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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA Este trabalho foi organizado de forma a dar suporte às questões relacionadas aos trabalhos científicos de pesquisa em nível de graduação ou pós- graduação, com o intuito de facilitar a produção de trabalhos conforme padrões científicos. No entanto, não há a pretensão de abranger todas as questões envolvidas em Metodologia Científica, tratando-se somente, de um fundamento primo para consultas por parte dos alunos dos cursos, para o desenvolvimento do trabalho. Bons estudos! AULA 1 – INTRODUÇÃO À METODOLOGIA CIENTÍFICA 1 A METODOLOGIA CIENTÍFICA Fonte: https://bityli.com/Gf jsZCTfm Entende-se por Metodologia, uma disciplina que consiste em estudar as características da pesquisa científica e seus métodos disponíveis para a realização de uma pesquisa acadêmica. Segundo Kauark, Manhães e Medeiros (2010, p.14), “a Metodologia Científica é a disciplina que estuda os caminhos do saber, sendo que “método” quer dizer caminho, “logia” quer dizer estudo, e “ciência” quer dizer saber”. A disciplina Metodologia Científica, devido ao seu caráter sistêmico e inter- relacionado entre suas variáveis de estudo, deve estimular os estudantes a fim de fomentar a busca pelo aprofundamento teórico ou prático, que deverá se dar a partir da investigação literária e da sistematização da bibliografia complementar da área especifica de sua pesquisa que exigem diferentes abordagens, métodos e procedimentos técnicos, “portanto, toda pesquisa se baseia em uma teoria que serve como ponto de partida para a investigação” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 43). Para desenvolver um trabalho “é necessário ler muito, continuada e constantemente, pois a maior parte dos conhecimentos é obtida por intermédio da leitura” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 19). O objetivo desse trabalho é fornecer ao aluno condições de planejamento através de um roteiro para a elaboração de pesquisas como monografias e artigos científicos, auxiliando desde a escolha do tema ao final do trabalho, a respeito de elaboração e normas a serem seguidas. Para os cursos de pós-graduação, pede-se que seja feito um artigo científico e para cursos de graduação e complementação, solicita-se monografia (aula 5 e 6). O aluno deve seguir rigorosamente as regras definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), conforme suas atualizações e referenciais específicas para cada item desenvolvido no decorrer do trabalho, cabendo a responsabilidade do não cumprimento das normas, ao autor do trabalho. 1.1 Identificando as diferentes classificações de pesquisas As pessoas pesquisam por muitos motivos. De acordo com Gil (2017), o motivo da pesquisa pode ser: de ordem intelectual, quando o pesquisador satisfaz seus próprios desejos ao estudar algo; e de ordem prática, quando o trabalho do pesquisador é de ordem mais ativa e a eficiência e a eficácia ganham mais destaque. Segundo Kauark, Manhães e Medeiros (2010), existem várias formas de classificar as pesquisas com base em seus objetivos gerais e procedimentos técnicos. Do ponto de vista dos autores as formas clássicas de pesquisas podem ser de duas naturezas: Pesquisa Básica Objetiva gerar novos conhecimentos, úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. Pesquisa Aplicada Objetiva gerar novos conhecimentos para aplicação prática, dirigida à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais. Segundo Appolinário (2011, p. 146), a pesquisa básica tem como objetivo principal “[...] o avanço do conhecimento científico, sem nenhuma preocupação com a aplicabilidade imediata dos resultados a serem colhidos”. Já a pesquisa aplicada é realizada com o intuito de “[...] resolver problemas ou necessidades concretas e imediatas” (APPOLINÁRIO, 2011, p. 146). No enfoque da pesquisa aplicada, ocorrem casos em que o problema da pesquisa faz parte do contexto profissional do pesquisador. Gil (2017) define a pesquisa pura como um estudo que busca a ampliação dos conhecimentos sem se preocupar com benefícios. Por sua vez, a pesquisa aplicada seria voltada à aquisição de entendimentos com o objetivo de aplicá-los a uma situação específica. Muitos autores afirmam que um tipo de pesquisa tende a excluir o outro, pois seus objetivos são bem diferentes. Porém, Gil (2012, p. 27) afirma que a pesquisa aplicada apresenta muitos pontos de aproximação com a pesquisa pura, pois depende “[...] de suas descobertas e se enriquece com o seu desenvolvimento”. A diferença é que a pesquisa aplicada se interessa pela aplicação prática dos conhecimentos gerados. As pesquisas são divididas, conforme sua abordagem, em quantitativa, qualitativa e quantiqualitativa (mista). Porém, elas têm características bem semelhantes na espinha dorsal de desenvolvimento. Todas realizam observação e avaliação de fenômenos e, a partir disso, criam suposições que podem ser comprovadas ou não nas análises dos dados. Além disso, todas propõem novas conclusões a partir de suas descobertas. Como você pode imaginar, existe sempre um grande debate relacionado ao melhor método a ser utilizado. O que você deve considerar é que cada tipo de pesquisa envolve uma abordagem diferente. A seguir, você vai conhecer melhor as pesquisas quantitativa, qualitativa e quantiqualitativa. Pesquisa quantitativa Appolinário (2011, p. 150) afirma que, na pesquisa quantitativa, “[...] variáveis predeterminadas são mensuradas e expressas numericamente. Os resultados também são analisados com o uso preponderante de métodos quantitativos, por exemplo, estatístico”. Ou seja, a quantificação, a análise e a interpretação dos dados e resultados ocorre por meio da estatística. O enfoque quantitativo segue uma sequência e tem algumas características específicas, de acordo com Sampieri, Collado e Lucio (2013). Veja a seguir. 1. Ideia e formulação do problema 2. Revisão da literatura e desenvolvimento do marco teórico 3. Visualização do alcance do estudo 4. Elaboração de hipóteses e definição de variáveis 5. Desenvolvimento do desenho de pesquisa 6. Definição e seleção da amostra 7. Coleta de dados 8. Análise dos dados 9. Elaboração do relatório de resultados A pesquisa quantitativa pode ser utilizada em diversas situações, pois busca descrever significados diretamente a partir da análise de dados brutos e objetivos. Ela utiliza instrumentos de coleta de dados estruturados, como questionários, para fazer a captação de dados, que são generalizados de uma amostra para toda uma população estudada. Pesquisa qualitativa A pesquisa qualitativa é um tipo de investigação voltado para as características qualitativas do fenômeno estudado, considerando a parte subjetiva do problema. Ela se preocupa com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e na explicação da dinâmica das relações sociais (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Em vez da solidez da pesquisa quantitativa, esse tipo de abordagem traz a preocupação com a subjetividade, no sentido da relação direta do pesquisador com o objeto estudado. Conforme Creswell (2010, p. 211), “[...] a pesquisa qualitativa é uma pesquisa interpretativa, com o investigador tipicamente envolvido em uma experiência sustentada e intensiva com os participantes”. A pesquisa qualitativa é altamente conceitual. Seus dados são coletados diretamente no contexto natural e nas interações sociais que ocorrem. Além disso, eles são analisados diretamente pelo pesquisador. Fazendo um contraponto com a pesquisa quantitativa, a qualitativa está focada: “No universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaçomais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2001, p. 15). Em síntese, a pesquisa qualitativa apresenta as seguintes características: o ambiente nativo é a fonte de obtenção dos dados; o pesquisador é considerado o instrumento principal de coleta de dados; a pesquisa usa processos de detalhamentos da realidade observada e busca o sentido das situações e seus impactos para o grupo pesquisado. A pesquisa qualitativa permite que o pesquisador se questione durante todo o processo. Ele pode desenvolver perguntas e hipóteses durante a coleta e a análise dos dados. Esse tipo de pesquisa busca principalmente “[...] a dispersão ou expansão dos dados e da informação, enquanto o enfoque quantitativo pretende intencionalmente delimitar a informação (medir com precisão as variáveis do estudo)” (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013, p. 35). A pesquisa quantitativa se baseia em outras pesquisas e em estudos prévios, enquanto a qualitativa se fundamenta em si mesma. A primeira é utilizada para consolidar crenças e estabelecer padrões de comportamento em uma população, e a segunda, para construir conceitos próprios sobre o fenômeno estudado. Apesar das diferenças, numa pesquisa pode-se utilizar ambas as categorias de pesquisa. É a chamada pesquisa mista, que você vai conhecer a seguir. Pesquisa mista A pesquisa mista contém o método quantitativo e o método qualitativo. Creswell e Clark (2013) afirmam que muitas definições já foram cunhadas para esse método de pesquisa: todas sempre afirmam que a pesquisa aborda tantos valores filosóficos quanto métodos de investigação objetivos. A utilização da pesquisa mista é vantajosa quando os problemas da pesquisa são complexos e as outras abordagens não fornecem as respostas necessárias. Uma pesquisa interdisciplinar, por exemplo, reúne pesquisadores de várias áreas e com interesses metodológicos diferentes. Isso resulta na necessidade de aplicar métodos mistos de pesquisa, pois seu uso proporciona maior compreensão dos fatos (CRESWELL, 2010). A seguir, veja as fases da elaboração de uma pesquisa com método misto (CRESWELL; CLARK, 2013): 1. coletar e analisar rigorosamente os dados quantitativos e qualitativos; 2. integrar os dois tipos de dados ao mesmo tempo, combinando-os; 3. priorizar uma ou ambas as formas de dados, conforme o que a pesquisa enfatiza; 4. usar esses procedimentos em um único estudo ou em múltiplas fases de um programa de estudo; 5. estruturar os procedimentos de acordo com as visões de mundo; 6. combinar os procedimentos em projetos de pesquisa específicos que direcionam o plano para a condução do estudo. Os fios condutores dessa abordagem devem ser conectados conforme os interesses da pesquisa. A ideia é que eles sirvam como ponte para que os pesquisadores, na união das metodologias da pesquisa, consigam representar os dados corretamente. A escolha do método misto se justifica quando os problemas da pesquisa não são respondidos por apenas um método. Nesses casos, há a necessidade de tratamento tanto teórico quanto estatístico. As pesquisas são processos muito variáveis e se adaptam às necessidades do pesquisador. Contudo, talvez nenhum método se adeque 100% à investigação necessária. Cabe ao pesquisador fazer as adaptações exigidas. A seguir, você vai ver mais uma faceta das pesquisas: as formas que elas podem assumir para contemplar a sua metodologia de execução. 1.2 Elaboração do projeto de pesquisa O projeto de pesquisa é necessário para o planejamento a ser seguido na elaboração de um trabalho científico expresso através de um documento escrito, indicando os aspectos e questões estabelecidas elaboradas apresentando uma revisão bibliográfica preliminar que possibilita demonstrar a existência de embasamento teórico onde o problema de pesquisa buscará inicialmente se amparar. Segundo Gil (2002), “o projeto deve, portanto, especificar os objetivos das pesquisas, apresentar a justificativa de sua realização, definir a modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e análise de dados”. É através do planejamento que utilizaremos diferentes instrumentos para a concretização da pesquisa (GIL, 2002, p. 19). Conforme Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa é compreendia como: a construção de conhecimento original de acordo com certas exigências científ icas. Para que um estudo seja considerado científ ico, devem ser observados critérios de coerência, consistência, originalidade e objetivação. É desejável que uma pesquisa científ ica preencha os seguintes requisitos: a existência de uma pergunta a que desejamos responder; a elaboração de um conjunto de passos que permitam chegar à resposta; a indicação do grau de conf iabilidade na resposta obtida (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 73). A definição do projeto exige que o problema tenha sido formulado, pois, facilita o processamento da pesquisa, dando andamento às etapas que serão desenvolvidas. É importante, por outro lado, definir a metodologia e os recursos a serem adotados, para atingir seus objetivos. É necessário, também, que o projeto seja suficientemente detalhado para proporcionar a avaliação do processo de pesquisa. 1.3 Da forma de abordagem do problema Desde o ponto de vista da abordagem do problema de pesquisa, apresentam- se as seguintes classificações: Pesquisas exploratórias buscam proporcionar uma abordagem do problema pelo levantamento de informações ou a constituição de hipóteses, envolvendo levantamento bibliográfico e documental, entrevistas com pessoas, análise de exemplos e outros. Pesquisas descritivas São realizadas com o intuito de descrever as características do fenômeno, população ou estabelecimento de relações entre variáveis. A pesquisa descritiva envolve técnicas de coleta de dados, como levantamento de opiniões, salientando “aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, nível de renda, estado de saúde física e mental etc.” (GIL, 2008, p.28) Pesquisas explicativas Identificam as causas e fatores da ocorrência dos fenômenos, explicando a razão das coisas. Assume em geral as formas de Pesquisa Experimental e Pesquisa Ex Post facto. 1.4 Procedimentos técnicos Dentre procedimentos técnicos, Gil (2008) destaca: - A Pesquisa Bibliográfica: elaborada a partir da análise e interpretação do conteúdo de materiais como livros, artigos de periódicos e textos da Internet, levando ao pesquisador buscar ideias relevantes ao estudo, com registro confiável de fontes. - A Pesquisa Experimental: método de investigação que se determina um objeto de estudo, em que se verifica o efeito de uma ou mais variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definindo as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto pesquisado. - O Levantamento: é a pesquisa que envolve perguntas diretas de pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. - O Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo de fenômenos descobertos de maneira que se permita retratar o seu amplo e complexo conhecimento. - A Pesquisa Ex post facto: quando a investigação se realiza depois dos fatos. De acordo com essa classificação, GIL (2008) aponta outras características da pesquisa Ex posto facto. Nesse sentido, ele explica que: Na pesquisa ex-post-facto a manipulação da variável independente é impossível. Elas chegam ao pesquisador já tendo exercido os seus efeitos. Também não é possível designar aleatoriamente sujeitos e tratamentos a grupos experimentais. A pesquisa ex-post-facto lida com variáveis que, por sua natureza não são manipuláveis, como: sexo, classe social, nível intelectual, preconceito, autoritarismo etc. (GIL, 2008, p.54). Deve-se formular os problemas em busca de fatores causais admissíveis, levantando hipóteses através de coletas, análises e interpretação de dados, investigando possíveis relações de causa e efeito. - A Pesquisa-Ação: é um tipo de pesquisa com base empírica, pois, se realizada aliada com uma ação ou com uma resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes atuam de forma cooperativa ou participativa. - A Pesquisa Participante: é uma concepção de pesquisa em que se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas, buscando permitir à comunidade análise de sua realidade para benefício próprio. 1.5 Pesquisas práticas As pesquisas de ordem prática podem ser classificadas como: -Levantamento de campo (survey): Os levantamentos consistem em ser representativos de um universo definido fornecendo resultados caracterizados pela precisão estatística mediante análise quantitativa, obtendo conclusões correspondentes aos dados coletados. - O Estudo de campo: Os estudos de campo apresentam muitas semelhanças com os levantamentos, distinguindo-se através da realização do estudo de campo aprofundando-se das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. O planejamento do estudo de campo oferece maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa. Nele também, estuda-se um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a influência mútua de seus elementos. Assim, o estudo de campo tende a utilizar muito mais artifícios de observação do que de interrogação (GIL, 2008). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. CRESWELL, J. W.; CLARK, V. L. Pesquisa de métodos mistos. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2013 GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009. GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa (6 ed.). São Paulo: Atlas S.A., 2002. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Projetos Social (5 ed.). São Paulo: Atlas S.A., 2008. GIL, A. Como elaborar projetos de pesquisa. Atlas, 2010. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. KAUARK, F. S., MANHÃES, F. C.; MEDEIROS, C. H. Metodologia da pesquisa: um guia prático. Itabuna, Bahia: Via Litterarum, 2010. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Atlas S.A, 2003. HERNÁNDEZ SAMPIERI, R.; FERNÁNDEZ COLLADO, C.; BAPTISTA LUCIO, M. del P. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013. MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001. PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.