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Prof. Mateus Tenório 
 
1. INTRODUÇÃO AO TEMA 
 
O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema dualista (ou binário) em relação à estrutura da infração 
penal. Dessa forma, infração penal é gênero que possui duas espécies: crime (ou delito) e contravenção penal (crime 
vagabundo, crime anão ou delito liliputiano). 
 
INFRAÇÃO PENAL 
 
Não há diferenças ontológicas (do ser, estrutural) entre crime e contravenção, na medida em que ambas 
passam por processos legislativos semelhantes. As distinções são axiológicas (de valor, peso ou gravidade). Em 
síntese, o legislador rotula os comportamentos mais graves como crimes, e as condutas lesivas consideradas mais 
leves como contravenções penais. 
O critério utilizado pelo legislador para considerar um comportamento mais ou menos gravoso é puramente 
de política criminal, oscilando conforme o momento histórico-social por qual passa o país, podendo sofrer 
alterações. Para exemplificar a utilização do critério político para a escolha do rótulo “crime” ou da etiqueta 
“contravenção penal”, vale invocarmos as lições de Rogério Sanches Cunha: 
 
“A título de exemplo, lembramos o leitor que o porte ilegal de arma de fogo, até o ano de 1997, 
configurava contravenção penal (artigo 19 da Lei de Contravenções Penais), infração de 
menor potencial ofensivo. No ano de 1997 foi levado à categoria de crime e, em 2003, 
algumas figuras chegaram a ser rotuladas como inafiançáveis (Estatuto do Desarmamento). 
A conduta de portar arma de fogo sem autorização não mudou, mas sim a visão do legislador 
sobre a sua gravidade do comportamento. O mesmo ocorre com a conduta de fornecer 
bebida alcoólica a criança ou adolescente. Entendia-se que esta conduta não estava 
inserida no art. 243 da Lei 8.069/90, mas, sim, no art. 63, inciso I, do Decreto-Lei 3.688/41. A 
Lei 13.106/15 alterou o art. 243 para inserir expressamente a bebida alcoólica naquele tipo 
penal, e revogou a contravenção penal” 
 
Complementando o renomado autor, após a Lei 13.964/2019, o crime de posse ou porte ilegal de arma de 
fogo de uso proibido passou a ser etiquetado como crime hediondo (art. 1º, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 
8.072/1990. 
Portanto, contravenção penal é espécie de infração penal de menor gravidade e potencial ofensivo, mas que 
ainda insiste em invocar a tutela do Direito Penal. 
 
1.1. DIFERENÇAS ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL 
 
 
 
 
CONTRAVEÇÕES PENAIS – ESQUEMATIZADO 
CRIME
CONTRAVENÇÃO 
PENAL
Prof. Mateus Tenório 
 CRIME CONTRAVENÇÃO PENAL 
ESPÉCIE DE PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE 
RECLUSÃO OU DETENÇÃO PRISÃO SIMPLES 
PUNIÇÃO DE TENTATIVA PUNÍVEL 
NÃO É PUNÍVEL POR OPÇÃO 
LEGISLATIVA 
ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL 
PÚBLICA (CONDICIONADA OU 
INCONDICIONADA) OU PRIVADA 
PÚBLICA INCONDICIONADA 
PRINCÍPIO DA 
EXTRATERRITORIALIDADE 
APLICA-SE NÃO SE APLICA 
LIMITE DE CUMPRIMENTO DE PENA 40 (QUARENTA) ANOS 5 (CINCO) ANOS 
COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E 
JULGAMENTO 
JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL 
JUSTIÇA ESTADUAL 5 (COM EXCEÇÃO 
DAS HIPÓTESES DE FORO POR 
PERÍODO DE PROVA DO SURSIS 2 A 4 ANOS OU 4 A 6 ANOS 1 A 3 ANOS 
CABIMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA 
E TEMPORÁRIA 
CABÍVEL NAS HIPÓTESES DO ART. 313 
DO CPP E ART. 1º, III, DA LEI 7.960/89 
NÃO É CABÍVEL 
POSSIBILIDADE DE CONFISCO 
APENAS INSTRUMENTOS DO CRIME 
PODEM SER CONFISCADOS 
NÃO É ADMITIDO O CONFISCO DE 
INSTRUMENTOS DE CONTRAVENÇÕES 
PENAIS 
ERRO DE DIREITO NÃO SE APLICA APLICA-SE 
 
 
 
É equivocada a afirmação que alguns insistem em repetir no sentido de que o crime também se diferenciaria da 
contravenção penal em seus elementos subjetivos. Alguns afirmam, erroneamente, que a contravenção penal, ao 
contrário do crime, só seria punida se praticada dolosamente. Em outras palavras, afirmam que não existe 
contravenção penal culposa. A verdade é que não há nenhuma vedação expressa na Lei das Contravenções 
proibindo punições da modalidade culposa, mas, ao contrário, é possível sim encontrarmos modalidades de 
contravenções penais culposas. O detalhe é que a linguagem utilizada pelo legislador em 1941 não era tão clara e 
direta como atualmente e, portanto, é preciso interpretar os comportamentos culposos punidos no Decreto-Lei 
3.688/41. A título de exemplos, podemos mencionar a contravenção penal prevista no art. 26 que pune verdadeiro 
comportamento negligente, bem como a contravenção prevista no art. 37, parágrafo único que, de igual modo, pune 
comportamento culposo. 
 
2. PARTE GERAL 
 
O artigo inaugural da Lei das Contravenções Penais consagra o princípio da especialidade, sendo aplicável 
às contravenções “às regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso”. O 
objetivo é evitar o bis in idem (aplicação de duas normas, uma do Código Penal e outra da Lei das Contravenções, 
sobre o mesmo fato). 
 
Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei 
não disponha de modo diverso. 
Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional. 
 
Para facilitar o seu estudo, abaixo destaquei os temas previstos na parte geral do Código Penal não 
trabalhados na Lei das Contravenções Penais, portanto aplicáveis de forma subsidiária: 
 
 
ATENÇÃO 
 
Prof. Mateus Tenório 
I. Excludentes de ilicitude; 
II. Regras relativas ao concurso de pessoas; 
III. Normas gerais relativas às penas; 
IV. Regras sobre concursos de infrações penais; 
V. Causas extintivas da punibilidade 
 
 
Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção. 
 
 
A inadmissibilidade da tentativa nas contravenções penais foi uma opção do legislador, e trata-se de medida 
de política criminal. Atenção aqui, pois já houve várias questões de concursos anteriores sobre esse tema 
 
Art. 5º As penas principais são: 
I – prisão simples. 
II – multa. 
 
Esta é outra questão boba que já apareceu em provas várias vezes. As penas aplicáveis diante da prática de 
contravenção penal são diferentes daquelas previstas para os crimes. Não há reclusão e nem detenção, mas apenas 
multa e prisão simples. 
Quanto à multa, a lei prevê a possibilidade de sua conversão em prisão, mas isso não é mais possível, de 
acordo com o art. 51 do Código Penal. Hoje a multa é considerada dívida de valor, e, se não for paga, deve ser 
executada pela Fazenda Pública. 
A prisão simples tem sua aplicação limitada ao prazo máximo de 5 anos, e é aplicada de acordo com as regras 
do Código Penal, com as seguintes diferenças: 
 
a) Cumprimento da pena em regime aberto e semiaberto; 
b) Obrigatoriedade de estabelecimento prisional especial ou, ainda, área especial da prisão comum; 
c) A separação obrigatória dos contraventores em relação aos presos condenados à reclusão ou detenção; 
d) No caso de prisão até 15 dias, o trabalho é facultativo; 
e) Se preso por tempo superior a trinta dias, o trabalho do preso será obrigatório; 
f) O tempo máximo de prisão é de 5 anos. 
 
Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em 
julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no 
Brasil, por motivo de contravenção. 
 
Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode 
deixar de ser aplicada. 
 
A contravenção penal no estrangeiro não gera reincidência no Brasil, entendimento consoante ao disposto 
no art. 2º da Lei de Contravenções Penais. Podemos conjugar o art. 2º da Lei das Contravenções com o art. 63 do 
Código Penal, chegando às seguintes hipóteses em relação à reincidência. 
A ignorância da lei é definida como desconhecimento da existência da lei - à isso é o erro de direito. O Código 
Penal não libera essa hipótese, considerando o desconhecimento da lei inescusável. A disposição da Lei de 
Contravenções Penais, entretanto, é aplicável, pois nesse caso o erro de direito autoriza a aplicação do perdão 
judicial. 
 
 
Prof. Mateus TenórioArt. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício. 
 
Este é outro item que já foi cobrado em provas anteriores. A ação penal nas contravenções é pública e 
incondicionada, não sendo necessária qualquer manifestação do ofendido. 
 
3. PRINCIPAIS CONTRAVENÇÕES PENAIS (COM ARTIGOS E COMENTÁRIOS) 
 
Inicialmente criada com o intuito de penalizar a fabricação, o comércio e a detenção irregular de arma de 
fogo, a figura típica do art. 18 é aplicada somente às armas brancas, como o punhal, a espada, a faca etc., 
empregadas como verdadeiras ferramentas de ataque: 
 
FABRICO, COMÉRCIO OU DETENÇÃO DE ARMA OU MUNIÇÃO 
 
 
A explicação para isso foi a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, que tipifica uma série de 
condutas relacionadas às armas de fogo e seus respectivos acessórios e munições. 
 
POSSE E PORTE DE ARMA 
 
Mais uma vez: com o Estatuto do Desarmamento, a LCP passou a ter aplicabilidade somente em relação à 
posse e ao porte ilegal de arma branca: 
 
 
Prof. Mateus Tenório 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIAS DE FATO 
 
Veja só o que diz o dispositivo abaixo sobre a contravenção chamada “vias de fato”: 
 
As vias de fato consistem no emprego de violência física contra a pessoa sem a intenção de 
ocasionar ferimentos ou lesões na vítima. 
Isso mesmo! O agente atua sem a intenção de lesionar. O que distingue a contravenção das vias de 
fato para a tentativa de lesão corporal é a intenção do agente. 
 
Repare que o preceito secundário do tipo (que estabelece a pena) o rotula como subsidiário, ao 
afirmar que somente se configurará a contravenção do art. 21 se as vias de fato não tiverem sido 
empregadas para a prática de outro crime. 
Te explico: se o agente tiver praticado as vias de fato para roubar a vítima, a contravenção do art. 
21 fica absorvida pelo crime de roubo (art. 157, Código Penal). 
 
Por fim, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) acrescentou o parágrafo único, que estabelece uma 
importantíssima causa de aumento da pena daquele que pratica, sem intenção de lesionar, violência 
física contra vítima com mais de 60 anos. 
 
OMISSÃO DE CAUTELA NA GUARDA OU CONDUÇÃO DE ANIMAIS 
Prof. Mateus Tenório 
Se Helder entrega a guarda de seu perigoso animal à sua inexperiente filha de 10 anos, dentro de seu 
carro, para entrar em uma farmácia, ele estará incurso nas penas da contravenção do art. 31: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A contravenção do art. 31 é classificada como de perigo abstrato, pois há presunção absoluta de 
que a prática da conduta descrita no caput expõe a risco a segurança e o bem de estar de pessoas e bens, 
não se admitindo prova em contrário. 
 
Dessa forma, de nada adiantaria se Helder tentasse provar que não houve exposição de bens e 
pessoas a risco, mesmo tendo repassado a guarda do animal à sua filha. 
 
FALTA DE HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO 
 
 
 
Para o STF, em relação a veículo automotor, o dispositivo foi revogado pelo Código de Trânsito 
Brasileiro, que passou a tratar a direção sem habilitação em vias terrestres como crime de trânsito! 
 
Contudo, atenção: o art. 34 ainda é aplicado à condução, sem a devida habilitação, de embarcação 
motorizada em águas públicas, conduta que permanece contravenção penal de perigo abstrato, ou seja, 
de perigo absolutamente presumido! 
 
PERTURBAÇÃO DO TRABALHO OU DO SOSSEGO ALHEIOS 
 
Quem nunca se irritou ao acordar, no meio da madrugada, com o barulho de uma “festinha” com 
bastante gritaria e com os autofalantes no volume máximo? 
Prof. Mateus Tenório 
Pois bem. Ficará incurso nas penas da contravenção do art. 42 o sujeito que perturbar o sossego 
ou trabalho de uma coletividade de indivíduos, por meio das seguintes condutas: 
 
E se o contraventor perturbar apenas uma única pessoa? 
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JOGO DO BICHO 
 
Muito provavelmente você deve conhecer o famigerado “jogo do bicho”. 
Caso não saiba, trata-se de um jogo de azar nos mesmos moldes de uma loteria, só que realizado 
por um particular. 
Inicialmente, a contravenção do jogo do bicho tinha previsão no art. 58 da Lei de Contravenções 
Penais, sendo tacitamente revogada pelo art. 58 do Decreto-lei nº 6.259/44, que passou a definir o que 
vem a ser, de fato, o jogo do bicho: 
 
Temos, então, três figuras: a do banqueiro, que arcará com o prêmio do bilhete sorteado; a do 
apostador e a do intermediador (que colhe as apostas dos apostadores e as encaminha ao banqueiro). 
 
ANOTAÇÕES 
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