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Principios Eticos e Deontologicos na Avaliacao Psicologica Pasquali, L.

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rr
Princípios Eticbs e 
Deontológicos na Avaliação 
Psicológica
por Solange Muglia Wcchsler
I. Ética e Deontologia
O conceito de Ética deriva da palavra grega cthos, que significa 
valores morais, costume, normas e ideais de conduta. Deontologia 
também tem raízes gregas, vem de dcon, que significa dever, e 1 ogia 
como saber, relacionando, portanto, os deveres e os princípios morais 
que devem ser observados no exercícin de uma profissão (Weiszflog. 
1998). A distinção entre os dois termos não é consistente, por isso 
muitas vezes os encontramos sendo utilizados com o sinônimos, mos­
trando assim o dilema refletido nos valores do homem consigo mesmo 
e nas suas responsabilidades frente à sociedade.
Cada.vez mais encontramos m enção a estes dois conceitos nas 
.publicações em Psicologia, possivelmente porquê o nosso grande avan­
ço científico não correspondeu a uma melhoria do sistema ético e 
moral na nossa profissão (Muniz, 1997). D aí o resgate da sabedoria 
grega para discutirmos a prática da Psicologia dentro de um aspecto 
mais amplo de deveres, valores e responsabilidades do psicólogo para 
com a ciência e com as pessoas com as quais se relaciona.
C a p í t u l o 6
172 T é c n ic a s d e E x a m e P sic o l ó g ic o - T E P
A grande contribuição do século XX para a discussão dos 
princípios éticos e deontológicos a serem exercidos na Psicologia 
se deve à American Psychological Association (APA). Esta associa­
ção publicou em 1953 o seu primeiro guia de princípios éticos, que 
já ultrapassaram a nona edição. Atualmente podemos afirmar que 
quase todas as Associações ou Conselhos de Psicologia, em nível 
internacional, possuem o seu próprio Código de Ética, apresentan­
do inclusive as penalidades que podem ser aplicadas àqueles que 
não respeitarem suas regras (Wechsler, 1996). Neste sentido en­
contra-se o nosso Código de Ética, definido para o psicólogo brasi­
leiro, cuja revisão de 1999 tratou de adequar à versão original 
questões mais atuais que pudessem apresentar dilemas éticos para 
os nossos profissionais (Conselho Regional de Psicologia, 1999).
A grande contribuição oferecida pelos Códigos de Ética das 
associações profissionais foi regulamentar a prática psicológica, dis­
cutida em seu âmbito geral, para os psicólogos de cada país. En­
tretanto, poucós são os países que se dedicaram a desenvolver pro­
cedimentos éticos e deontológicos para situações específicas, como 
na avaliação psicológica, excetuando-se os Estados Unidos, Ca­
nadá, Espanha (Muniz, 1997) e Portugal (Associação dos Psicólo­
gos Portugueses, 1991). Mais recentemente, a International Test 
Commission propôs um guia orientador a ser utilizado internacio­
nalmente por psicólogos envolvidos com a avaliação psicológica, 
no qual se encontram detalhadas normas básicas para a conduta 
ética em diferentes situações (Bartram, 1999).
Considerando-se os padrões éticos e deontológicos definidos pe­
las diferentes Associações de Psicologia para a área da avaliação psico­
lógica, podemos classificá-los em quatro grandes grupos, a saber, pa­
drões referentes à formação, à prática, à pesquisa e à publicação de 
instrumental psicológico, tópicos estes que trataremos a seguir. Pre­
tendemos também contextualizar os dilemas éticos e deontológicos 
que surgem em cada uma destes grupos para a realidade brasileira, 
almejando assim contribuir para as mudanças ou crescimento em di­
reção a uma melhor atuação do professor, profissional e pesquisador 
em avaliação psicológica.
PltlNCfHOS ÉTICOS E DEONTOLÓGICOS NA AVAUAÇÃO PSICOLÓGICA 173
Considerando o termo “Ética” como mais conhecido na Psicologia, 
vamos empregá-lo neste texto como sinônimo de “Deontologia”, 
principalmente ao considerar a superposição destes como ressaltado 
anteriormente.
2. A Ética na Avaliação Psicológica
Princípios éticos básicos a serem seguidos nos diferentes 'âmbitos 
da Psicologia foram claramente delineados pela A m erican 
Psychological Association (1992); eles se encontram também, em menor 
abrangência, nos diferentes Códigos de Ética das associações de clas­
se. A APA apresenta seis padrões básicos ou norteadores a serem res­
peitados na formação e atuação de psicólogos, que são: (1) Compe­
tência, (2) Integridade, (3) Responsabilidade científica e profissio­
nal, (4) Respeito pela dignidade e direitos das pessoas, (5) Preocupa­
ção com o bem-estar do outro e (6) Responsabilidade social.
Devido à amplitude dos padrões éticos delineados pela APA 
c as suas aplicações para os mais diferentes campos da Psicologia, 
diversos pesquisadores os têm utilizado como base nas suas orien­
tações quanto à docência, prática e pesquisa. Em relação à área 
de avaliação psicológica, por exemplo, temos os trabalhos de 
Oakland (2000) e da International Test Com m ission - 1TC 
(Bartram,1999), que tratam, especificamente, dos critérios míni­
mos a serem observados, em nível internacional, para a atuação 
nesta área, como comentaremos posteriormente.
O princípio da competência, definido pela APA, estabelece que o 
psicólogo deve procurar sempre manter os mais altos padrões de exce­
lência no seu trabalho. Neste sentido, ele deve reconhecer os limites 
da sua competência e as limitações de sua especialidade, oferecendo 
assim somente os serviços nos quais se sente adequadamente habilita­
do. Da mesma maneira, na sua área de especialização, o psicólogo deve 
estar a par do desenvolvimento da literatura científica, procurando 
sempre se atualizar por meio da educação continuada oferecida em 
diversas formas. Referindo-se a este tópico, Oakland (2000) destaca 
a necessidade dos profissionais que trabalham na área da avaliação
174 T é c n i c a s d e E x a m e P s i c o l ó g i c o - T E P
psicológica estarem sempre reciclando-se através de cursos de pós- 
graduação, participação em congressos e revistas científicas, devi­
do ao volume de pesquisas que é realizado sobre os vários tipos de 
instrumental psicológico.
Na .questão da integridade, a APA define o comportamento e 
atitudes éticas tanto no seu aspecto científico quanto nas relações 
entre o ensino e a prática da Psicologia. Assim sendo, em suas ativi­
dades, espera-se que o psicólogo tenha comportamentos honestos, 
justus e respcíLuaus na sua aluarão, qualquer que seja o âmbito de 
seu trabalho. Por outro lado, é esperado que este psicólogo tenha 
consciência do seu sistema de valores e os efeitos que estes possam 
ter na sua prática diária. Neste aspecto encontramos ressonância 
em todos os Códigos de Ética profissionais, exigindo-se atenção e 
zelo para evitar que valores pessoais possam vir a afetar o relaciona­
mento com o sujeito a ser atendido (Muniz,1997).
O princípio de responsabilidade científica e profissional estabelece 
que o psicólogo deve reconhecer a importância do seu comportamen­
to e atuação, procurando sempre atender, com técnicas específicas, as 
necessidades de diferentes tipos de clientela. Espera-se também que 
este profissional colabore com outros colegas ou instituições que este­
jam envolvidos no bem-estar das populações atendidas, exigindo que 
respeitem, não só como ele mesmo, os padrões deontológicos no com­
portamento profissional Ressaltando a necessidade de respeito a este 
princípio, Oakíand (2000) adverte que o comportamento ético deve 
ser entendido como mais amplo, ou seja, no ambiente em que o traba­
lho é desenvolvido. Dessa forma nos reportarmos não somente à ética 
do psicólogo, como também à ética dos demais profissionais ao redor 
que atendem com a finalidade da avaliação psicológica.
O respeito à dignidade das pessoas, tal como definido pela APA, 
refere-se à necessidade do reconhecimento do direito de privacidade, 
confidencialidade, autodeterminação e autonomia dos indivíduos aten­
didos. Tal princípio determina não só a guarda sigilosa da informação 
recebida, mas também o direitoà recusa de continuar determinado 
tratamento. É também especificado que o psicólogo deve estar sempre 
atento às diferenças individuais resultantes da idade, sexo, raça, reli­
gião, orientação sexual, nível sócio-econômico, ecc., que possam afe-
P r INCÍDOS ÉTICOS E neONTOLÓGICOS NA AVAUAÇAO rSICOLÓGICA 175
tar o tipo de atendimento a ser oferecido. Este aspecto ético ou 
deontológico é motivo de constantes preocupações pela International 
Test Commission (Bartram, 1999), principalmente no que se refere à 
prática da avaliação em países onde os instrumentos psicológicos são 
usados de forma precária, sem pesquisas de validação e padronização 
que considerem as especificidades de cada população.
A preocupação com o bem-estar alheio deve ser constantemente 
buscada na ética profissional, segundo a APA. Nesse sentido, quais­
quer conflitos que possam ocorrer na prática profissional têm de ser 
sempre resolvidos para de minimizar riscos envolvidos. Assim sendo, 
os psicólogos deveni estar sensíveis à relação de poder no atendi­
mento ao outro, evitando qualquer atitude que envolva engano ou 
exploração da pessoa envolvida. Este princípio delimita, com devida 
importância, os princípios éticos a serem seguidos em qualquer pro­
cedimento em que exista avaliação psicológica, quer tenha finalida­
de somente de diagnóstico, quer para o prognóstico ou em situação 
de pesquisa. Esta última situação tem sido reveladora de várias pre­
ocupações éticas, detalhadas principalmente nos trabalhos de Sales 
e Folkman (2000).
A responsabilidade social é colocada como uma responsabilidade 
científica do profissional diante da comunidade e da sociedade na qual 
está inserido. As obrigações éticas e deontológicas, neste sentido, re- 
ferem-se à divulgação dos conhecimentos psicológicos para reduzir o 
sofrimento e contribuir para a melhoria da humanidade. A amplitude 
desta norma ética vai além da prática isolada do psicólogo, mostrando 
a sua responsabilidade na formação de políticas e leis que possam be­
neficiar a sociedade, sem que tais funções envolvam, necessariamen­
te, vantagens profissionais. Esta norma ética foi recentemente 
fortificada no nosso país com a regulamentação do Conselho Nacional 
de Saúde, na sua resolução 196/96 (Diário Oficial da União, 1996), em 
que foi enfatizada que a publicação de dados coletados é uma res­
ponsabilidade ética e social, demonstrando assim o papel do pesquisa­
dor para melhoria da sociedade.
Embora que vários dos princípios acima detalhados se encontrem 
também no nosso Código de Ética (Conselho Regional de Psicologia,
1999), a realidade brasileira demonstra diversos dilemas éticos e
176 T é cn ica s d e E x a m e P sic o l ó g sc o - T E P
deontológicos em relação à formação, atuação, pesquisa e publicação 
de material para avaliação psicológica. A urgência de ações a serem 
desenvolvidas pelo CFP e CRPs, assim como pelas entidades forma­
doras e editoras de instrumentos psicológicos, é crucial no nosso país.
No que tange ao primeiro princípio definido pela APA, por exem­
plo, que se refere à competência do profissional da área, significando a 
constante atualização científica e prática, vemos um quadro pouco 
. promissor entre os profissionais que utilizam instrumental psicológico, 
como também entre docentes que ensinam as técnicas de avaliação 
psicológica nas nossas universidades. Pesquisas realizadas sobre os tes- 
tes mais usados e/ou ensinados na graduação em Psicologia revelam 
pouquíssimas modificações na listagem destes nos últimos dez anos, 
preponderando aqueles testes que foram elaborados nas décadas de 60 
e 70 (Azevedo, Almeida, Pasquaíi &.Veiga, 1996; Alves, 2000). Conse­
qüentemente, é de esperar que uma formação deficitária nesta área 
colabore para que os profissionais cometam outras falhas éticas, tais 
como o não-reconhecimento do limite de sua competência em áreas 
sobre as quais não têm se atualizado e, portanto, não deveriam exercer 
atividades relacionadas com a avaliação psicológica.
O princípio da responsabilidade científica e profissional, por sua 
vez, estabelece a necessidade da procura por técnicas específicas para 
determinados tipos de clientela e a exigência de padrões éticos não só 
para si mesmo, como também para aqueles que trabalham no mesmo 
local do profissional de Psicologia. Infelizmente, esta falta ética não 
ocorre somente no nosso país, mas em vários outros ibero-americanos, 
como observaram Prieto, Muniz, Almeida e Bartram (1999). Confor­
me apontaram estes pesquisadores, o uso de testes psicológicos por 
pessoas leigas na área não é incomum nos países da América do Sul, 
Central , Portugal e Espanha, onde várias das atividades do processo 
de avaliação psicológica que requerem conhecimento técnico, tais como 
a seleção do material a ser utilizado, interpretação de resultados e ela­
boração de laudos, não são realizadas por psicólogos, sendo a área 
organizacional a que apresenta mais problemas neste sentido.
Na questão ética que trata dos direitos e da dignidade das pes­
soas, encontramos orientações que se referem não somente à guarda 
sigilosa das informações obtidas e da sua autonomia do indivíduo
P r in c íp io s é t ic o s e d e o n io l ó g ic o s n a a v a l ia ç ã o p s ic o l ó g ic a 177
na escolha do tratamento, mas também aquelas que se relacionam 
às diferenças individuais que afetam os resultados de um teste, 
como sexo, idade, região, nível sócio-econômíco, etc. Esta é, sem 
dúvida, uma grave realidade nos países onde existe pouca pesqui­
sa e publicações de material psicológico adaptado e validado para 
as características de sua população. Nesta situação triste se en­
contram vários países ibero-americanos, referindo-se novamente 
à pesquisa anteriormente mencionada de Prieto, Muniz, Almeida 
e Bartram (1999). Com efeito, várias faltas éticas são encontradas 
entre os psicólogos destes países, como indicado pelos juizes ou 
especialistas de cada cultura, ao observarmos a seguinte lista das 
10 deficiências mais graves no uso dos testes, apresentadas em 
ordem decrescente: (1) fotocopiar material sujeito a direitos au­
torais, 2) utilizar testes inadequados na sua prática, (3) estar 
desatualizado na área de atuação, (4) desconsiderar os erros da 
medida nas suas interpretações, (5) utilizar folhas de respostas 
inadequadas, (6) ignorar a necessidade de explicações sobre pon­
tuação nos testes aos solicitantes da avaliação, (7) permitir a apli­
cação de testes por pessoal não qualificado, (8) desprezar condi­
ções que afetam a validade dos testes em cada cultura, (9) igno­
rar a necessidade de arquivar o material psicológico coletado, (10) 
interpretar além dos limites dos testes utilizados. Tais falhas éti­
cas, sem dúvida, trazem inúmeras implicações e descrevem uma 
situação bastante precária na área da avaliação psicológica nos 
países de línguas espanhola e portuguesa.
A preocupação ética com o bem-estar alheio, assim como a 
responsabilidade social do psicólogo e do pesquisador com os da­
dos coletados, terão, possivelmente, maior controle no nosso pafs 
com a resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96 (Diário 
Oficial, 1996), ao decretar as normas para pesquisas com seres 
humanos. Sem dúvida, esta norma é essencial, e apesar de existir 
há vários anos em outros países, como relata o Código da APA 
(1992), somente agora chegou ao Brasil para padronizar ativida­
des bastante complexas, principalmente aquelas relacionadas ao 
uso de instrumental e técnicas psicológicas em situações de pes­
quisa, onde ocorriam, sem dúvida, várias falhas éticas.
u
(
178 T é c n i c a s d e E x am e P s i c o l ó g i c o - TEP
Acreditamos que existem várias barreiras, tanto de cunho 
epistemológico quanto prático, que têm impedido- o crescimento da 
área de avaliação psicológica no Brasil e contribuído para a ocor- 
rência de algumasdestas faltas éticas aqui relacionadas. Enfocando, 
por exemplo, o ensino das técnicas de exame psicológico, encontra- 
se o pouco valor dado aos conhecimentos básicos que implicam na 
construção, adaptaçao ou validação de um instrumento psicológi­
co. O ensino das técnicas de exame psicológico no nosso país tem se 
caracterizado mais no "como fazer” do que no' 1 por quê fazer”, de­
monstrando o pouco lugar ocupado pela pesquisa nesta área. Por 
outro lado, a ausência de investimento em pesquisa por parte das 
editoras de instrumentos psicológicos faz com que prepondere e sei a 
comercializado material.antigo, sem atualização de normas ou vali­
dação para a realidade brasileira. Entendendo esta dinâmica como 
um ciclo, podemos concluir que este material só é vendido porque o 
consumidor, no casò o psicólogo, tem baixo nível de exigência em 
relação ao que é comprado, devido à sua formação deficiente nesta 
área. Temos, portanto, uma situação que só poderá ser rompida se 
trabalhada em nível de formação.
Uma interessante análise sobre as possíveis causas que explicam 
o atraso na área da avaliação psicológica foi apresentada por Almeida 
(1999). Este autor ressaltou o descompasso entre a produção desta 
área, onde predominam instrumentos criados no começo do século 
XX, e os avanços da tecnologia atual. Possíveis causas, segundo este 
autor, que poderiam explicar o marasmo ou “adormecimento evolutivo” 
nesta área, principalmente no que se refere à avaliação intelectual; 
tais causas seriam: (a) crenças de que os testes existentes já sãosufici- 
entes, (b) elevados custos_humanos e materíais.para o desenvolvimen- 
to de novos testes, (c) validação empírica de novos testes tomando 
comoT)ase outros já_validadòs anteriormente,_o,..que reforça a conti­
nuidade, (d) apelo para construção de testes a construtores que fazem 
bem e apreciam os testes habituais.
Podemos, assim, concluir que existe uma relação intrínseca entre 
atraso na tecnologia decorrente da pouca inovação e pesquisa na área 
e falhas éticas presentes nos vários níveis da avaliação psicológica. Neste
PWNCÍHOS ÉTSOOS E DEONTOLÓGICOS NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 179
sentido, comparando o Brasil com vários outros países, podemos com­
preender, de maneira mais ampla, o porquê das diversas deficiências 
éticas aqui encontradas.
Após esta análise macroestrutural da área de avaliação psico­
lógica no nosso país, passaremos a uma análise mais circunstancia­
da ou micro dos cuidados envolvidos em cada etapa da avaliação 
psicológica, a ser executada por aqueles profissionais ciosos de suas 
responsabilidades éticas neste tipo de atividade.
3. O Processo de Avaliação
r
Psicológica e a Etica
Diversos são os cuidados éticos a serem observados no processo 
de avaliação psicológica, que respeitam, na verdade, os princípios éti­
cos gerais relacionados acima. Em cada uma das etapas da avaliação 
psicológica, que envolvem desde a seleção de instrumentos a serem 
utilizados, sua aplicação, correção, interpretação, até elaboração de 
laudos e devolução dos resultados colhidos, existem várias situações
■ que podem afetar não só a ética, mas também toda a qualidade da 
avaliação realizada.
Considerando a necessidade de publicações no Brasil relaciona­
das com a ética na avaliação psicológica, elaboramos um guia com esta 
finalidade (Wechsler, 1999), baseando-se não só nas recomendações 
da AmericãrTPsychological Association, que tem discutido os proce­
dimentos éticos na avaliação psicológica em todas as suas oito publica­
ções do Código de Ética (American Psychological Association, 1992), 
como também na publicação da Associação dos Psicólogos Portugue­
ses (1991), onde existem informações específicas sobre este tema. E 
necessário também ressaltar que houve uma proposta de normas para 
procedimentos na avaliação psicológica elaborada por um grupo de 
psicólogos paulistas (Conselho Regional de Psicologia, 1999), embora 
não cenha havido uma divulgação oficial.
Ressaltamos que o guiaj.or_nós elaborado refere-se, principal' 
mente, ao uso de testes e escalas do tipo objetivo, não abrangendo,
180 T é c n ic a s de E x a m e P s ic o l ó g ic o - T E P
portanto, outros tipos de instrumentos que podem ser utilizados nesta 
atividade, tais como questionários, entrevistas, observações e provas 
situacionais. Apresentaremos a seguir parte do guia por nós elabo­
rado, relacionada com as condutas éticas a serem seguidas nas eta­
pas principais da avaliação psicológica.
Etapa 1 — Seleção de testes e escalas para 
avaliação psicológica
Ao selecionar um teste ou escala, o psicólogo deverá:
• Definir os atributos e características a serem avaliados, inves­
tigando na literatura especializada os melhores instrumentos 
disponíveis para cada objetivo desejado.
• Avaliar as características psicométricas dos instrumentos a 
serem utilizados, tais como:. sensibilidade, validade, precisão e 
existência de normas específicas e atualizadas para a população 
brasileira.
• Considerar a idade, sexo, nível de escolaridade, nível socioeconõ- 
mícó, origem (furãl~õu urbanã), condições físicas gerais,.presença-, 
difcleficicncias físicas, nacionalidade e a necessidade de equi­
pamentos especiais para aplicação dos instrumentos.
• Verificar se os manuais dos testes e/ou escalas possuem infor­
mações necessárias”~pãra aplicação', correção e interpretação . 
dos resultados destes;
• Solicitar a aiuda de outro psicólogo para esta atividade, caso 
não possua algumas das informações acima.
Etapa 2 — Administração de testes e 
escalas psicológicas
No processo de administração de testes ou escalas, o psicólogo 
deverá:
• Prestar informações ao(s) indivíduos(s) envolvidos quanto à 
natureza e o objetivo da avaliação e dos instrumentos a serem
PRINCÍPIOS ÉTICOS E DEONTOLÓOICOS NA AVAUAÇÂO PSICOLÓGICA 1 8 1
empregados, obtendo, por escrito, o seu consentimento Uvre,e_ 
esclarecido para participar no processo de avaliacão_Dsic_ológica^ . 
No caso de menores ou pessoas em situação de vulnerabilidade, 
este co n sen tim en to deverá ser obtido por meio de seus 
responsáveis.
• Verificar se o ambiente no qual será realizada a avaliação pos- 
súí as condições físicas adequadas em termos de espaço, venti­
la ç ã o , mobiliário, qualidade de silêncio a fim de assegurar o
melhor desempenho do(s) indivíduo(s) envolvido(s).
• Organizar o material que irá utilizar antes de iniciar uma apli­
cação, verificando as especificidades de cada tipo de teste en­
volvido, como mesas especiais, gravadores, etc.
• Motivar o(s) indivíduo(s) para realizar a tarefa, tendo, entre­
tanto, o cuidado para não interferir no desempenho deste(s).
" * Desenvolver um relacionamento de confiança (rapport), visto 
como essencial no processo de aplicação de instrumentos psico- 
lógicos em forma individual.
• Atentar para o(s) comportamento (s) do(s) indivíduo (s) na situa­
ção de avaliação, observando a forma de resposta e o envolvimento 
~nã situação de avaliação, considerando que estas são variáveis 
influenciáveis no desempenho nos instrumentos utilizados.
• Seguir rigorosamente as instruções, os exemplos, o tempo e ou­
tras orientações que se encontrem no manual ou no próprio ca­
derno do teste ou escala, evitando quaisquer improvisações que 
possam comprometer a validade dos instrumentos utilizados.
• Evitar ausentar-se da sala onde está realizando a avaliação, ou 
realizar quaisquer outros comportamentos que o possam desviar, 
do processo de avaliação, tais como: conversar com outras 
pessoas, atender ao telefone, etc.
• Responsabili~ar-se pela qualidade da aplicação dos testes e e s - . 
calas psicológicas, sendo esta condição essenciãí- para ã^õbten- 
ção de um resultado fidedigno.
182 T é c n ic a s d e E x a m e P sic o l ó g ic o - T E P
É vedado ao psicólogo:
• Reproduzir material de teste emforma de fotocópias ou em 
outras tormas que não sejam as originais do teste.
• Realizar avaliações psicológicas em situações nas quais não ocor­
ra uma relação interpessoal7por exemplo, correios, telefone ou 
internet. De acordo com as orientações do CFFJ os inventários 
administrados via internet somente poderão ser utilizados com 
finalidades dc pesquisa, rcspeitando-sc as normas específicas para 
esta situação, como a ser apresentado posteriormente.
• Efetivar gravações das sessões de avaliação psicológica sem o con- 
sentimento do(s) indivíduo (s) envolviclõ(s)~ ‘ ”
• Realizar atividades de avaliação psicológica que interfiram no tra­
balho de outro colega.
• Utilizar material informatizado como substituição total da pre­
sença do psicólogo no processo de avaliação. '
Etapa 3 — Correção e interpretação 
dos resultados psicológicos
No processo de correção e interpretação dos resultados colhi­
dos na avaliação psicológica, cabe ao psicólogu:
• _Corrigir os instrumentos utilizados, seguindo os critérios e as
tabelas apropriadas para cada finalidade.
• Avaliar não só quantitativamente os comportamentos e respos- 
tas do sujeito, como também qualitativamente, integrando es­
tes dados com as observações realizadas durante as entrevistas 
ou aplicação dos instrumentos.
• Interpretar os resultados obtidos de forma dinâmica, conside- 
fãndo-os como uma estim ativa de desempenho do(s) 
indivíduo(s) sob um dado conjunto de circunstâncias.
P r in c íp io s é t ic o s e d e o n t o l ó g ic o s na a v a l ia ç ã o p sic o l ó g ic a 183
• Considerar na interpretação dos resultados dos testes e escalas 
a atualidade das nomias nas tabelas apresentadas, assim como 
a finalidade de sua avaliação-
• Utilizara análise .computadorizada dos resultados, caso assim 
preferir, somente como um apoio e nunca em total substituição 
às informações colhidas pelo psicólogo.
• Arquivar os dados coletados, de forma confidencial, por um 
período mínimo de cinco anos, seguindo as normas estabeleci' 
das no nosso Código de Etica.
Etapa 4 — Elaboração de laudos psicológicos e 
entrevistas de devolução
Ao elaborar um laudo psicológico ou realizar uma entrevista
para devolução dos resultados obtidos no processo de avaliação, o
psicólogo deverá:
• Evitar ser influenciado, nas suas conclusões, por seus valores 
"religiosos, preconceitos, distinções sociais ou pelas caracterís­
ticas físicas do(s) indivíduo(s) avaliado(s).
• Elaborar o seu relatório de maneira clara, abrangendo o indi­
víduo em todos os seus aspectos, enfatizando a natureza dinâ­
mica e circunstancial dos dados apresentados.
• Utilizar-se de linguagem adequada aos destinatários, de modo a 
evitar interpretações errôneas das informações, devendo sempre 
incluir recomendações específicas para os solicitantes.
• Evitar fornecer resultados em forma de respostas certas e espera- 
cKTaõs instrumentos psicológicos utilizados, considerando que 
tal comportamento inviabilizará o uso futuro destes instrumen­
tos.
• f Respeitar o direito de cada indivíduo conhecer os resultados 
da avaliação psicológica, as interpretações feitas e as bases nas 
quais se fundamentam as conclusões.
184 T é c n ic a s d e E x a m e P s ic o l ó g ic o - T E P
• Devolver informações sobre a avaliação de um menor para o 
seu responsável, garantindo-lhe o direito previsto em lei.
• Guardar sigilo das informações obtidas e das conclusões elabo­
radas, observando que oanonimato devera~ser sempre mantido 
quer seja em congressos, reuniões científicas, entrevistas a radio 
ou televisão, situações da prática profissional, ensino ou pes­
quisa.
■ Redigir as informações obtidas no processo de avaliação psico- 
lógica em forma de lãüdo, mesmo que seja solicitado somente 
um parecer. Nesta situação, este laudo deverá ser arquivado, 
juntamente com as demais informações sobre o indivíduo.
Ressaltamos que as orientações éticas contidas no guia por nós 
elaborado e relacionadas acima não pretendem dirimir todas as possíveis 
dúvidas que possam aparecer no processo de avaliação psicológica. 
Esta primeira versão deverá receber alterações e melhorias à medida 
que nos aprofundarmos cada vez mais no estudo das atitudes e com­
portamentos éticos necessários durhnte este processo. Em uma pes­
quisa inicial realizada por nossa equipe do Laboratório de Avaliação 
e Medidas Psicológicas - LAMíí tendo por finalidade investigar a 
adequação deste guia, segundo a percepção de psicólogos paulistas 
trabalhando em diferentes contextos, recebemos 90,7% de aprova­
ção das propostas aí apresentadas, indicando a sua importante 
contribuição para a área, como também a necessidade do seu aper­
feiçoamento (Wechsler, Guzzo et al., 1997) -
4. Pesquisa e Publicação de Instrumentos 
Psicológicos: Aspectos Éticos
A pesquisa envolvendo a avaliação psicológica deve seguir, sem 
dúvida, as normas estipuladas pelo Conselho Nacional de Saúde 
(Ministério da Saúde, 1996), que definem comportamentos especí­
ficos a por todos os pesquisadores que trabalham com sujeitos hu-
PRINCÍPiOS ÉT1C05 E DEONTOlÒGIOOS NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
manos. É importante destacar que este tipo de pesquisa refere-se a 
situações individuais ou coletivas nas quais o ser humano esteja 
envolvido, quer de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de 
informações ou materiais utilizados.
Na área da Psicologia, procedimentos éticos em pesquisa com 
sujeitos humanos encontram-se claramente definidos na publicação 
de Steber (2000), que relaciona as condições éticas necessárias para 
cada etapa da pesquisa, desde o seu planejamento..recrutamento de 
p a r t i c i p a n t e s consentimento informado,.arquivo de dado5_e divulga- 
ção de resultados. Como a avaliação psicológica encontra-se quase 
“seTnpre inserlHa em pesquisas realizadas pelos profissionais desta área, 
quer seja em forma de entrevistas, questionários, ou ainda em forma 
de testes padronizados ou escalas, vamos nos deter a seguir, em alguns 
dos princípios básicos a serem observados nestas condições.
No planejamento da pesquisa, é necessário que o pesquisador evite 
ou minimize qualquer condição qüe possa trazer algum tipo de risco 
aos~parricipant:es a serem envolvidos. Categorias definindo risco em 
pesquisa foram claramente descritas por Lee e Renzetti (1993) da se­
guinte maneira: (a) físicos, tais como possibilidades de infecções ou 
mal-estar, (b) psicológicos, como indução de situações de depressão, 
baixa estima, ansiedade, experiências constrangedoras, etc., (c) 
sociais, onde existem possibilidades de perda de oportunidades so- 
ciais e relacionamentos, (d) econômicos, acarretando perdas ou pre- 
juizõT salariais, (e)legais, envolvendo" situações de denúncia penal 
ou prisão. Assim, todas estas situações são consideradas como de 
risco, na medida em que podem trazer danos imediatos ou tardios 
aos participantes ou à coletividade onde estão inseridos, devendo, 
portanto, ser evitados já no processo de delineamento da pesquisa.
Na questão relacionada especificamente com a avaliação psico- . 
lógica, sabemos qúe o uso de determinadas técnicas ou instrumentos 
. pode acarretar sentimentos de dúvida e insegurança nos participantes 
envolvidos quanto ao seu funcionamento psíquico, inclusive agra­
vando perturbações afetivas e cognitivas já existentes. Dessa forma, o 
'pesquisador deve ponderar os riscos e benefícios envolvidos, compro­
metendo-se em viabilizar procedimentos que possam reduzir os 
primeiros ao menor grau possível, segundo as determinações do
186 T é c n ic a s d e E x a m e P s ic o l ó g ic o - T E P
Ministério da Saúde (1996). Desta maneira, devem ser providen- 
ciadas tanto explicacõesJn ic ia is quanto devolutivas que permi­
tam áõ~(s) participantes(s) obter uma avaliação global sobre o seu 
funcionamento na situação de pesquisa, assim comoserem ofere- 
cidas possibilidades de acompanhamento psicológico em dite ren­
tes locais públicos da comunidade, caso necessário.
" " A exigência do consentimento livre e informado'dos participantes 
é, sem duvida, uma necessidade ética das pesquisas envolvendo instru­
mentos ou técnicas para avaliação psicológica, Embora tal comporta­
mento não vinha sendo praticado costumeiramente pelos pesquisado­
res brasileiros, há muito já existia na comunidade internacional esta 
norma para realização de pesquisas com seres humanos (APA, 1992). 
Existem diversas informações (Fischman, 2000) que devem ser trans­
mitidas aos possíveis participantes da pesquisa a fim de que eles possam 
assinar, com clareza, o seu consentimento para participação nela, que 
são: (a) importância do tema da pesquisa e os seus objetivos, (b) grupo 
de sujeitos a serem estudados, critérios dê seleção e sua justificativa, 
((^'procedimentos ou instrumentos a serem utilizados, descrevendo as 
suas características~K5sicas, sua duração e o local onde serão aplicados, 
(3)“ desconfõrtos e riscos possíveis da situação de pesquisa, (e) forma de 
acompa~hhamento e assistência após a pesquisa, (f)~clareza quanto ao 
direito dé fòÇusar participar antes ou durante a pesquisa, (g) garantia 
dõ anonimato e da guarda das informações obtidas, (h) forma do regis- 
Irò das informações obtidas, envolvendo ou não aparelhos audiovisuais, 
(í) ressarcimento de despesas decorrentes da participação em pesqui­
sas, caso estejam erLvolviáã5j~(j)~forma~dêljêvoluçãõ~de resultados, oral 
oú escrita, imediatamente ou a curto prazo.
Embora várias das orientações mencionadas já se encontrem 
no nosso Código de Ética (Conselho Regional de Psicologia, 1999) , 
estas têm sido mais dirigidas ao atendimento profissional, motivo, 
pelo quãl o Conselho Federal de Psicologia está em fasé de prepa­
ração de normas para a pesquisa com seres humanos. E importante 
ressaltar que o consentimento informado pressupõe que o indiví­
duo tenha capacidade legal, cognitiva e emocional para entender 
com clareza os objetivos e as possíveis conseqüências da pesquisa, 
situação esta que exige a anuência, de pais ou guardiães para a
P r in c íp io s é t ic o s e d e o n t o l ó g ic o s na a v a l ia ç ã o p sic o l ó g ic a 187.
participação de crianças e menores de idade em qualquer tipo de 
pesquisa. Certamente, se indivíduos serão selecionados para pes­
quisa de acordo com dados obtidos em banco de arquivos, é ne- 
ces5Tno qLre~ tcnFã 'Kavi'do consentimento prévio destes para tal 
procedimento, excluindo-se desta necessidade pesquisas em ban- 
co~He arquivos, pesquisas estas realizadas somente com a finalida- 
de~3e traçar perfis ou~'téndencias, onde não haja risco de violar a 
privacidade dos indivíduos o» trazer prejuízos para a comunidade 
(Scott-Jones, 2000). ’
A exigência do consentimento escrito por participante da pes- 
quisa ou seu representante legal alterará os costumes vigentes no 
Brasil, até então, não só entre os pesquisadores mas também nas ins­
tituições em que estas pesquisas são geralmente feitas, tais como es­
colas ou hospitais. Temos observado, principalmente em relação às 
escolas públicas, uma atitude de estranheza entre os diretores ao ser 
solicitado o envio de correspondência para os pais pedindo permissão 
para realização da pesquisa com seus filhos, pois sempre consideraram 
que tinham direitos para realizarem quaisquer tipos de atividades 
com as crianças e jovens dentro do recinto escolar. A insistência dos 
pesquisadores em pedir o consentimento dos pais tem criado uma 
atitude de resistência nos diretores, talvez pela própria experiência 
da dificuldade de contato com pais de baixo nível socioeconômico. 
Ainda assim, as normas estão bastante claras quanto à solicitação da 
permissão aos responsáveis pela criança ou menor de idade, salien­
tando-se, entretanto, que a informação deve ser bastante clara e es­
crita em linguagem compreensível àqueles a quem é destinada.
Uma interessante contribuição das normas éticas para as pes­
quisas com seres humanos, normas elaboradas tanto pela APA quanto 
pelo CFP ou pelo Conselho Nacional de Saúde, refere-se à devolução, 
dós resultados, quer èm forma oral ou escrita, visando assim trazer 
benefícios parà a comunidade pesquisada. Desta maneira, enfatiza-se 
que a pesquisa não deve ter uma finalidade em si mesma, devendo 
sempre procurar transformar e trazer benefícios para a comunidade 
onde os dados foram colhidos. Sem dúvida, falhas neste aspecto de 
conduta ética têm fechado as portas para outras possíveis-PcsQuisas,. 
na~medida em que várias instituições brasileiras reclamam de pes-
168 T écn ica s d e E x a m e Ps ic o l ó g ic o - T E P
quisadores que coletaram dados em seus ambientes e nunca ofere- 
ccram qualquer tipo de retorno.
Finalmente, devemos nos ater à publicação dos resultados, sejam 
estes em periódicos científicos ou em manuais a serem comercializados 
pelas editoras de instrumental psicológico. Novamente ressalta-se a 
necessidade do anonimato do(s) participante(s) e das instituições onde 
a(s) pesquisa(s) foi(ram) realizada(s), evitando qualquerjd.entificação 
da origem desses. Embora algumas vezes temos ouvido dc pesquisado­
res que as instituições permitiram que seus nomes fossem publicados, 
devem ser evitadas, quaisquer comportamentos que possam colocar 
em risco a privacidade dos participantes, entendendo-se assim que, no 
caso de serem obtidos resultados negativos, tais condições poderiam 
trazer danos às instituições envolvidas.
Reportando-se à publicação de manuais de testes ou escalas, 
existem responsabilidades éticas não só da parte do pesquisador ou 
autor do material, como também das editoras. Por parte do autor, 
temos a obrigação ética de fornecer dados completos no manual do 
instrumentõ por ele elaborado ou adaptado, com as seguintes infor­
mações: (a) objetivo, características e limitações do instrumento, (b) 
processo dê desenvolvimento do instrumento, descrevendo como seu 
conteúdo ou habilidades toram selecionadas, (c) evidências obtidas 
em pesquisas empíricas demonstrando que o instrumento é válido e 
preciso para o objetivo desejado, (d) descrição do tamanho, origem e 
características básicas das amostras coletadas, (e) normas nacionais, 
regionais ou locais, atualizadas no período máximo dê dez anos, (fj 
forma de correção e interpretação dos resultados qualitativos e/ou 
quantitativos (Wechsler, 1999)^ "
Quanto às editoras que comercializam materiais psicológicos, 
existem várias obrigações éticas nao sõ com õ próprio autor do ins­
trumento, mas tambem com o~[JÍil3ttco que deverá ser beneficiado 
com o seu uso, quer diretamente ou indiretamente, no caso o psicó­
logo e todos ^ aqueles nos quais o instrumento for adminis trado. Re­
sumem-se assitrTãTguns comp5tTamentõ$ éticos a serem respeitados: 
(ã) investimento em pesquisas para melKcifia e atualização dõs ins- 
trumentos comercializados, (b) "publicação de manuais com infor­
mações completas soBrjTas pesquisas realizadas pelos autores, com-
P w N d rcos é t ic o ; e d e o n t o l ó g ic o s na a v a l ia ç ã o rs ic o iô o tC A .189
preendendo-se ^ s i m o valor teórico e científico dos instrumentos. 
comercializados, (c) qualidade gráfica do material comercializado,. 
no próprio instrumento e em suas folhas ou cadernos de respostas, 
máscarãs~3e correção, (9) processos de segurança para material 
informatizado, com mecanismos que visem possibilitar o recebimen- 
tcTBe resultados para tuturos bancos de dados. Embora tais obriga- 
çõSTpossam parecer extremamente exigentes para os editores de testes 
no Brasil, tais comportamentos são rotineiros na maioria das edito­
ras norte-americanas, como temos observado.
5. Conclusões
Este texto visou debater questões éticas e deontológicas nas 
diversas etapas da avaliação psicológica, abrangendodesde a for­
mação, prática, pesquisa e comercialização dos instrumentos psico­
lógicos. Embora a gravidade das questões aqui expostas, elas não 
são, entretanto, desconhecidas por diversos segmentos da Psicolo­
gia no país. Tal fato pode ser notado nas discussões presentes nos 
congressos da Sociedade Brasileira de Psicologia (antigamente S o ­
ciedade de Psicologia de Ribeirão Preto), onde durante vários anos 
houve reuniões dos docentes das disciplinas envolvidas com as téc­
nicas de exame psicológico a fim de discutir os seus problemas em 
comum. Da mesma forma, alguns dos Conselhos Regionais de Psi­
cologia promoveram encontros ou congressos para discutir questões
• relacionadas com a formação e a prática na avaliação psicológica, 
ou ainda criaram comissões para propor soluções às questões dirigidas 
por seus membros. Por parte do Conselho Federal de Psicologia tam-. 
bém foram notados esforços no sentido de promover a melhoria da 
área, existindo, durante alguns anos, embora de forma interrompi­
da, comissões para o estudo da avaliação psicológica no país.
E necessário ressaltar os esforços dos pesquisadores brasileiros 
no sentido de contribuir para a melhoria da área. Os “Laboratórios" 
para criação e adaptação de testes, sediados em instituições 
universitárias, têm oferecido cada vez mais, instrumentos psico-
190 T é c n i c a s d e E x a m e P s i c o l ó g i c o - TEP
lógicos validados e padronizados para a população brasileira. Atu­
almente, existem quatro Laboratórios já consolidados, localizados 
na Universidade de Brasília, Universidade de São Paulo, PUC- 
Campinas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e outros 
em processo de organização e estruturação. A produção advinda 
destes laboratórios solucionará, pelo menos em grande parte, al­
guns dos problemas éticos aqui apresentados.
De igual modo, a criação do Instituto Brasileiro de Avaliação 
Psicológica — IBAI> em 1997, foi um dos marcos importantes para a 
evolução da área de avaliação psicológica no país. Destacamos 
aqui alguns dos seus objetivos, como defender e sugerir medidas 
para o incentivo da avaliação psicológica, propor critérios para 
procedimentos, instrumentos, testes e provas psicológicas utilizadas 
no Brasil, divulgar conhecimentos na área de avaliação psicológica 
por meio de eventos, cursos e publicações e orientar psicólogos e 
membros da comunidade cõm interesse rios procedimentos de ava­
liação. Podemos assim observar a importantíssima contribuição que 
esta organização, formada por pesquisadores, docentes e profissio­
nais interessados na área de avaliação, poderá trazer, dentro de 
um curto prazo, para a formação, prática e pesquisa com instru­
mentos psicológicos na nossa realidade. A Revista Brasileira de Ava- 
liação Psicológica, que já é a primeira grande contribuição do IBAP 
possivelmente servirá como elo integrador e um dos veículos prin­
cipais para divulgação da produção dos pesquisadores na área, 
transformando assim a formação dos psicólogos brasileiros, na me­
dida em que começar a ser mais utilizada pelas instituições forma­
doras, traçando assim um novo perfil para o psicólogo brasileiro.
Concluindo, o perfil ético e deontológico do psicólogo que 
faz uso de instrumentos para avaliação psicológica-retratam uma 
série dfc exigências em nível pessoal e profissional. Embora o pano­
rama atual brasileiro apresente-se como bastante deficitário em 
vários dos princípios éticos aqui apresentados, existem perspecti­
vas bastante promissoras para mudanças, em médio prazo, visando 
o crescimento científico, prático e técnico desta área no país.
P w n c Ip io s é t ic o s e d e o n t o l ó g ic o s n a a v a u a ç ã o psic o ló g ic a 191
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