes mais antigas dessas cidades</p><p>podem ser confundidos, até mesmo pelos nativos, pois foram criados sem a devida reflexão</p><p>sobre como a área poderia mudar e crescer no futuro.</p><p>Como as pessoas sempre se instalaram nas cidades ou até mesmo em organi-</p><p>zações das cidades, seja em lugares mais altos, buscando alto autodefesa, ou próximo a</p><p>corpos d’água, pensando na melhor forma de sobrevivência, o final do século XIX é quando</p><p>o planejamento urbano começou a se desenvolver e, como quase em todas disciplinas, foi</p><p>criado para resolver um problema.</p><p>O governo local, em parcerias com engenheiros e arquitetos, iniciará a busca pela</p><p>resolução de problemas existentes em áreas urbanas, a fim de impedi-los de se desenvol-</p><p>ver em outras novas áreas.</p><p>Quando uma cidade não é organizada em setores industriais, áreas habitacionais,</p><p>área hospitalar e escolar, por exemplo, podem existir problemas em relação à saúde e</p><p>segurança das pessoas que ali residem, como é o caso das cidades mais antigas. Apesar</p><p>da grande dificuldade em encontrar soluções para os diferentes problemas existentes nas</p><p>cidades seja muito mais complicado do que planejar uma nova cidade ou área urbana do</p><p>zero, ambas são situações igualmente importantes da área.</p><p>No planejamento urbano, a especificação de determinadas áreas em uma cidade,</p><p>como a localização dos edifícios, zonas residenciais, áreas comerciais e setores industriais,</p><p>é extremamente importante. Por exemplo, a instalação de um hospital em um local central</p><p>de uma cidade pode literalmente salvar vidas, enquanto a instalação de uma estação de</p><p>tratamento de água traria muitos problemas as pessoas ali vizinhas. A criação de um bom</p><p>planejamento urbano leva em consideração todos esses fatores e muitos outros ao deter-</p><p>minar os locais para os edifícios, e estabelece as zonas apropriadas de acordo.</p><p>Além da determinação de todas essas áreas supracitadas, a existência de estradas</p><p>e rodovias suficientes, assim como o transporte público de fácil acesso, também é uma</p><p>prioridade do planejamento urbano, por exemplo, para que a equipe de socorristas e poli-</p><p>ciais seja eficaz, eles precisam conseguir chegar a qualquer lugar da cidade em questão</p><p>de minutos, dessa forma as estradas devem ser projetadas para tornar a locomoção em</p><p>10UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>qualquer lugar o mais rápido possível, ainda não esquecendo de mencionar que as esta-</p><p>ções necessitam estar localizadas centralmente e espalhadas por toda a área da cidade.</p><p>Os planejadores urbanos geralmente consideram como o crescimento futuro afeta-</p><p>rá o fluxo de tráfego, assim, prever o crescimento e as necessidades de tráfego para uma</p><p>cidade grande é extremamente importante. Com essa informação, eles geralmente tentam</p><p>eliminar possíveis pontos problemáticos antes que se tornem um problema.</p><p>Com a expansão das cidades e/ou criação de novas, o planejamento para o</p><p>transporte público também é importante, especialmente à medida que as principais áreas</p><p>metropolitanas avançam para práticas que visam a sustentabilidade do ambiente.</p><p>Em relação aos aspectos ambientais, além de garantir a saúde e a segurança dos</p><p>moradores, o planejamento urbano também leva em conta o aspecto da cidade, desde</p><p>projetos de construção específicos até a incorporação de espaços verdes e paisagísticos à</p><p>área, buscando tornar a expansão sustentável e prática.</p><p>Ao planejar as estradas, a qualidade do ar e a poluição sonora são dois aspectos</p><p>que podem ser levados em consideração, visando criar empreendimentos habitacionais</p><p>menores para limitar o impacto que os moradores têm em seu ambiente imediato.</p><p>Atualmente, cidades recém planejadas buscam a incorporação de espaços verdes</p><p>e o uso de fontes de energia ecologicamente corretas e transporte. O mesmo pode ser</p><p>pensado pelos gestores ao planejar a expansão das cidades já existentes.</p><p>A base do planejamento urbano é uma combinação de diferentes áreas, como ar-</p><p>quitetura, economia, relações humanas e engenharia. Por esse motivo existem diferentes</p><p>teorias sobre o desenvolvimento de favelas e a ocorrência de decadência urbana. As fave-</p><p>las, definidas como superlotadas, atropelam seções de uma cidade ocupada por pessoas</p><p>na faixa socioeconômica mais baixa, frequentemente estão na vanguarda do campo.</p><p>Um dos grandes desafios das autoridades municipais e planejadores urbanos é</p><p>a busca pela eliminação ou melhoraria das favelas existentes e ainda garantir que novas</p><p>não se desenvolvam. Entretanto existem muitos fatores sociais, políticos e econômicos</p><p>envolvidos não só no desenvolvimento de tais áreas, mas em sua existência continuada.</p><p>Com o intuito de eliminar ou melhorar áreas de moradias precárias, várias medidas</p><p>diferentes são propostas. Uma delas é tentar eliminar toda a área degradada de uma cida-</p><p>de, substituindo as habitações antigas, em condições precárias, por habitações modernas</p><p>financiadas pelo governo ou por organizações privadas. No entanto alguns países apresen-</p><p>tam problemas com os “direitos de posseiros”, o que significa que a polícia não pode exigir</p><p>que os habitantes das favelas se mudem para que a área possa ser limpa.</p><p>11UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>Ainda no quesito de melhorias das favelas, os planejadores urbanos frequente-</p><p>mente trabalham para localizar escolas, hospitais e outros estabelecimentos socialmente</p><p>benéficos e geradores de empregos próximo das favelas, com o objetivo de melhorar o</p><p>clima econômico da região.</p><p>A realização do planejamento urbano de uma cidade proporciona tanto o desenvol-</p><p>vimento de áreas abertas, ou seja, locais com áreas verde, quanto a revitalização de partes</p><p>já existentes da cidade, abarcando a definição de objetivos, coleta e análise de dados, pre-</p><p>visão, design, pensamento estratégico e consulta pública. Uma ferramenta muito utilizada</p><p>para mapear o sistema urbano já existente e projetar as consequências das mudanças é a</p><p>tecnologia de sistemas de informação geográfica.</p><p>O termo Desenvolvimento Sustentável, no final do século XX, passou a representar</p><p>uma peça fundamental na soma de todas as metas de planejamento.</p><p>Fatores como equidade social, crescimento econômico, sensibilidade ambiental e</p><p>apelo estético são as demandas conflitantes que os planejadores contemporâneos buscam</p><p>equilibrar no planejamento. O planejamento pode ser um plano mestre formal para uma</p><p>cidade inteira ou área metropolitana, ou um conjunto de alternativas de política.</p><p>A implementação de um plano bem sucedido geralmente requer ações empreende-</p><p>doras e habilidades políticas por parte dos planejadores e de seus patrocinadores, apesar</p><p>dos esforços para isolar o planejamento da política. No entanto, mesmo baseado no gover-</p><p>no, o planejamento envolve cada vez mais a participação do setor privado em “parcerias</p><p>público-privadas”.</p><p>Pensando na origem do planejamento urbano como uma disciplina acadêmica, ele</p><p>surgiu nos anos 1900. Na Grã-Bretanha, o primeiro programa de planejamento acadêmico</p><p>começou</p><p>Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>ficações, do traçado das ruas e avenidas, da melhor disposição de equipamentos urbanos</p><p>e da relação com o meio ambiente e a sustentabilidade.</p><p>Assim, a estrutura urbana é composta pelos seguintes elementos: o traçado viário,</p><p>o quarteirão, o lote (ou parcela fundiária) e o edifício. Logo, um estudo morfológico é váli-</p><p>do, pois além de descrever estes elementos, investiga sua interdependência. A partir daí,</p><p>outros fatores, como os regulamentos de construção, as técnicas construtivas, a cultura</p><p>de profissionais, como arquitetos, engenheiros, construtores e artesãos, são considera-</p><p>dos. Essa análise é capaz de elucidar a vigência de determinadas formas e o conceito de</p><p>tipo adquire, então, valor instrumental no sentido de indicar a origem dos edifícios e suas</p><p>relações com os outros elementos operantes na forma urbana, assinalando, assim, sua</p><p>armação histórica.</p><p>Morfologia é uma palavra utilizada para designar o estudo da configuração e da</p><p>estrutura exterior de um objeto. É a ciência que estuda as formas, interligando-as com os</p><p>fenômenos que lhes deram origem. Portanto, a morfologia urbana é o estudo da forma</p><p>do meio urbano, nas suas partes físicas exteriores, na sua produção e transformação no</p><p>tempo. Ela ocupa-se da divisão do meio urbano em partes e da articulação destes entre</p><p>si, tendo a necessidade de identificação e clarificação dos elementos morfológicos, leitura</p><p>ou análise do espaço, quer em ordem à sua concepção ou produção, levando em conta os</p><p>níveis de produção do espaço urbano.</p><p>Logo, podemos conceituar a forma urbana: modo como os elementos morfológi-</p><p>cos se organizam, que constituem e estabelece o espaço urbano, relativo aos aspectos</p><p>quantitativos que se referem a uma organização quantitativa, como densidade, superfícies,</p><p>fluxos etc.; aspectos de organização funcional, relacionados às atividades humanas, como</p><p>habitar, instruir-se, comerciar, tratar-se etc. e aspectos qualitativos referentes ao conforto e</p><p>comodidade do usuário e tratamento dos espaços. No meio urbano pode ser relacionado à</p><p>adaptação ao clima, à acessibilidade, ao estado dos pavimentos etc.</p><p>Nos diversos contextos, os elementos morfológicos, como rua, praça, edifícios,</p><p>fachadas, planos marginais e monumentos isolados, são semelhantes, a diferença está</p><p>na maneira como eles se posicionam, se organizam e se articulam, constituindo o espaço</p><p>urbano.</p><p>A dimensão espacial na morfologia urbana coloca-se a níveis diferentes de acordo</p><p>com a leitura e concepção, existindo as seguintes dimensões: Dimensão Setorial, que é a</p><p>unidade mais pequena ou porção de espaço urbano; Dimensão Urbana, que pressupõe</p><p>82UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores e Dimensão Territorial, cuja</p><p>forma estrutura-se através da articulação de diferentes formas à Dimensão Urbana.</p><p>No espaço urbano temos os considerados elementos morfológicos, como o solo,</p><p>os edifícios, o lote, o quarteirão, a fachada, o logradouro, o traçado da rua, a praça, o</p><p>monumento, a árvore e a vegetação, e o mobiliário urbano.</p><p>Ainda na morfologia temos os níveis de produção do espaço, no qual a prática</p><p>do planejamento se organiza em níveis de atuação determinados pela própria natureza</p><p>dos métodos, conteúdos e objetivos, escala dos problemas e dimensão geográfica das</p><p>intervenções. Podemos diferenciar três níveis de produção do espaço, a saber:</p><p>● Nível de Planejamento - Programação - Planificação: fase de determinação de</p><p>objetivos socioeconômicos, a programação é a etapa preliminar das ações do</p><p>urbanismo, pois prevê o que será executado no futuro.</p><p>● Nível urbanístico - O plano: refere-se à precisão dos objetivos no espaço e no</p><p>tempo e de conferir características espaciais com detalhes na execução dos</p><p>propósitos anteriores, ou seja, ocorre a definição das morfologias urbanas e a</p><p>consideração das perspectivas físicas do território.</p><p>● Nível de construção - O projeto: fase de construção do território, conforme os</p><p>objetivos e programas definidos.</p><p>83UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>4 O DESAFIO DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS E A AGENDA 21</p><p>A Agenda 21 é um documento que propunha novos modelos políticos para o mun-</p><p>do em busca do desenvolvimento sustentável. Foi o principal documento que resultou da</p><p>Conferência Rio 92, evento este que reuniu representantes de todos os países do mundo</p><p>para discutir e divulgar a nova concepção de Desenvolvimento Sustentável. Esse evento</p><p>significou para o Brasil ter que enfrentar a crise ambiental e ao mesmo tempo retomar o</p><p>desenvolvimento, fortalecendo a democracia e a estabilidade da economia. O problema do</p><p>desenvolvimento deveria ser finalmente resolvido sob uma ótica ambiental e socialmente</p><p>sustentável.</p><p>Constituída de programas que podem ser considerados instrumento fundamental</p><p>para a elaboração de políticas públicas em todos os níveis e que privilegiavam a iniciativa</p><p>local. É composta por 40 capítulos, apresentando questões como Desenvolvimento Susten-</p><p>tável, Biodiversidade, Mudanças Climáticas, Águas (doces e oceanos) e Resíduos (tóxicos</p><p>e nucleares). Essas questões tornaram-se os problemas do planeta e da Humanidade e</p><p>assumiram o novo centro da temática ambiental, agora abordados em seus capítulos. En-</p><p>tretanto a Agenda 21 não teve a força de lei das convenções e precisava aproximadamente</p><p>de 600 bilhões de dólares anuais para ser implantada no mundo. Além de sofrer com o</p><p>denominador mínimo instigado pelo consenso exigido nos encontros internacionais, o que</p><p>tornou o texto frequentemente vago, sem prazos, nem compromissos. No entanto, mesmo</p><p>84UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>com algumas indefinições, a Agenda 21 apresenta uma série de programas, que a torna um</p><p>instrumento considerável para a criação de políticas em todas as áreas.</p><p>Em meio a tantas mudanças climáticas para que exista prosperidade e uma sobre-</p><p>vivência digna, diversas transformações devem ocorrer. Imaginando uma cidade do futuro,</p><p>estas necessitam voltar a atenção para as pessoas vulneráveis, buscando diminuir a de-</p><p>sigualdade. As cidades do futuro devem buscar práticas a fim de alcançar uma pegada de</p><p>carbono próxima de zero, diminuir ao extremo e até mesmo alcançar o fim da dependência</p><p>de combustíveis fósseis e ser capazes de resolver eventos extremos, encontrando ao mes-</p><p>mo tempo, formas de cuidar de grupos já marginalizados e vulneráveis. No entanto, para</p><p>enxergarmos tais cidades, necessitamos exigir muito mais da nossa imaginação coletiva.</p><p>A criação e edificação de cidades mais sustentáveis é um desafio que só pode ser</p><p>alcançado com base em modelos modernos e inovadores, capazes de construir instru-</p><p>mentos de congregação dos esforços da esfera pública, em especial, neste caso, em sua</p><p>dimensão municipal, com as forças da sociedade civil e da iniciativa empresarial.</p><p>Diante de tal situação, o Conselho Empresarial Brasileiro, para o Desenvolvimento</p><p>Sustentável (CEBDS), lançou, no dia 27 de abril de 2017, no IV Encontro dos Municípios</p><p>com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS), realizado em Brasília, a publicação Susten-</p><p>tabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades sobre como os municípios brasileiros</p><p>podem se adequar ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela ONU</p><p>para Cidades (ODS 11) e se tornarem cidades mais sustentáveis.</p><p>Esse documento trata a Agenda sobre Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda</p><p>para as cidades, apresentando um compilado de importantes iniciativas de organizações do</p><p>setor empresarial e da sociedade civil, que objetivam estabelecer uma agenda sustentável</p><p>nas cidades.</p><p>A ideia da Agenda Cidades é mostrar aos prefeitos a relação da cidade com os</p><p>ODS formulados pela ONU, que devem ser trabalhados durante o mandato, em que muitos</p><p>desses objetivos são previamente abordados na legislação brasileira, por exemplo: já existe</p><p>uma política nacional para trabalhar</p><p>com a mudança climática, oficializada em dezembro de</p><p>2009. Da mesma maneira, também existe a política federal para gestão de recursos hídricos</p><p>e saneamento básico. São todas ações em nível nacional que interferem diretamente na</p><p>gestão municipal.</p><p>Durante a elaboração da agenda, a preocupação foi a de apresentar projetos de</p><p>sucesso, que pudessem ser replicados nas cidades e estimulados por parcerias público-pri-</p><p>vadas (PPP). Logo, para criação da Agenda primeiramente foi realizado um levantamento</p><p>85UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>federal e verificadas as principais políticas públicas brasileiras referentes ao tema do de-</p><p>senvolvimento urbano sustentável, relativas às iniciativas da publicação e que refletem em</p><p>obrigações dos municípios quanto aos ODS. Logo após, foi elencada uma série de ações</p><p>concretas desenvolvidas em âmbito privado e público. A seleção inclui iniciativas internas</p><p>do CEBDS, de associados, de órgãos públicos parceiros e até ideias já colocadas em</p><p>prática em alguns municípios.</p><p>A Agenda foi pensada contemplando os prefeitos e gestores municipais, incluindo</p><p>aqueles que têm pouca intimidade com o assunto. Foram elencados todos os ODS, princi-</p><p>palmente o objetivo 11 que aborda sobre Cidades e Comunidades Sustentáveis, que trata</p><p>justamente sobre a questão da sustentabilidade urbana.</p><p>Para que todos os prefeitos possam ter uma visão do que devem fazer para se</p><p>adequar à política nacional de sustentabilidade, foram mapeadas as principais leis atuais</p><p>que preveem a adoção de práticas sustentáveis em nível federal e que precisam ser con-</p><p>templadas nos municípios brasileiros.</p><p>Assim, foram mostradas novas maneiras dos governos municipais atuarem em par-</p><p>ceria com a sociedade e como os diferentes setores podem trabalhar juntos na promoção</p><p>do desenvolvimento urbano sustentável, a partir da demonstração de iniciativas e projetos</p><p>já desenvolvidos em cidades brasileiras. Existem inúmeras sugestões que podem auxiliar</p><p>os prefeitos no trabalho de propor melhorias sustentáveis para a cidade.</p><p>A proposta é servir como inspiração para a sustentabilidade urbana e modelo para</p><p>a materialização de parcerias público-privadas para este fim. Além de abrir espaço a diretri-</p><p>zes para o desenvolvimento urbano sustentável no âmbito global e nacional.</p><p>86UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A Lei nº 10.257/01, denominada Estatuto da Cidade, obriga que todo município com</p><p>mais de 20 mil habitantes e com estâncias turísticas elabore seu Plano Diretor, que</p><p>deve orientar os planos plurianuais, as leis de diretrizes orçamentárias e de orçamentos</p><p>anuais, ou seja, os instrumentos de planejamento financeiro do município (DUARTE,</p><p>2013).</p><p>Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a Agenda 21 é um instrumento de pla-</p><p>nejamento para a construção de cidades sustentáveis, que concilia métodos voltados</p><p>para eficiência econômica, justiça social e proteção ambiental. A Agenda 21 é parte</p><p>integrante do Plano Plurianual do Governo Federal (PPA) 2008/2011 e se fundamenta</p><p>na execução de três ações: elaboração e implementação das Agendas 21, formação</p><p>continuada em Agenda 21 e fomento a projetos voltados para a Agenda 21.</p><p>Fonte: BRASIL, 2001.</p><p>REFLITA</p><p>Os Planos de Bairro estão inseridos no Sistema de Planejamento do Município, su-</p><p>bordinado ao Plano Diretor da cidade, à Lei de Uso e Ocupação do Solo e aos Planos</p><p>Regionais das subprefeituras, mas podem influenciar diretamente o desenvolvimento</p><p>do Plano Diretor Estratégico da cidade. Eles deverão ser considerados na revisão dos</p><p>Planos Regionais das subprefeituras.</p><p>Fonte: BRASIL, 2001.</p><p>87UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Diretrizes urbanas sempre irão existir, a diferença é que o plano diretor deixa as</p><p>informações claras e nitidamente expressas, disponíveis ao cidadão para criticar, com-</p><p>preender e atuar sob as decisões. Com a existência do plano diretor, o cidadão pode decidir</p><p>qual é o melhor local onde comprar uma casa para morar e o empresário pode escolher</p><p>melhor o local onde investir em um novo negócio.</p><p>De modo geral, o planejamento urbano estuda, orienta e dimensiona o crescimento</p><p>e a expansão de uma cidade, em consonância também com o meio rural. Já o desenho</p><p>urbano é a execução desse planejamento.</p><p>O desenho urbano é o desenho das edificações, do traçado das ruas e avenidas,</p><p>da melhor disposição de equipamentos urbanos e da relação com o meio ambiente e a</p><p>sustentabilidade. Sendo o desenho urbano parte prática do planejamento urbano, é impres-</p><p>cindível conhecer sobre economia urbana, política e teoria social, para, assim, atingirmos o</p><p>desenvolvimento sustentável.</p><p>88UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>CEBDS. Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades. 2017.</p><p>Disponível em: https://cebds.org/sustentabilidade-urbana/#.XqmTX2hKjIU.</p><p>Com esta leitura você poderá:</p><p>● Conhecer as principais políticas públicas brasileiras para o desenvolvimento</p><p>urbano sustentável;</p><p>● Ter conhecimento de cerca de vinte iniciativas do setor empresarial e sociedade</p><p>civil selecionadas para exemplificar casos em diferentes áreas consideradas</p><p>relevantes para o desenvolvimento urbano sustentável;</p><p>● Entender como a construção de cidades mais sustentáveis é um desafio que só</p><p>pode ser alcançado com base em modelos modernos e inovadores.</p><p>89UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>• Título: Sustentabilidade Urbana: Uma nova agenda para as</p><p>cidades</p><p>• Autor: CEBDS</p><p>• Editora: CEBDS</p><p>• Sinopse: O documento apresenta um compilado de importantes</p><p>iniciativas de organizações do setor empresarial e da sociedade</p><p>civil que visam estabelecer uma agenda sustentável nas cidades,</p><p>servindo como inspiração e modelo para a concretização de par-</p><p>cerias público-privadas para este fim. O documento também dá</p><p>espaço a diretrizes para o desenvolvimento urbano sustentável, no</p><p>âmbito global e nacional.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>• Título: Megatendências</p><p>• Ano: 2018</p><p>• Sinopse: O filme Megatendências discute o que acontecerá no</p><p>mundo nos próximos 20 anos, mostrando a opinião de especia-</p><p>listas. O documentário aponta que a tendência do século XXI é</p><p>enxergar os centros urbanos não apenas como meros espaços</p><p>eficientes de circulação de pessoas e mercadorias, mas também</p><p>como ambientes de enriquecimento cultural — em que as ativi-</p><p>dades humanas devem ser integradas em torno dos pilares do</p><p>desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida.</p><p>Patrocinado pela Deloitte e coproduzido pela UNESCO, o docu-</p><p>mentário Megatendências traz uma reflexão sobre a vida nas gran-</p><p>des cidades e o papel da tecnologia e de soluções inovadoras para</p><p>enfrentar os principais desafios dos próximos anos. A produção</p><p>permeia temas como mudanças climáticas e demográficas, glo-</p><p>balização e urbanização para analisar, de forma sistêmica, como</p><p>estamos nos preparando para o futuro.</p><p>90UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>10 filmes imperdíveis do “Cinema e Arquitetura”: cidades e lógicas urbanas atuais. Dispo-</p><p>nível em: https://www.archdaily.com.br/br/759791/10-filmes-imperdiveis-do-cinema-e-arquitetura-ci-</p><p>dades-e-logicas-urbanas-atuais. Acesso em: 20 janeiro 2020.</p><p>Abiko, Alex Kenya; M.A.P. de Almeida; M.A.F. Barreiros. Urbanismo: História e Desenvolvimento.</p><p>São Paulo: EPUSP. 1995.</p><p>ARRUDA, J. J. A. História antiga e medieval. 16. ed. São Paulo, Editora Ática, 1993.</p><p>ASCHER, F. Novos princípios do urbanismo: novos compromissos urbanos. Lisboa: Livros</p><p>Horizonte, 2012.</p><p>ATTANASIO, C. M. et al. Adequação ambiental de propriedades rurais, recuperação de áreas</p><p>degradadas e restauração de matas ciliares. Piracicaba: Universidade de São Paulo, 2006.</p><p>BALSAS, C. J. L. O urbanismo comercial e as parcerias público-privado para a gestão do cen-</p><p>tro das cidades, ensinamentos e experiência estrangeira. Lisboa:GEPE, 2000.</p><p>BELÈM. Prefeitura Municipal.</p><p>Lei n° 8655 de 30 de julho de 2008. Dispõe sobre o Plano diretor</p><p>urbano municipal e dá outras providências. Belém, 2008.</p><p>BENEVOLO, L. História da Cidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1993.</p><p>BRAGA, R. Plano Diretor Municipal: três questões para discussão. Caderno do Departamento de</p><p>Planejamento, Faculdade de Ciências e Tecnologia - Unesp, Presidente Prudente, v.1, n.1, p.15-</p><p>20, ago. 1995.</p><p>Brasil. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FE-</p><p>DERATIVA DO BRASIL DE 1988.</p><p>BRASIL. Estatuto da cidade (2001) Estatuto da cidade: Lei n. 10.257, de 10 julho de 2001, e le-</p><p>gislação correlata. – 2. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009.</p><p>BRASIL. Lei 9.985, de 18 de julho 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da</p><p>Natureza. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm. Acesso em:</p><p>02 jan. 2020.</p><p>BRASIL. Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Regulamenta os arts.</p><p>182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras pro-</p><p>vidências. Brasília: Diário Oficial da União, 2001.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. 2. ed.</p><p>Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002.</p><p>Carta de Atenas in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consult. 2020-02-25</p><p>14:10:51]. Disponível em: https://www.infopedia.pt/$carta-de-atenas. Acesso em 20 janeiro 2020.</p><p>CARVALHO, S. H. Estatuto da Cidade: aspectos políticos e técnicos do plano diretor. São Paulo em</p><p>Perspectiva, v. 15, n .4, p.130-135, 2001.</p><p>CEBDS. Sustentabilidade Urbana: uma nova agenda para as cidades. 2017. Disponível em: ht-</p><p>tps://cebds.org/sustentabilidade-urbana/#.XqmTX2hKjIU. Acesso em: 20 jan. 2020.</p><p>CHOAY, F. O urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 1992.</p><p>https://www.archdaily.com.br/br/759791/10-filmes-imperdiveis-do-cinema-e-arquitetura-cidades-e-logicas-urbanas-atuais</p><p>https://www.archdaily.com.br/br/759791/10-filmes-imperdiveis-do-cinema-e-arquitetura-cidades-e-logicas-urbanas-atuais</p><p>https://www.archdaily.com.br/br/759791/10-filmes-imperdiveis-do-cinema-e-arquitetura-cidades-e-logicas-urbanas-atuais</p><p>https://www.infopedia.pt/$carta-de-atenas</p><p>91UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>CHOAY, F. O urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 1998.</p><p>Código Civil - Lei 10406/02 | Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002.</p><p>CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS – CNM. Planos Diretores para Municípios de</p><p>pequeno porte: limites e perspectivas para a aplicação dos instrumentos do Estatuto da Cidade.</p><p>Brasília: CNM, 2015.</p><p>Duarte, Jorge Carlos Silveira organizador. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO BAIRRO: UMA</p><p>METODOLOGIA PARTICIPATIVA. FECOMERCIOSP. São Paulo: FISCHER2, 2013.</p><p>FERNANDES, E. Estatuto da Cidade, mais de 10 anos depois. Revista UFMG, v. 20, n. 1, 2013.</p><p>FUNDAÇÃO PREFEITO FARIA LIMA – CEPAM. Plano diretor passo a passo. Coordenação de</p><p>Mariana Moreira. São Paulo, 2005.</p><p>GARAY, A. M. Creación de una agencia de desarrollo del centro. Texto apresentado à Emurb,</p><p>como consultoria para o município de São Paulo, 2003.</p><p>GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.</p><p>GIAMBASTIANI, G. L. et al. Planejamento urbano e regional: dimensionamento. Porto Alegre:</p><p>SAGAH, 2019.</p><p>HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.</p><p>HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janei-</p><p>ro: Aeroplano, 2000.</p><p>INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE. O futuro que queremos: Economia</p><p>verde, futuro sustentável e erradicação da pobreza. 2001. Disponível em: http://www.inpe.br/</p><p>noticias/arquivos/pdf/RIO+20-web.pdf. Acesso em: 10 jan. 2020.</p><p>LANG, J. T. Urban Design: typology of procedures and products. Oxford ; Burlington, MA: Elsevier/</p><p>Architectural Press, 2005.</p><p>LIMA, V.; AMORIM, M. C. C. T. Avaliação da qualidade ambiental urbana em Osvaldo Cruz/SP.</p><p>SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA. 11., São Paulo, 2005. Anais... São</p><p>Paulo: Departamento de geografia/FFLCH/USP, 2005. p. 746-756.</p><p>LOBODA, C. R. Estudo das áreas verdes urbanas de Guarapuava – PR. 2003. 159 f. Dissertação</p><p>(Mestrado em Geografia) - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Estadual de</p><p>Maringá, Maringá, 2003.</p><p>MARICATO, E. URBANISMO NA PERIFERIA DO MUNDO GLOBALIZADO metrópoles brasilei-</p><p>ras. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(4) 2000.</p><p>MAZZEI, K.; COLESANTI, M. T. M.; SANTOS, D. G. Áreas verdes urbanas, espaços livres para o</p><p>lazer. Revista Sociedade e Natureza, Uberlândia, v. 19, n. 1, p. 33-43, 2007.</p><p>MELLO, L. de A. A carta dos Andes. São Paulo: Bem Estar, 1960.</p><p>MILANO, M. S.; DALCIN, E. C. Arborização de vias públicas. Rio de Janeiro: Light, 2000.</p><p>Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/responsabilidade-so-</p><p>cioambiental/agenda-21>. Acesso em: 20 janeiro 2020.</p><p>MOTA, S. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999.</p><p>https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21</p><p>https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21</p><p>https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21</p><p>92UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>NUNES, B. B. S.; COSTA, R. A. Qualidade de vida e espaço livres públicos do setor oeste da cidade</p><p>de Uberlândia – MG. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 11, n. 36, p. 284-294, 2010.</p><p>PANCHER, A. M.; ÁVILA, M. R. O uso das tecnologias na determinação do percentual de áreas</p><p>verdes urbanas no município de Americana. Revista Geonorte, Amazonas, Edição Especial, v. 2,</p><p>n. 4, p. 1662–1673, 2012.</p><p>ROSEN, G. Da Polícia Médica à Medicina Social. Rio de Janeiro: Graal, 1980.</p><p>RUBIRA, F. G. Análise multitemporal da expansão urbana de Maringá-PR durante o período</p><p>de 1947 a 2014 envolvendo o Parque Municipal do Cinquentenário e as principais áreas ver-</p><p>des do município. Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v.26, n.46, p. 333-361, 2016a.</p><p>RUBIRA, F. G. Monitoramento das feições erosivas do Parque Municipal do Cinquentenário</p><p>e de suas áreas limítrofes. Revista Brasileira de Geografia Física, Recife, v.09, n.02, p. 470-497,</p><p>2016b.</p><p>RUBIRA, F. G.; SOUZA, M. L. Análise multitemporal da degradação ambiental do Parque Mu-</p><p>nicipal do Cinquentenário, Maringá – PR. Revista Geografar, Curitiba, v. 9, n. 2, p.30-61, 2014.</p><p>SAYAGO, D.; PINTO, M. O. Plano diretor: instrumentos de política urbana e gestão ambiental.</p><p>In: VI ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, 6., 2005. Anais... [S.l.: s.n.],</p><p>2005.</p><p>SCOPEL, V. et al. Planejamento urbano. Porto Alegre: Sagah, 2018.</p><p>SCOTTO, G.; CARVALHO, I. C. de M.; GUIMARÃES, L. B. Desenvolvimento Sustentável. Petró-</p><p>polis: Vozes, 2010.</p><p>SILVA, J. A. da. Direito urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2000.</p><p>SOUZA, D. S. Instrumentos de gestão de poluição sonora para sustentabilidade das cidades</p><p>brasileiras. 2004. 643 f. Tese (Doutorado em Ciências em Planejamento Energético) - Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.</p><p>TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 8. ed. Rio Claro: Divisa, 2008.</p><p>VARGAS, H. C.; CASTILHO, A. L. H. de (Orgs.). Intervenções em centros urbanos: objetivos,</p><p>estratégias e resultados. Barueri: Manole, 2015.</p><p>93UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Prezado(a) aluno(a),</p><p>Nesse material busquei trazer para você os principais conceitos a respeito do pla-</p><p>nejamento urbano e meio ambiente. Para tanto abordamos as definições teóricas e, neste</p><p>aspecto, acreditamos que tenha ficado claro para você a importância do planejamento</p><p>urbano para ordenar o crescimento e funcionamento de uma cidade quanto a concepção</p><p>de um novo edifício, incluindo preocupações ambientais, infraestrutura, entre outros.</p><p>Destacamos também que o planejamento busca oferecer aos cidadãos uma vida</p><p>agradável, segura e organizada, seja ela doméstica ou profissional para os moradores de</p><p>cidades novas ou já estabelecidas. Mostramos também que os aspectos mais preocupan-</p><p>tes do planejamento urbano na atualidade são: o aspecto de uma cidade, a construção de</p><p>locais, o zoneamento e o transporte, além de focar na preservação do ambiente natural</p><p>local, tentando eliminar as áreas degradadas e/ou impedindo seu desenvolvimento.</p><p>Também levantamos aspectos relacionados à desigualde existente devido fatores</p><p>financeiros ou de distribuição de renda, que também proporcionam a divisão da cidade</p><p>concretizando o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela</p><p>existência das desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, pois quanto maio-</p><p>res as diferenças socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação</p><p>aos seguintes aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida. Afinal, o urbanismo</p><p>é a expressão de um posicionamento político, pois prepara o espaço da cidade para o</p><p>desenvolvimento do capitalismo industrial, inclusive garantindo a reprodução da força de</p><p>trabalho.</p><p>No entanto, também verificamos que ao analisarmos a literatura, o Estatuto da</p><p>Cidade pode gerar benefícios ambientais aos grandes centros urbanos ao estimular a ins-</p><p>talação da população de baixa renda em áreas dotadas de infraestrutura, evitando, assim, a</p><p>ocupação de áreas consideradas ambientalmente frágeis, como encostas de morros, zonas</p><p>94UNIDADE IV Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>inundáveis e mangues. Portanto, pudemos verificar que o Estatuto propõe como diretriz</p><p>para as prefeituras a adoção de medidas ambientalmente sustentáveis para o planejamento</p><p>urbano e prevê normas, como a obrigatoriedade de estudos de impacto urbanístico para</p><p>grandes obras, como, por exemplo, a construção de shopping centers. Além de listar entre</p><p>os instrumentos do planejamento a gestão orçamentária participativa.</p><p>A partir de agora acreditamos que você já está preparado(a) em relação ao planeja-</p><p>mento urbano, sabendo quais são as diretrizes e a importância de um Plano Diretor; quais</p><p>são os quesitos para a cidade ter um plano diretor; como e se a comunidade deve participar</p><p>da elaboração do plano diretor. Enfim, todo o conhecimento básico e necessário sobre o</p><p>planejamento urbano e sua funcionalidade.</p><p>Até uma próxima oportunidade.</p><p>Muito obrigada!</p><p>UNIDADE I</p><p>Planejamento Urbano Ambiental</p><p>UNIDADE II</p><p>Técnicas de Planejamento</p><p>UNIDADE III</p><p>Metodologia para Elaboração de Planos Urbanos</p><p>UNIDADE IV</p><p>Plano Diretor: Diretrizes Básicas</p><p>na Universidade de Liverpool em 1909 e o primeiro programa norte-americano foi</p><p>estabelecido na Universidade de Harvard em 1924. É ensinado principalmente no nível de</p><p>pós-graduação e seu currículo varia muito de uma universidade para outra.</p><p>12UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>2 PLANEJAMENTO URBANO AMBIENTAL: QUESTÕES PARA REFLEXÃO</p><p>Atualmente, o aumento da expansão dos aglomerados urbanos e o surgimento de</p><p>novas cidades têm propiciado a evolução das discussões e pesquisas na área ambiental.</p><p>Por outro lado, a expansão urbana está fortemente relacionada com desenvolvimento</p><p>econômico do homem, e necessita cada vez mais de espaços maiores para desenvolver</p><p>suas relações político-econômicas, sociais e culturais, gerando um confronto com o meio</p><p>ambiente quando o desenvolvimento sustentável não é levado em consideração. Dessa</p><p>forma, esse confronto pode provocar desequilíbrios na natureza.</p><p>as práticas sociais especialmente no que se refere ao processo econômico e</p><p>tecnológico, vem imprimindo também, de maneira generalizada, uma marca</p><p>especial no meio urbano, o desrespeito à base natural e, como consequência,</p><p>ambientes desequilibrados ecologicamente (MILANO; DALCIN, 2000, p. 6).</p><p>A partir da década de 70, grandes conferências ambientais foram realizadas como</p><p>resposta às discussões e pesquisas ambientais contemporâneas. Nos dias atuais, essas</p><p>conferências ocorrem regularmente, devido à intensificação de ocorrência dos problemas</p><p>ambientais.</p><p>Segundo Scotto, Carvalho e Guimarães (2010) e o Instituto Nacional de Pesquisas</p><p>Espaciais - INPE (2001), a primeira conferência que discute sobre o homem e o meio ambiente</p><p>foi realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo, na Suíça, no ano</p><p>de 1972. Nessa conferência foram criados 26 princípios para a melhoria e preservação do</p><p>meio ambiente. Logo após, em 1988, no Canadá, foi realizada a primeira conferência a nível</p><p>13UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>global sobre o clima, que resultou na criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças</p><p>Climáticas (IPCC), que objetiva avaliar o risco das mudanças climáticas influenciadas pela</p><p>atividade humana. Em 1990, em Genebra, na Suíça, foi divulgado o primeiro relatório do</p><p>IPCC, que evidenciou que a temperatura do planeta estaria aumentando, determinando a</p><p>necessidade de um acordo climático internacional, que resultou em um encontro no Brasil,</p><p>na cidade do Rio de Janeiro, denominado de Eco-92 e originou os tratados da Agenda 21.</p><p>Logo após essas conferências, outras vieram, chamadas de Conferência das Partes</p><p>(COP), que consistem em um foro internacional anual de negociação das regras e políticas</p><p>sobre mudanças climáticas através da criação de metas e diretrizes, que buscam a melhor</p><p>maneira de interação entre a sociedade e a natureza. A primeira COP (COP-1) foi realizada</p><p>em Berlim, na Alemanha, no ano de 1995, e a mais recente (COP-25), em Madrid, Espanha,</p><p>no ano de 2019.</p><p>Das 25 conferências realizadas, destaca-se a COP-3, no ano de 1997, em Quioto</p><p>no Japão. Nessa conferência foi firmado entre a comunidade internacional um acordo de-</p><p>nominado de Protocolo de Quioto, o qual sugeriu a redução de emissões de gases do efeito</p><p>estufa nos países que assinaram o acordo. Também vale destacar a Rio+20 ocorrida em</p><p>2012 no Rio de Janeiro, 20 anos depois da realização da Eco-92, em que setores privados,</p><p>representantes de governos, organizações não governamentais (ONGs) e outras organi-</p><p>zações trabalharam para que a segurança ambiental fosse assegurada em um planeta</p><p>que sofre com o crescimento populacional e urbano. Até a conferência Rio-92 foi possível</p><p>observar apenas discussões referentes a problemas ambientais e alterações climáticas em</p><p>escala global, não sendo considerados até então os problemas de degradação ambiental</p><p>que ocorriam em escalas locais. Na conferência de 1992, com a criação da Agenda 21, um</p><p>instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis a nível local</p><p>foi idealizado e formulado. Assim, pela primeira vez, a escala local passou a ser discutida</p><p>nos fóruns ambientais de maneira intensificada, como, por exemplo, a discussão sobre</p><p>a importância que as áreas verdes exercem a nível local nos grandes centros urbanos,</p><p>assim como a nível global se a quantidade fosse uma fração considerável nas grandes</p><p>metrópoles. Isso não ocorre, infelizmente, pois a implementação e ampliação das áreas</p><p>verdes é uma das alternativas mais baratas e viáveis para reduzir a poluição proveniente</p><p>dos combustíveis fósseis e a formação das ilhas de calor. Segundo Mazzei, Colesanti e</p><p>Santos (2007, p. 36), “Tais discussões e situações só reafirmam a necessidade de áreas</p><p>protegidas nos (e entre os) espaços intensamente ou medianamente urbanizados, não só</p><p>para o equilíbrio ecológico”.</p><p>14UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>Além dos motivos supracitados sobre a valorização das áreas protegidas em relação</p><p>ao quesito ambiental e social, existe também a importância em função dos interesses eco-</p><p>nômicos oriundos ICMS ecológico, um mecanismo tributário que foi criado para recompen-</p><p>sar os municípios que contribuem conservando ou produzindo serviços ambientais (áreas</p><p>verdes) por meio de maneiras que ajudam com a manutenção de bioma, proporcionando</p><p>aos órgãos municipais parcelas maiores de arrecadação.</p><p>Ao falarmos da necessidade de expansão urbana e consequentemente do cresci-</p><p>mento econômico, não podemos esquecer da importância das áreas verdes com ênfase</p><p>nas unidades de conservação de proteção integral, que sempre existiram no local antes de</p><p>qualquer sinal de civilização, no entanto só não eram reconhecidas com tal importância.</p><p>A partir do evidente crescimento da urbanização, as áreas florestais foram sendo</p><p>reduzidas a pequenas manchas de mata nativa, que, por necessidade, foram incluídas no</p><p>programa nacional de conservação dos remanescentes florestais, denominado de Sistema</p><p>Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000).</p><p>Até 1950 o Brasil era um país com uma população quase que totalmente rural, e em</p><p>um período de 20 anos se tornou, primordialmente, urbana. Essa mudança de cenário de</p><p>forma não planejada provocou alterações no meio natural, originando impactos negativos</p><p>de degradação que modificaram a paisagem (NUNES; COSTA, 2010; RUBIRA, 2014, 2016</p><p>a e b).</p><p>O crescimento contínuo das áreas urbanas, muitas vezes de forma desorde-</p><p>nada, vem ocorrendo em detrimento da paisagem, causando a deterioração</p><p>do meio natural. Nas cidades, a cor cinza do concreto substitui o verde da ve-</p><p>getação que compunha, anteriormente, a paisagem local, contribuindo para</p><p>um ambiente desconfortável no ponto de vista natural (PANCHER; ÁVILA,</p><p>2012, p. 1663).</p><p>Atualmente a valorização imobiliária no entorno das áreas verdes tem se mostrado</p><p>como atrativo para valorização de terreno, tendo como marketing a ideia de se vender</p><p>o verde, deixando, assim, o homem mais uma vez de agir de maneira ecologicamente</p><p>correta, pensando só no financeiro, ou seja, no econômico, mas não de forma viável e</p><p>ambientalmente vivível.</p><p>Troppmair (2008, p. 138), afirma que “as áreas verdes desempenham um papel im-</p><p>portante no mosaico urbano, porque constituem em espaço encravado no sistema urbano</p><p>cujas condições ecológicas mais se aproximam das condições normais da natureza”.</p><p>Para que a sustentabilidade seja alcançada de modo a promover a qualidade</p><p>ambiental, é necessário que ocorra “um equilíbrio entre elementos da paisagem urbana</p><p>através de um ordenamento do espaço, conciliando principalmente os benefícios da vege-</p><p>15UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>tação com os diversos tipos de usos do solo através de um planejamento” (LIMA; AMORIM,</p><p>2005, p. 748). Logo, para que ocorra a conservação e a manutenção das áreas verdes,</p><p>principalmente para as unidades de conservação de proteção integral, a elaboração de</p><p>plano de manejo é imprescindível para que possam desenvolver</p><p>suas funções quanto à</p><p>melhoria da qualidade ambiental.</p><p>Loboda (2003, p. 32) menciona que:</p><p>As áreas verdes urbanas possuem uma importância de caráter fundamental,</p><p>devendo estar relacionada entre os elementos básicos da moderna estrutu-</p><p>ração das cidades. A disponibilidade de áreas verdes urbanas para as mais</p><p>variadas atividades, a conservação e manutenção de todos os elementos</p><p>que compõem nossas praças e parques urbanos devem merecer atenção</p><p>continuada de nossos órgãos públicos, responsáveis diretamente pela gestão</p><p>dessas áreas.</p><p>Falando sobre a conservação e manutenção das áreas verdes não podemos deixar</p><p>de salientar sobre a importância de um planejamento urbano. Segundo Mazzei, Colesanti</p><p>e Santos (2007, p. 32) “O planejamento urbano deve sempre prever a existência de locais</p><p>destinados ao descanso e ao contato com o meio ambiente, permitindo a integração com-</p><p>pleta entre sociedade e natureza”. Sem deixarmos de mencionar ainda que a manutenção</p><p>do verde em áreas urbanas é extremamente importantes, uma vez que suas condições</p><p>ecológicas estão relacionadas aos níveis de poluição do ar, ou seja, podem influenciar</p><p>diretamente na composição atmosférica urbana, no conforto térmico e refúgio para a fauna</p><p>e flora, no equilíbrio solo-clima-vegetação, na redução dos níveis dos ruídos e na melhoria</p><p>da estética urbana (TROPPMAIR, 2008). Além disso, é possível afirmar que a presença das</p><p>áreas verdes no meio urbano influencia diretamente a saúde física e mental da população.</p><p>A existência das áreas verdes em centros urbanos pode trazer inúmeros benefícios,</p><p>como, por exemplo:</p><p>● Controle da poluição do ar e índice de umidade no ar e acústica;</p><p>● Aumento do conforto ambiental;</p><p>● Estabilização de superfícies por meio da fixação do solo pelas raízes das plan-</p><p>tas;</p><p>● Interceptação das águas da chuva no subsolo reduzindo o escoamento super-</p><p>ficial;</p><p>● Abrigo à fauna;</p><p>● Proteção das nascentes e dos mananciais;</p><p>● Organização e composição de espaços no desenvolvimento das atividades</p><p>humanas;</p><p>16UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>● Valorização visual e ornamental do ambiente;</p><p>● Recreação;</p><p>● Diversificação da paisagem construída;</p><p>● A vegetação tem efeitos diretos sobre a saúde mental e física da população.</p><p>Apesar dos vários benefícios citados, proporcionados pelas áreas verdes, a maioria</p><p>da população infelizmente não percebe a importância que exercem e, na maioria das vezes,</p><p>não solicitam e exigem melhor conservação, manutenção e fiscalização do Poder Público.</p><p>Em alguns casos, as áreas verdes, quando não protegidas, ao invés de proporciona-</p><p>rem o bem estar da população, acabam promovendo situações adversas que podem originar</p><p>problemas sociais e até mesmo ambientais, como, por exemplo: quando são consideradas</p><p>locais de risco de disseminação de vetores contagiosos devido ao depósito indiscriminado</p><p>de resíduos sólidos por empresas e até mesmo obras privadas, como casas em processo</p><p>de construção e locais para a prática do uso de drogas ilícitas, entre outros exemplos, que,</p><p>quando mal gerenciadas, tornam essas áreas uma ameaça para a população, ao invés de</p><p>exercerem suas funções.</p><p>Contudo para que estes problemas possam ser evitados é importantíssimo a exis-</p><p>tência de um plano de uso e manejo, atuando juntamente com uma fiscalização por parte</p><p>do poder público, para que essas áreas possam exercer função de preservação de recursos</p><p>naturais e de melhoria de vida dos habitantes limítrofes.</p><p>17UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>3 BREVE HISTÓRIA DAS CIDADES: ATÉ A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL</p><p>Para estudarmos sobre a origem das cidades não podemos deixar de falar um</p><p>pouquinho sobre a história do aparecimento do homem na Terra há vários milhões de anos</p><p>e como ele foi se adaptando aos diferentes períodos da história da civilização humana,</p><p>coletando seu próprio alimento e buscando abrigo no ambiente natural.</p><p>A história da civilização humana, de acordo com a arqueologia, começa na pré-his-</p><p>tória e continua na história até os dias atuais. Realizar uma análise sobre a evolução do</p><p>homem na conquista pelo ambiente durante todo esse período histórico é complicado, pois</p><p>o estudo da Pré-história, por exemplo, depende da análise de documentos não escritos,</p><p>como desenhos, pinturas, restos de armas, utensílios de uso diário, entre outros.</p><p>De acordo com a literatura, os estudiosos costumam diferenciar duas grandes eta-</p><p>pas na evolução do homem. A Pré-história: a antiga Idade da Pedra ou Paleolítico Inferior</p><p>(500000 - 30000 a.C.) e o Paleolítico Superior (30000 - 18000 a.C.); nova Idade da Pedra</p><p>ou Neolítico (18000 – 5000 a.C.) e a Idade dos Metais (5000 – 4000 a.C.) (ARRUDA, 1993).</p><p>O marco na divisão entre História e Pré-história foi a invenção da escrita, ocorrida por volta</p><p>do ano 4000 a.C.</p><p>No período da Idade da Pedra (Paleolítico Inferior), o homem vivia da caça, pesca e</p><p>alimentos recolhidos da própria natureza. Nesse período inicia-se a fabricação dos primei-</p><p>ros instrumentos (arcos e setas, objetos de pedra etc.).</p><p>18UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>Durante o período Paleolítico Superior o hábito da alimentação a base de carne é</p><p>diminuída, em consequência possivelmente de períodos extremos de frio e calor, secas e</p><p>chuva que marcaram esse período. Dessa forma, para subsistir, o homem passa a reali-</p><p>zar a atividade de colheita em grupos. Logo, a necessidade do homem em conseguir seu</p><p>alimento, devido às condições inóspitas citadas, leva essas comunidades a deixarem de</p><p>realizar a prática do nomadismo para a fixação em locais específicos.</p><p>Esse período já é marcado por um progresso considerável na fabricação de instru-</p><p>mentos, segundo escavações realizadas, e utensílios encontrados que pertenciam a essa</p><p>época. Assim, quando o homem começa a desenvolver técnicas de pastoreio e agricultura</p><p>e sai do estágio da colheita, inicia-se o período neolítico ou a nova Idade da Pedra.</p><p>No período neolítico, o homem começa a domesticar um pequeno número de ani-</p><p>mais, a fabricar utensílios de cerâmica, preparar o solo, irrigar o solo, selecionar sementes,</p><p>cultivar algumas plantas comestíveis e conhecer as estações do ano, ou seja, passa a or-</p><p>ganizar o espaço em que vive e, consequentemente, começa a modificar o meio ambiente.</p><p>No final do período Paleolítico Superior existiu uma fase de transição para o período</p><p>Neolítico, chamado Mesolítico. Nesse período a precisão dos trabalhos em osso aumentou,</p><p>predispondo a verdadeira revolução que ocorreria na fase neolítica.</p><p>A Idade dos Metais (5000 - 4000 a.C.) iniciou com a descoberta da técnica de</p><p>fundição dos metais, quando o homem abandonou de maneira progressiva as ferramentas</p><p>de pedra. Essa fase foi marcada inicialmente com a produção de cobre, do estanho e do</p><p>bronze (3000 a.C. no Egito e Mesopotâmia). Mais tarde (1500 a.C.) apareceu o ferro na</p><p>Ásia Menor, ganhando preferência na fabricação das armas.</p><p>Com todas essas conquistas, descobertas e evolução, ficou difícil realizar as ati-</p><p>vidades agrícolas e a criação de gado na mesma área. Logo, houve a necessidade de as</p><p>atividades pastoreiras da agricultura, o que marcou a primeira divisão social do trabalho,</p><p>pastor e o agricultor. Essa divisão social do trabalho proporcionou o aparecimento de locais</p><p>para troca, permitindo que pastores e agricultores permutassem os seus produtos, pois o</p><p>pastor necessitava dos produtos agrícolas e o agricultor, por outro lado, precisava dos pro-</p><p>dutos animais. No entanto nem sempre a troca podia acontecer, pois muita das vezes não</p><p>era época de colheita ou os produtos animais não estavam disponíveis. Pode-se afirmar</p><p>que a escrita e a moeda foram criadas durante essa fase, pela necessidade de registros e</p><p>facilitação das trocas combinadas e entregas de produtos, respectivamente.</p><p>No início do período histórico, fim do período neolítico, ou seja, cerca de 4000 a.C.,</p><p>os primeiros agrupamentos humanos começam a se formar, com características de cidade.</p><p>19UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>O aumento da densidade demográfica foi aos poucos, transformando as antigas aldeias em</p><p>cidades, tendo como resultado alterações na esfera da organização social.</p><p>Segundo Benevolo (1993, citado por Abiko, 1995, p. 7),</p><p>a cidade – local de estabelecimento aparelhado, diferenciado e ao mesmo</p><p>tempo privilegiado, sede da autoridade – nasce da aldeia, mas não é apenas</p><p>uma aldeia que cresceu. Ela se forma quando os serviços já não são execu-</p><p>tados pelas pessoas que cultivam a terra, mas por outras que não têm esta</p><p>obrigação, e que são mantidas pelas primeiras com o excedente do produto</p><p>total. Nasce, assim, o contraste entre dois grupos sociais, dominantes e su-</p><p>balternos: os serviços já podem se desenvolver através da especialização, e</p><p>a produção agrícola pode crescer utilizando estes serviços. A sociedade se</p><p>torna capaz de evoluir e de projetar a sua evolução. A cidade, centro maior</p><p>desta evolução, não só é maior do que a aldeia, mas se transforma com uma</p><p>velocidade muito maior.</p><p>Com o crescimento populacional, junto à consolidação da prática da agricultura in-</p><p>tensiva, surge um novo estilo de vida, que provocou mudanças fundamentais na economia</p><p>e nas ordens social, tecnológica, ambiental e ideológica.</p><p>A cidade, considerada núcleo dessa evolução, não é apenas maior que a aldeia,</p><p>ela apresenta uma velocidade de transformação muito maior, determinando um salto civi-</p><p>lizador e a conquista de novos horizontes para a sociedade, com mudanças significativas</p><p>da composição e das atividades da classe dominante, que influem sobre toda a sociedade.</p><p>Os principais locais de surgimento das cidades foram ao longo dos vales dos rios</p><p>Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia; do Nilo, no Egito; do rio Indo, na Índia; do Yang-Tsé-</p><p>Kiang e Hoang-HO na China; e do San Juan, na Meso-América.</p><p>Devido à complexidade de atividades executadas a partir da criação das cidades,</p><p>foi necessário criar Estados para a defesa militar e a construção de grandes obras (de</p><p>irrigação, templos, canais etc.), culminando no processo de formação das civilizações.</p><p>A primeira civilização destaque no território europeu foi a grega, cujos registros das</p><p>cidades-Estado remontam aos séculos VIII a VI a.C. Na América pré-colombiana, podemos</p><p>destacar as cidades de Cuzco e Machu Picchu, no Peru, e a antiga cidade de Tenochtitlán,</p><p>onde é localizada hoje a cidade do México.</p><p>Com o renascimento comercial e urbano no interior do continente europeu, no final</p><p>da Idade Média, as cidades voltaram a se desenvolver a partir dos burgos (centros comer-</p><p>ciais e culturais), período que assistiu o desenvolvimento do capitalismo industrial. No caso</p><p>dos ingleses, as cidades cresceram em decorrência dos cercamentos que expulsaram os</p><p>camponeses de suas terras, forçando-os a se articularem nas nascentes indústrias urba-</p><p>nas. O Brasil, assim como os demais países da América Latina, sofreu intenso processo de</p><p>urbanização, especialmente na segunda metade do século XX, o que fez surgir uma grande</p><p>20UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>quantidade de construção de cidades, parte delas feita fora da lei, sem a participação dos</p><p>governos, sem recursos técnicos e financeiros significativos.</p><p>A Revolução Industrial, juntamente à centralização da administração do Estado,</p><p>favoreceu a rápida urbanização de vastos espaços territoriais, surgindo a necessidade</p><p>da criação de políticas de planejamento e urbanização, com objetivo de sanar problemas</p><p>de deslocamento, habitacionais e sanitários, e como forma do Estado evitar e combater</p><p>distúrbios sociais oriundos da vida urbana contemporânea.</p><p>O desenvolvimento proporcionado pelo capitalismo fez surgir as metrópoles</p><p>(grandes cidades de importância nacional e regional) e megalópoles (espaços de união de</p><p>metrópoles). No ano 2000 metade da população mundial vivia em cidades e a ONU esboça</p><p>para o ano de 2050 a existência de dois terços de população urbana.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>O planejamento urbano garante que os empreendimentos habitacionais da cidade se-</p><p>jam montados corretamente para maximizar os benefícios para os moradores e evitar</p><p>problemas de saúde e segurança (MAZZEI; COLESANTI; SANTOS, 2007).</p><p>21UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>4 PRIMEIRA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA (SANITÁRIA)</p><p>O surgimento dos serviços sanitários estaduais no Brasil, principalmente em São</p><p>Paulo, teve forte influência da Proclamação da República; condição já existente desde o</p><p>primeiro Código Sanitário, datado de 1894, e implantada pelo Decreto nº 233, de 2 de mar-</p><p>ço de 1894, constituída de 520 artigos que regulava aspectos relacionados às condições</p><p>sanitárias das moradias, cortiços e hotéis; da produção de alimentos; do esgoto e das</p><p>águas; do abastecimento; do atendimento à saúde; das condições do ambiente de trabalho,</p><p>do trabalho noturno e infantil; das escolas, teatros e do lazer; entre outros. Esse código,</p><p>alterado e com emendas, foi a base da legislação sanitária que atravessou a virada para</p><p>o século XX e acompanhou as grandes transformações da sociedade paulista no início de</p><p>século, porém tornou-se, com o passar do tempo, ultrapassado.</p><p>No dia 9 de abril de 1918, pelo Decreto Estadual nº 2918, foi promulgado o novo</p><p>Código Sanitário do Estado de São Paulo, constituído de 800 artigos e de nítida inspiração</p><p>no modelo de polícia médica praticado na Alemanha nos séculos XVIII e XIX, conforme Ro-</p><p>sen (1980). Esses 800 artigos, divididos em títulos e subdivididos nos capítulos e seções,</p><p>procuravam regular a vida das pessoas nas cidades e na zona rural do estado de São Pau-</p><p>lo. Pelo que se observa da sua composição, essa lei regulava o serviço sanitário estadual</p><p>e municipal, bem como as questões urbanas e rurais. Porém era contrastante com uma</p><p>infraestrutura de Estado insuficiente para fiscalizar seu efetivo cumprimento, pois o Serviço</p><p>Sanitário do Estado, nessa época, contava apenas com pouco mais de 400 funcionários,</p><p>22UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>distribuídos na Capital, nos vários Hospitais e nas seis delegacias de saúde existentes</p><p>(Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Botucatu, Guaratinguetá e São Carlos).</p><p>Toda a legislação urbanística no Brasil era baseada nos Códigos de Posturas de</p><p>origem colonial e somente em 1920 é que começa a ser substituída por códigos de obras e</p><p>por leis de zoneamento urbano.</p><p>As mudanças na legislação urbanística brasileira ao longo do século XX não inte-</p><p>graram os instrumentos urbanísticos como instrumento de regulação dos conflitos sociais</p><p>urbanos, apenas desenvolveram mecanismos de preservação e regulações internas dire-</p><p>cionadas para o mercado imobiliário.</p><p>Em 1971, ocorreu a atualização da legislação urbanística no Brasil, por meio de ato</p><p>institucional, como estratégia política defendida pelo governo militar de instrumentalização</p><p>das administrações metropolitanas diante do marcado crescimento explosivo das cidades</p><p>durante o chamado “milagre econômico”.</p><p>A década de 70 também foi marcada pela produção das seguintes leis: lei de par-</p><p>celamento do solo urbano (6766/77), lei de zoneamento industrial (1817/78) e o projeto de</p><p>lei (775/83) que tratava do desenvolvimento urbano. O projeto de lei (775/83) encontrou</p><p>dificuldade de aprovação pelo fato de introduzir vários instrumentos urbanísticos, como o</p><p>controle da especulação imobiliária, ficando arquivado até a convocação da Assembleia</p><p>Constituinte, em 1987. Cabe aqui explicar o significado dessas leis, porque, por um lado,</p><p>abriram espaço para uma atualização da legislação urbanística, mas não sugeriram nada a</p><p>respeito da regulação social e da habitação popular e social.</p><p>Todavia o início da década de 80 ainda foi marcado pela necessidade de introduzir</p><p>instrumentos urbanísticos e uma legislação que fosse capaz de estabelecer um mínimo de</p><p>ordenamento ao crescimento das cidades, especificamente em função dos altos custos da</p><p>infraestrutura urbana, como saneamento, abastecimento de água, transportes públicos e</p><p>habitação.</p><p>Com a elaboração da Constituição de 1988, a legislação urbanística volta à agenda</p><p>política, porém a influência do mercado imobiliário domina a Subcomissão da Política Urba-</p><p>na e Transportes, sendo o setor imobiliário um dos líderes entre eles.</p><p>Assim, Constituição de 1988, por meio do artigo 182, coloca o Plano Diretor como</p><p>o instrumento regulador da função social da cidade, ficando esse artigo amarrado a um</p><p>projeto de lei para a sua regulamentação. A regulamentação desse artigo deu origem ao</p><p>projeto de lei 5.788/90 (Estatuto da Cidade). Mais tarde, foi aprovada a Lei 10.257/01, O</p><p>Estatuto da Cidade (nome original).</p><p>23UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>Dessa forma, O Estatuto da Cidade, aprovado 2001, é estabelecido com um século</p><p>de atraso em relação às experiências europeias no que se refere à utilização de instru-</p><p>mentos urbanísticos para regular socialmente o mercado imobiliário e fazer políticas de</p><p>compensação social através da política urbana.</p><p>REFLITA</p><p>Planejadores urbanos estudam muitas teorias relacionadas ao desenvolvimento de fa-</p><p>velas, de modo a evitar seu crescimento no futuro (MARICATO, 2000).</p><p>24UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Podemos verificar que, em resposta ao rápido crescimento populacional, as</p><p>áreas verdes foram sendo cada vez mais degradadas. Conforme ocorre a substituição da</p><p>vegetação natural por construções urbanas, o meio ambiente é alterado negativamente,</p><p>produzindo, como consequência, impactos ambientais de diferentes ordens, que originam</p><p>processos de degradação ambiental, os quais podem afetar a sociedade novamente. No</p><p>entanto devemos concordar que mudanças no meio devem sim ocorrer, mas não em detri-</p><p>mento do meio ambiente, por isso a grande importância do planejamento.</p><p>O homem, na maioria das vezes, com exceção em casos de fenômenos naturais,</p><p>provoca/origina o impacto, inicia o processo de degradação, gerando problemas ambientais</p><p>que poderão atingir a própria sociedade. É possível verificar que toda ação produz uma</p><p>reação. Cabe aos órgãos públicos a recuperação das áreas verdes que se encontram de-</p><p>gradadas, não basta apenas implementar decretos legislativos que tornem os fragmentos</p><p>de áreas verdes em unidades de conservação e não realizarem um programa de acom-</p><p>panhamento. É necessário, então, que após a efetivação do decreto ocorra a proteção</p><p>de maneira integral, que haja total fiscalização, manutenção e conservação dessas áreas</p><p>ao longo dos anos, para que possam cumprir sua principal função nos grandes centros</p><p>urbanos, o de melhoria de qualidade de vida da população local.</p><p>25UNIDADE I Planejamento Urbano Ambiental</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>BARGOS, D. C.; MATIAS, L. F. Áreas verdes urbanas: Um estudo de revisão e propostas</p><p>conceituais. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba, v. 6,</p><p>n. 3, p. 172-188, 2011.</p><p>MATERIAL COMPLEMENTAR</p><p>LIVRO</p><p>• Título: História da Cidade</p><p>• Autor: Leonardo Benevolo</p><p>• Editora: Perspectiva</p><p>• Sinopse: A cidade é uma criação histórica particular; nem sem-</p><p>pre existiu, mas começou em certo momento da evolução social e</p><p>pode acabar ou ser radicalmente transformada em outro momento.</p><p>Não existe por uma necessidade natural, mas por uma necessida-</p><p>de histórica, que tem um início e pode ter um término. Torna-se,</p><p>portanto, importante explicar a origem da cidade no mundo antigo,</p><p>também, na medida do possível, o seu destino na hora atual.</p><p>FILME/VÍDEO</p><p>• Título: City of Trees</p><p>• Ano: 2015</p><p>• Sinopse: Filmado ao longo de dois anos, City of trees é um do-</p><p>cumento audiovisual dos paradoxos enfrentados pelas sociedades</p><p>urbanas. O diretor Brandon Kramer mostra o trabalho do ativista</p><p>Steve Coleman, da organização sem fins lucrativos Washington</p><p>Parks & People. Coleman precisa contratar 150 desempregados</p><p>para que ajudem no plantio de milhares de árvores em Washington</p><p>D.C. e, ao mesmo tempo, treinar essas pessoas para esse tipo de</p><p>trabalho. A Washington Parks & People foi criada em 1990 com o</p><p>objetivo de diminuir feridas sociais por meio da criação e manuten-</p><p>ção de áreas verdes nas comunidades mais pobres e violentas. O</p><p>filme discute os problemas vividos nas grandes cidades e a relação</p><p>humana com a natureza.</p><p>26</p><p>Plano de Estudo:</p><p>• O pré-urbanismo e as cidades modelos.</p><p>• Conceitos do urbanismo: carta de Atenas, carta dos Andes e escola de Chicago.</p><p>• A estrutura socioeconômica da cidade moderna (classes sociais e a segregação) e a</p><p>problemática ambiental.</p><p>• Abordagens sobre as técnicas de planejamento: plano diretor (história e resultados).</p><p>Objetivos de Aprendizagem:</p><p>• Conceituar e contextualizar o pré-urbanismo e as cidades modelos.</p><p>• Estabelecer a importância da carta de Atenas, carta dos Andes e a escola de Chicago.</p><p>• Compreender a estrutura socioeconômica da cidade moderna e a problemática</p><p>ambiental.</p><p>• Reconhecer o Plano Diretor como um instrumento de ordenamento territorial.</p><p>UNIDADE II</p><p>Técnicas de Planejamento</p><p>Professora Doutora Claudinéia Conationi da Silva Franco</p><p>27UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O planejamento urbano aborda uma série de processos, estudos e até mesmo</p><p>áreas diferentes, mostrando sobretudo como ocorrerá o crescimento de uma cidade. Todo</p><p>esse detalhamento é fundamental, a fim de promover o bem-estar e segurança de toda a</p><p>população e impedir crescimento desordenado da malha urbana.</p><p>O planejamento urbano está totalmente ligado ao plano diretor. A partir desse pres-</p><p>suposto é possível traçar diretrizes em relação ao zoneamento, ocupação e expansão da</p><p>área urbana.</p><p>O crescimento da população, junto com o da própria cidade, desencadeiam uma</p><p>certa precariedade em relação ao todo da malha urbana pelo fato dos habitantes se apre-</p><p>sentarem apenas na região que se relacionam com o cotidiano das pessoas, ou seja, local</p><p>de residência, trabalho, escola, entre outros lugares de convívio, e não ocuparem a cidade</p><p>por inteiro, devido também à divisão da estrutura urbanística existente.</p><p>Além dos fatores supracitados, a desigualdade existente devido a fatores financei-</p><p>ros ou de distribuição de renda também proporcionam a divisão da cidade, concretizando</p><p>o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela existência das</p><p>desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, pois quanto maiores as diferenças</p><p>socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação aos seguintes</p><p>aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida.</p><p>28UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>1 O PRÉ-URBANISMO E AS CIDADES MODELOS</p><p>O advento da Revolução Industrial provocou um crescimento acelerado das ci-</p><p>dades durante o século XIX, desencadeando várias transformações no espaço urbano e</p><p>até mesmo reflexões sobre esse tema. Assim sendo, surge um conjunto de reflexões e</p><p>propostas de pensadores políticos sociais do século XIX para o problema da cidade, asso-</p><p>ciando o questionamento sobre a estrutura e o significado da relação social denominado de</p><p>Pré-urbanismo. São contribuições anteriores ao surgimento da palavra Urbanismo.</p><p>No momento do pré-urbanismo, no século XIX, o estudo da cidade assume dois</p><p>aspectos diferentes: aspectos descritivos em que se observam os fatos isoladamente,</p><p>tentando ordená-los de modo quantitativo (estatística), e aspectos polêmicos, que reúnem</p><p>informações, integrando-as num quadro de polêmica. Consideram a cidade como um</p><p>câncer. Esse último teve inspiração humanística ao denunciar as condições de vida dos</p><p>proletários (denunciam o estado de deterioração física e moral em que vivem), contribuindo,</p><p>assim, para gerar toda uma legislação voltada para o trabalho e para a habitação. Mas os</p><p>polemistas constituem-se, também, de pensadores políticos e sua crítica inclui as questões</p><p>da exploração e alienação do trabalhador, associadas à nova ordem industrial (CHOAY,</p><p>1998). Ou seja, denunciam condições da cidade (situação da classe trabalhadora distância</p><p>para o trabalho).</p><p>A reflexão sobre propostas</p><p>de ordenamentos urbanos para a desordem da cidade</p><p>industrial resultou-se em modelos espaciais, exemplares e reprodutíveis. Um deles assumiu</p><p>29UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>a forma de uma utopia progressista e o outro, a forma de uma utopia nostálgica. O modelo</p><p>progressista fundamenta sua crítica à cidade industrial na situação de alienação do indiví-</p><p>duo. Por outro lado, nesse modelo o indivíduo é tomado como um ser com necessidades,</p><p>as quais o progresso técnico deveria prover os meios para atender.</p><p>O tema chave nesse modelo é a higiene, por isso o espaço progressista é aberto e</p><p>rompido por espaços vazios ou verdes que garantem a exposição das edificações ao sol. O</p><p>traçado é definido em conformação com as funções urbanas: habitação, trabalho, cultura e</p><p>lazer, separadas devidamente, o que, sugere-se, resultar em bem estar e progresso social.</p><p>Nesse modelo, a beleza é associada à lógica racional, não aceitando nenhuma herança</p><p>artística do passado para submeter-se às leis de uma geometria “natural”. Arranjos novos,</p><p>simples e racionais substituem as disposições e ornamentos tradicionais. Dessa forma, a</p><p>cidade adquire certa rigidez e, nesse aspecto, se filia à utopia. Entre os tipos de edifícios,</p><p>o alojamento tem lugar privilegiado, ou seja, a habitação coletiva e unifamiliar é conside-</p><p>rada como modelo. O modelo progressista se caracteriza pela fragmentação (blocos que</p><p>são repetidos), baixa densidade, enfim, tudo o que se opõe a uma atmosfera urbana, ou</p><p>seja, tem que ser um espaço com uma disposição simples que impressione os olhos e os</p><p>satisfaça, com abundância de verde e vazios, o que exclui uma atmosfera precisamente</p><p>urbana (cidade campo). Embora esse modelo tenha sido originado como consequência de</p><p>preocupações sociais, trata-se de um modelo autoritário e orientado no sentido do rendi-</p><p>mento máximo.</p><p>A outra forma de utopia nostálgica é representada pelo modelo culturalista, que</p><p>prioriza o agrupamento humano (cidade) em detrimento do indivíduo. O grande diferencial</p><p>desse modelo em relação ao modelo progressista é o desaparecimento da antiga unidade</p><p>orgânica da cidade sob a pressão desintegradora da industrialização. O ponto chave desse</p><p>modelo é a busca pela cultura, como o próprio nome diz, e não a ideia de progresso, mas</p><p>fazer o melhor do passado reviver. Assim, o planejamento da cidade será menos rigoroso e</p><p>não tão determinista. No entanto a cidade deve ser restrita a limites precisos, que estabe-</p><p>leçam contraste com a natureza e ter dimensões modestas.</p><p>No modelo culturalista, o estético ocupa o lugar que a higiene ocupava no modelo</p><p>progressista. A irregularidade e a assimetria são valorizadas enquanto as marcas de orga-</p><p>nicidade são identificadas com a potência geradora da vida. No interior da cidade nenhum</p><p>traço de geometrismo é existente, pois o geometrismo é considerado como tabuleiros,</p><p>prisões para a alma. Trata-se de uma estética totalmente ligada à tradição, que não propõe</p><p>30UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>padrões ou modelos. A edificação valorizada é aquela de uso cultural e o clima da cidade é</p><p>propriamente urbano.</p><p>Se analisarmos do ponto de vista econômico, o modelo de cidade culturalista é</p><p>anti-industrial e a produção beneficia a relação harmoniosa entre os indivíduos, que gozam</p><p>de uma vida feliz e plena de lazeres, ao invés do rendimento. Entretanto esse modelo é</p><p>tão fechado quanto o progressista, pois também não considera as transformações próprias</p><p>à temporalidade: propõe uma cidade que não sofre transformação no tempo. O que faz,</p><p>nesse aspecto, também se aproximar da utopia.</p><p>Nos dois modelos descritos, os pensadores imaginam a cidade do futuro de forma</p><p>ideal. Ao invés de ser pensada como um problema ou processo a ser resolvido, é sempre</p><p>colocada como uma coisa, um objeto reprodutível, sendo tirada da temporalidade concreta</p><p>e torna-se utópica, quer dizer, de lugar nenhum. Alguns exemplos foram realizados, mas</p><p>fracassaram, principalmente por seu rompimento com a realidade socioeconômica contem-</p><p>porânea e pelo caráter limitador e repressivo de sua organização.</p><p>31UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>2 CONCEITOS DO URBANISMO: CARTA DE ATENAS, CARTA DOS ANDES, ESCOLA</p><p>DE CHICAGO</p><p>O urbanismo difere-se do pré-urbanismo essencialmente porque não é obra de</p><p>pensadores (filósofos, economistas, historiadores, entre outros), mas de especialistas, de</p><p>profissionais que visam colocar em prática suas ideias, geralmente arquitetos. No entanto</p><p>conserva-se o lugar do imaginário, já que a cidade mesma é substituída por uma ideia,</p><p>fazendo do urbanismo um herdeiro direto do momento anterior, mantendo, inclusive, as</p><p>duas tendências ideológicas, o urbanismo progressista e o urbanismo culturalista. Mas, a</p><p>despeito de estar fundado no pensamento socialista do século XIX, o discurso do urbanismo</p><p>é essencialmente despolitizado.</p><p>Entre os Urbanistas Progressistas temos: Tony Garnier, Walter Gropius e Charles-</p><p>-Edouard Jeanneret (Le Corbusier - mais importante dos urbanistas progressistas). Esses</p><p>urbanistas buscavam adaptar a cidade às necessidades modernas, englobando a indústria</p><p>e o novo modo de vida. No Urbanismo Culturalista temos: Camillo Sitte, Ebenezer Howard,</p><p>Raymond Unwin, que buscavam uma nova forma de vida, resgatando valores e costumes</p><p>passados (CHOAY, 1992).</p><p>No Brasil, ao final da década de 30 e início da década de 60 ocorreu um processo</p><p>de redefinição da habitação enquanto questão urbanística. O controle sanitário e policial</p><p>das moradias das classes pobres começa a ser repensado e alterado. A associação entre</p><p>habitação e planejamento passa a ser formulada, tendo como base as especificidades da</p><p>32UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>urbanização dos grandes centros latino-americanos. Assim, essa nova formulação foi o</p><p>fator determinante para inserção do Brasil no circuito da cooperação interamericana pro-</p><p>movida por organismos internacionais. Além dos documentos utilizados como base, como a</p><p>Carta de Atenas, Carta dos Andes e Escola de Chicago, ao dar linhas de orientação sobre o</p><p>exercício e o papel do urbanismo dentro da sociedade, servindo de inspiração à arquitetura</p><p>contemporânea.</p><p>A Carta de Atenas é um documento de compromisso, datado de 1933, elaborado e</p><p>assinado por grandes arquitetos e urbanistas internacionais do início do século XX, entre</p><p>os quais se destaca Le Corbusier, que na época já se apresentava como um dos mais</p><p>importantes idealizadores da arquitetura e urbanismo modernos. A Carta foi escrita como</p><p>conclusão do Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos</p><p>que teve lugar em Atenas, na Grécia, em outubro de 1931 (Infopédia, 2020).</p><p>O início do século XX foi marcado por uma série de reuniões e conferências com</p><p>o objetivo de identificar os itens fundamentais que dariam forma a uma concepção comum</p><p>do conceito de cidade. Dessa forma, um diagnóstico da situação das cidades foi realizado</p><p>por urbanistas e arquitetos de renome, identificando debilidades e problemas, bem como</p><p>as respetivas soluções. Foram redigidas normas a respeitar a partir de um diagnóstico</p><p>prévio. Durante esse diagnóstico, 33 cidades de diferentes latitudes e climas do mundo</p><p>foram analisadas, de forma a responder aos problemas causados pelo rápido crescimento</p><p>dos centros urbanos, devido às mudanças nos sistemas de transportes e à mecanização.</p><p>Considera-se que a Carta de Atenas assentava em quatro funções básicas na</p><p>cidade: habitação, trabalho, diversão e circulação. A Carta de Atenas propunha, em termos</p><p>sociais, que cada indivíduo tivesse acesso às alegrias fundamentais, ao bem-estar do lar e</p><p>à beleza da cidade.</p><p>Em 1998, foi elaborada pelo Conselho Europeu de Urbanistas (composto por repre-</p><p>sentantes de Portugal, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda,</p><p>Irlanda, Itália e Reino Unido) a Nova Carta de Atenas. A redação da Nova Carta de Atenas</p><p>pretendeu ser mais adequada às</p><p>gerações vindouras do que as de 1933, dando o papel</p><p>principal ao cidadão na hora de tomar decisões organizativas. Segundo a nova carta, a</p><p>evolução das cidades deve resultar da combinação de distintas forças sociais e das ações</p><p>dos principais representantes da vida cívica. O papel dos urbanistas profissionais passou a</p><p>ser o de proporcionar e coordenar o desenvolvimento.</p><p>A Carta dos Andes é um documento com as conclusões e recomendações resul-</p><p>tantes do Seminário de Técnicos e Funcionários do planejamento urbano que expressa</p><p>33UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>o processo que ocorre nos programas de cooperação interamericanas a partir do final da</p><p>década de 30 até o final da década de 50 (MELLO, 1960).</p><p>A carta dos Andes corrobora a ideia da qual o planejamento é a ferramenta mais</p><p>adequada para superar as grandes dificuldades em consequência do baixo nível de desen-</p><p>volvimento econômico, político, social e cultural.</p><p>Características do planejamento regional, metropolitano e urbano na América Lati-</p><p>na: o processo geral de renovação urbana e Habilitação de áreas subdesenvolvidas são os</p><p>três itens da Carta, pelo qual a realidade da metrópole da América Latina e América Central</p><p>é analisada, onde as altas taxas de crescimento demográfico, a migração, a expansão</p><p>urbana dos grandes centros, a especulação, a formação de favelas e habitações precárias</p><p>e a falta de serviços públicos são problemas que podem ser superados por meio da combi-</p><p>nação de políticas de planejamento e habitação.</p><p>Ainda no campo das investigações dos fenômenos sociais que ocorriam especifica-</p><p>mente no meio urbano em todo território mundial e na grande metrópole norte-americana,</p><p>surge, como resposta, a Escola de Chicago, nos Estados Unidos, na década de 10, por</p><p>iniciativa de sociólogos americanos que faziam parte do corpo docente do Departamento</p><p>de Sociologia da Universidade de Chicago, fundada pelo historiador e sociólogo Albion W.</p><p>Small. Tanto o Departamento de Sociologia, como a Universidade de Chicago receberam</p><p>inestimável ajuda financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre</p><p>1915 e 1940 a Escola de Chicago produziu um vasto e diversificado conjunto de pesquisas</p><p>em relação aos fenômenos sociais, como: o crescimento da criminalidade, da delinquência</p><p>juvenil, o aparecimento de gangues de marginais, os bolsões de pobreza e desemprego,</p><p>a imigração e, com ela, a formação de várias comunidades segregadas (os guetos) que</p><p>aconteciam em resposta ao processo de expansão urbana e crescimento demográfico da</p><p>cidade de Chicago no início do século XX, resultado do acelerado desenvolvimento indus-</p><p>trial das metrópoles do Meio-Oeste norte-americano. O mais importante é evidenciar que</p><p>os estudos dos problemas sociais proporcionaram a elaboração de novos procedimentos</p><p>metodológicos e o surgimento de novas teorias e conceitos sociológicos.</p><p>34UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>3 A ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA DA CIDADE MODERNA (CLASSES SOCIAIS E A</p><p>SEGREGAÇÃO) E A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL</p><p>No mundo contemporâneo, as diferentes áreas que compõem os grandes centros</p><p>urbanos apresentam-se de maneira fragmentada, isso nos remete a ideia de um arranjo</p><p>espacial, composto por vários fragmentos, cada qual com suas características e aspectos</p><p>diferenciados, mas que, juntos, constituem o todo.</p><p>Nas cidades, essa distribuição é definida com base na atuação de cada área, por</p><p>exemplo, centros comerciais, bairros industriais, financeiros, residenciais, bairros com</p><p>grande número de casas, além de bairros que abrigam uma grande quantidade de estabe-</p><p>lecimentos de diversão, como boates, bares e restaurantes.</p><p>Em uma grande cidade a estrutura é composta por vários polos, e cada um deles</p><p>é considerado uma região constituída de um centro e uma rua com maior evidência por</p><p>apresentar muitas atividades ali desenvolvidas, como comércio, serviços, entre outros.</p><p>O crescimento da população, junto com o da própria cidade, desencadeia uma</p><p>certa precariedade em relação ao todo da malha urbana, pelo fato dos habitantes se apre-</p><p>sentarem apenas na região que se relaciona com o cotidiano pessoal, ou seja, local de</p><p>residência, trabalho, escola, entre outros lugares de convívio, e não ocuparem a cidade por</p><p>inteiro, devido também à divisão da estrutura urbanística existente.</p><p>Além dos fatores supracitados, a desigualdade existente devido a fatores financei-</p><p>ros ou de distribuição de renda também proporcionam a divisão da cidade, concretizando</p><p>35UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>o contexto do arranjo urbano. Todos esses fatores são ocasionados pela existência das</p><p>desigualdades sociais na maioria dos países capitalistas, pois quanto maiores as diferenças</p><p>socioeconômicas entre as classes sociais, maior é a diferença em relação aos seguintes</p><p>aspectos: moradia, serviços públicos e qualidade de vida.</p><p>Ao analisarmos desse ângulo podemos dizer que a população de baixa renda</p><p>depende exclusivamente da qualidade dos serviços públicos nos diferentes setores, sejam</p><p>eles na área da saúde, transporte coletivo, educação, entre outros, para que possam des-</p><p>frutar de uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, para que esses serviços ocorram de</p><p>forma adequada e de maneira mais humana possível, é necessário existir uma organização,</p><p>com o objetivo de requisitar as necessidades comunitárias ou dificilmente este cenário será</p><p>mudado.</p><p>A segregação socioespacial também chamada de segregação urbana diz respeito</p><p>a marginalização ou periferização de alguns grupos sociais ou pessoas por determinados</p><p>fatores, como: econômicos, culturais, históricos e até raciais no espaço das cidades. No Bra-</p><p>sil, habitações em áreas irregulares, como nas proximidades de cursos d’água, a formação</p><p>de favelas, cortiços e áreas de invasão são alguns exemplos mais comuns de segregação</p><p>urbana. Essas áreas são constituídas por pessoas com baixos salários, poucas condições</p><p>de renda e que não possuem outra opção a não ser se instalarem em locais desprovidos</p><p>de infraestrutura, o que caracteriza a segregação urbana. Ou seja, a segregação urbana é</p><p>a reprodução dos imperativos sociais em relação à transformação do espaço das cidades.</p><p>Logo, podemos afirmar que a segregação urbana é a reprodução espacial e geográ-</p><p>fica da segregação social, fato esse quase sempre relacionado com o processo de divisão</p><p>de classes sociais, em que a população menos favorecida acaba se instalando em áreas</p><p>menos acessíveis e mais afastadas dos grandes centros econômicos. Além disso, esses</p><p>espaços segregados são desprovidos ou apresentam baixa disponibilidade de infraestrutu-</p><p>ras, como pavimentação, saneamento básico, espaços de lazer, entre outros.</p><p>Para explicar a causa da segregação urbana, o principal modelo apontado pela</p><p>literatura especializada afirma que parte da oposição entre centro e periferia e constitui-se</p><p>a partir da formação de novas centralidades, expandindo-se a partir de então. Dessa forma,</p><p>as classes economicamente mais favorecidas tendem a se instalar próximas desse centro,</p><p>uma vez que esses espaços são mais caros e valorizados. No entanto, com o tempo, esses</p><p>centros principais se tornam sobrecarregados e graças a evolução de técnicas permitem</p><p>que práticas e serviços migrem a partir de novos subcentros, fazendo com que estes se tor-</p><p>nem mais valorizados, encarecendo os preços dos terrenos e elevando os custos sociais, o</p><p>36UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>que proporciona a ocupação desse espaço pela população mais rica e leva ao afastamento</p><p>da população mais pobre.</p><p>Nesse aspecto, o estado atua oferecendo a esses centros as melhores condições</p><p>de infraestrutura, com uma maior diversidade de transportes, praças, áreas de lazer, entre</p><p>outras, proporcionando para essas áreas: maior empregabilidade, mobilidade e atividade</p><p>em seus espaços do que as demais, incluindo os trabalhadores que moram nas periferias e</p><p>que precisam deslocar-se em grandes distâncias,</p><p>para exercerem seus trabalhos.</p><p>O crescimento desordenado dos bairros periféricos, além das favelas e das casas</p><p>em áreas irregulares, representa a segregação involuntária, aquela que não ocorre de forma</p><p>planejada por parte de seus atores, mas é forjada pelas condições sociais e econômicas</p><p>da população. Esse tipo de segregação não pode ser confundido com a autossegregação,</p><p>também chamada de segregação voluntária, que é aquela praticada por grupos economi-</p><p>camente favorecidos que se afastam do inchamento das cidades, passando a residir em</p><p>locais mais ou menos isolados, geralmente em grandes condomínios residenciais luxuosos.</p><p>Portanto, a segregação urbana, como podemos observar, mostra as contradições</p><p>econômicas e sociais da sociedade contemporânea sobre o espectro do espaço geográfico.</p><p>37UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>4 ABORDAGENS SOBRE AS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO: PLANO DIRETOR (HIS-</p><p>TÓRIA E RESULTADOS)</p><p>O rápido crescimento das cidades sem nenhum planejamento fez surgir preocupa-</p><p>ções em relação ao bem-estar dos cidadãos. Alguns fatos, como a ocupação desordenada</p><p>em área de risco, a falta de cuidados com os recursos naturais, a poluição do ar, água e</p><p>paisagens, falta de infraestrutura, saneamento, saúde, transporte de qualidade, associados</p><p>à falta de planejamento, colaboram ainda mais para a agravar a situação. Diante desse ce-</p><p>nário surgem discussões de políticas públicas que têm por objetivo o equilíbrio das práticas</p><p>econômicas, sociais e ecológicas no território urbano, possibilitando a implantação de um</p><p>instrumento denominado Plano Diretor, “[...] previsto constitucionalmente e regulamentado</p><p>no Estatuto da Cidade, mostrando como esse instrumento de planejamento urbano pode</p><p>ser um importante aliado na gestão ambiental e na promoção da sustentabilidade do espaço</p><p>urbano” (SAYAGO; PINTO, 2005, p. 2).</p><p>Segundo Ascher (2012, p. 14), o Plano Diretor pode ser considerado a principal</p><p>política pública de ordenamento do território urbano:</p><p>A complexidade do tecido urbano em expansão necessita de diretrizes para</p><p>se ordenar o espaço urbano conforme os diferentes usos do solo (residen-</p><p>cial, lazer, equipamentos urbanos, comercial, industrial, entre outros), que</p><p>abarca a dinâmica do espaço urbano em constante incerteza, essa própria</p><p>do processo de mundialização do capital, o que fomenta a necessidade de</p><p>um compromisso urbano.</p><p>38UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>Conforme Sayago e Pinto (2005, p. 9), o Plano Diretor é um documento que visa</p><p>“[...] balizar o desenvolvimento e a expansão do espaço construído, de modo a mudar a</p><p>realidade urbana, trazendo melhor qualidade de vida à população.” Ele está previsto no art.</p><p>182, §1º da Constituição Federal de 1988 e deve englobar toda a área do município, urbana</p><p>ou rural, sendo considerado um importantíssimo instrumento básico da política urbana e</p><p>fundamental para o planejamento das cidades.</p><p>O Plano Diretor é um instrumento que elabora os objetivos a serem alcan-</p><p>çados, o prazo em que estes devem ser atingidos (muito embora o plano,</p><p>em geral, não precise fixar prazo no que concerne às diretrizes básicas), as</p><p>atividades a serem implementadas e quem deve executá-las. É diretor por</p><p>fixar as diretrizes do desenvolvimento urbano do município. É por meio do</p><p>plano que se define o melhor modo de ocupar um município ou região, prever</p><p>as áreas onde se localizarão os pontos de lazer, as atividades industriais e</p><p>todos os usos do solo, não somente no presente, mas também no futuro. Isso</p><p>permitirá a consolidação de valores com vista à qualidade de vida urbana</p><p>(SILVA, 2000, p. 93).</p><p>O Plano Diretor trata do ordenamento do espaço municipal (aspecto físico), do</p><p>aspecto social, ligado à melhoria da qualidade de vida das cidades, e do aspecto admi-</p><p>nistrativo, que se refere à atuação do poder público. De acordo com o Estatuto da Cidade</p><p>(BRASIL, 2001), o Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e</p><p>expansão urbana e deve ser aprovado por lei municipal.</p><p>§ 1º O Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento muni-</p><p>cipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento</p><p>anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.</p><p>§ 2º O Plano Diretor deverá englobar o território do Município como um todo.</p><p>§ 3º A lei que instituir o Plano Diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada</p><p>dez anos.</p><p>§ 4ºNo processo de elaboração do Plano Diretor e na fiscalização de sua</p><p>implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:</p><p>I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da</p><p>população e de associações representativas dos vários segmentos da co-</p><p>munidade;</p><p>II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;</p><p>III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produ-</p><p>zidos (BRASIL, 2001).</p><p>Ainda devemos frisar que o Plano é obrigatório para cidades com as seguintes</p><p>características:</p><p>I – com mais de vinte mil habitantes;</p><p>II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;</p><p>III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previs-</p><p>tos no 4o do art. 182 da Constituição Federal;</p><p>IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;</p><p>V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com</p><p>significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional (BRASIL,</p><p>2001).</p><p>39UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>Além disso, segundo a lei (BRASIL, 2001, art. 42), o plano deve conter, no mínimo,</p><p>“[...] a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação</p><p>ou utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para</p><p>utilização [...]”.</p><p>Para que o plano diretor possa ser um instrumento útil ao desenvolvimento local, é</p><p>preciso identificar e mapear as atividades econômicas existentes na zona urbana e rural e</p><p>verificar em que condições essas atividades estão se desenvolvendo. É necessário analisar</p><p>alguns aspectos essenciais, como: abastecimento d’água, energia elétrica, infraestrutura</p><p>existente (sistema viário, rede telefônica, saneamento etc.), potencialidades econômicas,</p><p>mobilidade e acessibilidade e compatibilidade de uso do território por meio da elaboração</p><p>de mapas temáticos (SCOPEL, 2018).</p><p>Segundo sua potencialidade econômica, cada município deve adotar as diretrizes</p><p>e instrumentos necessários ao fortalecimento da economia local, por exemplo: municípios</p><p>com predominância no agronegócio podem tratar das questões relacionadas às vias de</p><p>escoamento da produção. Além disso, podem também criar um programa que destina</p><p>áreas para as agroindústrias coletivas ou individuais nas comunidades rurais. Já no caso</p><p>de municípios turísticos, podem discutir sobre temas ligados à preservação do patrimônio</p><p>histórico ou natural, entre outros.</p><p>40UNIDADE II Técnicas de Planejamento</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Le Corbusier foi um arquiteto atuante no século XX, não só no campo teórico-acadêmico,</p><p>mas também como profissional da arquitetura, deixando inúmeras obras de arquitetura</p><p>e urbanismo que, até os dias de hoje, são paradigmáticas: suscitam muitas críticas ao</p><p>mesmo tempo que ainda servem de modelo para as cidades. Os cincos pontos da Carta</p><p>de Atenas de 1933 (Habitação, Lazer, Trabalho, Circulação e Patrimônios históricos das</p><p>cidades) e o modelo teórico da Ville Radieuse podem ser considerados síntese do seu</p><p>pensamento. A Ville Radieuse, em português, cidade radiosa, é um projeto urbano teóri-</p><p>co não construído, mas que servia de base para a exposição material dos conceitos que,</p><p>três anos mais tarde, se encontrariam na Carta de Atenas. O modelo recebeu o nome de</p><p>cidade radiosa porque tinha uma preocupação central com as condições de salubridade</p><p>da habitação, portanto, essas deveriam receber a maior quantidade de luz solar possí-</p><p>vel. Os edifícios habitacionais projetados por Corbusier, denominados unidade habita-</p><p>cional, configuravam-se como arranha-céus</p>