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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica LABORATÓRIO DE CONVERSÃO ELETROMECÂNICA DE ENERGIA EXPERIÊNCIA 3 CIRCUITO EQUIVALENTE DO TRANSFORMADOR MONOFÁSICO 1. OBJETIVO: Identificar e compreender os procedimentos relacionados e necessários à implementação dos ensaios a vazio e de curto-circuito. Determinar por meio dos resultados obtidos os parâmetros utilizados no modelo equivalente do transformador, assim como o rendimento e a regulação do mesmo. 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS O modelo ideal de um transformador pode ser utilizado como uma alternativa de cálculo rápido, mas esta aproximação não leva em consideração os efeitos das resistências dos enrolamentos, dos fluxos dispersos, nem as correntes de excitação, relativas à permeabilidade finita do núcleo. Modelar um transformador real deve levar em consideração todos estes parâmetros, ou em outras palavras deve considerar todas as perdas que acontecem dentro do transformador. O cálculo de cada uma das variáveis, presentes no circuito equivalente do transformador, podem ser determinadas experimentalmente por meio dos ensaios de circuito aberto ou a vazio e o ensaio de curto-circuito. Lembrando que deve ser conhecida a relação de transformação do transformador. 2.1. Relação de Transformação a vazio Salvo indicação em contrário, a relação de transformação a vazio é a razão entre a tensão do enrolamento de tensão superior e a tensão do enrolamento de baixa, quando operando sem carga. E essa relação também é a relação nominal considerada em norma, diferentemente das demais máquinas elétricas em que as tensões nominais são aquelas projetadas para funcionamento em carga nominal. O método para a determinação da relação de transformação nominal a vazio consiste em aplicar uma tensão regulável por meio de um Variac de forma a se obter UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica tensão nominal no primário. A relação de transformação nominal será igual a 𝑉1 𝑉2⁄ como mostrado na Figura 1, onde 𝑉1 é a tensão nominal do primário. Quando o transformador é dotado de tapes, devemos determinar a relação para cada um deles. CA V1 V2 H1 H2 X1 X2 N1 N2 Figura 1: Circuito para determinação da relação de transformação a vazio de um transformador monofásico. 2.2. Ensaio em vazio Este ensaio permite a determinação das constantes 𝑅𝑓 e 𝑋𝑚chamadas também de constantes transversais do transformador. A Figura 2 ilustra o circuito para as leituras necessárias aos cálculos. CA V A H1 H2 X1 X2 N1 N2 W I0 Figura 2: Circuito para o ensaio a vazio de um transformador monofásico. Referindo-nos ao circuito equivalente de um transformador monofásico a vazio e levando-se em conta que os parâmetros série têm valores baixos, podemos escrever que 𝑉1 ≈ 𝐸1 e assim o circuito equivalente do transformador, nesta condição, pode reduz-se ao circuito da Figura 3. Este circuito também pode ser analisado segundo a aproximação do circuito equivalente referido ao lado do primário, conhecido como circuito L. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica Rf XmIf Im I0 V1 Figura 3: Circuito equivalente de um transformador monofásico a vazio. Para efeitos do ensaio é aplicada uma tensão nominal com frequência nominal no lado de baixa tensão e realizadas as medições de potência em vazio (𝑃𝑜) e a corrente em vazio (𝐼𝑜), como é mostrado na Figura 2. De posse destes valores e da tensão nominal (𝑉1) aplicada ao transformador são calculados a resistência 𝑅𝑓 e a reatância 𝑋𝑚 como segue: 𝑅𝑓 = 𝑉1 2 𝑃0 ⟹ 𝐺𝑓 = 1 𝑅𝑓 𝑌0 = 𝐼0 𝑉1 𝐵𝑚 = √𝑌0 2 − 𝐺𝑓 2 ⟹ 𝑋𝑚 = 1 𝐵𝑚 Onde 𝐺𝑓 é a condutância, 𝑌0 é a admitância e 𝐵𝑚 é a susceptância. Examinando com maior detalhe a Figura 2, podemos observar que o amperímetro registra as correntes que circulam pelas bobinas de potencial do wattímetro, do voltímetro e a efetiva na bobina do transformador. Por outro lado, o wattímetro registra a potência consumida pelo voltímetro e pelo transformador. Portanto, em transformadores muito pequenos devemos estar atentos às grandezas obtidas e corrigir as leituras dos instrumentos. Em transformadores comerciais tais erros não trazem inconvenientes. A menos das perdas nos instrumentos, o wattímetro registra praticamente as perdas no núcleo ou perdas de excitação do transformador. Fazendo-se variar a tensão aplicada e determinando-se a perda no núcleo para cada um destes valores de tensão, a curva assim obtida representa a relação entre as perdas no núcleo e a tensão (vide Figura 4). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica Perdas no núcleo Tensão Figura 4 – Variação das perdas no núcleo x tensão aplicada Como podemos observar na Figura 4, as perdas no núcleo variam aproximadamente com o quadrado da tensão aplicada. Como os transformadores comerciais são, em geral, projetados de modo a se alcançar a máxima economia no uso dos materiais nele empregados, o núcleo opera, por conseguinte, a uma densidade de campo tão elevada quanto permita a margem de tolerância das perdas. Como os transformadores comerciais são operados no limite máximo de suas temperaturas de operação, mas sem prejuízo de segurança, temos que em tensões superiores à nominal os transformadores passam a operar com uma acentuada elevação de temperatura. 2.3. Ensaio em curto circuito Este ensaio permite a determinação das constantes 1r , 1x , 2r e 2x , também chamadas constantes ou parâmetros longitudinais do transformador. A Figura 5 ilustra o circuito para as leituras necessárias aos cálculos. CA V A H1 H2 X1 X2 N1 N2 W I1 Figura 5: Circuito para o ensaio em curto VD UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica O circuito equivalente de um transformador em curto-circuito, com as impedâncias referidas ao primário está mostrado na Figura 6. Rf Xm r1 r'2x1 x'2 Figura 6: Circuito equivalente completo de um transformador em curto Se considerarmos por razões construtivas que a impedância ( ' 2 ' 2 jxr + ) é muito pequena em relação à impedância equivalente dos parâmetros transversais, podemos simplificar o circuito da Figura 6, desprezando-se a impedância transversal do transformador. O ensaio em curto-circuito é realizado com tensão reduzida, de tal forma que a corrente seja aproximadamente a nominal. Para isto usa-se uma fonte de tensão variável, fazendo-se a tensão crescer vagarosamente de zero até o valor que produza corrente nominal. Normalmente é utilizado o lado de alta tensão para energizar o transformador. Chama-se tensão de curto-circuito a tensão que produz, com o transformador em curto-circuito, a corrente nominal. Esta tensão é normalmente de 2 a 4% da tensão nominal primária para transformadores até 2300 V e de 6 a 16% para transformadores até 230 kV. Admitindo-se que o ensaio seja feito com corrente nominal, os parâmetros lidos durante o ensaio são ccV , nI e ccP , como pode ser observado na Figura 5. A potência fornecida ao transformador deve atender a três classes de perdas. a) perdas no cobre do primário. b) perdas no cobre do secundário. c) perdas no núcleo. Como vimos, as perdas no núcleo são pequenas e podem ser desprezadas. Portanto, Pcc = I1 2.r1 + I 2 2.r2 = I1 2.Re1 = I 2 2.Re2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica Onde 1eR e 2eR são as resistências equivalentes do transformador, referidas ao primário ou ao secundário, respectivamente ou seja: 2 2 1 211 += N N rrRe e 2 1 2 122 += N N rrRe Analogamente, temos 2 2 1 211 += N N xxX e e 2 1 2 122 += N N xxX e Onde 1eX e 2eX são as reatâncias equivalentes do transformador referidas ao primário ou ao secundário, respectivamente. Definindo-se 1eZ como impedância vista do primário temos que: 111 eee jXRZ += De posse dos resultados do ensaio em curto, podemos calcular estas últimas grandezas da seguinte forma: n cc e I V Z =1 e 21 n cc e I P R = 2 1 2 11 eee RZX −= Por razões de projeto, as perdas ôhmicas no primário não devem diferir muito das perdas ôhmicas do secundário, isto é: 2 22 2 11 .. IrIr = Desprezando-se a corrente de excitação, tem-se: 2 2 1 2 1 2 = N N I I De onde conclui-se que: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica 2 1' 21 eR rr == Analogamente, 2 1' 21 eX xx == . 2.4. Rendimento (η) O rendimento de qualquer equipamento é definido como a razão entre a potência de saída e a potência de entrada. Os transformadores apresentam rendimento elevado como se pode constatar pela Tabela 2, fornecida pela Westinghouse Electric Corporation. Observe que o rendimento é crescente com a potência do transformador. Tabela 2 – Exemplos de rendimentos de transformadores kVA 2400/240 5 97,2% 15 97,9% 50 98,4% 200 98,7% Os rendimentos são referentes a plena carga. Seu cálculo é obtido pela razão entre a potência de saída e a potência de entrada, como é mostrado na seguinte equação: perdasP P P perdas P perdasP P P saída saída entradaentrada entrada entrada saída + =−= − == 1 2 2 21 2 122 22 .....cos.. cos.. RIRInúcleoperdasIV IV +++ = UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica 2.5. Regulação (ρ) A regulação de um transformador de potencia é, de acordo com as “normas americanas para transformadores e reatores”, a variação da tensão secundária expressa em porcentagem da tensão nominal secundária que ocorre quando se faz baixar a zero a potência fornecida em kVA, com determinado fator de potência, mantendo-se invariável a tensão aplicada ao primário. %100(%) arg arg2 − = ac acvazio V VV 3. TRABALHO PREPARATÓRIO 3.1. Partindo do circuito equivalente mais rigoroso usado para transformador monofásico de potência em que todos os parâmetros são referidos ao primário bem como seus significados físicos sucintamente explicados, apresente mais dois circuitos equivalentes utilizados na ordem das simplificações adotadas. Detalhar as hipóteses simplificadoras inerentes a cada uma das três representações. 3.2. Para um transformador real carregado explique porque a relação de transformação é maior que a relação do número de espiras do primário para o secundário. 3.3. Se um transformador real é carregado ao seu valor nominal, estando a carga em atraso; explique porque o fator de potência primário é menor que o secundário. Utilize diagramas fasoriais. 3.4. Desenvolvendo-se o circuito equivalente de um transformador de potência monofásico a plena carga: 3.4.1. Qual é a vantagem de se ter um circuito equivalente. 3.4.2. Por que normalmente ele é referido ao primário? 3.4.3. Quais as hipóteses feitas ao se referirem resistência e reatâncias ao primário ou ao secundário? UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica 3.4.4. Por que é possível desprezar-se a corrente magnetizante? 3.4.5. Por que se pode representar a corrente magnetizante em diagramas fasoriais quando se sabe que a mesma não tem a forma senoidal? 3.5. Ao se realizar o ensaio de curto-circuito de um transformador: 3.5.1. Dê duas razões para o lado de baixa tensão ser usualmente o lado curto-circuitado. 3.5.2. Por que são consideradas desprezíveis neste ensaio as perdas no núcleo em transformadores de potência. 3.5.3. Sob que circunstâncias neste ensaio deve se levar em conta as perdas no núcleo do transformador? Por que? 3.6. Por que é usual realizar-se o ensaio a vazio no lado de baixa tensão? Quais são, entretanto, as precauções necessárias quanto a segurança? As perdas no cobre seriam as mesmas se fosse utilizado o enrolamento de alta tensão? 4. EXECUÇÃO 4.1. Monte o circuito referente ao ensaio a vazio de um transformador monofásico, anote as leituras dos instrumentos. Analise a influência dos instrumentos utilizados. Para isto, modifique a disposição dos instrumentos de modo a identificar possíveis interferências ou alterações nas medições. Explique o porquê disto. 4.2. Faça o ensaio em curto-circuito conforme a Figura 5, utilizando as extremidades dos enrolamentos e anote as leituras dos instrumentos. Analise a influência dos instrumentos utilizados. De forma similar ao item anterior, modifique a disposição dos instrumentos para poder observar possíveis erros de medição provocados pelos instrumentos. 4.3. Aplique a tensão de entrada necessária para obter a tensão nominal no secundário. Carregue o transformador com várias cargas e para cada uma meça com os mesmos instrumentos as potências de entrada e saída, assim como as tensões e correntes de entrada e saída. 4.4. Com os dados obtidos nos ensaios anteriores e com as informações coletadas nas experiências anteriores, determinar: 4.4.1. O circuito equivalente do transformador monofásico. 4.4.2. Perdas no núcleo e no cobre produzidas pelo primário. 4.4.3. A resistência e reatância equivalentes relativas ao lado de alta tensão. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA - Departamento de Engenharia Elétrica 4.4.4. A resistência e reatância equivalentes relativas ao lado de baixa tensão. 4.4.5. A regulação do transformador com fator de potência 0,8 indutivo. Comente. 4.4.6. O rendimento a plena carga com fator de potência unitário. Comente. 5. BIBLIOGRAFIA ➢ A. E. Fitzgerald, Charles Kingsley Jr., Stephen D. H. Umans, Máquinas Elétricas, 6ª ed., Bookman, São Paulo, 2006. ➢ Stephen J. Chapman, Electric Machinery Fundamentals, 3rd Edition (5th), McGraw-Hill, Boston, 1999 (2011). 6. MATERIAL UTILIZADO - Um transformador monofásico. - Fonte monofásica AC. - Um Wattímetro 60/120/240 W, 0,5/1,0 A. - Um amperímetro. - Um voltímetro ou multímetro. - Uma chave monopolar com fusível. - Fios para ligação.